ALTERAÇÕES ELETRENCEFALOGRÁFICAS RELACIONADAS A
DEFICIÊNCIAS NUTRITIVAS
VALERIANA MOURA RIBEIRO*;
RUBENS MOURA RIBEIRO**;
T . BRAGA M O N T E L L I * ;
EDGARD R O L A N D O * * *
A influência das carências alimentares parciais ou globais sobre a es-trutura e a função do sistema nervoso é bastante connhecida 5
. 7 .
O caráter reversível dos sinais neurológicos evidenciados em crianças com deficiências nutritivas sugere que novas investigações sejam conduzi-das com o intuito de se conhecer melhor algumas conduzi-das alterações funcionais do sistema nervoso 1 1
.
Nessas condições, torna-se importante estabelecer critérios para avalia-ção do comprometimento encefálico de crianças desnutridas, através da ava-liação conjunta de dados clínicos e laboratoriais. Como recurso subsidiário para estudo do sistema nervoso em pacientes desnutridos, o eletrencefalo-grama ( E E G ) representa uma técnica capaz de fornecer as características bioelétricas do sistema nervoso central nas crianças sob carência alimen-tar 5
>6 .9
.1 0
. As características bioelétricas da maturação cerebral determi-nadas pelo E E G , obedecem a certos padrões que permitem estabelecer se o quociente de desenvolvimento neuromotor acompanha, ou não, a idade cro-nológica. A finalidade do presente trabalho é demonstrar o efeito das de-ficiências nutritivas sobre o sistema nervoso, utilizando critérios de avalia-ção clínica e eletrencefalográfica.
O m a t e r i a l consta de 20 pacientes desnutridos, sendo 10 do sexo feminino e 10 do masculino, c u j a s idades v a r i a v a m entre três e 72 meses. Os pacientes f o r a m admiti-dos no D e p a r t a m e n t o de P e d i a t r i a da F a c u l d a d e de Medicina de R i b e i r ã o P r e t o com o diagnóstico de desnutrição g l o b a l ou proteica, segundo critério clínico e l a b o r a t o r i a l . P a r a a v a l i a ç ã o do g r a u e tipo de desnutrição f o r a m considerados o sexo, idade, peso e estatura dos pacientes e realizados e x a m e s p a r a determinação, no s a n g u e , das t a x a s das proteínas g l o b a i s e frações, colesterol, glicose, fósforo, fosfatase alcalina, cálcio, sódio, potássio, cloro e da o s m o l a r i d a d e .
O E E G foi realizado em a p a r e l h o G r a s s de 8 canais com eletrodos colocados se-gundo a técnica internacional. N o s 20 pacientes os e x a m e s f o r a m realizados d u r a n t e o sono induzido pelo Seconal, administrado p o r v i a o r a l n a d o s a g e m de 7 m g / k g de peso corporal.
M A T E R I A L , M É T O D O E R E S U L T A D O S
Os traçados f o r a m a n a l i s a d o s com o intuito de se evidenciar a presença de ele-mentos patológicos ( o n d a - p o n t a , onda a g u d a ) ou n ã o ( o n d a lenta c o n t í n u a ) ou da a t i v i d a d e fisiológica paroxística ( o n d a do vertex, complexo K e fusos do s i g m a ) .
Os resultados eletrencefalográficos f o r a m c o m p a r a d o s com u m g r u p o controle constituído por 20 crianças normais do ponto de vista nutricional e neurológico.
N o q u a d r o 1 estão assinalados os dados de identificação dos pacientes e os res-pectivos c o m e m o r a t i v o s físicos; no q u a d r o 2 os resultados dos diferentes e x a m e s bio-químicos e, no q u a d r o 3, os achados eletrencefalográficos obtidos da correlação entre os pacientes com desnutrição g l o b a l ou proteica e o g r u p o controle.
C O M E N T A R I O S
Embora nossos resultados tenham confirmado, de modo geral, trabalhos anteriores, esses achados aliados às informações fornecidas pela literatura tornam evidente que o EEG de crianças desnutridas tem valor informativo para o diagnóstico de lesão orgânica do encéfalo e permite, também, avaliar os aspectos evolutivos e determinar as possíveis seqüelas.
desnutrição proteica. Esses resultados, quando comparados com o grupo con-trole, evidenciam a predominância dos elementos patológicos nos pacientes com desnutrição proteica (Quadro 3 ) .
Os distúrbios do metabolismo intermediário das proteínas provocam alte-rações eletrencefalográficas difusas, associadas, ou não, a onda-ponta e a onda lenta trifásica. Entretanto, essas anormalidades são lábeis e estão na dependência direta dos níveis sangüíneos das substâncias nitrogenadas não proteicas8
. Por outro lado, a incidência relativamente elevada de altera-ções focais em nossos pacientes com desnutrição proteica pode ser decorrente do baixo limiar convulsiógeno provocado pela super-hidratação intracelular
comumente evidenciada na má nutrição grave e crônica, conseqüente ao baixo teor de proteína calórica 3
.
Do ponto de vista experimental esse baixo teor de proteína não repre-senta o único fator causal dos sintomas neurológicos. Chan-Nao e W i n d l e2 estudaram as alterações do corpo celular e da substância de Nissl do cérebro de cobaias que morreram de inanição e verificaram que as alterações encon-tradas nas células nervosas eram secundárias ao acúmulo do produto do ca-tabolismo e da anoxia histotóxica.
Mais recentemente Cuparencu e c o l .4
demonstraram que cérebros de ratos brancos nutridos com regime pobre em proteínas, evidenciavam alte-rações do metabolismo de cerebrosídios, proteolipídios, fosfolipídios e coles-terol.
As alterações eletrencefalográficas manifestadas em nossos pacientes de-monstram comprometimento cerebral difuso, associado a sinais focais de tipo epiléptico.
Convém lembrar que esses resultados não são obviamente específicos de determinado distúrbio metabólico, mas são registrados também em várias outras condições clínicas.
R E S U M O
fusas e/ou descargas focais de tipo epiléptico. A incidência relativamente alta de descargas focais pode ser explicada pelo limiar convulsiógeno muito baixo do cérebro de crianças com desnutrição.
S U M M A R Y
Electroencephalographic changes related to nutritional deficiencies
The EEG changes in a group of 20 children with nutritional disorders are reported. The results suggest a significant difference in the EEG of patients with undernutrition and those with protein-caloric deficiency. These alterations correspond to the incidence of diffuse cerebral involvement and or discharges of an epileptic focal activity. The relatively high incidence of focal discharges may be explained on the basis of a very low epileptiform threshold of the cerebral cortex in children with nutritional disease.
R E F E R Ê N C I A S
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