w w w . r b o . o r g . b r
Artigo
original
Resultados
funcionais
da
reconstruc¸ão
do
ligamento
cruzado
anterior
com
o
terc¸o
central
do
ligamento
patelar
e
os
tendões
flexores
夽
Marcos
George
de
Souza
Leao
∗,
Abelardo
Gautama
Moreira
Pampolha
e
Nilton
Orlando
Junior
Fundac¸ãoHospitalAdrianoJorge,Manaus,AM,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem11desetembrode2014 Aceitoem23deoutubrode2014
On-lineem3dejunhode2015
Palavras-chave:
Ligamentocruzadoanterior Joelho
Tratamento
r
e
s
u
m
o
Objetivos:Avaliarafunc¸ãodosjoelhosempacientessubmetidosàreconstruc¸ãodo liga-mentocruzadoanterior(LCA),comoterc¸ocentraldoligamentodapatela(TP)ouostendões flexoresmediaisdojoelho(semitendíneoegrácilquádruplos:ST-G)ipsilaterais,pormeio doKneeSocietyScore(KSS)edaescaladeLysholm.
Métodos:Estudolongitudinal,prospectivoerandomizado,com40pacientessubmetidosà reconstruc¸ãodoLCAporviaartroscópica,desetembrode2013aagostode2014,dosquais 37eramdosexomasculinoetrêsdofeminino,comde16a52anos,enumeradosdeforma aleatóriade1a40.Osnúmerosparesforamsubmetidosàcorrec¸ãocirúrgicacomostendões doST-GeosnúmerosimparescomoTP.Foramaplicadosparaaavaliac¸ãofuncionaloKSS eaescaladeLysholmnanoiteanterioraoprocedimentocirúrgicoecomseismesesde pós-operatório.
Resultados: Emanáliseestatísticafoipossívelobservarquenopós-operatórioacapacidade funcionaldospacientesfoisignificativamentemaiordoquenopré-operatório.Háfortes evidênciasdequeambasasterapêuticassejamsimilaresemseusresultados(p=>0,05),em todasascomparac¸ões.
Conclusões:Osresultadosdareconstruc¸ãodoLCA,independentementedotipodeenxerto, sãosimilaresnarecuperac¸ãofuncionaldojoelhoenamelhoriadaqualidadedevida.Nãofoi possívelidentificarmelhormétododetratamentocirúrgico.Aexperiênciaclínica,atécnica docirurgiãoeopacientesãoquemditamaescolhadotipodeenxertoquedeveráserusado paraacirurgiadoLCA.
©2015SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditora Ltda.Todososdireitosreservados.
夽
TrabalhofeitonaFundac¸ãoHospitalAdrianoJorge,Manaus,AM,Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:mgsleao@uol.com.br(M.G.S.Leao).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2015.04.004
Functional
results
from
reconstruction
of
the
anterior
cruciate
ligament
using
the
central
third
of
the
patellar
ligament
and
flexor
tendons
Keywords:
Anteriorcruciateligament Knee
Treatment
a
b
s
t
r
a
c
t
Objectives: Toevaluatekneefunctioninpatientsundergoingreconstructionoftheanterior cruciateligament(ACL)usingthecentralthirdofthepatellarligamentorthemedialflexor tendonsoftheknee,i.e.quadrupleligamentsfromthesemitendinosusandgracilis(ST-G), bymeansoftheKneeSocietyScore(KSS)andtheLysholmscale.
Methods: This was a randomized prospective longitudinal study on 40 patients who underwentarthroscopicACLreconstructionbetweenSeptember2013andAugust2014.They comprised37malesandthreefemales,withagesrangingfrom16to52years.Thepatients werenumberedrandomlyfrom1to40:theevennumbersunderwentsurgicalcorrection usingtheST-Gtendonsandtheoddnumbers,usingthepatellartendon.Functional evalua-tionsweremadeusingtheKSSandLysholmscale,appliedintheeveningbeforethesurgical procedureandsixmonthsaftertheoperation.
Results: Fromthestatisticalanalysis,itcouldbeseenthatthepatients’functionalcapacity wassignificantlygreateraftertheoperationthanbeforetheoperation.Therewasstrong evidencethatthetwoformsoftherapyhadsimilarresults(p=>0.05),inallthecomparisons.
Conclusions:TheresultsfromtheACLreconstructionsweresimilarwithregardtofunctional recoveryofthekneeandimprovementofqualityoflife,independentofthetypeofgraft. Itwasnotpossibletoidentifythebestmethodofsurgicaltreatment.Thesurgeon’sclinical andtechnicalexperienceandthepatientarethefactorsthatdeterminethechoiceofgraft typeforuseinACLsurgery.
©2015SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublishedbyElsevierEditora Ltda.Allrightsreserved.
Introduc¸ão
Alesãodoligamentocruzadoanterior(LCA)éalesão ligamen-tarmaiscomumdojoelho.Considerando-se quearuptura desseligamento atingeprincipalmente indivíduosjovens e adeptos de práticas desportivas, é necessário que o trata-mentoinstituídolhesproporcionecondic¸õesderetornoaoseu esporte.1
Procurandoalcanc¸aresseobjetivo,muitastécnicasforam desenvolvidasparareconstruc¸ãodoLCA,especialmentenos últimos30 anos, com usode autoenxertos,aloenxertos ou enxertos sintéticos, bemcomo com o avanc¸o das técnicas artroscópicas.2Atualmente,asduasopc¸õesmaiscomumente
empregadasparaareconstruc¸ãodoLCAcomautoenxertosão ostendõesdosmúsculosisquiotibiaismediais,semitendíneo egrácilquádruplos(ST-G)eoterc¸ocentraldoligamentoda patela(TP).3
Recentemente, numerosos sistemas foram desenvolvi-dos para avaliar os resultados pré e pós-operatórios dos pacientes quesesubmetemaprocedimentos cirúrgicos do joelho.4 O uso dessas escalas servirá como parâmetro de
avaliac¸ãoepermitirá,assim,apadronizac¸ão,auniformizac¸ão eareprodutibilidadedas medidasaqueostratamentos se propõem.
OKneeSocietyScore(KSS)combinainformac¸õessubjetivas eobjetivas,separaoescoredojoelho(dor,estabilidade,arco demovimento,etc.)doescorefuncionaldopaciente (habili-dadede caminhar,subiredescerescadas),avalia oquadro clínicoquantoàintensidadedador,amplitudedemovimento,
estabilidadenoplanoanteroposterioremediolateral, contra-turasemflexão,deformidadesemaualinhamento.5
AescaladeLysholméumdosquestionáriosquemaissão usadosparaavaliac¸ãodesintomasdojoelho.Écompostapor oitoquestões,comalternativasderespostasfechadas,cujo resultadofinaléexpressodeformanominaleordinal: “exce-lente”de95a100pontos;“bom”,de84a94pontos;“regular”, de65a83pontose“ruim”quandoosvaloresforemiguaisou inferioresa64pontos.6
Esteartigotemporfinalidadeavaliarospacientes subme-tidosaotratamentocirúrgicoparareconstruc¸ãoartroscópica doLCAcom oautoenxertodeST-GouTP.Para sealcanc¸ar esseobjetivo,foinecessáriousaroKSSeaescaladeLysholm, aplicados no pré-operatório imediato e aos seis meses de acompanhamento,everificarsehásuperioridadedeuma téc-nicasobreoutra(ST-GxTP).
Materiais
e
métodos
Entresetembrode2013eagostode2014foifeitoumestudo longitudinal,prospectivoerandomizadoempacientespara osquaishaviaindicac¸ãoparaotratamentocirúrgicodalesão doLCA–queixasdefalseio,examefísicoecomplementares positivos–comoautoenxertodoterc¸ocentraldoligamento dapatela(TP)ouostendõesflexoresmediaisdojoelho (semi-tendíneoegrácilquádruplos:ST-G)ipsilaterais.
autorizac¸ãodeinternac¸ãohospitalar(AIH)solicitada e ope-radosapenaspelopesquisadorprincipal.Comocritériosde exclusãoconsideraram-selesõescomplexasdojoelho (mul-tiligamentares,osteoartrite,meniscais),cirurgiasderevisão, pacientes com patologias inflamatórias, obesidade (índice demassacorpórea>30), pacientesegressos eoperadospor outros cirurgiões e aqueles que se recusaram a assinar o termodeConsentimentoLivreeEsclarecido.Apenasforam contabilizados nametodologia ena análise estatística dos resultadosospacientesqueatendiamatodososcritériosde inclusão.
Foram capturadas 40 AIHs no setor conveniente da instituic¸ão. De posse desses documentos foi feita a numerac¸ão, de forma aleatória, de 40 pacientes (de 1 a 40) queseriam submetidos àreconstruc¸ão doLCA por via artroscópica.Osnúmerosparesforamsubmetidosàcorrec¸ão cirúrgicacomST-GipsilateraisfixadoscomEndobutton® CL
nofêmureumparafusodeinterferênciadetitânionatíbiae osnúmerosímparescomoTPipsilateralatravésdeincisão única,fixadoscomdoisparafusosdeinterferênciadetitânio, tanto no fêmur quanto na tíbia. Todos os procedimentos cirúrgicos foram feitossob raquianestesia, com torniquete naraizdacoxadomembroaseroperadocom350mmHgde pressão;osenxertosforamcoletadosdeacordocomgrupodo paciente,foifeitaaartroscopiaeotúnelfemoralfoi confecci-onadoapartirdoportalanteromedialnocentrodacicatrizdo LCAnativo.Otúneltibialfoicriadocomguiaespecífico,com asaídanocentrodoLCAnativo.Oprotocolodereabilitac¸ão pós-operatóriofoiomesmoparatodosospacientes.Foifeita no servic¸o de fisioterapia da própria instituic¸ão, onde os fisioterapeutas não tinham conhecimento da pesquisa em curso.
Ogrupodepacientesdosnúmerosparesfoicompostopor umpaciente(5%)dosexofemininoe19(95%)pacientesdo sexomasculino. Aidade desses pacientesavaliados variou entre16e52anos,commédiade32(desviopadrão±8anos),e nove(45%)pacientesestavamnafaixade30a39anos.Oslados direitoeesquerdoforamacometidosnamesmaporcentagem (50%).
Ogrupocompostopelospacientesdenumerac¸ãoímparé formadopordois(10%)pacientesdosexofemininoe18(90%) do masculino. A idade dessespacientes variou entre 18 e 48anos,commédiade32±9,enovepacientesestavamna faixade30a39anos.Oladodireitofoioperadoem11pacientes (55%)eoesquerdoemnove(45%).
Foramusadosparaaavaliac¸ãodosresultadosfuncionais oKneeSocietyScoreeaescaladeLysholm,validadospara alínguaportuguesa.Oprimeirocombinainformac¸ões sub-jetivaseobjetivaseosegundoapresentaoitoquestões,com alternativasderespostasfechadas,aplicadasnanoiteanterior aoprocedimentocirúrgicoeaosseismesesdopós-operatório combuscaativadospacientescasonãoretornassemà con-sultaambulatorial.Todosospacientesforamoperadospelo autorsêniorcom experiêncianotratamento daslesõesdos joelhos e esse não participou do processo de aplicac¸ão dosquestionáriosnopréepós-operatório.
Todos os pacientes avaliados nesta pesquisa assinaram otermo de consentimentolivre eesclarecido.Oestudofoi submetidoaoComitêdeÉtica emPesquisadainstituic¸ão e
Tabela1–Testedahomogeneidadedasamostras estudadas,submetidasàreconstruc¸ãodoLCApelos autoenxertosST-GeTP
Características Desviopadrão pvalora
ST-G TP
Idade 8,565 9,136 0,782
Gênerob 0,224 0,308 0,560
Ladoacometidob 0,513 0,510 0,664
ST-G,flexoresmediaisdojoelho;TP,terc¸ocentraldotendãopatelar. a TestedeLevene
b Gêneroeladoacometidoforamcodificadosnumericamentepara
queotestefosseaplicado
Tabela2–Comparac¸ãodacapacidadefuncionaldos pacientesdogrupoST-GpormeiodoKSSeLysholm
Métodos Mediana pvalor
Pré-operatório Pós-operatório
KSSjoelho 67,5 90,0 p<0,0001
KSSfuncional 80,0 90,0 p<0,0001
Lysholm 60,5 90,5 p<0,0001
aprovadocomonúmerodeCertificadodeApresentac¸ãopara Apreciac¸ãoÉtica(CAAE):18321113.5.0000.0007.
Osdadosforamtabulados noprogramaMicrosoftExcel®
e os resultados foram apresentados em tabelas, gráficos e
medidas(média,desviopadrão(DP)ecoeficientedevariac¸ão). Foifeitaanálisedescritivaeinferencialdosresultados.Todas ascomparac¸õesreferentesaoKSSeaoLysholmforamfeitas
pormeiodotestedeMann-Whitney.Considerou-seemtodas
essascomparac¸õesumnívelde5%designificância.Todasas variáveisforamanalisadaspeloprogramaestatísticoMinitab versão14.1.
Resultados
Para garantir a precisão das comparac¸ões foi verificada a
homogeneidadedasduasamostras.Considerandoumnível
de5%designificância,observou-sequeahomogeneidadeda amostra,pelotestedeLevene,estágarantida(p>0,05).Ouseja, asidades,osgêneroseladosacometidossãoestatisticamente iguais(tabela1).
Considerandoos resultadosdospacientes submetidos à reconstruc¸ão doLCA, com os autoenxertosST-G(tabela 2) ouTP (tabela3),foi possível observar,pelo testede Mann--Whitney, a forte evidência de que no pós-operatório a
Tabela3–Comparac¸ãodacapacidadefuncionaldos pacientesdogrupoTPpormeiodoKSSeLysholm
Métodos MEDIANA pvalor
Pré-operatório Pós-operatório
KSSjoelho 70,0 91,5 p<,0,0001
KSSfuncional 80,0 90,0 p<,0,0001
100,0
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0 10,0
0,0
KSS Joelho KSS Funcional Lysholm
Frequência %
Pré Operatório Pós Operatório
Métodos
Figura1–Comparac¸ãodosmétodosdeavaliac¸ãoda capacidadefuncional,nopréepós-operatório,dos pacientesqueusaramcomoautoenxertoosST-G.
capacidade funcional dos pacientes foi significativamente maiordoquenopré-operatório,considerandoumnívelde5% designificância(p=<0,05).
Nasfiguras1e2podemosobservar,deformageométrica, tanto naescala KSS quantona Lysholm,a melhoria signi-ficativa no pós-operatório de ambos os grupos (ST-G e TP, respectivamente).
Quandofeitaacomparac¸ãodacapacidadefuncionalnopré epós-operatóriodospacientessubmetidosaosdoismétodos terapêuticos(tabela4)foipossívelobservarquepelotestede Mann-Whitney(queusacomoparâmetroamediana)háfortes evidênciasdequeambasasterapêuticassejamsimilaresem seusresultados(p=>0,05)emtodasascomparac¸ões).
Discussão
OLCAapresentaumpobrepotencialdecicatrizac¸ão espon-tânea quando rompido completamentee cerca de 2/3 dos pacientes com essa lesão evoluem para uma acentuada instabilidade do joelho, que piora com o retorno às ativi-dades físicas, resulta em subluxac¸ões recorrentes, evolui parafuturasincapacidadesfuncionais,lesõesmeniscaiseo
100,0
90,0 80,0
70,0 60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
KSS Joelho KSS Funcional Lysholm
Frequência %
Pré Operatório Pós Operatório Métodos
Figura2–Comparac¸ãodosmétodosdeavaliac¸ãoda capacidadefuncional,nopréepós-operatório,dos pacientesqueusaramcomoautoenxertooTP.
aparecimento precocede osteoartrose(OA).7-10 Dos
pacien-tes com rupturadoLCA isolada oucombinada com lesões meniscais ou dos ligamentos colaterais, 60-90% evoluirão paraalterac¸õesradiográficasindicativasdeosteoartroseem 10-15anos,cominíciodossintomas10-20anosantesdoque pacientescomOAprimária.11,12
Otratamento conservador,nalesão doLCA,pode funci-onar razoavelmente bemsob determinadas circunstâncias, principalmenteempacientesqueapresentamumaexposic¸ão mínimaparaatividadesdealto risco,umaboaadaptac¸ãoà insuficiêncialigamentarouquandojáseobservaumavanc¸ado processodeartritedegenerativanojoelhoenvolvido.13
Nas últimas duas décadas, apergunta maiscomum no tocante àcirurgiadoLCA tem sido “qualéamelhor esco-lhadeenxerto?”.O TPeraconsideradoopadrão-ouropara a reconstruc¸ão do LCA. Razões para isso incluem a forc¸a doenxerto,arelativafacilidadederetiradaeacicatrizac¸ão osso-ossocomfixac¸ãosegura.Ultimamente,ousodo auto-enxertodoST-Gaumentouempopularidadenaescolhados cirurgiões.14Atendênciaatualdoaumentoemdirec¸ãoaouso
doST-Gsedánocuidadodeevitaropotencialefeito nega-tivonomecanismoextensorcomTP,bemcomomorbidadeda áreadoadora,aíincluindodoranteriordojoelhoeriscode fra-turadapatela.15Noentanto,adespeitodesuapopularidade
aumentada,osenxertosdoST-Gtambémtêmsuaslimitac¸ões potenciais,incluindoincorporac¸ãodoenxertonotúnelmais lentaquandocomparadoscomTP,potencialalargamentodos túneisefrouxidãoresidualefraquezafuncionalda muscula-turaflexoradoladocoletado.16,17Nacionalmente,jáem1999,
CamanhoeAndrade18afirmavamqueoterc¸omédiodo
liga-mentopatelarcomfragmentoósseodapatelaedatíbiafoi, duranteumlongotempo,oenxertoconsideradoideal,porém, apartirdaeficiênciaedabaixaagressãoàáreadoadora,edo métododefixac¸ão,adifusãodosautoenxertosdetendõesdos músculosflexoresmediaisfoigrandeeacomparac¸ãocomo terc¸omédiodotendãopatelarcomec¸ouaserfeitana litera-tura.
Porém, ao fazer uma comparac¸ão entre pacientes com rupturadoLCAtratadoscirurgicamentecomaqueles acompa-nhadosdeformaconservadora,Meuniretal.19concluíramque
houve,significativamente,maislesõesmeniscaisem pacien-tesconduzidosdeformaconservadorae1/3dessesevoluíram paraotratamentocirúrgicoemvirtudedainstabilidade arti-cular.
Paraaquelesqueconsideramotratamentocirúrgicocomo primeira opc¸ão, a reconstruc¸ão do LCA tem sido defen-dida com o objetivo de restaurar a cinemática normal da articulac¸ão, que elimina, assim, a instabilidade eo poten-cialdanoassociadoaosmeniscoseàssuperfíciescondrais. Quaseuniversalmente,aindicac¸ãoparaareconstruc¸ãodoLCA seriaparaaquelespacientesqueapresentemumaltoriscono estilodevida,queexijatrabalhopesado,esportes,ou ativida-desrecreativasquereproduzamepisódiosdesubluxac¸ãodo joelho.13
Inúmeras pesquisas já foram feitas para comparar os autoenxertosusadosnotratamentodalesãodoLCA,que mos-traram,assim,seusbenefíciosemalefíciosnopós-operatório dospacientes.20-28
Corryetal.20fizeramumacomparac¸ãoderesultados
Tabela4–Comparac¸ãodacapacidadefuncionalnopréepós-operatóriodospacientessubmetidosaosdoismétodos terapêuticos(flexoresmediaiseterc¸ocentraldoligamentodapatela)
Momento Terapêutica KSSjoelho KSSfuncional Lysholm
Mediana DP Mediana DP Mediana DP
Pré-operatório ST-G 67,5 11,1 80,0 14,4 60,5 12,9
TP 70,0 9,6 80,0 11,3 56,5 14,1
pvalora 0,250 0,449 0,797
Pós-operatório ST-G 90,0 7,1 90,0 10,8 90,5 10,0
TP 91,0 3,1 90,0 5,1 92,5 6,0
pvalora 0,091 0,273 0,685
DP,desviopadrão;ST-G,flexoresmediaisdojoelho;TP,terc¸ocentraldotendãopatelar. a TestedeMann-Whitey–significânciade5%(0,05).
porviaartroscópica,comoautoenxertoST-GouTP,e chega-ramàconclusãodequenãoexistediferenc¸aestatisticamente significativaentreosdoisgrupos,emtermosdeestabilidade ligamentar,amplitude demovimento(ADM)esintomasem geralapósdoisanosdoprocedimento.
EmpesquisafeitaporKeaysetal.21foipossívelobservar
resultadossemelhantes, com arestaurac¸ão daestabilidade clínicaedaforc¸amuscularentreosgruposcirúrgicosede con-trole,apesardeexistirumdéficitde6%deforc¸adoquadríceps apósusodoenxertodoTP.
Eriksson et al.22 também concluíram que não houve
diferenc¸aclínica,emmédioprazo,entreosgruposquefizeram areconstruc¸ãodoLCAtantocomoST-GquantocomoTP.Da mesmaforma,AhleneLiden23nãoencontraramdiferenc¸as
estatisticamentesignificativasemrelac¸ãoàforc¸amuscular, instabilidadearticulareADM emseuspacientes,avaliados apósdoisanosdoprocedimentocirúrgico.
Noentanto,Samuelssonetal.24eMuellneretal.25
obser-varamemseusestudosque,inicialmente,olocaldacolheita dosautoenxertosafetaaforc¸amuscular,bemcomoousodo TPproduzmaisdornaregiãoanteriordojoelhodoqueoST-G. Porém,ambosafirmamqueessessintomasdesaparecemao longodotempo.
Para Keays et al.,26 a incidência de osteoartrite após a
reconstruc¸ão do LCA é perturbadora, com relatos de que até 50% desses pacientes desenvolvem-na acentuada ou moderadamenteapósseisanosdoprocedimento.Eles apon-tam que esse evento ocorre devido à presenc¸a de lesão condral, à escolha pelo TP como autoenxerto para o tra-tamento, à presenc¸a de quadríceps fraco, à baixa relac¸ão de resistência do quadríceps e isquiotibiais, bem como à meniscectomiafeitanomomento cirúrgico. Combase nes-sesresultados,recomenda-se queemjoelhos clinicamente instáveisareconstruc¸ãodoLCAnãodeveser desnecessari-amenteadiada,demodoaevitarfuturaslesõesmeniscaise condrais.
Pinczewskietal.27 verificaram,prospectivamente,queo
usodo TPaumentoua incidênciade alterac¸ões radiográfi-casosteoartríticasnojoelhodessespacientes,assimcomoa deformidadedeflexãofixaobservadapodeanunciaro apare-cimentodelesõesdegenerativas.
Noentanto,omomentoidealparaareconstruc¸ãodoLCA provavelmentedependedefatoresindividuaisdecada paci-ente, tais como as condic¸ões do joelho e a motivac¸ão do pacienteparasesubmeteracirurgiaeareabilitac¸ão.23
Mascarenhas et al.3 em 2012concluíram que ambos os
tiposdeautoenxertopermitemretornodeaproximadamente 70%deatletasjovensaalgumgraudeatividadefísica vigo-rosaoumuitovigorosa(4-7vezes/semana).Areconstruc¸ãodo LCAcomtendõesflexoreslevaaumamelhorpreservac¸ãoda extensão,melhoresescoresdospacientesemenosevidências de osteoartrite.Apesardeencontrarmos escoressuperiores numericamente em relac¸ão ao ST-G, essas diferenc¸as não foramestatisticamentesignificativas.
Reinhardt et al.,28 em revisão sistemática nível I,
con-cluíram que o risco de falha da reconstruc¸ão do LCA é significativamente maior com ST-G do que com o TP; em relac¸ãoàfrouxidãoresidualhouvesuperioridadedoST-G.Dor anteriornojoelhofoimaispresentenareconstruc¸ãocomTP. Emrelac¸ãoaoníveldeatividadeeavaliac¸ãofuncional,nãofoi encontradasuperioridadedeumatécnicasobreoutra.
Kim et al.29 em 2013 não identificaram diferenc¸as
sig-nificativas nos resultados clínicos e estabilidade após a reconstruc¸ãodoLCAdeacordocomotipodeenxertoou dis-positivodefixac¸ãoescolhidos.Destarteoscirurgiõesdevem selecionarareconstruc¸ão“ideal”doLCA deacordocomas condic¸õesdospacienteseaexperiênciadocirurgião.29
Acha-doscorroboradosporAbbasetal.,30queapenassalientarama
preocupac¸ãonotocanteàdoranteriornojoelhoeasintomas patelofemoraiscomusodoTP.
Papaliaetal.31em2014mostraramnãohaverdiferenc¸as
entregruposreconstruídoscomST-GouTPemtodosos esco-resclínicosetestesfuncionais.
Napesquisaemcurso,foipossívelobservarumamelhoria estatisticamentesignificativanopós-operatório dos pacien-tes de ambos os grupos estudados (Knee Society Score e Lysholm). Aocomparar o presenteestudoaosda literatura pesquisada,foipossívelobservarsemelhanc¸asderesultados quandousadaaescaladeLysholm.20–23Noentanto,nãoforam
encontradosdadosrelevantes quantoaousodaescalaKSS na literaturapesquisada,o queimpossibilitou, assim,uma comparac¸ãodosresultadosobtidosnestetrabalho.
Conclusão
Osresultadosdareconstruc¸ãodoLCAcomoautoenxertodo terc¸ocentraldotendãopatelarouflexoresmediaisdojoelho sãosimilaresnarecuperac¸ãofuncionaldojoelhoemelhoria daqualidadedevida.Dessaforma,devidoàproximidadenos resultadosestatísticosdestetrabalho,nãofoipossível iden-tificarcomprecisãoométododetratamentocirúrgicomais benéficoemenosagressivoaopaciente.Portanto,acredita-se queaexperiênciaclínica,atécnicadocirurgiãoeorespeito àindividualidadedopacientefarãoadiferenc¸anomomento daescolhadotipodeautoenxertoquedeveráserusadono tratamentocirúrgicoparaareconstruc¸ãodoLCA.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
r
e
f
e
r
ê
n
c
i
a
s
1. GomesJLE,MarczykRLS.Reconstruc¸ãodosligamentos cruzadosdojoelhocomotendãoduplodosemitendinoso. RevBrasOrtop.2004;39(4):137–46.
2. GuimarãesMV.Reconstruc¸ãoartroscópicadoligamento cruzadoanterior:estudocomparativoentreosenxertos autólogosdeligamentopatelaredetendãodoquadríceps. RevBrasOrtop.2004;39(1/2):30–41.
3. MascarenhasR,TranovichMJ,KropfEJ,FuFH,HarnerCD. Bone-patellartendon-boneautograftversushamstring autograftanteriorcruciateligamentreconstructioninthe youngathlete:aretrospectivematchedanalysiswith 2-10yearfollow-up.KneeSurgSportsTraumatolArthrosc. 2012;20(8):1520–7.
4. AlbuquerqueRP,GiordanoV,CalixtoA,MalzacF,AguiarC, AmaralNP,etal.AnálisedoprotocolofuncionaldeLysholm modificadoempacientescomjoelhosnormais.RevBras Ortop.2011;46(6):668–74.
5. SilvaALP,DemangeMK,GomesR,SilvaTFC,PécoraJR,Croci AT.Traduc¸ãoevalidac¸ãodaescalakneesocietyscore:KSS paraalínguaportuguesa.ActaOrtopBras.2012;20(1):25–30.
6. PeccinM,CiconelliR,CohenM.Questionárioespecífico parasintomasdojoelhoLysholmkneescoringscale (traduc¸ãoevalidac¸ãoparaalínguaportuguesa).ActaOrtop Bras.2006;14(5):268–72.
7. O’DonoghueDH,RockwoodCAJr,FrankGR.RepairoftheACL indogs.JBoneJointSurgAm.1966;48(3):503–19.
8. ArnoczkySP,RubinRM,MarshallJL.Microvasculatureofthe cruciateligamentsanditsresponsetoinjury.JBoneJoint SurgAm.1979;61(8):1221–9.
9. AmielD,KuiperS,AkesonW.Cruciateligaments.Response toinjury.In:DanielDM,AkesonW,O’ConnorJ,editors.Knee ligaments:structure,function,injuryandrepair.NewYork: RavenPress;1990.p.365–77.
10.BeynnonBD,JohnsonRJ,AbateJA,FlemingBC,NicholsCE. Treatmentofanteriorcruciateligamentinjuries,partII.AmJ SportsMed.2005;33(11):1752–67.
11.SegawaH,OmoriG,KogaY.Long-termresultsof
non-operativetreatmentofanteriorcruciateligamentinjury. Knee.2001;8(1):5–11.
12.RoosH,AdalberthT,DahlbergL,LohmanderLS.
Osteoarthritisofthekneeafterinjurytotheanteriorcruciate
ligamentormeniscus:theinfluenceoftimeandage. OsteoarthritisCartilage.1995;3(4):261–7.
13.BeynnonBD,JohnsonRJ,AbateJA,FlemingBC,NicholsCE. Treatmentofanteriorcruciateligamentinjuries,PartI.AmJ SportsMed.2005;33(10):1579–602.
14.McRaeS,ChahalJ,LeiterJ,MarxRG,McDonaldPB.Asurvey studyofmembersoftheCanadianOrthopaedicAssociation regardingthenaturalhistoryandtreatmentofanterior cruciateligamentinjury.AOSSMAnnualMeeting.Keystone, Colorado,July97–12,2009.
15.BiauDJ,TournouxC,KatsahianS,SchranzPJ.Bonepatellar tendon-boneautograftsversushamstringautograftsfor reconstructionofanteriorcruciateligament:meta-analysis. BMJ.2006;332(7548):995–1001.
16.HollisR,WestH,GreisP,BrownN,BurksR.Autologousbone effectsonfemoraltunnelwideninginhamstringanterior cruciateligamentreconstruction.JKneeSurg.
2009;22(2):114–9.
17.BizziniM,GorelickM,MunzingerU,DrobnyT.Jointlaxityand isokineticthighmusclestrengthcharacteristicsafteranterior cruciateligamentreconstruction:bonepatellartendonbone versusquadrupledhamstringautografts.ClinJSportMed. 2006;16(1):4–9.
18.CamanhoGL,AndradeMH.Estudocomparativoda reabilitac¸ãodospacientessubmetidosàreconstruc¸ãodo ligamentocruzadoanteriorcomenxertosdoterc¸omédiodo tendãopatelarecomosdostendõesdosmúsculosflexores mediaisdojoelho.RevBrasOrtop.1999;34(9/10):513–8.
19.MeunierA,OdenstenM,GoodL.Long-termresultsafter primaryrepairornon-surgicaltreatmentofanteriorcruciate ligamentrupture:arandomizedstudywitha15-year follow-up.ScandJMedSciSports.2007;17(3):230–7.
20.CorryIS,WebbJM,ClingelefferAJ,PinczewskiLA.
Arthroscopicreconstructionoftheanteriorcruciateligament: acomparisonofpatellartendonautograftandfour-strand hamstringtendonautograft.AmJSportsMed.
1999;27(3):444–54.
21.KeaysSL,Bullock-SaxtonJE,KeaysAC,NewcombePA,Bullock MI.A6-yearfollow-upoftheeffectofgraftsiteonstrength, stability,rangeofmotion,function,andjointdegeneration afteranteriorcruciateligamentreconstruction:patellar tendonversussemitendinosusandgracilistendongraft.AmJ SportsMed.2007;35(5):729–39.
22.ErikssonK,AnderbergP,HambergP,LöfgrenAC,Bredenberg M,WestmanI,etal.Acomparisonofquadruple
semitendinosusandpatellartendongraftsinreconstruction oftheanteriorcruciateligament.JBoneJointSurgBr. 2001;83(3):348–54.
23.AhlenM,LidenM.Acomparisonoftheclinicaloutcomeafter anteriorcruciateligamentreconstructionusingahamstring tendonautograftwithspecialemphasisonthetimingofthe reconstruction.KneeSurgSportsTraumatolArthrosc. 2011;19(3):488–94.
24.SamuelssonK,AnderssonD,KarlssonJ.Treatmentofanterior cruciateligamentinjurieswithspecialreferencetografttype andsurgicaltechnique:anassessmentofrandomized controlledtrials.Arthroscopy.2009;25(10):1139–74.
25.MuellnerT,KaltenbrunnerW,NikolicA,MittlboeckM, SchabusR,VecseiV.Shorteningofthepatellartendonafter anteriorcruciateligamentreconstruction.Arthroscopy. 1998;14(6):592–6.
26.KeaysSL,NewcombePA,Bullock-SaxtonJE,BullockMI,Keays AC.Factorsinvolvedinthedevelopmentofosteoarthritis afteranteriorcruciateligamentsurgery.AmJSportsMed. 2010;38(3):455–63.
reconstructionoftheanteriorcruciateligament.AmJSports Med.2002;30(4):523–36.
28.ReinhardtKR,HetsroniI,MarxRG.Graftselectionforanterior cruciateligamentreconstruction:alevelIsystematicreview comparingfailureratesandfunctionaloutcomes.OrthopClin NorthAm.2010;41(2):249–62.
29.KimHS,SeonJK,JoAR.Currenttrendsinanteriorcruciate ligamentreconstruction.KneeSurgRelatRes.
2013;25(4):165–73.
30.AbbasMM,AbulabanAA,DarwishHH.Functionaloutcomes ofbonetendonboneversussofttissuearthroscopicanterior cruciateligamentreconstruction:acomparativestudy.Saudi MedJ.2013;34(2):153–60.