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Representações discursivas sobre lampião e seu bando em notícias de jornais mossoroenses (1927): “O mais audaz e miserável de todos os bandidos” e o seu “grupo de asseclas”

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE LETRAS

Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem

Doutorado em Estudos da Linguagem

Área de concentração: Linguística Teórica e Descritiva

REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS SOBRE LAMPIÃO E SEU

BANDO EM NOTÍCIAS DE JORNAIS MOSSOROENSES (1927): “O

mais audaz e miserável de todos os bandidos” e o seu “grupo de

asseclas”

Ananias Agostinho da Silva

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ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS SOBRE LAMPIÃO E SEU

BANDO EM NOTÍCIAS DE JORNAIS MOSSOROENSES (1927): “O

mais audaz e miserável de todos os bandidos” e o seu “grupo de

asseclas”

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sob a orientação do Prof. Dr. Luís Passeggi, como requisito para obtenção do grau de Doutor.

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ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA

REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS SOBRE LAMPIÃO E SEU

BANDO EM NOTÍCIAS DE JORNAIS MOSSOROENSES (1927): “O

mais audaz e miserável de todos os bandidos” e o seu “grupo de

asseclas”

Tese apresentada como requisito para a obtenção do grau de Doutor em Estudos da Linguagem ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL), Departamento de Letras, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tendo sido defendida e aprovada em ____/____/2015, pela seguinte banca examinadora:

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Luís Álvaro Sgadari Passeggi (UFRN)

Presidente

_______________________________________________________________ Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues (UFRN)

Examinador Interno

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Andrey Pereira de Oliveira (UFRN)

Examinador Interno

_______________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Eliete de Queiroz (UERN)

Examinadora Externa

_______________________________________________________________ Profa. Dra. Rosalice Botelho Wakim Souza Pinto (CLUNL-CEJEA-Portugal)

Examinadora Externa

______________________________________________________________ Prof. Dr. Gilton Sampaio de Souza (UERN)

Examinador Externo

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UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Catalogação da Publicação na Fonte Silva, Ananias Agostinho da.

Representações discursivas sobre lampião e seu bando em notícias de jornais mossoroenses (1927): “O mais audaz e miserável de todos os bandidos” e o seu “grupo de asseclas” / Ananias Agostinho da Silva. - Natal, 2016.

212 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Luís Álvaro Sgadari Passeggi.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem.

1. Representações discursivas - Tese. 2. Lampião - Tese. 3. Cangaceiros - Tese. 4. Notícias - Tese. 5. Análise do discurso - Tese I. Passeggi, Luís Álvaro Sgadari. II. Título.

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Já foi-se o tempo

Do fuzil papo amarelo

Prá se bater

Com poder lá do sertão

Mas lampião disse

Que contra o flagelo

Tem que lutar

Com parabelo na mão...

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(7)

ABREVIATURAS

Análise Textual dos Discursos (ADT)

Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Linguística (ANPOLL)

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

Grupo de Pesquisa em Análise Textual das Representações Discursivas (ATD-RD)

Grupo de Trabalho Linguística de Texto e Análise da Conversação (GT LTAC)

Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL)

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Esquema 03: Determinações textuais “ascendentes” e regulações

“descendentes”... 30

Figura 02: Esquema 04 – Níveis ou planos de discurso... 36

Figura 03 – Esquema 05: Operações de segmentação e de ligação... 41

Figura 04 – Esquema 13: Operações de ligação que asseguram a continuidade textual... 42

Figura 05 Esquema 11: As três dimensões da proposição-enunciado... 47

Figura 06: Situação da comunicação... 55

Figura 07: Cabeças decepadas de Lampião e de alguns cangaceiros de seu bando... 87

Figura 08: Itinerário de Lampião e seu bando no Rio Grande do Norte... 89

Figura 09: Formas de organização dos textos jornalísticos... 95

Figura 10: Fac-símile de edição do jornal “O Mossoroense”... 104

Figura 11: Fac-símile de edição do jornal “Correio do Povo”... 107

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Tipos de anáfora... 44

Quadro 02: Síntese das sequências textuais... 51

Quadro 03: Operações de tematização... 61

Quadro 04: Operações de aspectualização... 61

Quadro 05: Operações de relação... 61

Quadro 06: Gêneros do domínio discursivo jornalístico... 92

Quadro 07: Gêneros centrais e periféricos... 97

Quadro 08: Notícias do jornal “O Mossoroense”...... 105

Quadro 09: Notícias do jornal “Correio do Povo”... 109

Quadro 10: Notícias do jornal “O Nordeste”... 111

Quadro 11: Síntese da catalogação dos enunciados... 113

Quadro 12: Referentes que constroem a representação discursiva de Lampião como chefe do cangaço na notícia do jornal O Mossoroense... 120

Quadro 13: Locativos espaciais que constroem a representação discursiva de Lampião como chefe de cangaço em notícia do jornal O Mossoroense... 123

Quadro 14: Predicados que constroem a representação discursiva de Lampião como derrotado em notícia do jornal Correio do Povo... 126

Quadro 15: Locativos espaciais que constroem a representação discursiva de Lampião como derrotado em notícia do jornal Correio do Povo... 127

Quadro 16: Conectivos que favorecem a construção da representação discursiva de Lampião como derrotado em notícia do jornal Correio do Povo... 128

Quadro 17: Referentes e modificadores que constroem a representação discursiva de Lampião como bandido em notícia do jornal O Nordeste... 131

Quadro 18: Predicados e termos circunstanciais que constroem a representação discursiva de Lampião como bandido em notícia do jornal O Nordeste... 132

Quadro 19: Locativos temporais que favorecem a construção da representação discursiva de Lampião como bandido em notícia do jornal O Nordeste... 133

Quadro 20: Locativos espaciais que favorecem a construção da representação discursiva de Lampião como bandido em notícia do jornal O Nordeste... 134

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SILVA, Ananias Agostinho da. REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS SOBRE LAMPIÃO E SEU BANDO EM NOTÍCIAS DE JORNAIS MOSSOROENSES (1927): “O mais audaz e miserável de todos os bandidos” e o seu “grupo de asseclas”. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2015 (UFRN/PPgEL).

RESUMO

Nesta tese de doutoramento analisamos as representações discursivas do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e seu bando de cangaceiros em notícias de jornais mossoroenses publicados na década de vinte do século passado (1927), de quando da invasão do bando à cidade de Mossoró, no estado do Rio Grande do Norte, em treze de junho daquele ano. Para tanto, tomamos por fundamentação os pressupostos teóricos da Linguística Textual, especialmente do quadro mais restrito do que se designa hoje como Análise Textual dos Discursos (ATD), abordagem teórica e descritiva de estudos linguísticos do texto proposta pelo linguista francês Jean-Michel Adam. Desta abordagem, interessa-nos, de modo específico, o nível semântico do texto, com destaque para a noção de representação discursiva, estudada com base nas operações de referenciação, predicação, modificação, localização espacial e temporal, conexão e analogia (ADAM, 2011; CASTILHO, 2010; KOCH, 2002, 2006; MARCUSCHI, 1998, 2008; NEVES, 2007; RODRIGUES, PASSEGGI, SILVA NETO, 2010). O corpus desta pesquisa é composto por três notícias publicadas na década de vinte do século passado nos jornais O Mossoroense, Correio do Povo e O Nordeste, e reconstituídas por meio de coleta realizada nos arquivos do Museu Municipal Lauro da Escócia, do Memorial da Resistência de Mossoró, ambos localizados em Mossoró, e na coletânea de notícias de jornais Lampião em Mossoró, do historiador norte-rio-grandense Raimundo Nonato. As representações discursivas são construídas a partir do emprego das operações semânticas de análise. Para Lampião, são construídas as seguintes representações: bandido, chefe de cangaceiros, subornador, derrotado, Capitão e

Senhor. Para os cangaceiros do bando de Lampião foram construídas as seguintes representações discursivas: grupo, bando, bandidos, companheiros, matilha sanguinária, bandoleiros, cangaceiros, facínoras, horda assaltante, feras e

selvagens. Essas representações revelam, principalmente, os pontos de vista dos jornais daquela época, que representavam, essencialmente, os interesses de comerciantes, de políticos, do próprio governo e da população mossoroense de modo geral.

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SILVA, Ananias Agostinho da. REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS SOBRE LAMPIÃO E SEU BANDO EM NOTÍCIAS DE JORNAIS MOSSOROENSES (1927): “O mais audaz e miserável de todos os bandidos” e o seu “grupo de asseclas”. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2015 (UFRN/PPgEL).

ABSTRACT

In this doctoral thesis analyzed the discursive representations of the bandit Lampião, the Lantern and his bandits gang in news mossoroenses newspapers published in the twenties of the last century (1927), when the gang invasion of the city of Mossoro in the state of Rio Grande do Norte, on June 13 of that year. To this end, we take as basis the theoretical assumptions of linguistics Textual, especially the narrower context of what is known today as Textual Analysis of the Discourses (ADT), theoretical and descriptive approach to linguistic studies of the text proposed by the French linguist Jean-Michel Adam. In this approach, we are interested in, specifically, the semantic level of the text, highlighting the notion of discursive representation, studied based on benchmarking operations, predication, modification, spatial location and temporal connection and analogy (ADAM, 2011; CASTILHO, 2010; KOCH, 2002, 2006; MARCUSCHI, 1998, 2008; NEVES, 2007; RODRIGUES, PASSEGGI & SILVA NETO, 2010). The corpus of this research consists of three reports in the twenties of the last century in newspapers The Mossoroense, Correio do Povo and the Northeast, and reconstituted through the collection held in the Municipal Museum Lauro Scotland files, Memorial Resistance Mossoro, both located in Natal, and in the news collection of Lampião newspapers in Natal, north of Rio Grande Raimundo Nonato historian. The discursive representations are built from the use of semantic analysis operations. Lampião to, the following representations are built: bandit, head of bandits, briber, defeated, Captain and Lord. To the outlaws of Lampião bunch of the following discursive representations were built: group, gang, gangsters, mates, bloodthirsty pack, brigands, bandits, criminals, burglar horde, and wild beasts. These representations reveal mainly the views of the newspapers of that time, which represented mainly the interests of traders, politicians, the government itself and generally Mossoró population.

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SILVA, Ananias Agostinho da. REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS SOBRE LAMPIÃO E SEU BANDO EM NOTÍCIAS DE JORNAIS MOSSOROENSES (1927): “O mais audaz e miserável de todos os bandidos” e o seu “grupo de asseclas”. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2015 (UFRN/PPgEL).

RESUMEN

En esta tesis doctoral se analizan las representaciones discursivas del bandolero Virgolino Ferreira da Silva, el Lampião, y su grupo de bandidos en noticias de periódicos mossoroenses publicados en los años veinte del siglo pasado (1927), cuando el grupo realizó la invasión de la ciudad de Mossoro en el estado de Rio Grande do Norte, el 13 de junio de ese año. Para ello, toma para la base de analize los supuestos teóricos de la Lingüística Textual, especialmente el contexto más estrecho de lo que se conoce hoy en día como Análise Textual dos Discursos (ATD), enfoque teórico y descriptivo de los estudios lingüísticos del texto propuesto por el lingüista francés Jean-Michel Adam. En este enfoque, nos interesa, en concreto, el nivel semántico del texto, poniendo de relieve la noción de representación discursiva, estudió sobre la base de las operaciones de evaluación comparativa, la predicación, la modificación, la ubicación espacial y temporal, la conexión y la analogía (Adam, 2011 ; CASTILHO, 2010; Koch, 2002, 2006; Marcuschi, 1998, 2008; Neves, 2007; RODRIGUES, PASSEGGI, SILVA NETO, 2010). El corpus de este estudio consiste en tres noticias publicadas en los años veinte del siglo pasado en los periódicos O Mossoroense, Correio do Povo y O Nordeste, y reconstituidos mediante la reunión que tuvo lugar en los archivos de lo Museo Municipal Lauro Escocia e de lo Memorial da Resistência de Mossoro, ambos situados en Mossoró-RN, y en la colección de noticias de lo libro Lampião em Mossoró, de lo historiador Raimundo Nonato. Las representaciones discursivas se construyen a partir del uso de las operaciones de análisis semántico. Para Lampião, las siguientes representaciones se construyen: bandido, jefe de bandidos, sobornador, derrotado, el capitán y Señor. Para los bandidos de Lampião manojo de las siguientes representaciones discursivas se construyeron: grupo, cuadrilla, gángsteres, compañeros, paquete sanguinaria, ladrones, bandidos, criminales, horda antirrobo, bestias y salvajes. Estas representaciones muestran principalmente los puntos de vista de los periódicos de la época, lo que representaba principalmente los intereses de los comerciantes, los políticos, el propio gobierno y en general la población Mossoró.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I: CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS... 17

1.1 Primeiras palavras... 17

CAPÍTULO II: A ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS: UMA TEORIA DA PRODUÇÃO (CON)TEXTUAL DE SENTIDOS... 24

2.1 Linguística Textual: perspectivas... 24

2.2 Análise Textual dos Discursos: a proposta de Jean-Michel Adam... 29

2.2.1 Os níveis de análise... 36

2.3 O nível semântico da Análise Textual dos Discursos... 40

2.4 As unidades de análise... 45

2.4.1 A proposição... 46

2.4.2 O período... 48

2.4.3 As sequências... 49

2.4.4 O plano de texto... 51

CAPÍTULO III: SOBRE AS OPERAÇÕES DE CONSTRUÇÃO DE REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS... 53

3.1 Representações discursivas... 53

3.2 Operações semânticas de construção de representações discursivas... 58

3.2.1 Operações da sequência descritiva – Jean-Michel Adam... 59

3.3.3 Categorias semânticas – Ataliba T. de Castilho... 62

3.2.4 Operações semânticas – Maria Helena de Moura Neves... 65

3.3 Redefinindo as operações de análise das representações discursivas... 68

3.3.1 Referenciação... 69

3.3.2 Predicação... 71

3.3.3 Modificação... 72

3.3.3.1 Modificação da referenciação .... 73

3.3.1.2 Termos circunstantes... 74

3.3.4 Localização espacial e temporal... 74

3.3.5 Conexão... 75

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CAPÍTULO IV: CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ASPECTOS METODOLÓGICOS

DA PESQUISA... 79

4.1 Caracterização geral da pesquisa... 79

4.2 Procedimentos para a constituição do corpus da investigação... 81

4.3 Cangaço: Lampião e seu bando de cangaceiros... 85

4.3.1 Sobre o assalto à cidade de Mossoró... 88

4.4 O domínio discursivo jornalístico... 90

4.4.1 Sobre o jornal e seus gêneros... 93

4.4.2 A notícia... 98

4.5 O corpus: dos jornais às notícias selecionadas... 102

4.5.1 O Mossoroense... 102

4.5.2 Correio do Povo... 106

4.5.3 O Nordeste... 109

4.6 Protocolo de análise dos dados... 112

CAPÍTULO V: ANÁLISE DE REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DE LAMPIÃO... 116

5.1 A construção de representações discursivas de Lampião em notícias de jornal... 116

5.1.1 Representações discursivas de Lampião em notícia do jornal O Mossoroense... 116

5.1.1.1 Lampião – Bandido... 117

5.1.1.2 Lampião Chefe do cangaço... 119

5.1.2 Representações discursivas de Lampião em notícia do jornal Correio do Povo... 124

5.1.2.1 Lampião – Chefe de cangaceiros... 124

5.1.2.2 Lampião – Derrotado... 125

5.1.2.3 Lampião – Subornador... 126

5.1.3 Representações discursivas de Lampião em notícia do jornal O Nordeste... 127

5.1.3.1 Lampião – Bandido... 130

5.1.3.1 Lampião – Capitão e Senhor... 136

(17)

CAPÍTULO VI: ANÁLISE DE REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DO BANDO DE

CANGACEIROS DE LAMPIÃO... 140

6.1 A construção de representações discursivas do bando de cangaceiros de Lampião em notícias de jornal... 140

6.1.1 Representações discursivas do bando de cangaceiros de Lampião em notícia do jornal O Mossoroense... 140

6.1.1.1 Grupo... 141

6.1.1.2 Bando... 150

6.1.1.2 Bandidos... 151

6.1.1.3 Companheiros ... 153

6.1.1.4 Matilha... 153

6.1.2 Representações discursivas do bando de cangaceiros de Lampião em notícia do jornal Correio do Povo... 154

6.1.2.1 Grupo... 154

6.1.2.2 Bandidos... 160

6.1.2.3 Bandoleiros... 166

6.1.2.4 Facínoras... 167

6.1.2.5 Horda assaltante... 168

6.1.3 Representações discursivas do bando de cangaceiros de Lampião em notícia do jornal O Nordeste... 169

6.1.3.1 Grupo... 169

6.1.3.2 Bandidos... 171

6.1.3.3 Bando... 172

6.1.3.4 Feras e selvagens... 177

6.1.3.5 Companheiros... 178

6.1.4 Síntese... 179

CAPÍTULO VII: SÍNTESE DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES E CONSIDERAÇÕES FINAIS... 180

REFERÊNCIAS... 186

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CAPÍTULO I: CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS

Corre gente! Corre tudo Que Lampião vem chegando!!! Com mais cinquenta cabras Já vem se aproximando! Foi enorme a correria E a meninada chorando.

Arievaldo Vianna

1.1 Primeiras palavras

Esta tese de doutoramento trata sobre as representações discursivas do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e seu bando em notícias de jornais mossoroenses publicados na década de vinte do século passado (1927), de quando da invasão do bando à cidade de Mossoró, no estado do Rio Grande do Norte, em treze de junho daquele ano. A escolha por esse corpus se justifica em razão da relevância histórica, social e cultural dessas notícias, assim como pelo interesse pessoal do pesquisador em melhor conhecer a atuação do cangaço lampeônico no estado do Rio Grande do Norte e sua influência na história do Brasil sob o viés dos estudos linguísticos.

Para tanto, buscamos fundamentação em pressupostos teóricos da Linguística Textual, especialmente no quadro mais restrito do que se designa hoje como Análise Textual dos Discursos (ADT), abordagem teórica e descritiva de

estudos linguísticos do texto, que, “com o objetivo de pensar o texto e o discurso em

novas categorias, situa decididamente a linguística textual no quadro mais amplo da

análise do discurso” (ADAM, 2011, p. 24). Esta perspectiva visa “teorizar e descrever

os encadeamentos de enunciados elementares no âmbito da unidade de grande

complexidade que constitui um texto” (p. 63), recorrendo a elementos da Análise de

Discurso e da Linguística Textual.

Dentre os principais níveis de análise sugeridos por Adam (2011), situamos nossa pesquisa no nível semântico do texto, focalizando, de modo especial, a noção de representação discursiva. Conforme Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010, p.

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discursiva do seu enunciador, de seu ouvinte ou leitor e dos temas ou assuntos que

são tratados”. No caso desta tese de doutoramento, interessam-nos os temas tratados nas notícias, especificamente a construção de representações discursivas de Lampião e seu bando de cangaceiros.

No âmbito do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos (ATD) e do Grupo de Pesquisa em Análise Textual das Representações Discursivas (ATD-RD): Conceptualizações, Narrativas, Emoções (registrados no Diretório dos Grupos de Pesquisa, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –

CNPq) ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), várias pesquisas têm sido desenvolvidas focalizando o nível semântico de textos políticos, jornalísticos, jurídicos, epistolares, dentre outros, de impacto social e relevância histórica.

Entre os trabalhos que tratam especificamente da noção de representação discursiva, merece destaque o artigo pioneiro publicado no Brasil dos professores Maria das Graças Soares Rodrigues, Luís Passeggi e João Gomes da Silva Neto (2010), sobre as representações discursivas que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, faz de si próprio como sertanejo no discurso de renúncia ao cargo, em setembro de dois mil e cinco. A este, seguem-se vários outros trabalhos desenvolvidos no âmbito daqueles grupos de pesquisa e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

A tese de doutoramento de Milton Guilherme Ramos (2011) observa como vestibulandos e pré-vestibulandos constroem representações discursivas dos verbos

ficar e namorar em produções textuais escritas. Fundamentado na Análise Textual dos Discursos (ADAM, 2011) e na Semântica de Frames (FILMORE, 2006), ele analisou cento e sessenta e oito textos empíricos e constatou que a construção de representações discursivas de ficar e namorar ocorre de forma diferenciada, por meio da designação dos referentes, da predicação, da aspectualização, das circunstâncias espaciotemporais e do uso de metáforas, ressaltando a influência do conhecimento enciclopédico e da cultura, além da presença de componentes cognitivos relativos à produção textual.

(20)

periódico quinzenal que circulou na cidade de Currais Novos, no Estado do Rio Grande do Norte, nos anos finais da década de vinte do século passado. Também baseada na Análise Textual dos Discursos, Oliveira (2013) analisou duzentos e noventa e dois textos que abordavam aspectos relativos à figura feminina de trinta, em nove edições do jornal, e constatou que senhorinha, mãe, esposa e dona de casa foram as representações mais presentes nos textos, sempre em consonância com as questões de ordem de maternidade, do casamento e da dedicação ao lar.

Maria Eliete de Queiroz (2013), em sua tese de doutoramento, investiga como as representações discursivas do locutor e dos alocutários são construídas no discurso de renúncia ao mandato de senador, proferido por Antônio Carlos Magalhães (ACM), em maio de dois mil e um. De posse do instrumental da Análise Textual dos Discursos, Queiroz (2013) observa que a representação discursiva do

locutor (Antônio Carlos Magalhães) é constituída “pelo conjunto de representações

mais específicas, expressas nas referenciações e nas suas modificações: vítima;

político; sigla; nordestino; presidente do senado; senador confiante; condenado”. Como protagonista, “ele assume sempre a sua voz no discurso, manifesta seus

pontos de vista e posiciona-se como sujeito ativo, consciente da importância do seu

papel político e social, que o torna alvo e vítima das ações dos adversários” (p. 11).

A dissertação de mestrado de Alba Valéria Saboia Teixeira Lopes (2014) identifica e descreve o fenômeno da representação discursiva da vítima e do agressor no gênero sentença judicial. A pesquisa de Lopes (2014) insere-se no âmbito teórico da Análise Textual dos Discursos e analisa uma sentença judicial, de natureza penal, coletada eletronicamente do sítio do Tribunal de Justiça de São Paulo – Poder Judiciário, com a temática da violência contra a mulher. Como resultados, a autora demonstra que a construção da representação discursiva dos sujeitos (vítima e agressor) se dá a partir de pontos de vista de enunciadores distintos, que podem aproximar-se ou distanciar-se de acordo com a orientação argumentativa do texto.

(21)

Câmara Cascudo construídas e reconstruídas nos textos de Mário de Andrade. Na verdade, segundo ela, é possível observar a construção de um conjunto de diferentes representações discursivas, com destaque para a representação de escritor, intelectual e amigo.

Anahy Samara Zamblano de Oliveira (2014), em sua tese de doutoramento, descreve as representações discursivas que a presidenta Dilma Rousseff faz de si mesma no seu discurso de posse em primeiro de janeiro de dois mil e onze. Orientada pelas proposições da Análise Textual dos Discursos, Zamblano de Oliveira (2014) observa que a representação discursiva da presidenta é configurada por meio de diferentes domínios conceituais, explicitados pelas referenciações e predicações, com destaque para as designações e ações e para os estados de mulher e de presidenta, que remetem, respectivamente, aos domínios de gênero e ao papel político-institucional.

Finalmente, a tese de doutoramento de Lucélio Dantas de Aquino (2015) analisa as representações discursivas de Lula nas capas das revistas Época e Veja, atentando para os elementos verbovisuais que constituem o gênero de discurso capa de revista. Tomando como fundamentação teórica a Análise Textual dos Discursos, Aquino (2015) analisa quarenta e uma capas de revistas e verifica que são construídas diversas representações de Lula, tais como: candidato, candidato eleito, presidente, presidente eleito, presidente reeleito, governante e membro de partido político, político, petista, aliado de governos internacionais, cúmplice e participante em escândalos de corrupção, amigo, irmão, primo, sobrinho, pai, parente e homem.

Nossa investigação se situa neste panorama de pesquisas com foco na análise semântica de textos concretos e na noção de representação discursiva. Está diretamente vinculada ao Grupo de Pesquisa em Análise Textual das Representações Discursivas (ATD-RD): Conceptualizações, Narrativas, Emoções,

mais especificamente à linha de pesquisa “Análise textual do discurso jornalístico”. A

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suportes, a construção das representações discursivas dos enunciadores, dos coenunciadores e dos temas tratados.

Assim delimitada, esta pesquisa busca responder a seguinte indagação:

 Como se efetiva o processo de construção de representações discursivas sobre Lampião e seu bando de cangaceiros em notícias de jornais mossoroenses sobre o assalto do bando à cidade de Mossoró?

Na tentativa de encontrar respostas para o questionamento central desta pesquisa, objetivamos, de modo geral, investigar a construção de representações discursivas de Lampião e seu bando de cangaceiros em notícias publicadas em jornais mossoroenses publicados na década de vinte do século passado, de quando da invasão do bando à cidade de Mossoró, no estado do Rio Grande do Norte.

Em decorrência deste objetivo geral, estabelecemos como objetivos específicos:

 Identificar e mapear os mecanismos linguístico-textuais responsáveis pela construção de representações discursivas de Lampião e seu bando de cangaceiros, observando a recorrência desses mecanismos no corpus

analisado;

 Descrever, analisar e interpretar o processo de construção de representações discursivas de Lampião e seu bando de cangaceiros e os efeitos de sentido que elas produzem nas notícias analisadas, considerando as especificidades do gênero.

 Apresentar contribuições teóricas e metodológicas para os estudos e as pesquisas que tematizam questões relacionadas à construção de representações discursivas dos temas ou assuntos tratados, especialmente em gêneros jornalísticos, bem como para os estudos linguísticos e discursivos dos textos.

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linguísticos que assinalam representações discursivas, analisadas conforme as operações semânticas descritas a seguir e detalhadas ao longo deste trabalho:

 Referenciação;

 Predicação;

 Modificação;

 Localização especial e temporal;

 Conexão;

 Analogia.

As discussões teóricas e metodológicas e o trabalho de análise dos dados aqui construídos conferiram a esta tese que ora apresentamos uma organização que se estrutura em sete capítulos, descritos abaixo:

 O primeiro capítulo é dedicado à introdução da tese. Nele, apresentamos um desenho de nossa investigação, enfocando aspectos como: a temática da pesquisa, a justificativa para escolha do corpus, o estado da arte, a questão de pesquisa, os objetivos, as operações semânticas de análise e a organização estrutural do texto.

 O segundo e o terceiro capítulo são dedicados à apresentação do quadro teórico da investigação. O segundo capítulo encontra-se dividido, basicamente, em duas partes: na primeira, apresentamos uma retrospectiva da Linguística Textual, atentando para as principais perspectivas de trabalho e análise desta corrente da Linguística; na segunda parte, nos detemos à apresentação da Análise Textual dos Discursos, perspectiva teórico-metodológica proposta pelo linguista francês Jean-Michel Adam, focalizando o nível semântico de análise dos textos.

(24)

 No quarto capítulo, apresentamos os aspectos metodológicos da pesquisa, enfatizando o percurso realizado para a escolha da metodologia empregada na coleta e seleção do corpus e análise dos dados. Destacamos neste capítulo, também, aspectos relativos ao gênero textual notícia e realizamos uma síntese histórica sobre o cangaço no Nordeste do Brasil, especialmente sobre a atuação de Lampião.

 O quinto e o sexto capítulos são dedicados à análise e interpretação dos dados. No quinto, analisamos as representações discursivas de Lampião construídas a partir das operações de análise nas notícias que compõem o

corpus deste trabalho. No sexto capítulo, analisamos as representações discursivas do bando de cangaceiros de Lampião, também considerando as operações semânticas de análise.

(25)

CAPÍTULO II: A ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS: UMA TEORIA DA PRODUÇÃO (CON)TEXTUAL DE SENTIDO

Foi uma tarde chuvosa De tempestade e trovão Que Virgolino Ferreira

Chamado de Lampião Comandou o grande ataque Com o fim de fazer saque

Da capital do sertão

José Cordeiro

2.1 Linguística Textual: perspectivas

A Linguística Textual começou a se desenvolver na Europa a partir da década de sessenta do século passado, com maior ênfase e destaque na região germânica. Constituindo um campo específico da Linguística – enquanto ciência da linguagem –

a Linguística Textual, conforme sugerem Fávero e Koch (20121), assume como principal proposta de trabalho tomar o texto, e não mais a palavra nem a frase, como objeto particular de investigação. Diferentemente da palavra e da frase, unidades básicas, mas não completas, porque, dentre outros aspectos, não consideram o contexto de produção, o texto constitui uma forma específica de manifestação de linguagem.

A sugestão de se ultrapassar os limites de análise da palavra e da frase consiste em um projeto inovador e em um amplo esforço teórico de muitos estudiosos da linguagem da época. Prova disso é que, a partir dessa década de sessenta, conforme enumeram Fávero e Koch (2012) e Marcuschi (1998), surge uma rica bibliografia sobre o assunto, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, com destaque para autores como Heidolph, Hartung, Isenberg, Thümmel, Hartmann, Harweg, Petöfi, Dressler, Van Dijk, Schmidt, Kummer, Wunderlich, dentre outros que passaram a questionar a frase como unidade de análise, tendo em vista as lacunas e deficiências que o trabalho com a mesma apresentava no estudo de vários fenômenos da língua.

1 Trata-se da obra Linguística Textual: Introdução, publicada na década de oitenta (1983). Entretanto,

(26)

Ao final da década de setenta, Conte (1977) afirma ser possível falar em três momentos tipológicos da Linguística Textual: i) análise transfrástica, ii) as gramáticas de texto e iii) as teorias de textos. Apesar de organizados de forma sequenciada, esses momentos não podem ser concebidos, na passagem de um para o outro, a partir de uma ótica cronológica, porque o desenvolvimento da Linguística Textual não se deu de forma homogênea e linear.

No momento denominado de análise transfrástica, o interesse dos estudiosos

começou a se voltar “para fenômenos que não conseguiam ser explicados pelas

teorias sintáticas e/ou pelas teorias semânticas que ficassem limitadas ao nível da

frase” (BENTES, 2006, p. 247), como a correferenciação. Para tentar explicar

fenômenos como este, os estudiosos partiam de enunciados ou sequência de enunciados (frases) para o texto, compreendido por Isenberg (apud BENTES, 2006, p. 247) como uma “sequência coerente de enunciados”. Portanto, neste momento, o

objetivo principal dos estudiosos era estudar os tipos de relações que se estabeleciam entre os diversos enunciados que constituem uma sequência significativa – o texto – (FÁVERO & KOCH, 1998).

Entretanto, muitos autores (LANG, 1971, 1972; DRESSLER, 1972, 1977; DIJK, 1972, 1973; PETÖFI, 1972, 1976) perceberam que as análises realizadas em torno dos enunciados ou das sequências de enunciados não consideravam fatores como o conhecimento intuitivo do falante, o contexto de produção dos enunciados, dentre outros fatores. Diante dessa constatação, esses e outros autores começaram

a elaborar gramáticas textuais, que refletissem “sobre os fenômenos lingüísticos

inexplicáveis por meio de uma gramática do enunciado” (FÁVERO & KOCH, 1998, p. 14). Neste momento, o texto passou a ser considerado não mais como uma simples sequência de frases, mas a sua produção e compreensão derivam de uma competência do falante, a competência textual. Esta competência, segundo Fávero e Koch (1998), é o que permite ao falante de uma língua distinguir um texto coerente de um aglomerado incoerente de frases. E já que os usuários de uma língua têm esta capacidade, justifica-se a necessidade de elaboração de gramática textual, cujas tarefas básicas deveriam ser as seguintes:

(27)

ii) Levantar critérios para delimitação dos textos (como se pode delimitar um texto. Como se pode considerá-lo completo, já que a completude é uma das características essenciais ao texto.);

iii) Diferenciar as várias espécies de textos (FÁVERO & KOCH, 1998).

Apesar do esforço de muitos linguistas para execução dessas tarefas, não se conseguiu executá-las de modo satisfatório. Conforme Bentes (2006, p. 251), “o

projeto revelou-se demais ambicioso e pouco produtivo, já que muitas questões não conseguiram ser contempladas [...] e já que não se conseguiu construir um modelo

teórico capaz de garantir um tratamento homogêneo dos fenômenos pesquisados”.

Por isso, em vez de procurarem descrever a competência textual do falante por meio de uma gramática textual, os estudiosos passaram a analisar os textos com um olhar mais pragmático, procurando verificar como funcionam os textos em uso, de que modo eles se constituem e como se dá sua compreensão. Em outras palavras, os linguistas começaram a elaborar teorias de construção do texto, que o concebessem não mais como um produto acabado em si, mas como um processo que envolve questões sociocognitivas, interacionais e comunicativas. Assim sendo, dados seus objetivos, nosso trabalho se enquadra, pois, nesta terceira fase da Linguística Textual.

Na década de oitenta, mais de vinte anos após o surgimento da Linguística Textual na Europa, aqui no Brasil, Marcuschi (20122, p. 33) propôs que a

compreendêssemos como o “estudo das operações linguísticas e cognitivas

reguladoras e controladoras da produção, construção, funcionamento e recepção de

textos escritos ou orais”. Assim sendo, a Linguística Textual abrange tanto a coesão

no nível dos constituintes linguísticos dos textos, como a coerência conceitual no nível semântico e cognitivo e o sistema de pressuposições e implicações no nível pragmático da produção de sentido no plano das ações e intenções. Ou ainda, voltando aos termos de Marcuschi (2012), por um lado, a Linguística Textual deve se preocupar com a organização linear dos textos, ou seja, o tratamento estritamente

2 Assim como a obra de Fávero e Koch (2012), anteriormente citada, o trabalho que aqui fazemos

(28)

linguístico abordado no aspecto da coesão, e, por outro, deve considerar a organização reticulada e tentacular, não linear, portanto, dos níveis de sentido e intenções que realizam a coerência no aspecto semântico e pragmático. Trata-se, portanto, de um campo de investigação bastante amplo e multifacetado.

Atualmente, no Brasil, os estudos em Linguística Textual são desenvolvidos, basicamente, no âmbito do Grupo de Trabalho Linguística de Texto e Análise da Conversação (GT LTAC), da Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Linguística (ANPOLL), e se organizam, de modo geral, em três linhas de investigação, a seguir identificadas e descritas: estudos sobre conversação, interação e língua falada, estudos do texto e do discurso e aplicações e desenvolvimentos dos estudos sobre interação e texto3.

Na primeira linha destacam-se, principalmente, os estudos sobre interação em diferentes contextos, tais como conversação face a face, conversação em chats online, entrevista televisiva, dentre outros. Conforme Orecchioni (2006), os estudos desenvolvidos nesta linha buscam observar os processos cooperativos na atividade conversacional, como: as trocas de turnos, os silêncios e as lacunas, as falas

simultâneas, as regras conversacionais, a coerência conversacional. “O objetivo da

análise conversacional é, precisamente, explicitar essas regras que sustentam o

funcionamento das trocas comunicativas de todos os gêneros…”. (ORECCHIONI,

2006, p.15). Além disso, também investigam como um dado vocabulário pode contribuir para inclusão ou exclusão de falantes em um determinado grupo social é o caso das gírias (PRETI, 2010; BENTES, 2010).

Os estudos sobre texto e discurso, da segunda linha de investigação, são desenvolvidos a partir da proposição de teorias ou modelos teórico-metodológicos de análise de textos. Dentre estes, destacam-se perspectivas enunciativas de abordagem do texto, tais como a Teoria Semiolinguística do Discurso, do linguista francês Patrick Charaudeau, e a Teoria da Argumentação na Língua, de Oswald Ducrot. Além desses, cabe ressaltar também os diálogos entre a Linguística Textual

3 A descrição a seguir não pretende ser exaustiva, nem completa. Interessa-nos apenas sintetizar a

(29)

e as ciências sociocogntivistas, seja para compreenderem as relações de mútua constitutividade entre os conceitos de texto-discurso e sociocognição ou mesmo para se compreender categorias de análise específicas da Linguística Textual, tais como a referenciação e o tópico discursivo4.

Nesta linha se enquadra também o modelo de análise de Jean-Michel Adam, que propõe uma teoria da produção co(n)textual de sentido, denominada de Análise Textual dos Discursos, difundida no Brasil, especialmente, por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no âmbito do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos (cadastrado no CNPq). Trata-se de uma abordagem teórico-metodológica que se funda na análise de textos concretos, pertencentes aos mais diversos gêneros dos discursos, a partir de categorias textuais e discursivas. Como já elucidado na introdução desta tese, é esta a abordagem da Linguística Textual que norteia as análises aqui empreendidas e, portanto, será detalhada em tópico seguinte.

Finalmente, em uma terceira linha de pesquisa da Linguística Textual desenvolvida no Brasil, encontram-se os estudos dedicados a aplicações das teorias sobre texto e interação às práticas docentes de ensino de língua, principalmente no que diz respeito às questões de leitura, escrita, oralidade e gramática. A centralidade do ensino nos gêneros textuais e a concepção de texto como unidade do ensino de língua materna são as principais proposições oriundas da Linguística Textual ao campo didático-educacional. Estas proposições trouxeram implicações significativas para o ensino de língua, porque redimensionaram as práticas docentes dos professores, no sentido de priorizar a competência comunicativa dos alunos e não mais a transmissão pura de um conjunto de regras gramaticais, tal qual se fazia aqui no Brasil até aproximadamente a década de oitenta.

Considerando estas e outras perspectivas de trabalho, é preciso que compreendamos a Linguística Textual como uma área interdisciplinar dentro da Linguística (aqui entendida em âmbito geral como ciência da linguagem), tal como sugerem Marcuschi (1998) e Koch (1997). Enquanto tal, exige métodos e categorias

4 Em Linguística Textual, trabalhos são desenvolvidos nesta perspectiva a partir da chamada “virada

(30)

provenientes de lugares distintos, tomados, na maioria das vezes, por empréstimo, de muitas áreas do conhecimento. Koch (2012), por exemplo, destacou o diálogo que a Linguística Textual tem estabelecido com as demais ciências humanas, dentre as quais se ressaltam a Filosofia da linguagem, a Psicologia cognitiva e social, a Sociologia Interpretativa, a Etnometodologia, a Etnografia da Fala, a Análise do Discurso, a Análise da Conversação e, de modo recente, com a ciência da Cognição e a Neurologia, tornando-se, cada vez mais, um domínio interdisciplinar, em que se busca explicar como se dá a interação social por meio desse objeto complexo e multifacetado que é o texto.

2.2 Análise Textual dos Discursos: a proposta de Jean-Michel Adam

Também considerando a Linguística Textual como um campo interdisciplinar, tal qual afirmado anteriormente, quando fizemos referência aos trabalhos de Marcuschi (1998) e Koch (1997), o linguista francês Jean-Michel Adam (2011), propôs recentemente que a concebamos a partir de uma aproximação com a Análise de Discurso, tendo em vista ser o texto e o discurso objetos complementares da atividade enunciativa. Para tanto, Adam (2011) elabora uma perspectiva teórico-metodológica denominada de Análise Textual dos Discursos, cujo interesse se volta para a análise co(n)textual5 dos sentido de textos concretos. É esta abordagem que apresentaremos ao longo deste tópico e que fundamenta teoricamente nossa tese.

De modo geral, podemos dizer que a Análise Textual dos Discursos

compreende uma abordagem teórica e descritiva da Linguística Textual, elaborada por Jean-Michel Adam (2011). Estabelece associação entre o texto e o discurso no sentido de pensá-los a partir de novas categorias que permitam compreender a

Linguística Textual como perspectiva decididamente situada no “quadro mais amplo

da análise do discurso” (p. 24). Sugere, pois, um deslocamento teórico-metodológico que pode provocar efeitos aparentemente contraditórios, porque ao passo que

5 Acreditamos ser conveniente esclarecermos o emprego do termo co(n)textual, dada a diversidade

(31)

estabelece relações, também segmente as tarefas da Linguística Textual e da Análise do Discurso. Entretanto, na verdade, a proposta do linguista francês estabelece, “ao mesmo tempo, uma separação e uma complementariedade das tarefas e dos objetos da linguística textual e da análise do discurso”, definindo a primeira como “um subdomínio do campo mais vasto das práticas discursivas” (p.

43).

Para entendermos o procedimento metodológico adotado por Jean-Michel Adam, é preciso que compreendamos a Linguística Textual como uma corrente desvencilhada da tradicional Gramática do Texto, e a Análise de Discurso como linha emancipada da análise do discurso de orientação francesa (aquela desenvolvida por Michel Foucault, amplamente difundida aqui no Brasil, especialmente pelos estudos de Eni Orlandi e Maria do Rosário Valencise Gregolin). Assim delimitadas, a Linguística Textual teria como objetivo “descrever os princípios

ascendentes que regulam os encadeamentos complexos, mas não anárquicos, das proposições no seio de um sistema da unidade texto que apresenta relações sempre

especiais”. A Análise de Discurso, compreendida, de modo amplo, como análise das

práticas discursivas, deverá se deter, prioritariamente, à “descrição das regulações

descendentes que as situações de interação, as línguas e os gêneros impõem aos

componentes da textualidade” (ADAM, 1999, p. 35), conforme se pode ver no esquema a seguir.

Figura 01: Esquema 03: Determinações textuais “ascendentes” e regulações “descendentes”

(32)

Neste esquema, Adam (2011) mostra a articulação entre os dois campos: a Linguística Textual como subdomínio da Análise de Discurso. É a primeira que fornece os instrumentos necessários às leituras das práticas discursivas – uma combinação dos dados do ambiente linguístico com os dados da situação extralinguística. O esquema trata, pois, das determinações textuais ascendentes (da direita para a esquerda) que regem os encadeamentos das proposições no sistema que constitui o texto – objeto de estudo da Linguística Textual – e as relações descendentes (da esquerda para a direita) que as situações de interação nos lugares sociais, nas línguas e nos gêneros impõem aos enunciados – objeto da análise do discurso (ADAM, 2011). Ou ainda, conforme Herrero Cecília (2006), o esquema revela que, de um lado, a Análise de Discurso se interessa pelo funcionamento comunicativo do texto, desde as regulações procedentes da língua, do tipo de discurso e do gênero específico que impõe ao texto determinadas convenções ou prescrições temáticas, composicionais, enunciativas ou estilísticas. Por outro lado, a Linguística Textual se ocupa das regulações que dirigem as operações e encadeamento e de segmentação das proposições, dos períodos e das sequências que compõem o texto.

É pensando na possibilidade de articulação entre estas duas correntes que o autor propõe ser a Análise Textual dos Discursos uma teoria de produção co(n)textual dos sentidos, que toma como objeto de estudo textos empíricos concretos. Assim delineada, a Análise Textual dos Discursos pretende responder à

demanda de propostas concretas para a análise de textos, “apresentando uma

reflexão epistemológica e uma teoria de conjunto” (ADAM, 2011, p. 25), que

contempla o texto na relação discursiva de produção e os efeitos de sentido provenientes do co(n)texto – isto é, os dados do ambiente linguístico imediato (cotextuais) e também os dados da situação extralinguística (contextuais).

(33)

teórico-metodológico que dê conta daquele objeto e de suas relações com o domínio mais vasto do discurso em geral. Esta teoria seria a Análise Textual dos Discursos.

O texto, seu objeto de análise, não pode ser compreendido como um simples conjunto limitado de elementos léxico-lógico-gramaticais. Sendo o texto um objeto complexo e multifacetado, plurissemiótico, constituído por nuances as mais diversas (que envolvem aspectos linguísticos e discursivos múltiplos), uma definição como esta anteriormente posta é limitada e restrita.

Entretanto, antes de nos determos a apresentação de um conceito ou mesmo de uma compreensão de texto coerente à proposta teórico-metodológica proposta por Adam (2011), é pertinente considerarmos as evoluções pelas quais perpassaram a noção de texto, pois cada conceito é resultado de um longo processo de reflexões, idas e vindas, de disputas entre sujeitos e campos do conhecimento sobre este objeto, o texto. Assim, considerando basicamente os momentos históricos pelos quais passaram a Linguística Textual, buscaremos, a seguir, situar o texto, destacando os avanços alcançados em relação ao seu conceito. Por fim, ainda que de modo não exaustivo, nos deteremos à explicitação de uma compreensão mais coerente à Análise Textual dos Discursos.

Em um momento primeiro dos estudos do texto (entenda-se aqui as duas primeiras fases da história da Linguística Textual: a análise transfrástica e a elaboração de gramáticas textuais6), acreditava-se, conforme nos conta Bentes (2006), que as propriedades definidoras de um texto estariam expressas principalmente na forma de organização do material linguístico. Esta compreensão direcionava estudiosos do texto para dois raciocínios que a especificam: i) existiriam textos (compreendidos como sequências linguísticas coerentes entre si) e não textos (sequências linguísticas incoerentes entre si); ii) todo texto deveria ser definido como uma estrutura acabada e pronta, como um produto acabado. Ainda segundo Bentes (2006), bem como também sugerem Fávero e Koch (2012), uma das definições que melhor representa este período é a de Satmmerjohann (1975):

O termo texto abrange tanto textos orais, como textos escritos que tenham como extensão mínima dois signos linguísticos, um dos

(34)

quais, porém, pode ser suprimido pela situação, no caso de textos de

uma só palavra, como “Socorro”, sendo sua extensão máxima

indeterminada (apud BENTES, 2012, p. 269).

Na definição apresentada pelo autor, enfatiza-se, sobretudo, o aspecto material ou formal do texto, ou seja, a atenção recai sobre a extensão e sobre os elementos constitutivos do texto. Em outros termos, o texto é entendido como uma unidade que, mesmo possuindo extensão, ao menos teoricamente, indefinida, em geral, é delimitada com um início, meio e fim. Seja um sermão, um diálogo, um conto ou até mesmo um livro, todos esses textos serão delimitados por um início, um meio e por um fim. O conceito de texto, aqui, está ligado, pois, à questão de sua extensão e de sua organização formal.

Num próximo momento da história da Linguística Textual – a elaboração das teorias de texto – outros aspectos começam a ser revistos na definição de um conceito de texto. Como ressalta Bentes (2006), influenciados por teorias enunciativas e sociointeracionistas que, a partir da década de oitenta, começam a difundir-se na Europa e nos Estados Unidos, muitos estudiosos dos textos passam a considerar aspectos que não dizem respeito somente à estrutura e à forma do texto, mas que existem fora da produção e da recepção textual. Pensando assim, Fávero e Koch (2012) postulam que, nas teorias de texto, um conceito coerente deveria levar em conta alguns aspectos, tais como:

i) A produção textual é uma atividade verbal: quando os falantes produzem um texto praticam atos de fala, produzem enunciados que poderão produzir no interlocutor determinados efeitos de sentido, mesmo que não sejam aqueles esperados pelo locutor;

ii) A produção textual é uma atividade verbal consciente: trata-se de uma atividade verbal intencional, em que o falante procurará empreender seus propósitos, considerando as condições em que tal atividade é produzida; iii) A produção textual é uma atividade interacional: os interlocutores estão,

(35)

A partir de então, o texto passa a ser visto não apenas como conjunto de enunciados léxico-linguísticos estruturados a partir de determinadas regras, mas como uma ocorrência linguística, de qualquer extensão, que apresenta três propriedades básicas constituintes: unidade sociocomunicativa, semântica e formal (COSTA VAL, 1991). Em outras palavras, antes de qualquer coisa, o texto é uma unidade de linguagem em uso, que cumpre uma função sociocomunicativa e só pode ser concebido enquanto tal quando percebido pelo receptor como um todo significativo, coerente e coeso. Nesses termos, podemos conceber o texto como um fenômeno linguístico de caráter enunciativo que vai além da frase, constituindo uma

unidade de sentido, “cujas fronteiras são em geral definidas por seus vínculos com o

mundo no qual ele surge e funciona” (MARCUSCHI, 2008, p. 72).

Dado o caráter contextual de sua teoria, acreditamos que a compreensão de Jean-Michel Adam sobre a noção de texto se insere nessa direção de olhar para o texto não como um mero conjunto encadeado de frases ou como uma simples unidade gramatical. Longe disso, ao defender que a Linguística Textual deve ser

vista como uma “linguística do sentido” – como propôs Cosériu (2007) – Adam (2010) sugere que devemos olhar para o texto como uma unidade de sentido em contexto, tal como propuseram Michael A. K. Halliday e Ruquaiya Hasan (1976).

Na verdade, conforme diz Herrero Cecília (2006, p. 151), na Análise Textual dos Discursos, o texto deve ser compreendido como:

El texto es al mismo tiempo resultado de la actividad discursiva (enunciación) de un sujeito que se dirige a un interlocutor en una situación de comunicación determinada, y una unidad semántica de comunicación organizada en torno a un tema (encadenamiento de proposiciones integradas en secuencias dentro de un esquema composicional que confiere unidad al conjunto)7.

Pensar o texto enquanto uma unidade semântica não significa descartar seus aspectos formais e estruturais. Adam (2010, p. 09) critica justamente essa postura adotada por alguns pesquisadores das ciências humanas e das ciências sociais: o

7 O texto é ao mesmo tempo resultado da atividade discursiva (enunciação) de um sujeito que se

(36)

fato de não se levar efetivamente a sério o materialmente observável dos textos, “os

detalhes semiolinguísticos das formas-sentido mediadoras dos discursos”. O autor, em trabalhos anteriores, define o texto como um objeto de estudo complexo e de difícil delimitação metodológica (ADAM, 1996) que apresenta uma “configuração

regulada por diversos módulos ou subsistemas em constante interação, uma estrutura hierárquica complexa que comporta sequências do mesmo tipo ou de tipos

diferentes” (ADAM, 1992, p. 24). Em outro texto mais recente, Adam (2010) retoma a

proposta de Michel Foucault (1987) para uma análise arqueológica do discurso e mostra que apesar de muitos analistas do discurso insistirem em não olhar para a organização sequencial (e material) dos textos, para o materialmente observável, o filósofo francês defendia justamente o oposto:

Mas não se trata, aqui, de neutralizar o discurso, transformá-lo em signo de outra coisa e atravessar-lhe a espessura para encontrar o que permanece silenciosamente aquém dele, e sim, pelo contrário, mantê-lo em sua consistência, fazê-lo surgir na complexidade que lhe é própria. (FOUCAULT, 1987, p. 65).

Ora, manter o discurso em sua consistência e fazê-lo surgir na complexidade que lhe é própria são dois princípios relativos essencialmente à natureza do texto. Apesar disso, dada a primazia conferida ao estudo das condições de produção dos

textos, “a análise do discurso [a corrente de orientação francesa] não fez uma reflexão específica sobre o estatuto do texto, menos ainda uma teoria específica do

texto” (SARFATI, 2003, p.432). Prendeu-se estritamente às questões que dizem respeito ao campo do discurso, como se se pudesse estabelecer uma separação total entre texto e discurso.

(37)

propõe e desenvolve uma análise textual dos discursos que, procurando articular perspectivas teóricas as mais diversas, busca dar conta da complexidade que envolve o texto.

2.2.1 Os níveis de análise

Ao sugerir uma Análise Textual dos Discursos, Jean-Michel Adam (2011) apresenta níveis de análise textual (no âmbito da Linguística Textual) e níveis de análise do discurso (pertencentes à Análise do Discurso), conforme esquema abaixo:

Figura 02: Esquema 04 – Níveis ou planos de discurso

Fonte: Adam (2011, p. 61).

(38)

compreendida a partir de articulação realizada pelo conceito de gênero do discurso entre os elementos texto e discurso. Assim, uma ação discursiva (nível um) realiza-se com barealiza-se em objetivos (pré)determinados pelo locutor (finalidades) em uma situação de interação social (nível dois) e numa formação discursiva dadas (aquilo que pode ser dito naquela situação – nível três), utilizando o dialeto social desta formação e no seio de um interdiscurso, com a mediação de um gênero do discurso. Este se materializa em textos que se estruturam a partir de proposições ou microunidades de sentido (nível quatro), sequências (descritiva, narrativa, dialogal, argumentativa e expositiva) e planos textuais (nível cinco), manifestando uma dimensão semântica (representação discursiva – nível seis), uma dimensão enunciativa (responsabilidade enunciativa – nível sete) e uma dimensão argumentativa (atos de discurso – nível oito).

Nesta concepção, os gêneros do discurso aparecem como eixo de articulação entre os níveis de análise no âmbito do discurso e do texto. Por apresentar este caráter integrador, pensando no esquema proposto por Adam (2011), os gêneros poderiam estar situados nesta fronteiriça entre os limites do discurso e do texto. Além disso, retomando o que apontam Passeggi et al (2010), a centralidade da noção de gêneros pode corresponder à importância crescente do gênero como categoria de análise da Linguística Textual (e de muitas outras correntes teóricas) aqui no Brasil.

É claro que cada um dos níveis acima referidos apresentam certas especificidades, as quais buscaremos destacar a seguir. Por exemplo, a compreensão de que a linguagem ocorre em situações de interação social nas quais se concretizam ações discursivas recobre os dois primeiros níveis (um e dois) do modelo anteriormente apresentado. Como entende Jean-Paul Bronckart (2006), os indivíduos se encontram em meios sociais diferentes que condicionam, pelo menos parcialmente, os tipos de atividades que podem ser organizadas, os instrumentos que são utilizados e os objetos ou as obras que são produzidas, inclusive as

atividades de linguagem. Na verdade, “toda a ação de linguagem inscreve-se (...) em

um dado setor do espaço social” (ADAM, 2011, p. 63), de modo que não é possível

agir pela linguagem senão através da interação social.

(39)

de Michel Pêcheux e pode ser compreendida da seguinte forma: “São as formações discursivas que, em uma formação ideológica específica e levando em conta uma relação de classe, determinam o que pode e deve ser dito a partir de uma posição

dada em uma conjuntura dada” (BRANDÃO, 1998, p. 38). No interior das formações discursivas, os sentidos estão sob a dependência do interdiscurso, ou seja, de um conjunto de discursos pertencentes a um mesmo campo e que mantêm relações de delimitação recíproca uns com os outros. Cada formação discursiva apresenta certos dialetos próprios de uma dada comunidade de falantes, com características linguísticas (lexicais, fraseológicas, retóricas, estilísticas), sociais e políticas específicas que se manifestam em certas práticas discursivas institucionalizadas (gêneros do discurso).

Os níveis quatro e cinco, das proposições, períodos, sequências e planos de textos, conforme apontam Passeggi et al (2010), rementem diretamente à textura e à composicionalidade do texto, ou seja, à sua sequencialidade ou linearidade. A proposição – ou preposição-enunciado ou proposição-enunciada – constitui unidade

textual mínima da Análise Textual dos Discursos e corresponde a “uma unidade

textual de base, efetivamente realizada e produzida por um ato de enunciação, portanto como um enunciado mínimo8” (ADAM, 2011, p. 106). A noção de período, por sua vez, não compreende a conceituação da tradição gramatical de língua portuguesa; na verdade, designa uma unidade de estruturação textual intermediária e articuladora de proposições e sequências de enunciados. Estas últimas, as

sequências, “são unidades textuais complexas, compostas de um número limitado

de conjuntos de proposições-enunciados: as macroproposições” (ADAM, 2011, p. 204) e podem ser de cinco tipos: descritiva, narrativa, dialogal, argumentativa e expositiva. Por fim, os planos de texto são responsáveis pela estrutura composicional do texto.

O nível seis, que diz respeito à dimensão semântica dos textos e trata da noção de representação discursiva, que será apresentado detalhadamente em capítulo posterior, bem como do fenômeno da correferência e das anáforas e das isotopias do discurso e colocações. No tópico seguinte, trataremos especificamente do nível semântico do texto, por isso, passamos ao próximo nível de análise.

(40)

Por sua vez, o nível sete, aquele referente à dimensão enunciativa dos textos, apresenta como principal categoria a noção de responsabilidade enunciativa. Conforme Adam (2011), a responsabilidade enunciativa ou ponto de vista compreende a assunção por determinadas entidades ou instâncias do conteúdo do que é enunciado ou na atribuição de alguns enunciados ou pontos de vista a certas instâncias. Por seu caráter polifônico – segundo sugere o autor, a responsabilidade enunciativa dá conta da polifonia dos enunciados – a responsabilidade enunciativa é constitutiva da enunciação, já que todo enunciado pressupõe um enunciador que se responsabilize pelo ponto de vista defendido ou enfatizado.

Finalmente, o nível oito corresponde aos atos ilocucionários. Adam (2011) sugere que toda proposição-enunciado possui um valor ou uma forma ilocucionária. Retomando a clássica teoria dos atos de fala de Jonh L. Austin (1962), a linguagem é compreendida como forma de ação – sobre o interlocutor e sobre o mundo circundante. Os atos de fala podem ser, segundo Austin (1962), de três tipos: ato locutório (corresponde ao ato de pronunciar um enunciado), ato ilocutório

(corresponde ao ato que o locutor realiza quando pronuncia um enunciado em certas condições comunicativas e com certas intenções, tais como ordenar, avisar, criticar, perguntar, convidar, ameaçar, etc.), ato perlocutório (corresponde aos efeitos que um dado ato ilocutório produz no alocutário. Verbos como convencer, persuadir ou assustar ocorrem neste tipo de atos de fala, pois nos informam do efeito causado no alocutário).

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e responsabilidade enunciativa de Alain Rabatel e Henning Nölke podem ser utilizadas no nível sete. A teoria da argumentação na linguagem de Oswald Ducrot pode ser utilizada nos níveis seis e oito. Os níveis um e dois são totalmente teorizados por pesquisadores que posicionam no interacionismo sóciodiscursivo de Jean Paul Bronckart e por teorias da interação e da conversação. O nível três é o objeto clássico da Análise de Discurso francesa de Michel Pêcheux conhecida aqui no Brasil.

Assim, dada a complexidade do objeto de estudo texto, é que, ao menos metodologicamente, se faz necessário dividir e diferenciar momentos ou níveis de análise e até mesmo teorizá-los. “Cada nível é a meu ver um momento de análise,

uma unidade de pesquisa e de ensino (esse é um aspecto didático que eu considero como mais importante) ligado aos outros, mas suficientemente distintos para formar

um todo.” (ADAM, 2012, p. 193). De fato, podemos descrever um texto contentando -se apenas com um nível e ba-seando--se em uma teoria consistente dentro deste nível. É o que fazemos nesta tese, ao olharmos para o texto focalizando prioritariamente seu aspecto semântico (o nível seis), isto é, as representações discursivas que são construídas sobre Lampião e seu bando de cangaceiros nas notícias que constituem nosso corpus. Entretanto, mesmo assim, não podemos descartar os demais níveis, porque eles estão intimamente articulados. Pode-se, portanto, enfatizar as categorias de um dado nível na análise de textos, mas é preciso considerar as implicações que os outros níveis apresentam na análise do texto com um todo9.

2.3 O nível semântico da Análise Textual dos Discursos

Na Análise Textual dos Discursos de Jean Michel-Adam, a dimensão semântica compreende um dos níveis de análise textual, uma vez que cabe à Linguística Textual a descrição e a definição das diferentes operações, inclusive as operações semânticas, que são realizadas sobre os enunciados em todos os níveis de complexidade.

9 A operação de localização espacial e temporal e a operação de conexão, por exemplo, analisadas

aqui como categorias do nível semântico do texto, contribuem de forma determinante para a

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Deste nível de análise, a representação discursiva é a principal categoria analítica, conforme salienta o próprio Adam (2011) no esquema quatro, anteriormente apresentado. Entretanto, como o próximo capítulo desta tese é dedicado com exclusividade às representações discursivas que se constroem nos enunciados, nos deteremos aqui às demais operações que se estabelecem na dimensão semântica.

Conforme Adam (2011), as unidades textuais são submetidas a dois tipos de operações de textualização: operações de segmentação (descontinuidade) e operações de ligação (continuidade), apresentadas no esquema a seguir:

Figura 03 – Esquema 5: Operações de segmentação e de ligação

Fonte: Adam (2011, p. 64).

De um lado, as operações de segmentação (tipográficas na escrita e gestuais e fonéticas na oralidade) dividem o todo da unidade textual em segmentos descontínuos, que se organizam de forma linear. Por outro lado, as operações de ligação consistem na construção de unidades semânticas e de processos de continuidade pelos quais se reconhece um segmento textual (ADAM, 2011). Interessam-nos, aqui, de modo especial, estas últimas operações, porque estão situadas no nível semântico dos textos. As operações de ligação dão coesão, textura e união aos enunciados, às proposições10, constituindo o todo do texto, conforme se verá a seguir:

10 A noção de proposição será desenvolvida com mais clareza no tópico seguinte, quando nos

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