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Dinâmica do sistema binário Plutão-Caronte

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “J´ulio de Mesquita Filho”

Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguet´a

Dinˆamica do sistema bin´ario Plut˜ao-Caronte

Pryscilla Maria Pires dos Santos

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PRYSCILLA MARIA PIRES DOS SANTOS

DIN ˆAMICA DO SISTEMA BIN ´ARIO PLUT ˜AO-CARONTE

Tese apresentada `a Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguet´a, Universidade Estadual Paulista, para a obten¸c˜ao do t´ıtulo de Doutora em F´ısica na ´area de Astronomia Dinˆamica.

Orientadora: Prof➟ Dr➟Silvia Maria Giuliatti Winter Co-orientador: Prof. Dr. Rodney da Silva Gomes

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DADOS CURRICULARES

PRYSCILLA MARIA PIRES DOS SANTOS

NASCIMENTO 23.03.1984 - GUARATINGUET ´A/SP

FILIAC¸ ˜AO Silvio Ananias dos Santos

Regina Pires dos Santos

2004/2007 Curso de Gradua¸c˜ao

Licenciatura em Matem´atica - Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguet´a da Universidade Estadual Paulista.

2008/2009 Curso de P´os-Gradua¸c˜ao em F´ısica, n´ıvel de Mestrado, na

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S237d

Santos, Pryscilla Maria Pires dos

Dinâmica do sistema binário Plutão-Caronte / Pryscilla Maria Pires dos Santos - Guaratinguetá, 2014

107 f .: il.

Bibliografia: f. 78

Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 2014.

Orientadora: Profª Drª Silvia Maria Giuliatti Winter Coorientador: Rodney da Silva Gomes

1. Plutão (Planeta) 2. Satélites I. Título

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AGRADECIMENTOS

Muito especialmente, desejo agradecer a minha orientadora Prof➟ Dr➟ Silvia Maria Giuliatti Winter, pela disponibilidade, aten¸c˜ao dispensada, paciˆencia, incentivo, profis-sionalismo, e por todos os bons conselhos, os quais me ajudaram a ter uma posi¸c˜ao cr´ıtica perante as quest˜oes que surgiram durante o Curso de Doutorado. Agrade¸co tamb´em ao Prof. Dr. Rodney Gomes, meu co-orientador, que me auxiliou em todos os momentos que eu precisei e que me incentivou a fazer um est´agio de pesquisa no exterior.

Meus sinceros agradecimentos ao meu supervisor de est´agio de pesquisa Alessandro Morbidelli. Uma pessoa que foi sol´ıcita desde o primeiro contato por e-mail, que me recebeu muito bem na Fran¸ca e me ajudou a resolver todas as quest˜oes burocr´aticas envolvidas em uma mudan¸ca deste tipo. Ressalto que durante os 6 meses que estive em Nice, as discuss˜oes sobre o trabalho praticamente di´arias com o Morbidelli foram essenciais para o desenvolvimento de uma parte desta tese em um per´ıodo de tempo t˜ao curto. Agrade¸co tamb´em ao Dr. David Nesvorn´y por me auxiliar durante meu est´agio em Nice, enquanto ele tamb´em estava l´a.

Gostaria de agradecer tamb´em aos meus pais, Silvio e Regina, aos meus irm˜aos, Pa-trycia e Felipe, e a meu sobrinho, Luis Henrique, por compartilhar comigo todas as vit´orias ou dificuldades da vida, e por sempre me incentivarem dizendo “vocˆe consegue”.

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Este trabalho contou com o apoio da

Funda¸c˜ao de Amparo `a Pesquisa do Estado de S˜ao Paulo (FAPESP) atrav´es do processo n◦

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“ ´O mar salgado, quanto do teu sal S˜ao l´agrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas m˜aes choraram, Quantos filhos em v˜ao rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ´o mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma n˜ao ´e pequena. Quem quer passar al´em do Bojador Tem que passar al´em da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele ´e que espelhou o c´eu”

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PIRES, P. Dinˆamica do sistema bin´ario Plut˜ao-Caronte, 2014, 106 f., Tese (Doutorado em F´ısica) - Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguet´a, Univer-sidade Estadual Paulista, Guaratinguet´a, 2014.

RESUMO

Neste trabalho investigamos a evolu¸c˜ao orbital de part´ıculas de poeira que escapam das superf´ıcies de ambos sat´elites pequenos de Plut˜ao: Nix e Hidra, produzidas atrav´es do impacto de micrometeoroides nas superf´ıcies dos mesmos, sob influˆencia da press˜ao de radia¸c˜ao solar e dos efeitos gravitacionais de Plut˜ao, Caronte e dos pr´oprios sat´elites-fontes (Nix e Hidra). A taxa de produ¸c˜ao de massa dos gr˜aos de poeira microm´etricos foi obtida e simula¸c˜oes num´ericas foram realizadas para obter o tempo de vida destes gr˜aos no sistema plutoniano. Os gr˜aos ejetados de Nix e Hidra formam um anel de largura de aproximadamente 16.000 km, o que corresponde a distˆancia radial aproximada entre as ´orbitas de Nix e Hidra. Atrav´es das integra¸c˜oes num´ericas verificamos que colis˜oes de gr˜aos com os corpos massivos do sistema e escape em ´orbitas hiperb´olicas constituem os principais mecanismos de perda de material e s˜ao determinadas pelo efeito da press˜ao de radia¸c˜ao solar. Este importante mecanismo de desestabiliza¸c˜ao de gr˜aos de poeira em Plut˜ao, remove 30% do conjunto inicial de part´ıculas com raios de 1µm em apenas 1 ano. As demais part´ıculas que permanecem no sistema formam um anel muito tˆenue com uma profundidade ´optica m´axima de 4×10−11

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qual ´e creditada a origem da arquitetura do Cintur˜ao de Kuiper. Realizamos simula¸c˜oes num´ericas de N-corpos para remodelar a evolu¸c˜ao dinˆamica que originou a captura de Plut˜ao na ressonˆancia de movimento m´edio exterior 3:2 com Netuno. Inicialmente real-izamos simula¸c˜oes com um disco de part´ıculas sem massa e com objetos massivos tais como J´upiter, Saturno, Urano e Netuno. Verificamos que durante o processo de migra¸c˜ao planet´aria diversos planetesimais do disco tiveram encontros pr´oximos com os planetas gigantes do sistema Solar. Netuno ´e o planeta que concentra o maior n´umero de encon-tros pr´oximos com os planetesimais, para a distˆancia entre eles < 0,5 UA. Registramos cerca de 1.200 encontros com este planeta. Objetos de mesmos tamanhos e massas de Plut˜ao assumiram as trajet´orias hiperb´olicas dos planetesimais quando de um encontro pr´oximo com os gigantes de gelo – Urano ou Netuno. Adotamos a configura¸c˜ao m´utua e tamanhos e massas atuais para os sat´elites de Plut˜ao. Desta maneira, encontramos que a taxa de destrui¸c˜ao de sistemas similares ao de Plut˜ao que passam a menos de 0,10 UA de distˆancia de Urano ou Netuno ´e de 40%, isto ´e, estes encontros pr´oximos levam a remo¸c˜ao de sat´elites plutonianos ou elevam a excentricidade dos mesmos para valores maiores do que os observados neste sistema. No entanto, n´os tamb´em verificamos que o n´umero de encontros cujas separa¸c˜oes m´ınimas planetesimal-Urano ou Netuno < 0,10 UA ´e negli-genci´avel, representando 6% do total (81 de 1.400). Portanto, ´e muito prov´avel que um sistema como o de Plut˜ao j´a formado e evolu´ıdo, isto ´e, que apresenta a configura¸c˜ao orbital atual, n˜ao seria destru´ıdo pelo tipo de encontros que ocorreram durante a fase de instabilidade do sistema Solar externo. Assim, Plut˜ao poderia ter chegado ao Cintur˜ao de Kuiper sem perder seus sat´elites.

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PIRES, P. Dinˆamica do sistema bin´ario Plut˜ao-Caronte, 2014, 106 f., Tese (Doutorado em F´ısica) - Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguet´a, Univer-sidade Estadual Paulista, Guaratinguet´a, 2014.

ABSTRACT

In this work, we investigate the orbital evolution of the escaping dust from both small satellites of Pluto: Nix and Hydra, produced via impacts of micrometeoroids on the surfaces of the small satellites, under the influence of the solar radiation pressure combined with the gravitational effects of Pluto, Charon, and the parent-bodies (Nix and Hydra). The mass production rate of micron-sized dust particles is obtained and numerical simulations are performed to derive the lifetime of the ejecta. The ejected particles form a wide ring of about 16,000 km, which corresponds to the radial distance between the orbits of Nix and Hydra. Through the numerical simulations we verified that collisions with the massive bodies within the system and escape into hyperbolic orbits are the main mechanisms of loss of material, which are mainly determined by the solar radiation pressure acting on the grains. This important loss mechanism removes 30% of the initial set of 1µm-sized particles in 1 year. The surviving particles form a ring too faint to be detectable with a derived maximum optical depth of 4×10−11

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the Solar System. Neptune is the planet which concentrates the largest number of close encounters with the planetesimals for distances between them < 0.5 AU. We recorded about 1,200 encounters with this planet. In a new set of numerical simulations, Pluto similarly sized bodies, and as massive as Pluto, assumed the hyperbolic trajectories of the former planetesimals with respect to the giant planets ✖Uranus or Neptune. We assumed the current mutual orbital configuration and sizes for Pluto’s satellites, then we found that the rate of destruction of systems similar to that of Pluto passing less than 0.10 AU from Uranus or Neptune is 40%, i.e. these close approaches can lead to ejections of satellites from the system or to changes in the satellites eccentricities larger than the observed. However, we also found that the number of close approaches which the minimum separation to Uranus or Neptune<0.10 AU is neglegible. It is6% of the total (81 out of 1,400). Therefore, it is most likely that an already formed and evolved system like Pluto would not be disloged by the kind of encounters that may have happened during the instability phase of the outer Solar System. Thus, Pluto likely could have reached its current location without losing its satellites.

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Lista de Figuras

1 Plut˜ao e seus sat´elites: Caronte, Estige, Nix, C´erbero e Hidra. Cr´edito da imagem: Revista Fapesp – http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/08/13/perigo-em-plutao/ . . . 19 2 Valor num´erico do parˆametroC considerando gr˜aos esf´ericos de 1µm (· · ·)

e 10µm (—) de raios e densidades iguais a 1 g cm−3

, como fun¸c˜ao da distˆancia em raios de Plut˜ao. A barra cinza representa a distˆancia radial entre as ´orbitas de Nix e Hidra. . . 26 3 Valor num´erico do parˆametro C para gr˜aos esf´ericos de 1µm (· − · − ·) e

10µm (· · ·) de raios e densidades iguais a 1 g cm−3

, e do parˆametro de achatamento W (✖) em fun¸c˜ao da distˆancia ao corpo central. A barra cinza representa a distˆancia radial entre as ´orbitas de Nix e Hidra. . . 29 4 Imagens instantˆaneas, visualizadas a partir de cima num sistema de

re-ferˆencia baricˆentrico, de gr˜aos de poeira de 1µm de raio indicados por pequenas cruzes pretas, ejetados das supef´ıcies de Nix e Hidra. As ´orbitas de Caronte, Nix e Hidra tamb´em est˜ao indicadas. O tempo est´a indicado em cada quadro. . . 31 5 Imagens instantˆaneas, visualizadas a partir de cima num sistema de

re-ferˆencia baricˆentrico, de gr˜aos de poeira com raios iguais a 5µm e 10µm ejetados de Nix (cruzes vermelhas) e de Hidra (cruzes verdes). As ´orbitas de Caronte, Nix e Hidra tamb´em est˜ao indicadas. O tempo est´a indicado em cada quadro. . . 32 6 Taxa de decaimento da quantidade de gr˜aos de poeira no sistema, os quais

escaparam das superf´ıcies de Nix e Hidra. `A esquerda: gr˜aos com 1µm de raio; `a direita: gr˜aos com 10µm de raio. . . 33 7 De cima para baixo: plano de referˆencia x-y e uma representa¸c˜ao do plano-b

quando φ = 0◦

. A linha conectando o Sol, Plut˜ao e Caronte define o eixo-X. 43 8 N´umero de part´ıculas que possui um tempo de vida maior do que um dado

valor, para diferentes excentricidades assumidas para o disco de planetesi-mais emax = 0,1 ( a ), 0,07 ( b ), 0,05 ( c ) e 0,03 ( d ). . . 46 9 Evolu¸c˜ao orbital de part´ıculas capturadas por Plut˜ao-Caronte por pelo

menos 100 anos. Imagem superior: linhas azuis e verdes representam as distˆancias m´aximas e m´ınimas plutocˆentricas (Q e q), respectivamente, e as pretas representam o semi-eixo maior (a). Imagem do meio e inferior: evolu¸c˜ao temporal da excentricidade e inclina¸c˜ao, respectivamente. . . 48 10 Energia espec´ıfica de rompimento catastr´ofico em fun¸c˜ao do tamanho do

objeto-alvo, considerando alvos de gelo. Imagem extra´ıda de Benz & As-phaug (1999). . . 50 11 A evolu¸c˜ao de cada planeta ´e representada por trˆes curvas: af´elio, semi-eixo

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12 Evolu¸c˜ao temporal da excentricidade de cada um dos quatro planetas. . . . 62 13 Evolu¸c˜ao temporal da inclina¸c˜ao de cada um dos quatro planetas. . . 63 14 Semi-eixo maior por excentricidade das part´ıculas-teste. As linhas verticais

s´olidas indicam ressonˆancias de movimento m´edio com Netuno. . . 64 15 Semi-eixo maior por inclina¸c˜ao das part´ıculas-teste. As linhas verticais

s´olidas indicam ressonˆancias de movimento m´edio com Netuno. . . 65 16 Libra¸c˜ao do ˆangulo ressonante 3:2 de um planetesimal do disco em fun¸c˜ao

do tempo. . . 66

17 Evolu¸c˜ao orbital de um part´ıcula capturada na RMM 3:2 com Netuno.

Trˆes curvas s˜ao mostradas de cima para baixo: af´elio, semi-eixo maior e peri´elio. A linha horizontal s´olida indica a localiza¸c˜ao nominal da RMM 3:2 de acordo com a posi¸c˜ao final de Netuno obtida em nossa simula¸c˜ao da migra¸c˜ao planet´aria. . . 67 18 Exemplo de uma hist´oria de encontros pr´oximos de uma part´ıcula

cap-turada na RMM 3:2 com Netuno ap´os 108 anos. Os pontos pretos marcam

o in´ıcio de cada aproxima¸c˜ao para part´ıculas passando a menos de 0,5 UA do planeta. As linhas em cinza mostram as distˆancias em rela¸c˜ao a Netuno em fun¸c˜ao do tempo. . . 68 19 A esquerda: histograma do n´` umero de encontros para cada part´ıcula

pr´e-selecionada que ocorreu a menos de 0,5 UA de Urano; `a direita: histograma do n´umero de encontros para cada part´ıcula pr´e-selecionada que ocorreu a menos de 0,5 UA de Netuno. As linhas verticais pontilhadas s˜ao as medianas das distribui¸c˜oes. . . 69 20 A esquerda: encontro pr´oximo com Netuno de uma part´ıcula pr´e-selecionada;`

`a direita: energia em fun¸c˜ao do tempo da part´ıcula pr´e-selecionada em rela¸c˜ao ao Sol durante o encontro pr´oximo. . . 69 21 A esquerda: exemplo de um encontro pr´oximo entre Netuno e B1 para o`

qual a distˆancia m´ınima entre os dois ´e < 300 raios de Netuno (1 raio de Netuno ´e 25225 km); `a direita: varia¸c˜ao temporal da energia de 2 corpos de S2 com rela¸c˜ao `a Plut˜ao. Este encontro pr´oximo entre o sistema de B1 e Netuno resultou no escape de S2. . . 71 22 Elementos orbitais de B2 em um sistema de referˆencia centrado em B1 em

fun¸c˜ao do tempo durante um encontro pr´oximo em uma dada hist´oria de encontros pr´oximos. . . 72 23 Elementos orbitais de S1 em um sistema de referˆencia centrado no

baricen-tro do sistema em fun¸c˜ao do tempo durante um enconbaricen-tro pr´oximo em uma dada hist´oria de encontros pr´oximos. . . 73 24 Elementos orbitais de S2 em um sistema de referˆencia centrado no

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Lista de Tabelas

1 Parˆametros da ´orbita de Plut˜ao em um sistema de referˆencia heliocˆentrico. aSemi-eixo maior, excentricidade extra´ıdos de Murray & Dermott (1999). bDiˆametro e massa de Plut˜ao obtidos de Tholen et al. (2008). . . . 26 2 Elementos orbitais Keplerianos no equador m´edio e equin´ocio de J2000,

extra´ıdos de Tholen et al. (2008). Semi-eixo maior e excentricidade de Caronte s˜ao plutocˆentricos, enquanto que os de Nix e Hidra s˜ao baricˆentricos. As massas de Nix e Hidra foram obtidas assumindo-se densidades iguais a 1,63 g cm−3

. . . 28 3 Taxas de colis˜ao e escape de gr˜aos de poeira do sistema plutoniano

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Conte´

udo

1 Introdu¸c˜ao 19

2 Part´ıculas de poeira no sistema plutoniano: efeitos da press˜ao de

ra-dia¸c˜ao solar 22

2.1 For¸cas atuando nas part´ıculas de poeira . . . 24

2.1.1 Magnitude da for¸ca perturbadora . . . 24

2.1.2 Simula¸c˜oes num´ericas . . . 27

2.2 Part´ıculas que escapam de Nix e Hidra - modelo anal´ıtico . . . 34

2.3 Discuss˜ao dos resultados deste cap´ıtulo . . . 39

3 Captura dinˆamica no sistema Plut˜ao-Caronte 41 3.1 M´etodo . . . 42

3.2 Resultados . . . 45

3.2.1 Evento da captura . . . 45

3.2.2 Ruptura colisional . . . 49

3.3 Discuss˜ao dos resultados deste cap´ıtulo . . . 52

4 Evolu¸c˜ao de um sistema similar ao de Plut˜ao durante a fase de migra¸c˜ao dos planetas gigantes do sistema Solar 54 4.1 Encontros pr´oximos entre um sistema similar ao de Plut˜ao com Urano e Netuno . . . 59

4.1.1 A migra¸c˜ao dos planetas gigantes do sistema Solar . . . 59

4.1.2 Evolu¸c˜ao de sistemas bin´arios similares ao de Plut˜ao durante en-contros pr´oximos com Urano e Netuno determinados durante a mi-gra¸c˜ao planet´aria . . . 70

4.2 Discuss˜ao dos resultados deste cap´ıtulo . . . 76

5 Discuss˜ao geral 77

(19)

1

Introdu¸

ao

Caronte foi o primeiro sat´elite de Plut˜ao a ser descoberto em 1978 por Christy e Har-rington. Essa descoberta contribuiu muito para que o estudo de Plut˜ao fosse facilitado atrav´es dos eventos m´utuos entre os dois corpos. O diˆametro de Caronte ´e aproximada-mente metade do diˆametro de Plut˜ao, 1212 e 2294 km, respectivaaproximada-mente (Tholen et al. 2008). Nos anos 2.000 foram descobertos mais dois sat´elites de Plut˜ao, Nix e Hidra (Weaver et al. 2006), atrav´es de imagens do Telesc´opio Espacial Hubble. Na Fig. 1 podemos visualizar um esquema da configura¸c˜ao orbital dos sat´elites plutonianos, com o acr´escimo de C´erbero e Estige, outros dois sat´elites de Plut˜ao descobertos em 2011 e 2012, respectivamente, para os quais forneceremos mais detalhes na sequˆencia.

Figura 1: Plut˜ao e seus sat´elites: Caronte, Estige, Nix, C´erbero e Hidra. Cr´edito da im-agem: Revista Fapesp – http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/08/13/perigo-em-plutao/

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ao plano da ecl´ıptica ( 17 graus), o que o coloca em um plano orbital particulamente diferente dos planetas do sistema Solar.

Em termos gerais, a proposta deste trabalho ´e analisar a dinˆamica envolvendo o bin´ario Plut˜ao-Caronte e os demais sat´elites pequenos que comp˜oem o sistema. Um dos objetivos ´e aprofundar o estudo dos efeitos gravitacionais destes corpos massivos e da radia¸c˜ao solar em part´ıculas de poeira de diferentes tamanhos. Os gr˜aos seriam produzidos atrav´es de colis˜oes de micrometeoroides com as superf´ıcies de Nix e Hidra. Comparando o tempo de vida dos conjuntos de gr˜aos de poeira no sistema, obtido atrav´es de simula¸c˜oes num´ericas, com a taxa de produ¸c˜ao de massa para o susposto anel gerado pelo mecanismo de colis˜oes, estimamos a profundidade ´optica m´axima para um anel espalhado na regi˜ao entre as ´orbitas de Nix e Hidra. Utilizamos modelos anal´ıticos, os quais ser˜ao descritos no Cap´ıtulo 2, para descrever a produ¸c˜ao de material que alimentaria o anel.

Atualmente n˜ao ´e consenso comum a forma¸c˜ao dos sat´elites de Plut˜ao e como eles evolu´ıram orbitalmente at´e chegarem em seus respectivos semi-eixo maiores atuais com excentricidades baixas e com inclina¸c˜oes em rela¸c˜ao ao plano orbital Plut˜ao-Caronte prati-camente desprez´ıveis. Basiprati-camente duas maneiras distintas de origem destes sat´elites foram discutidas nos ´ultimos anos: os sat´elites menores foram formados a partir de mate-rial (detritos) provenientes do impacto formador de Caronte (por ex. Canup 2005, 2011), e Estige, Nix, C´erbero e Hidra poderiam ser objetos que foram capturados pela bin´ario. An´alises das composi¸c˜oes das superf´ıcies destes objetos poderiam contribuir significativa-mente para a aceita¸c˜ao ou rejei¸c˜ao de um eventual modelo de forma¸c˜ao, pois se os sat´elites forem compostos do mesmo tipo de material do bin´ario (rico em gelo), eles devem ter tido uma forma¸c˜ao conjunta (Canup, 2011). Por´em, an´alises deste tipo requerem dados que somente poder˜ao ser coletados atrav´es de instrumentos cient´ıficos embarcados em uma sonda espacial que fosse lan¸cada com o objetivo de passar por este sistema. A sondaNew Horizonsda agˆencia estadunidense NASA lan¸cada em 2006 poder´a contribuir muito neste sentido. A passagem da sonda pelo sistema de Plut˜ao est´a prevista para o ano de 2015.

Estudamos tamb´em um modelo alternativo para a origem de Nix e Hidra e demais sat´elites pequenos. Esta parte do projeto foi desenvolvida durante meu est´agio de pesquisa no exterior sob orienta¸c˜ao do pesquisador A. Morbidelli. Trabalhamos com a hip´otese de que um disco de acres¸c˜ao composto por detritos seria gerado a partir de colis˜oes de objetos capturados por Plut˜ao-Caronte do disco heliocˆentrico primordial com outros corpos do pr´oprio disco. Tendo como premissa o fato de que Plut˜ao era um membro do disco de planetesimais primordial (Stern 1991), verificamos, portanto, que capturas deste tipo poderiam ocorrer com probabilidade n˜ao-negligenci´avel. O disco de detritos colisional poderia atuar de uma forma dissipativa, diminuindo as excentricidades e inclina¸c˜oes dos detritos por colis˜oes m´utuas. Eventualmente, mais tarde este disco poderia dar origem aos sat´elites pequenos de Plut˜ao.

(21)

como premissa o modelo de Nice (Tsiganis et al. 2005, Morbidelli et al. 2005, Gomes et al. 2005) – um cen´ario que foi capaz de reproduzir alguns parˆametros atuais, tais como semi-eixo maior, excentricidade e inclina¸c˜ao, de cada um dos planetas gigantes do sistema Solar. Plut˜ao ´e um membro do Cintur˜ao de Kuiper (KB) (um disco de numerosos objetos que orbitam o Sol al´em da ´orbita de Netuno), e cuja origem est´a relacionada com o per´ıodo de instabilidade do sistema Solar externo (p. ex., Tsiganis et al. 2005, Levison et al. 2008). Evolu´ımos o sistema de Plut˜ao completo fazendo com que o corpo central assumisse separadamente as ´orbitas de encontros entre planetesimais do disco primordial e planetas.

(22)

2

Part´ıculas de poeira no sistema plutoniano: efeitos

da press˜

ao de radia¸

ao solar

Neste cap´ıtulo s˜ao apresentados os resultados da an´alise da evolu¸c˜ao orbital de part´ıculas de poeira com tamanhos da ordem de micrometros ejetadas das superf´ıcies dos sat´elites Nix e Hidra sob os efeitos da press˜ao de radia¸c˜ao solar. Estes resultados comp˜oem o artigo

Small particles in Pluto’s environment: effects of the solar radiation pressure dispon´ıvel no Anexo A1.

Ap´os a descoberta de Nix e Hidra por Weaver et al. (2006) grande esfor¸co foi feito no in-tuito de encontrar novos sat´elites ou an´eis no sistema de Plut˜ao. C´erbero, o quarto sat´elite de Plut˜ao, foi descoberto em 2011 atrav´es de observa¸c˜oes realizadas com o telesc´opio es-pacialHubble conduzidas por M. R. Showalter (Showalter et al. 2012, 2013). As primeiras estimativas indicam que C´erbero est´a localizado entre as ´orbitas de Nix e Hidra, e tem um diˆametro entre 13 e 34 km1. A localiza¸c˜ao desta lua corrobora os resultados apresentados

por Pires dos Santos et al. (2011). No mesmo conjunto de imagens n˜ao foram detectados an´eis ao redor de Plut˜ao, o qual era o objetivo principal da proposta observacional. Um ano mais tarde, outro pequeno sat´elite (Estige) foi descoberto (Showalter et al. 2012). Estima-se que Estige orbita o baricentro do sistema a uma distˆancia radial de aproxi-madamente 45.000 km e no mesmo plano orbital de Caronte, e que possui um diˆametro pequeno entre 9 e 24 km2.

Um anel de poeira neste sistema seria composto essencialmente por material produzido por colis˜oes entre os sat´elites de Plut˜ao e pequenos objetos do pr´oprio KB (Thiessenhusen et al. 2002, Stern et al. 2006, Steffl & Stern 2007). Espera-se que impactos deste tipo sejam os respons´aveis por gerar poeira a partir da superf´ıcie de um sat´elite que poderia evoluir e colidir em outros objetos do sistema de Plut˜ao, e seriam, portanto, respons´aveis pela evolu¸c˜ao fotom´etrica dos sat´elites alcan¸cando albedos e cores similares (Stern 2009). Conforme Stern mostrou, pequenos objetos do Cintur˜ao de Kuiper ao colidirem com os sat´elites Nix e Hidra teriam velocidades de escape suficientes para evoluir dinamicamente e ent˜ao colidir com Caronte, Plut˜ao ou o outro sat´elite pequeno – Nix ou Hidra.

Thiessenhusen et al. (2002) mostraram que uma nuvem de poeira, formada principal-mente de material ejetado por impactos de micrometeoroides na superf´ıcie de Caronte, pode existir ao redor do bin´ario Plut˜ao-Caronte. Neste modelo, as ´orbitas das part´ıculas do anel eram perturbadas pelos dois corpos massivos, sendo que qualquer efeito devido `a radia¸c˜ao solar n˜ao foi considerado, pois os pesquisadores argumentaram que Plut˜ao est´a muito distante do Sol, logo o efeito da radia¸c˜ao n˜ao deveria ser importante. O anel de poeira resultante, composto por part´ıculas da ordem de micrometros, teria uma profun-didade ´optica m´axima de 3 ×10−11

.

Stern et al. (2006) mostraram que para um anel composto por part´ıculas de gelo puro

1

http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2011/2011/23/

2

(23)

ejetadas das superf´ıcies de Nix e Hidra, com um tempo de vida m´edio de 105 anos e

espalhadas entre as ´orbitas dos dois sat´elites, teria uma profundidade ´optica de 5 ×10−6 . Neste estudo somente as for¸cas gravitacionais exercida pelos corpos massivos do sistema estavam atuando. O valor obtido ´e 5 ordens de magnitude maior do que a estimativa de Thiessenhusen et al. No entanto, mostraremos na sequˆencia que o tempo de vida para os gr˜aos de 105 anos foi superestimado, o que tem influˆencia direta no c´alculo da massa de

um anel estacion´ario. Vimos que o tempo de vida dessas part´ıculas quando consideramos os efeitos da press˜ao de radia¸c˜ao solar ´e da ordem de dezenas de anos. Isso ´e devido, principalmente, `a grande varia¸c˜ao da excentricidade apresentada pelos gr˜aos em poucos per´ıodos orbitais.

Uma part´ıcula escapa de um corpo-fonte quando sua velocidade inicial ´e maior do que a velocidade de escape do sat´elite (vesc). Corpos celestes maiores como Plut˜ao e Caronte, por exemplo, produzem menos gr˜aos por eje¸c˜ao quando do impacto com outros corpos menores, do que luas pequenas como Nix e Hidra. Espera-se que no caso de colis˜oes de detritos interplanet´arios, cujas velocidades de impacto variam de 1 a 2 km s−1

, com as superf´ıcies de Plut˜ao e Caronte, o material gerado acabe re-impactando nos pr´oprios objetos devido aos altos valores de vesc de ambos membros do bin´ario, cerca de 1,2 e 0,6 km s−1

, respectivamente, (por ex. Hartmann 1985, Stern 2009). Por outro lado, Nix e Hidra apresentam velocidades de escape muito menores, pelo menos uma ordem de mag-nitude menor que avesc de Caronte. Com os parˆametros f´ısicos de Nix e Hidra extra´ıdos de Tholen et al. (2008), calculamos as respectivas velocidades de escape: 0,042 km s−1 e 0,034 km s−1

. Assim, n˜ao inclu´ımos produ¸c˜ao de poeira a partir das superf´ıcies dos membros do bin´ario, mas somente das luas menores: Nix e Hidra.

Steffl & Stern (2007) derivaram um limite superior para a profundidade ´optica de an´eis plutocˆentricos no valor de 1,3×10−5

utilizando dados observacionais obtidas com o telesc´opio espacial Hubble. Com este valor, foi poss´ıvel estimar um tempo de vida de 900 anos para as part´ıculas de um anel espalhado na regi˜ao entre as ´orbitas de Nix e Hidra. Esse foi o primeiro trabalho a apresentar limites deste tipo, uma vez que caso houvesse no sistema de Plut˜ao anel de poeira com profundidade ´optica maior que 10−5

, ele poderia ter sido identificado nas imagens coletadas.

(24)

plutocˆentricos sobem de 10−11

(como em Thiessenhusen et al.) para valores da ordem de 10−10

a 10−8

para os tamanhos de 0,5 a 50µm, respectivamente.

Em nosso estudo, n´os analisamos a possibilidade da contribui¸c˜ao dos sat´elites pequenos Nix e Hidra para formar, via mecanismo de eje¸c˜ao de material por colis˜ao de pequenos objetos interplanet´arios com as superf´ıcies destes sat´elites, um anel plutoniano. N˜ao consideramos a poss´ıvel contribui¸c˜ao de gr˜aos ejetados de Plut˜ao ou Caronte. Conforme mostra Thiessenhusen et al. (2002, Fig. 4), na regi˜ao entre 45-58 raios de Plut˜ao-Rp (regi˜ao que engloba as ´orbitas de Nix e Hidra), o ac´umulo de material cuja origem s˜ao as superf´ıcies dos membros do bin´ario ´e negligenci´avel.

Este cap´ıtulo ´e dividido em 4 se¸c˜oes. Em 2.1, n´os analisamos qual ´e a intensidade relativa entre a press˜ao de radia¸c˜ao solar e o campo gravitacional de Plut˜ao. Esta raz˜ao foi definida em Hamilton & Krivov (1996) e chamada de parˆametroC. Este parˆametro nos permite verificar a importˆancia da for¸ca de radia¸c˜ao solar dentro da esfera de influˆencia de Plut˜ao. Dando seguimento, apresentamos de forma detalhada as simula¸c˜oes num´ericas realizadas. Em nosso modelo num´erico Plut˜ao est´a em uma ´orbita excˆentrica (Tabela 1) e seu alto valor de obliquidade (119 graus, Tholen & Buie 1997) tamb´em ´e inserido no problema. Na se¸c˜ao 2.2, n´os utilizamos um modelo anal´ıtico (p. ex., Krivov et al. 2003) que nos permitiu obter uma estimativa da taxa de produ¸c˜ao de massa a partir das colis˜oes. A combina¸c˜ao dos resultados, anal´ıtico e num´erico, nos ajuda a obter v´ınculos para a profundidade ´optica de um anel de poeira no sistema plutoniano. Quando se trata de an´eis a profundidade ´optica ´e uma medida de grande relevˆancia. Ela basicamente expressa uma medida da transparˆencia de um sistema de an´eis, em outras palavras quando a profundidade ´optica ´e um valor alto isso significa que o anel ´e opaco e pouca luz atravessa a regi˜ao ocupada por ele. Assim, a profundidade nos fornece informa¸c˜oes da cobertura de uma regi˜ao relacionando a quantidade de material ali depositado e os tamanhos dos mesmos com a passagem de feixes de radia¸c˜ao na forma de luz. Discutimos os resultados deste cap´ıtulo em 2.3.

2.1

For¸

cas atuando nas part´ıculas de poeira

Analisamos a evolu¸c˜ao de part´ıculas de poeira ejetadas das superf´ıcies de Nix e Hidra sob os efeitos gravitacionais dos quatro corpos massivos do sistema: Plut˜ao, Caronte, ambos corpos-fontes e da press˜ao de radia¸c˜ao solar.

2.1.1 Magnitude da for¸ca perturbadora

(25)

A for¸ca de radia¸c˜ao solar pode ser dividida em 2 componentes: o arrasto de Poynting-Robertson (arrasto PR, daqui em diante) e a press˜ao de radia¸c˜ao solar (RP, na sequˆencia deste texto) (por ex. Burns et al. 1979, Mignard 1984). Cada componente atua em escalas de tempo distintas e tem um efeito particular nas ´orbitas das part´ıculas: o arrasto PR ´e uma for¸ca que necessita de uma escala de tempo maior para atuar, e ´e respons´avel, principalmente, pelo colapso da ´orbita da part´ıcula para um per´ıodo em geral>105 anos;

por outro lado, a componente RP pode mudar a excentricidade da ´orbita de um gr˜ao de poeira em uma escala de tempo compar´avel ao per´ıodo orbital do planeta ( 102

anos neste caso). Uma vez que limitamos nossas integra¸c˜oes num´ericas inicialmente a um per´ıodo m´aximo de 103 anos, n˜ao h´a preju´ızo em n˜ao considerar a inclus˜ao do arrasto

PR. A compara¸c˜ao ´e simples, se a componente RP tiver efeito significativo nas ´orbitas de gr˜aos ejetados dos sat´elites, uma possiblidade ´e o escape de grande parte deste material do sistema plutoniano, o que n˜ao proporcionaria tempo suficiente para que o arrasto PR pudesse provocar qualquer modifica¸c˜ao nos semi-eixos maiores das part´ıculas.

Para verificarmos se a componente RP tem uma influˆencia significativa na dinˆamica orbital de gr˜aos microm´etricos no sistema de Plut˜ao, calculamos o parˆametro adimensional

C. Como definido por Hamilton & Krivov (1996), C pode ser escrito como:

C = 9 8

n ns

Qpr Fsr2

GM cρs (1)

em quen´e o movimento m´edio da part´ıcula que est´a em ´orbita ao redor do corpo central ens ´e o movimento m´edio do corpo central em ´orbita ao redor do Sol,r´e o vetor posi¸c˜ao da part´ıcula em rela¸c˜ao a Plut˜ao e r=|r|, Fs ´e a densidade do fluxo da radia¸c˜ao solar na distˆancia heliocˆentrica de Plut˜ao, Qpr ´e o fator de eficiˆencia da press˜ao de radia¸c˜ao relacionado a absor¸c˜ao ou reflex˜ao da radia¸c˜ao pela part´ıcula, c´e a velocidade da luz, G

´e a constante gravitacional usual, M´e a massa de Plut˜ao, e ρ e s s˜ao a densidade e raio do gr˜ao de poeira, respectivamente.

Alguns elementos orbitais e parˆametros f´ısicos de Plut˜ao utilizados neste trabalho est˜ao listados na Tabela 1, em que a´e o semi-eixo maior, e ´e a excentricidade orbital, D

´e o diˆametro e M´e a massa.

A varia¸c˜ao de C como fun¸c˜ao da distˆancia a Plut˜ao pode ser vista na Figura 2 para duas part´ıculas com raios iguais a 1 e 10µm. Assumimos que os gr˜aos s˜ao esf´ericos com uma densidade uniforme igual a 1 g cm−3

(26)

Parˆametros Plut˜ao

a (UA)a 39,482

e a 0,249

D (km)b 2294

M (kg)b 1,3 × 1022

Tabela 1: Parˆametros da ´orbita de Plut˜ao em um sistema de referˆencia heliocˆentrico. aSemi-eixo maior, excentricidade extra´ıdos de Murray & Dermott (1999). bDiˆametro e massa de Plut˜ao obtidos de Tholen et al. (2008).

Como esperado, part´ıculas com tamanhos menores s˜ao mais sens´ıveis aos efeitos da

componente RP do que part´ıculas com tamanhos maiores. A magnitude de C ´e de

aproximadamente 10 para as part´ıculas de 1µm e aproximadamente 1 para as de 10µm lo-calizadas entre as ´orbitas de Nix e Hidra, entre45-58Rp (´area em cinza na Figura 2). Ou seja, os efeitos da componente RP s˜ao 10 vezes mais intensos nos gr˜aos de poeira que or-bitam o baricentro do sistema plutoniano do que o pr´oprio campo gravitacional de Plut˜ao. Embora este planeta-an˜ao esteja distante do Sol, semi-eixo maior m´edio 39,5 UA, seu tamanho pequeno quando comparado aos planetas gigantes do sistema Solar, faz com que a RP seja uma componente de grande importˆancia e que deve ser levada em considera¸c˜ao quando do estudo da dinˆamica de an´eis de poeira.

Figura 2: Valor num´erico do parˆametro C considerando gr˜aos esf´ericos de 1µm (· · ·) e 10µm (—) de raios e densidades iguais a 1 g cm−3

(27)

2.1.2 Simula¸c˜oes num´ericas

Para analisarmos a evolu¸c˜ao orbital dos gr˜aos de poeira ejetados das superf´ıcies de Nix e Hidra, simulamos numericamente o conjunto das part´ıculas sob os efeitos gravitacionais dos quatro corpos massivos e da componente RP.

Em Burns et al. (1979) a equa¸c˜ao da for¸ca de radia¸c˜ao solar em uma part´ıcula de poeira se movendo em rela¸c˜ao ao Sol com velocidade v, se¸c˜ao de choque A e massa m ´e escrita como:

Fr =mv˙ =

FsAQpr c

1

c

ˆ

S v c

(2)

em que ˙r ´e a velocidade radial da part´ıcula e ˙r =v ·Sˆ, ˆS´e um vetor unit´ario na dire¸c˜ao da radia¸c˜ao incidente e Qpr,Fs e cj´a foram definidos anteriormente. Tomamos Qpr = 1. A parcela da Eq. 2 independente das velocidades ´e chamada de componente da press˜ao de radia¸c˜ao, e a dependente ´e chamada de Arrasto de Poynting-Robertson.

A Eq. 2 pode ser escrita em termos das componentes nas dire¸c˜oes x, y ez, para uma part´ıcula em ´orbita ao redor de um planeta com obliquidade γ como (Sfair & Giuliatti Winter 2009):

Fx = βGM

r2 sp

[cos(nst)−( xs rsp

)2(vxs

c + vx

c )−( vxs

c + vx

c)] (3)

Fy = βGM

r2 sp

[cos(γ)sen(nst)−( ys rsp

)2(vys

c + vy

c)] (4)

Fz = βGM

r2 sp

[sen(γ)sen(nst)−( zs rsp

)2(vzs

c + vz

c)] (5)

em quec´e a velocidade da luz, (xs, ys, zs) s˜ao as componentes do vetor posi¸c˜ao Sol-planeta rsp, (vxs, vys, vzs) s˜ao as componentes da velocidade do planeta ao redor do Sol, (vx, vy, vz) s˜ao as componentes da velocidade da part´ıcula relativas ao planeta, G ´e a constante gravitacional, M e ns s˜ao a massa do corpo central e o movimento m´edio deste ao redor do Sol, respectivamente. O valor de β foi fornecido por Burns et al.(1979):

β = 5.7×10−5Qpr

ρs (6)

em que s eρ s˜ao o raio e a densidade de uma part´ıcula esf´erica.

(28)

Parˆametros Caronte Nix Hidra

a (km) 19570,3 (a0) 49240 65210

e 0,0035 0,0119 0,0078

i (◦

) 96,168 96,190 96,362

diˆametro (km) 1212 88 72

massa (kg) 1,5 × 1021 5,8 × 1017 3,2 × 1017

Tabela 2: Elementos orbitais Keplerianos no equador m´edio e equin´ocio de J2000, ex-tra´ıdos de Tholen et al. (2008). Semi-eixo maior e excentricidade de Caronte s˜ao plu-tocˆentricos, enquanto que os de Nix e Hidra s˜ao baricˆentricos. As massas de Nix e Hidra foram obtidas assumindo-se densidades iguais a 1,63 g cm−3

.

A distribui¸c˜ao cumulativa de tamanhos t´ıpica de an´eis de poeira pode ser descrita por uma lei de potˆencia (Burns et al. 2001):

n(s) =Ks−q

(7)

em que a letra q ´e o ´ındice da lei de potˆencia, tal que um alto valor para q indica uma distribui¸c˜ao com uma grande quantidade de part´ıculas pequenas e pouqu´ıssimas part´ıculas grandes. Embora n˜ao tiv´essemos um valor que fosse mais adequado para descrever a distribui¸c˜ao dos gr˜aos, adotamos o ind´ıceq = 3,5, que representa a distribui¸c˜ao observada nos an´eis internos de Urano. Burns et al. salienta que distribui¸c˜oes com q > 7 nunca foram encontradas. Assumimos uma popula¸c˜ao representativa dos gr˜aos que s˜ao ejetados das superf´ıcies de Nix e Hidra caracterizada por gr˜aos pequenos, ou seja, em nossas simula¸c˜oes num´ericas adotamos conjuntos de gr˜aos de puro gelo, com raios iguais a 1, 5 e 10µm. Para cada tamanho, foram ejetadas 360 part´ıculas das superf´ıcies de cada sat´elite simultaneamente (1 part´ıcula por grau), e por simplicidade ´e considerado que a trajet´oria inicial dos gr˜aos ´e perpendicular as superf´ıcies dos sat´elites. As part´ıculas s˜ao distribu´ıdas no equador do corpo-fonte.

As integra¸c˜oes num´ericas foram realizadas utilizando o algoritmo Bulirsch-Stoer pre-sente no pacote Mercury 6.2 (Chambers 1999), ap´os a inclus˜ao da for¸ca definida na Eq. 2. O movimento de uma part´ıcula ´e integrado at´e que exceda a distˆancia de 100a0

( 2× 106 km) de Plut˜ao ou at´e que ocorra uma colis˜ao f´ısica com um dos objetos

do sistema (distˆancia part´ıcula-corpo massivo ´e menor que o raio do respectivo massivo). As part´ıculas de poeira n˜ao interagem gravitacionalmente entre si.

Em nossa an´alise nos limitamos as part´ıculas ejetadas com vi = vesc, ou seja,

sufi-ciente para que ocorra o escape dos respectivos sat´elites-fontes. Simulando numericamente part´ıculas com velocidade iniciaisvi > vesc, verificamos que elas s˜ao perdidas rapidamente

(29)

Hidra ´e o corpo-fonte, a quantidade aumenta para 43%.

O efeito esperado do achatamento do corpo central nas part´ıculas ´e a atenua¸c˜ao da varia¸c˜ao do e impedindo que as excentricidades das ´orbitas das part´ıculas ultrapassem, em muitos casos, o limite de uma ´orbita el´ıptica (Hor´anyi et al. 1992). Atualmente, o coeficiente de achatamento (J2) de Plut˜ao n˜ao ´e conhecido, no entanto, se adotarmos a estimativa de Beauvalet et al. (2012) podemos investigar se o achatamento estimado poderia ter um efeito importante no contexto geral da evolu¸c˜ao das part´ıculas de poeira. Verificamos os poss´ıveis efeitos da inclus˜ao do J2 (estimativa da ordem de 10−4

) de duas maneiras: primeiramente atrav´es do parˆametro definido em Hamilton & Krivov (1996):

W = 3 2J2

Rp a

2

n ns

(8)

em que R ´e o raio equatorial do corpo central, no caso Plut˜ao, e a ´e a distˆancia a este corpo; e na sequˆencia atrav´es de simula¸c˜oes num´ericas com e sem J2 para conjuntos de gr˜aos com mesmas condi¸c˜oes iniciais, as quais foram descritas anteriormente. O efeito do poss´ıvel achatamento, seguindo a Eq. 8, ´e pelo menos 103 vezes mais fraco que a radia¸c˜ao

solar para part´ıculas ejetadas dos sat´elites Nix e Hidra. Podemos observar esse resultado na Figura 3.

Figura 3: Valor num´erico do parˆametro C para gr˜aos esf´ericos de 1µm (· − · − ·) e 10µm (· · ·) de raios e densidades iguais a 1 g cm−3

, e do parˆametro de achatamentoW (✖) em fun¸c˜ao da distˆancia ao corpo central. A barra cinza representa a distˆancia radial entre as ´orbitas de Nix e Hidra.

(30)

Portanto, a press˜ao de radia¸c˜ao solar ´e a perturba¸c˜ao mais significativa longe de Plut˜ao, e o achatamento do planeta pode ser negligenciado sem nenhum preju´ızo nos resultados. Daqui em diante, n´os consideramos somente os conjuntos de simula¸c˜oes sem o achata-mento.

(31)
(32)
(33)

O decaimento da quantidade de part´ıculas no sistema em fun¸c˜ao do tempo pode ser visualizado nas Figuras 6(a) e (b), que correspondem a part´ıculas com 1 e 10µm de raios. Como esperado, part´ıculas maiores sofrem menos o efeito da componente RP e permanecem gravitacionalmente ligadas a Plut˜ao por um per´ıodo de tempo maior, embora estes per´ıodos sejam da ordem de dezenas ou centenas de anos somente, independemente do sat´elite-fonte. Em 5 anos, 98% dos gr˜aos de 1 micrometro foi removido do sistema, enquanto que s˜ao necess´arios aproximadamente 200 anos para que 90% do conjunto inicial de gr˜aos com 10µm de raio seja eliminado. Aprofundaremos, na pr´oxima se¸c˜ao, a discuss˜ao em rela¸c˜ao a evolu¸c˜ao das part´ıculas na regi˜ao entre Nix e Hidra e a correspondˆencia com o c´alculo da estimativa da profundidade ´optica para o arco de poeira entre os sat´elites.

0 20 40 60 80 100

0 5 10 15 20 25 30

Quantidade de particulas (

%

)

Tempo (anos) Ejetado de Hidra

Ejetado de Nix

0 20 40 60 80 100

0 200 400 600 800 1000

Quantidade de particulas (

%

)

Tempo (anos) Ejetado de Hidra

Ejetado de Nix

Figura 6: Taxa de decaimento da quantidade de gr˜aos de poeira no sistema, os quais escaparam das superf´ıcies de Nix e Hidra. `A esquerda: gr˜aos com 1µm de raio; `a direita: gr˜aos com 10µm de raio.

(34)

Ejetado de Nix

P (%) C (%) N (%) H (%) E (%)

µm

1 14 17 2 0 67

5 39 6 2 0 53

10 49 3 7 0 41

Ejetado de Hidra

P (%) C (%) N (%) H (%) E (%)

µm

1 14 12 0 1 73

5 27 5 0 1 67

10 70 1 0 2 27

Tabela 3: Taxas de colis˜ao e escape de gr˜aos de poeira do sistema plutoniano considerando diferentes tamanhos, tal que P se refere a Plut˜ao, C a Caronte, N a Nix e H a Hidra. Escape ´e indicado pela letra E.

A remo¸c˜ao de material do sistema devido a escape alcan¸ca 70% do conjunto inicial de gr˜aos com 1µm de raio. A transferˆencia de poeira produzida por colis˜oes com Nix para Hidra e vice-versa ´e praticamente nula. Nossas simula¸c˜oes num´ericas tamb´em mostraram que a colis˜ao dos gr˜aos gerados com os pr´oprios sat´elites-fontes consiste em um mecanismo de perda de material menos importante do que a eje¸c˜ao do sistema, o que est´a de acordo com os resultados de Poppe & Hor´anyi (2011). ´E importante salientarmos que gr˜aos que re-impactam em Nix e Hidra n˜ao tem energia suficiente para produzir poeira atrav´es dessas colis˜oes, pois a velocidade de re-colis˜ao j´a ´e menor que a do impacto inicial.

Na pr´oxima se¸c˜ao analisamos a massa e a profundidade ´optica de um anel hipot´etico gerado atrav´es de impactos de pequenos detritos interplanet´arios nas superf´ıcies de Nix e Hidra. A compara¸c˜ao dos resultados num´ericos com uma estimativa da taxa de produ¸c˜ao de massa pelos sat´elites nos auxiliar´a a estabelecer v´ınculos para as duas quantidades mencionadas.

2.2

Part´ıculas que escapam de Nix e Hidra - modelo anal´ıtico

(35)

a serem definidos na sequˆencia deste texto. O modelo anal´ıtico utilizado nesta tese ´e tamb´em utilizado em Krivov et al. (2003), Sfair & Giuliatti Winter (2012), sendo que o primeiro ´e aplicado para sat´elites de J´upiter e Saturno, enquanto que o segundo ´e utilizado para se calcular a produ¸c˜ao de massa do anel µ de Urano. Em muitas das equa¸c˜oes por n´os utilizadas aparecem vari´aveis cujas medidas n˜ao s˜ao conhecidas ou que foram extra´ıdas de regi˜oes mais internas do sistema Solar. Desta maneira, ´e comum trabalhar com extrapola¸c˜ao ou estimativas desses valores.

A distribui¸c˜ao de detritos interplanet´arios foi medida localmente nas distˆancias de J´upiter e Saturno (Humes 1980, Gr¨un 1993). A bordo da sonda Pionner 10 da NASA foi embarcado um aparelho conhecido como contador de poeira. Este aparelho tem a fun¸c˜ao de fornecer informa¸c˜oes sobre o tipo de material presente no caminho da sonda, conforme essas part´ıculas o atinge. O contador de poeira da Pionner 10 mediu uma distribui¸c˜ao de part´ıculas praticamente constante 10−12

kg de 3 a 18 UA (Humes 1980). Muitos desses dados foram incorporados no modelo proposto por Divine (1993). De fato, os dados coletados por esta sonda na d´ecada de 70, foram adaptados para se obter estimativas do fluxo de gr˜aos pr´oximo as ´orbitas de Saturno, Urano e Netuno (Krivov et al. 2003, Porter et al. 2010). Embora novos dados estejam sendo coletados com o contador de poeira a bordo da sondaNew Horizons, na ´epoca que fizemos este trabalho esses dados novos ainda n˜ao tinham sido divulgados.

Para conhecermos a quantidade de material gerado das superf´ıcies de Nix e Hidra por impactos destes pequenos objetos interplanet´arios a primeira medida que precisamos obter ´e o fluxo dos detritos interplanet´arios que cruzam o sistema de Plut˜ao. Como dissemos, esta informa¸c˜ao pode ser obtida atrav´es de extrapola¸c˜ao do fluxo medido em regi˜oes internas do sistema Solar. Assumiremos que o fluxo em dire¸c˜ao a Plut˜ao, em 30 UA se assemelha ao valor extrapolado para Netuno, isto ´e, F∞

imp = 1.0×10

−16

kg m−2 s−1 (Porter et al.), o qual corresponde ao fluxo de part´ıculas interplanet´arias pr´oximo ao peri´elio de Plut˜ao. O s´ımbolo indica que o valor foi medido longe do corpo central e ser´a corrigido atrav´es da focaliza¸c˜ao gravitacional. Valor semelhante foi adotado em Thiessenhusen et al. para obter o fluxo de detritos em Plut˜ao.

A focaliza¸c˜ao gravitacional ´e uma corre¸c˜ao que se faz para se obter o fluxo de detritos na distˆancia de um sat´elite (Fimp), ou pr´oxima do corpo central. Isto deve ser feito devido ao fato dos detritos serem acelerados em dire¸c˜ao ao corpo central quando entram na esfera de influˆencia deste corpo. Assim, vimp definida como a velocidade m´edia das part´ıculas perto do corpo central, tende a ser maior do que aquela longe do corpo central (v∞

imp), enquanto que nimp definido como sendo o n´umero de part´ıculas por unidade de volume (densidade espacial) perto do corpo central, tende tamb´em a ser maior do que o valor longe do corpo central (n∞

imp). Calculamos vimp e nimp para cada sat´elite separadamente. A focaliza¸c˜ao gravitacional ´e feita calculando-se as raz˜oes entre as velocidades (vimp/vimp∞ ) e (nimp/n∞imp), como descreveremos a seguir.

(36)

fornecida por (Thiessenhusen et al., Porter et al.):

v∞ imp=vp

e2+i2 (9)

em que e ei, assumidos 0,3 (Liou et al. 1996), representam a excentricidade e inclina¸c˜ao m´edia heliocˆentricas da popula¸c˜ao de gr˜aos, respectivamente, e vp ´e a velocidade orbital de Plut˜ao (6 km s−1

), o que resulta emv∞

imp = 2,6 km s −1

. A raz˜ao entre as velocidades perto e longe de Plut˜ao pode ser calculada atrav´es da f´ormula de Colombo et al. (1966):

vimp v∞

imp =

s

1 + 2GM

a(v∞ imp)2

(10)

em que a ´e a distˆancia do sat´elite a Plut˜ao. Substituindo os correspondentes valores na Equa¸c˜ao 10 encontramosvimp ∼2,6 km s−1 nas distˆancias de Nix e de Hidra.

Para o c´alculo da densidade dos detritos ap´os a focaliza¸c˜ao gravitacional (nimp), uti-lizamos a equa¸c˜ao de Spahn et al. (2006), que ´e uma corre¸c˜ao da equa¸c˜ao obtida por Colombo et al. (1966):

nimp n∞

imp

= vimp 2v∞

imp + 1 2 " vimp v∞ imp 2 − Rp a 2

1 + 2GM

Rp(v∞imp)2

#2

(11)

substituindo os respectivos valores na Eq. 11 obtivemosnimp∼1 para Nix e para Hidra. Desta maneira, o fluxo de impactores, Fimp, ap´os a focaliza¸c˜ao gravitacional ´e

Fimp =

vimp v∞ imp nimp n∞ imp F∞ imp (12)

O c´alculo do valor de Fimp atrav´es da equa¸c˜ao 12 mostrou que a diferen¸ca entre os fluxos de massa de impactores longe e perto de Plut˜ao ´e da ordem de 10−3

na distˆancia de ambos os sat´elites. Logo, o fluxo de impactores antes e depois da focaliza¸c˜ao gravita-cional ´e similar. Portanto, neste caso a corre¸c˜ao pela focaliza¸c˜ao devido a Plut˜ao pode ser negligenciada, diferentemente do que ocorre, por exemplo, na distˆancia do sat´elite Ganimedes de J´upiter e do sat´elite Enc´elado de Saturno (Krivov et al. 2003). Assim, assumimos que o fluxo de detritos interplanet´arios na distˆancia dos sat´elites Nix e Hidra ´eFimp=F∞

imp = 1.0×10

−16

kg m−2 s−1

.

A partir deste momento, vamos tratar do parˆametro que quantifica a eficiˆencia da produ¸c˜ao de part´ıculas por um sat´elite quando este sofre colis˜oes com pequenos objetos, ou seja, o parˆametroYield.

A taxa de produ¸c˜ao de massa-gr˜aos (M+) proveniente da superf´ıcie de um sat´elite

(37)

corpos no sistema Solar externo, e coerente com a possibilidade das duas luas terem sido formadas a partir de material gerado pelo impacto formador de Caronte (Canup 2011).

A equa¸c˜ao de Koschny & Gr¨un nos fornece:

Y = 2,85×10−8

×0,0149Gsil/100

×

1Gsil/100

927 +

Gsil/100 2800

−1

m0imp,23vimp2,46 (13)

em queGsil´e a fra¸c˜ao de silicato presente no alvo, assumindo valores entre 0% (gelo puro) e 100% (silicato puro). As vari´aveis dessa equa¸c˜ao s˜ao inseridas em unidades do SI.

Na ausˆencia de qualquer medida local na regi˜ao do KB, assumimos para o impactor

uma massa de mimp = 10−8 kg, a qual equivale a um impactor de aproximadamente

100µm de raio. Este tamanho ´e compar´avel `a maioria das part´ıculas encontradas nas regi˜oes mais internas do sistema Solar, no entanto Landgraf et al. (1999) mostrou que a densidade espacial constante encontrada pela sonda Pionner 10 (entre 5 e 18 UA do Sol) indica fortemente que o Cintur˜ao de Kuiper ´e a principal fonte deste material. De fato, o modelo de Landgraf et al. reproduz muito bem o fluxo medido al´em de 8 UA. ´E importante salientar que o fluxo de poeira que assumimos para a regi˜ao do peri´elio de Plut˜ao ´e uma extrapola¸c˜ao do fluxo observado pr´oximo de 5 at´e 18 UA (Porter et al. 2010). Al´em disso, n˜ao h´a uma forte dependˆencia da taxa de produ¸c˜ao de poeira com a massa do impactor. Para cada ordem de magnitude que mimp ´e menor, M+ resultante ´e menor por um fator de 1,70.

Para mimp 10−8

kg, que corresponde a um pequeno impactor de aproximadamente 100µm de raio, com vimp = 2,6 km s−1

, obtemos Y100. A taxa de produ¸c˜ao de massa pode ser obtida a partir de Y, da se¸c˜ao de choque do sat´elite-alvo S e do fluxo de im-pactoresFimp, como escrito em Krivov et al. (2003):

M+=Fimp Y S (14)

Substituindo os valores de Fimp, Y e S, obtemos M+ 6×10−5

kg s−1

para Nix e

M+ 4×10−5

kg s−1

para Hidra, respectivamente. Assim, a soma das taxas de produ¸c˜ao de massa compostas por part´ıculas no intervalo de [1-10]µm ´e 10−4

kg s−1 .

Para um anel estacion´ario, em que a quantidade de poeira que ´e fornecida ao anel ´e similar a quantidade que ´e perdida depois de um longo per´ıodo de tempo, sua massa ´e diretamente proporcional ao tempo de vida das part´ıculas (T). A massa do anel em uma primeira aproxima¸c˜ao pode ser estimada a partir dos valores das taxa de produ¸c˜ao de massa que escapam dos dois sat´elites e pelo tempo de vida das part´ıculas, fornecidos

pelas simula¸c˜oes num´ericas, m = M+T. Para obtermos m computamos o tempo que

(38)

Notadamente, o n´umero de gr˜aos diminui conforme eles escapam do sistema ou colidem com um corpo massivo do pr´oprio sistema plutoniano. Assim, a massa de gr˜aos ejetados por tempo na regi˜ao especificada pode ser tomada como sendo proporcional a M+/2.

Uma vez que gr˜aos de tamanhos diferentes tem tempo de vida diferentes, T1, T5 eT10

representam o tempo que o conjunto inicial dos gr˜aos de 1, 5 e 10µm de raio permaneceram na regi˜ao entre Nix e Hidra, sem significativa perda de material. Portanto,T foi ponderado pelo n´umero de part´ıculas de cada tamanho e pelo tempo de vida de cada conjunto de gr˜aos nas simula¸c˜oes num´ericas da seguinte maneira:

T = N1T1+N5T5+N10T10

Ntotal

(15)

em queNs, o qual representa o n´umero de part´ıculas de raios, segue a lei de potˆencia para a distribui¸c˜ao de tamanhos discutida na subse¸c˜ao 2.1. Portanto, os efeitos da inclus˜ao da press˜ao de radia¸c˜ao solar acompanhada da distrui¸c˜ao de tamanho apresentada em an´eis de poeira est˜ao embutidas em T (Eq. 15). ´E importante fazermos esse tipo de m´edia ponderada, pois como utilizamos uma lei de potˆencia para descrever a distribui¸c˜ao de tamanhos dos gr˜aos ejetados sabemos que temos um n´umero muito maior de gr˜aos pequenos (1 micrometro) do que gr˜aos grandes (5 e 10µm) no anel hipot´etico. Al´em disso, part´ıculas menores sofrem mais os efeitos da RP, assim elas s˜ao eliminados em uma escala de tempo menor. Finalmente, o mecanismo de produ¸c˜ao de part´ıculas ´e capaz de

gerar uma massa acumuladam1.000 kg. A partir deste momento podemos comparar a

massam com a massa respectiva de um anel de profundidade ´optica τ.

Aqui discutiremos brevemente como podemos relacionar massa de anel com profundi-dade ´optica. Considerando o anel distribu´ıdo em uma regi˜ao com raio orbitalRe largura

dR, ´e poss´ıvel estimar a profundidade ´optica deste anel se a distribui¸c˜ao de tamanhos dos gr˜aos que o comp˜oem ´e conhecida. A distribui¸c˜ao diferencial de tamanho dos gr˜aos de poeira ´e dada por uma distribui¸c˜ao de potˆencia da forma (Colwell & Esposito 1990):

dN =n(s)ds =Ks−q

ds (16)

em quedN´e o n´umero de part´ıculas no intervalo [s,s+ds],q´e um ´ındice da lei de potˆencia e K ´e uma constante de normaliza¸c˜ao. Essa distribui¸c˜ao (Eq. 16) ´e a mais comum para gr˜aos microm´etricos (Burns et al. 2001). Lembramos que assumimos a mesma distribui¸c˜ao utilizada para os an´eis internos de Urano, em que q = 3,5 (Colwell & Esposito 1990).

A rela¸c˜ao entre a profundidade ´opticaτ e a massa do anelMr, vinculada `a distribui¸c˜ao de tamanhos das part´ıculas do anel, pode ser obtida via resolu¸c˜ao de integrais como escrito em Sfair (2011):

τ =

Z sb

sa

πs2n(s)ds (17)

Mr = 4 3πρS

Z sb

sa

(39)

em que sa e sb s˜ao os limites inferior e superior de tamanho das part´ıculas no local, neste estudo 1 e 10µm, respectivamente, ρ ´e a densidade da part´ıcula e dN, conforme definido anteriormente, ´e o n´umero de part´ıculas dentro do intervalo de tamanhos con-siderado. Este modelo funciona muito bem para os casos em que part´ıculas s˜ao ejetadas de sat´elites-fontes e n˜ao s˜ao desestabilizadas dinamicamente populando uma ´area dada por S = 2π R dR. Por´em, mesmo com a limita¸c˜ao do m´etodo aplicado, acreditamos que fornecemos um v´ınculo importante em rela¸c˜ao `a quantidade de material que pode, eventualmente, ser produzido atrav´es das superf´ıcies dos sat´elites pequenos de Plut˜ao.

Um conjunto de part´ıculas com raios limitados ao intervalo [1,10]µm formando um anel que engloba a regi˜ao entre as ´orbitas de Nix e Hidra, para uma largura radial

dR 16.000 km (a distˆancia m´edia entre os sat´elites assumindo ´orbitas circulares) em

R 57.000 km, tem um massa de aproximadamente 103 kg, o que corresponde a um

τ = 4×10−11

. Este valor implica em um anel ordens de magnitude mais tˆenue do que os conhecidos an´eis tˆenues de J´upiter (como os aneis Gossamer comτ = 1×10−7

, Murray & Dermott 1999), e portanto, para o caso de Plut˜ao ´e muito “fraco” para ser detectado.

2.3

Discuss˜

ao dos resultados deste cap´ıtulo

Mesmo em uma regi˜ao distante do Sol, tal como a regi˜ao onde est˜ao os sat´elites conhecidos de Plut˜ao, os efeitos da press˜ao de radia¸c˜ao solar devem ser levados em con-sidera¸c˜ao para que se avalie a dinˆamica de gr˜aos microm´etricos de uma forma completa. A componente RP da radia¸c˜ao solar dita a dinˆamica orbital dos gr˜aos aumentando as excentricidades de suas ´orbitas e conduzindo-os a encontros pr´oximos com corpos mas-sivos do sistema em poucos anos ou escape. A componente devido ao arrasto PR pode ser seguramente negligenciado na escala de tempo aqui considerada.

Simulamos numericamente a evolu¸c˜ao orbital de conjuntos de part´ıculas de 3 tamanhos diferentes, 1, 5, e 10µm de raio, ejetadas perpendicularmente das superf´ıcies dos sat´elites Nix e Hidra. Estas part´ıculas se moviam sob os efeitos gravitacionais de Plut˜ao, Caronte e dos pr´oprios sat´elites-fontes al´em da press˜ao de radia¸c˜ao solar. Nosso modelo simplificado assumiu um fluxo constante e isotr´opico de impactores nas superf´ıcies de ambos sat´elites pequenos de Plut˜ao na distˆancia do peri´elio deste planeta-an˜ao. As part´ıculas que escapam dos sat´elites s˜ao rapidamente espalhadas e formam um anel tempor´ario de grande largura, englobando as ´orbitas de Nix e Hidra. No entanto, colis˜oes com os corpos massivos, principalmente devido ao efeito da componente RP remove 30% das part´ıculas de 1µm em apenas 1 ano.

Encontramos que um anel muito tˆenue com uma profundidade ´optica normal da or-dem de 10−11

(40)

anel estacion´ario. Portanto, se deve tomar com precau¸c˜ao o valor final obtido, uma vez que incertezas nos c´alculos residem no conhecimento muito restrito que temos da real distribui¸c˜ao de gr˜aos presente no ambiente interplanet´ario.

Thiessenhusen et al. (2002) derivou uma profundidade ´optica m´axima de 3×10−11 . O foco do trabalho citado era analisar nuvens de poeira ao redor de cada membro do bin´ario Plut˜ao-Caronte. Em nosso estudo, focamos na produ¸c˜ao de poeira por Nix e Hidra, e no fim obtivemos valores de mesma ordem de magnitude de Thiessenhusen et al.. Isto refor¸ca a hip´otese de que mesmo com sondas espaciais cruzando o sistema em quest˜ao, imageamento de an´eis em Plut˜ao seria um desafio, caso eles existam.

A estimativa de τ = 5×10−6

de Stern et al. (2006) foi obtida assumindo que uma fra¸c˜ao de 1/10.000 dos gr˜aos era da ordem de micrometros e que o tempo de vida desse conjunto era de 105 anos. O tempo de vida foi adotado tendo como base estudo anterior

que fornecia o tempo m´edio para que n˜ao ocorresse a sublima¸c˜ao dos gr˜aos. Uma vez que os efeitos da RP n˜ao foram inclu´ıdos na an´alise de Stern et al., o tempo de vida m´edio dos gr˜aos ´e muito maior naquele trabalho, e consequentemente a profundidade ´optica derivada ´e maior tamb´em que a que obtivemos. Basicamente, os dois modelos, de Stern e desta tese, s˜ao diferentes e oτ ´e ordens de magnitude menor aqui.

(41)

3

Captura dinˆ

amica no sistema Plut˜

ao-Caronte

Nesta se¸c˜ao ´e apresentado o estudo desenvolvido durante o meu est´agio de 6 meses de pesquisa em Nice, Fran¸ca. O est´agio foi realizado sob supervis˜ao do pesquisador A. Morbidelli e durante este per´ıodo analisamos um cen´ario alternativo para a origem dos sat´elites pequenos de Plut˜ao e para suas ´orbitas peculiares.

Em termos gerais, estudamos a captura dinˆamica de planetesimais por Plut˜ao-Caronte, durante uma fase intermedi´aria do sistema Solar, quando existia um disco heliocˆentrico de planetesimais ao redor dos planetas j´a formados, e o bin´ario estava supostamente inserido neste disco. A nossa motiva¸c˜ao vem do fato de que n˜ao existe ainda um modelo que explique completamente como Estige, Nix, C´erbero e Hidra foram formados e como eles evoluiram posteriormente at´e suas ´orbitas atuais. Constru´ımos nosso modelo baseado na possibilidade de que a intera¸c˜ao de 3 corpos (entre Plut˜ao, Caronte e um planetesimal) poderia resultar na captura tempor´aria dos planetesimais em ´orbitas plutocˆentricas. As-sim, se planetesimais capturados colidissem com outros planetesimais do disco em uma taxa suficiente, um disco de proto-sat´elites poderia se formar, levando `a acres¸c˜ao de pe-quenos sat´elites, tais como os observados ao redor do baricentro de Plut˜ao atualmente.

Acredita-se que o sistema Solar passou por dois est´agios antes de chegar ao est´agio at-ual. O primeiro foi caracterizado pela existˆencia de um disco de g´as: os planetas gigantes tinham excentricidades orbitais e inclina¸c˜oes muito pequenas, al´em de estarem em uma configura¸c˜ao compacta, muito mais pr´oximos uns dos outros do que est˜ao hoje em dia (Pollack et al. 1996, Lubow et al. 1999); e o segundo pela existˆencia de um disco de plan-etesimais: o g´as j´a havia sido dissipado e um disco de objetos existia al´em da ´orbita dos planetas gigantes. A segunda fase teria durado cerca de 700 milh˜oes de anos (Morbidelli 2010). Trabalhamos com a hip´otese de que o bin´ario Plut˜ao-Caronte estava inserido no disco de planetesimais, o qual foi provavelmente 1.000 vezes mais populoso do que o at-ual Cintur˜ao de Kuiper (p. ex., Morbidelli et al. 2008). O disco pode ter existido por centenas a milhares de anos, antes de ser fortemente destru´ıdos pela evolu¸c˜ao orbital dos planetas gigantes (Levison et al. 2008). Durante essa fase massiva do disco, planetesimais em grande n´umero devem ter tido encontros pr´oximos com o bin´ario Plut˜ao-Caronte. Nossa hip´otese ´e baseada na existˆencia de Caronte vinculado a Plut˜ao, assim temos a possiblidade de troca de energia entre 3 corpos (bin´ario mais a part´ıcula), possibilitando capturas dos planetesimais em ´orbita ao redor deles. De outra maneira, se Plut˜ao fosse um ´unico objeto, ter´ıamos somente part´ıculas atravessando sua esfera de Hill em ´orbitas hiperb´olicas.

´

(42)

Eventualmente um disco de detritos coplanar com Caronte e com part´ıculas em ´orbitas circulares poderia ter se formado, o que conduziria, subsequentemente, `a forma¸c˜ao de sat´elites pequenos tais como Estige, Nix, C´erbero e Hidra.

Investigamos este modelo alternativo quantitativamente. Na subse¸c˜ao 3.1, n´os ex-plicamos o m´etodo aplicado, a probabilidade de haver encontros entre planetesimais e o bin´ario, assim como as orienta¸c˜oes e velocidades m´utuas das ´orbitas de encontro. N´os utilizamos estas informa¸c˜oes para modelar o problema numericamente, isto ´e, fazer simula¸c˜oes das capturas. Na subse¸c˜ao 3.2 discutimos os resultados relacionadas as cap-turas e fornecemos uma estimativa para o tamanho do maior planetesimal que poderia ter experimentado uma captura tempor´aria pelo bin´ario. Tamb´em calculamos o tempo de vida colisional das part´ıculas capturadas e o comparamos com os respectivos tempos de vida dinˆamico (aquele obtido atrav´es das simula¸c˜oes num´ericas) como objetos ligados a Plut˜ao. Na se¸c˜ao 3.3 apresentamos uma discuss˜ao dos resultados deste cap´ıtulo. Uma c´opia do artigo Dynamical capture in the Pluto-Charon system est´a no Anexo A2.

3.1

etodo

Como foi dito anteriormente, consideramos Plut˜ao como um objeto do disco primor-dial massivo de planetesimais. Devido ao fato de Plut˜ao ter sido um dos objetos mais massivos do disco, presume-se que sua ´orbita apresentava valor em excentricidade e in-clina¸c˜ao pequenos em rela¸c˜ao ao plano m´edio do disco, como consequˆencia de fric¸c˜ao dinˆamica (Wetherill & Stewart 1993). Assim, assumimos por simplicidade que ambas, ex-centricidade e inclina¸c˜ao, eram nulas. Hoje em dia, h´a um consenso em rela¸c˜ao a posi¸c˜ao na qual Plut˜ao estava antes da ocorrˆencia dos eventos que desencadearam a migra¸c˜ao de planetesimais do disco primordial transnetuniano para a regi˜ao definida como Cintur˜ao de Kuiper (“colocando” o pr´oprio Plut˜ao em sua atual posi¸c˜ao). Plut˜ao estava mais pr´oximo do Sol do que est´a atualmente (Malhotra 1993, Levison et al. 2008). Sem perda de generalidade, assumimos que a ´orbita de Plut˜ao tinha semi-eixo maior de 20 UA.

Como primeiro passo de nosso estudo, calculamos as probabilidades, velocidades e posi¸c˜oes das part´ıculas-teste do disco em rela¸c˜ao ao bin´ario Plut˜ao-Caronte. Com esse prop´osito, as excentricidades dos elementos do disco foram aleatoriamente escolhidas at´e um valor m´aximo (emax-parˆametro livre), cujo valor ser´a discutido na subse¸c˜ao 3.2, en-quanto que as inclina¸c˜oes pertencem ao intervalo [0,imax], comimax=emax/2. O semi-eixo maior dos planetesimais foi aleatoriamente selecionado dentro do intervalo [18, 22] UA. Geramos, assim, este conjunto de condi¸c˜oes iniciais (a, e, i) para o disco de planetesimais, at´e encontrarmos um n´umeroM de1.200 planetesimais cruzando a ´orbita representativa do bin´ario.

Para cada um desses planetesmais, a probabilidade de colis˜ao intr´ınseca p (definida como a probabilidade por alvo km2, por ano), a velocidade no infinito v e a orienta¸c˜ao do

(43)

sistema de referˆencia onde o eixoxest´a na mesma dire¸c˜ao do vetor velocidade do bin´ario Plut˜ao-Caronte relativo ao Sol, enquanto que o eixo y aponta na dire¸c˜ao do Sol a partir do baricentro de Plut˜ao-Caronte (Fig. 7-topo). Mais precisamente, θ ´e o ˆangulo que define a proje¸c˜ao do vetor velocidade relativa do planetesimal no plano x–y e φ fornece a latitude do vetor velocidade relativa a este plano. Na realidade, h´a 4 configura¸c˜oes de encontro equiprov´aveis, correspondendo a 4 poss´ıveis combina¸c˜oes de sinais para θ

e φ. Para cada planetesimal, selecionamos aleatoriamente estes 2 sinais, fixando, desta maneira, a geometria do encontro.

Figura 7: De cima para baixo: plano de referˆencia x-y e uma representa¸c˜ao do plano-b

quando φ= 0◦

. A linha conectando o Sol, Plut˜ao e Caronte define o eixo-X.

(44)

Plut˜ao-Caronte com um conjunto de N part´ıculas, sendo que N ´e proporcional ao valor de

p para o considerado planetesimal3. Utilizamos, a seguir, N = 1 para o planetesimal

com a menor probabilidade (p= 9,3×10−21 km−2

y−1

). As part´ıculas s˜ao uniformemente distribu´ıdas no plano-b(Valsecchi & Manara 1997), todas tendo o mesmo vetor velocidade relativa em rela¸c˜ao ao bin´ario assim como o planetesimal considerado possui. O plano-b

´e definido como o plano ortogonal ao vetor velocidade relativa, o qual ´e tangente `a esfera de Hill de Plut˜ao-Caronte (Fig. 7-base). No plano-b foi estabelecido um novo sistema de coordenadas. O centro do sistema de referˆencia ´e a proje¸c˜ao do baricentro de Plut˜ao-Caronte na dire¸c˜ao do vetor velocidade relativa.

Devido `a focaliza¸c˜ao gravitacional do sistema Plut˜ao-Caronte ser pequena para a ve-locidade relativa dos planetesimais considerados neste estudo (veja subse¸c˜ao 3.2), as tra-jet´orias das part´ıculas que est˜ao chegando ao sistema s˜ao fracamente curvadas ou pertur-badas. Assim, part´ıculas que passam al´em de 20Rp do centro do sistema de referˆencia no plano-bn˜ao tem chance de ser defletida pelos encontros com Caronte (o qual est´a a15Rp do baricentro do sistema). Por essa raz˜ao, redistribuimos as part´ıculas uniformemente no plano-b mantendo 20Rp como o limite superior relativo ao centro do sistema de referˆencia. Para part´ıculas que constituem o conjunto associado com cada planetesimal, a receita acima define as posi¸c˜oes iniciais e velocidades relativas ao baricentro do bin´ario Plut˜ao-Caronte. Para iniciar as integra¸c˜oes num´ericas, foi necess´ario fixar a ´orbita de Plut˜ao-Caronte. Fizemos isto da seguinte maneira: assumimos que a inclina¸c˜ao da ´orbita de Caronte ao redor de Plut˜ao, medida relativa ao plano do bin´ario ao redor do Sol, era a mesma que a atual inclina¸c˜ao orbital de Caronte em rela¸c˜ao ao plano da ecl´ıptica 119◦

(Tholen & Buie 1997). Assumimos que a linha dos nodos da ´orbita de Caronte tinha uma orienta¸c˜ao aleat´oria no plano (x, y). Al´em disso, foi assumido que Caronte estava em uma posi¸c˜ao aleat´oria ao longo de sua ´orbita circular.

Finalmente, aplicamos uma s´erie de rota¸c˜oes e transla¸c˜oes de maneira a transformar todo o sistema (Plut˜ao, Caronte, Sol e part´ıculas do aglomerado) para um novo sistema de referˆencia, centrado em Plut˜ao, cujo plano de referˆencia ´e o plano orbital de Caronte. As integra¸c˜oes num´ericas foram realizadas neste sistema plutocˆentrico, utilizando o inte-grador swift rmvs3 presente no pacote Swift (Levison & Duncan 1994). Cada integra¸c˜ao ´e realizada at´e que todo conjunto de part´ıculas exceda uma distˆancia de 2 raios de Hill (ou 12.000 Rp) de Plut˜ao (2 RH, a seguir). Definimos como “temporariamente capturadas” as part´ıculas que tiveram, em algum momento, energia negativa relativa a Plut˜ao.

A probabilidade Pi que um dado planetesimal seja capturado temporariamente em

uma ´orbita ao redor de Plut˜ao-Caronte ´e obtida como segue. Denotamos porKi o n´umero de part´ıculas temporariamente capturadas das Ni part´ıculas integradas em determinado conjunto, e denotamos porpi a probabilidade intr´ıseca colisional do planetesimal. Assim, obt´em-se:

3

(45)

Pi =pi(20Rp)2Ki/Ni (19) a probabilidadePi ´e expressa em ano−1.

A probabilidade m´edia para capturas tempor´arias para a popula¸c˜ao de planetesimais do disco primordial que cruzam a ´orbita que foi assumida para Plut˜ao ´e, portanto

P = M

X

i=1

(Pi/M). (20)

em que M ´e o n´umero de planetesimais que s˜ao interceptados por Plut˜ao-Caronte.

3.2

Resultados

3.2.1 Evento da captura

Inicialmente, assumimos que a excentricidade do disco pode ser caracterizada por

emax = 0,1. Este valor foi obtido de simula¸c˜oes da auto-excita¸c˜ao do disco no caso em que este possui 1.000 objetos do tamanho de Plut˜ao (Levison et al. 2009, 2011). Para este disco, obtivemos que a velocidade m´edia de encontro com o sistema Plut˜ao-Caronte, ponderada pela probabilidade de encontro intr´ınsecap, ´e 0,4 km s−1

.

Referências

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