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Recursos humanos em Saúde Pública.

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RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE PÚBLICA

José Maria Pacheco de Souza *

* Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública, USP — Av. Dr. Arnaldo, 715 — São Paulo, SP — Brasil.

RSPU-B/319 SOUZA, J . M . P . de — Recursos humanos em Saúde Pública. Rev. Saúde públ.,

S. Paulo, 10:253-6, 1976.

RESUMO: O autor tece considerações sobre a formação de pessoal para a área de saúde, chamando a atenção para a possibilidade de criação de currí-culos mais curtos, mais voltados para as necessidades das populações. É suge-rido o aproveitamento de pessoas informalmente já ligadas ao setor saúde, embora necessitando treinamento e supervisão, tais como "curiosas" e práticos de farmácia. É também proposto o preparo de pessoal de nível médio, um "técnico de saúde", com atuação semelhante ao do "feldsher". No nível uni-versitário, o autor advoga a formação de um profissional específico de saúde pública, independentemente de diploma précio de dentista, médico, enfermeiro ou outro.

UNITERMOS: Saúde pública. Ensino. Recursos humanos. Técnico de saúde.

PROBLEMAS NA FORMAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE PESSOAL NA ÁREA DE SAÚDE

Uma das dificuldades na obtenção de melhores condições de saúde para a po-pulação situa-se na área de recursos hu-manos. Costuma-se mostrar a deficiência de médicos, dentistas e enfermeiros, atra-vés de índices que relacionam o número de indivíduos de uma área (cidade, esta-do, região, país) para cada profissional, ou a forma equivalente de número de pro-fissionais para cada 10.000 habitantes, muitas vezes comparando-se tais valores com padrões considerados mínimos.

Mesmo quando os padrões são alcan-çados, há necessidade de se discutir se tais valores refletem um atendimento efe-tivo à população, ou se simplesmente cor-respondem a uma média entre áreas com alta concentração de pessoal de saúde e

áreas praticamente sem qualquer assistên-cia. Há uma tendência de profissionais com formação universitária sofisticada procurarem viver e trabalhar em lugares com imagem de retribuição econômica ele-vada e que ofereçam os recursos com os quais foram acostumados a utilizar em sua vida acadêmica. Deve-se, também, considerar a validade do uso de padrões, sem se levar em contar diferenças estru-turais, sociais e políticas entre regiões e, principalmente, nações.

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de ser cogitado. Em ambos os casos, po-rém, não está garantida, no futuro, uma melhor distribuição dos diplomados.

Resultados mais compensadores possivel-mente serão obtidos pelo melhor e mais racional aproveitamento das estruturas de ensino já existentes, para a formação de um profissional de saúde mais ligado às necessidades reais da população, em espa-ço de tempo mais curto, Paralelamente ao médico clássico, cujo treino é dirigido à clínica individual, pode-se voltar, ainda, a atenção para o preparo de um profis-sional que seja capaz de trabalhar em nível de comunidade. Pessoal de nível mé-dio e mesmo inferior precisa ser orienta-do e aproveitaorienta-do, deviorienta-do ao baixo custo de investimento e possibilidade de fixação em locais não desejados por médicos.

Uma avaliação fria, objetiva, não pre-conceituosa dos atuais currículos das pro-fissões médicas deve mostrar que a dura-ção destes cursos, no Brasil, poderia ser diminuída em um ou dois anos. Uma das ações que contribuiria para este "en-curtamento" seria a transferência para cursos de pós-graduação, sentido amplo ou restrito, de disciplinas que tratam de problemas de saúde que atingem minoria insignificante da população ou lidam com técnicas altamente sofisticadas que bene-ficiam uma parte menor ainda da comu-nidade.

Repetição de assuntos, manutenção de matérias devido à simples tradição, mau aproveitamento de horário, super-especia-lização, são fatos que pesam nos custos e no tempo para a criação de recursos

hu-manos para a saúde. Souza11, Souza e

col.12, Mascarenhas e Ramos6, sentiram esta situação e, no âmbito de Saúde Pú-blica, propõem um curso mais rápido que permitiria, praticamente, dobrar o núme-ro anual de diplomados pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

Após estudos no segundo semestre de 1975, esta Faculdade criou um curso bá-sico de saúde pública, com duração de um semestre letivo, implantado em 1976.

oferecido inicialmente para médicos, indi-cados e a serem aproveitados imediata-mente pela Secretaria da Saúde de São Paulo. O Instituto Presidente Castello Branco, do Ministério da Saúde, adotou o critério de oferecer seu curso de 800 horas de forma compacta, em 100 dias úteis de oito horas de aula cada.

DIFERENTES ALTERNATIVAS PARA A CRIAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM

SAÚDE NO BRASIL

Um país em desenvolvimento como o Brasil, com outros problemas tão ou mais sérios do que o de saúde, que impedem uma aplicação maciça de recursos para a melhoria desta área, exige novas alter-nativas, mesmo que arrojadas e contro-vertidas, que levem em consideração os fatores economias de tempo e dinheiro, qualidade e adequação à nossa realidade e necessidades (e não simplesmente de-manda). Exemplos de outros países po-dem ser estudados, para aproveitamento dos ensinamentos obtidos em suas expe-riências 2, 3, 8, 9.

No Brasil, a assistência médica é pres-tada por pessoal de nível universitário, com o médico praticamente em posição de comando na equipe de saúde, havendo res-trições no tipo de ação de cada profissio-nal. Uma enfermeira não pode, legalmen-te, fazer diagnóstico nem prescrever, mes-mo que tenha conhecimentos e capacidade para tal. No Estado de São Paulo, a chefia de centro de saúde é de exclusi-vidade de médico, apesar de que nenhu-ma das atribuições do médico-sanitarista chefe seja a de exercer atividade clíni-ca10.

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solução de seus problemas de saúde 2, 3, 8, 9.

No Brasil, o prático de farmácia é tole-rado como um substituto do médico em lu-gares em que este falta (e mesmo onde não falta) ; as "curiosas", quando bem orientadas, prestam muito bons serviços. Estes dois elementos, acrescido de outros de mesmo nível, se devidamente treinados e supervisionados, podem vir a ser o equi-valente ao "doutor descalço" que trouxe grandes e benéficas alterações no atendi-mento médico na China 3, 8.

Ainda fora do nível universitário, o Brasil tem condições de formar o equi-valente ao "feldsher" 9, através da atual

estrutura escolar, que prevê ensino pro-fissionalizante no 2.° grau. Seria um "téc-nico" de saúde, com qualificação seme-lhante à da antiga professora primária, que iniciava seu curso imediatamente após o curso ginasial e obtinha o diploma após três anos.

O ADMINISTRADOR DE SAÚDE PÚBLICA. O GRADUADO EM SAÚDE PÚBLICA

Quanto ao pessoal de nível universitá-rio, é interessante verificar-se que um pro-fissional de saúde pública caracteriza-se por "ter conhecimentos e exercer ativi-dades com o objetivo de elevar o nível de saúde das populações, a partir de diag-nóstico e pela aplicação de medidas de alcance coletivo com a participação da comunidade" *. As definições de Saúde Pública de Winslow 13, Mascarenhas5 e

McGavran7 também deixam claro que o

"paciente" de um sanitarista é a comu-nidade e não o indivíduo. Knutson 4

co-menta que o padrão básico de procedimen-to é virtualmente o mesmo para o sani-tarista e o clínico, embora o instrumental de trabalho difira.

Chaves 1 fala sobre um "'administrador

de saúde pública", um "generalista" com visão global, complementando as funções dos especialistas, admitindo que "tradicio-nalmente tem sido o médico quem tem

tido uma posição de supremacia na equi-pe de saúde pública". Comenta, ainda, que "na verdade, dia a dia se torna mais evidente que o administrador de saúde pú-blica pode vir de qualquer das outras pro-fissões (além da médica), desde que se disponha a adquirir os conhecimentos ne-cessários para atuar como generalista". E complementa que "tais assuntos geralmen-te não fazem pargeralmen-te dos programas tradi-cionais de estudo das escolas médicas, sen-do ministrasen-dos de forma sucinta nas esco-las de saúde pública, às várias categorias de profissionais".

O preparo desse administrador de saú-de pública precisa ser acelerado, em cur-sos rápidos, de especialização para indiví-duos já diplomados 6,11,12. Além disso,

no entanto, é perfeitamente possível for-mar-se tal elemento diretamente em cur-sos de graduação, com aproveitamento cias estruturas e experiências das Escolas de Saúde Pública, independentemente de diplomação prévia em odontologia, medi-cina, enfermagem, etc.

A vantagem imediata deste novo profis-sional é poder ser preparado, desde o seu ingresso na universidade, tendo a comu-nidade como ucomu-nidade de trabalho. Além disso será abreviado o tempo de formação do chamado generalista, pois deixará de ser necessário esperar-se um estudante se formar em medicina, odontologia, etc., pa-ra então dirigí-lo papa-ra a Saúde Pública.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se apresentar de forma esquemáti-ca as sugestões para colaborar na solução do problema de recursos humanos na área saúde: devem ser aproveitados todos os níveis de formação de pessoal; os currí-culos das escolas da área de saúde preci-sam ser melhor estruturados, dirigidos pa-ra nossa realidade e nossas necessidades; a formação mais rápida do generalista em saúde pública deve ser feita em nível de graduação, criando-se um profissional di-ferente do clínico.

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RSPU-B/319

SOUZA, J . M . P . de — [Human resources in Public Health]. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 10:253-6, 1976.

SUMMARY: The necessity of shorter curricula for preparing human re-sources for the health sector, better directed towards the true necessities of the population, was pointed out. Low level education personnel should be trained and maintained under supervision; also health "technicians" alike the "feld-shers" should be prepared, at senior high school level (undergraduate studies) . The directed formation of a public health professional, without the necessity of a prior degree in dentistry, medicine, nursing or other f i e l d s is proposed at the university level.

UNITERMS: Human resources. Teaching. Public health. Health technician.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. CHAVES, M. M. — Odontologia sanitá-ria. Washington, D. C., Organiza-cion Panamericana de la Salud, 1962, (Publ. Cient. 63) .

2. DOROZYNSKI, A. — Doctors and hea-lers. Ottawa, International Develop-ment Research Centre, 1975.

3. HU, Teh-wei — An economic analysis of cooperative medical services in the People's Republic of China. Wash-ington, D . C . , U . S . Department of Health, Education and Welfare, 1975.

4. KNUTSON, J.W. — What is public health? In: YOUNG, W . O . & STRIF-FLER, D . F . , eds. The dentist: his practice and his community. Lon-don, W.B. Saunders, 1964. p. 20-9.

5. MASCARENHAS, R.S. apud SOUZA, J. M.P. et al.13.

6. MASCARENHAS, R.S. & RAMOS, R. — Considerações sobre os cursos para graduados da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Pau-lo. Rev. paul. Hosp., 22:367-74, 1974.

7. McGAVRAN, E.G. — "What is public health dentistry?" In: Workshop on Dental Public Health, 4t h. The prac-tice of dental public health: pro-ceedings. Ann Arbor, University of Michigan, 1956. p. 5-12.

8. NEWELL, K . W . , ed. — La salud por el pueblo. Ginebra, Organizacion Mundial de la Salud, 1975.

9. ORGANIZACION MUNDIAL DE LA SA-LUD — La formacion y los servi-cios de los feldshers en la U . R . S . S . Ginebra, 1975. (Cuadernos de Salud Publica, 56).

10. SÃO PAULO. SECRETÁRIA DA SAÚDE.

Portaria SS-CG n.° 13, de 23-06-1972. Diário Oficial do Estado de São

Pau-lo, 27 jun. 1972, p. 25.

11. SOUZA, J . M . P . de — Estudo de rees-truturação dos cursos da Faculdade de Saúde Pública. São Paulo, 1975.

[Mimeografado].

12. SOUZA, J . M . P . de et al. — Curso de saúde pública em um semestre: algu-mas considerações. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 9:87-92, 1975.

13. WINSLOW, C . E . A . — The unfilled fields of public health. Science, 51:23-33, 1920.

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