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O processo de aprendizagem organizacional: perspectivas do poder judiciário

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Academic year: 2017

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O PROCESSO DE APRENDIZAGEM

ORGANIZACIONAL: PERSPECTIVAS DO PODER

JUDICIÁRIO

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

MÁRCIA RELVAS DE SOUZA

(2)

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O PROCESSO DE APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL: PERSPECTIVAS DO

PODER JUDICIÁRIO

Por

Márcia Relvas de Souza

Dissertação apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (EBAPE) como requisito para a obtenção do grau de mestre em Administração Pública.

Orientador: Professor Dr. Paulo Roberto Motta

Rio de Janeiro

(3)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

Souza, Marcia Relvas de.

O processo de aprendizagem organizacional: perspectivas do poder judiciário / Marcia Relvas de Souza. – 2012.

73 f.

Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.

Orientador: Paulo Roberto Motta. Inclui bibliografia.

1. Aprendizagem organizacional. 2. Desempenho. 3. Gestão do conhecimento. 4. Poder judiciário. I. Motta, Paulo Roberto.

II. Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas. Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. III. Título.

CDD – 658.406

(4)
(5)

DEDICATÓRIA

À minha família

(6)

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço à minha família pelo suporte dado e amor incondicional que

nos une. Ao meu pai, por me estimular a pensar de forma positiva e confiante. À minha

mãe, por sua presença constante e ajudar a dar leveza às dificuldades. Aos meus irmãos,

grandes amigos, pela paciência e palavras de incentivo. Aos meus amados sobrinhos e

afilhados, por trazerem alegrias à minha vida e por terem compreendido minhas ausências.

Ao meu cunhado pelas sugestões dadas com muito bom humor.

Agradeço a todos os professores da EBAPE pelos ensinamentos e debates. Aos

funcionários da coordenação do mestrado e da biblioteca, pela atenção e cuidado, sempre

dispostos a colaborar e a encontrar soluções de forma ágil. À Alcina, Ana Lucia e Helena,

pela força e carinho.

Ao Prof. Paulo Motta, meu orientador, por ter sido amigo, compreensivo e paciente com os

momentos difíceis, me ajudando a prosseguir e chegar ao término, diante do meu desafio

de conciliar mestrado com o cargo que assumi no trabalho. O período de convivência foi

marcado pelo aprendizado e afeto e será eternamente guardado na minha memória.

Aos professores Armando Cunha e Marco Túlio pelo apoio, contribuições e troca de idéias

inspiradoras. À professora Carmen Migueles pelas valiosas conversas que provocaram

reflexão e muito me auxiliaram. Ao prof. Frederico Lustosa, que sempre me incentivou a

fazer mestrado. Ao Prof. Osvaldo Quelhas pelas observações na banca e pela atenção.

Aos meus amigos, companheiros da vida, por terem colaborado comigo, de forma incrível,

especial e única. Difícil colocar em palavras a gratidão que sinto pela presença e amparo

nos mais diversos momentos. Não sendo possível, nesta página, falar de cada um, registro

agradecimento a todos, aqui e no coração.

A todos os colegas do mestrado e doutorado pelos momentos memoráveis. À Mari, Elen,

Pri, Junior, Pedro, Jon, Tânia, Dani, Vanessa, Carlyle, Ariston, Miguel, Felipe, Oscar,

Priscila, Claudio, pela amizade construída e afetuoso suporte nessa trajetória. Palavras são

insuficientes para agradecer o carinho. Aos, igualmente, grandes parceiros, guria Cris,

Abner, Raposo e Rodrigo pela ajuda generosa e incansável que obtive, além, na reta final.

Agradeço especialmente, aos entrevistados que, com abertura e interesse, disponibilizaram

seu tempo a esta pesquisa e, também, a todas as pessoas do meu trabalho que torceram por

(7)

Resumo

A aprendizagem organizacional tem se apresentado como tema relevante nos estudos

organizacionais. Este estudo teve por objetivo identificar, a partir da percepção de gestores

responsáveis pela gestão de pessoas ou do conhecimento, de que maneira as organizações

judiciárias implementam práticas que possam facilitar o processo de Aprendizagem

Organizacional. A base teórica foi desenvolvida a partir das teorias sobre a aprendizagem

organizacional, conhecimento e competências. A pesquisa caracteriza-se como qualitativa

e descritiva e os dados foram coletados por meio de pesquisa bibliográfica e de campo.

Para a pesquisa de campo, optou-se pela realização de entrevistas semiestruturadas com

gestores de quatro diferentes Tribunais, estaduais e regionais federais. A análise dos dados

demonstra que as organizações judiciárias vêm implementando ações vinculadas ao

aprendizado organizacional, mas, ainda, há um grande desafio em potencializá-las na

busca de um crescimento coletivo. Revela, ainda, a importância da coordenação dessas

ações e do contexto que facilite o aprendizado, além de indicar que alguns fatores podem

inibir esse processo. Nota-se o entusiasmo dos gestores e o esforço na implementação de

tecnologias e práticas e a constatação, por parte dos mesmos, de que o Poder Judiciário

teve um avanço nos últimos anos.

Palavras-chave: Aprendizagem Organizacional, Competências, Gestão do Conhecimento,

(8)

Abstract

Organizational learning has emerged as a relevant issue in organizational studies. This

study aimed to identify, from the perception of managers responsible for people or

knowledge management, in which way judicial organizations implement practices that can

facilitate the process of organizational learning. The theoretical basis was developed from

the theories about organizational learning, knowledge and skills. The research is

characterized as qualitative and descriptive and the data was collected through literature

review and field research. The option for the field research was the semi-structured

interviews, carried out with managers of four different courts, states and federal regional.

The data analysis shows that judicial organizations are implementing actions related to

organizational learning, but there is still a great challenge in empowering them in search of

a collective growth. Moreover, it showed the importance of coordination of these actions

and context that helps the learning process. However, the survey revealed that some factors

may inhibit this process. Investments and effort to implement practices and technologies

are noticed, as well as an enthusiasm and the conclusion by the managers that the Judiciary

had a breakthrough in latest years.

(9)

Lista de Quadros

Quadro 1 - Aprendizagem/Renovação nas organizações: quatro processos através de três

níveis ... 21

Quadro 2- atritos que inibem o compartilhamento do conhecimento ... 32

Quadro 3 - transição para o modelo de competências ... 37

Quadro 4– categorias de análise ... 46

(10)

Lista de Abreviaturas

(11)

Lista de Figuras

Figura 2-1 – Aprendizagem Organizacional como um Processo Dinâmico ... 23

(12)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

1.1 Objetivos ... 13

1.1.1 Objetivo Final ... 14

1.1.2 Objetivos Intermediários ... 14

1.2 Suposição ... 14

1.3 Relevância do estudo... 14

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 17

2.1 A aprendizagem organizacional – abordagens ... 17

2.1.1 Aprendizagem Organizacional e Organizações de Aprendizagem: discussões ... 18

2.1.2 O vínculo entre a aprendizagem individual e organizacional ... 20

2.2 O conhecimento na aprendizagem organizacional ... 25

2.3 Aprendizagem Organizacional e relação com Competência ... 34

3 METODOLOGIA ... 43

3.1 Tipo de pesquisa ... 43

3.2 Universo e amostra ... 44

3.3 Coleta de dados ... 44

3.4 Tratamento dos dados ... 45

3.5 Limitações do método ... 46

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 47

4.1 Incentivo às atividades de educação: ações formais e informais ... 47

4.2 Estímulo à aproximação hierárquica ... 49

4.3 Estímulo ao Compartilhamento... 51

4.4 Competências - conceito ... 54

4.5 Integração entre as áreas ... 55

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 58

6 REFERÊNCIAS ... 66

APÊNDICE ... 73

(13)

1 INTRODUÇÃO

A aprendizagem organizacional tem se apresentado como tema relevante nos estudos

organizacionais. A geração e utilização de novos conhecimentos nas organizações é fator

crucial na busca de soluções, criando possibilidade de desenvolvimento de novas

competências para a ação (DAVENPORT e PRUSAK, 1998; LE BOTERF, 2003). Em

ambientes cada vez mais complexos novas competências são exigidas dos profissionais,

por conta das novas demandas e pressões externas, tornando-as um meio para garantir

maior desempenho (LE BOTERF, 2003).

Mas, as organizações não aprendem, são pessoas que aprendem dentro das organizações.

Pensar a aprendizagem organizacional é pensar de que forma as pessoas conseguem

aprender coletivamente. É, além disso, refletir sobre os desafios de transformar o

conhecimento dos indivíduos em soluções coletivas, capazes de aumentar a efetividade das

organizações.

Por ter um papel fundamental na sociedade, como garantidor dos direitos, o Poder

Judiciário busca, no dia a dia, essa efetividade. Ao longo da história do Brasil, vários

movimentos levaram à abertura de um processo mais democrático. A Constituição Cidadã

de 1988 apresenta para a sociedade um novo Estado com maior garantia dos direitos. Os

últimos 25 anos foram fundamentais na garantia de avanços democráticos e das

instituições brasileiras. Entretanto, ainda existe um longo caminho a se trilhar para garantir

as promessas desse projeto constitucional.

Ressalta-se, que mudanças significativas marcaram as duas últimas décadas no mundo.

Principalmente no Brasil, no que diz respeito ao reordenamento das relações entre a

Sociedade e o Estado, essas mudanças provocaram o necessário aperfeiçoamento contínuo

da gestão pública nas organizações que lidam, diariamente, com problemas da sociedade.

Pode-se observar que as organizações judiciárias vêm implementando esforços nessa

direção. Uma maior capacidade de ação requer o constante aprendizado, renovação e

inovação. Porém, não há como se pensar em aumentar essa capacidade, sem que se crie um

contexto propício ao aprendizado. Ademais, não se consegue pensar em novos modelos

sem que se reflita sobre eles e se construa algo a partir dessa reflexão.

Na introdução de novas práticas gerenciais para as organizações públicas foram criadas

(14)

sociedade. Outro ponto a se notar diz respeito à nossa cultura política. Os tradicionais

instrumentos burocráticos, valorizando o controle e a coerção inibem a autonomia das

pessoas. Ou seja, de que maneira processos inovadores convivem com o tradicional, o

convencional?

Segundo Motta (2007), a burocracia impõe certos limites aos comportamentos e às

iniciativas humanas. No setor público há uma excessiva hierarquização e fragmentação

das ações. Traços de cultura, como excesso de hierarquia, ainda presentes no contexto

organizacional brasileiro, dificultam os processos de inovação e mudança.

O estilo tecnocrático de gestão, usado em ampla medida pelos governos latino-

americanos, não é muito diferente da realidade brasileira, e se traduz pela concentração de

poder decisório nas mãos da tecnocracia insulada nos altos escalões burocráticos.

Nossa cultura política desconsidera a pluralidade, a autonomia e é fortemente marcada por

uma tradição/cultura pouco participativa na formulação e gestão de políticas públicas. A

administração brasileira possui ainda características remanescentes do patrimonialismo.

Destacando a importância do papel que o Poder Judiciário desempenha no

desenvolvimento do país, emerge, com importância na agenda pública, a necessidade de

uma renovação contínua dos seus modelos de gestão, assim como a forma de se relacionar

com a sociedade.

A construção democrática e a modernização do Estado não alteraram substancialmente as

relações com a sociedade, deixando ainda características tradicionais e fragilidades

institucionais (MOTTA, 2007; FAORO, 2001). Desta forma, isso se reflete nos modelos

de gestão dentro das organizações.

Ressalta-se, também, o fato de que um diferencial para gerar capacidade de respostas para

esse problema reside na possibilidade de criar novos conhecimentos, além de utilizar os já

existentes, aplicando-os a novas formas de atuação, num processo contínuo de

aprendizagem e de reconstrução de suas práticas.

Entretanto, a literatura sobre aprendizagem organizacional está mais voltada às

organizações privadas, mas considera-se aqui a importância do tema para a área pública

associando-o ao aumento da capacidade de respostas das organizações às demandas da

sociedade. A opção nesse trabalho se refere à visão orgânica, principalmente sobre a

(15)

organizacional.

No processo de criação do conhecimento as atividades que estejam voltadas à

experimentação, ao compartilhamento e à integração de vários indivíduos de diversos

setores da organização na busca de soluções promovem o crescimento, criam novas

capacidades e fortalecem as já existentes (CHOO, 2003).

Para que isso ocorra, a formação de cultura mais colaborativa é fator crucial. Portanto,

trata-se de um desafio para o Judiciário privilegiar aspectos coletivos para a produção do

conhecimento e aprendizagem.

Algumas características presentes na cultura organizacional, como limite de acesso à

informação, dificuldade de interação e de maior colaboração entre as pessoas representam

dificuldades ao aprendizado organizacional. Aspectos culturais e políticos de nossa

sociedade devem ser avaliados e considerados quando se propõe a inserção de novas

práticas.

O modelo de gestão adotado nas organizações, baseados em sua cultura e estruturas

organizacionais, afetam o ambiente, ajudando ou dificultando a criação de um clima

propício ao resultado institucional. A forma como as organizações incentivam padrões de

relacionamento acabam por caracterizar o modelo da gestão.

A distância existente dentro das organizações judiciárias, tanto do corpo profissional

(magistrados) e servidores, como das áreas administrativas e jurisdicionais parece

dificultar o compartilhamento de informações e atitudes colaborativas. As relações estão

mais democráticas e cria-se a expectativa que essas relações, também, estejam presentes

nas organizações. A democracia se aprende com participação, com mais educação, com a

possibilidade de erros e acertos, mas com avanço permanente.

O modelo baseado no controle induz a um comportamento de passividade, onde o medo de

cometer erros impera. Há muita prescrição nas atividades públicas e pouco espaço para

autonomia no trabalho. Os processos de trabalho, desta forma, tornam-se desenhados a

cumprir os rituais de controle. O excesso de controles e tarefas relacionadas a eles rompem

a relação entre a ação e o resultado, fazendo com que a maior parte do tempo das pessoas

esteja investida mais em trabalhar para os mecanismos de controle e menos para os

(16)

As tarefas não permitem criatividade. Nesse sentido, as pessoas esperam que seja dito a

elas o que fazer. Num ciclo vicioso, quem está na posição de ditar as regras e as ordens

julga esse comportamento como incompetência. As pessoas passam a acreditar que não

tem dentro de si mesmas as soluções para os problemas. Há uma perda de potencial para a

ação, quando não se considera a capacidade de contribuição das pessoas.

O setor público, tradicionalmente, tem sido considerado como inóspito para a inovação

(BORINS, 2001) e, suas organizações, como grandes burocracias caracterizadas pela

estabilidade e resistência para mudar (LÆGREID, RONESS E VERHOEST, 2009).

Contudo, um crescente corpo de evidências, revela que, apesar deste ambiente inóspito,

funcionários e gerentes, motivados por problemas internos, são responsáveis por muitas

inovações, que tendem a avançar nas organizações públicas, (BORINS, 2001; LÆGREID,

RONESS E VERHOEST, 2009), o que se pressupõe a existência de “brechas”, que

permitam mudança ao longo dos anos.

Isso leva a acreditar que seja fundamental e possível criar um contexto facilitador para a

aprendizagem organizacional e impulsionar o aumento da efetividade do judiciário. Porém,

vários são os pontos de análise quando se pensa em busca de soluções para uma justiça

mais ágil e efetiva. A padronização na burocracia contrasta com um ambiente complexo e

dinâmico.

O desafio da utilização de práticas e conceitos vinculados à aprendizagem organizacional

nas organizações judiciárias motivou a presente pesquisa. Mesmo considerando os seus

limites, em vários aspectos, propõe-se aqui que a identificação de mecanismos para a

criação de um ambiente propício à aprendizagem organizacional pode contribuir para o

crescimento das organizações públicas.

O problema da pesquisa proposto é: de que maneira estão sendo consideradas as práticas

que propiciam um contexto facilitador da aprendizagem organizacional em organizações

judiciárias?

1.1 Objetivos

Nesta seção são definidos os objetivos, final e intermediários, com base no problema de

(17)

1.1.1 Objetivo Final

Identificar de que maneira as organizações judiciárias implementam práticas que possam

facilitar o processo de Aprendizagem Organizacional.

1.1.2 Objetivos Intermediários

Para atingir o objetivo final fez-se necessário:

a) identificar práticas orientadas à criação de um contexto facilitador ao aprendizado

organizacional;

b) analisar de que maneira estão presentes no Poder Judiciário, práticas vinculadas ao

processo de aprendizagem organizacional.

1.2 Suposição

Supõe-se que características burocráticas e culturais das organizações públicas podem

dificultar o processo de Aprendizagem Organizacional.

1.3 Relevância do estudo

O Poder Judiciário, historicamente, constituiu-se como um poder hermético e distanciado

do cidadão. O processo de democratização do país é recente. Por ser um poder moderador

e garantidor dos direitos, o Judiciário tem seu papel na construção e manutenção do

processo democrático e suas decisões causam impactos no nível individual e coletivo.

A complexidade das relações sociais no mundo contemporâneo faz com que haja uma

crescente demanda na sociedade pelos serviços prestados pelo Judiciário. Na medida em

que cresce a consciência dos direitos e a internalização dos preceitos de cidadania, emerge

uma judicialização dos conflitos por parte da sociedade.

Com isso, cresce o desafio do judiciário, tendo que dar respostas a essas ações, com maior

celeridade, garantindo seu acesso, para que haja reconhecimento dos direitos, contribuindo

(18)

funcionamento e sua capacidade de gestão. O aperfeiçoamento do Judiciário é um processo

contínuo, uma construção permanente.

O quanto se avançou na área de administração sobre o Judiciário? A sociedade precisa

ganhar confiança na sua capacidade em dar respostas rápidas e de acordo com as

expectativas sobre sua atuação.

A ênfase nas reformas se deu no Poder Executivo e vários são os casos de busca por uma

administração pautada em modelos gerenciais. A partir da década de 1990 o Judiciário

entra no foco da discussão sobre sua atuação e gestão e em, 2004, é promulgada a Emenda

45/2004 conhecida como a Reforma do Judiciário.

Os estudos acadêmicos sobre administração pública, quando se referem à administração do

Judiciário no Brasil, são raros, apontando que essa área merece maior estudo. Em geral, o

objeto de estudo nas pesquisas se concentra na área do direito. De acordo com Nogueira e

Pacheco (2009), em pesquisa realizada sobre a gestão do judiciário em estudos de

administração pública, os dados demonstram que o Poder Judiciário não vem sendo objeto

de estudo. Pesquisar o assunto é um confronto direto com a escassez da literatura.

Acrescenta-se a esse dado, a revelação de que, em estudos sobre Aprendizagem

Organizacional no Brasil, apenas 25% foram desenvolvidos em organizações públicas

(ANTONELLO e GODOY 2009). A contribuição acadêmica é relacionar os temas

abordados, reconhecendo que a aprendizagem organizacional favorece o crescimento e

possibilita apresentar novas perspectivas para as pessoas e organizações.

O Judiciário sofre pressões externas, como qualquer organização, e busca respostas para

melhoria dos seus serviços. Para o aumento de sua capacidade de ação, o conhecimento

especialista apresenta-se como relevante, mas há uma supervalorização da qualificação

técnica.

Não há dúvida de que conhecimentos técnicos especializados têm a sua importância, mas

não são suficientes para pensar a construção de um Judiciário que responda às demandas

sociais. Sua aplicação por si só não garantem melhores resultados. Como aponta Sadek

(2009), o desempenho do Judiciário depende mais de sua gestão interna, de como os

(19)

Entende-se que estudos voltados à aprendizagem organizacional em organizações

judiciárias podem contribuir para o aprimoramento de suas práticas com vistas ao melhor

(20)

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A aprendizagem organizacional – abordagens

Como uma nova perspectiva de análise e prática administrativa, a aprendizagem

organizacional (AO) se construiu com base em diferentes arcabouços teóricos sem ter

sequer chegado, ainda, a um consenso sobre o seu conceito. A variação é grande e deixa

aos analistas uma grande margem de opções sobre a forma de abordar o tema.

No entanto, apesar da dificuldade de se formar uma base comum, há muitas abordagens e

conceitos complementares na construção desse campo de conhecimento (ANTONELLO E

GODOY, 2010). Em grande parte, o progresso no desenvolvimento de uma teoria foi

impedido por falta de acordo sobre a base ontológica e epistemológica. (CROSSAN et al.,

2011). Ajudado pela ênfase na perspectiva psicológica, conquistas importantes foram

realizadas.

Possivelmente, por ter sido iniciada na psicologia, essa ciência forneceu insights sobre as

variações do aprendizado humano e enriqueceu o entendimento sobre aprendizado

organizacional (SHIPTON e DeFILLIPPI, 2011). Combinando bases individuais e sociais,

pode-se avançar na construção sobre propostas de novas práticas organizacionais.

Por exemplo, para melhor inserção de práticas inusitadas no ambiente de trabalho, tem sido

reforçado que a capacidade coletiva de assimilação requer compartilhamento do

conhecimento adquirido por meio de um processo de interação social (VERA, CROSSAN

e APAYDIN, 2011).

Embora existam várias abordagens sobre a aprendizagem organizacional está enraizado em

seu conceito o aspecto coletivo de aquisição, disseminação e armazenamento de

informações (CHOO, 2003; SCHILLING e KLUGE, 2009). Além disso, por sua natureza

contextual, a aprendizagem só tem sentido se associada à mudança ou renovação, com

objetivo de um melhor desempenho organizacional (ANTONELLO, 2005).

Diferentes focos de estudo em aprendizagem organizacional foram identificados por

Antonello (2005), sendo eles: socialização da aprendizagem individual, processo-sistema,

cultura, gestão do conhecimento, inovação e melhoria contínua. A autora identificou,

(21)

 mudança – baseada na transformação de atitude;

 grupo – por enfatizar a interação e o coletivo;

 criação e reflexão – sob a ótica da inovação e da conscientização;

 ação – por um lado, pela apropriação e disseminação do conhecimento, tendo

como referência uma visão pragmática, e, por outro, o experienciar, vivenciar e

compartilhar através das interações;

 “situação” a aprendizagem organizacional sempre ocorre em função da

atividade, do contexto e da cultura no qual ocorre ou se situa, sendo carregada

de significado informal;

 cultura – pela construção de significados, na forma compartilhada de dar

sentido às experiências, baseada na história compartilhada.

O tema provoca, ainda, uma diferenciação entre dois conceitos, “aprendizagem organizacional” e “organizações de aprendizagem” levando a extensos debates

acadêmicos.

Pertencentes a diferentes correntes, as pesquisas em aprendizagem organizacional crescem

pelo interesse de acadêmicos e são direcionadas a como uma organização aprende, seu

foco é mais analítico e descritivo. As pesquisas com foco nas organizações de

aprendizagem, de orientação mais prescritiva e normativa, estão baseadas em como uma

organização deve aprender (EASTERBY-SMITH e ARAUJO, 2001; LOIOLA e BASTOS,

2003; EASTERBY-SMITH e LYLES, 2011).

Apesar das diferentes abordagens, ressalta-se aqui que as suas diferenças podem contribuir

para ampliar a discussão sobre o tema, buscando maior complementariedade.

2.1.1 Aprendizagem Organizacional e Organizações de Aprendizagem: discussões O interesse sobre aprendizagem tem estado presente na literatura sobre estudos

organizacionais desde os anos 60. A ideia de organizações de aprendizagem é mais

recente e emergiu nos anos 80 do interesse de consultores que perceberam a importância

comercial da aprendizagem organizacional (EASTERBY-SMITH e ARAUJO, 2001;

EASTERBY-SMITH e LYLES, 2011).

Segundo Easterby-Smith e Araujo (2001), autores como Senge (1990), nos Estados

(22)

intervenções práticas, com a identificação de modelos ou formas ideais para que a

organização “aprenda”. Algumas propostas acabaram por contribuir para os estudos acadêmicos, mas as duas literaturas se desenvolvem em trilhos diferentes.

O trabalho de Peter Senge é amplamente divulgado e suas ideias atrativas estão vinculadas

à renovação e crescimento organizacional. Para esse autor, alguns princípios ou

disciplinas, são capazes de criar uma organização de aprendizagem e suas ideias se apoiam

na teoria psicodinâmica desenvolvida por Chris Argyris (EASTERBY-SMITH e LYLES,

2011).

Na mesma direção, buscando um modelo ideal, Watkins e Marsinks (1993) estabelecem

dimensões para a compreensão de uma cultura de aprendizagem nas organizações. As

autoras definem organizações de aprendizagem como aquelas que aprendem

continuamente e se transformam, dando poder às pessoas e encorajando a colaboração,

promovendo o trabalho em equipe e diálogos abertos.

Finger e Brand (2001), ainda no mesmo sentido, apresentam seis dimensões da capacidade

de aprendizagem de uma organização, são elas: 1)capacidades individuais de

aprendizagem; 2)capacidades coletivas de aprendizagem; 3)capacidades estruturais de

aprendizagem; 4)capacidades culturais de aprendizagem; 5)capacidades resultantes da

organização de trabalho; e 6)a capacidade da liderança de aprender e de promover a

aprendizagem. A capacidade da organização aprender de forma contínua se dá pela

combinação dessas seis dimensões.

Segundo esses autores, a ausência de estruturas adequadas ao aprendizado, torna inútil, por

exemplo, desenvolver alta capacidade individual de aprender sem criar condições que

favorecem a aprendizagem coletiva. E afirmam (op. cit., p.187), “De fato, na ausência de

mudanças estruturais correspondentes, indivíduos altamente informados poderiam

simplesmente tornar-se cínicos”, ressaltando a importância do aprendizado coletivo.

Algumas críticas surgiram às propostas de modelos ideais (EASTERBY-SMITH e

LYLES, 2011), como por exemplo, não considerar que eles dificilmente são transferíveis

para todos os contextos culturais. No entanto, mesmo que as ideias possam continuar

ganhando força, aspectos culturais, políticos e de poder são considerados em outras

(23)

Ainda permanece o debate em torno da seguinte questão: as organizações aprendem ou

não? Illeris (2004) sugere expressões, como organização onde a aprendizagem é

estimulada, ou organização em desenvolvimento efetivo e qualitativo. Na visão do autor,

relacionar aprendizagem exclusivamente à gestão e, ainda, atribuir às organizações,

características que são intrinsecamente humanas parece inadequado. Concordando com o

posicionamento de que organizações não aprendem e que são as pessoas que aprendem

dentro das organizações, pensar a aprendizagem organizacional é pensar de que forma as

pessoas podem aprender coletivamente.

Existe uma tendência na literatura a concentrar a aprendizagem no nível individual, sendo

um dos pontos de discussão sua diferença com a organizacional. A maior parte da literatura

sobre aprendizagem individual não se aplica ao aprendizado organizacional (FIOL e

LYLES, 1985). Autores como, por exemplo, Crossan et al. (1999) e Sanchez (2001)

apresentam modelos que integram os níveis individual e organizacional.

A discussão tem se ampliado para a compreensão de como a aprendizagem individual pode

se relacionar com a organizacional. O desafio é de transformar esse conhecimento

individual em soluções coletivas, capazes de aumentar a efetividade das organizações.

Com isso, leva-se a um maior interesse de verificar como ocorrem os processos de

aprendizagem nas organizações.

2.1.2 O vínculo entre a aprendizagem individual e organizacional

Em uma perspectiva mais globalista, Crossan et al. (1999) desenvolveram uma estrutura

dinâmica, envolvendo os níveis individual, grupal e organizacional, constituída de quatro

processos: intuição, interpretação, integração e institucionalização e sustentada por quatro

premissas-chave:

Premissa 1- aprendizagem organizacional envolve a tensão entre a assimilação de nova aprendizagem (exploration) e a utilização do que foi anteriormente aprendido (exploitation);

Premissa 2 - a aprendizagem é multinível: individual, grupo e organizacional;

Premissa 3 - os três níveis da aprendizagem são ligados por processos sociais e psicológicos: intuição, interpretação, integração e

institucionalização (4I’s);

Premissa 4 – a cognição afeta a ação e vice-versa. (CROSSAN et al. , 1999, p.523)1.

1

(24)

No modelo proposto pelos autores, a aprendizagem organizacional é um processo

dinâmico. A aprendizagem ocorre ao longo do tempo e em todos os níveis, criando uma

tensão entre assimilar o novo aprendizado (feed-forward) e explorar ou utilizar o que já foi

aprendido (feedback). Ainda conforme os autores, quatro processos operam entre os três

níveis, estabelecendo-se uma relação dinâmica, sem que, contudo, se tenha uma forma

clara onde um acaba e o outro começa. Esses três níveis definem a estrutura pela qual a

aprendizagem organizacional acontece, conforme quadro a seguir:

Quadro 1 - Aprendizagem/Renovação nas organizações: quatro processos através de três níveis

NÍVEL PROCESSO INSUMOS/RESULTADOS

Individual

Grupo

Organização

Intuindo Experiências

Imagens

Metáforas

Interpretando Linguagem

Mapas cognitivos, conversações/ diálogos

Integrando Compreensões compartilhadas

Ajuste mútuo

Sistemas interativos

Institucionalizando Rotinas

Sistemas de diagnóstico

Regras e procedimentos

Fonte: CROSSAN et al., 1999, p. 525

No entendimento dos autores, para cada nova ideia ou ação, baseada em alguma

experiência pessoal, esta partirá do nível individual para o grupo e deste para a

organização. Assim, o que já foi aprendido na organização realimenta os níveis de grupo e

individual e afeta o comportamento das pessoas, suas maneiras de pensar e agir, numa

constante relação entre cognição e ação. A natureza cumulativa do feed-forward e feedback

cria uma tensão no arranjo entre níveis, no qual podem ser identificados três

(sub)processos:

(25)

 interpretar e integrar, no nível do grupo e,

 integrar e institucionalizar, ocorrendo no nível organizacional.

Conforme Crossan et al. (1999), mover-se de interpretar a integrar (feed-foward) requer

uma mudança da aprendizagem individual para a aprendizagem entre os indivíduos ou

grupos, o que implica explicitar mapas cognitivos construídos e integrá-los de forma que

uma compreensão compartilhada entre os membros do grupo seja desenvolvida.

Ainda segundo os autores, existem muitos desafios em compartilhar uma realidade

existente: a primeira refere-se ao fato de que os indivíduos precisam ser capazes de

comunicar, através de palavras e ações, o seu próprio mapa cognitivo. Isso porque muitos

aspectos dos mapas cognitivos são tácitos, logo, comunicá-los exige um processo de

articular idéias e conceitos.

A interpretação é um processo individual e grupal. Os indivíduos desenvolvem mapas

cognitivos, por meio da interpretação, que é transferida par o grupo por palavras e ações. A

integração é o processo de compreensão comum entre indivíduos, por meio do diálogo e

práticas comuns e de tomada de decisões, por ações coordenadas.

Conforme afirmam os autores, as organizações não intuem, não interpretam, mas o

processo interpretativo pode ser enriquecido e intensificado se conversações e interações

ocorrerem. A integração estabelece vinculação entre o grupo e o organizacional. A

institucionalização garante ações rotinizadas, que guiam novas aprendizagens e ações. O

que se tornou institucionalizado permanece na organização como memória.

Para esses autores, a aprendizagem organizacional é multinível, não se caracterizando na

soma de aprendizagens individuais, mas ocorre quando o conhecimento individual é

compartilhado, ações são coletivas e os seus significados se tornam comuns. É o processo

pelo qual uma organização usa sua capacidade coletiva de interpretar o conhecimento

disponível e os transforma em ações. Trata-se de um processo contínuo, dinâmico e

integrador de aquisição e utilização dos conhecimentos para o desenvolvimento da

organização.

A dinâmica pela qual a aprendizagem organizacional se torna individual e a organizacional

(26)

Figura 2-1 – Aprendizagem Organizacional como um Processo Dinâmico Fonte: CROSSAN et al. , 1999, p. 532

Várias abordagens enfatizam a perspectiva social e a dinâmica do processo de

aprendizagem. No desenvolvimento do framework 4I’s, foram utilizados verbos, ao

contrário de substantivos, considerando a aprendizagem em termos de “tornar-se” (grifo da

autora), no concentrar-se no movimento e não no que é movido (CROSSAN et al., 2011).

A aprendizagem e organização são mutuamente constitutivas (CLEGG, KORNBERGER e

RHODES, 2005).

Com base na estrutura de Crossan et al., Lawrence et al. (2005) desenvolveram um modelo

político, considerando o poder e a política como fatores que definem o sucesso ou o

fracasso do processo de aprendizagem organizacional. Ainda, com apoio desse modelo,

Schilling e Kluge (2009) realizaram estudo sobre barreiras no aprendizado organizacional.

A interação entre os níveis individual e organizacional também foi abordada por Sanchez

(2001), que apresenta um modelo chamado Ciclo das Cinco Aprendizagens, onde a

aprendizagem é representada pelo processo coletivo de sensemaking. O termo refere-se à

construção de sentido na ação. É um processo de diagnóstico dirigido a construir

interpretações plausíveis de pistas ambíguas para sustentar a ação. (WEICK, 1995, 2009).

(27)

reagem. A proposta apresentado pelo autor, conforme figura a seguir, associa os ciclos de

aprendizagem à organização competente.

Figura 2-2 - Os ciclos das cinco aprendizagens da organização competente Fonte: SANCHEZ, 2001, p.9

Os cinco ciclos de aprendizagem, definidos por Sanchez (2001), se caracterizam da

seguinte forma:

 Aprendizagem individual: indivíduos dão significados aos eventos, modificam suas

crenças e conhecimentos;

 Aprendizagem individual/grupo: indivíduos partilham conhecimentos; Sistemas

interpretativos embutidos nos sistemas

Ciclo de Aprendizagem Organizacional

Ciclo de Aprendizagem Grupo/Organização

Ciclo de Aprendizagem de Grupo

Ciclo de Aprendizagem Individual/de Grupo

Ciclo de Aprendizagem Individual

Modos de interação

Capacidades do grupo e rotinasas

Modos de interação

(28)

 Aprendizagem de grupo: consiste na aprendizagem de tarefas, novos tipos de

capacidades e de desenvolvimento de rotinas;

 Aprendizagem grupo/organização: processo pelo qual os grupos interagem e convertem novos conhecimentos para a organização;

 Aprendizagem organizacional: a aprendizagem individual e de grupo são integradas

aos objetivos estratégicos e apropriadas nos sistemas da organização.

O modelo representa de que maneira a organização, recebe, desenvolve e utiliza novos

conhecimentos. O autor ressalta, ainda, o papel central da gestão do conhecimento e o seu

valor para as organizações na construção e alavancagem das competências organizacionais.

Assim, Sanchez (2001) estabelece que a aprendizagem e o acúmulo de conhecimento

levam a um melhor desempenho, somente, quando apoiado e alinhado com a estratégia da

organização.

O conhecimento é fator primordial na aprendizagem organizacional, pois é a partir de sua

construção e conexões que se criam novas formas de atuação, com a inserção de novas

práticas e procedimentos.

2.2 O conhecimento na aprendizagem organizacional

Há uma correspondência entre a aprendizagem e a utilização do conhecimento e muitos

autores consideram aprendizagem e conhecimento como variáveis dependentes e, além

disso, existe uma forte evidência que vincula a aprendizagem organizacional ao

desempenho de uma organização (EASTERBY-SMITH e LYLES, 2011). No entanto,

existem diferentes contextos e culturas organizacionais e essa relação pode se apresentar

de diversas maneiras.

2.2.1 A valorização do conhecimento nas organizações

O conhecimento tem sido proposto como a chave organizacional de recursos e fonte de

vantagem competitiva. Essa abordagem tem suas raízes na Resource-based view (RBV). A

influência dos estudos dos economistas Frederick Hayek, Edith Penrose foram

significativas nos estudos sobre o conhecimento organizacional (VERA, CROSSAN e

(29)

Por ser assim considerado, as organizações passaram a se preocupar em como gerenciá-lo.

As que sobrevivem e se destacam, apresentam capacidade de gerenciar as informações,

que auxiliam no processo de tomada de decisões e geram inovações.

Conforme (CHOO, 2003, p. 21), “O uso da informação ocorre quando o indivíduo

seleciona e processa a informação, o que muda sua capacidade de dar sentido a uma

experiência ou reagir à luz desse novo conhecimento.” Na transformação de informação em conhecimento, alguns mecanismos, permitem fazer essa passagem, que seriam o

confronto de situações por meio da comparação, a análise das consequências, avaliando-se

o impacto da informação na decisão, a conexão com outras informações existentes e a

conversão desses em outros (DAVENPORT e PRUSAK, 1998).

No mundo corporativo esse interesse ganha força pelo olhar de potencializar o seu valor

estratégico. Por sua vez, na área pública implica pensar os benefícios de sua utilização,

para gerar capacidade de renovação e inovação organizacional e melhor servir às demandas

sociais.

À medida que são considerados como fatores que impulsionam a organização, a

capacidade de aprender torna-se marca da “organização inteligente” (ALVARENGA

NETO, 2008). A gestão do conhecimento pode ajudar a administração pública a atuar de

forma mais eficiente, possibilitando sua transformação e garantindo melhores serviços à

sociedade (WIIG, 2000).

No entanto, apenas adquirir conhecimento não é suficiente, mas sim o constante

aprendizado e renovação. Uma sociedade do conhecimento é uma sociedade de

aprendizagem (HARGREAVES, 2004). Os resultados e o sucesso das organizações

dependem do pensar, aprender e inovar.

A gestão do conhecimento, antes de ser um modismo ou uma nova ciência, significa uma

nova disciplina para permitir a gestão explícita da aquisição, compartilhamento e seu uso

dentro das organizações, incluindo, portanto, processos de aprendizagem (O´DELL e

GRAYSON, 1998). Nesse sentido, pode-se considerar que a construção de novos

conhecimentos é a base dos processos de aprendizagem.

O conhecimento já existe nas organizações e sua utilização depende de espaços para sua

(30)

que, como e porque fazer e a forma de como utilizar esses conhecimentos são a chave para

o crescimento. (MIGUELES, 2003, 2008)

As pessoas passam a ser fonte de excelência para as organizações, com a possibilidade de

criar novos conhecimentos em constante aprendizado. No entanto, o desempenho coletivo

depende não só do constante aprendizado individual, mas muito das relações e conexões

internas nas organizações. Nesse sentido, estimular o trabalho em redes e equipes para a

solução dos problemas torna-se crucial.

A aprendizagem organizacional e gestão do conhecimento raramente foram discutidas

juntas, mas o campo tem voltado para a integração cada vez maior desses conceitos

(VERA, CROSSAN e APAYDIN, 2011). Na verdade, o estudo dos conceitos não é

recente, mas o que aparece como novas são as questões relacionadas ao seu gerenciamento.

Em suas origens o termo gestão do conhecimento era usado em conferências e títulos de

livros, mas raramente definido e incorporado em artigos acadêmicos. Desse campo

surgiram dois paradigmas principais: uma visão computacional, como um processo de

identificação de fatos empiricamente validados e gerenciados por meio da tecnologia, e

uma visão orgânica, que enfatiza o papel das pessoas, a dinâmica dos grupos, fatores

sociais e culturais e de redes (VERA, CROSSAN e APAYDIN, 2011).

A tecnologia é utilizada para facilitar a aquisição, o compartilhamento, o estoque e

utilização do conhecimento. Na prática, a perspectiva social foi adaptada pela tecnologia

no contexto organizacional, para possibilitar maior flexibilidade na suposta comunicação e

compartilhamento entre as pessoas (EASTERBY-SMITH e LYLES, 2011; VERA,

CROSSAN e APAYDIN, 2011).

A gestão do conhecimento se tornou importante para o alcance dos resultados. (NONAKA

e TAKEUCHI, 1997; DAVENPORT e PRUSAK, 1998). Novos conhecimentos são

criados pela sua conversão, construção e conexão. Novos conceitos são criados, avaliados,

testados e transferidos para outros níveis da organização. (NONAKA E TAKEUSHI, 1997;

CHOO, 2003).

Numa perspectiva mais integradora, alguns autores consideram a importância das duas

visões, ou seja, tanto a computacional como a orgânica. Um exemplo dessa integração

pode ser percebido na definição do termo gestão do conhecimento proposta por Dalkir

(31)

(…) coordenação deliberada e sistemática de pessoas de uma organização,

tecnologia, processos e estrutura organizacional na busca de adicionar valor por meio do reuso e da inovação. Essa coordenação é realizada por meio da criação, do compartilhamento e da aplicação do conhecimento, assim como pela alimentação das valiosas lições aprendidas e das melhores práticas dentro da memória corporativa, fomentando continuamente a aprendizagem organizacional.2

A partir dos anos 90 o termo ganhou legitimidade acadêmica nas ideias de Nonaka, em

seus vários artigos e em seu livro (Nonaka e Takeushi, 1997), que incluíam a noção da

transformação do conhecimento. Na conversão, o tácito é convertido em explícito para

gerar novos produtos e inovações.

O conhecimento tácito consiste em modelos mentais, convicções e perspectivas. É aquele

de posse das pessoas, não mensurável, subjetivo, fruto da conexão das informações

disponíveis com suas experiências de vida, interpretações e reflexões. Esse conhecimento é

difícil de ser explicado.

Conforme Polanyi (1966) as pessoas expressam menos do que sabem. O conhecimento

expresso é apenas uma parte do todo. Sob a perspectiva econômica no trabalho, foi

considerado como sendo a base para a competência individual e organizacional

(EASTERBY-SMITH e LYLES, 2011).

No entanto, a criação do conhecimento requer diferentes compreensões nas diferentes

culturas. As organizações ocidentais tendem a se concentrar no conhecimento explícito

enquanto os orientais fazem a diferenciação entre os dois tipos de conhecimento. Para os

orientais o tácito é vantagem competitiva para inovação. O explícito, formal, codificado

em regras, fórmulas ou especificações, é fácil de ser transmitido. No modelo denominado

SECI, proposto por Nonaka e Takeushi, a criação do conhecimento na organização é uma

interação entre o tácito e o explícito (CHOO, 2003).

Nonaka e Takeushi (1997) entendem que no processo contínuo, denominado conversão, o

conhecimento é socializado e compartilhado por meio de quatro diferentes modos.

Inicia-se na conversão do conhecimento tácito para tácito, denominado “socialização”, de tácito para explícito, denominado “externalização”, de explícito para explícito, denominado “internalização” e por último de explícito para tácito denominado “internalização”

2

(32)

explícito.

Ainda conforme os autores, na socialização há um processo de troca de experiência e os

conhecimentos podem ser adquiridos com a observação da prática. A aquisição se dá pela

experiência e atividade conjunta. A externalização é um processo de articulação do

conhecimento tácito em conceitos explícitos, ou seja, tornam-se publicados, tomando a

forma de metáforas, conceitos, hipóteses ou modelos. Esse modo da conversão do

conhecimento se inicia pelo diálogo e reflexão coletiva.

A combinação, conforme Nonaka e Takeushi (1997) é um processo de sistematização de

conceitos explícitos, no qual novos conhecimentos são gerados por meio da análise e da

combinação de suas diferentes partes. Na internalização ocorre a absorção de

conhecimento explícito em conhecimento tácito e está intimamente relacionado ao

aprendizado pela prática. Esse processo é favorecido se o conhecimento for verbalizado,

em forma de histórias contadas, ou se forem utilizados em documentos e sistemas.

O conhecimento tácito não pode ser transferido, convertido ou capturado, mas sim

manifestado na ação. De acordo com Tsoukas (2011), muito embora esse modelo tenha

sido largamente adotado pelas organizações, ele parece ignorar a sua inefabilidade,

reduzindo-o ao que pode ser formulado em regras. Novos conhecimentos são produzidos

quando são repontuados, articulados por meio de uma interação dialógica.

Apesar do tema ser amplamente estudado existem diferenças entre organizações, culturas e

pessoas. Um modelo não pode ser aplicado indistintamente com a garantia de sucesso. As

pesquisas existentes ainda não explicam de forma razoável como as diferenças entre as

organizações influenciam as práticas de gestão do conhecimento e de aprendizagem

organizacional.

Por isso, os expoentes do campo, Nonaka e Von Krogh (2009) pediram mais pesquisas e

análises que considerem a natureza política, no aprendizado, na criação do conhecimento e

na prática social. Eles ressaltam que a criação de conhecimento envolve diferenças de

mentalidade e representa um processo frágil, cheio de incertezas e conflitos de interesse.

De acordo com Choo e Alvarenga Neto (2010), na realidade, há mais pesquisas sobre a

estratégia e estrutura, e em sistemas e gestão da de informação do que sobre o

(33)

Ademais, também segundo os autores, é frágil a literatura sobre o tema cooperação e

compartilhamento de conhecimentos com reciprocidade e confiança. A construção de

novas alternativas para atuação requer disposição para os riscos, confiança nos processos

cooperativos e compromisso com a melhoria contínua.

Davenport e Prusak (1998, p.108) afirmam que “há uma profusão do conhecimento em

nossas organizações, porém, sua existência não assegura o seu uso” e ainda ressaltam que,

independente de gerenciamento, o conhecimento é transferido nas organizações, mas são

feitos de forma não localizadas e fragmentárias.

O conhecimento organizacional surge da integração de três processos do uso da

informação: criação de significado, construção do conhecimento e tomada de decisão.

Assim, formam um ciclo contínuo de interpretação, aprendizado e ação. O que os membros

da organização sabem, depende de como ficaram sabendo e como usam o que sabem

(CHOO, 2003). Pode-se dizer que a utilização dos conhecimentos está relacionada à ação.

Cada pessoa é fonte de riqueza, que constrói valor para as organizações. O conhecimento

explícito é aquele disponibilizado, possibilitando seu compartilhamento e reflexão

conjunta (SZULANSKI, 1996). Num processo de tomada de decisão ambos são utilizados,

pois não são apenas complementares, mas interdependentes (CHOO 2003).

Uma empresa possui três tipos de conhecimento 1) tácito: contido na experiência de

indivíduos e grupos, 2) explicito - codificado em normas, rotinas e procedimentos da

organização e 3) cultural - expresso nas crenças, normas e pressupostos usados para dar

valor e importância a novos conhecimentos e informações (CHOO, 2003). Na modificação

dos comportamentos, fruto da reflexão e insights, atributos únicos são conferidos à

organização (GARVIN, 1993).

A capacidade da organização de criar, adquirir e transferir conhecimento contribui para o

fortalecimento e desenvolvimento de competências. Porém, algo considerado útil num

momento pode não ser em outro. Além disso, sua relevância é detectada por meio de

sistemas de significado, que a organização usa para atribuir mérito e importância a novas

informações (CHOO, 2003).

Para que haja criação do conhecimento, Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2000), baseados em

estudo realizado em empresas no Japão, na Europa e nos Estados Unidos, afirmam que a

(34)

Os autores sugerem um conjunto de atividades que, de maneira positiva, impactam essa

criação. Essas atividades estão voltadas para facilitar as conversas, estimular uma visão

voltada para o conhecimento, compartilhamento com toda a empresa e também fora de

suas fronteiras.

Na implementação dessas atividades a qualidade do relacionamento entre as pessoas é

crucial, para que se remova a desconfiança e o medo, possibilitando derrubar barreiras

pessoais e organizacionais. A característica essencial de um bom relacionamento entre as

pessoas é o cuidar, pois produz relacionamentos mais maduros, confiança mútua, mais

empatia, encorajando ajuda e alianças (VON KROGH, ICHIJO E NONAKA, 2000).

Nessa abordagem estão inseridos os processos de criação do conhecimento, o contexto

adequado para que seja produzido, seu uso e compartilhamento. O compartilhamento do

conhecimento não é algo que possa ser forçado ou exigido, requer, antes de tudo,

disponibilidade para tal. O compartilhamento depende, além das motivações pessoais, de

um ambiente facilitador para que ele ocorra.

2.2.2 Compartilhamento e visão coletiva

Fleury e Fleury (2001, p. 187) afirmam que “Os conhecimentos e os know-how não

adquirem status de competência a não ser que sejam comunicados e utilizados”. O

compartilhamento é definido como a ação mais relevante da gestão do conhecimento,

quando há o repasse das informações para outras pessoas da organização (BARTOL e

SRIVASTAVA, 2002; BOCK e KIM, 2002).

No entanto, algumas barreiras podem dificultar esse processo. A insegurança, o medo do

julgamento, da perda de poder e superioridade e, ainda a falta de motivação são

características de atitudes individuais que podem dificultar essa transferência.

(SZULANSKI, 1996; O’DELL e GRAYSON, 1998; BARTOL e SRIVASTAVA, 2002).

Muito embora, as organizações estejam sempre investindo em nova tecnologia, parece que

o compartilhamento e a transferência do conhecimento, apresentam-se, ainda, como

desafio. O investimento feito não tem se expressado em retorno para as organizações, e os

(35)

Em pesquisa realizada em empresas brasileiras, Alvarenga Neto (2008) conclui que as

organizações não estão gerenciando conhecimento, mas sim o contexto para sua criação,

como são socialmente construídos, produzidos e compartilhados.

Numa visão mais coletiva, garantir que o conhecimento seja transferido para todos,

depende da criação de um ambiente que permita sua criação, menos controlando-a, e mais

promovendo-a, criando formas de incentivo às trocas espontâneas, uma vez que a

transferência se dá de maneira natural (SVEIBY, 1998; VON KROG, ICHIGO e

NONAKA, 2000).

A motivação tem um importante papel determinante para que as pessoas se disponham a

contribuir com esforços e conhecimento na direção de objetivos organizacionais e, por sua

natureza intrínseca, é sempre voluntária (KAMOCHE, 2007). Portanto, transferir

conhecimento tácito não pode ser compelido, mas só pode se habilitar em condições

adequadas (OSTERLOH e FREY, 2000).

Na transferência de conhecimento podem surgir alguns inibidores. Davenport e Prusak

(1998) apresentam em seu estudo, atritos que inibem o compartilhamento, conforme

quadro a seguir:

Quadro 2- atritos que inibem o compartilhamento do conhecimento

ATRITO SOLUÇÕES POSSÍVEIS

Falta de confiança mútua Construir relacionamentos e confiança mútua através de reuniões face a face.

Diferentes culturas, vocabulários e quadros de referência.

Estabelecer um consenso através de educação, discussão, publicações, trabalho em equipe e rodízio de funções.

Falta de tempo e de locais de encontro; ideia estreita de trabalho produtivo.

Criar tempo e locais para transferência do conhecimento: feiras, salas de bate-papo, relatos de conferência.

Status e recompensas vão para os possuidores de conhecimento

Educar funcionários para a flexibilidade; propiciar tempo para a aprendizagem; basear as contratações na abertura a ideias.

Crença de que o conhecimento é prerrogativa

de determinados grupos, síndrome do “não

foi inventado aqui”.

Estimular a aproximação não hierárquica do conhecimento; a qualidade das ideias é mais importante que o cargo da fonte.

Intolerância com erros ou necessidade de ajuda

Aceitar e recompensar erros criativos e colaboração; não há perda de status por não se saber tudo.

(36)

Glisby e Holden (2003) apontam que o compartilhamento e a transferência de

conhecimentos em empresas japonesas devem ser compreendidos em seu contexto social e

de sua cultura organizacional e seus relativos sistemas de valores. Nesse sentido, a simples

transferências do modelo proposto por Nonaka e Takeushi, pode encontrar barreiras,

quanto aos aspectos da cultura brasileira e características de organizações públicas.

O compartilhamento dos conhecimentos é favorecido quando existe a percepção de que os

mesmos serão utilizados e se uma relação de confiança for estabelecida (HOOF e

RIDDER, 2004). As pessoas compartilham conhecimento quando percebem que são

ouvidas e suas ideias consideradas (VON KROGH, ICHIJO E NONAKA, 2000).

No ambiente organizacional isso não é diferente. Além disso, relações de confiança

aumentam a predisposição para a transferência de conhecimento, reduzindo incertezas e

favorecendo arranjos de benefícios mútuos (ZANINI, 2007). Pode-se considerar que esses

fatores tornam-se desejáveis no ambiente organizacional para que haja maior cooperação e

participação. Além disso, orienta os indivíduos a focar nos objetivos e estratégias

organizacionais (DAVENPORT e PRUSAK 1998).

Ademais, estimular o trabalho em redes e equipes para a solução dos problemas requer

disposição para os riscos, confiança nos processos cooperativos e do compromisso com a

melhoria contínua (HARGREAVES, 2004).

Tonet e paz (2006) apontam que situações do contexto organizacional podem interferir nos

fluxos de conhecimento. O contexto influencia o compartilhamento de conhecimentos. O

conhecimento é consequência da ação e interação das pessoas com as informações e entre

elas. Na sua transferência as organizações se deparam com algumas barreiras. Essas

barreiras estão relacionadas, entre outras, a questões estruturais e culturais (O’DELL e

GRAYSON, 1998).

Conforme Tanure (2010), em países com grande distancia hierárquica, como o Brasil, a

administração participativa é encarada com desconfiança. Ao mesmo tempo, maior

participação altera as relações de poder, quando o estímulo e sua efetiva aplicação

estabelece novas dimensões para ampliar a capacidade de escolha coletiva (MOTTA,

1999).

O estudo de Nonaka e Takeushi (1997) sobre criação do conhecimento foi realizado em

(37)

processo social. No entanto, o que se valoriza é a interação entre as várias formas de

conhecimento, por exemplo, tácito e explicito e não o compartilhamento entre as pessoas.

Isso se justifica pela cultura japonesa, onde o coletivismo e as relações de confiança estão

presentes, facilitando a interação e as trocas espontâneas.

Para Desai e Madsen (2010) nos ambientes em que os erros não são admitidos, assim como

a possibilidade de experimentação, reduz-se também a possibilidade de aprendizado, mas

são os que criam condições para que as organizações cresçam no longo prazo. E, ainda,

afirmam que ignorando as falhas ou estigmatizando as pessoas envolvidas nelas, deixa-se

de considerar as oportunidades de aprendizagem. Com frequência, cria-se uma ilusão que é

possível não ter erros.

Os erros impulsionam e provocam aprendizado e mudança. Desequilibram o sistema e

provocam intervenções para o que se retome o equilíbrio. Aprende-se e inova-se com os

erros, podendo-se dizer que é em decorrência deles que se aprende, sendo a sua ocorrência

considerada positiva.

As inovações exigem cooperação e, muitas vezes, nota-se a relutância em cooperar. A

complexidade dos processos coletivos gera resistência às inovações. Em geral, nas

burocracias, como as profissionais, as estruturas são para aperfeiçoar os programas em

ambientes estáveis e não há estímulo à inovação (MINTZBERG, 2006).

Segundo Le Boterf (2003) o profissional dever ser capaz de assumir riscos e ter audácia

para ser competente e, além disso, deve solicitar informações sem ter medo de “não parecer estar á altura ou de perder prestigio social.” Em ambientes onde o erro não é tolerado pode-se reduzir o desenvolvimento de novas competências.

A geração e utilização de novos conhecimentos nas organizações tem se revelado

importante fator na busca de soluções, criando possibilidade no desenvolvimento de novas

competências. Por ser fluido, discutível e localizado, controlar, manter e alimentar o

conhecimento organizacional é um desafio.

2.3 Aprendizagem Organizacional e relação com Competência

Apesar da existência de uma grande quantidade de obras, tais como os estudos de Fleury e

(38)

parece ainda não revelar uma condição efetiva de aplicação prática nas organizações

públicas brasileiras.

A noção de competência tem atraído o interesse das organizações, tanto pela perspectiva

da estratégia como relacionada às práticas de gestão de pessoas, sendo estes os focos

principais na produção científica em administração. (RUAS et al., 2005; DIAS et al.,

2008).

Há inúmeras interpretações para o termo competência. A partir de várias concepções,

Carbone et al. (2009) sintetizam e definem as competências humanas ou profissionais

como “combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo

desempenho profissional em determinado contexto organizacional, que agregam valor a

pessoas e organizações”.

O conceito de competência é utilizado para alinhar as ações das pessoas com as demandas

organizacionais estratégicas. Essa noção surge na área de RH para buscar conceitos e

métodos que auxiliem nessa relação e, apesar dos seus limites, promove coerência entre as

práticas sem se fechar em tecnicismos (THEVENENT, 2008).

Na nova economia sua construção surge a partir das mudanças nas relações de trabalho,

quando a qualificação do profissional se torna insuficiente para atender a novas demandas.

Para alguns autores, como por exemplo, Boyatzis, o conceito permanece ligado à noção de

qualificação, porém associado ao desempenho. De acordo com esse conceito considera-se

que, estabelecer uma forma de qualificar a pessoa é suficiente para um desempenho

superior e nessa perspectiva são necessários, então, apenas conhecimentos e habilidades

para se exercer determinada função (FLEURY & FLEURY, 2001).

Porém, o fato da pessoa ter qualificação para um determinado trabalho, não assegura o seu

desempenho. A definição de competência tradicionalmente reconhecida como CHA

(conhecimentos, habilidades e atitudes) é criticada por alguns autores, como, por exemplo,

Sandberg, pois aspectos essenciais da competência humana não podem ser reduzidos a

uma lista de atributos relacionados a tarefas do trabalho (BITENCOURT, 2001).

A competência não é uma lista de atributos, mas existe quando associada à ação. A pessoa

reconhecida como competente é aquela que sabe agir com competência. O saber agir é

distinto do saber-fazer. A ação depende da capacidade e da possibilidade da pessoa

(39)

experiências, capacidades cognitivas, recursos emocionais, etc.), assim como os do seu

meio (banco de dados, redes de especialistas, redes documentares, etc.) (LE BOTERF,

2003).

Portanto, aqui se reconhece a importância da disponibilização e acesso aos recursos para

que a competência seja expressa. As competências produzidas dependem dos recursos

mobilizados na ação e são possíveis em um contexto específico (LE BOTERF, 2003). Está

ligada à capacidade de lidar com o evento (ZARIFIAN, 2001), o que significa que a

competência está relacionada ao imprevisto, às respostas a novos problemas, que

mobilizam recursos e possibilitam novos aprendizados diante da situação enfrentada.

Portanto, pode-se afirmar que competência não é resultado de treinamento ou educação

formal.

A ideia de qualificação ainda tem norteado alguns modelos de treinamento nas empresas,

que procuram aperfeiçoar, em seus empregados, habilidades para o exercício de

determinada função e, nesse caso, o sujeito é considerado como um operador cuja

competência se limita a executar o que está prescrito (LE BOTERF, 2003). Ao contrário

das grades de treinamento, a formação de competências vai além dos limites de um cargo,

voltando-se para o desenvolvimento contínuo e integral da pessoa (FREITAS e

BRANDÃO, 2005). As empresas, ainda, procuram aperfeiçoar, em seus empregados,

habilidades para o exercício de determinada função (PIRES et al., 2005).

Segundo Le Boterf (2003, p. 69), “A educação, a formação e a experiência agem sobre as

possibilidades. Disso pode resultar um aumento do potencial. A educação permanente

remonta à entropia.” Assim, competência não significa estabelecer uma lista de

conhecimentos e habilidades e nem investimentos em programas de treinamento são

suficientes para o seu desenvolvimento.

Para Baroni e Oliveira (2006), o modelo de competências, em sua versão francesa, não

associa a possibilidade de sua aquisição por meio de capacitação, porém, poderia se pensar

como a lógica da competência reorienta as bases da educação profissional.

O conceito vai além ao da qualificação e conforme Zarifian (2001) não está vinculado às

definições de cargos e tarefas, mas apresenta-se como de que maneira o individuo mobiliza

Imagem

Figura 2-1  – Aprendizagem Organizacional como um Processo Dinâmico  Fonte:  CROSSAN et al
Figura 2-2 - Os ciclos das cinco aprendizagens da organização competente  Fonte: SANCHEZ, 2001, p.9

Referências

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