MARCELO LEANDRO BUENO
PADRÕES FITOGEOGRÁFICOS DA FLORA ARBÓREA DO
BRASIL CENTRAL
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Biologia Vegetal do Departamento de Botânica do
Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal
de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do
título de Doutor em Biologia Vegetal.
Área de Concentração Ecologia Vegetal
BELO HORIZONTE – MG
MARCELO LEANDRO BUENO
PADRÕES FITOGEOGRÁFICOS DA FLORA ARBÓREA DO
BRASIL CENTRAL
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Biologia Vegetal do Departamento de Botânica do
Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal
de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do
título de Doutor em Biologia Vegetal.
Área de Concentração Ecologia Vegetal
Orientador: Prof. Dr. Ary Teixeira de Oliveira-Filho
Universidade Federal de Minas Gerais
BELO HORIZONTE – MG
043
Bueno, Marcelo Leandro.
Padrões fitogeográficos da flora arbórea do Brasil Central [manuscrito] / Marcelo Leandro Bueno. – 2014.
95 f. : il. ; 29,5 cm.
Orientador: Ary Teixeira de Oliveira-Filho.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Botânica.
1. Cerrado - Teses. 2. Análise de variância – Teses. 3. Paleontologia – Quaternário – Teses. 4. Fitogeografia – Teses. 5. Biologia vegetal – Teses. I. Oliveira Filho, Ary Teixeira. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Departamento de Botânica. III. Título.
!
etapas do trabalho, tornando possível sua realização, às quais quero expressar meus
sinceros agradecimentos.
À Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ao Programa de Pós Graduação em
Biologia Vegetal, pela oportunidade da realização do doutorado.
Agradeço aos meus amigos e familiares por ser paciente com as férias, festas e
aniversários que perdemos. À minha querida família, Pai, Mãe, Juninho e Alexandre, ao
meu sogro Ademir e a Joana e as minhas cunhadas e a Vó Ana! A tia Eva e o tio Terry
por todo apoio. Muito obrigado.
Eu sou grato pelo apoio e paciência da minha esposa e mais próxima colega, Vanessa
Pontara. Pessoalmente, devo a ela a minha sanidade mental, para saber exatamente
quando reduzir nosso estresse, com uma caminhada ou uma garrafa de vinho.
Profissionalmente, ela foi minha assistente mais dedicada. Sem o seu apoio, tanto pessoal
quanto profissional, esta tese não teria sido possível. Agradeço pelos meus filhos Bruno e
Davi que são acima de tudo a maior inspiração para continuar sempre em frente…
Ao Prof. Ary Teixeira de Oliveira-Filho, não apenas por sua orientação, mas também pela
oportunidade de convívio e aprendizado diário, pelo exemplo e inspiração profissional e e
por todo apoio que teve comigo e com minha família, nós agradecemos. Pela sua
agradável convivência e amizade, agradeço à sua atenção, dedicação e confiança a mim
dispensadas. Pela orientação, apoio na realização deste trabalho, mas principalmente,
pelos seus ensinamentos e exemplo de um grande mestre.
A todo o corpo docente do Departamento de Botânica da UFMG. Àos coordenadores do
curso do Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Profa. Denise Trombet e do
Prof. João Renato, pelo profissionalismo e por terem me atendido com a maior presteza
em tudo que me foi necessário.
A todos os colegas da PG em Biologia Vegetal. Obrigado pela agradável convivência e
aprendizado. Fiz amigos que levarei para a vida toda.
Aos meus amigos de uma vida. Por motivos de espaço, seria impossível agradecer a
todos. Obrigado a cada um de vocês.
Escócia: Eugenio Valderrama, Rosevelt Garcia, Oswaldo. Sou muito grato a todos que
muitas vezes de um simples “tea time” eu aprendi muito.
Ao Dr. James A. Ratter, que foi desde sempre uma inspiração pelos trabalhos no Cerrado,
e ao conhecê-lo minha admiração só aumentou, por toda humildade e pela pessoa que é.
Agradeço por tudo que me ensinou, durante as várias conversas sobre o Cerrado durante
o almoço ou no “coffee time” no Royal Botanic Garden, ou mesmo no templo do Cerrado
“Ratter‘s office”, devido a enorme quantidade de livros sobre o Cerrado…Muito
Obrigado Jimmy!
Ao Danilo pela amizade e por toda ajuda que me proporcionou na Escócia, e por todas as
conversas sobre a tese e pela ajuda nas análises no R.
Ao Kyle Dexter por toda colaboração e ajuda no Royal Botanic Garden e quando
forneceu seu apartamento para ficarmos aos pés do maravilhoso Arthur’s Seat, e também
ser vizinho da rainha no Holyrrod Palace.
Ao “Bira” por toda ajuda e compreensão e como sempre muito prestativo quando
escrevia ou mesmo nas conversas pelo skype sobre modelagem.
Ao Marcelo Nascimento e Dora pela linda família e pela ótima convivência mesmo que
curta em Edinburgh.
Ao Royal Botanic Garden Edinburgh por fornecer a ótima estrutura para poder trabalhar
e conviver com ótimos pesquisadores.
Às agências de fomento CAPES pela consessão da bolsa de estudos e ao CNPq pela bolsa
sanduíche (CNPq SWE - Processo 202096/2011-4).
Aos professores da UFMS (Ângela Sartori, Arnildo Pott, Geraldo A. Damasceno Junior,
Flávio Macedo) por todo incentivo e colaboração em minha formação para chegar até
este momento.
Agradeço a Ana Claudia (Asteraceae power), Bruno, Leila, Danilo e Capitú por me
acomodarem em seu lar.
Aos membros da banca, Dra. Anne Priscila Gonzaga Machado, Dr. Arnildo Pott, Dr.
Evandro Machado e ao Dr. João Renato Stehmann, pelas valiosas sugestões.
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Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma n
ã
o
é
pequena.
Quem quer passar al
é
m do Bojador
Tem que passar al
é
m da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele
é
que espelhou o c
é
u.
!
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!
!
Nem tudo o que
é
torto
é
errado. Veja as pernas do
Garrincha e as
á
rvores do Cerrado.
!
RESUMO GERAL
01
INTRODUÇÃO GERAL
02
Objetivos
06
Referências Bibliográficas
07
CAPÍTULO 1 -
The Effects of Quaternary Climatic Fluctuations on the
Distribution of Cerrado Tree Species
11
Abstract
12
INTRODUCTION
14
METHODS
16
Study area
16
Dataset
17
Bioclimatic variables
17
Species distribution modelling
18
RESULTS
19
DISCUSSION
21
Model for cerrado indicator species
21
Cerrado distribution during the LIG, LGM and Holocene
22
Cerrado current distribution, stable areas and conservation
25
CONCLUSION
27
REFERENCES
28
Table 1
34
Figure 1
35
Figure 2
36
Figure 3
37
Figure 4
38
Figure 5
39
CAPÍTULO 2 -
Padrões fitogeográficos da flora arbórea do Brasil central, uma
proposta do Triângulo Fitofisionômico do Cerrado
40
RESUMO
41
ABSTRACT
42
INTRODUÇÃO
42
Figura 1
44
MATERIAL E MÉTODOS
45
Área de Estudo
45
Banco de dados geográficos e de variáveis
45
Análise de Dados
47
RESULTADOS
50
Ordenação dos grupos fitofisionômicos e relação dos preditores ambientais e
espaciais
50
Diversidade-β entre os grupos fitofisionômicos e espécies indicadoras
51
DISCUSSÃO
52
Ordenação dos grupos fitofisionômicos
52
Diversidade-β e espécies indicadoras
56
CONCLUSÃO
59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
60
Figure 2
68
Figure 3
69
Figure 4
70
Figure 5
71
Figure 6
72
Table 1
73
Table 2
74
CAPÍTULO 3 -
A Study In An Area Of Transition Between Seasonally Dry
Tropical Forest And Mesotrophic Cerradão, In Mato Grosso Do Sul,
Southwestern Brazil
75
!
2!
analisar a influência das flutuações climáticas do Quaternário e os fatores ambientais eespaciais, como preponderantes para caracterizar os padrões flora arbórea do Cerrado. A
partir de um banco de dados, que consiste em uma matriz de espécies constituído de dados
binários de presença de 2.155 espécies em 623 áreas distribuídos em todo Domínio, buscamos
elucidar os padrões fitogeográficos da Flora arbórea do Brasil Central. Avaliamos a
distribuição de espécies arbóreas indicadoras por meio da paleomodelagem, e a discriminação
florística e a influência dos fatores determinantes na proposta do triângulo fitofisionômico do
Cerrado (fertilidade do solo, drenagem do solo e relação com a presença de água). Os
resultados da paleomodelagem, apontaram que no último interglacial ocorreu uma expansão
das espécies indicadoras, tanto para as florestas Amazônia como para a Atlântica, mas de
forma fragmentada, corroborando com as manchas de cerrado em áreas disjuntas hoje no
interior da Amazônia, contradizendo a teoria dos refúgios, que foca a maior expansão do
cerrado no último glacial máximo. Nossos resultados indicam que no último glacial máximo
as espécies indicadoras se retraíram para as depressões interplanálticas e encostas das
montanhas da região central do Domínio Cerrado, limitando a ocorrência nas áreas mais altas.
A distribuição das fitofisionomias do Domínio Cerrado, demonstraram que as variáveis
propostas para determinar o turnover florístico das fitofisionomias, foram preponderantes
para caracterizar padrões fitofisionômicos. Os padrões resultantes influenciaram tanto a
diversidade-β como as espécies indicadoras das fitofisionomias. Concluímos que as
flutuações climáticas do Quaternário foram determinantes para a distribuição das espécies
indicadoras do cerrado, assim como, os fatores propostos e apresentados no triângulo
fitofisionômico do Cerrado para a determinação das fitofisionomias, da mesma maneira que,
para as diferenças em diversidade-ß e espécies indicadoras. Enfatizamos a importância desses
resultados no entendimento dos processos dinâmicos tanto em uma escala temporal como
sucessional, para a biodiversidade do Domínio Cerrado.
Palavras-chave: bioma Cerrado, diversidade beta, Quaternário, partição de variância, áreas
O termo savana tem sido aplicado a diversos tipos de vegetação nos diferentes
continentes, com ênfase nos campos da América do Sul, as formações parque da África e
os bosques abertos da Austrália e da Ásia (Oliveira & Marquis, 2002; Hill
et al
., 2011).
Deste modo, as savanas ocupam um
continuum
entre florestas e campos gramíneos
estépicos, com uma mistura variável de árvores e gramíneas (Hill
et al
., 2011). De acordo
com Frost
et al.
(1986), quatro fatores principais seriam responsáveis pelos padrões e
processos das comunidades de savanas: água, nutrientes, fogo e herbivoria. Para as
savanas da região Neotropical, foram incluídos juntamente com os três primeiros fatores,
o clima e eventos históricos (Sarmiento, 1983). A herbivoria tem pouca importância nas
savanas da região Neotropical, devido à pequena biomassa de ungulados.
A
distribuição de savanas neotropicais
abrange todas as formações campestres
com maior ou menor grau de cobertura lenhosa e as formações arbustivo-arbóreas,
englobando desde campos limpos até savanas florestais, que ocorrem no Brasil,
Venezuela, Colômbia, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Paraguai, Bolívia, e norte da
Argentina (Cole, 1986).
Compreende, portanto, os Llanos venezuelanos e Llanos de
Mojos na Bolívia (com ‘matas’ de savana e palmeirais
– Hueck, 1972); as “savanas de
altitude” e a Gran Sabana
nas Guianas; as savanas amazônicas e o Pantanal no território
brasileiro; assim como, certamente, as formas pertencentes ao conceito de Cerrado
sentido amplo (
lato sensu
), segundo Hueck (1972), Sarmiento (1983) e Cole (1986).
No Brasil o termo Cerrado é utilizado para designar as savanas do Domínio
Fitogeográfico do Cerrado (Cole, 1960, 1986), cuja origem junto com as savanas
sulamericanas datam entre 25 a 28 milhões de anos (Gottsberger &
Silberbauer-Gottsberger, 2006). Porém, a dinâmica dos acontecimentos recentes durante o
Quaternário, são descritos por ter muita influência nos atuais limites das formações
vegetacionais da América do Sul (Burnham & Graham, 1999). As flutuações climáticas
da vegetação durante o Quaternário, com ciclos de expansão e contração das florestas
secas e úmidas (Ratter
et al
., 1978; Prado & Gibbs, 1993; Oliveira-Filho & Ratter, 1995),
podem ser diretamente relacionadas aos padrões biogeográficos complexos que tem sido
!
3!
funcionando assim possivelmente, como uma matriz permeável para a dispersão de
espécies entre esses ecossistemas (Oliveira-Filho & Ratter, 1995, 2002; Ab’Saber, 2003;
Gottsberger & Silberbauer-Gottsberger, 2006).
Os Domínios Cerrado e dos Llanos incluem
as maiores áreas contínuas de savana
nas Américas (Sarmiento, 19
83; Mistry, 2000). Na qual, o Cerrado é determinado a
segunda maior região fitogeográfica da América do Sul, cobrindo cerca de 1,5 a 1,8
milhões de quilômetros quadrados, o que representa cerca de 23% do território brasileiro
(Ribeiro & Walter, 2008). Sua área contínua abrange os Estados de Goiás, Tocantins e o
Distrito Federal, parte dos Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia e São Paulo e também ocorre em áreas ao
Norte nos Estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, e ao Sul, em pequenas “ilhas”
no Paraná. No território brasileiro, as disjunções acontecem na Floresta Amazônica,
Floresta Atlântica, Caatinga (Eiten 1994) e no Pantanal (Adámoli, 1982; Allem & Valls,
1987; Abdon
et al., 1998). Outra importante característica do Domínio Cerrado, é ser
recortado por rios das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul:
Tocantins-Araguaia, que abastece a bacia amazônica; São Francisco; e Prata, que inclui sub-bacias
do Paraná e do Paraguai (Lima & Silva, 2008).
grandes extensões (Ab’Sáber, 1983; Lopes, 1984).
Diferentes tipos de vegetação são registrados no Cerrado, como as florestas
estacionais semideciduais e deciduais e ambientes úmidos, embora a maior parte seja
representada por uma vegetação savanóide conhecida como cerrado (Eiten 1972, 1979;
Ribeiro & Walter, 2008). Uma característica inerente a essa heterogeneidade
fitofisionômica do Cerrado é a fragmentação da paisagem, em lugar da descontinuidade
espacial, em que as diferentes fitofisionomias ocorrem em mosaicos de manchas de
diferentes tamanhos e configuração (Silva
et al.,
2006; Ribeiro & Walter, 2008).
Portanto, a heterogeneidade espacial e a disposição em mosaico das fitofisionomias é
uma característica própria do Cerrado, como destacado por Silva
et al., (2006),
com a
presença das formações campestres e florestais (
Eiten 1972, 1982).
Contudo, Walter (2006), ao analisar a distribuição da flora do Cerrado nas suas
diferentes formações e fitofisionomias, verificou a tendência das fitofisionomias
componentes de cada formação serem mais similares entre si, ou seja, florestas similares
com florestas, savanas com savanas. Embora fitofisionomias não sejam mais semelhantes
entre si em relação a flora, existem diferenças florísticas e estruturais dentro da mesma
fitofisionomia que se devem, em geral, às variações na fertilidade e nas características
físicas dos solos (Haridasan, 2000; Moreno et al., 2008). De acordo com Duarte (2007),
as características edáficas e hidrológicas estão relacionadas tanto com a distribuição dos
complexos vegetacionais de determinada região, como também dentro da mesma
formação e são comumente associadas à distribuição espacial das espécies.
Essa variação fitofisionômica concede ao Cerrado uma riqueza florística elevada,
e contribuindo com cerca de 5% da diversidade de fauna e flora mundiais (Klink
et al.,
2005). Além de tudo, o Cerrado contém a flora mais rica dentre as savanas mundiais,
incluindo cerca de 12.000 espécies de plantas já catalogadas. As famílias mais
importantes são: Fabaceae, Asteraceae, Orchidaceae, Poaceae, Melastomataceae,
Eriocaulaceae, Rubiaceae, Myrtaceae, Euphorbiaceae e Lamiaceae (Mendonça
et al.,
2008).
Essa elevada riqueza registrada para o Cerrado decorrente é muita influênciada
!
5!
Oliveira-Filho & Ratter (1995), por exemplo mostraram haver espécies amazônicas e
atlânticas que penetraram no Cerrado através das matas de galeria ou florestas
estacionais.
As fitofisionomias do Cerrado revelam padrões consistentes de diversidade-
β
no
domínio do Cerrado. Em conformidade com Ratter
et al., (2001) e Bridgewater
et al.
(2004), os padrões fitogeográficos e fitofisionômicos do Domínio Cerrado podem ser
observados com base na distribuição de suas espécies lenhosas, ou seja, da diversidade-
β
.
Esses padrões podem ser reflexos da ocorrência e da densidade de espécies com
distribuição ampla, isto é, há um grupo de espécies generalistas que ocorrem
amplamente, mas, em âmbito local, há um grande número de espécies de ocorrência mais
restrita a flora (Felfili
et al., 2004). Méio
et al., (2003), analisando a distribuição
geográfica de 290 espécies arbóreas e arbustivas do cerrado
sensu stricto, afirmaram
haver um gradiente florístico atlântico-amazônico no sentido sudeste-noroeste do Cerrado
e encontraram 41,1% das espécies ocorrendo apenas no Cerrado, 44,8% comuns com a
Floresta Atlântica, apenas 1,4% comuns com a Floresta Amazônica e 12.7% ocorrendo
nos três domínios fitogeográficos.
Por apresentar alta taxa de endemismo, 44% em sua flora (Myers
et al.,
2000;
Silva & Bates, 2002) e grande riqueza biológica, o Cerrado está seriamente ameaçado
pela grande perda de habitat, que o faz ser considerado um
hotspots de biodiversidade
para conservação (Myers et al., 2000; Mittermeyer et al., 1999).
Segundo Myers
et al., (2000), restam apenas 20% da vegetação natural do
Cerrado e apenas 6% de area está protegida em unidades de conservação, a mais baixa
proporção de todos os 34
hotspots mundiais. Klink & Machado (2005) apontam que o
Cerrado possuí 4,1% encontra-se em unidades de conservação, sendo 2,2% de área
protegida em unidades de conservação, porém considerando terras indígenas esse valor
sobe para 6,48%. Visto que o estabelecimento de unidades de conservação é o principal
instrumento para a conservação da biodiversidade (Pressy
et al., 1993; Terborgh, 2003),
particularmente em ecossistemas sob forte influência antrópica, como é o caso do
do Cerrado protegida em unidades de conservação até 2010, porém, foi atingido apenas
7,44% (MMA, 2011a), enquanto, por contraste, a Amazônia possui 25% de área
protegida tendo com meta alcançar os 30% (MMA, 2011b).
As características geoambientais da área do Cerrado são específicas, merecendo
estudos mais aprofundados para avaliar e regular os processos de intervenção que o
homem vem promovendo. O Cerrado vem sendo ocupado desordenadamente, num ritmo
acelerado, que parece ir muito além da capacidade de resistência e recuperação de seus
sistemas ecológicos naturais e criadas pelo homem. Assim, as perspectivas para o
Cerrado parecem sombrias, pois nada parece escapar à maior ameaça desse modelo
perverso de interação homem-natureza (Ferreira, 2003).
OBJETIVOS
O objetivo geral desta tese é analisar os padrões fitogeográficos da flora arbórea
do Brasil central. Para isso ela foi dividida a tese em três capítulos:
O primeiro capítulo aborda à influência das mudanças climáticas do Quaternário
que foram marcante na deteminação das formações florestais da América do Sul, assim
como para o Domínio Cerrado. Deste modo, verificar se tais fatores paleoclimáticos
contribuiram para a distribuição das espécies arbóreas do Cerrado é de extrema
importância para entender a distribuição atual do Cerrado.
O segundo capítulo é baseado nos fatores determinantes do mosaico de
fitofisionomias do Domínio Cerrado como: fertilidade do solo, disponibilidade de água e
o tipo de substrato, e como influenciariam nas fitofisionomias do domínio Cerrado. Desse
modo, tais fatores poderiam tanto caracterizar as fitofisionomias como influenciar na
diversidade-β, riqueza e nas espécies indicadoras das fitofisionomias que ocorrem sob as
mesmas condições climáticas.
!
7!
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2006. 389 f. Tese (Doutorado) - Departamento de Ecologia,
Universidade de Brasília, Brasília.
!
Effects of Quaternary Climatic Fluctuations on the Distribution of
1!
Neotropical Savanna Tree Species
2!
3!
Marcelo Leandro Bueno
1, R. Toby Pennington
2, Kyle G. Dexter
2,3, Luciana Hiromi Yoshino
4!
Kamino
4, Vanessa Pontara
1, Danilo Rafael Mesquita Neves
1, James Alexander Ratter
2& Ary
5!
Teixeira de Oliveira-Filho
16!
7!
1
Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal, Universidade Federal de Minas Gerais –
8!
UFMG, Campus Pampulha, Cep 31270-090, Belo Horizonte, Brazil.
9!
2
Royal Botanic Garden Edinburgh, 20a Inverleith row, EH3 5LR, Edinburgh, UK.
10!
3
School of GeoSciences, University of Edinburgh, 201 Crew Builing, King’s Buildings, EH9
11!
3JN, Edinburgh, UK.
12!
4