COMPREENDENDO A LACUNA ENTRE A PRÁTI CA E A EVOLUÇÃO TÉCNI CO- CI ENTÍ FI CA
DO BANHO NO LEI TO
1Silaine Sandrini Alves Maciel2 Silvia Crist ina Mangini Bocchi3
Maciel SSA, Bocchi SCM. Com preendendo a lacuna ent re a prát ica e a evolução t écnico- cient ífica do banho no leit o. Rev Lat ino- am Enferm agem 2006 m arço- abril; 14( 2) : 233- 42.
Trat a- se de est udo qualit at ivo, realizado com pacient es acam ados, visando com preender a experiência da pessoa dependent e da enferm agem para o banho no leit o e desenvolver um m odelo t eórico represent at ivo d essa ex p er iên cia. Ut ilizou - se com o r ef er en cial t eór ico o I n t er acion ism o Sim b ólico e, com o r ef er en cial m et odológico, a Gr ounded Theor y. Dos r esult ados em er giu o fenôm eno – apr endendo a avaliar a vida e a enferm agem , ao t ornar- se dependent e de seus cuidados para o banho no leit o. I sso possibilit ou ident ificar a cat egoria cent ral - propondo um m odelo assist encial de enferm agem para o banho no leit o, na perspect iva do processo avaliat ivo do pacient e, que cont rapõe a evolução t écnico- cient ífica relat iva ao procedim ent o.
DESCRI TORES: cuidados de enferm agem ; repouso em cam a; pacient es
UNDERSTANDI NG THE GAP BETW EEN PRACTI CE AND THE TECHNI CAL-SCI ENTI FI C
EVOLUTI ON OF THE BED- BATH
The obj ect ives of t his qualit at ive st udy were t o underst and t he experience of t he nursing dependent per son for t he bed- bat h and dev elop a t heor et ical m odel of t his ex per ience. The Sy m bolic I nt er act ionism perspect ive and Grounded Theory m et hodology w ere used t o develop t he st udy. Observat ion and int erview were the strategies used for data collection. Based on data analysis, a phenom enon was identified: learning to assess life and nursing when the patient becom es dependent on nursing care for the bed- bath. The theoretical m odel shows the m eaning of the patient experience in the bed- bath, integrated by the core category - proposing a nursing m odel for t he bed- bat h according t o t he pat ient assessm ent process, as opposed t o t he t echnical-scient ific evolut ion of t his procedure.
DESCRI PTORS: nursing care; bed rest ; pat ient s
COMPRENDI ENDO LA LAGUNA ENTRE LA PRÁCTI CA Y LA EVOLUCI ÓN
TÉCNI CO- CI ENTÍ FI CA DEL BAÑO EN LA CAMA
Se t rat a de un est udio cualit at ivo, realizado con los pacient es post rados, que procura com prender la exper iencia de la per sona dependient e de la enfer m er ía par a el baño en la cam a, y desar r ollar un m odelo t eórico que represent e esa experiencia. Fue ut ilizado com o referencial t eórico el I nt eraccionism o Sim bólico y com o referencial m et odológica la Grounded Theory. De los result ados ha em ergido el fenóm eno – aprendiendo a evaluar la vida y la enferm ería al volverse dependiente de sus cuidados para el baño en la cam a. A partir de ahí, fue posible identificar la categoría central – proponiendo un m odelo asistencial de enferm ería para el baño en la cam a, desde la perspect iva del proceso evaluat ivo del pacient e, que cont rapone la evolución t écnico-cient ífica relat iva al procedim ient o.
DESCRI PTORES: at ención de enferm ería; reposo en cam a; pacient es
I NTRODUÇÃO
O
b ser v a- se, n o d ecor r er d e ex p er iên cias profissionais, que o banho no leito, com o procedim ento en sin ado em sala de au la, t em sof r ido pr of u n das m od if icações n o cam p o p r át ico, in clu siv e f er in d o princípios t écnico- cient íficos im port ant es.Ad em ais, d ep ar a- se f r eq ü en t em en t e com com en t ár ios, t an t o do pessoal de en f er m agem de nível m édio e até de enferm eiros, quanto de pacientes, que det erm inados profissionais e, principalm ent e, os alunos de enferm agem não sabem dar um banho de q u a l i d a d e n o l e i t o , a o se g u i r e m f i e l m e n t e o procedim ento técnico tradicional, ou sej a, aquele que r espeit a os pr in cípios t écn ico- cien t íficos pr opost os pelos livros.
Quando se derecorre à lit erat ura, depara- se não só com os t r abalhos br asileir os, m as t am bém co m o s i n t er n aci o n ai s, an al i san d o o d ecl ín i o d a qualidade do banho no leit o no decorrer dos t em pos e cr it icando o dist anciam ent o do enfer m eir o acer ca d o p r o ce d i m e n t o , q u e r se j a r e a l i za n d o o u su p er v ision an d o- o, b em com o cap acit an d o a su a equipe( 1- 4). A evolução t écnico- cient ífica, ent ret ant o,
propõe nova m odalidade de banho no leit o, abolindo o uso de água, bacias, sabões e toalhas ( 5), bem com o
m ost rando as vant agens relat ivas ao cust o- benefício, porém ainda dist ant e de nossa realidade ( 6).
En t e n d e - se q u e h á n e ce ssi d a d e d e se responder a algum as quest ões relat ivas ao banho no leito, com o: qual o processo que vem subsidiando as m u d an ças n o p r oced im en t o t écn ico, além d os j á cit ad os p or t r ab alh os com o: d éf icit s d e r ecu r sos hum anos e m at er iais, bem com o o dist anciam ent o d o e n f e r m e i r o d a e x e cu çã o e d a su p e r v i sã o d o procedim ent o, ao longo dos t em pos?
Na t ent at iva de se buscar respost as a essa pergunt a, delineia- se com o obj et ivos: - com preender a e x p e r i ê n ci a i n t e r a ci o n a l p a ci e n t e - e q u i p e d e en fer m agem du r ant e o banho n o leit o, segu n do a perspect iva do pacient e e desenvolver e validar um m odelo t eórico represent at ivo da experiência vivida pelo m esm o.
ABORDANDO O MÉTODO
Esco l h e u - se a m e t o d o l o g i a q u a l i t a t i v a , m edian t e a pr et en são de descr ev er os fen ôm en os que com põem a experiência de pacientes dependentes da enferm agem para o banho no leit o.
Dent r e os pr incipais r efer enciais t eór icos e m et odológicos u t ilizados n os est u dos qu alit at iv os, o p t o u - se p e l o I n t e r a ci o n i sm o Si m b ó l i co e p e l a
Gr ounded Theor y.
D e scr e v e n d o o s f u n d a m e n t o s t e ó r i co s d o s r ef er en ciais
I nt er acionism o sim bólico
Quatro aspectos im portantes distinguem essa a b o r d a g e m d a s d e m a i s d a p si co l o g i a : “ 1 - o interacionism o sim bólico cria um a im agem m ais ativa do ser hum ano e rej eit a a im agem desse com o um or g an ism o p assiv o e d et er m in ad o. Os in d iv íd u os int eragem e a sociedade é const it uída de indivíduos interagindo; 2 – o ser hum ano é com preendido com o um ser agindo no presente, influenciado não som ente pelo que acont eceu no passado, m as pelo que est á a co n t ecen d o a g o r a . A i n t er a çã o a co n t ece n est e m om ent o: o que fazem os agor a est á ligado a essa int er ação; 3 - int er ação não é som ent e o que est á aco n t ecen d o en t r e p esso as, m as t am b ém o q u e acont ece dent r o dos indiv íduos. Os ser es hum anos at uam em um m undo que eles definem . Age- se de acordo com o m odo que se define a sit uação que se est á v iv enciando, em bor a essa definição possa ser influenciada por aqueles com quem se int erage, ela é tam bém resultado de nossa própria definição, nossa i n t er p r et a çã o d a si t u a çã o ; 4 - o i n t er a ci o n i sm o sim bólico descreve o ser hum ano m ais at ivo no seu m undo do que out ras perspect ivas. O ser hum ano é livre naquilo que ele faz. Todos definim os o m undo em q u e ag im os e p ar t e d essa d ef in ição é n ossa, env olv e a escolha conscient e, a dir eção de nossas ações em face dessa definição, a identificação dessas ações e a de out ros e a nossa própria redireção”( 7).
Os conceitos do interacionism o sim bólico são: sím bolo, self, m ent e, assum ir o papel do out ro, ação hum ana e int eração social( 7).
- Sím bolo
É o co n ce i t o ce n t r a l , p o i s, se g u n d o o I n t er a ci o n i sm o Si m b ó l i co , sem el e n ã o se p o d e interagir uns com os outros. É um a classe de obj etos sociais usados para represent ar algum a coisa.
de sons e gest os que é significat iva e inclui r egr as per m it indo que se com bine os sons ou gest os em d ecl a r a çõ es si g n i f i ca n t es. Pa r a ser si m b ó l i co , o or ganism o cr ia at iv am ent e e m anipula sím bolos na int eração com os out ros”( 7).
- Self
No I n t er acion ism o Sim b ólico o self é u m obj et o social em relação ao qual o indivíduo age. O at or configura o self na int eração com os out ros. O
self não som ente surge na interação, m as com o todo obj et o social é definido e r edefinido na int er ação. Surge, na infância, inicialm ente, por m eio da interação co m o s p a i s e o u t r o s si g n i f i ca t i v o s, m u d a n d o constantem ente na m edida em que a criança vivencia nov as ex per iências int er agindo com out r os. “ Com o eu m e vej o, com o eu m e defino, o j ulgam ent o que f aço de m im m esm o é alt am en t e depen den t e das definições sociais que encontro durante m inha vida”( 7).
- Ment e
“ Ment e é a ação, ação que usa sím bolos e dirige esses sím bolos em relação ao self. É o indivíduo t e n t a n d o f a ze r a l g o , a g i r e m se u m u n d o . É a com unicação ativa com o self por m eio da m anipulação de sím bolos. O m undo é transform ado em um m undo de definições por causa da m ente; a ação é resposta não a obj etos, m as à interpretação ativa do indivíduo a esses obj et os“( 7).
É a interação sim bólica do organism o hum ano com seu self.
- Assum ir o papel do out ro
Esse conceit o est á int im am ent e relacionado aos ant eriores, porque consist e em at ividade m ent al e torna possível o desenvolvim ento do self, a aquisição e o uso de sím bolos e a própria atividade m ental. “ É por m eio da m ent e que os indiv íduos ent endem o significado das palavras e ações de outras pessoas”( 7).
- Ação hum ana
A interação com o self e com os outros leva o indivíduo a t om ar decisões que direcionam o curso da ação. “ As ações são cau sadas por u m pr ocesso ativo de tom ada de decisão pelo suj eito, que envolve a definição da sit uação e essa por sua vez, envolve in t er ação con sigo m esm o e com os ou t r os. Dessa form a, é a definição da situação feita pelo ator que é cent ral para com a ação ocorrerá”( 7).
- I nt eração social
Confor m e apr esent ado, t odos os conceit os básicos para o I nt eracionism o Sim bólico surgem da interação e são parte dela. “ Quando interagim os, nós
n os t or n am os obj et os sociais u n s par a os ou t r os, usam os sím bolos, direcionam os o self, engaj am o- nos e m a çã o m e n t a l , t o m a m o s d e ci sõ e s, m u d a m o s d ir eções, com p ar t ilh am os p er sp ect iv as, d ef in im os realidade, definim os a sit uação e assum im os o papel do out ro”( 7).
Gr ounded Theor y
Se g u n d o o s i d e a l i za d o r e s d a Gr o u n d e d Theor y, essa m et odologia consist e na descober t a e n o d esen v o l v i m en t o d e u m a t eo r i a a p a r t i r d a s i n f o r m a çõ e s o b t i d a s e a n a l i sa d a s si st e m á t i ca e com par at iv am ent e( 8).
Para eles, a t eoria significa “ um a est rat égia para trabalhar os dados em pesquisa, que proporciona m o d o s d e co n ce i t u a l i za çã o p a r a d e scr e v e r e explicar ”( 8).
Ap r e se n t a m u m m é t o d o d e a n á l i se co m p a r a t i v a co n st a n t e , o n d e o p e sq u i sa d o r, a o co m p a r a r i n ci d e n t e co m i n ci d e n t e n o s d a d o s, est abelece cat egor ias conceit uais que ser v em par a ex plicar o dado. A t eor ia, ent ão, é ger ada por um pr ocesso de indução, no qual cat egor ias analít icas em er gem dos dados e são elabor adas confor m e o trabalho avança, um a vez que as categorias com eçam a em ergir dos dados.
Esse é u m p r o ce sso d e scr i t o co m o am ostragem teórica e o pesquisador decide que dados colet ar em seguida, em função da análise que vem realizando. Nesse sentido, a am ostragem adotada não é estatística, m as teórica, um a vez que o núm ero de suj eit os ou sit uações que devem int egrar o est udo é determ inado pelo que eles denom inaram de saturação t eórica, ou sej a, quando as inform ações com eçam a ser r epet idas e dados nov os ou adicionais não são m ais encont rados( 8).
At ores part icipant es e o local da pesquisa
A sat u r ação t eór ica f oi obt ida m edian t e a análise da 17ª ent revist a, com pacient es ent re 26 e 82 anos, internados em unidades clínicas e cirúrgicas d e u m Ho sp i t a l Un i v e r si t á r i o e d e p e n d e n t e s d a enferm agem para o banho no leit o há m ais de set e dias.
Est rat égias para colet a e análise de dados
Realizou- se a colet a de dados por m eio de gr av ações de ent r ev ist as não est r ut ur adas do t ipo focalizada, t endo com o quest ão de part ida: — com o t em sido a sua experiência ao se t ornar dependent e da enferm agem para o banho no leit o?
Tor nou- se o cuidado de r ealizá- la som ent e após a obt enção do parecer favorável do Com it ê de Ét ica em Pesquisa e da aut or ização dos at or es que part iciparam dest e est udo.
Pa r a o r e g i st r o d o s d a d o s, f o r a m f e i t a s anotações durante os eventos ou, quando o local não se m ost rava apropriado, realizava- os im ediat am ent e ap ós.
A análise dos dados ocorreu de acordo com o m é t o d o d a Gr o u n d e d Th e o r y, co n f o r m e a s est r at égias básicas apr esen t adas par a a for m ação de cat egorias( 8).
Ca t e g o r i a s sã o a b st r a çõ e s d o f e n ô m e n o observado nos dados e form am a principal unidade de análise da Grounded Theory. A teoria se desenvolve por m eio do t r abalho r ealizado com as cat egor ias, que faz em ergir a categoria central, sendo geralm ente um processo, com o conseqüência da análise( 8).
As f a se s d a a n á l i se d o s d a d o s sã o : d e sco b r i n d o ca t e g o r i a s, l i g a n d o ca t e g o r i a s, desenvolvim ent o de m em orandos e ident ificação do pr ocesso( 8).
A EXPERI ÊNCI A DA PESSOA DEPENDENTE
DA ENFERMAGEM PARA O BANHO NO LEI TO
O fenôm eno ident ificado
A análise dos dados à luz da Grounded Theory
p e r m i t i u co m p r e e n d e r a e x p e r i ê n ci a d a p e sso a dependent e da enfer m agem par a o banho no leit o, ao em ergir o fenôm eno: aprendendo a avaliar a vida e a enfer m agem ao t or nar - se dependent e de seus cuidados para o banho no leit o.
O f e n ô m e n o se r á d e scr i t o e m f o r m a d e conceit os provenient es das experiências dos at ores, segu n do os elem en t os qu e com põem o pr ocesso: t em as, cat egorias e subcat egorias.
Ap r en d en d o a av aliar a v id a e a en f er m ag em ao tornar- se dependente de seus cuidados para o banho no leit o
É o fenôm eno que ret rat a a experiência da pessoa dependent e da enferm agem para o banho no leito, por m eio de três tem as: enfrentando os desafios a o p e r d e r a a u t o n o m i a , d e se n v o l v e n d o u m a m o d a l i d a d e d e a v a l i a çã o d e d e se m p e n h o d a enfer m agem par a o banho no leit o e r eavaliando a vivência com o um a lição de vida.
Enfrent ando os desafios ao perder a aut onom ia
É o prim eiro t em a que com põe o fenôm eno, ap r en d en d o a av aliar a v id a e a en f er m ag em ao tornar- se dependente de seus cuidados para o banho no leit o, congregando as cat egorias que ret rat am as ci r cu n st â n ci a s d e sf a v o r á v e i s q u e a p e sso a h osp it alizad a e acam ad a acab a sen d o ob r ig ad a a en fr en t ar, m edian t e a per da da au t on om ia par a o a u t o cu i d a d o e , co n se q ü e n t e m e n t e , t o r n a n d o - se d e p e n d e n t e d o s cu i d a d o s d e e n f e r m a g e m p a r a sat isfazer as suas necessidades.
Nesse processo, ela acaba sendo obrigada a se suj eit ar ao banho no leit o, com pr eendido com o u m p r o ced i m en t o q u e n ão r ep r o d u z as m esm as se n sa çõ e s d e co n f o r t o g e r a d a s p e l o b a n h o n o chuveiro, perant e um a circunst ância const rangedora de ter seu corpo exposto a profissionais de am bos os sexos, sem a opção, na m aioria das vezes, de realizar escolhas que poderiam am enizar o seu desconfort o, das lim it ações im post as pelos déficit s de r ecur sos hum anos e m at eriais no hospit al. As condições que poder iam aj udá- la no enfr ent am ent o ser iam : t er o banho no leito realizado por um profissional do m esm o sexo do pacient e e t er a oport unidade de escolher o h o r á r i o e o n ú m e r o d e b a n h o s d i á r i o s, n o planej am ent o da assist ência de enferm agem .
O t em a enfrent ando os desafios ao perder a aut onom ia é com post o por duas cat egor ias: t endo que se suj eitar ao banho no leito com o um a m issão e t em en d o a d ep en d ên cia e as su as con seq ü ên cias perant e a fragilidade de recuperação do idoso. - Tendo que se suj eitar ao banho no leito com o um a m issão
É u m dos pr ocessos de en f r en t am en t o da pessoa que perde a aut onom ia ao se t ornar incapaz d e r eal i zar o au t o cu i d ad o , sej a p o r l esõ es e/ o u tratam entos que lim itam a funcionalidade dos m em bros infer ior es ( MMI I ) , bem com o em qualquer sit uação terapêutica, na qual o repouso absoluto é indicado. Na im possibilidade de ser en cam in h ada ao ban h o de aspersão, a opção que lhe rest a é a de depender da enferm agem para o banho no leito. É um a experiência que se configura com o de difícil superação, perm eada d e est r esses e d e acom et im en t o d a au t o- est im a, m ed ian t e a p r óp r ia p er d a d a au t on om ia p ar a os cuidados de higiene, o const rangim ent o da exposição corporal, bem com o por não lhe conferir as m esm as sensações de lim peza e de confort o proporcionadas p elo b an h o n o ch u v eir o. Acr escem - se, ain d a, os desafios institucionais, relativos aos déficits de recursos hum anos e m ateriais que dificultam a possibilidade de o paciente contar, diariam ente, com pessoas do m esm o sexo que o seu par a dar o banho, bem com o o de r e cu r so s m a t e r i a i s q u e p o d e r i a m a m e n i za r se u sofr im ent o e pr ev enir com plicações. Est a cat egor ia com p õe- se d e q u at r o su b cat eg or ias: t or n an d o- se depen den t e da assist ên cia de en fer m agem par a o aut ocuidado, preferindo o banho no chuveiro, t endo que superar o constrangim ento da exposição corporal e percebendo a falta de m ateriais e de funcionários.
Voltei a ser criança com 26 anos ... fiquei no hospital
dezenove dias e tive que usar fralda ... é difícil essa fase de
dependência, m exe com a m inha auto-estim a. Tem que se pensar
positivo. Os dois prim eiros m eses foram difíceis ... depois com ecei
a tom ar o banho na cadeira de banho e em baixo do chuveiro.(14)
Nada com o tom ar banho no chuveiro, deixar a água cair
no corpo, para a suj eira ir em bora. Fazer bastante espum a com
sabonete, lavar o cabelo bem lavado. Tom o banho de gato, parece
que a suj eira não vai em bora, fica aqui com igo, aqui na cam a.( 9)
O banho no leito teria que ser dado na parte da m anhã e
na parte da tarde. Mas não têm funcionários para poder fazer isso
duas vezes ao dia, porque teria um gasto m uito alto.( 4)
O esforço do paciente tam bém aj uda os profissionais.
Mesm o que ele estej a com dor, sentindo dificuldades, tem que
aj udar, porque tem poucos profissionais, às vezes som ente um
para dar o banho.(13)
Quant o ao sexo opost o dar o banho, você não fica à
vontade, fica constrangida ... se for do m esm o sexo e fizer com
am or, com toda aquela técnica, sai bom , sem problem a.( 8)
- Tem endo a dependência e as suas conseqüências, perant e a fragilidade de recuperação do idoso
É a segunda cat egor ia que com põe o t em a en f r en t an do os desaf ios ao per der a au t on om ia e especificam ent e relat iva à experiência daquele idoso q u e se se n t e e m d e sv a n t a g e m n o p r o ce sso d e r ecu p er ação, q u an d o com p ar ad o às ou t r as f aix as et ár i as, t em en d o a d ep en d ên ci a, p r i n ci p al m en t e quando não conta com o suporte fam iliar. Ele expressa o m edo de perder a autonom ia e de sofrer a rej eição ao ser cuidado na velhice. Est a cat egoria reúne duas su b cat eg o r i as: sen t i n d o - se i m p o t en t e p er an t e o pr ocesso de env elhecim ent o e pensando t em er oso nas conseqüências ao vir- a- ser dependent e.
Minha sorte é que eu não quebrei o quadril, porque
coitados dos velhos! Acho que é o destino deles, porque todo
velho acaba se quebrando ... um tom binho de nada e já se quebra
... agora, sabe por que estou caindo assim ?... Estou m eio cega,
m eio surda, agora eu caí e quebrei. A gente perde a noção ... Nessa
idade a gente não tem m ais resistência para agüentar.( 1)
Vocês não viram na televisão aquela senhora que tinha
uma mulher cuidando dela? Coitadinha! A empregada batia a cabeça
dela na parede. Passou cada horror na televisão!( 1)
Não é fácil os outros terem que cuidar da gente. É m uito
m elhor a gente se cuidar. Ter saúde para se cuidar.( 1)
Desen v olv en d o u m a m od alid ad e d e av aliação d e desem penho da enferm agem durante o banho no leito
É o segundo t em a que com põe o fenôm eno ap r en d en d o a av aliar a v id a e o d esem p en h o d a e n f e r m a g e m n o b a n h o n o l e i t o a o t o r n a r - se dependente dos seus cuidados. Significa que, durante o processo vivenciado do banho no leit o, o pacient e v a i a v a l i a n d o a e n f e r m a g e m n a e x e cu çã o d o procedim ent o e a classifica dent ro de dois conceit os, com o: apt a e in apt a. O t em a se com põe de du as ca t e g o r i a s: co n si d e r a n d o a e n f e r m a g e m a p t a a r e a l i za r o b a n h o n o l e i t o e co n si d e r a n d o a enferm agem inapt a a realizar o banho no leit o. – Considerando a enferm agem apta a realizar o banho no leit o
p síq u i co d u r a n t e a ex p er i ên ci a . Esses a t r i b u t o s con st it u ir ão as h abilidades j u lgadas por ele com o e sse n ci a i s p a r a o se u co n f o r t o d u r a n t e o procedim ent o, bem com o servirão para fundam ent ar o seu j ulgam ent o no pr ocesso av aliat iv o acer ca da com pet ência da enferm agem para o banho no leit o. A enferm agem apt a a realizar um banho no leit o é aquela que preenche t rês crit érios: - ser criat iva e, p o r t a n t o , ca p a z d e m o d i f i ca r o p r o ce d i m e n t o convencional, de m aneira a reproduzir no banho no leit o as sensações sem elhant es às pr om ovidas pelo banho no chuv eir o; - ser capaz de est abelecer um r elacionam ent o t er apêut ico com o pacient e dur ant e o pr ocedim ent o, facilit ando- o no enfr ent am ent o de u m a ex p er i ên ci a d i f íci l ; - ser cap az d e at en d er, im ediat am ent e, às suas necessidades. Est a cat egoria é com p ost a p or t r ês su b cat eg or ias: en f er m ag em t e n t a n d o r e p r o d u zi r a s se n sa çõ e s d o b a n h o d e chuveiro no banho no leit o, enferm agem at endendo às suas necessidades biopsicossociais e enferm agem est abelecendo um relacionam ent o t erapêut ico com o pacient e.
No out ro hospit al t om ei banho várias vezes na cam a.
Estava operado fazia quatro m eses e tom ava banho no leito. Não
era igual ao que tom o hoj e, era banho de gato m esm o. Eu estava
com a barriga aberta e não dava para ter esse banho. Hoj e m e
m olham bem , esfregam , ensaboam . Agora é m elhor, fecham as
portas e as j anelas.( 11)
O banho está ótim o ... fazem a lim peza de acordo ... A
gent e fica lim po at é m elhor que no banheir o. Eles cuidam
direitinho. Eles lim pam e repassam com sabonete. Eles têm ...
agilidade ... experiência técnica ... agradável. Eu tom o um banho
lim po e rápido, não tom o friagem .( 3)
Quando tocamos a campainha, nos atendem prontamente,
a não ser que estejam ocupados ... Não nos atendem com cara feia e
nervosos. Nós estamos sentindo dores, mas a enfermeira que, também,
é um ser humano, está carregando uma dor, socorrendo todos.(13)
- Con sider an do a en f er m agem in apt a a r ealizar o banho no leit o
É u m co n ce i t o o r i u n d o d o j u l g a m e n t o form ulado pelo paciente, relativo à com paração entre a exper iência desagr adável da t écnica convencional do banho no leito e aquela j á m odificada pela equipe d e e n f e r m a g e m , b e m co m o a o b se r v a çã o e a av aliação das condut as que pr om ov em a sensação d e est ar ab an d on ad o, t r an sp ar ecen d o o d escu id o biopsicossocial. A enferm agem inapta a dar um banho n o leit o é aqu ela qu e pr een ch e t r ês cr it ér ios: - a enferm agem que não reproduz o banho de chuveiro n o b a n h o n o l e i t o , se n d o f i e l a o p r o ce d i m e n t o
convencional, fazendo com que o pacient e cont inue se sent indo com o se est iv esse apenas espalhado a su j e i r a p o r t o d o o se u co r p o ; q u a n d o n ã o se e st a b e l e ce u m r e l a ci o n a m e n t o t e r a p ê u t i co e n f e r m a g e m - p a ci e n t e e – a e n f e r m a g e m n ã o at endendo pront am ent e às necessidades do pacient e, q u e se co n si d er a a b a n d o n a d o . Est a ca t eg o r i a é co m p o st a d e t r ê s su b ca t e g o r i a s: e n f e r m a g e m ex ecut ando o pr ocedim ent o conv encional do banho n o l ei t o , n ã o est a b el ecen d o u m r el a ci o n a m en t o t erapêut ico enferm agem - pacient e e enferm agem não a t e n d e n d o , p r o n t a m e n t e , à s n e ce ssi d a d e s biopsicossociais do pacient e.
Eu internei e m e tratam direitinho ... passam espum a
com delicadeza e várias coisas ... Aquele funcionário X, com um a
barba. Nota 20 para aquele m oço. Tem três ou quatro m eninas
novas que não sabem o correto ...( 4)
O banho no leito depende de quem está dando. Têm
pessoas que te dão o banho no leito delicioso e m uito bem dado,
no capricho e têm pessoas que não dão nem um banho de gato. (8)
Você está aqui totalm ente dependente. Você toca a
campainha e pede, chamando a pessoa e ela parece não se importar,
indo para lá e para cá. ( 8)
O dia que eu estava nervoso, gritando e falando ....
Onde se viu! Eu estava todo cheio de fezes, ninguém veio lim par
e falaram : - Depois a gente lim pa ...( 4)
Eu acho que algum as pessoas da enferm agem deixam
m uito a desej ar: têm que m elhorar a parte hum ana.. ( 8)
Reavaliando a vivência com o um a lição de vida
É o terceiro tem a que com põe o fenôm eno e significa a conclusão do pacient e após aut o- av aliar seu pr ocesso de hospit alização, ent endendo que as m udanças im postas pela doença ao seu plano de vida e pela própria vivência de depender da enferm agem par a o ban h o n o leit o, com o n ão sen do u m a das piores, quando se com para com aquelas vividas por t ant os out ros com panheiros. Essa concepção leva- o a reconsiderar a sua experiência com o um a lição para t oda a sua vida e, por t ant o, configur ando- se num a est rat égia de enfrent am ent o.
Foi um a experiência grande e com ela pude dar valor
para a vida, olhá- la de um m odo diferente e refletir bastante.
Depois que eu sofri o acidente, mudei a minha vida com pletam ente.
Deixei de trabalhar, tornei-m e dependente no autocuidado.(14)
Achei essa experiência horrível, porque nunca pensei
que ia tom ar banho deitado num a cam a! Mas a experiência foi boa,
porque se pode observar o que os outros podem passar na vida.
Acho que m inha vida é m uito boa, m esm o com tudo o
que estou passando, não posso m e queixar, porque isso aqui é
um percurso do dest ino, m esm o com essa enferm idade que
tenho.(17)
Descobrindo a cat egoria cent ral
A e st r a t é g i a u t i l i za d a p a r a d e sco b r i r a cat egor ia cent r al foi int er - r elacionar os t r ês t em as, b u sca n d o co m p a r á - l o s e a n a l i sá - l o s p a r a com pr eender com o se dav a a int er ação ent r e seus com ponent es. Est a est rat égia perm it iu ident ificar que a s ca t e g o r i a s e su b ca t e g o r i a s q u e co m p õ e m o fenôm eno em pr eendem um m ov im ent o av aliat iv o e crít ico, a part ir da experiência da pessoa dependent e da en f er m agem par a o ban h o n o leit o, lev an do à identificação da categoria central com o: propondo um m odelo assist encial de enferm agem para o banho no l e i t o , n a p e r sp e ct i v a d o p r o ce sso a v a l i a t i v o d o pacient e.
O p r o ce sso d e d e sco b e r t a d a ca t e g o r i a cen t r a l co m eço u a co r r o b o r a r co m a s p r i m ei r a s percepções desta pesquisa, quando de posse de todos os diagr am as que possibilit av am v er r et r at ados os t rês t em as e t odos os seus com ponent es.
Nesse m om ent o, conseguia- se visualizar, nas cadeias de cat egor ias qu e com pu n h am o pr im eir o tem a enfrentando os desafios ao perder a autonom ia, um m ovim ento de significados que levava ao segundo t em a: desenvolvendo um a m odalidade de avaliação de desem penho da enferm agem para o banho no leito
e, subseqüent em ent e, ao t erceiro t em a: reavaliando a vivência com o um a lição de vida.
Tendo com o pont o de part ida a int er- relação dos três tem as que com põem o fenôm eno: aprendendo a a v a l i a r a v i d a e a e n f e r m a g e m a o t o r n a r - se dependente de seus cuidados para o banho no leito é que perm it iu abst ração da const rução de um a figura que m elhor ret rat asse a cat egoria cent ral ( Figura 1) .
En f r e n t a n d o o s d e sa f i o s a o p e r d e r a aut onom ia é um dos prim eiros processos vivenciados pelo pacien t e h ospit alizado, m edian t e lesões e/ ou t r at am en t os qu e lim it am a fu n ção dos MMI I , bem com o em qualquer sit uação t er apêut ica, na qual o repouso absoluto é indicado. Mediante a incapacidade, o m esm o se t orna dependent e da enferm agem para os cuidados de higiene, dentre eles o banho no leito. O pacient e avalia o procedim ent o com o não r ep r o d u zi n d o as m esm as sen saçõ es d e co n f o r t o g er a d a s p el o b a n h o n o ch u v ei r o , b em co m o d e
ex p o si ção d e su a p r i v aci d ad e q u e p o d er i am ser a m e n i za d a s a o t e r o b a n h o r e a l i za d o d e f o r m a m odificada à t écnica convencional.
Med ian t e a ex p er iên cia, ele acab a t en d o co n t a t o co m d u a s t é cn i ca s d e b a n h o n o l e i t o e x e cu t a d a s p e l a e q u i p e : a co n v e n ci o n a l e a m odificada. Na m odificada, ele percebe a enferm agem t e n t a n d o r e p r o d u zi r a s se n sa çõ e s d o b a n h o d e chuveiro no banho no leit o, considerada um a t écnica dinâm ica, ao t er a pele de t odo o corpo friccionada com saponáceos e o enxágüe abundant e, conferido-lh e a sen sação de lim peza e de con f or t o, qu an do co m p a r a d a à co n v e n ci o n a l . En q u a n t o , n a convencional, ele percebe a rest rição na quant idade d e sa p o n á ce o s e d e á g u a , d e i x a n d o - l h e co m a im pressão de que a suj eira foi apenas espalhada pelo corpo e no leit o.
O pacient e considera out ros at ribut os com o essenciais para aj udá- lo a enfrent ar a experiência de t ornar- se dependent e da enferm agem para o banho n o l ei t o com o: r esp ei t ar a su a p r i v aci d ad e e as lim it ações de m ovim ent o quando com dor, m ant er o am bient e aquecido, pr ov er núm er o de funcionár ios n ecessár ios p ar a q u e o b an h o sej a r ealizad o p or p e sso a s d e se x o a n á l o g o a o se u , b e m co m o a dispon ibilização de m at er iais e equ ipam en t os qu e p o ssa m g a r a n t i r a su a q u a l i d a d e a ssi st e n ci a l . Manifest a, t am bém , o desej o de se const it uir com o m em bro participante do processo de planej am ento de sua assistência, ao poder escolher o horário e o núm ero d e b a n h o s d i á r i o s. Esp e r a , t a m b é m , p o r u m a
e n f e r m a g e m a t e n d e n d o , p r o n t a m e n t e , à s necessidades biopsicossociais do paciente, tendo com o um dos fundam ent os o relacionam ent o t erapêut ico.
Co m o se p o d e p er ceb er, n o d eco r r er d a experiência o pacient e consegue observar, com parar, a v a l i a r e j u l g a r a s d i m en sõ es p r o ced i m en t a i s e atitudinais da enferm agem , acerca de sua assistência, sem perder de vist a a part icipação da inst it uição no com prom et im ent o da qualidade assist encial.
Dessa form a, ele acaba desenvolvendo um a m o d a l i d a d e d e a v a l i a çã o d e d e se m p e n h o d a enferm agem durant e o banho no leit o, classificando-a em dois conceit os: classificando-apt classificando-a e inclassificando-apt classificando-a.
de ter salvaguardado o seu bem - estar físico e psíquico dur ant e a ex per iência. Esses at r ibut os const it uir ão as com pet ências j ulgadas por ele com o essenciais p a r a o se u co n f o r t o d u r a n t e o p r o ce d i m e n t o e su b si d i a r ã o o se u p r o ce sso a v a l i a t i v o d e ca d a profissional que por vent ura vier a fazer o banho no l e i t o , se g u n d o o s se g u i n t e s i n d i ca d o r e s: t e r criat ividade em reproduzir, durant e o banho no leit o, as sensações pr om ov idas pelo banho de chuv eir o, est ab el ecer o r el aci on am en t o t er ap êu t i co com o pacient e e ser capaz de at ender, im ediat am ent e, às suas necessidades.
Por fim , apesar de o pacient e se ver com o
t endo que se suj eit ar ao banho no leit o com o um a m issão, ele acaba reavaliando a vivência com o um a lição d e v id a, t r an sf or m an d o- a em est r at ég ia d e enfrent am ent o, ao com preender que sua experiência é t r ansit ór ia e não se configur ando com o um a das piores, perant e t udo que vê, diariam ent e, no cenário hospit alar. Ent ret ant o, há que se est ar m ais at ent os, aos idosos, por qu e eles podem est ar con v iv en do, t am b ém , com o m ed o, m ed ian t e a d esesp er an ça acerca da relação ent re o processo degenerat ivo do envelhecim ent o hum ano e as conseqüências de vir-a- ser um a pessoa dependent e, por t oda a sua vida, p r in cip alm en t e q u an d o n ão con t a com o su p or t e fam iliar.
Sendo assim , apresent a- se a Figura 1 com o um sím bolo do m odelo t eórico, t endo sido subm et ida à avaliação dos atores e validada com o representativa d e su a s e x p e r i ê n ci a s, u m a v e z q u e a m e sm a r epr oduzia t udo aquilo que m ais quer iam est ar ou t er em v iv en ciado ao se t or n ar em depen den t es da enferm agem para o banho no leit o.
DI SCUTI NDO OS RESULTADOS
O e st u d o p o ssi b i l i t o u co m p r e e n d e r a experiência int eracional do pacient e dependent e dos cuidados da enferm agem para o banho no leito, bem co m o d e se n v o l v e r e v a l i d a r u m m o d e l o t e ó r i co r epr esent at iv o da m esm a.
A opção em fazer est e t r abalho usando de u m a p er sp ect iv a t eór ico- m et od ológ ica, am p ar ad a p e l a Gr o u n d e d Th e o r y e p e l o I n t e r a ci o n i sm o Sim bólico, perm itiu avanços nos conhecim entos sobre o o b j e t o e m e st u d o , a o co m p a r á - l o s á q u e l e s encont rados na lit erat ura.
Co m p r e e n d e - se q u e a s m u d a n ça s e m p r e e n d i d a s p e l a e q u i p e d e e n f e r m a g e m a o pr ocedim en t o con v en cion al do ban h o n o leit o n ão est ão r elacionadas som ent e ao déficit de r ecur sos h u m an os e m at er iais, m as, t am b ém , v em sen d o influenciada pelo processo int eracional enferm agem -pacient e. Vej a- se: dent re os crit érios de j ulgam ent o da enferm agem com o apt a ou inapt a para execução do banho no leito, um dos elegidos pelo paciente é a cr iat iv idade da m esm a em r epr oduzir as sensações do banho no chuveiro no de leit o.
Ele revela interagir durante a sua experiência com diversos cuidadores, desde profissionais recém – for m ados at é aqueles com gr ande exper iência e os cl a ssi f i ca m d e n t r o d e d o i s g r u p o s: u m q u e j á co n seg u i u m o d i f i car a t écn i ca d e f o r m a a g er ar sensações do banho de aspersão no banho no leit o, avaliado com o apt o e o out ro grupo que se m ant ém f iel ao pr ocedim en t o con v en cion al, av aliado com o inapt o a execut ar o banho no leit o.
Co m o v ê - se , o p a ci e n t e é l i v r e e e st á constantem ente interagindo, não som ente com o que está acontecendo ao seu redor, m as segundo as suas in t er p r et ações e d ef in ições r elat iv as às sit u ações vivenciadas. Ele pode est ar pr eso a um leit o, m as, por m eio de sua capacidade de com preensão, passa a em pr eender est r at égias que podem influenciar a pr át ica de enfer m agem , am par ado naquilo que ele acredita ser o m elhor para si que, no caso do banho do leito, é voltar a sentir as sensações de um banho sob um chuveiro.
A a n á l i se d o f e n ô m e n o , à l u z d o I nt eracionism o Sim bólico perm it e com preender que, q u an d o a en f er m ag em est ab elece u m a in t er ação ef et iv a com o p acien t e, ela p assa a con sid er ar o pacient e com o suj eit o at ivo no planej am ent o de sua assist ên cia, em p r een d en d o su as ações d e f or m a Figura 1 – Abstração da categoria central – Propondo
com par t ilhada com a per spect iv a do out r o; por ém , sem analisá- las, crit icam ent e, na dim ensão t écnico-cient ífica.
Com parando a proposta m odificada de banho n o l ei t o , el ei t a p el o p aci en t e co m o a i d eal e j á prat icada, rot ineiram ent e, por part e dos int egrant es d a eq u i p e d e en f er m a g em co m a d a l i t er a t u r a , o b ser v a - se q u e a m esm a co n t r a p õ e à ev o l u çã o t écnico- cient ífica relat iva ao procedim ent o.
Em 1994, a enferm eira am ericana Susan M. Sk e w e s, a p ó s o i t o a n o s d e e st u d o s e aperfeiçoam ent os, pat ent eou com o Bag Bat h® o seu
m ét odo alt ernat ivo de banho no leit o( 5).
É um a técnica que abole o m étodo tradicional de bacias, água, sabão, luvas de banhos e t oalhas. Ela se const it ui de um pacot e cont endo oit o pedaços de t ecido de poliést er pr é- um edecidos em solução em olien t e d e p H ácid o, p r óx im o ao d a p ele e d e hidrant e enriquecido com vit am ina E, livre de sabão e álcool. Cada pedaço é dest inado a um a ár ea do corpo e, subseqüent em ent e, descart ado, dificult ando o cr uzam ent o de infecções ent r e os segm ent os do m e sm o . Nã o se f a z n e ce ssá r i a a se ca g e m co m t oalhas, por que a solução se evapor a nat ur alm ent e entre 30 a 45 segundos, deixando a pele hidratada e prot egida, sem precisar ser friccionada( 5).
Há est udo dem onst r ando que a higiene da pele, r ealizada com solução que dispensa enxágüe, p r eser v a a u m i d ad e e a i n t eg r i d ad e d a m esm a, apresent ando, port ant o, m elhor cust o- efet ividade( 9).
Nessa linha, j á exist e pesquisa corroborando as v an t agen s do cu st o- ben efício do n ov o m ét odo, q u an d o com p ar ad o ao t r ad icion al, p or ex er cer a função de lim peza e pr ot eção da pele do pacient e, reduzindo o tem po de execução do procedim ento pelo p e sso a l d e e n f e r m a g e m , d o ín d i ce d e i n f e cçã o cruzada e os custos com os serviços de lavanderia( 6).
Concor da- se, aqui com Geor ge Cast ledine, consult or e pr ofessor de Enfer m agem na Univer sit y o f Cen t r al En g l an d , Bi r m i n g h am , q u e h o u v e u m declínio da qualidade do banho e a atenção oferecida às necessidades de higiene ao paciente hospitalizado. Esse aspect o essencial do cuidado de enfer m agem , que out rora foi vist o com o um dos m ais im port ant es aspect os das t arefas do enferm eiro, hoj e est á sendo degradado ao ser delegado aos out ros elem ent os da equipe de enferm agem , sem a supervisão e avaliação crít ica do enferm eiro sobre o processo de m udança acerca do procedim ent o( 4).
Fo i d e f o r m a cr ít i ca q u e a e n f e r m e i r a am ericana im plem ent ou sua inovação t ecnológica de b a n h o n o l e i t o , o Ba g Ba t h®, co m e n t a d o
anteriorm ente, abolindo o sabão, a fricção, o enxágüe e a t o a l h a , v i st o q u e o s m e sm o s ca u sa m o r essecam en t o da pele, pr in cipalm en t e em idosos, piorando a cicatrização de úlceras de pressão. A pele h i d r a t a d a e st á m e n o s p r o p e n sa a l e sõ e s e a cicatrização ocorre m ais rapidam ente que a pele seca. Ver if icou - se t am bém , qu e os pHs dos sapon áceos er am em t or no de 10 a 12, em v ez de 4, 5 a 5, 5, d e st r u i n d o a b a r r e i r a n a t u r a l d e p r o p r i e d a d e s f u n g icid as e b act er icid as( 5 ). Por isso, com a su a
inovação, conseguiu- se o esperado de um a pele lim pa e hidr at ada. Rest a saber se o pacient e se sat isfaz com essa t ecnologia, vist o que a sua pr opost a não convém com a m esm a que, por sua vez, ainda não se encont ra disponível no cenário dest a pesquisa.
Con cor da- se com o pacien t e qu e ain da se faz necessário preservar as condições que o aj udem a e n f r e n t a r a d i f íci l e x p e r i ê n ci a d e se t o r n a r dependent e da enfer m agem par a o banho no leit o com o: respeit ar a sua privacidade e as lim it ações de m ov im en t o q u an d o com d or, m an t er o am b ien t e aquecido, prover núm ero de funcionários necessários para que o banho sej a realizado por pessoas de sexo an álog o ao seu , b em com o a d isp on ib ilização d e m ateriais e equipam entos que possam garantir a sua q u al i d ad e assi st en ci al . Ad em ai s, o d esej o d e se const it uir com o m em bro part icipant e do processo de planej am ento de sua assistência, escolhendo o horário e o núm ero de banhos diários.
CONSI DERAÇÕES FI NAI S
Esta pesquisa, sob a perspectiva da Grounded Th eo r y e d o I n t er aci o n i sm o Si m b ó l i co , p er m i t i u com pr een der a ex per iên cia da pessoa depen den t e da enfer m agem par a o banho no leit o, culm inando com o desenvolvim ento e validação j unto aos próprios suj eitos de um m odelo teórico representativo de suas ex p er iên cias, d en om in ad o: p r op on d o u m m od elo assist encial de enfer m agem par a o banho no leit o, na perspect iva do processo avaliat ivo do pacient e.
p r o ced i m en t o t r a d i ci o n a l d o b a n h o n o l ei t o . Ao co n si d e r a r o p a ci e n t e co m o su j e i t o a t i v o n o p l a n e j a m e n t o co m p a r t i l h a d o d a a ssi st ê n ci a , a enferm agem t em acolhido a perspect iva do doent e, sem an alisá- la e discu t i- la, cr it icam en t e, j u n t o ao pacient e sob a ót ica t écnico- cient ífica.
O m ov im en t o d a eq u ip e d e en f er m ag em , m odificando a t écnica t radicional do banho no leit o, n a p er sp ect iv a d o p acien t e e d ist an cian d o- se d a ev o l u ção t écn i co - ci en t íf i ca, co n st i t u i - se em u m a variável que pode est ar int erferindo na preservação da int egridade da pele do pacient e acam ado.
As descober t as só f or am possív eis por se est ar, aqui, inst rum ent alizadas por referenciais com r aízes int er acionist as que, por sua v ez, cr iam um a i m a g em a t i v a d o ser h u m a n o , r ej ei t a n d o a su a passiv idade.
De posse desses conhecim ent os, suger e- se ao enferm eiro que volt e a sua at enção ao banho no leit o, p or q u e é d u r an t e o m esm o q u e se j u lg a a
qualidade do cuidado oferecido pelos outros elem entos da equipe, analisa- se as condições psicobiológicas do pacient e e se int erage com o m esm o.
Fa z- se n e ce ssá r i a a r e a p r o x i m a çã o d o en f er m eir o d o p r oced im en t o, v isan d o m elh or ar a qualidade do banho no leito oferecido por sua equipe, nas dim ensões relacionais e procedim entais, aj udando o pacient e a super ar um a ex per iência difícil de ser en f r en t ad a, con t u d o, am p ar ad o n a ev olu ção d os conhecim ent os t énico- cient íficos, principalm ent e, no que t ange à preservação da int egridade da pele.
Cabe ao enferm eiro part icipar e prom over a ca p a ci t a çã o t é cn i co - ci e n t íf i ca à e q u i p e d e enferm agem , exercendo a profissão no dom ínio legal ao p lan ej ar, ex ecu t ar, d eleg ar e su p er v ision ar os cuidados de enfer m agem e à inst it uição zelar pelo d i m e n si o n a m e n t o d e r e cu r so s h u m a n o s e p e l a provisão de m ateriais essenciais para um a assistência de qualidade, visando a preservação da int egridade h u m an a.
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