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Uma abordagem da antinomia 'público x privado': descortinando relações para a saúde coletiva.

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Academic year: 2017

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1 Cen t r o de Ciên cias Biológicas e da Saú de, Depar t am en t o de M edicin a, Un iver sidade Feder al de São Car los, SP. <giovanni@power .uf scar .br >

1 Rodovia Washington Luís, km 235 São Carlos - SP

Gi o v a n n i Gu r g el A ci o l e d a Si l v a Gi o v a n n i Gu r g el A ci o l e d a Si l v a Gi o v a n n i Gu r g el A ci o l e d a Si l v a Gi o v a n n i Gu r g el A ci o l e d a Si l v a Gi o v a n n i Gu r g el A ci o l e d a Si l v a11111

Uma abor

Uma abor

Uma abor

Uma abor

Uma abordagem da ant inomia

dagem da ant inomia

dagem da ant inomia

dagem da ant inomia

dagem da ant inomia

‘público x priv

‘público x priv

‘público x priv

‘público x priv

‘público x privado’:

ado’:

ado’:

ado’: descort inando relações

ado’:

para a saúde colet iva

*

ACI OLE, G. G. An appr oach of t h e ‘pu bli c x pr i vat e’ an t i n om y: r eveali n g r elat i on sh i ps f or pu bli c h ealt h . I n t er f ace - Co m u n i c., Saú d e, Ed u c.

I n t er f ace - Co m u n i c., Saú d e, Ed u c. I n t er f ace - Co m u n i c., Saú d e, Ed u c. I n t er f ace - Co m u n i c., Saú d e, Ed u c.

I n t er f ace - Co m u n i c., Saú d e, Ed u c., v.1 0 , n .1 9 , p .7 -2 4 , j an / j u n 2 0 0 6 .

T h i s paper pr oposes t o r eveal t h e di f f er en ce bet ween wh at we r ecogn i ze as pu bli c an d wh at we u n der st an d as pr i vat e, beyon d m an i ch ei sm s or si m pli f i cat i on s of com m on sen se. I t i s a ver y i m por t an t t ask f or an yon e i n volved i n m aki n g pu bli c h ealt h poli ci es vi able, gi ven t h e coexi st en ce of t wo h ealt h syst em s i n ou r cou n t r y: t h e SUS ( t h e gover n m en t ’s Si n gle Healt h car e Syst em ) an d Su pplem en t ar y Healt h car e. T o u n der st an d t h e m ean i n gs ascr i bed t o t h e t er m s ‘pu bli c’ an d ‘pr i vat e’, t h i s ar t i cle addr esses t h e i n t er f aces bet ween bot h , based on a h i st or i cal-cr i t i cal r ecover y of elem en t s ar t i cu lat ed alon g t wo m aj or di m en si on s of m oder n i t y, t h e econ om i c on e an d t h e poli t i cal on e. By r ecover i n g t h e con st r u ct i on of t h e Babel of m ean i n gs an d sen ses t h at ar e appli ed as adj ect i ves t o t h e elem en t s i n qu est i on , i t con clu des t h at t h er e i s m or e of an i n t er pen et r at i on r elat i on bet ween t h em t h an t h e di ch ot om i c, opposi n g ch ar act er t h at we gen er ally ascr i be t o t h em .

KEYWORDS: pu bli c h ealt h . h ealt h syst em . SUS ( BR) .

Pr opõe-se descor t i n ar a di f er en ça en t r e o qu e r econ h ecem os com o pú bli co e o qu e en t en dem os com o pr i vado, além dos m an i qu eísm os ou si m pli f i cações do sen so com u m . T ar ef a par t i cu lar m en t e i m por t an t e par a t odos os qu e se debr u çam n a vi abi li zação das polít i cas de saú de, e h aj a vi st a a con vi vên ci a de doi s si st em as de at en ção à saú de em n osso país: o SUS e a Saú de Su plem en t ar . Par a com pr een der os si gn i f i cados em pr est ados aos t er m os ‘pú bli co e pr i vado’, abor dam -se as i n t er f aces exi st en t es en t r e am bos, a par t i r da r ecu per ação h i st ór i co-cr ít i ca de elem en t os, ar t i cu lados em du as m acr odi m en sões da m oder n i dade: a econ ôm i ca e a polít i ca. Ao r esgat ar a con st r u ção da babel de si gn i f i cados e sen t i dos com qu e são adj et i vados os doi s t er m os, con clu i -se h aver m ai s u m a r elação de i n t er pen et r ação en t r e am bos do qu e a t en dên ci a di cot ôm i ca e de oposi ção em qu e com u m en t e os colocam os.

PALAVRAS-CHAVE: saú de pú bli ca. si st em a de saú de. SUS ( BR) .

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I n t r o d u ç ã o I n t r o d u ç ã oI n t r o d u ç ã o I n t r o d u ç ã o I n t r o d u ç ã o

A est r u t u r ação do Sist em a Ún ico de Saú de ( SUS) - u m con j u n t o de ações e ser viços em basado n as pr em issas de u n iver salidade, in t egr alidade,

r esolu t ividade e h u m an ização; r acion alização de r ecu r sos com gest ão in t egr ada, plan ej am en t o ascen den t e, h ier ar qu ização e r egion alização; abr an gên cia n acion al com descen t r alização ao n ível local e

co-r espon sabilização de t odas as esf eco-r as de goveco-r n o; e abeco-r t u co-r a à paco-r t icipação com u n it ár ia, in st it u cion alizada n a f or m a de con selh os set or iais - t em pr odu zido u m a f or t e am pliação das dem an das e u m a r eor gan ização da of er t a de ser viços ao bu scar r espon der , em boa m edida, à din âm ica das dem an das sociais.

O din am ism o in t er n o à sociedade, qu e eclodiu desde a década de 1 9 8 0 em cen ár ios r eivin dicat ór ios do con j u n t o dos dir eit os de cidadan ia, f ez sobr essair , en t r et an t o, além da lu t a por m ais saú de, a qu est ão dos

con su m idor es. Assim é qu e o Con gr esso Nacion al apr ovou , n o m esm o an o ( 1 9 9 0 ) , a Lei Or gân ica do SUS e o Código de Def esa do Con su m idor . Desde 1 9 9 1 , por t an t o u m an o depois do n ascim en t o legal do SUS, desen r ola-se o pr ocesso de r egu lam en t ação dos Plan os e Segu r os Pr ivados de Assist ên cia à Saú de, qu e acaba por f azer o Con gr esso Nacion al apr ovar a Lei 9 .6 5 6 , em 0 3 de j u n h o de 1 9 9 8 ( Car valh o, 2 0 0 3 ) e vai levar à cr iação da Agên cia Nacion al de Saú de Su plem en t ar em 2 0 0 0 . Est e pr ocesso de r eor gan ização r esolve a om issão da pr ópr ia Con st it u ição Feder al de 1 9 8 8 e da Lei Or gân ica da Saú de de 1 9 9 0 , qu e sequ er m en cion ar am a n ecessidade de r egu lação dest e set or , e acaba colocan do o t em a do m er cado pr ivado de saú de n a agen da gover n am en t al ( Bah ia, 2 0 0 1 ) .

A n ova din âm ica social pr odu zida pela legislação t r ar á à t on a, daí em dian t e, a f alsa est abilidade e o f or t e car át er f et ich ist a exist en t e n a ‘assist ên cia à saú de’ dos plan os pr ivados. Est e set or vai m er gu lh ar n u m a agen da de con f lit os e r eclam os r elat ivos às dispu t as de in t er esses do gover n o, das oper ador as, dos pr est ador es e u su ár ios/ con su m idor es.

Cen ár io m u it o in f lu en ciado pela m obilização social qu e passa a exigir ou t r o t r at am en t o par a a qu est ão do sist em a pr ivado de at en ção à saú de e, par a o qu al, t or n a r elevan t e a in exist ên cia, ou in su f iciên cia, de legislação

r egu lador a ( Aciole, 2 0 0 4 ) .

En t r et an t o, du r an t e a t r aj et ór ia dos 1 4 an os do SUS e do Código de Def esa do Con su m idor , t em se apr of u n dado a cr ise de aj u st e est r u t u r al da econ om ia do país às n ovas in j u n ções do capit alism o m u n dial, com r ef lexos n a or den ação das polít icas pú blicas. Nesse pr ocesso, set or es vit ais, com o a saú de e a edu cação, assist ir am a adoção de polít icas segm en t adas, f ocais e com pen sat ór ias, qu e r est r in gem o escopo de ação do Est ado a u m m ín im o – a u m a cest a básica de pr ocedim en t os – en qu an t o se alar gam as bases de at u ação do m er cado pr ivado. Sit u ação est a r evelador a de u m a cer t a t en são e cr ise n os cam in h os de con solidação de u m m odelo am plo, ef icien t e e u n iver sal de assist ên cia à saú de, e qu e alim en t a o din am ism o e a t en são in t er n a à sociedade civil.

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pr ivado, ou se au sen t ar par a n ão at r apalh ar a h ar m on ia im an en t e às r elações pr ivadas. O Est ado deve, qu an do m u it o, r egu lam en t ar o m er cado, m as n ão a pon t o de im pedir qu e est e vicej e e se con solide. On de as

con dições de m er cado sej am au sen t es ou in su f icien t es, aí deve est ar o Est ado em ações cor r et ivas ou com pen sat ór ias. Ou ain da, o Est ado deve r est r in gir -se a u m con j u n t o de f u n ções específ icas, m as gen ér icas o su f icien t e, par a f icar lon ge de con cor r er com o set or pr ivado. Nest e pr ocesso, Est ado e M er cado, en qu an t o set or es em blem át icos da du alidade

p ú b l i co/ p r i va d o, acabam sen do r econ h ecidos com o en t idades an t agôn icas,

separ adas, dist in t as, em bor a per m an eçam ligados pela t r am a social em qu e se est abelecem e qu e, sim u lt an eam en t e, os est abelece.

De f at o, os pr of et as e apóst olos da su pr em acia do m er cado cen t r am -se n a def esa de qu e u m a m ã o i n vi sível con t r ibu ir á par a a au t o-r egu lação e se en car r egar á de pr odu zir a j u st a e equ ân im e dist r ibu ição de r iqu eza. O pr oj et o liber al se u t iliza dest e r econ h ecim en t o par a alim en t ar r eaf ir m ações da su pr em acia do m er cado sobr e o Est ado, r essalt an do par a est e o papel de obst ácu lo às con dições ger ais de desen volvim en t o econ ôm ico en qu an t o lu gar da in ef iciên cia, do desper dício, da in oper ân cia, de em pecilh o da plen it u de daqu ele. É pr in cipalm en t e por est a r azão qu e o Est ado deve ser r ef or m ado de m odo a se adequ ar à n ova r ealidade af ir m ada n a ( e pela) su pr em acia do m er cado em ger al. Um discu r so qu e an da n a con t r am ão do qu e f oi pr opost o pela Ref or m a San it ár ia, qu e def en deu con st it u ir u m a sólida polít ica pú blica an cor ada n o agen t e Est ado, sob a ação de gover n os com pr om et idos com a m u dan ça das con dições m édico-san it ár ias da popu lação br asileir a.

Os dias at u ais t êm t r azido à t on a o car át er da r elação – com plem en t ar , su plem en t ar , par cer ia - qu e t er ia o set or pr ivado com o pú blico, e vice-ver sa. No Br asil, t r ava-se u m a lu t a polít ica essen cial em t or n o da

con solidação de pr oj et os cu j o cer n e passa pela af ir m at iva sin gu lar do papel do Est ado, e de su a con f igu r ação, qu e se vislu m br a u m con t ext o ideológico em qu e se r econ h ecem dist in t os m odelos de espaço pú blico, som en t e

in visível se n ela n ão colocar m os as cor es de Er cília2 ( Cost a, 2 0 0 2 ) . Na saú de,

em par t icu lar , a discu ssão passa pelo apr of u n dam en t o das r aízes qu e f or am con f or m an do dois sist em as de at en ção, u m est at al, ou t r o pr ivado, e dos vín cu los en t r e eles.

Nest e con t ext o ideológico, t em os cot idian am en t e af ir m ada u m a dist ân cia pr at icam en t e in t r an spon ível, post a n a af ir m ação da dif er en ça en t r e ser u su ár io do sist em a pú blico ver su s ser con su m idor dos plan os de saú de do sist em a pr ivado, r evelada à lu z das est r at égias e ações com qu e as cor por ações pr of ission ais e os m ovim en t os sociais, por exem plo, dispu t am pr oj et os e m odos de or gan izar a assist ên cia à saú de e à doen ça. No caso da saú de, est a clivagem t em r ecebido su st en t ação ideológica qu e separ a “ u su ár ios” de “ con su m idor es” , e qu e se est r u t u r a com base em par es de opost os: pr even t ivo x cu r at ivo, r ede básica x h ospit al, ações colet ivas x ação in dividu al, saú de pú blica x m edicin a, liber dade de escolh a ver su s con t r ole e agilidade e ef iciên cia ver su s bu r ocr acia, descaso, f ilas e r egu lação.

A est a separ ação se acoplam clich ês qu e af ir m am o pr edom ín io de valor es posit ivos e n egat ivos par a u m ou ou t r o sist em a, r espect ivam en t e. Em

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f u n ção disso, os sist em as pú blico e pr ivado ocu pam n ich os em qu e

apr esen t am in com pat ibilidade de gên ios, ou sej a, o qu e é pú blico n ão pode e n em deve se con f u n dir com o qu e é pr ivado, e vice-ver sa.

I n com pat ibilidade qu e se em bar alh a com a sobr ecapa ideológica qu e os cer ca, pois, o qu e t em os n o sen so com u m a r espeit o, é a vin cu lação de ‘pú blico’ a at ividade de gover n o, e ‘pr ivado’ com o sin ôn im o de in iciat iva in dividu al, par t icu lar . Não par ece ser ou t r a a visão pr edom in an t e da saú de pú blica, por exem plo: set or qu e t em t r at ado a den om in ação de pú blica com o sin ôn im a de est at al; e u t iliza est a sin on ím ia n as est r u t u r ações t écn ico/ polít icas do pr oj et o de u m sist em a n acion al de saú de ( Elias, 1 9 9 9 ) .

Est as qu est ões n os levam a pr oblem at izar a babel de sign if icados e sen t idos qu e en volvem o par ‘pú blico - pr ivado’ e qu e os t êm adj et ivado e m ar cado pr of u n dam en t e per an t e o sen so com u m n u m a posição de an t in om ia, par a, en f im , com pr een der as dim en sões polít ica e econ ôm ica qu e t or n am possível apr of u n dar o con h ecim en t o da n at u r eza das r elações en t r e am bos.

A A A A

A p o l i ssem i a d e ‘ p ú b l i co ’ e su a an t i n o m i a em r el ação a ‘ p r i v ad o ’p o l i ssem i a d e ‘ p ú b l i co ’ e su a an t i n o m i a em r el ação a ‘ p r i v ad o ’p o l i ssem i a d e ‘ p ú b l i co ’ e su a an t i n o m i a em r el ação a ‘ p r i v ad o ’p o l i ssem i a d e ‘ p ú b l i co ’ e su a an t i n o m i a em r el ação a ‘ p r i v ad o ’p o l i ssem i a d e ‘ p ú b l i co ’ e su a an t i n o m i a em r el ação a ‘ p r i v ad o ’ O t er m o p ú b l i co pode ser t om ado com o r ef er ên cia a t u do qu e pode ser vist o e ou vido por t odos e t em a m aior divu lgação possível. Segu n do Ar en dt ( 1 9 9 9 ) , ser m os vist os e ou vidos por ou t r os é im por t an t e pelo f at o de qu e t odos vêem e ou vem de ân gu los dif er en t es: e est a é a base con ceit u al qu e oper a a con st r u ção do ‘com u m ’, do com par t ilh am en t o; é n est a diver sidade qu e ocor r e a m an if est ação da r ealidade do m u n do de m an eir a f idedign a. Por su a vez, o cr u zam en t o de posições e de diver sos pon t os de vist as, diver gen t es e com plem en t ar es, r equ er m ecan ism os de eleição, legit im ação e r epr esen t at ividade do qu e con st it u i o in t er esse m aior de t odos, a despeit o de qu e cada u m t en h a os seu s pr ópr ios.

Por est a con ot ação com a coisa com u m , u m dos sign if icados at r ibu ídos ao t er m o r ef er e-se à n oção de colet ivo qu e, por su a vez, r em et e à idéia de espaço aber t o, n o qu al cir cu la u m n ú m er o in def in ido de su j eit os, de in divídu os. Assim , vam os den om in ar de pú blicos os even t os acessíveis a qu alqu er u m , assim com o f alam os de locais pú blicos ou pr édios pú blicos, f am a ou r en om e pú blicos. Con t u do, j á se ver if ica desde aí a su a vin cu lação com pr ivado: em t odos est es espaços vai est ar sem pr e pr esen t e a n oção opost a, de p r i va d o, par t icu lar , in dividu al.

Qu an do n os r ef er im os ao p ú b l i co de u m espet ácu lo, de u m j ogo de f u t ebol, por exem plo, a idéia im ediat am en t e post a f az alu são ao colet ivo de expect ador es, de assist en t es daqu ele even t o, com post o, por ém , por

assist en t es pr ivados, ist o é, por par t icu lar es. Na expr essão r ecep çã o p ú b l i ca m an if est a-se a n oção de r econ h ecim en t o pú blico, de acon t ecim en t o

colet ivo, n ovam en t e apr opr iada por u m elem en t o par t icu lar : o agen t e pr ivado qu e a pr om oveu e os in divídu os pr ivados qu e a ela com par ecer am . Por su a vez, r en om e p ú b l i co, ist o é, car át er pú blico do n om e ou da f am a, dá su st en t ação a u m con j u n t o de dest aqu es pessoais qu e per segu em , ou possu em , os can didat os a celebr idades, e cu j a obt en ção t em sido a t ôn ica da sociedade at u al, m as é or iu n da de ou t r as épocas de on de pr ovém a

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À expr essão p r éd i o p ú b l i co, por su a vez, vin cu la-se u m a du pla idéia: pela pr im eir a se r econ h ece aqu ele pr édio com o u m lu gar acessível a t odos, por t an t o, dispon ível par a t odos os qu e o bu scar em ; pela segu n da pode se r ef er ir a pr édios qu e, par adoxalm en t e, n em pr ecisam est ar liber ados a f r eqü ên cia pú blica, m as sim plesm en t e abr igam in st it u ições do Est ado. Est e é o poder pú blico, qu e deve o at r ibu t o a su a t ar ef a de pr om over o bem pú blico, o bem com u m a t odos os cidadãos, cr ian do e con ser van do os locais t an t o par a o seu poder qu an t o par a a su a t ar ef a.

Em ser vi ço p ú b l i co ou sa ú d e p ú b l i ca sobr epõe-se, im ediat am en t e, a idéia de per t en cim en t o colet ivo, com o u m a dobr a: é de t odos e n ão é de n in gu ém , em par t icu lar . T odos gozam da sen sação de qu e a possu em , ou podem acessar seu s ser viços, m as n in gu ém pode r eclam ar su a posse pr ivada, em bor a a gozem in dividu alm en t e. Desse m odo, a n oção do per t en cim en t o colet ivo est á t am bém n a pr ivacidade do acesso e u su f r u t o de ser viços e ações con cr et as com par t ilh adas por t odos, sim u lt an eam en t e, m as vivida n a sin gu lar idade par t icu lar . Aqu i, m ais u m a vez, p ú b l i co car r ega con sigo p r i va d o!

O t er m o pú blico par ece, por t an t o, sem ear polissem ias. Pú b l i co vin cu la-se ao bem com u m , ao in t er esse colet ivo, à n oção de per t en cim en t o ger al, u n iver sal, en qu an t o p r i va d o pr at icam en t e sign if ica o in t er esse par t icu lar , o in dividu al. O dom ín io com u n al é coisa pú blica: o poço e a pr aça do m er cado são par a u so com u m , são ben s pu blicam en t e acessíveis, com u n s, colet ivos; opost a exist e a esf er a do par t icu lar , do par t icu lar izado, separ ado, pr ivat ivo. O âm bit o do qu e é set or pú blico con t r apõe-se ao qu e é pr ivado, ou sej a, “ o

p a r t i cu l a r é a l i b er a çã o d o p r óp r i o cer n e d o d om ín i o f u n d i á r i o e d a esf er a p ú b l i ca ” ( Haber m as, 1 9 8 4 , p.7 8 ) .

Com base n a n oção de colet ivo m an if est a-se ou t r o sign if icado par a pú blico: op i n i ã o p ú b l i ca . Est a se r ef er e a u m m odo de m an if est ação da von t ade colet iva e ao exer cício de u m a opin ião cr ít ica con st it u ída por u m pú blico pen san t e de su j eit os pr ivados, qu e r ecebe gr an de m ediação pela m ídia e pela pu blicidade. Segu n do Haber m as ( 1 9 8 4 ) , n a su a evolu ção, a opin ião pú blica, dot ada de f u n ção cr ít ica, vai se con solidar com o o pú blico f or m ador de opin ião, qu e vai pr odu zir o pen sam en t o qu e se colon iza com o sen so com u m . Par a esse au t or , o su j eit o da opin ião pú blica é o pú blico f or m ador de opin ião, u m a f u n ção cr ít ica qu e o m u n do da vida oper ar ia sobr e o sist em a polít ico e econ ôm ico e, qu e, n o f im , t er m in a por se r ef er ir à pu blicidade, ist o é, o con h ecim en t o por u m n ú m er o n ão lim it ado de

i n d i víd u o s.

A opin ião pú blica cu m pr e u m a im por t an t e f u n ção polít ica: a

con solidação do pen sam en t o bu r gu ês e a colon ização dest e espaço pelos f or m ador es de opin ião, pelos f or m ador es do sen so com u m . Est es são o pú blico qu e lê, pen sa, se m an if est a e con solida u m a im agem do m u n do com u m à sem elh an ça do qu e lê e ou ve. Est a é u m a ação f u n dam en t al desde a qu eda dos r egim es absolu t ist as e a ascen são da n ova classe bu r gu esa n a su a lu t a pela h egem on ia polít ica e con qu ist a do poder , qu e pr at icam en t e obr iga “ t od a s a s n a ções a a d ot a r em o m od o b u r g u ês d e p r od u çã o, ( ...) a

a b r a ça r a ch a m a d a ci vi l i za çã o, i st o é, a se t or n a r em b u r g u esa s” ( M ar x

(6)

A f or m ação de u m a opin ião pú blica, colet ivo de su j eit os pr ivados, vai se colocar , par a Haber m as ( 1 9 8 4 ) , com o u m elem en t o separ ador en t r e o Est ado e a Sociedade, ou sej a, en t r e u m a esf er a do p ú b l i co e u m a esf er a do

p r i va d o. Por in t er m édio da opin ião pú blica, a pr im eir a in t er m edeia o

Est ado e as n ecessidades da sociedade; à segu n da cor r espon de o set or de t r ocas de m er cador ias e o t r abalh o social, in clu ída a f am ília com su a esf er a ín t im a. Além disso, n o set or pr ivado t am bém est á abr an gida a ‘esf er a pú blica’, pois ela é u m a esf er a de pessoas pr ivadas. Segu n do aqu ele au t or , ver if ica-se u m a dialét ica em qu e t em os, de u m lado, a socialização do Est ado, e de ou t r o, a est at ização pr ogr essiva da sociedade. En t r e am bos su r ge, con t u do, u m a esf er a social r epolit izada, qu e f oge à dist in ção en t r e pú blico e pr ivado: a opin ião pú blica.

Par a Gr am sci ( 2 0 0 0 , p.2 6 5 ) , a opin ião pú blica “ est á est r ei t a m en t e

l i g a d a à h eg em on i a p ol ít i ca , ou sej a , é o p on t o d e con t a t o en t r e a

‘soci ed a d e ci vi l ’ e a ‘soci ed a d e p ol ít i ca ’, en t r e o con sen so e a f or ça ” . Dest a

con dição, der iva qu e o Est ado “ q u a n d o q u er i n i ci a r u m a a çã o p ou co

p op u l a r , cr i a p r even t i va m en t e a op i n i ã o p ú b l i ca a d eq u a d a ” , ist o é,

or gan iza e cen t r aliza algu n s elem en t os da sociedade civil n a dir eção dos in t er esses qu e qu er ver colocados. Com o o con t eú do polít ico da von t ade polít ica t or n ada op i n i ã o p ú b l i ca pode ser discor dan t e, “ exi st e l u t a p el o

m on op ól i o d os ór g ã os d a op i n i ã o p ú b l i ca – j or n a i s, p a r t i d os, p a r l a m en t o – d e m od o q u e u m a só f or ça m od el e a op i n i ã o e a von t a d e p ol ít i ca n a ci on a l , d esa g r eg a n d o os q u e d i scor d a m n u m a n u vem d e p oei r a i n d i vi d u a l e i n or g â n i ca ” . Na dispu t a pelo pr edom ín io de u m a opin ião

pú blica em qu e pr evaleça u m a só f or ça, se con st it u i u m a lu t a su r da, em qu e a obt en ção do con sen so acer ca do qu e con st it u i in t er esse pú blico, im por t ân cia pú blica n ão pr ecisa ser , n ecessar iam en t e, a opin ião ou a von t ade da m aior ia, e n ão t em u m car át er per m an en t e, sen do t ão volát il e in con st an t e qu an t o a din âm ica in t er n a da sociedade, dividida em vár ios gr u pos sociais.

A opin ião pú blica deságu a n o âm bit o das m ídias, con dição qu e alt er ou pr of u n dam en t e o seu sign if icado: de u m a f u n ção polít ica t or n ou -se at r ibu t o de qu em desper t a a opin ião pú blica – o pu blicit ár io. Essa

t r an sf or m ação acon t ece pela apr opr iação, por u m in divídu o ou u m gr u po, das con dições m at er iais de desper t ar a opin ião pú blica, por in t er m édio dos m eios de com u n icação de m assa, T V, r ádio e j or n ais. A pon t o de qu e j á n ão é m ais desper t ada, é pr odu zida com base n os in t er esses m an if est os e/ ou ocu lt os, m as essen cialm en t e par t icu lar es, qu e m ovem a pr odu ção da com u n icação e a dif u são de in f or m ações n as sociedades capit alist as do m u n do t odo. E aqu i, m ais u m a vez, n ão se pode f u gir da abdu ção de pú blico n o pr ivado, m esm o qu an do f alam os de u m a expr essão t ão en f át ica: opin ião pú blica!

Ao t er m o p r i va d o, em oposição à polissem ia de p ú b l i co, sin cr on icam en t e a op i n i ã o p ú b l i ca , f oi associada a idéia de m er cado: lu gar dos pr odu t or es par t icu lar es, despr ovidos da f u n ção ou da dim en são p ú b l i ca ( est at al) .

Pr i va d o sign if ica, pois, est ar exclu ído, despr ovido do apar elh o de Est ado.

Or a, f or a do apar elh o de Est ado est á o m er cado, e pr ivado vai gan h ar

(7)

pr odu ção e cir cu lação de m er cador ias e ser viços, com o o espaço em qu e oper am pr odu t or es e con su m idor es, in dividu ais e/ ou colet ivos, at u an do em seu s in t er esses m ais im ediat os e dir et os. O m er cado é vist o com o u m t er r it ór io em qu e, deixados livr es, os h om en s são igu ais, e pr escin dem de u m poder r egu lador , pois, su as r elações de pr odu ção e con su m o cam in h am par a o equ ilíbr io. E qu an t o m ais equ ilíbr io m en os se t or n am depen den t es de u m a f or ça ext er ior , pois se ist o vier a ocor r er , o dissen so e o con f lit o ser ão o pr eço a pagar . Sob t al ót ica, o m er cado é o t em plo da liber dade!

No sen t ido opost o, p ú b l i co se r ef or ça com o sin ôn im o de est at al, at r ibu t o qu e se r ef er e ao f u n cion am en t o, r egu lam en t ado e de acor do com com pet ên cias, de u m apar elh o m u n ido do m on opólio da u t ilização legít im a da f or ça, ao m esm o t em po em qu e pr ovido e legit im ado pela

r epr esen t at ividade qu e assu m e par a r egu lar a vida colet iva e cot idian a.

Pú b l i co se r ef er e ao Est ado f or m ado, cu j as f u n ções am pliadas e

diver sif icadas r equ er em a u t ilização de u m a f or ça- t ar ef a específ ica, legislador es e t écn icos in vest idos de u m papel qu e os t or n a ser vidor es pú blicos. Assim den om in ados por qu e, en qu an t o ser vidor es do Est ado, ocu pam u m a f u n ção pú blica, su as at ividades são pú blicas, e t am bém são ch am ados de pú blicos os pr édios e est abelecim en t os da au t or idade. Do ou t r o lado, h á pessoas pr ivadas, car gos pr ivados, n egócios pr ivados e casas pr ivadas – o ver dadeir o cer n e do m er cado.

Par a Sor j ( 2 0 0 0 ) , est a oposição con st it u i u m a das an t in om ias m ais com u n s da sociedade at u al. O sen so com u m t em associado a esses t er m os sign if icados qu e m ar cam dist in ção de du as esf er as de at ividades. Du as palavr as, dois sign if icados opost os, du as esf er as de pr odu ção! O au t or apon t a qu e as t r adições an glo-saxôn ica e eu r opéia con st r oem dif er en t es sign if icados par a est as du as esf er as. Na pr im eir a, o espaço pú blico se con st it u i com base n o in divídu o com o por t ador dos in t er esses gr u pais qu e delega par a os gover n os agir em en qu an t o ser vi ços p ú b l i cos ou ser vi ços

ci vi s, por t an do-se segu n do n or m as u n iver sais acor dadas de an t em ão. Na

segu n da, as cor por ações e o Est ado são os r epr esen t an t es do bem com u m e do in t er esse pú blico. A t r adição eu r opéia con sider a qu e o in divídu o e o Est ado r epu blican o r epr esen t am a n ação, h er deir a dos valor es da t r adição f r an cesa gu iada pela igu aldade, f r at er n idade e liber dade; m as aqu i o Est ado assu m e a gu ar da dos valor es com u n s e adqu ir e u m poder t u t elar sobr e as ações in dividu ais, dado qu e est as podem colocar em r isco os valor es r ep u bl i can os.

Um pr oblem a com u m a am bas, segu n do Sor j , é qu e n ão r econ h ecem ou t r as in st it u ições f u n dam en t ais n a r ealidade social, baseadas em pr in cípios de or dem m or al e in st it u cion al de ou t r a n at u r eza qu e n ão a in dividu al e a est at al, in t egr adas à sociedade, com o a f am ília, t r an sf or m ada pela m oder n idade e pelo m odelo capit alist a; ou de or dem polít ica m ilit an t e, com o as m in or ias r aciais e sexu ais. Est a é u m a qu est ão qu e, segu n do ele, deve ser an ot ada, pois con st it u i a pedr a an gu lar com o alt er n at iva ao m ovim en t o pen du lar qu e vão est abelecer , en t r e si, Est ado e m er cado.

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in t er m ediár ias, cu j o lim it e é apen as a liber dade in dividu al; de ou t r o lado, o pr oblem a r eside em com o con st r u ir u m den om in ador com u m , ou sej a, os valor es qu e per m it am f u n dar a solidar iedade e a iden t idade colet iva.

Par a con clu ir , em bor a o t er m o pú blico r eceba u m a f or t e con ot ação qu e o liga a coisa com u m , ao colet ivo, n u m a su post a pr im azia sobr e o pr ivado, o par t icu lar , o in dividu al, ou vice-ver sa, pr opom os o aban don o de t al

t en dên cia, e at é m esm o a dem ar cação n ít ida e separ at ór ia en t r e am bos. An t es, con sider am os u m a sim plif icação colocá-los em polar idade de opost os. Vist a sob est e ân gu lo, a r elação p ú b l i co/ p r i va d o n ão pode, e n ão deve, ser r esolvida por saídas sim plist as. En f im , é f u n dam en t al desf azer a con f u são de se con sider ar est a t a l com o sin ôn im o de p ú b l i co; bem com o deixar de ver o p r i va d o com o o n ã o-est a t a l. A f or ça de p ú b l i co r eside, a n osso ver , n a r elevân cia par a com pr een der p r i va d o, e vice-ver sa, n u m m u n do qu e

r eivin dica con t ín u a r ein t er pr et ação e con st an t em en t e apon t a r elações de in t er pen et r ação. É n ecessár io, ain da, r ef let ir sobr e a exist ên cia de t r ân sit os en t r e est es dois set or es, n ão exat am en t e dist in gu idos pela clien t ela qu e at en dem ou ser vem , ou pela valor ação ideológica qu e os m ar cam ( Aciole, 2 0 0 4 ; 1 9 9 9 ) .

Devem os in vest igar est a an t in om ia, sob a pr em issa f u n dam en t al e, m ais do qu e isso, n ecessár ia, de qu e a r ef er ên cia à coisa pú blica n ão deixa de ser u m a in t er pelação do pr ivado, n u m a r elação dialét ica. Af in al, com o pr opõe Gr au ( 1 9 9 8 ) , podem os adm it ir u m a dim en são pú blica par a a pr ivacidade n o cam po pessoal, qu e deve ser def en dida, assim com o par a a con cor r ên cia n o cam po econ ôm ico, qu e deve ser lim it ada. E est a r elação pr ecisa ser t om ada em u m du plo de possibilidades: t an t o n a dim en são econ ôm ica qu e est abelece o pr ivado com o o lu gar da pr odu ção, qu an t o n a dim en são polít ica, qu ase cor r elat a, qu e at r ibu i ao pú blico, r epr esen t ado pelo Est ado, o lu gar da polít ica. Sen do, am bas, u m a con st r u ção da m oder n idade.

A A A A

A d i m en são p o l í t i co -eco n ô m i ca n a r el ação ‘ p ú b l i co / p r i v ad o ’d i m en são p o l í t i co -eco n ô m i ca n a r el ação ‘ p ú b l i co / p r i v ad o ’d i m en são p o l í t i co -eco n ô m i ca n a r el ação ‘ p ú b l i co / p r i v ad o ’d i m en são p o l í t i co -eco n ô m i ca n a r el ação ‘ p ú b l i co / p r i v ad o ’d i m en são p o l í t i co -eco n ô m i ca n a r el ação ‘ p ú b l i co / p r i v ad o ’

O r evelador dos vín cu los polít ico-econ ôm icos en t r e p ú b l i co e p r i va d o, dados pelo m odo de pr odu ção capit alist a, é Kar l M ar x ( 1 9 9 6 ) , qu e os am pliou e f oi além dos lim it es qu e Adam Sm it h e David Ricar do h aviam alcan çado. O vín cu lo polít ico, segu n do ele, é r epr esen t ado pela solu ção cor por at ivo-in st it u cion al ch am ada “ Est ado” e su a dim en são pú blica, qu e adian t e explor ar em os. O vín cu lo econ ôm ico, su r gido em f u n ção do m odo de pr odu ção capit alist a, in t egr ar á dois m ecan ism os par a su a r ealização: u m

p ú b l i co - o t em po de t r abalh o socialm en t e n ecessár io, dispon ível n a m ão de

t odos, e u m p r i va d o – a acu m u lação do capit al, qu e o n ovo m odo de pr odu ção exigir á qu e sej a r est r it o a pou cos.

Segu n do a visão m ar xist a, o m er cado é o elem en t o con st it u in t e das r elações sociais do n ovo m odo de pr odu ção, com o lu gar de cir cu lação e t r oca do capit al: n ele se colocam , de u m lado, os com pr ador es da f or ça de t r abalh o, ist o é, os pr opr iet ár ios do capit al e, do ou t r o lado, os ven dedor es, qu e só dispu n h am de su a f or ça de t r abalh o, qu e se con st it u i em t ípica m er cador ia, o pr in cipal pr odu t o a ser obt ido n o m er cado.

(9)

pr odu zem obj et os, pr odu zem a si m esm os e pr odu zem a sobr evivên cia da espécie. A equ ação en t r e con su m o de f or ça de t r abalh o n u m det er m in ado per íodo de t em po é qu e r ealiza o valor dos pr odu t os do t r abalh o h u m an o. Est e t em po, qu e a f or ça de t r abalh o u t iliza n a pr odu ção, é def in ido pela or gan ização da sociedade con st r u ída h ist or icam en t e segu n do seu s in t er esses e n ecessidades: por con t a disso, pode-se f alar em t em po de t r abalh o socialm en t e n ecessár io com o def in idor de valor dos pr odu t os. O valor su ger e a gen er alização do t r abalh o h u m an o com o m er cador ia, n o qu e t em sido o m ot or do desen volvim en t o da sociedade m oder n a e do

capi t al i sm o.

M ar x ( 1 9 9 6 ) acr escen t a qu e o f at or ‘equ ivalen t e’ se con st it u i n o m ecan ism o qu e possibilit a a apr opr iação pr ivada do pr ocesso de t r abalh o colet ivo r ealizado por su j eit os in dividu ais. Ao dissecar est e m ecan ism o, acaba por con st r u ir u m a con ceit u ação r evolu cion ár ia, e m oder n a, par a o con ceit o de pr opr iedade, qu e n ão con st it u i m ais par t e f ixa e f ir m em en t e localizada n o m u n do, adqu ir ida por seu det en t or de u m a m an eir a ou de ou t r a; ao con t r ár io, passa a t er n o pr ópr io h om em a su a or igem , m ais pr ecisam en t e n o cor po e n a pr opr iedade de f or ça dest e cor po, a qu e ele den om in ou de ‘f or ça de t r abalh o’.

Da capacidade da f or ça de t r abalh o em pr odu zir u m exceden t e além do n ecessár io par a a obt en ção das con dições de sobr evivên cia, e da capacidade do capit al em r em u n er ar a com pr a dest a f or ça sem pr e m ais pr óxim a do lim it e de at en dim en t o das n ecessidades m at er iais de sobr evivên cia do t r abalh ador , r esu lt a a expr opr iação dest e exceden t e, qu e con st it u i a m ais-valia: u n idade essen cial qu e er a capt u r ada pelo capit al em su a f or m a de con ver são do t r abalh o! T r abalh o con ver t ido em capit al con st it u ía

capacidade de adqu ir ir t r abalh o qu e er a capt u r ado pelo capit al. Gên ese de r elação con t r adit ór ia sobr e a qu al, con t u do, se assen t a a possibilidade de apr opr iação pr ivada do pr odu t o colet ivo.

Em su a cr ít ica a M ar x, Ar en dt ( 1 9 9 9 ) apon t a o viés evolu cion ist a qu e o f ez t om ar a sociedade m oder n a com o su per ior em r elação às qu e lh e

an t eceder am , n o n ível elem en t ar da qu est ão da pr opr iedade, qu e est abelece a separ ação en t r e pú blico e pr ivado. De f at o, t alvez m ais pr eocu pada com as f r on t eir as en t r e o pú blico e o pr ivado do qu e aqu ele au t or , con t r apõe qu e o pen sador e m ilit an t e alem ão t om ar a u m a dim en são do t r abalh o - o labor , en volvido n a sobr evivên cia e n a r elação de t r an sf or m ação da n at u r eza h ost il - com o sin ôn im a in t egr al daqu ele. Ao qu est ion ar est e aspect o, a f ilósof a alem ã vai bu scar n os gr egos o vín cu lo exist en t e en t r e posse pr ivada e vida pú blica, r essalt an do qu e a dim en são en volvida com a sobr evivên cia est ava r est r it a à esf er a pr ivada, e er a in t eir am en t e au sen t e de dim en são pú blica. Est a, n o en t an t o, se m an t ém pr esa por u m a r elação de

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pr esen ça n a pr im eir a.

A vida pú blica er a u m a pr át ica colet iva exer cida pelos h om en s livr es e, por t an t o, pr opr iet ár ios, n u m im ediat ism o sem m ediações, n u m exer cício de in dividu alidades sem r epr esen t ações, com du as at ividades: a ação ( p r á xi s) e o discu r so ( l exi s) , e r epr esen t ava a pr ópr ia r ealização do

h u m an o. No m u n do m oder n o, est as esf er as dif er em m u it o m en os en t r e si: a polít ica se t or n ou u m a f u n ção da sociedade, e a ação, o discu r so e o pen sam en t o são su per est r u t u r as assen t adas n o in t er esse social, per an t e o qu al a sociedade m oder n a im põe r egr as aos seu s m em br os, t om ados em igu aldade, e esper a, de cada u m , cer t o t ipo de com por t am en t o ger al.

Em bor a, com o M ar x, apon t e o f at o de qu e a sociedade m oder n a est ej a volt ada par a as n ecessidades do h om em , a pen sador a alem ã t am bém discor da de qu e, n o caso m oder n o, est as n ecessidades est ej am or ien t adas pelo f at o de qu e o t r abalh o passou a ocu par lu gar cen t r al n a n ova

sociedade, assu m in do a esf er a de pr eocu pação pú blica, h aj a vist a qu e é de su a explor ação qu e se con st r ói e r epr odu z o capit al. Nest e par t icu lar , adver t e-n os, pou co im por t a se u m a n ação se com põe de h om en s igu ais ou desigu ais, pois a sociedade con t em por ân ea exige qu e os seu s m em br os aj am com o se f ossem m em br os de u m a en or m e f am ília dot ada apen as de u m a opin ião e de u m ú n ico in t er esse. E m ais, a sociedade equ aliza sem pr e e em qu aisqu er cir cu n st ân cias, exibin do com o sign o m oder n o a igu aldade, elem en t o in t r ín seco qu e am algam a o social. A vit ór ia da igu aldade n o m u n do m oder n o é, par a ela, f r u t o do r econ h ecim en t o j u r ídico e polít ico de qu e a sociedade con qu ist ou a esf er a pú blica, e qu e a dist in ção e a dif er en ça r edu zir am -se a qu est ões pr ivadas do in divídu o.

Con sider an do qu e as diver gên cias en t r e Ar en dt e M ar x possam decor r er do f at o de qu e obser var am a r ealidade por m eio de per spect ivas dif er en t es, Wagn er ( 2 0 0 2 ) salien t a qu e n en h u m dos dois j am ais acr edit ou n as leis do m er cado com o solu ção absolu t a par a os pr oblem as do h om em m oder n o, pois, segu n do ela, n ão se pode con f iar qu e o m er cado se m ove sem pr e par a o equ ilíbr io e sej a capaz, por si pr ópr io, de solu cion ar os pr oblem as at u ais da sociedade. Na m edida em qu e se apr of u n dam os m ecan ism os de

acu m u lação do capit al via t r an sf or m ação pr odu t iva, qu e en alt ece o adven t o de t em po livr e com o con qu ist a do h om em do pr óxim o sécu lo - só qu e u m t em po livr e desacom pan h ado dos m eios de su bsist ên cia - e pr odu z u m a sen sação de per da da du r abilidade do m u n do com u m , t al af ir m at iva se in ser e n a con vicção de qu e o pr oblem a do m u n do do t r abalh o é u m pr oblem a polít ico, t an t o qu an t o econ ôm ico.

Além disso, h á qu e se con sider ar a t r an sição do con ceit o de ‘econ ôm ico’, qu e at é o sécu lo XVI I est ava ligado ao cír cu lo das t ar ef as do dom icílio, do

p a t er f a m i l i a e, e qu e passa a se or ien t ar pelo m er cado. Segu n do Haber m as

( 1 9 8 4 ) , isso vai se dar por qu e as at ividades e r elações de depen dên cia, at é en t ão con f in adas ao âm bit o da econ om ia dom ést ica, u lt r apassam o lim iar do or çam en t o dom ést ico. Ao f azê-lo, su r gem à lu z da esf er a pú blica, ou sej a, são pu blicizadas. O desen volvim en t o da esf er a p ú b l i ca vai ocor r er in t r in secam en t e ligado ao desen volvim en t o do capit alism o e da

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da sociedade, on de é u m a esf er a qu ase exclu sivam en t e bu r gu esa.

Par a Haber m as ( 1 9 8 4 ) , a evolu ção do m odelo liber al de t r ocas da et apa m er can t il do capit alism o, pela con j u gação da con cen t r ação do capit al e da or gan ização de gr an des em pr esas, pr odu zir á r elações ver t icais de

con cor r ên cia im per f eit a, pr eços in depen den t es, e poder social em m ãos pr ivadas, ger an do cr ises r evelador as da est r u t u r a an t agôn ica de sociedade e t or n ar á u r gen t e a n ecessidade de u m elem en t o coer cit ivo f or t e, o Est ado, dot ado de r epr esen t at ividade e poder de eleger os in t er esses colet ivos com o seu alvo e su a f u n ção, qu e se t r an sf or m am em polícia e bu r ocr acia n o Est ado m oder n o. Com t al r epr esen t at ividade, o Est ado é vist o com o u m espaço in t er n o qu e est abelece cr it ér ios e valor es n or t eador es das pr át icas de livr e com ér cio; os dest in at ár ios de seu poder , as pessoas pr ivadas

su bm et idas a ela, con st it u em u m pú blico.

Assim in vest ido, o Est ado in t er vém pr of u n dam en t e n o in t er câm bio de m er cador ias e n o t r abalh o social, por m eio de leis e de m edidas

adm in ist r at ivas, vin cu ladas aos in t er esses dom in an t es qu e bu scam

per t u r bações m ín im as n as con dições ideais de f u n cion am en t o da pr odu ção econ ôm ica, o qu e im pr im e u m a am bigü idade pecu liar às r elações de r egu lação e or gan ização do espaço: adm it em ser r egu lam en t ados t an t o qu an t o qu er em ser deixados livr es em su as in iciat ivas. Além disso, a am bigü idade do in t er ven cion ism o est at al n o m er cado t en de a est ar ligada aos in t er esses da sociedade bu r gu esa, e ao m esm o t em po, dever á se

con st it u ir de f or m a separ ada daqu ela. Est a am bivalên cia pecu liar acaba por se alocar em sít ios específ icos: a r egu lam en t ação pú blica ao Est ado e a in iciat iva pr ivada ao m er cado. Est ado e Sociedade civil con st it u ir ão, en f im , du as esf er as dist in t as: pú blica e pr ivada. Resist in do ao in t er ven cion ism o, a sociedade civil e bu r gu esa se con st it u i em con t r apeso à au t or idade do Est ado; est e, por seu t u r n o, vai se an cor ar n u m in t er esse pr ivado, pr ópr io daqu eles qu e con t r olam o exer cício do poder est at al, qu e se con solida com o algo t an gen ciável apen as pelos qu e lh e são su bor din ados, ist o é, as pessoas pr ivadas exclu ídas da par t icipação n o poder pú blico.

A r egu lam en t ação, por su a vez, vai ser exer cida com o u m a f u n ção at r ibu ída a u m gr u po específ ico: os legislador es. A solu ção dada par a a vida em com u m n as sociedades capit alist as ociden t ais passa pela separ ação en t r e a sociedade – a p ol i s – e os espaços in st it u cion ais qu e vão se cor por if ican do em gr an des est r u t u r as. Assim , os par lam en t os m oder n os, em bor a

adqu ir am ar es de r epr esen t ação par a a p ol i s, n a ver dade, sequ er par ecem r eais par a a m aior ia dos cidadãos com u n s ( Bobbio, 1 9 9 7 ) . Sob est a du pla via, desen r ola-se a elabor ação de m ecan ism os m u it o su t is de dom in ação e con t r ole n a pr odu ção e r epr odu ção das con dições m at er iais de

r epr odu t ibilidade, m ais t ar de den om in ados por Gr am sci ( 2 0 0 0 ) de

h eg em o n i a .

M oder n am en t e, segu n do Ar en dt ( 1 9 9 9 ) , o qu e ch am am os de sociedade pode ser con sider ado u m con j u n t o de f am ílias econ om icam en t e

or gan izadas de m odo a con st it u ír em u m a ú n ica f am ília sobr e-h u m an a, cu j a f or m a polít ica de or gan ização é den om in ada n ação, e cu j os n egócios diár ios devem ser at en didos por u m a adm in ist r ação dom ést ica n acion al e

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en t r e as esf er as pú blica e pr ivada, ou sej a, en t r e a esf er a da p ol i s e a esf er a da f am ília. En t r et an t o, em bor a t en h a avan çado a dilu ição en t r e u m a e ou t r a, a sociedade at u al n ão con segu iu f azer desapar ecer a in t r ín seca r elação en t r e per t en cer a u m lar pr ivado, exer cer a liber dade polít ica e possu ir con dições de acesso e con su m o dos ser viços e ben s da sociedade capit alist a, com o r azões de m oder n idade.

Não obst an t e, a m oder n idade vai desm at er ializar a qu est ão da pr opr iedade com o con dição im an en t e par a a vida pú blica, sob a ót ica do est abelecim en t o da cidadan ia r ealizada pela ou t or ga do r econ h ecim en t o de u m a plet or a de dir eit os. T ipif icados com o dir eit os civis, dir eit os polít icos e dir eit os sociais, e r elacion ados a per íodos h ist ór icos do desen volvim en t o da sociedade capit alist a e da com plexidade das r elações sociais n o seu boj o, car act er izam r espost as específ icas do Est ado às dem an das polít icas e colet ivas em per íodos h ist ór icos def in idos ( M ar sh all, 1 9 6 7 apu d Don n an gelo, 1 9 7 6 ) . Sob est a du pla t r an sf or m ação, a em er são do social apr of u n da a dilu ição en t r e as classes sociais ( segu n do a ót ica m ar xist a, m ar cadas pela posição ocu pada n o m odo de pr odu ção capit alist a) , pelo af r ou xam en t o das

f r on t eir as dem ar cat ór ias en t r e elas. I st o é, o ‘social’ se con st it u i com o u m espaço de in t er pen et r ação do pú blico e do pr ivado, j u st apost o ao

desen volvim en t o da sociedade capit alist a e do apr of u n dam en t o da divisão social em classes.

A f or m ação do ‘social’ pr odu z u m a decom posição da esf er a pú blica, n a alt er ação de su as f u n ções polít icas, pela m u dan ça est r u t u r al das r elações en t r e esf er a pú blica e set or pr ivado. Est a m u dan ça vai car act er izar a at u al r elação m oder n a en t r e esf er a pú blica e pr ivada, n a qu al ocor r e u m a

in t er pen et r ação, ist o é, u m a par t e da esf er a pr ivada vai se t or n an do pú blica, ao passo qu e o pú blico, n o f u n do, se coloca a ser viço dos in t er esses pr ivados qu e o dom in am . Est a separ ação é colocada em qu est ão qu an do as f or ças sociais con qu ist am com pet ên cias de au t or idade pú blica, o qu e é r esu lt ado da con st it u cion alização de u m a esf er a pú blica polit icam en t e at iva, ist o é, pela t r an sf er ên cia de com pet ên cias pú blicas par a en t idades pr ivadas, com base n a em er gên cia da qu est ão social m ediada pela af ir m ação de dir eit os ( Haber m as, 1 9 8 4 ) .

A m oder n idade, in au gu r ada n o XI X, vai ser m ar cada pela em er gên cia de u m a cu lt u r a de classe m édia, n a qu al im per am n ecessidades h edon ist as e sen su alist as, socialm en t e pr odu zidas n o cu idado com o cor po e a en t r ega aos pr azer es cu lt u r ais, a qu e se associa u m a pr eocu pação h ipocon dr íaca com a saú de, e par a a qu al a r espost a da pr át ica m édica vai ser sobej am en t e

adequ ada ( Gay, 2 0 0 2 ; Rosen , 1 9 9 4 ) . Con t u do, t an t o qu an t o a con solidação e o pr edom ín io do m odo bu r gu ês de pr odu ção, o desen volvim en t o do capit alism o, em su as diver sas et apas, con st it u i t am bém u m a h ist ór ia m ar cada pelo desen r olar de su cessivas cr ises, qu e f izer am af lor ar a lu t a or gan izada dos pr in cipais af et ados pela r ecessão e escassez econ ôm ica: os t r abalh ador es ( Hobsbawm , 2 0 0 2 a; 2 0 0 2 b) .

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de legit im ação, qu e ser ia obt ida pela par t icipação de ou t r os con t in gen t es popu lacion ais n o pr ocesso de u su f r u t o do pr odu t o com u m . T al par t icipação im plicava u m a socialização do pr odu t o com u m , ou de par celas, por m eio da ação do Est ado n o con t r ole e r egu lação da at ividade de m er cado, n o sen t ido de or ien t ar a pr odu ção e disciplin ar o esf or ço colet ivo de con su m ir com o polít ica pú blica, ou sej a, par ece apon t ar a n ecessidade de ‘dom est icação’ do ím pet o capit alist a ( Bor on , 1 9 9 4 ) .

O apar ecim en t o do ‘social’ per m it e, por t an t o, r econ h ecer a t r adu ção qu e as gr an des m assas con segu em f azer aos an t agon ism os econ ôm icos

t or n ados con f lit os polít icos. À m edida qu e o con j u n t o de n ão-pr opr iet ár ios assu m e dim en são e t am an h o, em er ge a qu est ão da pobr eza com o u m a qu est ão social, e com o pr oblem a par a a ação est at al, ist o é, par t e da esf er a pr ivada da sociedade é t or n ada pu blicam en t e r elevan t e. O pr ocesso de su bst it u ição de poder pú blico pelo poder social r evela o f r acasso da desvin cu lação da esf er a pú blica f r en t e aos in t er esses pr ivados, pois as pr ópr ias con dições em qu e dever ia ocor r er a pr ivat ização dos in t er esses f or am t r azidas par a a dispu t a dos in t er esses or gan izados. Est e f at o dissolve o set or com o aqu ele n o qu al as pessoas pr ivadas r eu n idas n u m pú blico ( colet ivo) r egu lam en t r e si as qu est ões ger ais de seu in t er câm bio, ou sej a, a visão liber al da esf er a pú blica.

A est es ef eit os, cer t am en t e, cor r espon deu o desen volvim en t o de m ecan ism os de assist ên cia, t an t o pú blica qu an t o pr ivada, m ais aqu ela do qu e est a. T al in t er ven ção se con f igu r ou em pr at icam en t e t odas as sociedades capit alist as eu r opéias em f or m ação. Par t icu lar m en t e n a

I n glat er r a, n as vár ias et apas do desen volvim en t o capit alist a, a assist ên cia à pobr eza im plicou , in clu sive, a assist ên cia m édica, e r evela o car át er de t u t ela da sociedade sobr e t ais m assas ( Rosen , 1 9 9 4 ; Don n an gelo, 1 9 7 6 ) . T u t ela qu e é, t am bém , u m a r eação ao t em or lat en t e ger ado pela pr esen ça de gr u pos alt am en t e m óveis, e vist os com o per igosos à sociedade, ou m esm o r eação aos per íodos cíclicos de cr ises e r u pt u r as, qu e põem em r isco a est abilidade in st it u cion al, e qu e podem ser apon t adas em per íodos bem dat ados.

T ais in t er ven ções cu m pr em u m du plo papel – de u m lado, vão ao en con t r o dos in t er esses dos econ om icam en t e m ais f r acos, de ou t r o, t am bém ser vem par a r epeli-los, m as, acim a de t u do, dem on st r am o in t er esse n a m an u t en ção do equ ilíbr io do sist em a, qu e n ão pode ser assegu r ado u n icam en t e por in t er m édio do m er cado livr e. Com o exem plo, as f or m u lações de Keyn es ( 1 9 9 6 ) n o pós-gu er r a apon t avam com o

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As f or m u lações keyn esian as, cu j o con j u n t o de polít icas sociais r esu lt ou n o ch am ado Est ado de Bem -Est ar , colocar am , segu n do Heilbr on er ( 1 9 9 6 ) , a am pliação das f u n ções do Est ado – em qu e est e assu m e u m car át er de or gan ism o plan ej ador , r egu lador da liber dade de m er cado – n a seqü ên cia do esgot am en t o da visão liber al m ais or t odoxa. An alisan do est a et apa do desen volvim en t o capit alist a, Bor on ( 2 0 0 2 ; 1 9 9 4 ) con sider a qu e essa exper iên cia social e econ ôm ica levou a u m ef eit o con t r adit ór io: t an t o a classe bu r gu esa n ão pode sobr eviver sem o au xílio da h iper t r of ia do Est ado – aliás, com o o dem on st r a o f u n cion am en t o r eal do capit alism o m adu r o e a despeit o das n egat ivas qu e f azem seu s pr of et as u lt r aliber ais – qu an t o a classe oper ár ia t am pou co est á dispost a a r ever t er os avan ços sociais con qu ist ados, em su a secu lar lu t a con t r a a bu r gu esia, e qu e se cr ist alizam n o ch am ado Est ado ben f eit or . Já Oliveir a ( 2 0 0 0 ) , por exem plo, con sider a qu e a esf er a pú blica bu r gu esa, t an t o n a per spect iva ‘h aber m asian a’, de espaço de su j eit os pr ivados em r elação ao Est ado, qu an t o ‘m ar xist a’, de lu gar de con cor r ên cia dos capit ais, f oi pr ocessada pelo Est ado de Bem -Est ar par a u m a f or m a n ão-bu r gu esa. Nest e caso, o Est ado de Bem -Est ar con f igu r a u m a r egu lação de f or a, t an t o sobr e os su j eit os pr ivados, qu an t o sobr e o m er cado da f or ça de t r abalh o, pr ovocan do pr of u n das m odif icações ( qu er in t er n as, qu er ext er n as) n a classe oper ár ia.

Em su m a, ser per m an en t e f oco de t en sões é u m elem en t o car act er íst ico da n at u r eza da r elação en t r e as du as esf er as, a pú blica e a pr ivada; r elação qu e f oi se t or n an do cada vez m ais pr oblem át ica à m edida qu e avan ça a m assa de n ão-pr opr iet ár ios, de exclu ídos, qu e vão per segu ir , por m eio de in t er ven ções pú blicas n o set or pr ivado, o êxit o con t r a a t en dên cia à con cen t r ação de capit al, e f azer com qu e a su a par t icipação se r evele. Au m en t an do e dim in u in do ciclicam en t e ao lon go da h ist ór ia, ir á

pr odu zin do f ocos de r eivin dicações a qu e o Est ado pr ocu r ar á dar r espost a, em bor a pr eso aos in t er esses de equ ilíbr io do sist em a e da m an u t en ção de su a pr ópr ia legit im ação. O t am an h o da por osidade com qu e se deixa pen et r ar pela m assa de pr opr iet ár ios e n ão-pr opr iet ár ios é qu e vai dar a con dição de legit im idade e de pu blicidade com qu e est e ‘in t er esse pú blico’ vai ser iden t if icado, e qu e t ipo de con st it u ição vai logr ar obt er , assim com o a pr ópr ia avaliação qu e vai r eceber n a f or m a de opin ião pú blica ( Haber m as, 1 9 8 4 ) .

Co n si d er a çõ es f i n a i s Co n si d er a çõ es f i n a i sCo n si d er a çõ es f i n a i s Co n si d er a çõ es f i n a i s Co n si d er a çõ es f i n a i s

Reu n idos os t r aços em blem át icos da vin cu lação polít ico/ econ ôm ica qu e r ecobr e a an t in om ia ‘p ú b l i co x p r i va d o, podem os apon t ar algu m as

con clu sões e possibilidades de u so. O pr im eir o pon t o a r essalt ar é o de qu e a explor ação dest a an t in om ia, com base em u m a abor dagem cr ít ica,

apr esen t a u m a du pla im por t ân cia t eór ico/ pr át ica: é cen t r al par a a

com pr een são da polít ica, con st it u ída n o pr ocesso h ist ór ico das sociedades ociden t ais, e é basilar par a a com pr een são das r elações sist êm icas en t r e os agen t es econ ôm icos, pú blicos ou pr ivados, n a pr odu ção e of er t a de ben s e ser viços. Ch ão f ecu n do em qu e se m esclam , em ciclo, os cam pos da polít ica e da econ om ia.

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colet ivo, de per t en cim en t o com u m , e de opin ião pú blica, podem os

em pr est ar a u m bem , ser viço ou in divídu o u m a f or ça de sign if icação ím par , qu an do lh e r essalt am os u m a at r ibu ição de car át er pú blico, ou de

im por t ân cia par a o colet ivo ( Haber m as, 1 9 8 4 ) . Est a sign if icação dá lu gar , f or ça e valor in t an gível a ben s, com o a saú de, qu e adqu ir e im por t ân cia pú blica, colet iva, m as n ão leva, n ecessar iam en t e, à su pr em acia do elem en t o est at al .

T om ada com o qu est ão social e com o u m sist em a or gan izado de ser viços e ações, a Saú de apr esen t a in egável du plicidade, t an t o con ceit u al qu an t o oper acion al, n a qu al in t er agem t an t o o in divídu o qu an t o o colet ivo, t an t o o Est ado qu an t o o m er cado, t an t o a dim en são p ú b l i ca qu an t o a p r i va d a . Est a car act er íst ica a t em f eit o obj et o de u m a in t en sa dispu t a de in t er esses ideológicos, especialm en t e n as dim en sões econ ôm ica e polít ica. Dispu t a qu e, n o caso br asileir o, vai con st it u in do u m a cu lt u r a pr ópr ia par a cada u m dos dois t er m os ( pú blico e pr ivado) à m edida qu e vão sen do est r u t u r ados dois sist em as de saú de: u m pú blico ( est at al) e ou t r o pr ivado.

Dispu t a qu e pode ser r evelador a, por su a vez, da com plexidade qu e cer ca as r elações su bj acen t es ao bin ôm io Est ado/ M er cado. Est es set or es

r epr esen t am o ch ão con cr et o em qu e se dispu t am os pr oj et os societ ár ios qu e or gan izam os dist in t os m odos – pú blico e pr ivado – da of er t a, pr odu ção e o acesso de ben s com o a saú de. Neles, as f or ças em dispu t a bu scam

vin cu lar su as pr át icas a pólos qu e u t ilizam com o elem en t o est r u t u r al o bin ôm io ‘m edicin a x saú de pú blica’. T al polar ização t em dif icu lt ado o n ecessár io diálogo en t r e elas e t em con du zido a u m a f alsa dicot om ia qu e separ a pú blico de pr ivado: o pr im eir o associado às pr át icas de saú de pú blica; o segu n do, às da m edicin a h egem ôn ica ( Aciole, 2 0 0 3 ) .

Em gr an de m edida, est a dicot om ia con st r ói u m m ovim en t o pen du lar en t r e dist in t os m odos - u n iver sais ou r est r it os - de or gan ização da of er t a dos pr odu t os, ser viços e ações par a con t in gen t es popu lacion ais, cu j o

t am an h o var iar á em f u n ção da am plit u de e das n oções qu e gan h em p ú b l i co e p r i va d o; e de qu e decor r e a am plit u de dos acessos per m it idos por est as m esm as n oções. Dif er en ciados em su a n at u r eza polít ica e su plem en t ar es/ com plem en t ar es em eviden t e vin cu lação econ ôm ica, cada u m dest es su bsist em as vai pr odu zin do n o sen so com u m u m a oscilan t e opin ião pú blica, de base dicot ôm ica, em f avor de u m ou de ou t r o m odo de se pr est ar assist ên cia ou cu idar da vida dos in divídu os e gr u pos.

Fin alm en t e, volt em os n ossa at en ção par a o país em qu e vivem os, qu e apr esen t a u m a sit u ação de in t en sa con cen t r ação de r en da, a pon t o de dist in gu ir m os du as n ações n u m m esm o t er r it ór io: h íbr ido qu e j á r ecebeu a den om in ação de Belín dia. A r espeit o do Br asil, t em -se com o par adigm át ico o m odo com qu e se en t r elaçar am n ossas con dições de em an cipação polít ica, a su per ação das bases colon iais de n ossa econ om ia ( Fu r t ado, 2 0 0 0 ; Pr ado Jr ., 1 9 9 0 ) , e o apr of u n dam en t o dos m ecan ism os de depen dên cia em r elação aos m er cados eu r opeu ( par t icu lar m en t e, o in glês) e n or t e-am er ican o

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qu e f or m ador a de u m n ovo país, e qu e du r ou qu ase qu at r o sécu los ( Pr ado Jr ., 2 0 0 0 ) . T an t a du r abilidade par ece t er con den ado o desen volvim en t o social e o pr ocesso de iden t if icação/ def in ição dos pr oj et os das classes sociais br asileir as a adot ar em u m m odelo de desen volvim en t o cu j os con t or n os f or am iden t if icados n a f or m a da ch am ada ‘via colon ial’ ( Ch asin , 2 0 0 0 ) . T ais car act er íst icas r evelam os t r aços par t icu lar es qu e assu m iu o

desen volvim en t o capit alist a em n osso país: r esu lt ado do con j u n t o de in t er esses econ ôm icos e polít icos dos segm en t os dom in an t es n as su as r elações de classe com as dem ais f r ações com pon en t es da t essit u r a social. Repr esen t am , ain da, o r ecu r so ao viés pat r im on ialist a n o qu al o pr ópr io Est ado cor por at ivo se con st it u i e é o agen t e im pu lsion ador do

desen volvim en t o à br asileir a ( Faor o, 2 0 0 0 ; Sor j , 2 0 0 0 ) .

Est as con dições t or n am m u it o at u al a abor dagem m ar xist a par a com pr een são cr ít ica desse est ado de coisas, e qu e n os con vidam a r ef let ir sobr e algu m as qu est ões can den t es: Com o pen sar e viver , n est e cen ár io, as r elações en t r e o pú blico e o pr ivado? Qu al o t am an h o do espaço do ‘pú blico’ e do ‘pr ivado’? Af in al, o qu e é ‘pú blico’? E ‘pr ivado’? Repen sar

con t in u am en t e est as qu est ões, t an t o qu an t o pr ocu r ar r espon dê-las, é f u n dam en t al par a est abelecer m os m ais clar eza n a lide cot idian a a qu e n os en t r egam os apar a a con solidação de u m sist em a de saú de ver dadeir am en t e pú blico e par a o pú blico, qu e dialogu e com a t ot alidade social e seu s

con t r adi t ór i os.

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Est e t r abaj o plan t ea la di f er en ci aci ón en t r e lo qu e r econ ocem os com o ‘pu bli co’ y com o ‘pr i vado’, m ás allá de las si m pli f i caci on es y m an i qu eísm os del sen t i do com ú n .

Di f er en ci aci ón m u y i m por t an t e par a t odos u st edes qu e, com o n osot r os, est am os en vu elt os en la i m plan t aci ón de polít i cas de salu d ver dader am en t e pú bli cas, e con si der an do la exi st en ci a de dos si st em as en n u est r o país: el SUS ( Si st em a Ún i co de Salu d) e el Si st em a Su plem en t ar de Salu d. Par a est a di f er en ci aci ón , n u est r o ar t ícu lo abor da las i n t er f aces exi st en t es en t r e los t ér m i n os ‘pú bli co’ y ‘pr i vado’ y par t e de la r ecu per aci ón h i st ór i co-cr ít i ca de los elem en t os ar t i cu lados en dos m acr odi m en si on es de la m oder n i dad: la di m en si ón econ óm i ca y la di m en si ón polít i ca. Despu és de t al t r ayect o, est e t r abaj o r evela exi st i r u n a r elaci ón de i n t er pen et r aci ón en t r e am bos m ás qu e la t en den ci a di cot óm i ca y de oposi ci ón en qu e com ú n m en t e los colocam os.

PALABRAS CLAVE: salu d pú bli ca. si st em a de salu d. SUS ( BR) .

Referências

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Magnetic resonance imaging Study developed at Faculdade de Ciências Médicas – Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp), Campinas, SP, Brazil.. PhD, Professor, Faculdade

Chefe, Disciplina de Pneumologia, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP) Brasil; e Diretor, Hospital. Estadual de Sumaré, Sumaré

do Câncer, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (FCM- Unicamp), Campinas, SP, Brasil.. 2 Departamento

Head and Neck Surgery Service, Department of Surgery, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, São Paulo,

Division of Nuclear Medicine, Department of Radiology, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, São Paulo,

Department of Surgery, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-UNICAMP), Campinas (SP),

Department of Surgery, Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-UNICAMP), Campinas (SP), Brazil1. KEY WORDS:

2 Enfermera, Estudiante de Maestría, Departamento de Enfermagem, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas,..