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Os territórios sonoros da paulicéia e a influência da cultura Sound System

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Academic year: 2017

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INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E CIÊNCIAS EXATAS

Trabalho de Graduação

Curso de Graduação em Geografia

Os territórios sonoros da paulicéia e a influência da cultura Sound System

Guilherme Vieira de Freitas

Prof. Dr. Paulo Roberto Teixeira de Godoy

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GUILHERME VIEIRA DE FREITAS

Os territórios sonoros da paulicéia e a influência da cultura Sound

System

Trabalho de Graduação apresentado ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas - Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, para obtenção do grau de Bacharel em Geografia.

Comissão Examinadora

Prof. Dr. Paulo R. T. de Godoy (orientador)

Profa. Dra. Maria Antonia R.de Azevedo

Profa. Dra. Bernadete C. Oliveira

Rio Claro, 02 de fevereiro de 2016.

A s s i n a

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SoundSystem / Guilherme Vieira de Freitas. - Rio Claro, 2016 48 f. : il., fots.

Trabalho de conclusão de curso (bacharelado - Geografia) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas

Orientador: Paulo Roberto Teixeira de Godoy

1. Adolescência - Aspectos sociológicos. 2. Reggae. 3. Movimentos juvenis. I. Título.

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Dedicatória:

A todo Eu&Eu que vive na Babilônia, mas que sempre está em busca de mudanças por um mundo melhor.

E navegando no imenso mar de eu e eu Pude encontrar a minha luz e também o meu breu Olhei pra trás e vim que o tombo só fortaleceu E o que era confuso pouco a pouco então se resolveu Sei que e difícil se encontrar nessas profundezas Porque um grande mar é cheio de correntezas Que querem me puxar pro vale das impurezas Que não me fazem bem, só me trazem má incertezas

E lá... muitas barreiras eu encontrei

Mas Jah... me resgatou quando quase afundei No mar... do interior do meu ser meditei Eu e eu libertei com a jinga de Jah jinguei

(Amanajé- Jinga)

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Agradecimentos:

Agradeço aos meus pais e meu irmão, por todo carinho e ajuda durante todos esses anos de vida. Além de sempre acreditarem nos meus sonhos, independente de qualquer coisa e serem

meus exemplos.

Aos amigos da minha rua, da minha a antiga escola(Einstein),ao Marquinhos e todas a sua família, assim como para a Carol que esteve ao meu lado durante este projeto. Um big up! aos participantes da International Reggae Conference que me ajudaram a construir muitas ideias sobre o reggae. Principalmente para o Prof. Dr. Leo Vidigal, tanto pelos seus trabalhos

acadêmicos como pela ajuda e atenção oferecida.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Godoy, tanto pela coragem em aceitar orientar este projeto, como todo incentivo para que ele fosse finalizado. Além de seu trabalho dentro da academia, sendo uma resistência perante a mediocridade de certos professores. E por fim, a todas as pessoas envolvidas na cultura Sound System. Sejam cantores, produtores, seletores, colecionadores, motoristas dos carretos, promotore, espectadores ou carregadores de caixas. E um big up especial ao Yellow P. Por ter iniciado todo este movimento, assim como ao Raoni, por toda atenção gasta comigo, além de se jogar de cabeça pela cultura

Conseguindo trazer novidades a cada dia.

Cada um só colhe aquilo que plantou!

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Resumo:

A Cultura Sound System surgiu na década de 1960 na Jamaica, e tinha como principal função

levar música para o povo na rua. Durante muito tempo essa cultura se reproduziu na ilha caribenha, até que no final da década de 1970 esse ritmo acabou ganhando o gosto de muitos jovens que viviam o espírito de maio de 1968, buscando novas formas de atuar e novos estilos de vida. Esse movimento chega apenas na primeira década de 2000 na cidade de São Paulo com o Dubversão Sistema de Som. Mesmo a cidade possuindo hoje em dia mais de uma dezena de Sistemas de Som espalhados, ainda não há estudos sobre movimento que vem agregando cada vez mais jovens vindos de outros movimentos como o hip-hop e o punk, e levando lazer e cultura tanto para o centro quanto para a periferia da cidade. Assim, esse trabalho visa analisar a formação história do reggae e suas influencias nos movimentos juvenis da cidade de São Paulo, usando assim o Sound System como sua forma de espacialidade no território

Palavras chaves: Sound System, Reggae, Movimentos Juvenis

Abstract:

The sound system culture arose in the 1960s in Jamaica, having as its main objective to take music to the streets. For a very long period of time, sound system culture reproduced in the Caribbean island, when in the end of the 1970s the rhythm reached out to the youth that lived through the spirit of May 1968 and seeked for new ways to act politically and new lifestyles. The movement reached the city of Sao Paulo in the early 2000s with Dubversão Sound System. Despite the city owning, nowadays, over ten sound systems spread across town, there are still no studies regarding this front that has been adding more and more young people from other urban tribes such as hip-hop and punk, and bringing leisure and culture to both downtown and the outskirts of town. In that manner, this research aims into analyzing the historical formation of reggae and its influences in the city of Sao Paulo’s youth movements, using Sound System as a form of spatiality in the territory.

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Sumário:

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1 Introdução

Quando tratamos da história do Reggae, muitas coisas não poderão ser comprovadas através de livros ou autores, já que quando esse gênero surgiu, a Jamaica nada mais era do que uma “nova ex colônia” britânica, até conseguirem uma visão global através do reggae. A partir disso, teremos como base para a introdução da história da Jamaica e do reggae pelos livros de Timothy White(2008), “Catch a Fire” (traduzido como “Queimando Tudo”) e o livro “O Eterno Verão do Reggae, de Carlos Albuquerque(1997), já que ambos dedicaram anos em pesquisas na Jamaica, além de entrevistas diretas com diversos personagens.

Assim, concordamos com a ideia de Albuquerque 1997, de que a história da música Jamaicana mistura-se com a própria história da Jamaica, e que assim como outros países latino-americanos, dois fatos importantes que marcaram períodos desse continente são: a chegada de Cristóvão Colombo (e dos Europeus) e a posterior ocupação dos escravos provenientes da África.

Ao chegar onde atualmente se situa a Jamaica,

Colombo demonstrou surpresa ao ser recebido pelos índios, acompanhados por uma banda, cujos únicos e rústicos instrumentos eram alguns tambores e flautas feitas de cana. Ao que se sabe, essa foi a primeira música a ser ouvida na Jamaica – ou Xaymaca, como chamavam os arauaques, a “terra das primaveras”. (ALBUQUERQUE 1997, p. 13)

Os arauques eram um povo pacífico, mas com a chegada dos espanhóis atrás de ouro e lucros, grande parte foi dizimada pelo trabalho escravo, suicídios, além das doenças trazidas pelos europeus, que ao perceberem não haver ouro na ilha, decidiram partir para outras ilhas, como Cuba, deixando então a ilha na mão de colonizadores que passavam suas terras de “mão em mão” utilizando o trabalho escravo negro até o ano de 1660, quando finalmente após cinco anos batalhando, a Inglaterra toma a posse da Jamaica para si.

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acabaram atuando como uma espécie de resistência, assim como tivemos no Brasil os quilombos, sendo o de maior expressão o quilombo Zumbi dos Palmares.

Com a posterior utilização de escravos africanos pelos ingleses em suas plantações de cana-de-açúcar na ilha, houve um forte influência da cultura africana na base cultural da Jamaica. Isso aconteceu em diversos países, assim como no Brasil, mas três fatos envolvendo os personagens de Marcus Mosiah Garvey e Hailé Selassié além da bíblia “Piby Sagrada”, mudaram completamente o rumo da ilha, e de certa forma, de toda cultura ocidental.

1.1

Marcus Garvey

Marcus nascido na cidade de St. Ann, Garvey mudou-se para Kingston no final de sua adolescência(1907) e adquiriu experiência como orador e líder operário. Assim, Garvey decidi sair da Jamaica para fazer um longo período de viagem passando pela Costa Rica, Panamá, Equador, Nicarágua, Honduras e Venezuela, tentando denunciar e discutir as condições dos operários num contingente de trabalhadores pobres de um Ocidente dominado pelos brancos. Em 1912, Garvey tirou importantes conclusões acerca do significado histórico e religioso da diáspora negra, até que em 1914, Garvey torna a pisar em solo Jamaicano, mas se depara com a maior parte das pessoas avessas as suas idéias. Como nos mostraWHITE (2008):

A admirável tradição britânica de identificação com seus “superiores” transformara a população predominantemente crioula da ilha em ingênuos batalhadores numa busca patética pela ascensão social, sequiosos de “se fazerem passar por brancos.(WHITE, 2008, p.24)

Ainda assim, conforme descreve o próprio Garvey mais tarde, “homens e mulheres tão negros quanto eu, até mais, acreditavam-se brancos segundo a ordem social das Índias Ocidentais. Eu não tinha como utilizar abertamente o termo ‘negro’, entretanto, todos viviam chamando uns aos outros de nigger1” (WHITE,2008, p.24)

Garvey então viaja aos Estados Unidos em 1916 em busca de novos discípulos. Ele era muito bom na arte da comunicação e mídia, patrocinava jornais, revistas e a companhia de

1 *termo coloquial de cunho pejorativo, designando em inglês um indivíduo da raça

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navegação “Black Star Line”. Em suas diversas passeatas, ele eletrizava os seguidores com a retórica “Etiópia, Terra dos Nossos Antepassados” e ainda “Nós negros, acreditamos no Deus da Etiópia, o Deus eterno – Deus dos Deuses, o Deus Espirito Santo, o Deus de todos os tempos!”, “Este é o Deus no qual acreditamos, mas iremos louvá-lo segundo o ponto de vista da Etiópia.(WHITE, 2008 p. 25)

A Etiópia era uma terra sagrada para os africanos, tanto por ser uma das resistências contra o domínio europeu (não havia sido colonizada), também é considerada pelos povos africanos como o berço da civilização e com passagens nas bíblias (São Tiago, Salmo 68). Nos discursos feito por Garvey para o povo pobre da Jamaica, a ousada declaração (que ainda gera discussões sobre sua autoria ou não) “Voltem-se para a África lá será coroado o Rei Negro, Ele será Redentor.” (WHITE 2008, p.5) gerou uma grande euforia nas favelas e nos ghettos de Kingston. Ao verem em 1930 Ras Tafari Makonnen ser proclamado imperador da Etiópia, o Negusa Negast (Reis dos Reis), sendo então, a realização da profecia de salvação. Porém, não há nenhuma comprovação ou evidencias de tais fatos sobre tal citação por Garvey, até por que, ele próprio chegou a declarar-se contra o governo de Selassie.

1.2 Hailé Selassié

Bisneto do rei Saheka Selassié de Shoa, Ras Tafari Makonnen foi proclamado em 1930 o imperador da Etiópia, que em seu título formal, Hailé Selassié – Poder da Santíssima Trindade. “ Selassié, eles sabiam, alegava ser descendente direto do rei Salomão, e então concluíram que ele deveria ser o tão aguardado salvador de todos os povos negros espalhados pelo planeta.(WHITE, 2008 p.26)

Ao ser coroado como imperador da Etiópia, Selassié foi saudado como o mais importante monarca moderno e um símbolo do vasto potencial do continente.

Pouco depois de assumir o trono, Selassié lançou uma campanha para introduzir instituições democráticas e, em geral, para retirar a Etiopia do seu passado feudal. A nova constituição, adotada em 1931, mudou o status dos 26 milhões de habitantes da Etiópia de servos da nobreza para cidadãos do império.

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Porém, o progresso era lento num país de 1.200.000km², cuja população tribal falava mais de duas mil línguas e dialetos diferentes. (WHITE, 2008, p.62)

Em 21 de abril do ano de 1966, o então imperador etíope Hailé Selassié faz uma visita oficial à Jamaica e se depara com uma multidão estimada em cem mil rastas cercando seu avião. Durante a visita, Selassié não emitiu nenhum comentário oficial a respeito da avaliação da seita quanto à sua condição espiritual, mas logo surgiram boatos nos círculos rastas dizendo que um comunicado secreto fora passado pelo imperador para alguns rastas mais idosos, instruindo-os a ‘libertarem a Jamaica antes de migrarem para a Etiópia’. O boato exerceu efeito tranquilizador sobre a alvoroçada comunidade rasta visto que a portentosa responsabilidade de anunciar o dia do último êxodo da Babilônia ficava, assim, indefinidamente adiada. Porém, isso também foi visto como um chamado a uma ação política mais ativa por parte dos rastas, o que, em geral, traduziu-se pela legalização da ganja. (THOMY, 2008, p.33)

Após diversos conflitos com a Itália comandada por Mussolini, Selassié perdeu a confiança de grande parte da população, ainda mais por ostentar grandes riquezas enquanto grande parte da população passava ou estava morrendo de fome. Foi deposto em 1974, quando uma grande seca abalou a Etiópia, quando o exército de base campesina foram buscar

o imperador no palácio, tendo grande parte de sua família morta ou presa, ele acabou confinado em uma prisão domiciliar, e morreu em 27 de agosto de 1975 sem nenhum tipo de comemoração ou lembrança. Até hoje, não é possível saber onde encontra-se o seu túmulo, pois como dizia os devotos do rastafarianismo na Jamaica, “Vocês não podem enterrar Jah !”.

1.3 Piby Sagrada

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De imediato, houve uma perseguição da igreja cristã para seus membros, fazendo com que alguns deles se refugiassem no interior das freguesias, onde foram plantadas as sementes do rastafarianismo.[...]Os primeiros lideres rasta como Leonard P. Howell gravitaram em torno de acampamentos proibidos a fim de ler a Piby Sagrada. (WHITE, 2008, p. 27)

Muitos desses que a partir de então se autodenominavam novos “profetas”, criaram certos conjuntos de normas de alimentação e higiene para acompanhar tal doutrina religiosa. O termo para esses conjuntos era o ITAL, termo rasta que significa puro, natural.

Instigavam o seu rebanho a evitar e ingestão de álcool, o tabaco, todas as carnes (especialmente a de porco), assim como os moluscos, peixes sem escamas, espécies marinhas predatórias ou necrófagas e muitos temperos comuns como, por exemplo o sal[...] Também proibiram pentear ou cortar o cabelo, e citavam a diretiva bíblica no Levítico 21:5: “Eles não devem raspar a cabeça, nem devem aparar o canto da barba, nem cortar a própria pele. (WHITE, 2008, p. 30)

As tranças entrelaçadas e emaranhadas formadas nos cabelos dos rastas, viraram os dreadlocks, causando grande impacto visual, assim como o uso da ganja(maconha, cannabis), que era considerada como uma erva sagrada, da sabedoria.

Os lideres rastas incentivavam o seu consumo como parte do tiro religioso, alegando que ela foi encontrada crescendo no túmulo do rei Salomão e citavam passagens bíblicas, como, por exemplo, o Salmo 104:14, para atestaras suas propriedades sagradas: ‘Ele fez a grama crescer para o gado e a erva para o uso do homem, para que ele possa retirar a comida da terra. (WHITE, 2008, p. 30)

Um grupo de rastas faz então uma “missão” nas montanhas de St. Catherine, onde plantavam sua ganja. Um dia, aquele que se intitulava líder, se proclamou o Deus Vivo, fazendo com que a polícia (preocupada com o caso) tomasse a caverna em que estes habitavam, deixando os seus seguidores confusos. Estes então, começaram a invadir as ruas de Kingston em grupos grandes, chocando a população com seus penteados e com o consumo ilegal da ganja. “No final da década de 1950, outras congregações rastas, ávidas por justiça social além da salvação espiritual, começam a tornar-se mais militantes.” (WHITE, 2008, p. 31) Estes grupos começaram a ocupar desde espaços públicos até criar convenções com enormes fogueiras, muitas batucadas e cerimônias religiosas que reuniam centenas de pessoas.

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jovens(adolescentes do sexo masculino) onde viam nos rastas um status que lhes era negado na sociedade.

2 – Do Ska ao Dancehall a música na Jamaica

2.1 - O nascimento da música Jamaicana.

Desde a década de 1920, a música que predominava no Caribe era o Calipso. Natural de Trinidade, suas músicas eram compostas por canções populares, temas atuais e frequentemente malicioso num patoá franco africano e que foram gradativamente passando para o inglês, já que começava a despertar interesse nos selos americanos. Nos anos posteriores à Segunda Guerra Mundial, houve o surgimento de diversos ritmos musicais no Caribe, misturas de acorde entre Calipso e Mento. Mas a juventude Jamaica começava a deixar para trás as músicas impostas pelas rádios e buscavam as frequências provenientes do sul dos Estados Unidos da América(EUA). Assim, em 1950-1959,

A juventude Jamaicana se afastava do pop americano imposto pela Rádio Jamaicana Rediffusion(RJR) e pela Jamaica Broadcast Corporation (JBC). Quando o tempo permitia, eles preferiam ouvir a música mais vigorosa tocada nas rádios de Nova Orleans ou na poderosa WINZ de Miami[...]. (WHITE, 2008, p. 35)

Com a influência desses ritmos norte-americanos, e principalmente de artistas da Nova Orleans, que já vinham experimentando novos avanços musicais, a Jamaica também começa a ter seus experimentos.

As bandas Jamaicanas começaram a tocando os sucessos de R&B americanos; porém, as mais ousadas desmontaram o som e interpretaram a ele conceito de jazz vigoroso – em particular o sempre presente solo de trompete – e surgiram por volta de 1956 com um híbrido chamado Ska. (WHITE, 2008, p.35)

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assim, uma escola de estrelas, contando com os principais artistas que despontariam na música jamaicana formando os Skatalites, primeira big band de Ska na Jamaica.

Segundo Ernest Raglim, o nome Ska deriva do som feito devido à marcação de ritmo da música: Skat! Skat! Skat! criando um novo alvoroço na ilha.

O ska era o jazz nos trópicos. O ska era o mento submetido ao rhythm and blues. O ska era tudo isso e mais um pouco. A batida era nervosa, o tempo acelerado. Os instrumentos trabalhando em equipe – não havia uma ‘ala’ em destaque. Mesmo nesse clima de um por-todos-todos-por-um, o ska tinha suas preferências, e seus frontmen. Eram os solistas, invariavelmente dando um passinho à frente na seção de metais. (ALBUQUERQUE 1997, p.20)

Além da qualidade musical, ainda há outro fator que teve uma grande influência no sucesso do Ska, que foi a independência da Jamaica, que após séculos de escravidão e submissão à ex-colônia Inglesa conseguia sua libertação. Logo, em 1962(ano da independência) grande parte da população jamaicana estava em busca de uma nova identificação nacional, assim, o Ska acaba caindo na graça de grande parte da população e virando uma febre nacional, atraindo desde as classes pobres, até alguns setores da elite. Mas nem tudo foram flores para o Ska, já que com a separação dos Skatalites, aliado com a realidade social assombrando Kingston, o ritmo do Ska já não mais representava o sentimento popular de liberdade.

Assim, um grande número de artistas acabou indo para a Inglaterra, EUA, e até no Canadá devido à grande conexão existente entre os descendentes da diáspora que agora encontravam-se espalhados entre diversas nações ao redor do globo.

2.2 Rude Boys

No início da década de sessenta, junto à independência da Jamaica, houve também um processo de industrialização lento e desestruturado na ilha, concentrando em sua capital, Kingston, e seus arredores uma grande massa de pessoas vindas do campo em busca de uma melhor oportunidade de trabalho. Porém, as oportunidades de trabalho eram poucas, deixando grande parte da população insatisfeita, principalmente os jovens, que cada vez mais viam oportunidades apenas nos crimes ou em estourar uma música de sucesso nas rádios. Esses ficaram conhecidos como Rude Boys.

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que se mudaram para a cidade. Tinham de 15 a 18 anos, em média. Bem distante, portanto, da idade da razão. (ALBUQUERQUE 1997, p. 27)

Mas eles também estavam cientes do que acontecia no mundo que cercava a ilha,

Enquanto isso, fora das fronteiras jamaicanas, novos ventos davam volta ao mundo. Na África, várias colônias reconquistavam sua independência. Na América, floresciam o movimento pelos direitos civis e a luta contra o preconceito racial. Tudo isso acabou ecoando nas ruas da Jamaica, onde crescia a cada dia o número de simpatizantes do culto rastafári[...] Eles olhavam torto, na verdade, para todo sistema social. Eram punks de primeira geração (não por acaso, um documentário verdade de 1978 com o grupo inglês, de punk rock, The Clash chamou-se Rude Boy). (ALBUQUERQUE 1997, p.27)

Ao mesmo tempo que estava ocorrendo uma grande mudança nos jovens da ilha, a música acabava por mudar também.

A batida, de fato, desacelerou-se. A guitarra ganhou papel da marcação. Baixo e bateria, os grandes beneficiados com a mudança, tornaram-se condutores da música, tornaram-seus mestres e tornaram-senhores. Graves com os burru drums. Sólido como rocha. Rock-steady. (ALBUQUERQUE 1997, p.28)

2.3

Rocksteady

O Rocksteady foi um estilo de música jamaicana que tratou os Rude Boys em diversas músicas, por vezes incentivando e por outras tentando acalmar os ânimos deles, mas o que realmente reinou no Rockstead foram as letras de amor. O auge desse ritmo foi de 1966 à 1968 e boatos dizem que a música servia para amolecer o sofrimento que a população passava na época, além disso, grande parte dos artistas da época já estavam no meio “rasta” e começaram a passar seus pensamentos para suas músicas, substituindo cada vez mais os romances para as causas sociais e o cotidiano difícil. Assim, o Rockstead tornou-se um berço para grande parte dos cantores que iriam se destacar anos seguintes no reggae roots.

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2.4 Roots!

O Reggae Roots, que aqui chamaremos apenas de reggae, foi o estilo de música que definitivamente adotou os pequenos Rude Boys sonhadores, fruto de seu choro pela mãe África, o reggae adota cada vez mais os graves em suas músicas, relembrando suas tradições africanas. O baixo tornou-se o senhor absoluto da música, e a bateria sua fiel escudeira. A guitarra, como prêmio de consolo por sua condição de simples marcadores de ritmo, ganhou maior variedade de timbres e o acompanhamento luxuoso do teclado. Dois cabeças de área, assim por dizer. (ALBUQUERQUE 1997, p.56)

Assim, os rastas tornaram o reggae ofensivo e ao mesmo tempo pesado. Tendo muitos de seus artistas em sua maturidade musical, o reggae começa a se espalhar definitivamente pelo mundo através de diversas bandas como os The Wailers.

Essas bandas que por décadas fizeram a cabeça durante as primeiras décadas, foram perdendo vez quando a tecnologia proveniente dos EUA chegou na ilha. As mesas com diversos canais e novos teclados surgindo com efeitos faziam com que uma banda que antes eram composta por diversos artistas, agora começava a se digitalizar, sendo por vezes necessários apenas duas ou três pessoas para se gravar uma música, cortando custos na produção, além de haver cada vez mais uma mistura entre ritmos de outros países.

2.5 Dancehall

Como nem tudo era sinônimo de rastafarianismo e política na Jamaica, muitos apenas queriam curtir a noite ou até mesmo procurar um par amoroso. Assim, no final da década de oitenta para noventa, dispara o Dancehall que, ao pé da letra, é a dança de salão, mas como o sound system acontecia na rua, o papel principal tornavam-se os Deejays, que cantavam versões exclusivas para o sound systems, mas muitas vezes mostravam suas características mais marcantes, que são os termos utilizados nas letras, cuja principal abordagem é a sexualidade e o machismo, além da homofobia e a competição cada vez mais alienada dos sound system.

Alguns deejays durante a década de noventa, acabaram convertendo-se ao rastafarianismo, mudando os temas das músicas gradualmente, formando assim o new roots. Mas o reggae já havia se espalhado por todo o mundo e já estava colhendo seus frutos.

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Inglaterra, ganhando fãs, surtindo efeitos[...] as melhores fontes de bandas completas de reggae passaram a ser a Grã-Bretanha, a Suécia, a África Ocidental e o Japão, enquanto a própria Jamaica corria o risco de tornar-se um caminho sem volta para a música rap norte-americana e britânica que ela tão bem servia para disseminar. (WHITE, 2008, p.323)

3.

Europa- Da Jamaica para o mundo.

Quando o reggae tornou-se o maior sucesso na Jamaica, muitos artistas jamaicanos foram para terras europeias (incluindo entre eles Bob Marley), buscando fazer sucesso (ou/e dinheiro). Perplexos com o novo ritmo tocado pelos jamaicanos na Europa, os jovens britânicos se aventuraram no novo ritmo, inclusive indo fazer gravações na Jamaica como Paul McCartney, Mick Jagger.(WHITE, 2008)

Logo, parecido como na Jamaica, surgia uma nova oportunidade para os artistas tentarem fazer sucesso e algum dinheiro com a música.

Os imigrantes jamaicanos que viviam na Inglaterra enxergavam na música reggae e nos sistemas de som uma forma de valorizar sua cultura, conectar-se às suas raízes e fortalecer sua identidade cultural. No documentário Sound System (1994), de Enda Murray, uma das entrevistadas, PrincessMotivate, afirma que a música tocada nos sistemas de som britânicos consistia em uma forma do povo expressar, da sua própria maneira, sua identidade e sua origem jamaicana e também africana. Outro entrevistado afirma que através das letras da música reggae – carregadas de consciência social – os imigrantes educavam as pessoas e contavam a elas sua própria história: “This is where we belong, this is ours”, afirma ele. O sound system consistia, portanto, em uma forma de aumentar a autoestima e fortalecer a identidade cultural da juventude. (ALBUQUERQUE, 1997, p.17)

Segundo CATANI; GILIOLI 2004, foram condições como a urbanização, a industrialização e a ampliação dos meios de comunicação que impulsionaram a música como espetáculo da indústria cultural. Assim, o reggae não foi importante somente para os negros que estavam na Europa, mas ara os brancos que também sofriam diariamente a brutalidade do sistema, sendo assim, o reggae foi a porta de entrada para o surgimento dos Movimentos Punk e Skinhead (que antes não tinha nenhuma relação com o nazismo).

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Assim, se houver interesse do leitor no assunto, muitos livros e trabalhos acadêmicos (como alguns que constam nas referências) abordam melhor os movimentos punk e skinhead.

Grande parte dos trabalhos analisados durante a pesquisa abordam a questão da disseminação do reggae pela Europa e consequentemente pelo mundo, através das ondas migratórias de Jamaicanos ao redor do globo, mas o que tentaremos fazer uma análise nessa parte do trabalho é a relação que o povo europeu teve com a música jamaicana inicialmente, fazendo assim, com que esse ritmo fosse pouco a pouco sendo aceito por certas camadas da sociedade europeia.

3.1

As condições pré 68

Quando o reggae chegou na Europa, encontrou uma sociedade que estava passando por grandes mudanças, principalmente nos quesitos culturais. Mas para entendermos esse movimento cultural, creio que seja necessário explanarmos sobre as condições pré-68 para entendermos como esse movimento emergiu.

Assim, nos sustentamos nas falas de SILVA 2006 sobre o surgimento do movimento cultural ocidental:

Segundo os autores consultados, não teria emanado da espontaneidade de um processo social independente, e tampouco teria sido decorrência natural de uma ―crise da sociedade burguesa.

Ele teria surgido, na verdade, como fruto de um artifício político revolucionário concebido por uma escola de intelectuais materialistas históricos. Sua tática principal consistiria no ataque aos valores, costumes e princípios culturais identificados como ―cultura burguesa, assim como através da captura progressiva dos meios de produção de discurso, notadamente a Indústria Cultural e as instituições de ensino superior. (SILVA, 2006, p.11)

Esse movimento começa a ganhar vozes maiores no final da década de 1940 e início de 1950, quando autores como Adorno e Horkheimer (SILVA, 2006) começam a discutir o papel da Indústria Cultural na sociedade.

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inescapável: eis a finalidade dos meios de produção cultural no capitalismo, segundo Adorno e Horkheimer. (SILVA, 2006, p.09)

Logo, as massas são determinadas a consumir produtos e estilos de vida, criando-se assim, um círculo inescapável do poder do capital que condicionam os pensamentos dos indivíduos, agindo em todas as instâncias de suas vidas, desde a produção até a diversão, introduzindo assim, uma passividade perante a realidade que os oprime, não deixando haver um pensamento de que possa ser desejável ou possível outra configuração socioeconômica.

Na medida em que os filmes de animação fazem mais do que habituar os sentidos ao novo ritmo, eles inculcam em todas as cabeças a antiga verdade de que a condição de vida nesta sociedade é o desgaste contínuo, o esmagamento de toda resistência individual. Assim como o Pato Donald nos cartoons, assim também os desgraçados na vida real recebem a sua sova para que os espectadores possam se acostumar com a que eles próprios recebem.” (SILVA, 2006, p.10)

Vários autores, dentre eles Gramsci e Györg Lukács, além da Escola de Frankfurt acabaram introduzindo uma tradição do chamado Marxismo Ocidental

Esse movimento teve como início na Primeira Guerra Mundial, quando os proletários preferirem lutar pelas bandeiras nacionais burguesas que tanto os exploram, ao invés de lutar contra sua verdadeira inimiga, a burguesia. Esse evento entristeceu grande parte dos intelectuais lenistas que não entendiam o insucesso das outras revoluções tentadas na Europa, se questionando o porque de o comunismo não conseguir engrenar na parte ocidental do continente Diante do problema, haveria que se rever a estratégia elaborada para superar o capitalismo, definir novas linhas de ação, formular uma nova práxis que fosse capaz de penetrar as barreiras ocidentais[...]resultando num translado da militância intelectual marxista dos partidos e sindicatos aos institutos de pesquisa e universidades. A ocasião, portanto, para o desenvolvimento de uma práxis mais bem elaborada veio paradoxalmente daquele fracasso primeiro, manifesto na recusa dos operários a pegarem em armas contra seus patrões e contra o Estado burguês. (SILVA,2006, p.13)

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obra, Lukács investe contra o que considera ser as bases ideológicas da dominação burguesa: A Lei Natural, a filosofia idealista, a religiosidade judaico-cristã, etc.

Antônio Gramsci foi um pensador italiano, que analisava uma perspectiva da revolução pacífica através da conquista da hegemonia cultural pela massa trabalhadora, ao invés da revolução social violenta e abrupta.

Para Gramsci, o partido revolucionário precisa agir sobre a consciência coletiva das massas, sobre a própria maneira de pensar dos indivíduos, precisa deslegitimar as crenças, subverter os costumes e as opiniões tradicionalmente predominantes na mentalidade popular, alterando o chamado senso comum desde as suas raízes maisprofundas. A necessidade de se combater a cultura tradicional estaria no fato de que, por culpa dela, o modo de pensar, de reagir e de se comportar dos operários, isto é, o modo como eles vêm o mundo e se relacionam com ele estaria totalmente contaminado por uma herança ideológica maldita, incutida neles por forças políticas contrárias aos seus próprios interesses, a fim de subjugá-los. Ou seja, para Gramsci o proletariado pensa segundo uma lógica que o leva a ser obediente e submisso à burguesia, graças à atividade dos aparelhos culturais que reproduzem e legitimam a ideologia hegemônica, e também graças à influência dos chamados ―intelectuais tradicionais‖ e dos ―intelectuais orgânicos a serviço da burguesia. (SILVA,2006, p.16)

Assim, esses aparelhos de hegemonia propostos por Gramsci são os meios privados de produção(escola, Igreja, imprensa, etc.) que impedem os operários de conseguirem pensar segundo seus próprios interesses e livre do controle burguês. Essa tomada dos aparelhos hegemônicos poderia causar uma consciência de classe, criando assim, um novo senso crítico e também um novo senso comum.

Enquanto Lênin propunha que primeiro uma vanguarda armada tomasse o poder pela força, para só depois convencer as massas quanto à ―nobreza‖ de sua causa, Gramsci intenta persuadir as massas de antemão e prepará-las para abandonar seus antigos valores e aceitar consensualmente um novo estado de coisas, que já estará irremediavelmente instaurado quando se derem conta disso, graças aos avanços antecipados na guerra de posição. É tão inegável a sutileza e a sofisticação da tática gramsciana quanto a sua sinistra pretensão de subverter as mentalidades e deslegitimar boa parte do patrimônio cultural da civilização ocidental em nome de uma sociedade soi-disant perfeitamente justa e homogênea. (SILVA, 2006, p.18)

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Dentre as razões principais, está o redespertar das revoltas de massa na Europa ocidental em1968, com a entrada maciça da classe trabalhadora em uma nova insurgência política agora distante dos partidos de esquerda estabelecidos. O marxismo ocidental teria cedidolugar a uma cultura marxista voltada a questões de ordem econômica, política ou social ausentes no predecessor.” (GLASER,2008, p.68)

Logo, esse movimento acaba por influenciar as revoltas estudantis de 1968, mas perdem grande número de operários nos sindicatos, além de ser segundo CARDOSO (1994), uma revolta dos indivíduos contra o sistema. Os jovens então, são os que ganham o grande destaque.

3.2- A Revolução de 68 e a adolescência

Podemos ver em PROST(2009), que durante todo processo de produção do modo capitalista, houve sérios impactos à sociedade, principalmente à vida privada dos trabalhadores. Primeiramente temos a mudança no aspecto do lugar do trabalho, que por gerações foram feitos em casa, e agora passam para lugares especializados como as fábricas, e consequentemente a mudança na paisagem urbana. Além disso, temos o enfraquecimento da família, onde cada vez mais esta vem perdendo sua vida privada para uma casa de indivíduos privados, e isso nos mostra a separação dos integrantes em cômodos diferentes.

Assim, por perder esse papel perante a sociedade, não pode ser mais responsável por certas regras e obrigações como a “educação”, que agora é transferida da família para a escola o aprendizado da vida em sociedade. Assim,

A socialização era feita por meio de um tipo de aprendizagem que misturava os pequenos e os adultos. A família não era o núcleo básico da sociedade: as trocas afetivas e as comunicações eram realizadas no espaço coletivo, “num meio denso e quente”, com propensão aos encontros, às visitas, às festas. (ABRAMO, 1994, p.05)

Ainda na ideia da autora, a escola também começa a substituir a aprendizagem informal, além de deixar de ter o contato misturado com os adultos.

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crianças e o mundo adulto, implicando um tempo longo de preparação que, comparado ao das sociedades primitivas, é menos institucionalizado e com papéis menos definidos. (ABRAMO, 1994, p.03)

Mas nos dias atuais, temos mais do que uma divisão do trabalho ou segregação familiar, mas também uma segregação social.

O modelo escolar atual divide a sociedade em castas, e a visão que os mais pobres têm dos mais ricos e os mais ricos, dos mais pobres, é estereotipada , ideologizada, difundida pelos meios de comunicação[...]As crianças e os adolescentes, desde cedo separados por faixas de renda familiares – pois o ensino pago tornou-se impositivo nas últimas décadas e as escolas oferecem diversas formações, de acordo com o poder aquisitivo de cada grupo – encaram com aparente naturalidade as diferentes formas de tratamento dadas aos diversos grupos sociais. (OLIVEIRA, 2004 p.12)

Temos atualmente então, uma grande parte de jovens desamparados tanto pelas suas famílias, tanto como pelo poder público, excluindo-se cada vez mais socialmente e deixando suas vidas seguirem à inércia.

Tão dramático quanto o apartheid social, o esmagamento imposto pela realidade das metrópoles é, por si só, responsável pelo encapsulamento dos jovens, seu aliciamento ou sua ‘iniciação’ [...] Num certo contexto, crianças, adolescentes e jovens parecem existir à revelia do mundo adulto, recolhidos na solidão eletrônica das comunidades virtuais. Moldam-se de acordo com as expectativas da mídia e do mercado. (OLIVEIRA, 2004: p.10)

Assim, finalizamos essa parte com a ideia de OLIVEIRA, 2004 que:

A resposta talvez esteja no fato de que, no modelo atual, em países como o Brasil, a sociedade vem se adaptando à ‘ausência’ dos educadores. Nesse caso, devemos entender não somente a ausência dos pais no acompanhamento de seus filhos, que por si só já é um problema grandioso, como também, num sentido mais amplo, a quaseausência – em termos qualitativos – do Estado. (OLIVEIRA, 2004 p.11)

A partir de acontecimentos políticos e sociais, principalmente aqueles que se intensificaram nos aos 1960, e da consolidação do processo globalizatório de grande fluxo de informação e produtos em nível mundial, aconteceu uma fragmentação as formações sociais em níveis mundiais e locais. Com o esvanecimento das grandes ideologias e com a ascensão das mídias de massa e da sociedade de consumo na lógica neoliberal, os dispositivos políticos e culturais estão voltados ao afetivo e ao emocional gerado pelo entretenimento e pelo consumo de produtos e sensação advindas da sociedade do espetáculo. (BRASI, 2011, p.94)

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do homem contra o sistema. Assim, segundo MARCUSE(apud SOUSA 2004, p.53), havia um sentimento critico naquele momento como a recusa do trabalho, e o debate e questionamento profundo dos valores tocaram intensamente os jovens em sua busca do novo

Numa sincronia entre a vida particular e a coletiva, estes jovens recusavam os valores da ordem instaurada pela sociedade industrial moderna, inspirados nos pensamentos existencialista, marxista, anarquista e surrealista da época, ideias que fizeram, conforme suas epistemologias, a crítica da cultura e levaram junto a crítica da família e a crítica do conformismo e da impotência do indivíduo diante deste quadro. (SOUSA, 2004, p.452)

Esses jovens foram então a caixa de ressonância da sociedade da época, consolidando essa “natureza juvenil revolucionaria” (SOUSA 2004), e que para MARCUSE 1996(apud SOUSA 2004), a juventude, como uma nova vanguarda da sociedade, optou por uma revolução cultural e não por uma ruptura política quando, em 1968, rechaçou o sistema democrático representativo consolidado nos países da Europa ocidental.

As diferenças no interior do ‘Maio de 68’, composto majoritariamente por jovens da classe média urbana das grandes cidades da Europa e da América Latina, guardaram algumas singularidades importantes para a distinção dos rumos posteriores do movimento estudantil nestes continentes. No Brasil, representou, segundo Guilhon de Albuquerque, a proletarização crescente das classes herdadas da sociedade pré-industrial, e o seu questionamento do sistema foi apenas uma parte da sua intervenção concreta

na sociedade. (SOUSA, 2004, p.454)

Ainda segundo a autora,

Tanto na cultura quanto na política, configurou-se a criação de projetos alternativos para uma sociedade voltada para um projeto de modernização mais amplo. Os movimentos dessa década foram de “abertura” ou

de “modos de vida”, como colocou Heller e Fehér (1994).” (Sousa, 2004, p.453)

Assim, estes jovens acabam por ter um pensamento global, mas, ao mesmo tempo, atuando localmente em suas comunidades ou bairros. Não havendo assim, uma preocupação de se tornarem um espaço organizado com identidade única, mas espaços de encontro que possibilite a atuação em rede de diferentes organizações, grupos e indivíduos, que tenham pontos mínimos de concordância, conforme a compreensão sobre a emancipação social. (SOUSA, 2004, p.460)

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protesto, procuram expressar o mundo que estão pretendendo criar no futuro, dentro do princípio de que os objetivos e modos de organizar um movimento não devem ser diferentes, têm que ser totalmente relacionados.( SOUSA, 2004, p.461)

Assim, uns dos principais alvos desse produto de consumo cultural foram os jovens, já que:

Os jovens podem questionar seus valores e buscar novas referências, experimentar novas pautas de comportamento e novos estilos de vida inspirados em grupos diferentes daqueles aos quais pertencem. Heller considera ainda que essas aspirações juvenis de modos de vidas distintivas, que se articular em torno a movimentos culturais, estiveram no centro das transformações sociais desencadeadas ao longo do século. (ABRAMO, 1994, p.19)

Seguindo o pensamento de CANEVACCI(2007), é que essas culturas juvenis eram contra “a” cultura do poder, a cultura burguesa de classe herdada do Iluminismo, e que criando uma falsa consciência histórica, busca uma parcialidade universal. A expressão “contracultura” nasce pelo final dos anos 1960 e morre no início dos 1980. O prefixo “contra” atestava a dimensão da oposição que as novas culturas juvenis dirigiam à cultura dominante ou hegemônica. (Canevacci,2007, p.13)

Tentavam fazer um processo revolucionário não na estrutura socioeconômica, mas no cruzamento de novas formas de pensar e velhas ideologias. Assim,

São esses jovens, enfim, que aos poucos vão conseguindo romper com estruturas antigas e injustas, norteadoras de um pensamento centrado no aqui-agora e, portanto, pouco ou nada inclinado a levar em consideração as gerações e condições de vida do futuro. (OLIVEIRA, 2004, p.11)

Baseando-nos em ABRAMO(1994), a noção que temos hoje de juventude é totalmente variante entre sociedades, onde em muitas delas, a juventude não possui uma categoria de importância e visibilidade social.

O destaque do grupo de idade correspondente à adolescência, na sociedade moderna, aparece como fruto do desenvolvimento da sociedade industrial que, ao criar a disjunção entre a infância e a maturidade, tornou necessário um segundo processo de socialização. Esta consiste, fundamentalmente, na preparação dos jovens para assunção dos papéis modernos relativos à profissão, ao casamento, à cidadania política etc, que os coloca diante da necessidade de enfrentar uma série de escolhas ou decisões. (ABRAMO, 1994, p.16)

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Crítica ao modo de vida industrial/burguês (isto é, à mecanização, padronização, hipocrisia, ausência de sentido etc.) como expressão de uma recusa a se incorporar esse modo de vida por parte de pessoas que estão para entrar nele. (ABRAMO, 1994, p.20)

Uma escolha de não crescer, e assim “permanecer jovem”, manter-se à margem do sistema, acaba sendo muitas vezes uma saída adotada por muitos desses jovens. Nos últimos anos, o número deles cresce cada vez mais entre esses movimentos, atraindo atenção para comportamentos como no movimento punk e no reggae.

Esses grupos atraíram a atenção pela agressividade real e simbólica do seu comportamento, pela negatividade de suas representações do presente e do futuro, pelo investimento na própria imagem e pela privilegiação do lazer e dos produtos da indústria cultural como elementos articuladores de suas atividades.” (ABRAMO, 1994, p.Xi)

Segundo Morin 1986(apud) ABRAMO 1994), a juventude aparece então como uma “nova classe social” expressa por sua cultura específica. Essas subculturas se formam então no espaço do lazer, em torno de atividades de diversão e consumo, com a valorização do prazer e do consumo como fontes de gratificação imediata

Parte do dinheiro conseguido pelos adolescentes em seus empregos pode ser gasto em consumo próprio (o qual vai ser dirigido principalmente por bens de diversão) constituindo um mercado distintivamente adolescente. (ABRAMO, 1994, p.28)

Esse consumo acaba trazendo um espirito cada vez mais individualista entre essa juventude, onde o coletivo perde espaço para o individual como nos mostra HALL(2011):

Se referindo a maio 68, “Cada movimento apelava para a identidade social de seus sustentadores. Assim, o Feminismo apelava às mulheres, a política sexual ao gays e lésbicas, as lutas raciais aos negros, o movimento antibelista aos pacifistas, e assim por diante. Isso constitui o nascimento histórico do que veio a ser conhecido como política de identidade- uma identidade para cada movimento. (HALL, 2011, p.45)

Segundo HOBSBAWM(1994), podemos analisar que essa revolução cultural deu início também à cultura do triunfo do individuo sobre a sociedade, tendo o rompimento dos fios que antes ligavam os seres humanos em texturas sociais.

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3.3- Décadas de 1980-1990, A crise, o Punk e o Rap.

Segundo HOBSBAWM (1994), na década de 1970, muitos ainda evitavam utilizar o termo crise, com o objetivo de não ser relacionado com a crise de 1930, mas já era notável uma economia mundial mais instável, surgindo assim novos modos de produção.

Controle de inventário computadorizado, melhores comunicações e transportes mais rápido reduziram a importância do volátil “circo de estoques” da velha produção em massa, que resultava em enormes estoques só para serem necessários em épocas de expansão e depois parava de chofre quando os estoques eram liquidados em épocas de contração. O novo método, iniciado pelos japoneses, e tornado possível pela s tecnologias da década de 1970, iria ter estoques muito menores, produzir o suficiente para abastecer os vendedores just in time(na hora), e de qualquer modo com uma capacidade muito maior de variar a promoção de uma hora pra outra, a fim de enfrentar as exigências de mudança.( HOBSBAWM, 1994, p. 394)

Com esse novo modo de produção, houve um declínio na produção dos países desenvolvidos, assim como os do terceiro mundo que se agravava com o declínio dos países-membros da antiga União Soviética.

Por outro lado, a situação em regiões particulares do globo era consideravelmente menos cor-de-rosa. Na África, na Ásia ocidental e na América Latina cessou o crescimento do PIB per capita. A maioria das pessoas na verdade se torno pobre na década de 1980, e a produção caiu durante a maior parte dos anos da década nas duas primeiras dessas regiões, por alguns anos na última(UN World Economy Survey, 1989. pp. 8 e 26)( HOBSBAWM, 1994, p.395)

Outro fator que aumentou a crise na década de 1980 foram as diversas depressões sofridas, que chegou a afetar até os países mais desenvolvidos.

Quando a pobreza e miséria, na década de 1980 muitos dos países mais ricos e desenvolvidos se viram outra vez acostumando-se com a visão diariamente de mendigos nas ruas, e mesmo com o espetáculo mais chocante de desabrigados protegendo-se em vãos de portas e caixas de papelão, quando não eram recolhidos pela polícia. (HOBSBAWM, 1994, p.396)

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O que tornava os problemas econômicos das Décadas de crise extraordinariamente perturbadores, e socialmente subversivos, era que as flutuações conjecturais coincidiam com convulsões estruturais. A economia mundial que enfrentava os problemas das décadas de 1970 e 1980 não era mais a Era de Ouro, embora fosse, como vimos, os produtos previsíveis daquela era. Seu sistema de produção fora transformado pela revolução tecnológica , globalizado ou “transnacionalizado” em uma extensão extraordinária e com consequências impressionantes. Além disso, na década de 1970 tornou-se impossível ignorar as revolucionarias consequências sociais e culturais da Era de Ouro.( HOBSBAWM, 1994, p.402)

HOBSBAWM (1994) ainda nos ilustra através do trabalho e do desemprego. Segundo ele, a industrialização substituiu a capacidade e força do homem pelo da máquina, jogando assim, as pessoas para fora de seus empregos. Os novos empregos então eram preenchidos cada vez por máquinas, diminuindo cada vez mais rápido o número de trabalhadores empregados.

O crescente desemprego dessas décadas não foi simplesmente cíclicos, mas estrutural. Os empregos perdidos nos maus tempos não retornariam quando os tempos melhoravam: não voltariam jamais.( HOBSBAWM, 1994, p. 403)

Outro fator aliado a isso foi a mudança e transferência de indústrias dos velhos países industrializados para os novos continentes emergentes na industrialização, criando “cinturões de ferrugem”(brown field) nas paisagens das antigas indústrias e não melhorando significativamente a condição devida para as populações dos novos países.

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mais alta a tecnologia, mais caro o componente humano de produção comparado com o mecânico. (HOBSBAWM, 1994, p.403)

Isso tudo causou uma sensação de desorientação e insegurança. Os partidos trabalhistas do Ocidentais perderam sua principal força que era a ação economia e social de governos nacionais, fazendo surgir com maior força as subclasses.

Além disso, desde a década de 1970 vários seguidores (sobretudo jovens e;ou classe media) abandonavam os principais partidos da esquerda por movimentos de mobilização mais especializados - notadamente os de defesa do “meio ambiente”, feministas e outros chamados “novos movimentos sociais” -, assim enfraquecendo-os(HOBSBAWM, 1994, p.406).

ABRAMO(1994) ainda reafirma essa questão onde:

O saldo daqueles anos teria sido o desenvolvimento da consciência ecológica, a aspiração a um novo equilíbrio homem-natureza, a uma nova relação entre gêneros e uma nova concepção de família, uma liberalização da moral e dos costumes, uma nova relação com o lazer e com o prazer.(ABRAMO,1994, p.41)

Na década de 1980, temos então o que ABRAMO(1994) interpreta como o desaparecimento de uma ideia de “revolução juvenil” que tinham seus princípios levantados pelo prazer e beleza, paz e amor, além da utopia em transformar o mundo, fazendo agora com que esses jovens se liguem cada vez mais às tribo(bandos, estilo, subculturas, culturas) ligados pela espetacularidade e pela amplitude internacional.

O movimento Punk então foi um dos principais da época. Surgido na Inglaterra como uma reação a estrelismo do rock progressivo, teve em 1977 o seu auge como uma subcultura juvenil(ABRAMO,1994) que conseguiu espalhar suas ideias ao redor do mundo tanto pelas suas ideias como pelas suas atitudes.

São grupos fundados em atitudes como a rejeição de aparatos grandiosos e de conhecimento acumulado, em troca da utilização da miséria e aspereza como elementos básicos de criação, o uso da dissonância e da estranheza para causar choque, o rompimento com os parâmetros de beleza e virtuosismo, a valorização do caos, a cacofonia de referências e signos para produzir confusão, a intenção de provocar, de produzir interferências perturbadoras da ordem. (ABRAMO, 1994, p.43)

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Os punks são principalmente garotos de classes trabalhadoras dos subúrbios , vivendo nesse momento uma situação de desesperança: a crise econômica e os índices de desemprego atingem duramente os jovens proletários que, ao saírem do ciclo básico não encontram emprego, e além disso, veem boa parte dos serviços públicos antes existentes ser encerrada pela política dedesestatização de Thatcher. Sem dinheiro, sem nada pra fazer, e com uma sensação de estagnação e exílio social, esses jovens acabam por procurar atividade e diversão, “explodindo em fúria e desencanto” na criação de atitudes provocantes, desafiadoras, “deflagradoras de desordens”, em todo os sentidos: da desordem semântica à desordem comportamental(Bivar, 1982; Santos, 1985; Muggiatti, 1985 e outros)(...) A explosão do punk provocou também o surgimento de novas tribos e o revigoramento de outras. Todas elas tendo a música como elemento centralizador de suas atividades e da elaboração de sua identidade, e caracterizando-se também por um imenso investimento na construção de um estilo de aparecimento (modo de vestir, expansão facial, postura de corpo e gesticulação) como sinalizador de sua localização e visão de mundo.(ABRAMO, 1994, P.45)

O movimento punk então foi disseminado pelos jovens da cultura ocidental como uma contracultura ao sistema vigente. Mas foi na América Latina que esse movimento ganhou uma enorme força, principalmente nos grandes centros urbanos.

Durante o final da década de 1970 e nos anos de 1980, o movimento conquistou uma grande espacialidade e visibilidade, desde as periferias da cidade, até as zonas centrais, os punks podiam ser visto em toda a cidade com seu visual provocativo e suas reuniões onde aconteciam shows. Os eventos sempre eram feitos de forma amadora, e na grande maioria era interrompida pela cegada da polícia que sempre repreende esse movimento.

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Estes movimentos que tinham a música como ressonância foram muito importantes para os jovens dessa época, pois era através dos shows e eventos dessas vertentes que se mantinham o contato entre as diferentes gerações.

Disso decorre que diferentes grupos etários, vivendo uma mesma situação histórica, cada um em um momento diferente do seu ciclo vital, experimentam os mesmos acontecimentos de forma diferenciada. (ABRAMO,1994,p.47)

Neste contexto, esses movimentos foram essenciais para se formar a base do que é conhecido hoje como movimento Sound System na cidade de São Paulo.

4- Da diáspora ao Sound System, a espacialidade e materialidade do

reggae

4.1 A Diáspora

Um dos principais temas tratado no reggae é a diáspora negra. Segundo HAESBAERT (2006), a diáspora é uma palavra marcada pelo desenraizamento violento, pelo domínio etnocêntrico e eurocêntrico, portanto, pela perda, mas, ao mesmo tempo, pode significar um desejo de modificar-se nos espaços outros, nos espaços dos outros, no meio de psicogeografias móveis.

Ao contrário do que dizem muitos autores, os membros de uma diáspora não estão ‘desterritorializados’, mas territorializados de forma muito mais complexa do que a manifestada pelas territorialidades tradicionais uni escalares e bem demarcadas. O território da diáspora é um território múltiplo, tanto no sentido de coexistirem diferentes formas territoriais justapostas quanto no sentido de serem vivenciados distintos territórios simultaneamente. Assim, eles se estendem desde o “gueto” ou o bairro mais fechado – como as Chinatowns mundo afora – até o Estado-nação ou a região de origem e os territórios articulados em rede com outros grupos em diferentes países.[...] A diáspora, nesse sentido, pode constituir o protótipo de uma territorialidade em rede globalmente articulada, bem diferente da tradicional lógica territorial zonal e exclusivista dos Estados nacionais moderno-coloniais. (HAESBAERT, 2006, p.95)

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também encontra um grande movimento que muitas vezes não são lembrados. O reggae então precisava de um símbolo para criar sua espacialidade, e os sistemas de som seriam uma forma agressiva, mas pacifica de cumprir tal objetivo.

4.2 - Sound-System

O reggae surge enquanto uma arte popular que exprimia as desigualdades ético-sociais e amplificava aos ouvidos de uma sociedade sedenta por mudanças uma crítica ao sistema político aplicado aos negros pelas elites hegemônicas jamaicanas. A relação do artista de reggae na Jamaica “... se estabelece numa perspectiva a partir de uma aguçada consciência crítica do artista” (CHAIA, 2207, p.22) que caracteriza uma arte popular crítica em sua gênese na segunda metade dos anos 1960. (BRASIL, 2011, p.98)

Essa crítica transforma-se em um modo de política, que eram inspiradas em sua religião. Assim,

Entende-se por política metafísica aquela operacionalizada por Marcus Garvey ao utilizar a reinterpretação da bíblia para ressignificar a identidade negra das comunidades afrodescendentes da América Central. Reafirmada com a coroação de Haile Salessie I ao trono da Etiópia em 1930, as profecias de Garvey sobre a coroação de um rei negro, forçou um retorno, antes de mais nada, às suas próprias raízes culturais. A política metafísica oferece um posicionamento político que operacionaliza a religião como um vetor de mudança subjetiva interior nos sujeitos que atinge o social e o transforma. Essa busca de uma identidade genuína, o rastafariaismo surge como alternativa oposicional ao modelo ocidental europeu hegemônico, sendo assim uma contracultura dos negros excluídos oriundos das zonas rurais e das periferias dos centros urbanos, mais acentuadamente nos anos 1960. (BRASIL, 2011, p.95)

Ainda nas ideias do autor,

Este exercício reflexivo ajuda a apreender o fenômeno cultural do reggae não como um gênero musical simplesmente, mas como uma matriz cultural que se constitui na Jamaica em meados da década de 1960, e que faz sentido e significa para além da sociedade e do grupo social que o gerou. Sendo assim, é necessário enxergar o reggae enquanto forma produtiva: seus modos de produção e os agentes sociais envolvidos no processo; sem deixar de lado a murada aos conteúdos que nos dirão muito a respeito do tempo histórico e das questões às quais se refere a produção. Neste sentido, a forma é sempre histórica. (BRASIL, 2011, p.97)

Mas além de histórico ele se manifesta no espaço.

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geográfico, embora uma identificação geográfica seja fácil aos locais de concentração da população negra nos centros urbanos. Trata-se de território delimitado social e politicamente, a partir de condições de vida específicas de populações que nem se conhecem, mas que compartilham situações comuns, determinadas pelo processo de escravidão a que foram submetidas historicamente. (BRASIL, 2011, p.124)

Essas ações e discursos começaram então a produzir “lugares” a partir da apropriação dos meios de comunicação, que durante muito tempo vem agindo como forma hegemônica de dominação social. As atitudes então, se tornam por vezes subversivas tentando uma nova re-identificação.

Essa revolução dos meios de comunicação se dá, no entanto, em convivência (pacifica ou não) com os meios e modos tradicionais. O que muda é a velocidade com que as informações passam a ser trocadas, encurtando distâncias entre os lugares do mundo contemporâneo e possibilitando o intercâmbio de uma quantidade muito maior de imagens, sons e textos do que em passado relativamente recente. (Serpa, 2011, p.21)

Isso foi o que impulsionou então a partir de 2000, a divulgação e trocar de experiências sobre sound system a partir da internet. Agora todas as pessoas com acesso à internet poderiam ver as apresentações ao redor do mundo, reproduzir o áudio e principalmente comprar discos em sites de todo globo, criando cada vez mais uma fidelidade entre os fãs e praticantes. A comunicação que majoritariamente acontecia (e ainda acontece) por via de sites de relacionamentos pessoais, o que possibilitavam uma independência maior e com certa facilidade de atingir o objetivo de divulgação sem maiores problemas.

Pode-se perceber a intensificação e a centralidade que as mídias ganham nas sociedades urbanas contemporâneas, ocupando o lugar que antes era ocupado pela religião em outros tempos. Isso aponta para a sacralização das mídias que passou a ter enorme poder simbólico de formação e conformação dos coletivos. (BRASIL, 2011, p.95)

Assim, ao se apropriarem desses meios de comunicação e atuarem em seus respectivos contextos espaciais,

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Ainda na ideia de SERPA 2011, podemos ver que:

Esses grupos e iniciativas não dispõem, em geral, de um lugar ‘próprio’ como base segura de suas ações, necessitando ocupar as brechas abertas pela produção cultural dos agentes e grupos hegemônicos que controlam os meios de comunicação de massa. Seu contexto de atuação são os bairros populares e os centros de cultura ‘alternativa’ das metrópoles contemporâneas. Propagam-se e Propagam-se disPropagam-seminam a partir de uma matriz popular e ‘alternativa’, por vezes difusa, que de algum modo distingue suas ações e seus discursos através de uma atuação de ordem tática, subvertendo em alguns momentos a lógica de produção (e consumo dos meios de comunicação de massa) (Serpa, 2011, p.27)

Com essa ausência de um lugar próprio, eles acabam atacando esses ‘lugares’ através de ações calculadas.

As táticas seriam, portanto, os métodos praticados em uma espécie de guerrilha do cotidiano, demonstrando uma utilização hábil do tempo, através de movimentos rápidos, que vão mudar a organização do espaço. Elas são um contraponto para as estratégias, vistas como ações que resultam de certo poder sobre o lugar e o transforma naquilo que Certeau vai chamar de um ‘próprio’. As estratégias elaboram e criam lugares segundo “modelos abstratos” e práticas tecnocráticas, enquanto as táticas enunciam lugares a partir de ações ‘desviacionistas’, sendo ambas localizáveis no tempo e no espaço(Certeau, 1994: 92) (Serpa, 2011, p.26)

Essas ações CANEVACCI(2005) relaciona ainda às culturas extremas juvenis,

Àquelas que se movimentam desordenadamente nos espaços comunicacionais metropolitanos e escolhem inovar os códigos de forma conflitiva. Remover os significados estáticos. Produzir significados alternados. Livrar signos fluidos dos símbolos sólidos. (CANEVACCI, 2005, p.47)

Esses conflitos travados entre jovens e a sociedade capitalista acabam evidenciando os problemas estruturais presentes no cotidiano deles, onde a família foi desconfigurada pelo modo de produção industrial e a escola sendo cada vez mais sucateada e mercantilizada, e sendo esses movimentos por vezes, uma válvula de escape dos jovens contra o capitalismo.

A partir dos anos 1990, com a democratização da internet, o compartilhamento digital de músicas e o boom das redes sociais, a cultura sound system se espalhou pelo mundo. Hoje existem grandes sistemas de som não só na Jamaica e na Inglaterra, mas também em outros países da Europa, das Américas, África, e em lugares ainda mais distantes, como Japão e Austrália.” (ESTERMANN; AZEVEDO,2013, p.17)

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O Brasil é um país de extensão continental, sendo assim, seus contrates regionais acabam muitas vezes sendo diferenciados de acordo com a região em que se encontram. E isso também aconteceu com o reggae no território brasileiro.

5.1 - São Luís do Maranhão – A ilha do Amor, A Jamaica brasileira.

Na década de 1970, a população do Maranhão começou a popularizar o reggae de forma espontânea, sendo introduzido tanto pelas transmissões de rádios provenientes dos países do norte, além de discos trazidos através de contrabando ou troca por produtos no porto da cidade de São Luís. Essa disputa pelas músicas acabou fazendo surgir um ambiente igual aos criados na Jamaica, como as enormes caixas de som (literalmente paredes de som) e a exclusividade das músicas criaram uma necessidade cada vez maior de produções próprias, começando a diferenciar dos outros lugares como os melos (riddims eletrônicos), além do fato de dançarem juntos.

5.2 - Bahia – Da diáspora ao Afroreggae

Na Bahia, o reggae também conseguiu exercer grande influência na população, criando fortes raízes em um dos estados mais negros do país. A partir do reggae, sua população começou a ter um novo olhar acerca da diáspora negra.

O reggae também foi encorporado em ritmos baianos, criando novas características com a batida do reggae, como pode ser observado com o grupo Afroreggae. Mas foi na cidade de Cachoeira(recôncavo baiano) que surgiram os primeiros grupos musicais como Sine Calmon, e o cantor Edson Gomes, que através de suas letras em português tentavam levar a mensagem do reggae para o seu povo, ficando reconhecidos por todo o país, mas não tendo sido reconhecido

pela grande mídia.

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permaneceu durante os anos de 80 e 90 apenas como coadjuvante no segmento musical, vivendo de bandas pontuais, ou de shows de artistas estrangeiros, mas cada vez crescia mais o interesse, principalmente dos jovens, nesse estilo que tinha como Bob Marley seu principal ídolo. Mas ainda era muito difícil o acesso aos produtos como lps e fitas k7 de outros artistas.

5.3 - A Cultura Sound System em São Paulo

5.3.1 O início, Dubversão !

Em São Paulo, o reggae sempre esteve presente em meio à sua população, seja por migrantes do norte e nordeste que traziam o ritmo em suas bagagens, ou por aqueles que se interessavam individualmente e procuravam por interesses próprios músicas e informações.

Segundo ESTERMANN; AZEVEDO(2013), no início dos anos 2000, surgiu na cidade de São Paulo o primeiro Sound System, chamado de Dubversão. A inspiração foram os sound system da Europa que o seletor Yellow P conheceu melhor em uma viagem. Em entrevista para o programa de tv “manos e minas”(tv cultura), ele ainda afirma que no começo era necessário explicar o que era dub, mostrar as formas de mixagem e os efeitos. Não havia grandes lucros, e por vezes o dinheiro ganho era gasto para o transporte dos equipamentos e outros custos.

No começo dos anos 2000 a cultura sound system começou a se desenvolver na cidade de São Paulo através da popularização da internet e do compartilhamento de músicas por meio de uma rede que conectava, em tempo real, produtores musicais e amantes do reggae do mundo todo.

(ESTERMANN; AZEVEDO,2013, p.25)

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Com o crescente aumento no número de Sound system, cada um deles começou a seguir seu próprio estilo de preferência musical dentro da música jamaicana. Enquanto alguns preferiam o Ska, Rocksteady, outros ainda preferiam roots, rub-a-dub ou até mesmo o Steppa. Asim, ao mesmo tempo que solidificavam seu gosto musical, também se uniam para organizar eventos com os Sound system de outras vertentes, enriquecendo assim as festas e levando ao público uma história completa de todas as vertentes da música jamaicana.

5.3.2 -

Blackstar Inity- Coletivo de coletivos

Entre os anos de 2009-2010, os coletivos Quilombo Hifi, África Mãe do Leão e Garage S.S e Leggo Violence se uniram para formar o coletivo BlackStar I-nity, que através da música, tentavam atrair o lado politico do reggae como as mensagens de Marcus Garvey, Nelson Mandela e a diáspora africana. Dentro desse evento, surgiu também através da união de três Mc’s(Uale Figura, Monkey Jhayam e Laylah) “A Voz dos sem Vozes”, que trazem através de suas letras o cotidiano sofrido na cidade, como a violência policial, a precariedade dos transportes públicos além da questão de identificação. Podemos ver isso nas palavras de Monkey Jhayam, onde no evento “Terremoto 6” onde ele diz: “E o que significa a voz dos sem vozes ? É a voz daqueles que se identificam com as mensagens que acontecem aqui. As mensagens que agente passa aqui. Quem se identifica, quem leva o mesmo estilo de vida, é a voz dos sem vozes!...”.

Com essa identificação cada vez maior por esse novo movimento, acabou atraindo um número cada vez maior de jovens que antes estavam presentes em outros movimentos como o punk, rap e hip-hop, que tiveram seu auge nas décadas de 1990 e início de 2000 em São Paulo, mas que já vinham perdendo força nos últimos anos, dando uma oportunidade para o aparecimento e ampliação da cultura Sound System.

Isso pode ser percebido em integrantes que participavam anteriormente nesses movimentos(punk, rap, hip-hop), levando as características desses movimentos para o interior da cultura Sound System. Um exemplo que podemos observar é o espírito e atitude DIY(do it yourself) do movimento punk, onde muitos deles organizavam eventos com os equipamentos que possuíam até conseguirem uma estrutura melhor, além dos vocais herdados do Rap pelos mc’s.

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Cultural de São Paulo de 2012”. Houveram apresentações de diversos Sound System, produtores nacionais, cantores e mc’s. A área destinada à Arena ocupava também uma importante região degradada da cidade onde vivem os consumidores de crack(cracolandia) e que sempre foi negligenciada pelos poderes públicos como explica Laylah, umas das cantoras participantes:

Aqui [no centro] a gente tem um sério problema de questão social, de saúde da cidade, infelizmente aqui é uma centralidade forte de usuários de crack, e o fato da gente trazer cultura pra cá, e ainda mais esse tipo de som, que traz tanta ideologia, é nota 10 pra gente. (ESTERMANN; AZEVEDO, 2013, p.22)

5.3.3 -

Da periferia ao centro, do centro à periferia.

O centro da cidade de São Paulo sempre foi o palco das manifestações pela luta por moradia, emprego, transporte e educação. Mas ao mesmo tempo, é o palco diário do encontro de jovens que saem de todos os cantos da cidade para se divertirem às suas maneiras. Encontro de pixadores, grafiteiros, de punk’s, skinheads, skatistas, ciclistas e agora também nos Sound System. Assim, o centro tornou-se o coração dessa cultura, tendo eventos fixos em diversos dias da semana e principalmente aos finais de semana, sendo um novo ponto de encontro para a cultura reggae.

Mas não foi tão fácil para a cultura Sound system se estabelecer. Devido à potência de suas caixas de som, a ganância de alguns proprietários de casas de shows e o fato de serem mal vistos socialmente(principalmente pelo constante uso de maconha), diversas portas foram fechadas para a cultura, ficando restritos à apenas alguns lugares para a sua realização. Isso levou a um aumento da realização de eventos Sound system nas periferias, onde historicamente não há a presença do Estado para atrapalhar. O acolhimento da comunidade historicamente tem sido positivo, fazendo agora o sound system como uma nova opção de lazer no próprio bairro. Esses eventos realizados receberem o nome de Ocupa Sound, onde cada coletivo visava ocupar alguma região da cidade. Como efeito, a equipe BlackStar I-nity conseguiu ocupar várias áreas em diversas edições tiveram que tiveram uma estrutura um pouco diferenciada, ocupando os quatro cantos da cidade com seus sound system, aproximando a comunidade com essa cultura.

Referências

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