RESSALVA
Atendendo solicitação da autora, o texto
completo desta tese será
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – RIO CLARO
unesp
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (ZOOLOGIA)
Diversidade e evolução do gênero
Adenomera
Steindachner, 1867 (Anura, Leptodactylidae)
C
ARLA
S
ANTANA
C
ASSINI
Tese apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutora em Ciências Biológicas (Área de concentração Zoologia).
C
ARLA
S
ANTANA
C
ASSINI
Diversidade e evolução do gênero
Adenomera
Steindachner, 1867 (Anura, Leptodactylidae)
Orientador:
Célio Fernando Baptista Haddad
Março
2015
C
ARLA
S
ANTANA
C
ASSINI
Diversidade e evolução do gênero
Adenomera
Steindachner, 1867 (Anura, Leptodactylidae)
C
OMISSÃO
E
XAMINADORA
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
Rio Claro, 30 de março de 2015.
A
GRADECIMENTOS
Este trabalho só se concretizou porque ao longo dos anos pude contar com a preciosa ajuda de várias pessoas, às quais agradeço sinceramente:
Ao meu orientador Célio pela oportunidade concedida, pelo exemplo profissional e pela confiança depositada em mim.
À minha família, Sérvio, Vanira e Pedro pelo estímulo constante e apoio incondicional para que eu seguisse a carreira acadêmica.
Aos curadores das coleções José Pombal Júnior, Paulo Garcia, Mirco Solé, Hussam Zaher, Taran Grant e Julián Faivovich pelo empréstimo de tecidos e exemplares sob seus cuidados, sem os quais não este projeto não teria sido viável.
Ao Axel Kwet pela atenção nos e-mails e pelos cantos cedidos para análise dos holótipos de
A. araucária e A. engelsi, e de exemplares de A. nana e de i sp. n “catarinense”.
Ao Phillippe Kok pela gentileza em examinar caracteres morfológicos de Adenomera lutzi e A. heyeri.
À Ariadne Fares e Mariana Lyra pela inestimável ajuda no CEIS.
Ao Antoine Fouquet pela oportunidade de colaboração.
Ao Pedro Taucce pela oportunidade de orientação, colaboração e principalmente por deixar meu dia a dia mais leve. À sua amizade serei sempre grata!
À Mariana Lyra pelo abrigo cedido durante a escrita da tese num ambiente inspirador.
Aos colegas de laboratório UNESP-RC Bianca Berneck, Marina Walker, Carol Calijorne, Ariadne Fares, Pedro Taucce, Barnagleison Lisboa, Francisco Brusqueti, Carlos Paulo Callithrix, Fábio Quase Perin, Lucas Bandeira, Danilo Barea Jesus, Eliziane Garcia, Nadya Pupin, Laryssa Teixeira, Vinícius Loredam, Thaís Condez, Délio Baêta, Leo Malagoli, Maria Tereza, Olívia Gabriela e Marília Peri pelo convívio diário produtivo e divertido.
Ao Taran Grant e Boris Blotto pelas discussões sempre inspiradoras e produtivas.
Ao Victor Dill, por nunca ter se cansado de conversar sobre trabalho comigo, pela compreensão das minhas ausências e por me fazer tão bem mesmo nos momentos mais turbulentos de finais de teses. À sua amizade, companheirismo e amor. MUITO OBRIGADA!
Aos meus orientadores de graduação, Renato Feio, e de mestrado, Carlos Cruz e Ulisses Caramaschi, por serem as pessoas que, juntamente com o Célio Haddad, foram os principais responsáveis pela minha formação.
1
I
NTRODUÇÃO
G
ERAL
Documentar a biodiversidade se tornou uma corrida contra o relógio considerando o
ritmo da degradação ambiental e, consequentemente, da perda de hábitats das espécies (Da
Silva et al., 2005; Laurance, 2007), o aparecimento de doenças (Pounds et al., 2006) e a
ameaça de mudanças climáticas (Rull e Vegas-Vilarrubia, 2006). Nosso conhecimento acerca
da biodiversidade global ainda é rudimentar (Mora et al., 2011) e o que conhecemos não deve
representar 10% de toda a nossa biodiversidade (Hammond, 1992 apud Hanken, 1999). Esta
lacuna enorme no conhecimento não está limitada apenas a grupos como microorganismos e
artrópodos (Quince et al., 2008; Hamilton et al., 2013), mas também a alguns grupos de
vertebrados, como é o caso de anfíbios tropicais (Fouquet et al., 2007; Vieites et al., 2009;
Funk et al., “2011” [2012]).
Inevitavelmente, diversas espécies e populações serão extintas antes mesmo de serem
reconhecidas pela ciência (Wake e Vredenburg, 2008). Quando comparamos o conhecimento
da biodiversidade das diferentes regiões do mundo, nos chama a atenção a deficiência deste
conhecimento nos trópicos, que abrigam a maior biodiversidade global (Gaston e Williams,
1996; Dirzo e Raven, 2003). Os biomas da América do Sul são de extrema importância por
abrigarem mais espécies do que em qualquer outro lugar do mundo (Gaston e Williams, 1996;
Myers et al., 2000).
A Mata Atlântica está distribuída ao longo do leste e sudoeste do Brasil, leste do
Paraguai e norte da Argentina (Galindo-Leal e Gusmão Câmara, 2005). Este bioma é um dos
mais importantes hotspts para a conservação da biodiversidade mundial devido ao seu alto
2
virtude do grau de degradação e da velocidade de destruição da floresta (Galindo-Leal e Gusmão Câmara, 2005). A intensa ocupação humana e as consequentes formas de uso da terra ao longo da faixa litorânea atlântica brasileira fizeram com que sua área fosse reduzida para 8% a 11% da formação original, sendo que mais de 80% dos remanescentes florestais correspondem a fragmentos menores do que 50 ha, com variados graus de isolamento (Galindo-Leal e Gusmão Câmara, 2005; Ribeiro et al., 2009). Dado que um terço das espécies de anfíbios está
ameaçado de extinção — mais do que qualquer outro grupo de vertebrado (Stuart et al., 2004)
– conhecer a biodiversidade de anfíbios deste bioma se torna um dos desafios mais
importantes diante da crise da biodiversidade (Wake e Vredenburg, 2008).
Entretanto, conhecer a biodiversidade de anfíbios anuros é uma tarefa árdua, pois no
geral, estes apresentam morfologia bastante conservada (Emerson, 1986). Contudo, avanços
em diferentes linhas de pesquisas, dentre elas a biologia molecular, nos permite examinar
mais de perto a extensão da complexidade desta biodiversidade. As descobertas de espécies
crípticas (sensu Bickford et al., 2007) estão alterando nossa percepção da estrutura da
biodiversidade em níveis taxonômicos, ecológicos, biogeográficos, evolutivos e de políticas
de conservação (Angulo and Icochea, 2010; Bickford et al., 2007; Pfenninger and Schwenk,
2007).
O gênero Adenomera é constituído atualmente por 18 espécies distribuídas na
América do Sul ao leste dos Andes, das quais oito estão distribuídas na Mata Atlântica. As
espécies do gênero geralmente apresentam desenvolvimento terrestre com girinos
endotrófico e constroem ninhos de espuma subterrâneos com desovas pequenas. No entanto,
duas espécies, A. diptyx e A. thomei, apresentam desovas maiores e fase larval aquática (De
la Riva, 1996; Almeida e Angulo, 2006). Apesar do grupo ser composto por espécies
3 estudos de sistemática de anuros devido à sua taxonomia “caótica” (Angulo, 2004; Duellman,
2005). A complexidade taxonômica observada no gênero Adenomera pode ser atribuída
devido a nossa dificuldade de: i) encontrar padrões morfológicos intra e interespecíficos a
partir de indivíduos depositados em coleções e ii) estabelecer uma correlação de confiança
dos dados acústicos com indivíduo depositado em coleção. Neste último caso, a situação mais
comum é ter acesso ao arquivo de canto através de terceiros mas não existir o indivíduo
testemunho, devido à dificuldade de coletar estes indivíduos em campo.
A primeira análise filogenética mais expressiva que incluiu o gênero Adenomera foi
conduzida por Fouquet et al. (2013) com 11 espécies amostradas. Utilizando uma análise
bayesiana, os autores recuperaram as espécies distribuídas na Mata Atlântica como um grupo
monofilético. Posteriormente, numa extensa amostragem molecular do gênero Adenomera,
Fouquet et al. (2014) delimitaram 35 espécies candidatas, das quais 16 já possuíam nome
naquele momento. Os autores se basearam num protocolo adaptado de Vieites et al. (2009),
buscando convergência hierárquica de evidências que incluía: monofilia recíproca,
divergência genética, compartilhamento de alelos e dados indiretos (baseados em literatura)
de morfologia e bioacústica da maioria das espécies candidatas.
O trabalho “Species delimitation, patterns of diversification and historical
biogeography of the Neotropical frog genus Adenomera (Anura, Leptodactylidae)” (Fouquet
et al., 2014; Apêndice 1) foi o primeiro subproduto desta tese. Na análise filogenética
bayesiana, utilizando 320 terminais, Fouquet et al. (2014, figura 1) não recuperaram as
espécies distribuídas na Mata Atlântica como um grupo monofilético. Nesta análise, o “clado
Thomei” composto pelas espécies A. thomei, A. sp. L e A. sp. M, é recuperado como irmão
4 Hylaedactyla (composto pelas espécies A. hylaedactyla e A. diptyx). Nesta topologia, o clado
Thomei + Martinezi + Hylaedactyla apresenta baixa probabilidade posterior (0,60).
Subsequentemente, no mesmo trabalho, quando um exemplar de cada espécie candidata foi
selecionado para as análises de datação molecular multilocus (‘species tree’) e concatenada,
ambas recuperaram as espécies distribuídas na Mata Atlântica como um grupo monofilético
com a topologia: clado Thomei + clado Marmorata (Fouquet et al., 2014; figura 4 a e b). Na
análise concatenada esta topologia apresenta propabilidade posterior com valor maior que
0,95, porém na análise multilocus a mesma topologia apresentou probabilidade posterior no
valor de 0,88. Após a submissão deste artigo, mais dados (moleculares, morfológicos e
bioacústicos) foram coletados e uma reanálise foi feita no presente estudo.
Assim, esta tese está organizada em dois capítulos. No primeiro capítulo, realizamos
uma análise filogenética do grupo com uma amostragem aumentada em relação a Fouquet et
al. (2014) e testamos a hipótese de que cada espécie candidada (confirmadas e não
confirmadas) dos clados Thomei e Marmorata (sensu Fouquet et al., 2014) constitui uma
espécie diagnosticável. Para tanto, usamos evidências moleculares, morfológicos e
bioacústica a partir de dados diretos (dados fenotípicos obtidos de exemplares analisados
molecularmente na análise filogenética). Em seguida, neste mesmo capítulo, apresentamos
as considerações taxonômicas oriundas da análise de variação fenotípica de cada espécie com
a descrição das espécies novas e redescrição das espécies de taxonomia complexa dos clado
Marmorata. No segundo capítulo buscamos identificar padrões de evolução de caracteres
fenotípicos, dentre eles aqueles usados para diagnosticar e diferenciar as espécies do gênero
Adenomera. Para tal, testamos hipóteses de homologias e buscamos levantar possíveis
237
C
ONCLUSÕESS
INAPOMORFIASApós uma análise de evidência total obtivemos uma árvore mais parcimoniosa,
que apresentou uma topologia na qual pudemos encontrar as sinapomorfias que
suportam os seguintes grupos:
Leptodactylinae:
* Sítio de oviposição em ambiente terrestre (caráter 8, estado 1), não
homoplástico.
* Presença de girinos capazes de produzir espuma (caráter 13, estado 1), não
homoplástico.
Leptodactylus + Hydrolaetare:
* Presença de projeções queratinizas na região medial dos dedos III e IV da
mão (caráter 24, estado 1), não homoplástico.
Leptodactylus:
* Sítio de vocalização em depressões naturais (caráter 7, estado 4), não
homoplástico.
Adenomera + Lithodythes:
* Extremidade distal dos artelhos III e IV expandidos (caracteres 17 e 18,
respectivamente, ambos estados 1), homoplástico. Este estado é
238
Adenomera:
* Presença do focinho espatulado (caráter 25, estado 1), homoplástico. Este
estado é encontrado também no grupo de Leptodactylus fuscus e em
Hydrolaetare.
Clado Hylaedactyla + Mata Atlântica:
* Extremidade distal do artelho II não expandido (caráter 16, estado 0),
homoplástico, com múltiplos surgimentos independentes.
Clado Marmorata:
* Presença de girinos endotróficos (caráter 14, estado 1), homoplástico. Este
estado de caráter também está presente nas espécies A. andreae e A.
hylaedactyla.
E
VOLUÇÃO DE CARACTERES A topologia da nossa árvore não suporta a hipótese da conquista gradual do meio terrestre. Na família Leptodactylidae, a independência do meio aquático não se
deu de maneira gradual, num cenário onde quanto mais dependente do ambiente
aquático mais basal é o grupo. Alguns estados de caracteres que denotam uma
maior independência da água (e.g., sítio de vocalização em depressões naturais;
sítio de oviposição em ambiente terrestre, girinos capazes de produzir espuma)
são simplesiomórficos na família Leptodactylidae.
Em Adenomera, a presença de girinos endotróficos é simplesiomórfica ou não a depender dos estados deste caráter em A. lutzi e A. heyeri e apareceu pelo menos
239 apresentam girinos exotróficos não são as mais basais no gênero, a conquista em