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Como é ser cuidado em casa: as percepções dos clientes.

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PESQUISA

COMO

E

SER CUIDADO EM CASA: AS PERCEPCOES DOS CLiENTES

THE PERCEPTION OF CLIENTS WHEN RECEIVING HOMECARE

COMO ES SER CUIDADO EN CASA: LAS PERCEPCIONES DE LOS CLiENTES

Lisiane Manganelli Girardi Paskulin 1 Vilma Regina Freitas Gon:alves Dias2

RESUMO: Este estudo qualitativo de carater explorat6rio analisou a percep:ao dos usuarios do Programa de Atendimento Domiciliar do SSS-GHC, em Porto Alegre/RS, sobre os cuidados recebidos pela equipe interdisciplinar e por seus cuidadores no domicflio. Entre os 17 clientes entrevistados predominaram mulheres, idosos e portadores de doen:as cr6nico degenerativas. Da analise emergiram cinco categorias, abordando 0 cuidado profissional e familiar, bem como as experiemcias dos sujeitos quanto as circunstancias de vida enfrentadas. Nos resultados, os cuidados vivenciados foram percebidos como humanizados e propiciadores de estrategia avaliativa do Programa.

PALAVRAS-CHAVE: cuidado domiciliar, aten:ao primaria a saude e saude coletiva

ABSTRACT: This qualitative and exploratory study analyzed the perception of users of the Home Care Program (SSS-GHC) in Porto Alegre, Rio Grande do Sui state regarding the assistance provided by its interd isciplinary team and caretakers. Among the 17 clients interviewed, there was a prevalence of women, elderly people and chronic degenerative disease patients. As a result of the analysis it was possible to identiy five categories which were related to family, professional care and experiences of the subjects in relation to life circumstances. Results showed that, according to the client's point of view, the care received was viewed as humanized and favorable to the evaluative strategy of the Program.

KEYWORD: home care, primary focus on health, collective health

RESUMEN: Este estudio calitativo de caracter exploratorio analiz6 1a percepci6n de los usuarios del Programa de Atendimiento Domiciliar del SSS-GHC, en Porto Alegre/RS sobre los cuidados recibidos por el equipo interdisciplinar y por sus cuidadores en el domicilio. Entre los 1 7 clientes entrevistados predominaron mujeres,ancianos y portadores de enfermedades cr6nico degenerativas. Del analisis resultaron cinco categorias,abordando el cuidado profesional y familiar, asi como las experiencias de los sujetos frente a las circunstancias de vida que deben enfrentar. Los resultados apuntan que los cuidados vivenciados fueron percibidos como humanizados y propiciadores de estrategia evaluativa del programa.

PALABRAS CLAVE: cuidado domiciliar, atenci6n primaria a la salud y salud colectiva

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Recebido em 1 4/0 1 /2002 Aprovado em 26/06/2002

1 Professora Assistente da Escola de E nfermagem da U niversidade Federa l d o Rio Grande do S u I . Mestre em Educa:ao. 2 Enfermeira do Servi:o de Saude Comunitaria do G rupo Hospitalar Concei:ao . Mestre em Saude Coletiva .

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INTRODUCAo

o desenvolvimento de estudos e a implanta9ao de programas de atendimento domiciliar no Brasil vem ganhando for9a nesta ultima decada, apesar de ser uma atividade desenvolvida na area de Saude Publica desde 0 inicio do seculo. A preocupa980 em estender 0 atendimento ao clientel familia para que estes tenham uma melhor qualidade de vida em seu domicilio e permitir aos profissionais dos servi90s aprofundar seus conhecimentos sobre as condi90es de vida de sua clientela tem sido uma tematica importante neste co ntexto , aponta d a por a l g u n s a u to res ( B O R DAS ; SANTAMARIA; GONDELL, 1 992, LOPES; OLiVEIRA, 1 998). Veriicamos que os artigos e investiga0es brasileiras realizadas nesta area se volta m , basicamente, para a divulga80 dos programas realizados e compreensao da vi sao dos profissionais de saude que atua m no atendimento domiciliar (PADILHA et aI . , 1 994; SANTOS et aI . , 1 998; ARAUJO et aI . , 2000; LOPES; OLIVE I RA, 1 998). Assim, acreditamos ser de fundamental i mportancia, tambem, identificar como 0 cliente percebe 0 atend imento em nivel domiciliar, uma vez que isto indica a qualidade da aten9ao que e d esenvolvida e as poss i b i l i d ades do cu idado intradomiciliar.

o Sevi90 de Saude Comunitaria do Grupo Hospitalar Concei9ao (SSC/GHC) e formado por doze Unidades de Saude, situa-se na Zona Norte da cidade de Poto Alegre no Rio Grande do Sui e desenvolve atendimento domiciliar desde o inicio de suas atividades, ha dezenove anos.

Uma dessas doze Unidades e a Unidade de Saude da Vila Floresta (SSCVF) que atende a uma popula9ao adscrita de 9.404 pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (1 996), tendo cadastrada na Unidade 66% da mesma. Verifica-se que a popula9ao desta area geografica, em sua maioria, reside ha muitos anos neste local . Da popula9ao cadastrada, 7% sao idosos (acima de 65 anos de idade) e no Programa de Atendimento Domiciliar a maior parte dos clientes tambem sao idosos. As doen9as de maior prevalencia nesta popula9ao sao as cronico-degenerativas, e como principais causas de obitos, os problemas decorrentes de doen9as cardiovasculares e causas externas. Esta Unidade busca colocar em pratica os principios da Aten9ao Primaria a Saude (STARFIELD, 1 992) e com poe a rede publica de Aten9ao a Saude do municipio de Porto Alegre e desenvolve a90es de prom09ao a saude, preven9ao, cura e reabilita9ao.

Dentre as d iversas ativid a d es a s s i stenci a i s desenvolvida, inclui-se 0 atendimento domiciliar (denominado de "Programa de Acamados" pela equipe) aos pacientes/ clientes. Este Program a e desenvolvido ha treze anos, e contava no segundo semestre de 1 999, com 46 pacientes inscritos. Atualmente, atende 52 usuarios.

A equipe de saude da Unidade participa efetivamente deste Programa, onde os pacientes recebem atendimento da Terapia Ocupaci o n a l , E nfermagem (Auxi l i a res e Enferme i ra ) , M e d i ci n a , S e rv i 90 S o ci a l , P s i co l o g i a , Odontologia (Odontologo e Tecnico d e Higiene Dental), conforme a necessidade de cada caso. No momenta da realiza9ao da pesquisa, a freqOencia dos atendimentos no domicilio pela equipe, nao encontrava-se sistematizada , sendo realizada a partir da avalia9ao d o s profissionais

envolvidos, de acordo com a necessidade de cad a caso. A rotina inclui, primeiramente, uma solicita9ao por parte de algum familiar que identifica a necessidade do atendimento domiciliar. Apos a solicita9ao, u m profissional do servi90, normal mente 0 medico ou a enfermeira, realiza uma visita domiciliar (VD) e avalia a necessidade de atendimento e tipo de acompanhamento. Conforme avalia9ao do profissional quanta a necessidade de manuten9ao do atendimento, 0 cliente e incluido no Programa. A familia e estimulada a paticipar ativamente deste programa atraves do cuidado ao familiar e intera9ao com a equipe de saude na troca de sabere s . Os recursos m ateriais necessarios para os cuidados sao fornecidos, na sua maioria, pela Unidade de Saude.

o atendimento domiciliar e uma atividade existente ha muito tempo no setor saude e, para nos, ele fundamenta­ se no principio de que 0 doente, que se torna dependente, recebe os cuidados necessarios para a manuten9ao e/ou recupera980 de sua saude, bem como a preven980 de agravos indesejaveis, no convivio de seus familiares. Esta visao interativa de cuidados domiciliares requer mudan9a nos modelos de aten980 a saude centrados na logica organizativa dos Servi90s que baseiam-se na demanda espontanea e na cura dos problemas de saude, vistos, em sua maioria, no contexto da fisiopatologia.

Constatamos que 0 atendimento domiciliar pode propiciar um contato mais estreito dos profissionais de saude com 0 paciente e seus familiares em seu proprio meio, podendo ser este momenta util para uma avalia9ao das condi90es que 0 cerca e por vezes de grande importancia p a ra 0 s u ce s s o d o a co m pa n h a m e nto . Ass i m , n o s associamos com Oliveira e Berger (1 996) ao afirmarem que o momenta da VD pode auxiliar na elucida9ao de causas para problemas que perdem 0 nexo explicativo quando fora do contexto familiar.

Sao poucos os familiares que desempenham sem dificuldades 0 papel de cuidador e a proposta do atendimento domiciliar depende, fundamentalmente, da figura deste. Esta situa9ao, por vezes, pode exigir mais da equipe de saude que necessita estar alerta e muito bem capacitada para intevir no domicflio da clientela e poder prestar os cuidados, aproveitar 0 espa90 para educa9ao em saude, respeitar as d iferentes culturas e compreender 0 ambiente familiar (PADILHA et aI., 1 998). Embora a equipe na maioria das vezes ja interage com membros desta familia, cuidada na U nidade de Saude, observamos que freqOentemente e necessario repensar e reconstruir conjuntamente - cliente, familia e equipe-o "caminho" da pratica do cuidado, a fim de envolverem-se paticipativamente num processo terapeutico i ntersubjetivo, elemento essencial para a conquista do cuidado com qualidade.

Santos et al. ( 1 998, p. 1 31 ) encontraram, ao trabalhar com enfermeiras sobre 0 cuidado domiciliar, que nesse espa90 nao e possivel preyer uma rotina de atendimento pela dinamica de cada domicilio "( .. . ) requer da equipe uma ca pacidade de flexi b i l i d a d e , readapta9ao constante, criatividade e, principalmente, uma atitude interdisciplinar que valorize tanto 0 sistema de cuidado, como, tambem 0 sistema popular".

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Como e ser cuidado .. .

d e saude conhecerem a percep;ao d a clientela . sobre 0 atendimento recebido para a melhoria da qualidade do sevi;o prestado (THORNE, 1 988, BOTELHO, 1 997, LORENZI ; SCH N E I DER, 1 998, RAMOS, 2000). Entretanto, faz-se necessaria uma avalia;ao sobre os beneffcios e dificuldades vivenciados pelos proprios sujeitos para a efetiva;ao destes cuidados nos seus domicilios.

o termo percep;ao esta sendo utilizado nesta investiga;ao no sentido proposto por Hamachek citado por Sundeen, ( 1 997, p.96) como "0 processo atraves do qual nos selecionamos, org a n izamos e i nterpreta mos as estimula;6es sensoriais dentro de uma visao de mundo sign ificativa e coerente . 0 autor relata ainda que as necessidades individuais, valores, cren;as e autoconceito sao fatores vitais para determinar como 0 individuo ve seu espa;o de vida e arredores".

Tendo como ponto de partida as exposi;6es acima e dentro de uma proposta de integra;ao universidade-sevi;o, as autoras propuseram os seguintes objetivos na presente investiga;ao: conhecer as caracteristicas demograticas da popula;ao atendida no programa, identificar como 0 cliente percebe 0 atendimento prestado pelos profissionais do servi;o, conhecer como 0 cliente percebe 0 papel do(s) seu(s) cuidador( es) no domicilio, identificar 0 que 0 cliente considera como pontos positivos no cuidado domiciliar e conhecer 0 que 0 cliente considera como pontos negativos no cuidado domiciliar.

METODOLOGIA

A investiga;ao, de cunho qualitativo, teve carater exploratorio e corte transversal . Compuseram a amostra os 1 7 clientes inscritos no Programa de Atendimento Domiciliar do SSCVF, que tiveram condi;6es de responder a uma entrevista. 0 Pojeto de Pesquisa foi aprovado pela Comissao de Etica e Pesquisa do Grupo Hospitalar Concei;ao.

As i nforma;6es fora m coletadas atraves de consultas aos Prontuarios de Familia e de entrevistas semi­ estruturadas com os clientes do programa. No Prontuario de Familia foram levantados dados demograficos, tais como, idade, sexo, problema de saude que gerou a necessidade de atendimento domiciliar e 0 tempo de permanencia no Programa.

A entrevista sem i-estruturada buscou colher informa:6es que respondessem aos demais objetivos propostos. Foram realizadas pel a pesquisadora docente (que nao e contratada pelo servi:o) e pel a bolsista de pesquisa, na residencia dos clientes , com hora rio previamente agendado. Neste encontro foi fornecido aos participantes do estudo um Termo de Consentimento Informado. Apos a leitura e explica:ao do mesmo, esclareceu-se a finalidade do estudo, possibilidades de desistencia e as duvidas. A partir da concordancia escrita do respondente iniciava-se a entrevista, ficando uma copia em sua guarda. A analise das informa;6es foi realizada com base na Analise de Conteudo pro posta por Bardin (1 977). As unidades foram categorizadas por criterio semantico (tematico), a partir dos objetivos da investiga;ao. Os temas que emergiram da analise das entrevistas, e os dados demograticos levantados sao apresentados a seguir.

C O N H E C E N D O A C L i E N TE LA DO PROG RAMA DE ACAMADOS E DOS SUJEITOS DO ESTUDO

Dos 46 usuarios do Programa de Acamados, mais de 50% sao do sexo feminino, (35 usuarias) 0 mesmo

acontecendo com os 1 7 da amostra estudada. A faixa etaria predominante, dos sujeitos do estudo, variou de 70 a 89 anos de idade, destacando-se, tambem, a faixa entre 60-69 anos.

Em rela:ao ao tempo de permanencia dos sujeitos estudados no Programa, houve predominio daqueles que 0 utilizam entre 3 e 6 anos (6 usuarios), seguido dos que foram incluidos ha menos de 1 ana

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usuarios). Quanto ao tempo de permanencia no Programa como um todo ha uma diversidade, sendo mais representativos os period os de 1 a 3 anos, 4 a 5 e 5 a 6 anos.

No que se refere as patologias apresentadas pelos clientes i nscritos, os cinco problemas principais sao: Hipertensao Arterial Sistemica (1 8 casos), Acidente Vascular Encefalico ( 1 1 casos), outras doen;as cardiovasculares ( 1 0 casos), Doen:a bronco-pulmonar ( 9 casos) e Diabetes Mellitus (7 casos). Um diagnostico nao estava registrado e a obesidade, protese de quadril, infec;ao do trato respiratorio, amputa:ao de membros inferiores, artrose, Parkinson , paralisia ou paraplegia dos membros inferiores (por acidente) ocorreram com menor freqOencia . Salienta-se que muitos sujeitos a p res e n t a m m a i s d e u m a pato l o g i a simultaneamente. Esses d a d o s retratam que as principais patologias encontradas no atendimento domiciliar sao as doen:as cronicas.

Em rela:ao ao cuidador dos sujeitos estudados obseva-se que muitos sao acompanhados por mais de uma pessoa simultaneamente. Onze sujeitos citam os filhos como cuidadores, e com menor freqOencia incluem-se os sobrinhos, conjuges, irmaos, netos, pais e cunhada. Em apenas dois casos e citado a contrata:ao de empregados.

Esses dados demonstram que 0 cuidado com 0 cliente acamado e prestado, em sua maioria, pela familia, podendo estabelecer uma rela:ao de carinho e solidariedade no processo do cuidado.

Durante a realiza;ao das entrevistas obsevamos as dificuldades enfrentadas pelos cuidadores, em fun;ao de muitos necessitarem assumir, simultaneamente, 0 cuidado

do doente, 0 compromisso laboral e 0 sustento da familia. Verificamos, ainda, que ha familias (ou doentes) que tem condi:ao economica de contar com 0 apoio de profissional contratado, possibilitando divisao das tarefas de cuidado. Certamente, cuidar de um familiar em casa traz sobrecarga a familia, exigindo mudan;as na sua organiza:ao.

A PERCEPCAo DO CLIENTE SOBRE 0 ATENDIM ENTO DOMICILIAR - CATEGORIAS CONSTRUiDAS

A PERCEP;Ao SOBRE 0 ATENDIMENTO DA EQU IPE

Os participantes do estudo referem gostar muito do atendimento realizado pela equipe. Ressaltam a presteza, aten:ao, cordialidade, amizade e tranqOilidade com que sao atendidos. Consideram esse tipo de atividade uma inova:ao e relembram a sua intancia, quando os medicos particulares vinham em casa:

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Entao se tonaram assim . . . amigas, ne ? sao pessoas muito queridas na famia. Eu tenho 0 dialogo aberto e isso para mim e muito impotante. (Suj . . 1 )

Percebemos nessa fala a valoriza;ao do vinculo com os profissionais do servi;o. A Aten;ao Primaria de Saude prenuncia que 0 vinculo propicia maior resolutividade das necessidades de saude (STARFIELD, 1 992).

Destacamos, ainda, 0 depoimento de um dos clientes que relata a diferen;a do atendimento prestado em sua casa ao referir-se aos profissionais de saude que 0 acompanham no domicilio:

. . . eu nao sei se e porque eles vem aqui na minha casa que eles sao mais educados . . . eu acho mais educa;ao deles aqui .. . (Suj. 1 7)

Este relato vem ao encontro da afirmaao de Clayson citado por Oliveira e Berguer ( 1 996, p.72) ao destacar que a dinamica de atendimento em uma visita domiciliar e alterada "substancialmente em fun;ao de ser realizado no territ6rio do paciente".

A PERCEPyAO SOBRE SER C U I DADO PELA FAMILIA

Dez paticipantes do estudo opinam positivamente quanto a ser cuidado em cas a pela fam ilia. Valorizam 0 cuidado diferenciado recebido pelos filhos:

A minha filha me cuida ela e muito .. . , e demais

(Suj . 1 0);

Em casa elas me cuidam com carinho, me dao banho com carinho e tudo .. . (Suj . 4).

Atraves de uma frase singular, expressam 0 carinho recebido e a individualiza;ao do cuidado:

Canja e bejo na boca e s6 em casa (Suj . 1 4);

Ela e que cuida de mim, agora eu e que sou filha dela. (Suj. 1 5)

Um paciente refere as dificuldades enfrentadas pelos fa m i l i a res p a ra p o d e re m c u i d a - I o e a s s u m i r s e u s compromissos simultaneamente:

E complicado . . . ela (a filha) tem muita obriga;ao. (Suj. 1 6)

As diferen;as contidas nos relatos acima revelam que as condi;6es familiares sao determinantes da satisfa;ao pelo cuidado recebido. Assim, a inter-rela;ao da familia e sua situa;ao socioecon6mica i raQ d efi n i r, tam bem , a qualidade do cuidado. Ressaltamos que estas diferen;as devem ser investigadas, identificadas e trabalhadas pela equipe que presta 0 atendimento. Refor;amos, tambem, a importancia do trabalho interdisciplinar para que se possa refletir com a familia sobre suas vivEmcias, sentimentos e diiculdades, auxiliando-a a encontrar altemativas de interaao e convivencia com as situa;6es enfrenta d a s . Estas considera;6es vem ao encontro as de Araujo, Sampaio, Carneiro e Sena (2000, p . 1 1 8) que apontam a necessidade de uma "parceria terapeutica", onde 0 cuidado domiciliar permite 0 resgate das praticas tradicionalmente usadas pel a popula;ao, embasadas na sua bagagem cultural.

Os outros cinco sujeitos da amostra nao qualificam o cuidado recebido em casa, relatando apenas as tarefas

desempenhadas pelos familiares/cuidadores.

Quanto as atividades desenvolvidas pel os familiaresl cuidadores citadas pelos pacientes envolvem: auxilio na higiene, preparo da alimenta;ao, limpeza da casa, cuidados com as roupas, realiza;ao de curativ�s, fornecimento e administra;ao da medica;ao. Alem das atividades diarias no cuidado do paciente e limpeza da casa, relatam ainda que recebem auxilio dos familiares na realiza;ao de compras no mercado e de "coisas de rua" como pagamentos de contas, marca;ao de consultas e outros .

VANTAGENS DO ATENDIMENTO DOMICILIAR

Em rela;ao a esta categoria todos os usuarios refor;am a importancia deste tipo de atendimento em fun;ao de sua dificuldade de locomo;ao. Relatam a facilidade de acompanhamento, visto nao dependerem dos familiares para serem assistidos, nao terem gastos com 0 transporte e nao necessitarem "entrar em fila" (suj . 1 0).

Cinco pacientes demonstram em suas falas valorizar o atendimento, a aten;ao que recebem e a importancia do apoio dos profissionais:

Sao pessoas que me transmitem um pouco de carinho, um pouco de calor humane nas fases mais dificeis da minha vida, ne ? (Suj . 1 )

Outros quatro apontam a facilidade para a realiza;ao de procedimentos e fornecimento de material:

. . . as enfermeiras abrem, poe curativ�, trazem 0 que precisa: gazes, remedios, essas faixas, a pomada. (Suj . 2) .. .

U m d o s u s u a ri o e s p e ra , a i n d a , q u e o utras dificuldades sejam resolvidas pel a equipe do posto:

Eles estavam ajudando na parte financeira, num ranchinho .. . mas nao durou dois meses e ja cotaram tudo.

(Suj . 1 9)

Com menor freqUencia sao citadas as possibilidades de continuidade do tratamento por meio do atendimento em casa e a cren;a de poder prevenir problemas:

Fica mais a von ta de, a gente tem mais liberdade

em casa ne ? (Suj.

9);

Se prevenir antes, do que deixar

acontecer ... (Suj . 1 )

Ao compararem com 0 atendimento recebido por ocasiao de interna;ao hospitalar a maioria prefere ser acompanhado em casa por ter mais liberdade, ser mais tranqUilo, poder ficar com a fam ilia, comer 0 que gosta, escolher os horarios, nao precisar ver 0 sofrimento dos outros doentes, bem como nao precisar esperar sua vez para ser atendido:

Eles em casa vem com mais calma (Suj. 1 3); ... a gente fica junto com a familia ne ? Vem um parente, vem outo . .. (Suj . 1 5).

Um dos sujeitos do estudo ao fazer esta comparaao refor;a que em casa melhora mais rapido e fala sobre a rotina do Hospital:

E. Melhoa bem mais ligeio. L a tem horario pra tudo ne ? E como um quartel. Pra ti tocar tu espera, porque tem mais trezentos para tocar ... 0 caa vomitava do meu lado.

(5)

Como e ser cuidado .. .

prato para 0 lado. Nao pode falar porque ele e doente, ta doente, fazer o que ? (Suj . 1 8)

Por o utr� l a d e u m d o s p a c i e ntes ve como desvantagem nao ter recursos a mao como no hospital:

Nao tem muita diferen;a, la a gente esta n o meio dos recursos, aqui tem que sair correndo e pocurar ajuda, mas e melhor poder ser atendido em casa pois posso icar junto com a esposa que me ajuda . . . (Suj . 1 2)

A P E RC E P ;Ao S O B R E A S D I F I C U L D A D E S D O PROGRAMA -0 Q U E PODE S E R M ELHORADO

A maior parte dos sujeitos do estudo sugerem que o atendimento seja sistematizado, onde as visitas domiciliares tenham uma frequencia planejada e garantida:

Prazo para realizar visita;ao (Suj . 3);

... devia ter alguem que uma vez por mes, uma vez por 15 dias ia e verificava a pressao de todos e fazia um historico .. . quando acontece alguma coisa 0 medico vai saber desde quando ta com a pressao alta (Suj. 1 );

. . . deveria ter um acompanhamento, ne ? Nao so quando tem alguma coisa (Suj . 1 5)

A i n d a sao s u g e r i d o s : a existe n c i a d e u m a "assistencia" (ambulancia) para 0 transpote dos pacientes acamados, quando necessario; um "telefone 24 horas" visando ao contato ininterrupto com os profissionais do posto; a informatiza;ao dos prontuarios; a i mplementa;ao de atendimento odontol6gico para todos os pacientes acamados; expandir 0 atendimento domiciliar para alem da area de abrangencia do servi;o e melhorar a letra das receitas medicas. Tambem ha 0 relato de um dos clientes quanto ao com um atendimento que foi marcado e nao foi realizado.

Confirmamos 0 referido por Bastos, Santana e Nunes (2000) quanto a importancia da avalia;ao do usuario sobre 0 sistema de saude. Os autores apontam que a avalia;ao alem de ser um indicador da qualidade do sevi;o prestado tambem possibilita uma maior adequa;ao no uso do servi;o. Assim , acreditamos q u e a s percep;oes dos clientes quanto ao atendimento prestado pela equipe, sobre ser cuidado em seu domicflio e sobre as dificuldades do Programa e auxiliam os profissionais e o servi;o como um todo na delimita;ao de estrategias de atua;ao condizentes com as necessidades dos usuarios.

AS VIV�NCIAS DOS PARTICIPANTES DO ESTUDO

Os entrevistados, ao falarem sobre sua situa;ao atual, trouxeram questoes acerca de suas hist6rias de vida que pela relevancia merecem ser destacadas:

Biguei com 0 mundo . . . nao me preparei para a

velhice ... (Suj . 5);

Tenho saudades da casa no interior (Suj .6). Os sujeitos abord a m a fase do cicio fam i liar vivenciada, falando sobre as d ificuldades nas rela;oes familiares, a perda de parentes pr6ximos como filhos e esposo. Relatam ainda 0 supote pessoal que busam atraves da auto ajuda e do auxilio dos familiares, exemplificados

nas estrategias de reconstru;ao do seu espa;o ffsico para q u e possa m acessar o bj etos necessarios de forma independente; a construyao de "peya" com banheiro adaptado as necessidades do acamado, adapta;ao de equipamentos para higiene, alimenta;ao e necessidades fisiol6gicas, alem d a s q u est6es p s i co l 6 g i ca s p a ra e nfre ntarem a s circunstancias n a qual s e encontram . Valorizam tambem situa;oes de solidariedade da comunidade onde se inserem, como auxflio para transporte, visita de religiosos e voluntarios.

CONSIDERA;OES FINAlS

Verifica-se que a popula;ao em estudo e composta na sua grande maioria por mulheres, idosos, portadores de doen;as cronico-degenerativas, tendo como principal cuidador os filhos e estao, em media, ha quatro anos em atendimento domiciliar.

Os sujeitos do estudo percebem qualidade no atendimento que recebem no domicilio, tanto no ambito da cu ra q u a nto da preven ;ao , valorizando 0 vinculo, a continuidade no atendimento e facilidade de acesso.

A possi b i l i d a d e d e con h e cer e valorizar as percep;oes de clientes cuidados em seus domicflios, como um suporte a avalia;ao do atendimento prestado propiciou ao servi;o uma reflexao da sua pratica, buscando seu aprimoramento, considerando as necessidades sentidas pelos usuarios. Trouxe tambem elementos para subsidiar 0 ensino dos futuros profissionais de saude, ao buscarmos modificar 0 modele de aten;ao vigente.

Fica evidente nos depoimentos que 0 grande

diferencial do cuidado domiciliar e a questao da humaniza;ao do atendimento tanto pelo ambiente, como pel a intera;ao com a familia.

Os res u ltados e n contra d os apontam que e imprescindivel haver atendimento domiciliar no Sistema Unico de Saude (SUS), uma vez que a popula;ao de menor poder aquisitivo fica desassistido na ausencia deste.

o presente estudo mobilizou a equipe de saude para uma reavalia;ao e readequa;ao do trabalho desenvolvido. Assim, buscou-se melhor sistematizar 0 cuidado, inclusive, com garantia da privacidade das visitas aos pacientes. Tambem foi constru ida uma cartilha para dar suporte ao cuidador intradomiciliar, alem da realiza;ao de um Grupo de Apoio para Cuidadores de Pacientes Acamados.

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