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Compósitos de hidroxiapatita e polihidroxibutirato em defeitos ósseos experimentais na ulna de coelhos

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Academic year: 2017

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(1)

COMPÓSITOS DE HIDROXIAPATITA E POLIHIDROXIBUTIRATO EM DEFEITOS ÓSSEOS EXPERIMENTAIS NA ULNA DE COELHOS.

VIÇOSA

MINAS GERAIS – BRASIL 2007

(2)
(3)

Dedico este trabalho aos meus pais,

Murilo e Laisse que,

se eu pudesse ter escolhido,

(4)

AGRADECIMENTOS

A Deus por me abençoar com tanto e me levar por seus caminhos. À minha Santa Terezinha que sempre intercedeu por mim.

Aos meus pais, Murilo e Laisse, pelo exemplo, amor e apoio incondicional durante essa e todas as fases de minha vida.

À minha orientadora Andrea Pacheco Batista Borges por todos os ensinamentos, confiança, apoio e disponibilidade em tantos momentos desses estudos e pela amizade construída a cada dia.

Ao Múcio, pela compreensão, carinho e estímulo nos momentos difíceis e é claro, pelo apoio na fase de exames clínicos.

Aos meus irmãos por compartilharem as alegrias por cada conquista durante essa pós-graduação.

Ao Prof. Cláudio Fonseca pela presença constante, apoio e sugestões durante todo o processamento e análises histológicas.

Aos Profs. Ricardo Junqueira e Luís Gonzaga pelos ensinamentos e valiosas sugestões durante todo o curso.

Aos Profs. Marlene Vilória, Maria Cristina, Sérgio da Matta e Eduardo Paulino pelos conhecimentos compartilhados e colaboração neste trabalho.

Aos Profs. José Antônio e José Dantas pela amizade e colaboração com meu crescimento profissional e pessoal.

Aos Profs. Leonardo Muzzi e Paulo Oliveira pela presença e contribuição com esse trabalho.

Aos meus colegas e amigos Mastoby, Renato, Gláucia, Renata e Alexandro por toda colaboração que tornou possível a realização deste trabalho, foram essenciais.

À Tatinha pela amizade e experiência compartilhada em tantos momentos. À Maninha, Alex, Etelvina, Claudiomiro, Paulo, Camilo, Sônia, Aécio, Lucinda, Luís Márcio, Celinho, Valnei, Toninho e Luís Paulo tão atenciosos nas fases de cirurgia, exames clínicos e radiografias, sem os quais tudo teria sido mais difícil.

Aos colaboradores José do Carmo, Vânia, Adão e Cláudio, imprescindíveis no processamento histológico.

À Rose e Geraldinho, pelo carinho, atenção e boa vontade.

Aos colegas da pós-graduação Mastoby, Kelly, Fabrício, Ana Paula, Betânia, Liana, João, Taciana, Lukyia, Evandro, Jair, Maurício, Lívia e Cíntia pela amizade e atenção em cada momento.

À pós-graduação do Departamento de Medicina Veterinária da UFV pela oportunidade.

À JHS Laboratório Químico, na pessoa da Dra. Sheyla Maria de Castro Máximo Bicalho, pelo fornecimento do material testado, confiança e apoio com os trabalhos apresentados.

Ao Prof. Leonardo Muzzi pela presença na banca de defesa e valiosas sugestões. Ao Prof. Paulo Oliveira pela atenção e esclarecimentos técnicos.

À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela concessão da bolsa que viabilizou meus estudos e pesquisa.

(5)

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ... v

LISTA DE TABELAS ... viii

RESUMO ... ix

ABSTRACT ... xi

INTRODUÇÃO ... 1

REVISÃO DE LITERATURA ... 2

1. O problema ... 2

2. Enxertos e biomateriais ... 3

3. Hidroxiapatita ... 6

4. Polihidroxibutirato ... 9

5. Compósito de hidroxiapatita e polihidroxibutirato ... 11

MATERIAL E MÉTODOS ... 14

RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 21

1. Trans-operatório... 21

2. Exame clínico ... 21

3. Análise radiográfica ... 24

4. Avaliações histológicas e histomorfométricas ... 29

CONCLUSÕES ... 47

PERSPECTIVAS ... 48

(6)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fórmula estrutural do monômero do polihidroxibutirato. 9 Figura 2. Procedimento cirúrgico para realização do defeito experimental na ulna de coelho. A- Realização do defeito na cortical lateral do olécrano com broca trefina acoplada a perfuratriz elétrica sob irrigação com solução salina. B-

Compósito 1 (seta) dentro do defeito. 16

Figura 3. Representação do esquema da análise radiográfica. Esquema da radiografia mediolateral (A), esquema da divisão em quadrantes em transparência (B) e sobreposição para divisão em quadrantes (C). 18 Figura 4. Sentido de corte do fragmento do olécrano para obtenção da superfície de análise nas vistas lateral e caudo-cranial da ulna e regiões anatômicas em

relação ao defeito. 19

Figura 5. Radiografias mediolaterais do olécrano de coelhos submetidos à realização de defeito na cortical lateral e implantação de compósitos de hidroxiapatita e polihidroxibutirato, no pós-operatório imediato. A- grupo controle, B- grupo 1, C- grupo 2, D- grupo 3. Setas indicam halo radiotransparente ao redor dos compósitos.

28 Figura 6. Radiografias mediolaterais do olécrano coelhos submetidos à realização de defeito na cortical lateral e implantação de compósitos de hidroxiapatita e polihidroxibutirato, aos 8 dias após a cirurgia. A- grupo controle, sem compósito. B- grupo 1. C- grupo 2. D- grupo 3. Setas indicam halo

radiotransparente ao redor dos compósitos. 28

Figura 7. Radiografias mediolaterais do olécrano de coelhos submetidos à realização de defeito na cortical lateral e implantação de compósitos de hidroxiapatita e polihidroxibutirato, aos 45 dias após a cirurgia. A- grupo controle, sem compósito. B- grupo 1. C- grupo 2. D- grupo 3. Ausência do halo radiotransparente entre compósito e osso e o contato direto entre eles (setas). Região de radiopacidade menor do que a do osso vizinho no grupo controle

(asterisco). 28

Figura 8. Radiografias mediolaterais do olécrano de coelhos submetidos à realização de defeito na cortical lateral e implantação de compósitos de hidroxiapatita e polihidroxibutirato, 90 dias após a cirurgia. A- grupo controle. B- grupo 1, C- grupo 2, D- grupo 3. Contato direto entre compósitos e tecido ósseo (setas finas).

(7)

e coágulo (CG). HE, 40X. B- Ampliação de área demarcada em A. Trabécula óssea nova com osteoblastos ativos (setas) nas bordas. HE, 1000X. 32 Figura 10. Região do defeito ósseo do grupo controle realizado no olécrano de coelho, 8 dias após a cirurgia. Tecido fibrocartilaginoso (FC) em meio ao osso trabecular novo (TB) e tecido conjuntivo denso vascularizado (DV). HE, 200X. 32 Figura 11. Região trabecular do defeito ósseo realizado no olécrano de coelho submetido à implantação do compósito um, 8 dias após a cirurgia. Diferença na intensidade de coloração que demarca nova deposição de camadas de tecido ósseo (setas). Osso trabecular novo (TB), medula óssea (MO). Azul de

Toluidina, 100X. 32

Figura 12. Região do defeito ósseo realizado no olécrano de coelho submetida à implantação do compósito três aos 8 dias após a cirurgia. A- Projeção de tecido conjuntivo denso vascularizado (DV) e ósseo (O) para o interior do compósito (C). B- Projeção de tecido conjuntivo (TC) sem conexão aparente com tecidos adjacentes no interior do compósito (C), com vaso sangüíneo no centro (seta).

Azul de Toluidina, 200X. 35

Figura 13. Regiões do defeito ósseo realizado no olécrano de coelho do grupo um, 45 dias após a cirurgia. Região lateral (L) do compósito um envolvida por tecido ósseo trabecular novo. Regiões distal (D) e trabecular com tecido ósseo mais organizado (TO). HE, 40X. B- Grupo dois aos 45 dias. Interface (seta) com contato direto entre tecido ósseo (O) e compósito (C). Azul de toluidina, 200X. 35 Figura 14. Regiões do defeito ósseo realizado no olécrano de coelhos do grupo três, 45 dias após a cirurgia. A-Trabéculas no interior do compósito (setas), próximas à região trabecular do defeito, com osso trabecular mais organizado (TM) do que aos 8 dias. HE, 100X. B- Fragmentos do compósito (C) separados do bloco original em meio ao tecido ósseo (O) na região trabecular do defeito. O contato direto entre osso e compósito é indicado pelas setas. Azul de toluidina,

200X. 35

Figura 15. Região do defeito ósseo realizado no olécrano de coelhos submitdos à implatação de compósitos de hidroxiapatita e polihidroxibutirato. A- Interface (seta) do compósito um (C) com fina camada de tecido fibroso aos 90 dias após a cirurgia. Tecido ósseo (O) e medula óssea associada (MO). HE, 100X. B- Interface (setas) do compósito dois aos 90 dias com tecido ósseo (O) e medula óssea adjacente (MO). Projeções de tecido conjuntivo (asteriscos) no compósito

(C). Azul de toluidina, 100X. 38

(8)

Figura 17. Seqüência do desenvolvimento de tecidos para o interior do compósito três até a fragmentação do mesmo a partir do bloco original. A- Tecido conjuntivo denso vascularizado (seta) penetrando no compósito (C) aos 8 dias. Tricrômico de Gomori, 200X. B- Tecidos ósseo (seta larga) e conjuntivo denso vascularizado (setas finas) envolvendo fragmentos do compósito (asteriscos). HE, 100X. Fragmentos do compósito (C) envoltos por tecido ósseo (seta) separado do bloco original. Azul de toluidina, 100X. 39

(9)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Distribuição dos compósitos contendo 10% de HA e 90% de PHB (grupo 1), 25% de HA e 75% de PHB (grupo 2) e 50% de HA e 50% de PHB (grupo3) nos

membros por animal. 16

Tabela 2. Resultado da análise dos parâmetros clínicos de acordo com o número de membros afetados e número de manifestações durante o período de exames, após a realização de defeitos ósseos experimentais na ulna de coelhos e implantação ou não (grupo controle – C) de compósitos contendo 10% de HA e 90% de PHB (grupo 1), 25% de HA e 75% de PHB (grupo 2) e 50% de HA e 50% de PHB

(grupo3). 22

Tabela 3. Médias e desvio padrão das diferenças dos valores de circunferência (cm) dos membros, após a realização de defeitos ósseos experimentais na ulna de coelhos e implantação ou não (grupo controle – C) de compósitos contendo 10% de HA e 90% de PHB (grupo 1), 25% de HA e 75% de PHB (grupo 2) e 50% de HA e

50% de PHB (grupo3). 24

Tabela 4. Porcentagem de quadrantes que apresentaram radiopacidade semelhante à do osso vizinho e porcentagem dos defeitos que diminuíram de tamanho em radiografias realizadas aos 8, 45 e 90 dias após a realização de defeitos ósseos experimentais na ulna de coelhos e implantação ou não (grupo controle – C) de compósitos contendo 10% de HA e 90% de PHB (grupo 1), 25% de HA e 75% de

PHB (grupo 2) e 50% de HA e 50% de PHB (grupo3). 27

Tabela 5. Médias e desvio padrão das porcentagens de tecido ósseo e tecidos moles formados nos defeitos ósseos experimentais na ulna de coelhos aos 8, 45 e 90 dias após a implantação de compósitos contendo 10% de HA e 90% de PHB (grupo 1), 25% de HA e 75% de PHB (grupo 2) e 50% de HA e 50% de PHB (grupo3). 44 Tabela 6. Médias e desvio padrão das porcentagens de tecido ósseo e tecidos moles formados na interface com compósitos contendo 10% de HA e 90% de PHB (grupo 1), 25% de HA e 75% de PHB (grupo 2) e 50% de HA e 50% de PHB (grupo3), de aos 8, 45 e 90 dias após a implantação em defeitos ósseos experimentais na ulna de

coelhos. 44

Tabela 7. Médias e desvio padrão das porcentagens de tecido ósseo e tecidos moles formados no interior de compósitos contendo 10% de HA e 90% de PHB (grupo 1), 25% de HA e 75% de PHB (grupo 2) e 50% de HA e 50% de PHB (grupo3), de aos 8, 45 e 90 dias após a implantação em defeitos ósseos experimentais na ulna de

coelhos. 45

Tabela 8. Média e desvio padrão do número de osteoclastos presentes nos defeitos ósseos na ulna de coelhos aos 8, 45 e 90 dias após a cirurgia com implantação ou não (grupo controle – C) de compósitos contendo 10% de HA e 90% de PHB (grupo 1), 25% de HA e 75% de PHB (grupo 2) e 50% de HA e 50% de PHB

(10)

RESUMO

CARLO, Emily Correna, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, outubro de 2007. Compósitos de hidroxiapatita e polihidroxibutirato em defeitos ósseos experimentais na ulna de coelhos. Orientadora: Andrea Pacheco Batista Borges. Co-orientadores: Cláudio César Fonseca, Ricardo Junqueira Del Carlo e Marlene Isabel Vargas Viloria.

(11)
(12)

ABSTRACT

CARLO, Emily Correna, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, October, 2007. Hydroxyapatite-polyhydroxybutyrate composites in experimentally made bone deffects in rabbits ulna. Adviser: Andrea Pacheco Batista Borges. Co-advisers: Cláudio César Fonseca. Ricardo Junqueira Del Carlo and Marlene Isabel Vargas Viloria.

(13)
(14)

INTRODUÇÃO

Dois importantes desafios da ortopedia são a perda de tecido ósseo e os

problemas na consolidação de fraturas. Grandes defeitos ósseos resultantes de diversas

afecções como traumas e neoplasias precisam ser preenchidos com algum tipo de

enxerto para manter a continuidade óssea local e auxiliar a regeneração. Quanto às

fraturas, muitas delas necessitam de estabilização interna, o que envolve algum material,

implantado diretamente em contato com os tecidos.

Baseados nessas necessidades, pesquisadores de diversas áreas do conhecimento

vêm por décadas procurando um substituto ósseo ideal e um material que cumpra a

função de estabilização de fraturas sem provocar qualquer alteração local ou sistêmica a

curto e longo prazos.

Esta pesquisa consta de uma análise preliminar para permitir futuramente, de

acordo com os resultados obtidos, diferentes destinos para compósitos fabricados com

matérias-primas e tecnologia nacionais. Esses destinos podem incluir o uso como

material preenchedor de defeitos ósseos capaz de suportar cargas mecânicas e a

fabricação de placas e parafusos para fixação de fraturas e artrodeses. Podem, ainda,

servir como suporte para cultura de células e posterior implantação em defeitos ósseos,

aliando assim a osteoindução, resistência mecânica e osseocondução.

Para tal, deve-se confirmar primeiramente a biocompatibilidade desses

compósitos, necessária para qualquer uma dessas utilizações. Para servir como ponte

entre fragmentos ósseos em um grande defeito, tornando possível a regeneração normal

sem a interposição de tecido fibroso, as características também necessárias são a

osseocondução e biodegradação. Já para a fabricação de placas e parafusos a

osseocondução não é importante, mas sim a biocompatibilidade, biodegradação e

resistência mecânica.

Portanto, este estudo teve por objetivo investigar a resposta a compósitos de

hidroxiapatita e polihidroxibutirato em defeitos provocados na ulna de coelhos,

analisando a biocompatibilidade dos compósitos, avaliando se os mesmos interferem na

formação de novo osso e verificando o tipo de interação osso-compósito, de acordo com

os tecidos e as células envolvidos na resposta do organismo. Objetivou-se, também,

determinar a existência ou não da propriedade osseocondutora, avaliar o potencial de

(15)

REVISÃO DE LITERATURA

1. O problema

Doenças e lesões ósseas são condições que afetam diretamente a qualidade de

vida de pessoas e animais de companhia, sendo diversos os processos que podem

resultar na perda de tecido ou na dificuldade de sua reparação (Kokubo et al., 2003).

Em traumatologia, as fraturas cominutivas são um grande problema tanto pela

perda do tecido quanto pela dificuldade de estabilização e, consequentemente, de

regeneração, gerando longos períodos de internamento e podendo levar à união

retardada ou até mesmo à não-união. Grande parte dessas fraturas resulta dos acidentes

automobilísticos, tanto em pequenos animais quanto na espécie humana, além de quedas

e agressões físicas. Existem locais sabidamente predispostos à união retardada e à

não-união como nas fraturas distais no rádio em cães de pequeno porte. Este local também é

um problema na espécie humana, assim como fraturas proximais no úmero e platô tibial

(Boer et al., 2003; Ilan e Ladd, 2003).

Na odontologia, a perda de tecido ósseo é comum devido à reabsorção do osso

alveolar em decorrência da doença periodontal, gerando alterações no contorno facial e

perda dos dentes adjacentes, o que também ocorre em cães e gatos (MacNeill et al.,

1999). Outro problema é a dificuldade na manutenção da borda alveolar após perdas ou

extrações dentárias, afetando a fixação de implantes dentários (Brandão et al., 2002).

No caso das cirurgias na coluna vertebral, implantes são usados para

proporcionar estabilidade imediata permitindo a artrodese de vértebras, intervenção

necessária em conseqüência de processos traumáticos ou doenças degenerativas

(Vaccaro et al., 2003).

A expectativa de vida das pessoas tem aumentado nas últimas décadas e

continua a aumentar, mas a qualidade do tecido ósseo, em termos de resistência e

densidade, diminui progressivamente (Hench, 2000). A osteoporose e o próprio

processo de envelhecimento são mudanças degenerativas que predispõem às fraturas e à

dificuldade na regeneração do osso fraturado (Kawachi et al., 2000; Gruber et al., 2006).

Estima-se que, nos EUA, 16,8 milhões de mulheres (54%) após a menopausa têm

osteopenia e 9,4 milhões têm osteoporose, e que 40% de todas as mulheres e 13% de

todos os homens acima de 50 anos terão fraturas em decorrência disso, dados aplicáveis

(16)

As cirurgias craniofaciais corretivas, comuns na espécie humana em decorrência

de traumas, neoplasias ou correção estética, geralmente resultam em defeitos ósseos ou

osteotomias que necessitam de preenchimento ou fixação por placas e parafusos (Klinge

et al., 1992; Walsh et al., 2003).

2. Enxertos e biomateriais

Os biomateriais aplicados na ortopedia podem ser divididos em dois grandes

grupos, os substitutos para o tecido ósseo e os implantes para fixação de fraturas. O tipo

de fratura ou defeito ósseo dita o que se espera de um substituto ósseo ou implante de

fixação (Ilan e Ladd, 2003).

Nos defeitos ósseos, os substitutos têm por função ocupar o espaço, mantendo

redução apropriada e continuidade dos fragmentos ósseos, permitindo adequada

regeneração (Boer et al., 2003). Em face da necessidade de preenchimento recorre-se

aos enxertos autógenos, alógenos, xenógenos e aos biomateriais de origem natural ou

sintética. O enxerto autógeno é considerado o padrão para o tratamento de defeitos

ósseos ou retardo na regeneração por apresentar excelente atividade biológica sendo

osseocondutor e osteoindutor, além de não induzir resposta imune (MacNeill et al.,

1999; Hench, 2000; Boer et al., 2003; Ilan e Ladd, 2003). Entretanto, esses enxertos

possuem desvantagens importantes como disponibilidade e quantidades limitadas,

resistência mecânica inadequada, difícil fixação ao local necessário e ainda a alta

morbidade associada ao local doador, que pode incluir a deformidade deste local além

de dor e infecção (Klinge et al., 1992; Boeree et al., 1993; Hench, 2000; Ilan e Ladd,

2003; Mygind et al., 2007). Essa taxa de morbidade varia dependendo do tipo de estudo

realizado, com um mínimo de 8,6% e máximo de 30% dos casos (Boer et al., 2003;

Vaccaro et al., 2003; Xie et al., 2006).

Os enxertos alógenos, aqueles obtidos de outros indivíduos da mesma espécie do

indivíduo receptor, são boas alternativas. Encontra-se sua principal utilização em

medicina veterinária naquelas fraturas cominutivas da diáfise de ossos longos e na

medicina humana nos casos de fraturas cominutivas e exérese de neoplasias ósseas.

Contudo, apresentam desvantagens que limitam sua utilização, como a possibilidade de

transmissão de patógenos como o vírus da imunodeficiência felina (FIV) e os vírus da

AIDS e hepatites B e C em humanos. Além disso, possui baixa atividade biológica em

(17)

envolvidas em alguns casos. Ao contrário do que se imaginaria, já que um doador pode

beneficiar até 30 pessoas, sua disponibilidade é limitada na espécie humana, com tempo

médio de espera na “fila de transplantes” de seis meses no Brasil. No ano de 2006, o

Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia do Rio de Janeiro recebeu apenas três

doações quando seriam necessárias de 30 a 40 para atender a demanda. Além desses

problemas na espécie humana, existem relatos de que até 25% das reconstruções

utilizando enxertos alógenos são mal sucedidas devido à infecção, não-união e fraturas

(Hench, 2000; Kokubo et al., 2003; Castro, 2007; Ferraz, 2007; Into, 2007; SC

Transplantes, 2007; Woodard et al., 2007). O problema de disponibilidade seria

eliminado no caso dos enxertos xenógenos, mas ainda existe a possibilidade de

transmissão de doenças e de rejeição devido à reação imunológica (Piermattei e Flo,

1999; Hench, 2000).

Diversos estudos têm sido realizados nas últimas décadas buscando materiais

sintéticos (biomateriais) para o preenchimento de defeitos ósseos. As principais

vantagens dos materiais sintéticos são a disponibilidade, reprodutibilidade,

confiabilidade e a resistência mecânica em alguns casos (Hench, 2000). Como

preenchedor de defeitos ósseos, o objetivo é desenvolver um material que seja

osseocondutor, servindo como suporte para o crescimento de novo osso e que seja

reabsorvido a uma velocidade conhecida, sendo assim, gradativamente substituído pelo

novo osso em crescimento (MacNeill et al., 1999).

Atualmente os implantes ortopédicos mais utilizados são placas e parafusos

fabricados com metais como as ligas de titânio e aço inoxidável. Suas vantagens estão

nas propriedades mecânicas, com grande resistência às diversas forças neles exercidas.

Contudo, essas propriedades mecânicas são muito diferentes das propriedades

mecânicas do osso e, após a consolidação da fratura, esse implante protege o osso das

cargas normalmente impostas durante a movimentação e apoio dos membros. Sabe-se

que essas cargas normais são necessárias à manutenção da densidade e contorno ósseos,

sem elas, o remodelamento ósseo é afetado, levando a osteólise local e conseqüente

enfraquecimento, com possibilidade de novas fraturas (Doyle et al., 1991; Boeree et al.,

1993; Liu e Wang, 2006; Rumpel et al., 2006).

Existe ainda grande preocupação devido à liberação lenta e progressiva de íons

metálicos (debris) no organismo. Esses debris são citotóxicos e responsáveis por

hipersensibilidades, respostas inflamatórias contínuas e progressivas e mesmo

(18)

osteossarcoma em cães (Hallab et al., 2000; Pereira et al., 2005; Kleiner e Silva, 2007;

Rasse et al., 2007; Sargeant e Goswami et al., 2007). Essas reações são particularmente

importantes quando os implantes são utilizados na coluna vertebral e face, devido à

proximidade com o tecido nervoso (Vaccaro et al., 2003; Yerit et al., 2005), mas os

debris não se limitam às regiões peri-implante, tendo sido encontrados em linfonodos

regionais e nos pulmões. A presença desses debris e suas conseqüências são

particularmente importantes em crianças e animais jovens já que permanecem no

organismo por longo tempo, além de que a permanência do implante pode afetar

negativamente o crescimento (Gogolewski, 2000; Maurer et al., 2002; Yerit et al., 2005;

Russias et al., 2006; Rasse et al., 2007).

Outras desvantagens de implantes metálicos incluem a interferência com alguns

tipos de técnicas de diagnóstico por imagem, a migração e colapso após algum tempo de

implantação e a sensibilidade ao calor ou frio (Oliveira, 2005; Sargeant e Goswami et

al., 2007). Para eliminar essas desvantagens uma alternativa é a remoção do implante

após a consolidação óssea, procedimento que envolve a realização de nova cirurgia,

com todos seus inconvenientes, custos e potenciais complicações (Weiler et al., 2000).

Nos últimos anos, a engenharia de biomateriais vem mudando a ênfase que dá a

materiais que permanecem completamente estáveis em meio biológico para materiais

que alteram suas propriedades ou biodegradam em resposta ao meio celular ou

extracelular (Doyle et al., 1991; Ni e Wang, 2002).

Os implantes reabsorvíveis eliminam as desvantagens dos implantes metálicos e

fornecem nova alternativa como material preenchedor de defeitos, proporcionando um

arcabouço para o crescimento de tecido ósseo com resistência mecânica. Um material

lentamente reabsorvido, com resistência e elasticidade próximas às do osso e a

capacidade de estimular a regeneração óssea, seria revolucionário no preenchimento de

defeitos ósseos e na fabricação de implantes, eliminando as desvantagens dos enxertos

autólogos e dos implantes metálicos (Rumpel et al., 2006).

A grande vantagem dos implantes reabsorvíveis na estabilização de fraturas é

que conferem resistência mecânica durante a regeneração óssea e, após a

osseointegração, normalmente de 4 a 8 semanas, são gradualmente reabsorvidos quando

não mais são necessários. Esses implantes degradam em meio biológico gerando

produtos de degradação que são incorporados aos processos fisiológicos e bem

tolerados pelo organismo receptor. Além disso, esses materiais possuem módulo de

(19)

interferem em exames por imagem e, à medida que são reabsorvidos, as forças

mecânicas são compartilhadas, progressivamente, entre osso e implante (An et al., 2000;

Vaccaro et al., 2003). Outra possível utilização desses implantes reabsorvíveis são os

sistemas de liberação lenta de medicamentos, com implantes contendo antibacterianos

contra osteomielite (An et al., 2000). Em alguns procedimentos na medicina do esporte,

não existe a necessidade de implantes de grande resistência mecânica ou são até

contra-indicados, abrindo caminho para utilização dos implantes biodegradáveis (Weiler et al.,

2000).

Existem disponíveis no mercado internacional, implantes ortopédicos

biodegradáveis fabricados por diferentes processamentos e diversas proporções de ácido

poliláctico (PLA) e ácido poliglicólico (PGA). Esses materiais foram testados como

espaçadores em cirurgias da coluna vertebral e na fixação de fraturas cranio-faciais

(Vaccaro et al., 2003; Pereira et al., 2005). Contudo, suas limitações encontram-se no

alto custo e na baixa resistência mecânica, reservando o uso em locais não submetidos a

grandes cargas, sendo considerados sistemas de fixação interna semi-rígida. Alguns

trabalhos relatam problemas na degradação, com ocorrência de inflamação asséptica e

osteólise associadas aos debris produzidos durante a degradação, e problemas de

instabilidade na interface desses implantes com o tecido ósseo, não ocorrendo

osseointegração, mas sim a formação de tecido fibroso circundante que pode evoluir

para encapsulamento fibrótico hipertrófico (Hench, 2000; Yerit et al., 2005; Lima Júnior

et al., 2006; Russias et al., 2006; Rasse et al., 2007).

3. Hidroxiapatita

A hidroxiapatita natural, representada pela fórmula Ca10(PO4)6(OH)2, é o

principal constituinte da parte mineral da matriz óssea. É uma cerâmica que pode ser

obtida de fonte natural ou sinteticamente (Cobb et al., 1990; Holden e Bernard et al.,

1990; Knowles et al., 1992; Borges et al, 2000; Boskey e Myers, 2004).

Atualmente, a hidroxiapatita tem como principal indicação clínica o

preenchimento de defeitos ósseos, auxiliando a regeneração em diversos locais como

nos seios maxilares, nas diáfises de ossos longos, na borda do osso alveolar e como

adjuvante em artrodeses (Brandão et al., 2002; Dórea Neto et al., 2004; Ajdukovic et al.,

(20)

A hidroxiapatita (HA) sintética é um material biocompatível, bioativo e

osseocondutor, ou seja, tem a capacidade de servir como suporte para o crescimento de

novo osso, dentro de seus poros, a partir das margens de um defeito (Cobb et al., 1990;

Holden e Bernard et al., 1990; Knowles et al., 1992; Ayers et al., 1998; Kienapfel et al.,

1999; Borges et al., 2000; Galego et al., 2000; Eid et al., 2001; Tampieri et al., 2001;

Boer et al., 2003; Ilan e Ladd, 2003; Duarte et al., 2006; Imaizumi et al., 2006; Scarano

et al., 2006; Resende et al., 2006; Vital et al., 2006). A HA não apresenta a propriedade

de osteoindução (Borges et al, 2000; Conz et al., 2005; Carlo et al., 2006 b).

A maioria dos materiais sintéticos são geralmente isolados por tecido conjuntivo

fibroso quando implantados no organismo, diferentemente dos bioativos, que formam

ligação fisico-química com o tecido ósseo. Diversos estudos demonstraram a ligação

direta da HA com o tecido ósseo, sem interposição de tecido conjuntivo fibroso. Foi

observado que, ao entrar em contato com fluidos corpóreos como o plasma sangüíneo, o

meio em torno da HA se torna ácido, como ocorre nas lesões cirúrgicas próprias do

processo de implantação, permanecendo sua superfície carregada negativamente, devido

a grupos OH- e PO-34. Esses grupos combinam, seletivamente, com o Ca+2, carregado

positivamente, formando fosfato de cálcio. À medida que o cálcio acumula, a superfície

começa a se tornar positiva, atraindo dos fluidos corporais, íons fosfato carregados

negativamente. Essa camada é instável e transiente e se transforma em camada de

apatita carbonatada, que foi demonstrada por Fujibayashi et al. (2003) por meio da

microscopia eletrônica de varredura. Esta camada é responsável pela bioatividade da

HA e alguns estudos demonstraram que os nanocristais de apatita muito semelhantes à

fase mineral da matriz óssea, que fornecem um ambiente para células precursoras

migrarem, fixarem e diferenciar-se em osteoblastos, produtores de novo osso. Esses

nanocristais também se associam às fibras colágenas da matriz orgânica produzida pelos

osteoblastos e, o recrutamento dessas células precursoras leva à formação de tecido

ósseo. Acredita-se que o plasma sanguíneo, primeira fase orgânica com a qual a HA

entra em contato ao ser implantada, inicie as trocas iônicas com sua superfície. Portanto,

pode-se considerar que a interface HA-tecido ósseo é um produto da combinação de

interações químicas, biológicas e fisiológicas (MacNeill et al., 1999; Rohanizadeh et al.,

1999; Borges et al., 2000; Hench, 2000; Kawachi et al., 2000; Kim, 2003; Kokubo et

al., 2003).

Diversos estudos enfatizam que a formação da camada de apatita na superfície

(21)

Kim, 2003). Após a implantação da HA, a seqüência de eventos passa pela

neovascularização, diferenciação de células osteoprogenitoras, formação de novo osso e

remodelamento ósseo (Walsh et al., 2003).

A semelhança da HA com a matriz óssea inorgânica é química, física e estrutural

(Oliveira, 2005; Wang et al., 2005). Sua estrutura apresenta poros que funcionam como

suporte para a migração e deposição de células osteogênicas, permitindo a formação de

novo osso. O contato estabelecido com o tecido ósseo se forma entre os grânulos e no

interior dos poros presentes em sua estrutura, dessa forma, a HA é incorporada ao tecido

ósseo em formação (Borges et al., 2000; Galego et al, 2000; Tampieri et al., 2001; Boer

et al., 2003; Woodard et al., 2007). Acredita-se que o tamanho ideal dos poros para

permitir a migração de células osteoprogenitoras esteja entre 150 e 500 μm (Tampieri et

al., 2001; Ilan e Ladd, 2003).

A HA pode ser reabsorvível, se for sinterizada durante seu processamento, ou

não reabsorvível, se for calcinada (Fujita et al, 2003). A forma de degradação da

hidroxiapatita é mais uma de suas vantagens. Envolve um processo correspondente à

degradação natural do tecido ósseo, por osteoclastos, sugerindo a possibilidade de

completa degradação durante o remodelamento normal do osso, o que seria ideal

(Borges et al., 2000; Rumpel et al., 2006). Foi observado que ocorre mais rapidamente

quando em contato com osso trabecular e medula óssea do que com o osso cortical

(Imaizumi et al., 2006).

A HA possui coesão nem resistência mecânica suficientes para ser usada na

fabricação de implantes (Boeree et al., 1993). Trata-se de um material rígido, com baixa

elasticidade, o que a torna frágil, limitando sua utilização em locais que requeiram

sustentação de peso (Shishatskaya et al., 2006). Além disso, a migração de partículas

para fora do defeito ósseo é um problema comum (Borges et al., 2000; Saba-Chujfi et

al., 2002; Rupprecht et al., 2003).

Para minimizar ou até eliminar os problemas gerados pelas deficientes

propriedades mecânicas da HA, ou seja, reduzir sua rigidez, aumentar sua elasticidade e

promover a coesão entre as partículas, uma das abordagens mais estudadas é sua

(22)

4. Polihidroxibutirato

O polihidroxibutirato (PHB) é um polímero (Fig. 1) natural biodegradável,

não-tóxico e biocompatível pertencente ao grupo dos polihidroxialcalonatos (PHAs).

Trata-se de um poliéster sintetizado por diversas bactérias gram-positivas e gram-negativas de

pelo menos 75 gêneros diferentes (Shishatskaya et al., 2002; Reddy et al., 2003;

Shishatskaya et al., 2004; Chen e Wu, 2005; Ray e Bousmina, 2005). O PHB é o PHA

melhor caracterizado até o momento (Reddy et al., 2003; Volova et al., 2003;

Shishatskaya et al., 2004; Chen e Wu, 2005; Oliveira, 2005; Ray e Bousmina, 2005).

Os PHAs têm sido testados como matéria-prima em diversas áreas, desde a

fabricação de embalagens para produtos agrícolas e de higiene, passando por brinquedos

e material escolar, até serem empregados na área médico-farmacêutica na fabricação de

fios de sutura, próteses, membranas para regeneração tecidual guiada, matriz para

cultura celular, cápsulas e sistemas de carreamento de drogas (Boeree et al., 1993;

Kostopoulos e Karring, 1994; Shishatskaya et al., 2002; Oliveira, 2005; Ray e

Bousmina, 2005; Liu e Wang, 2006).

Suas características mais importantes para utilização com biomaterial são a

biocompatibilidade, sua lenta biodegradação e as ótimas propriedades mecânicas

(Knowles et al., 1992; Boeree et al., 1993; Galego et al., 2000). Estudos demonstraram

que a resistência à compressão do PHB é muito semelhante à do osso humano,

sugerindo estudos voltados para sua utilização em ortopedia (Duarte et al., 2004).

Volova et al. (2003) e Shishatskaya et al. (2004) estudaram em ratos fio de

sutura de polihidroxibutirato, analisando parâmetros bioquímicos sangüíneos,

metabolismo protéico, funções renal e hepática e histologicamente, os linfonodos e o

tecido ao redor do implante. Eles demonstraram que o polímero não produz efeitos Figura 1. Fórmula estrutural do monômero do polihidroxibutirato.

H H | |

O —— C—— C—— C —— | | ||

(23)

adversos nos tecidos e no organismo como um todo e mantém sua força mecânica até a

cicatrização do tecido. Consideraram a reação inflamatória, observada por outros

pesquisadores, uma conseqüência da falta de pureza de alguns PHAs comercialmente

disponíveis, não preparados com a pureza necessária à utilização médica.

Além de biocompatível, o PHB demonstrou ótima osseointegração (Knowles et

al., 1992; Boeree et al., 1993; Shishatslaya et al., 2002). Doyle et al. (1991) analisando o

PHB, implantado em defeitos no côndilo femoral de coelhos observaram média de 90%

de aposição direta entre tecido ósseo e este polímero após implantação por seis meses.

A topografia da superfície do implante afetou a osseointegração, uma vez que

superfícies rugosas como pode ser a do PHB proporcionam um espaço adequado para

fixação dos osteoblastos, fornecendo locais para ancoragem dos filopódios (projeções

citoplasmáticas) e exercendo influência na adsorção de proteínas séricas (Wang et al.,

2004). O sucesso da implantação de compósitos depende de suas propriedades de

superfície, resistência mecânica, cristalinidade, porosidade e também do estado do osso

receptor e das condições de fixação e estabilização do compósito (Shishatskaya et al.,

2006).

Quando implantado num organismo PHB é biodegradável e pode ser absorvido

(Liu e Wang, 2006). Acredita-se que o PHB degrade em estágios in vivo iniciando por quebra hidrolítica não-específica das ligações ésteres. Isso resulta na formação de

D,L-ß-hidroxibutirato (HB), normalmente presente no sangue e tecidos, convertido a

acetoacetato. Este entra no ciclo do ácido tricarboxílico (Ciclo de Krebs) e é excretado

na forma de CO2 e H2O (An et al., 2000; Weiler et al., 2000; Volova et al., 2003).

Estudo recente, in vitro, relata que o HB não interferiu na progressão do ciclo celular e mais, ainda inibiu a morte celular apoptótica e necrótica (Cheng et al., 2006).

A taxa de biodegradação de um polímero depende de fatores relacionados ao

implante como seu tamanho, o tipo de polímero, seu peso molecular, a fase do material

(amorfa ou cristalina), a presença de aditivos e impurezas e do mecanismo de

degradação. Também depende de fatores relacionados ao indivíduo receptor, como local

de implantação, o estresse mecânico transmitido ao implante e a idade, podendo levar

meses ou anos para se completar (Luklinska et al., 1997; Shishatskaya et al., 2004).

A taxa de degradação de implantes ósseos é fator de extrema importância visto

que alguns polímeros podem perder sua resistência mecânica muito antes de atingida

adequada consolidação ou antes do preenchimento adequado do defeito ósseo (An et al.,

(24)

ácido poliglicólico, por exemplo, podendo ser usados para restauração de grandes

defeitos ósseos que demandam maior tempo (Shishatskaya et al, 2006). Além disso, o

PHB degrada gradual e lentamente em meio biológico, retendo sua força mecânica por

longo período (Reddy et al., 2003; Shishatskaya et al., 2004). As informações sobre taxa

de degradação do PHB não são uniformes, o que pode ser explicado por diferentes

ambientes de implantação e nas diferentes formas e tamanhos dos implantes utilizados

(Pouton e Akhatar, 1996).

Esse polímero já é conhecido e estudado nos EUA e Europa, onde seu custo de

produção é alto (Doyle et al., 1991). Pesquisadores brasileiros conseguiram reduzir

consideravelmente o custo de produção do PHB, em função da diferença entre o cultivo

da cana-de-açúcar, matéria-prima utilizada em nosso país, quando comparado com

cultivo do milho e da beterraba utilizados em outros países (Oliveira, 2005).

A produção do PHB se baseia na conversão microbiológica por bactérias que

consomem a sacarose e transformam parte dela em poliésteres armazenados em

grânulos intracelulares. As bactérias são cultivadas em fermentadores até que atinjam

uma quantidade suficiente e então sua alimentação é desequilibrada pela adição

exagerada de açúcar. Isso faz com que as bactérias acumulem o polímero em seu

citoplasma e, em seguida, basta romper sua membrana celular para purificar a resina daí

extraída, podendo-se obter de algumas bactérias até 70% de seu peso seco de PHB

(Reddy et al., 2003; Chen e Wu, 2005).

Esses polímeros podem ter inúmeras aplicações. Nas artrodeses, um substituto

com boa resistência mecânica e osteocondutividade forneceria a estabilidade e o

arcabouço para crescimento de novo osso necessário para o sucesso da cirurgia (Chen e

Wu, 2005).

Muitas questões essenciais sobre os polihidroxialcalonatos ainda necessitam ser

resolvidas, como por exemplo, o seu processamento associando-os a materiais bioativos

e a fármacos e o uso como base para cultura de células osteogênicas. A regeneração de

tecido ósseo em contato com compósitos em processo de biodegradação é um processo

complexo que ainda necessita de estudos aprofundados (Shishatskaya et al., 2006).

5. Compósito de hidroxiapatita e polihidroxibutirato (HA+PHB)

O propósito da associação de uma cerâmica com um polímero é unir a excelente

(25)

propriedades mecânicas do último, como resistência e elasticidade, muito semelhantes

às do osso cortical, mas que não possui a excelente bioatividade em relação ao tecido

ósseo (Doyle et al., 1991; Knowles et al., 1992; Boeree et al., 1993; Galego et al., 2000;

Hench, 2000; Shishatskaya et al., 2005).

Oliveira (2005) e Wang et al. (2005) demonstraram que a HA e o PHB são

sinergicamente compatíveis, com grande afinidade entre as fases e boa adesão deste

polímero aos grupamentos de HA, e concluíram que o PHB é eficiente como matriz

para esta cerâmica.

Estudos in vitro demonstraram que a associação HÁ e PHB não é citotóxica, não é imunogênica e é biocompatível (Doyle et al., 1991; Knowles et al., 1992; Shamshuria

et al., 2004; Wang et al., 2004; Shishatskaya et al., 2006).

O compósito HA+PHB é mais bioativo do que o PHB puro (Luklinska e

Bonfield, 1997; Wang et al., 2001; Ni e Wang, 2002). A introdução da HA na matriz de

PHB melhorou a bioatividade do PHB, demonstrada por melhores respostas de

osteoblastos, podendo ser o resultado de alterações na morfologia e química de

superfície (Wang et al., 2005). Estudos in vitro demonstraram a formação da camada de apatita carbonatada sobre a superfície do compósito HA+PHB, quando a quantidade

desses cristais foi diretamente proporcional às diferentes porcentagens de hidroxiapatita

presentes nos compósitos (Ni e Wang, 2002). Guerra Neto et al. (2005) estudaram in vitro um compósito associando PHB ao biovidro e também observaram a formação da camada de apatita. Shishatskaya et al. (2006) observaram maior proliferação de

osteoblastos em compósitos contendo HA associada ao PHB do que apenas o PHB,

aparentemente devido à maior facilidade para adesão das células à superfície mais

hidrofílica dos compósitos. Sabe-se que a adesão celular é geralmente melhorada em

superfícies rugosas e hidrofílicas (Anselme, 2000).

A associação HA+PHB possui propriedades mecânicas muito semelhantes às do

osso, principalmente quando se trata de forças de compressão, sendo compatível com o

uso como enxerto em áreas de tensão (Doyle et al., 1991; Boeree et al., 1993; Luklinska

e Bonfield 1997; Ni e Wang, 2002; Guerra Neto et al., 2005). Boeree et al. (1993)

observaram no teste de compressão que os compósitos com maiores proporções de HA

(40 e 50%) apresentaram mais fratura e ao término do teste se fragmentaram

completamente, o que não ocorreu com compósitos contendo menores proporções de

HA (10 e 20%). Essa observação é particularmente importante para utilização deste

(26)

submetidos a grandes cargas mecânicas. A resistência à tração também é inversamente

proporcional ao conteúdo de HA. Resultados semelhantes em testes mecânicos foram

obtidos por Doyle et al. (1991).

Luklinska e Bonfield (1997) demonstraram que o mecanismo de interação entre

compósito de HA+PHB e tecido ósseo ocorre pela degradação da matriz de PHB na

região de contato com o tecido ósseo, onde se formam novos cristais de HA associados

aos cristais já presentes. Osteoblastos penetram nos poros do compósito, se aderem e

proliferam, produzindo matriz óssea. À medida que o material é biodegradado, novos

poros são formados na matriz do compósito, novos osteoblastos irão aderir, e assim,

gradualmente, ocorre a substituição por tecido ósseo (Shishatskaya et al., 2006).

Não seria difícil pensar que esses resultados seriam obtidos associando a HA

com qualquer polímero, mas pequenas mudanças na composição são suficientes para

gerar grandes alterações nas características do compósito (Doyle et al., 1991). Doyle et

al. (1991) demonstraram que a associação HA+ PHB é muito superior em promover o

crescimento de novo osso do que a associação da HA com outros polímeros como o

polipropileno.

Diversos autores sugerem a utilização deste compósito como substituto para

enxertos autógenos, incluindo a preparação de modelos cortico-trabeculares para

reconstrução óssea (Ito et al., 2005; Imaizumi et al., 2006; Shishatskaya et al., 2006).

Essa alternativa surge com a possibilidade de fabricação de implantes em tamanhos e

formas apropriados dependendo da necessidade, onde a estabilidade e a resistência

proporcionadas seriam melhores e ainda continuariam a melhorar à medida que o

(27)

MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia deste trabalho utilizando animais experimentais foi analisada

pela Comissão de Ética do DVT / UFV, tendo sido aprovada em 01/03/2007 e

protocolada como processo n.° 37 / 2007.

Para este projeto foram utilizados 30 coelhos da raça Nova Zelândia,

esqueleticamente maduros à confirmação radiográfica, com idade de sete meses e

pesando entre 3 e 3,5 kg. Essa espécie é considerada padrão para estudos in vivo de biocompatibilidade, e apresenta taxas de formação e remodelamento ósseos cerca de 3 a

4 vezes maiores do que na espécie humana (An et al., 2000; Kudo et al., 2001). Os

animais tiveram um período mínimo de um mês para aclimatação ao novo ambiente,

foram alojados em gaiolas individuais recebendo no dia de chegada ivermectina1 na

dose de 0,4 mg/kg pela via subcutânea e ração fornecida duas vezes ao dia e água ad libitum.

Previamente à cirurgia, os animais receberam 40.000 UI/kg de penicilina G2 pela

via intramuscular, foram sedados com levomepromazina3 na dose de 2 mg/kg e

anestesiados com associação de tiletamina-zolazepam4 na dose de 30mg/kg, ambos pela

via intramuscular. A região de ambos os membros torácicos, estendendo-se desde a

região proximal da diáfise do úmero até o carpo, foram tricotomizadas e a antissepsia

pré-operatória foi feita de acordo com as normas do DVT-UFV. Em seguida, realizou-se

bloqueio anestésico do plexo braquial com 1,5 ml de lidocaína5, em cada membro.

Foi realizada incisão curva de pele de aproximadamente 3 cm de comprimento

na superfície lateral da articulação umerorradioulnar. Foi realizada incisão na fáscia do

músculo tríceps braquial permitindo assim afastar parte do ventre da cabeça lateral do

músculo tríceps braquial e do tendão do músculo tríceps braquial em direção proximal

ao olécrano, liberando parte da inserção lateral do tendão com uma lâmina de bisturi.

Em seguida, uma incisão uma incisão reta de aproximadamente 3 cm de comprimento

foi realizada na bolsa tricipital, expondo, assim, a superfície lateral do olécrano. Uma

falha óssea circular foi realizada na cortical lateral do olécrano, com o auxílio de uma

1

Ivomec ®- Merial. Campinas-MG, Br.

2

Megacilin® - União Química Farmacêutica Nacional S/A. São Paulo- SP, Br.

3

Neozine®- Sanofi-aventis. São Paulo- SP, Br.

4

Zoletil 50® - Farmavet Produtos Veterinários LTDA. São Paulo- SP, Br.

5

(28)

broca trefina6 de 4 mm de diâmetro acoplada a uma perfuratriz elétrica (Fig. 2A).

Durante a perfuração, o local foi irrigado com solução fisiológica estéril para evitar

aquecimento.

Os compósitos foram fabricados com uma mistura dos biomateriais absorvíveis

hidroxiapatita sintética7 e polihidroxibutirato (PHB), em 3 diferentes proporções. O

compósito um foi confeccionado com 10% de HA e 90% de PHB, o compósito dois

com 25% de HA e 75 % de PHB e o compósito três com 50% de HA e 50% de PHB. Os

compósitos foram fornecidos em formato retangular de aproximadamente 15 mm de

comprimento por 6 mm de largura. Para adequar o tamanho e formato dos compósitos

ao defeito, os blocos foram cortados com uma broca trefina8 de 4 mm de diâmetro

acoplada a uma perfuratriz elétrica, com irrigação constante com solução fisiológica

estéril.

Os 30 coelhos foram divididos aleatoriamente em dois grupos sendo o primeiro

o grupo controle, com 12 animais e o segundo, o grupo tratado com 18 animais. Os

animais do grupo controle (C) não receberam qualquer forma de tratamento, ou seja, o

defeito foi preenchido pelo coágulo que se forma normalmente. Esses animais tiveram

ambos os membros operados, sem o preenchimento com compósito. Ambos os

membros dos animais do grupo tratado foram operados, mas cada membro recebeu um

compósito de concentração diferente (Tab. 1), portanto, o grupo tratado foi subdivido

em três grupos. Os membros do grupo tratado 1 receberam o compósito 1 dentro do

defeito provocado experimentalmente na ulna (Fig. 2B). O mesmo foi realizado para os

grupos tratados 2 e 3, onde os membros receberam os compósitos 2 e 3,

respectivamente.

A bolsa tricipital, tendão do músculo tríceps braquial e parte da cabeça lateral do

músculo tríceps braquial foram aproximados em um só plano com sutura em padrão

simples contínuo e em seguida a pele com pontos separados, ambos utilizando fio

não-absorvível de náilon9. Imediatamente após a cirurgia foram realizadas radiografias de

cada membro nas posições mediolateral com a articulação umerorradioulnar flexionada

em aproximadamente 90° e tangencial ao olécrano. Nesta última radiografia, o animal

foi posicional em decúbito dorsal com o úmero paralelo à mesa e a articulação

umerorradioulnar em total flexão.

6

Neodent®- Curitiba- PR, Br.

7

HAP 91®- JHS Laboratório Químico. Sabará- MG, Br.

8

Neodent®- Curitiba, Br.

9

(29)

Tabela 1. Distribuição dos compósitos contendo 10% de HA e 90% de PHB (grupo 1), 25% de HA e 75% de PHB (grupo 2) e 50% de HA e 50% de PHB (grupo3) nos membros por animal.

Animais Membro Direito Membro Esquerdo 1 compósito 1 ( grupo1) compósito 2 (grupo 2) 2 compósito 1 (grupo 1) compósito 3 (grupo 3) 3 compósito 2 (grupo 2) compósito 3 (grupo 3) 4 compósito 2 (grupo 2) compósito 1 (grupo 1) 5 compósito 3 (grupo 3) compósito 1 (grupo 1) 6 compósito 3 (grupo 3) compósito 2 (grupo 2)

7 controle controle

8 controle controle

9 controle controle

10 controle controle

Obs.: essa tabela mostra a subdivisão para 10 animais apenas, o mesmo foi realizado para os outros 20 animais.

Os cuidados pós-operatórios incluíram, em todos os animais, a administração de

2 mg/kg de morfina10 no pós-operatório imediato pela via subcutânea e 40.000 UI/kg de

penicilina11 pela via intramuscular a cada 24 horas por dois dias. Os animais foram

avaliados diariamente nos primeiros oito dias e depois aos 45 e 90 dias.

Cada membro foi avaliado quanto à claudicação, de acordo com o apoio da

extremidade do membro com os escores: 0-sem claudicação; 1-apoio com claudicação;

2-ausência completa de apoio. A ferida cirúrgica foi avaliada quanto a presença de

10

Dimorf®- Cristália do Brasil. São Paulo- SP, Br.

11

Megacilin® - União Química Farmacêutica Nacional S/A. São Paulo- SP, Br.

Figura 2. Procedimento cirúrgico para realização do defeito experimental na ulna de coelho. A- Realização do defeito na cortical lateral do olécrano com broca trefina acoplada a perfuratriz elétrica sob irrigação com solução salina. B- Compósito 1 (seta) dentro do defeito.

A

(30)

reação inflamatória, deiscência e infecção. Para avaliar a reação inflamatória os

parâmetros analisados foram o edema, avaliado quantitativamente pela mensuração da

circunferência do membro no local da ferida cirúrgica, e a sensibilidade dolorosa,

avaliada pela reação do animal ao toque da ferida cirúrgica e flexão e extensão da

articulação umerorradioulnar, atribuindo-se os escores: 0-quando não existiu qualquer

manifestação do animal; 1-retração do membro sem outra manifestação; 2-retração do

membro associada a vocalização ou tentativa de fuga. A deiscência de sutura foi

avaliada em presente ou ausente assim como a infecção da ferida cirúrgica, observada

pela presença de secreção purulenta proveniente do local.

A avaliação estatística para as variáveis infecção, claudicação, dor e deiscência

consistiu na comparação entre os dias um, quatro e oito dentro de cada grupo para

avaliar a evolução do parâmetro com o passar do tempo e na comparação entre os

grupos em cada um desses dias. Utilizou-se teste estatístico de Kruskal-Wallis com

p<0,05. A variável edema foi avaliada como evolução de um mesmo animal utilizando

o teste de Wilcoxon para amostras não independentes já que o importante não era o

valor da circunferência do membro mas sim a diferença de valores de um dia para o

seguinte. Comparou-se as medidas pré-cirúrgicas e os dias um, quatro e oito após a

cirurgia, com p<0,05.

Quatro animais de cada grupo foram eutanasiados com sobredose anestésica12

em cada um dos dias oito, 45 e 90 após a cirurgia quando foram realizadas duas

radiografias de cada membro, novamente nas posições mediolateral e tangencial ao

olécrano. A técnica radiográfica foi padronizada em todos os momentos para a distância

de um metro do aparelho ao filme, 40 quilovolts e 0,04 segundos de tempo de

exposição. Foram coletadas desses animais duas amostras para processamento

histológico, uma do olécrano direito e a outra do esquerdo, contendo o defeito, nesses

mesmos dias.

As radiografias foram analisadas observando a radiopacidade do defeito em

comparação com a do osso normal. Foram confeccionados esquemas em folhas

transparentes que foram sobrepostos às radiografias permitindo melhor definição dos

locais de radiopacidade semelhante ao osso vizinho (Fig. 3). Esses esquemas tiveram

como resultado a definição de quatro quadrantes, permitindo uma melhor análise da

radiopacidade de cada quadrante caracterizada em menor, semelhante ou maior do que a

12

(31)

do osso vizinho. Ainda utilizando esses esquemas, observou-se as bordas do

defeito/compósito, caracterizando se a margem de cada quadrante podia ser facilmente

delimitada ou não, ou seja, se o limite entre osso e compósito podia ser bem distinguido.

A radiografia mediolateral de cada membro obtida no pós-operatório imediato

foi sobreposta à sua radiografia correspondente aos oito, 45 ou 90 dias, para analisar o

tamanho do defeito, observando se existiu contato entre o osso e o compósito. As

radiografias tangenciais ao olécrano foram utilizadas para observação de reação

periosteal.

Radiografias seqüenciais durante o período estudado não foram realizadas para

evitar a freqüente necessidade de sedação dos animais e morte por estresse à

manipulação.

Os fragmentos dos olécranos coletados em cada dia foram fixados em formol

10% tamponado por um tempo médio de três dias. Após esse período os fragmentos

foram descalcificados em ácido fórmico a 10% tamponado com citrato de sódio para pH

4,5 sob vácuo moderado por aproximadamente 20 dias e seccionados no sentido

transversal ao eixo longo da ulna, no centro do defeito (Fig. 4) para se obter a superfície

de análise. Após a descalcificação, foram lavados em água corrente e então desidratados

em álcoois etílicos a 70, 80, 90 e 100% durante 24 horas em cada etapa e repetida a

100%. A seguir, foram diafanizados em dois banhos de xilol por 30 minutos cada e

embebidos em dois banhos de parafina em estufa a 58 °C por 30 minutos cada. Foram

obtidos cortes de cinco μm de espessura, corados pelas técnicas da hematoxilina-eosina,

tricrômico de Gomori e azul de toluidina, para posterior análise à microscopia de luz. Figura 3. Representação da análise radiográfica. Esquema da radiografia mediolateral (A), esquema da divisão em quadrantes em transparência (B) e sobreposição para divisão em quadrantes (C).

tecido ósseo

(32)

Figura 4. Sentido de corte do fragmento do olécrano para obtenção da superfície de

análise. Vistas lateral e cranial do fragmento coletado da ulna. A vista

caudo-cranial demonstra as regiões anatômicas em relação ao defeito onde: T- região

trabecular, L-região lateral, P- região proximal e D- região distal. Estas últimas (P e D)

são as regiões ao redor do compósito.

O material foi analisado qualitativa e quantitativamente. Qualitativamente,

foram caracterizados os tecidos e células presentes em toda a amostra.

A análise quantitativa, ou seja, histomorfometria, foi realizada para avaliar a

presença de osteoclastos na região de tecido ósseo em todos os grupos. Apenas nos

grupos tratados foram avaliados também quantitativamente o tecido predominante na

interface com o compósito, a proporção entre os tecidos formados no defeito como um

todo, ou seja, na região trabecular e a proporção entre os tecidos formados no interior do

compósito.

O número de osteoclastos presentes em 10 campos por amostra foi contado em

aumento de 200X nos grupos tratados e controle. Utilizando o teste estatístico de

Kruskal-Wallis seguido pelo teste de comparações múltiplas de Dunn’s, analisou-se a

diferença entre os grupos a cada dia e a diferença entre os dias de um mesmo grupo,

com p<0,05.

Com auxílio de ocular graduada com 18 colunas e 12 linhas correspondendo a

216 pontos eqüidistantes de interseção, foram quantificados percentualmente as

estruturas compósito, tecido ósseo, tecidos moles e medula óssea, em aumento de 40x,

somente nos grupos tratados. A grade foi posicionada de forma que as três primeiras

linhas estivessem completamente sobre o compósito e a quarta linha sobre os tecidos,

apenas na região trabecular, não incluindo as regiões proximal e distal ao defeito,

(33)

permitiu a obtenção de dados para verificar se existiu diferença entre a porcentagem de

tecido ósseo formado dentro do defeito em relação à porcentagem de tecidos moles em

cada dia, utilizando o teste de Mann-Whitney com p<0,05. Também pode-se analisar se

existiu diferença entre porcentagem de tecido ósseo formado entre os grupos

comparando cada dia assim como para a porcentagem de tecidos moles. Esse mesmo

tipo de comparação, para tecido ósseo e tecidos moles, foi realizada para verificar se

existiu diferença na formação de cada tecido entre os dias num mesmo grupo. Para essas

comparações entre os grupos e dias foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis,

complementado pelo procedimento de comparações múltiplas de Tukey ou Dunn’s com

p< 0,05.

Realizou-se a caracterização dos tecidos presentes na interface com o

compósito, permitindo a obtenção do percentual de tecido ósseo, medula óssea e tecidos

moles. Com uma grade contendo 33 linhas verticais e 25 linhas horizontais, foram

contados apenas o primeiro ponto de interseção imediatamente após o compósito em

cada linha em aumento de 100X. Esses dados permitiram analisar as diferenças na

relação entre tecidos ósseo e moles em cada dia em cada grupo e a diferença para cada

tecido entre os grupos. Os mesmos testes estatísticos citados no parágrafo anterior

foram utilizados para essas comparações.

Para analisar a formação de tecidos dentro do compósito foi utilizada uma grade

contendo 100 pontos eqüidistantes, sobreposta somente no interior do compósito em

cinco campos por amostra em aumento de 100X. A comparação entre os dados seguiu

(34)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

1. Trans-operatório

O compósito um, contendo 10% de HA, se mostrou mais resistente ao corte e

manipulação do que os compósitos dois e três. O compósito três (50% de HA) se

mostrou frágil, se quebrando algumas vezes, dificultando seu corte para adequação ao

formato do defeito, o que pode limitar sua utilização para a fabricação de parafusos e

placas. Esta observação está de acordo com os achados de Doyle et al. (1991) e Boeree

et al. (1993) que observaram que os valores de resistência à tração e compressão eram

inversamente proporcionais à porcentagem de HA dos compósitos.

Observou-se uma distância de aproximadamente um milímetro entre a margem

do defeito e o compósito à implantação dos compósitos no defeito, que no momento da

cirurgia foi preenchida por coágulo. Essa diferença ocorreu devido à utilização da

mesma broca para fazer o defeito no osso e o corte do compósito, resultando na retirada

do diâmetro externo da broca, ao corte do osso e, do diâmetro interno da broca, ao corte

dos compósitos. Essa distância corresponde à espessura da broca.

2. Exame Clínico

Para análise dos parâmetros clínicos é necessário ressaltar que os dados

apresentados são de 12 membros por grupo, correspondendo a quatro animais

necessários a cada dia de exame histológico (8, 45 e 90 dias). Do total de 30 animais, 18

pertenceram aos grupos tratados, perfazendo 36 membros operados, 12 em cada grupo

um, dois e três. Os 12 animais restantes constituíram o grupo controle, com ambos os

membros operados com a finalidade de eliminar interferências nos dados clínicos,

particularmente na claudicação. Desses animais, apenas as variáveis de um membro,

escolhidas aleatoriamente, foram utilizadas para análise.

Como pode ser observado na tabela 2, nenhuma das variáveis se apresentou em

mais do que quatro membros por grupo, ou seja, 33% deles. São demonstrados dois

valores, o primeiro deles referente ao número de membros que apresentaram o

parâmetro analisado e o segundo o número de dias nos quais o parâmetro foi

apresentado. Exemplificando, enquanto na análise por membro observa-se a existência

(35)

dias observa-se que, de um total de 96 observações (8 observações para cada um dos 12

membros), esse parâmetro foi observado em apenas um dia, uma análise mais precisa

para os variáveis dor e claudicação.

Tabela 2. Resultado da análise dos parâmetros clínicos de acordo com o número de membros afetados e número de manifestações durante o período de exames, após a realização de defeitos ósseos experimentais na ulna de coelhos e implantação ou não (grupo controle – C) de compósitos contendo 10% de HA e 90% de PHB (grupo 1), 25% de HA e 75% de PHB (grupo 2) e 50% de HA e 50% de PHB (grupo3).

DOR CLAUDICAÇÃO DEISCÊNCIA INFECÇÃO

n° de membros n° de dias n° de membros n° de dias n° de membros n° de dias n° de membros n° de dias

C 3 8 2 4 1 7 0 0

1 1 1 0 0 3 7 0 0

2 3 12 3 a 8 b 4 13 1 4

3 3 7 2 3 1 3 0 0

Total de observações

em cada grupo

12 96 12 96 12 96 12 96

Variáveis dor e claudicação correspondem ao grau 1 com exceção dos valores assinalados por a

e b. Valor a corresponde a dois membros referentes ao grau 1 e um referente ao grau 2. Valor b

corresponde a cinco dias referentes ao grau 1 e três dias referentes ao grau 2.

A dor foi observada em até três membros por grupo (25%) ou em 12

observações (12,5%), todas classificadas em grau 1. Concentrou-se nos primeiros dias

após a cirurgia, ocorrendo nos últimos dias (seis, sete e oito) em quatro membros, dois

deles associados à deiscência (um grupo controle e um no grupo dois) e dois não

associados a outros parâmetros clínicos. Do grupo um, apenas um membro apresentou

dor grau 1 em apenas um dia de exame. Contudo, não foi observada diferença

significante entre os grupos. A demonstração de dor pelo toque da ferida cirúrgica e

movimentação da articulação umerorradioulnar pode ter sido influenciada pela

proximidade do examinador para o exame clínico, necessária para manipulação do

membro, inibindo ou alterando essa manifestação. Acredita-se que a claudicação seja

um parâmetro melhor para verificação da dor em coelhos, parâmetro esse analisado com

o animal em liberdade, sem manipulação direta durante o exame.

A claudicação se concentrou nos primeiros quatro dias após a cirurgia em todos

os grupos, predominantemente de grau 1. Este sinal clínico foi manifestado por no

(36)

grupo dois membro do grupo dois apresentou claudicação grau 2, associada à fratura na

região do olécrano onde foi realizada a cirurgia, estando também associada a dor grau 1.

Não foi observada diferença significante entre os quatro grupos.

Deiscência foi observada em no máximo quatro membros por grupo, se

concentrando nos últimos dias de exame clínico, com exceção de um membro do grupo

controle e um do grupo um. Não existiu diferença entre os grupos. É importante

salientar que deiscência ocorreu devido à interferência do animal em todos os casos com

exceção do membro que apresentou infecção. Apesar da interferência do animal, a

região peri-implante não sofreu influência, já que a deiscência se limitou à sutura de

pele, não afetando o tecido subcutâneo ou fáscia.

Infecção da ferida cirúrgica foi observada em um membro do grupo dois estando

associada a dor grau 1 e deiscência. Nos outros grupos este parâmetro não foi

observado, não existindo diferença entre os quatro grupos.

Não foram observadas diferenças significantes para as variáveis dor,

claudicação, deiscência e infecção entre os dias dentro de cada grupo, além da

comparação entre os grupos já citada. A semelhança dos grupos tratados com o controle

indica que esses sinais clínicos ocorreram devido ao próprio ato cirúrgico e não devido

ao compósito. Observações semelhantes foram realizadas por Borges et al. (2000) com

HA em tíbia de cães e Vital et al. (2006) com HA na ulna de coelhos. A semelhança

entre os grupos tratados indica que o maior conteúdo de PHB não interferiu nos

parâmetros clínicos.

Como esperado, nos quatro grupos existiram diferenças significantes entre os

valores pré-operatórios da circunferência do membro em relação aos valores do

primeiro dia, indicando a existência de edema no primeiro dia, possivelmente devido à

manipulação dos tecidos no ato cirúrgico assim como sugerido por Pouton e Akhtar

(1996). Comparando-se os valores pré-operatórios com o quarto dia, existiu diferença

significante nos grupos controle, dois e três, o que não ocorreu no grupo dois

demonstrando que nos membros deste último grupo o edema não era significativo nessa

data. A diferença entre os valores pré-operatórios e aos oito dias após a cirurgia não foi

significante em nenhum dos grupos. Esses dados corroboram com a possibilidade dos

materiais serem biocompatíveis.

Comparando a média da diferença de circunferência entre os membros (Tab. 3)

observou-se que não existiu diferença significante, indicando que a formação de edema

(37)

Um animal do grupo controle aos 90 dias apresentou-se extremamente

emaciado, com porte e peso semelhantes aos que tinha aos sete meses de idade,

diferindo dos demais à eutanásia, então com 10 meses de idade, todos maiores e mais

pesados. Os dados desse animal foram desconsiderados em todas as análises.

Tabela 3. Médias e desvio padrão das diferenças dos valores de circunferência (cm) dos membros, após a realização de defeitos ósseos experimentais na ulna de coelhos e implantação ou não (grupo controle – C) de compósitos contendo 10% de HA e 90% de PHB (grupo 1), 25% de HA e 75% de PHB (grupo 2) e 50% de HA e 50% de PHB (grupo 3).

Grupos Dias

1 2 3 C pré X dia 1 0,9 ± 0,5 a 0,6 ± 0,7 a 0,6 ± 0,4 a 0,6 ± 0,6 a

pré X dia 4 0,5 ± 0,6 b 0,3 ± 0,5 b 0,3 ± 0,8 b 0,4 ± 0,5 b pré X dia 8 0,3 ± 0,7 c 0,1 ± 0,4 c 0,5 ± 0,8 c 0,2 ± 0,6 c

Letras minúsculas iguais na mesma linha não diferem de forma significante pelo teste de Kruskal-Wallis, com p<0,05.

3. Análise radiográfica

As radiografias obtidas no pós-operatório imediato se caracterizaram no grupo

controle por radiopacidade do defeito menor do que a do osso vizinho em todos os

quadrantes, com bordas bem delimitadas e ausência de reação periosteal (Fig. 5A).

Pode-se verificar nas radiografias do pós-operatório imediato dos três grupos tratados

que os compósitos foram devidamente implantados no sítio receptor, sem migração, o

que também foi verificado nos exames clínicos. O compósito um apresentou-se menos

radiopaco do que o osso vizinho. Foi observado um halo menos radiopaco do que o

compósito ao seu redor (Fig. 6B), correspondendo à distância entre a parede do defeito e

o compósito, observada no trans-operatório ocupada pelo coágulo sangüíneo (Fig. 1B).

Sabe-se que os tecidos moles não são radiopacos devido à ausência da matriz

calcificada (Sá et al., 2007). Esse mesmo halo radiotransparente foi observado ao redor

dos compósitos dois e três, contendo 25 e 50% de HA, respectivamente (Fig. 5C e 5D),

Imagem

Figura 1. Fórmula estrutural do monômero do polihidroxibutirato.              H         H
Figura 2. Procedimento cirúrgico para realização do defeito experimental na  ulna de coelho
Figura 3. Representação da análise radiográfica. Esquema da radiografia  mediolateral (A), esquema da divisão em quadrantes em transparência (B) e  sobreposição para divisão em quadrantes (C)
Figura 4. Sentido de corte do fragmento do olécrano para obtenção da superfície de  análise
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Referências

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