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Academic year: 2017

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Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Doutor em Ciências

Programa de Nefrologia

Orientadora: Dra. Rosa Maria Affonso Moysés

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Aos meus queridos pais Sandra e José Carlos,

que sempre acreditaram e me fizeram acreditar.

Ao meu marido Ramon,

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Esta tese é resultado do esforço e colaboração de várias pessoas

que, direta ou indiretamente, são por ela responsáveis. Ela não seria

possível, em primeiro lugar, sem o apoio e incentivo de meus pais, exemplos

de integridade e generosidade que sempre nos proporcionaram acesso ao

conhecimento e um ambiente propício ao desenvolvimento pessoal. A eles,

devo a lição da persistência e a certeza de que seria capaz. Agradeço por

sua dedicação e suporte constantes. Amo vocês.

Também não seria possível sem Ramon, pela coragem em mudar de

cidade e mergulhar nesta aventura que iniciamos juntos. Agradeço por

apoiar meu crescimento profissional e por tornar mais fácil este caminho

que, certamente, seria muito mais difícil sem seu carinho, amor e bom

humor.

Agradeço ainda à minha irmã Tatiane, que com talentos tão diversos

dos meus, me ensinou a valorizar as diferenças. A ela e ao meu cunhado

Cláudio, agradeço por nos darem minha linda sobrinha Bárbara, que trouxe

alegria à nossa família.

Aos avós Lourdes e José (in memorian), pela paciência e cuidado

comigo. À avó Maria (in memorian), pelos bons momentos. Aos tios e

primos, pela convivência agradável. Aos meus sogros Cleuza e Sérgio e à

Valéria, por permitirem uma integração familiar tão harmoniosa. Às amigas

Catarina e Graciela, pelo apoio e companheirismo.

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paciência, incentivo e acompanhamento próximo ao longo de todo este

período. À Dra. Vanda, criadora do grupo, pela acolhida calorosa e por ser,

além de referência técnica, exemplo de ser humano.

À Sílvia Titan, minha admiração e gratidão pela disponibilidade e

auxílio inestimável na análise estatística e revisão do texto.

Ao Dr. Raul Dias Santos, por viabilizar a realização do projeto no

Instituto do Coração e pela valiosa colaboração.

Meus agradecimentos sinceros à Luciene e Fabiana, pelas dosagens

de FGF-23 e pela prontidão em ajudar sempre.

Ao Dr. Rui Toledo e todos os funcionáros da Pós-Graduação da

Nefrologia, pela qualidade do trabalho desenvolvido e auxílio aos

pós-graduandos.

Ao Dr. Carlos Eduardo Rochitte e equipe, pela análise dos Escores de

Agatston; Drs. Luis Antônio Machado César e Eulógio Martinez por

permitirem a inclusão de seus pacientes e ao Dr. Pedro Lemos e equipe,

pelas análises referentes à cineangiocoronariografia.

À Dra. Maria Goretti Penido, grande incentivadora.

Por fim, agradeço a todos os profissionais do LIM-16 pela convivência

amistosa e aos colegas de pós-graduação e amigos Juliana, Bia, Luciene,

Rodrigo Bueno, Rodrigo Azevedo, Melani, Daniela e Patrícia, que tornaram

(8)

“A mente que se abre a uma nova idéia

jamais voltará ao seu tamanho original.”

(9)

Essa tese está de acordo com:

Referências: adaptado de International Committee of Medical Journal Editors (Vancouver)

Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Serviço de Biblioteca e Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Aragão, Suely Campos Cardoso, Valéria Vilhena. 2a ed. São Paulo: Serviço de Biblioteca e Documentação; 2005.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS RESUMO

SUMMARY

1. INTRODUÇÃO... 2

1.1CALCIFICAÇÃO VASCULAR... 3

1.1.1 Calcificação vascular e morbimortalidade ... 3

1.1.2 Fisiopatologia da calcificação vascular ... 5

1.1.3 Métodos de imagem para avaliação da calcificação vascular ... 10

1.2METABOLISMO MINERAL... 11

1.2.1 Homeostase do fósforo... 11

1.2.1.1 Paratormônio ... 12

1.2.1.2 Vitamina D ... 15

1.2.1.3 Fibroblast Growth Factor 23... 18

1.2.1.4 Klotho... 23

1.2.2 Homeostase do cálcio ... 26

1.3METABOLISMO MINERAL E MORTALIDADE/MORBIDADE CARDIOVASCULAR... 27

1.3.1 Fósforo e doenças cardiovasculares ... 27

1.3.1.1 Fósforo e calcificação vascular... 31

1.3.2 Vitamina D e doenças cardiovasculares ... 32

1.3.3 PTH e doenças cardiovasculares ... 36

1.3.4 FGF-23 e doenças cardiovasculares... 37

2. OBJETIVOS... 41

2.1 OBJETIVO PRINCIPAL... 41

2.2 OBJETIVOS SECUNDÁRIOS... 41

3. CASUÍSTICA E MÉTODOS... 43

3.1DEFINIÇÃO DOS FATORES DE RISCO... 44

3.2ANÁLISES BIOQUÍMICAS... 45

3.3ESCORE DE CALCIFICAÇÃO CORONARIANA (ESCORE DE AGATSTON) ... 45

3.4CINEANGIOCORONARIOGRAFIA E ESCORES ASSOCIADOS... 46

3.4.1 Escore de Friesinger... 46

3.4.2 Escore de Gensini... 47

3.6ANÁLISE ESTATÍSTICA... 47

3.6.1 Cálculo do tamanho amostral ... 47

3.6.2 Tratamento e testes estatísticos... 48

3.7 RECURSOS FINANCEIROS... 49

4. RESULTADOS ... 51

4.1FATORES PREDITORES DA PRESENÇA DE CALCIFICAÇÃO CORONARIANA... 54

4.2FATORES PREDITORES DA PRESENÇA DE DOENÇA CORONARIANA OBSTRUTIVA... 63

4.2.1 Efeito das variáveis analisadas sobre o Escore de Gensini... 63

4.2.2 Efeito das variáveis analisadas sobre o Escore de Friesinger... 72

4.2.3 Efeito das variáveis analisadas sobre a presença de obstrução coronariana superior a 50%... 76

4.3ANÁLISE DAS VARIÁVEIS DETERMINANTES DO FÓSFORO SÉRICO... 81

4.4ANÁLISE DAS VARIÁVEIS DETERMINANTES DO FGF-23 SÉRICO... 84

4.5ANÁLISE DAS VARIÁVEIS DETERMINANTES DO PTH ... 86

5. DISCUSSÃO... 90

6. CONCLUSÃO ... 105

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

25(OH)vitD 25 hidroxi-vitamina D

BMP Bone morphogenetic protein

Ca Cálcio

CaR Receptor sensível a cálcio

ClCr Clearance de creatinina

CML Células musculares lisas

CV Calcificação vascular

DAC Doença arterial coronariana

DCV Doenças cardiovasculares

DM Diabetes mellitus

DMP-1 Proteína matriz da dentina-1

DP Desvio padrão

DRC Doença renal crônica

EA Escore de Agatston

EBCT Tomografia computadorizada por emissão de elétrons

FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FGF-23 Fibroblast Growth Factor 23

FGFR Receptor para os Fibroblast Growth Factor´s

FMUSP Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

HAS Hipertensão arterial sistêmica

HDL Lipoproteína de alta densidade

HR Hazard ratio

(14)

HVE Hipertrofia ventricular esquerda

IAM Infarto agudo do miocárdio

ICC Insuficiência cardíaca congestiva

IL Interleucina

InCor Instituto do Coração da FMUSP

INF-γ Interferon-γ

IMC Índice de massa corpórea

IQR Intervalo interquartil

KL Klotho

LDL Lipoproteína de baixa densidade

MCP-1 Monocyte chemoattractant protein 1

MDRD Modification of Diet in Renal Disease

MEPE Fosfoglicoproteína extracelular

MGP Proteína de matriz Gla

MMP Metaloproteinase de matriz

MSTC Tomografia computadorizada helicoidal

Na Sódio

NF-κB Fator Nuclear Kappa B

OPG Osteoprotegerina

OR Odds ratio

P Fósforo

PAD Pressão arterial diastólica

PAS Pressão arterial sistólica

(15)

PHEX Gene regulador do fósforo com homologias às

endopeptidases no cromossomo X

PPi Pirofosfato inorgânico

PTH Paratormônio

PTHR Receptor de paratormônio

RANK Receptor Ativador do Fator Nuclear Kappa B

RANKL Ligante do Receptor Ativador do Fator Nuclear Kappa B

sFRP-4 Secreted frizzled-related protein-4

TC Tomografia computadorizada

TGF-β Transforming growth factor β

TNF-α Fator de necrose tumoral α

VDR Receptor de vitamina D

Vit D Vitamina D

(16)
(17)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fatores que participam da regulação da calcificação vascular...9

Figura 2 – Regulação da homeostase do fósforo...26

Figura 3 – Efeito da hiperfosfatemia sobre as células vasculares lisas...32

Figura 4 – Processo de inclusão dos pacientes no protocolo...51

Figura 5 – Distribuição do Escore de Agatston na população estudada...54

Figura 6 – Distribuição dos níveis séricos de fósforo entre os grupos divididos de acordo com o Escore de Agatston...60

(18)
(19)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Características clínicas e escores da população estudada...52 Tabela 2 - Parâmetros laboratoriais da população estudada...53 Tabela 3 - Análise univariada dos fatores preditores do Escore de Agatston de acordo

com o modelo binomial negativo com excesso de zeros ...56 Tabela 4 - Análise multivariada dos fatores preditores do Escore de Agatston de acordo

com o modelo binomial negativo com excesso de zeros...57 Tabela 5 - Características clínicas e laboratoriais de acordo com o Escore de Agatston...59 Tabela 6 - Regressão logística univariada sobre o risco de apresentar o Escore de

Agatston maior que 10 HU...61 Tabela 7 - Modelos de regressão logística multivariada sobre o risco de apresentar o Escore de Agatston maior que 10 HU...62 Tabela 8 - Características dos grupos divididos de acordo com os tercis do Escore de

Gensini ... ...65 Tabela 9 - Correlações entre o Escore de Gensini e variáveis contínuas...66 Tabela 10 - Fatores associados ao logGensini na análise de regressão linear

univariada...67 Tabela 11 - Fatores associados ao logGensini na análise de regressão linear

multivariada...68 Tabela 12 - Modelos de regressão linear multivariada: avaliação do efeito do FGF-23 sobre o Escore de Gensini...69 Tabela 13 - Regressão logística univariada sobre o risco de apresentar Escore de Gensini no terceiro tercil vs primeiro+segundo tercis...70

Tabela 14 - Modelos de regressão logística multivariada: avaliação do fósforo como fator de risco para Escores de Gensini no terceiro tercil ...71 Tabela 15 - Modelos de regressão logística multivariada: avaliação do FGF-23 como fator de risco para Escores de Gensini no terceiro tercil...71 Tabela 16 - Características dos grupos divididos de acordo com a mediana do Escore de Friesinger...73 Tabela 17 - Regressão logística univariada sobre o risco de apresentar Escore de

Friesinger superior à mediana...74 Tabela 18 - Regressão logística multivariada: efeito ajustado do fósforo sobre o risco de

apresentar Escore de Friesinger superior à mediana...75 Tabela 19 - Regressão logística multivariada: efeito ajustado do FGF-23 sobre o risco de

apresentar Escore de Friesinger superior à mediana...76 Tabela 20 - Características dos grupos divididos de acordo com a presença de

obstrução coronariana acima de 50%...78 Tabela 21 - Regressão logística univariada sobre o risco de apresentar obstrução

coronariana superior a 50%...79 Tabela 22 - Regressão logística multivariada: efeito ajustado do fósforo sobre o risco de

(20)

Tabela 23 - Regressão logística multivariada: efeito ajustado do FGF-23 sobre o risco de

apresentar obstrução coronariana superior a 50%...80

Tabela 24 - Características dos grupos divididos de acordo com o tercil de fósforo sérico...82

Tabela 25 - Correlações entre o fósforo sérico e demais variáveis...83

Tabela 26 - Análise de regressão linear multivariada stepwise sobre o fósforo sérico...84

Tabela 27 - Características dos grupos divididos de acordo com o tercil de FGF-23 sérico...85

Tabela 28 - Correlações entre FGF-23 e demais variáveis...86

Tabela 29 - Características dos grupos de acordo com o tercil de PTH...87

Tabela 30 - Correlações entre o PTH e demais variáveis...88

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Resumo

Cancela ALE. Avaliação da relação entre metabolismo mineral e doença arterial coronariana em pacientes com função renal preservada [tese] São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2011.

INTRODUÇÃO: Os níveis séricos de fósforo (P) têm sido associados a doenças cardiovasculares e mortalidade em pacientes com doença renal crônica e na população geral. Estudos in vitro demonstram que altas concentrações de fósforo extracellular são capazes de induzir calcificação vascular e disfunção endotelial. O Fibroblast Growth Factor 23 (FGF-23) é um hormônio fosfatúrico e foi relacionado à presença de aterosclerose em pacientes idosos. OBJETIVO: O objetivo deste estudo foi investigar as relações entre P, FGF-23 e outros atores do metabolismo mineral e a ocorrência de doença arterial coronariana em pacientes com função renal preservada. MÉTODOS: Duzentos e noventa pacientes clinicamente estáveis com indicação de cineangiocoronariografia eletiva e clearance de creatinina superior a 60 ml/min/1.73 m2 foram submetidos à Tomografia Computadorizada Multislice para avaliação da calcificação coronariana e coleta de sangue para dosagens bioquímicas. A calcificação coronariana foi quantificada através do Escore de Agatston (EA) e os Escores de Friesinger e Gensini foram calculados para quantificar a obstrução coronariana. RESULTADOS: A média de idade dos pacientes foi 58,1± 9,3 anos, 81% eram hipertensos e 35,5% diabéticos. Os pacientes foram divididos em grupos de acordo com o EA utilizando-se como ponto de corte o valor de 10 Unidades Hounsfield (HU). O P sérico foi maior no grupo de pacientes com EA > 10 HU (3,63 0,55 vs 3,49 0,52mg/dL; p=0,019). Cada 1 mg/dL de elevação no P sérico associou-se a um aumento de 92% no risco de apresentar o EA > 10HU [Odds Ratio (OR) =1,92, CI 1,56-3,19; p=0,01]. Quando os pacientes foram divididos de acordo com a mediana do Escore de Friesinger (4 pontos), o grupo com valores superiores à mediana apresentou P sérico maior (3,6 0,5 vs. 3,5 0,6 mg/dl; p=0,04) e FGF-23 menor (mediana 40,3 pg/mL intervalo interquartil 24,1-62,2 vs. 45,7 pg/mL intervalo interquartil 31,7-76,1; p=0,01) quando comparado àquele com valores menores ou iguais a 4. Pacientes no tercil mais alto do escore de Gensini também apresentaram P sérico mais elevado que os demais (p<0,05). Nas análises de regressão logística uni e multivariadas, cada 1 mg/dL de elevação no P sérico implicou em um aumento de 74% no risco de apresentar o Escore de Friesinger superior à mediana (OR 1,74, CI 1,06-2,88; p=0,03) e o FGF-23 sérico foi preditor negativo do Escore de Friesinger (OR 0,26, CI 0,11-0,63; p=0,002) Os níveis séricos de cálcio e paratormônio não mostraram associação com a presença de doença coronariana. CONCLUSÃO: Em pacientes com suspeita de doença arterial coronariana e função renal preservada, o fósforo sérico foi preditor da presença de calcificação e obstrução coronariana e houve uma associação negativa entre o FGF-23 sérico e a presença de obstrução coronariana.

(23)
(24)

Cancela ALE. Evaluation of the relationship between mineral metabolism and coronary artery disease in patients with preserved renal function. [thesis]. Faculty of Medicine, University of Sao Paulo, SP (Brazil); 2011.

INTRODUCTION: Serum phosphorus (P) has been associated with cardiovascular diseases and mortality in chronic kidney disease patients and in the general population. In vitro studies suggest that excessive phosphorus induces vascular calcification and endothelial dysfunction. Fibroblast growth factor 23 (FGF-23) is a phosphaturic hormone and has been correlated to atherosclerosis in the community. AIM: This study intended to investigate the associations between P, FGF-23 and other mineral metabolism players and coronary artery disease in patients with preserved renal function. METHODS: Two-hundred ninety patients with a creatinine clearance higher than 60ml/min/1,73m2 undergoing elective coronary angiography were submitted to Multislice Computed Tomography in order to evaluate coronary calcification and blood was collected for biochemical analyses. Coronary artery calcification was quantified using the Agatston Score (AS). Friesinger (FS) and Gensini Scores (GS) were calcutalet to quantify coronary obstruction. RESULTS: Considering the whole population, mean age was 58.1±9.3 anos, 81% were hypertensive and 35.5% were diabetics. Patients were divided according to AS using the value of 10 Hounsfield Units (HU) as the cutoff.point. Serum phosphorus was higher in patients with an AS > 10HU when compared to the group with an AS 10 HU (3.63 0.55 vs 3.49 0.52mg/dL, p=0.019). Each 1 mg/dL of elevation in the serum phosphorus implied a 92% additional risk of presenting an AS > 10 HU [Odds Ratio (OR) =1.92, CI 1.56-3.19; p=0.01]. Patients were also divided using the median Friesinger score (4 points) as the cutoff value. Serum phosphorus was higher (3.6 0.5 vs. 3.5 0.6 mg/dl, p=0.04) and intact FGF-23 was lower (median 40.3 interquartile range 24.1-62.2 pg/mL vs. 45.7 interquartile range 31.7-76.1 pg/mL, p=0.01) in the FS > 4 group. Patientis in the higher Gensini Score tertile presented elevated serum phosphorus when compared to the other groups (p<0,05). In the uni and multivariate logistic regression analyses, a rise of 1 mg/dL of serum phosphorus carried a 74% increase in the risk of having a FS higher than 4 (OR 1.74, CI 1.06-2.88; p=0.03) and FGF-23 was a negative predictor of FS (OR 0.26, CI 0.11-0.63; p=0.002). Serum calcium and parathormone were not associated with the presence of coronary artery disease. CONCLUSIONS: In patients with suspected coronary artery disease and preserved renal function, phosphorus was predictive of both coronary artery calcification and obstruction. There was a negative association between FGF-23 and coronary obstruction.

(25)
(26)

1. INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares (DCV) são consideradas a principal

causa de morte nos países desenvolvidos (1). No Brasil, 300.000 óbitos, ou

32% do total, foram atribuídos a este tipo de evento no ano de 2006 (2).

Apesar dos avanços obtidos nas últimas décadas no controle de condições

de risco tradicionalmente estabelecidas como diabetes, hipertensão e

dislipidemia, a incidência de DCV permanece estável (1,2). Paralelamente,

surgem novos fatores antes desconhecidos que parecem estar envolvidos

na fisiopatologia da doença aterosclerótica, responsável, em última

instância, pela ocorrência de eventos clínicos.

Marcadores bioquímicos do metabolismo mineral e ósseo,

principalmente o fósforo (P) sérico e seus moduladores, foram associados já

há algum tempo à morbimortalidade cardiovascular na população de

portadores de doença renal crônica (DRC) (3) e mais recentemente na

população geral (4). O mecanismo fisiopatológico subjacente a estas

associações provavelmente relaciona-se ao envolvimento do fósforo no

processo de calcificação vascular (5) que, por sua vez, está intimamente

relacionado à aterosclerose. Curiosamente, levantamentos populacionais

americanos mostram que a ingestão de fósforo é superior aos níveis

recomendados pelos órgãos reguladores e tende a aumentar

proporcionalmente ao uso de produtos industrializados que contêm

(27)

fósforo sobre diversos sistemas começam a ser estudados e possuem uma

dimensão ainda desconhecida.

1.1 Calcificação vascular

1.1.1 Calcificação vascular e morbimortalidade

A presença de calcificação vascular (CV) está associada à ocorrência

de eventos cardiovasculares, sejam eles fatais ou não. Uma metanálise

realizada em 2009 incluiu 30 estudos prospectivos que utilizaram diversos

métodos de avaliação da calcificação vascular (radiografias, ecocardiograma

e tomografia computadorizada). Após uma média de 10,1 anos de

seguimento de 218.080 pacientes, a presença de calcificação em um destes

métodos conferiu uma razão de chances (odds ratio) de 4,62 para

mortalidade por qualquer causa e 3,94 para mortalidade cardiovascular (7).

Em uma coorte que seguiu mais de 25.000 pacientes por uma média de 6,8

anos, os riscos relativos de morte aumentaram progressivamente de 2,2 a

12,5 vezes para escores de calcificação coronariana de 11 a 100 até

escores maiores que 1000 unidades Hounsfield quando comparados a

escores de 0 (8). O valor prognóstico da presença de calcificação

coronariana se mantém entre as diferentes raças (9).

As diretrizes da American Heart Association em conjunto com o

American College of Cardiology de 2007 reforçam a importância destes

(28)

doença coronariana, principalmente em pacientes assintomáticos com risco

cardiovascular intermediário e em pacientes com sintomas atípicos (10).

A calcificação vascular e a aterosclerose são processos relacionados

e ocorrem simultaneamente do ponto de vista histopatológico. Estudo que

avaliou 723 segmentos coronarianos encontrou correlação entre a presença

de cálcio e a área da placa aterosclerótica. Os autores observaram que a

ausência de calcificação não excluía a possibilidade de haver placas, mas

que a probabilidade de haver doença obstrutiva era proporcional ao

conteúdo arterial de cálcio (11). A presença da calcificação vascular também

instabiliza a placa aterosclerótica e aumenta o risco de ruptura (12).

Agatston e cols, no estudo em que descreveram o escore usado

atualmente, avaliaram 584 pacientes divididos em dois grupos: o primeiro

grupo era composto por 109 pacientes com história de infarto agudo do

miocárdio (IAM) ou mais de 50% de estenose luminal à angiografia (grupo

aterosclerose clínica) e o segundo grupo não tinha história de doença arterial

coronariana (DAC). O primeiro grupo, como esperado, apresentou maior

prevalência de placas calcificadas que o grupo sem DAC; um escore de

calcificação maior que 300 apresentou uma sensibilidade de 74% e uma

especificidade de 81% para a detecção de aterosclerose clínica (IAM ou

estenose luminal > 50%). O valor preditivo negativo do escore de cálcio igual

(29)

1.1.2 Fisiopatologia da calcificação vascular

Existem quatro tipos de calcificação cardiovascular: calcificação

aterosclerótica, calcificação da camada média arterial, calcificação valvar e

arteriolopatia urêmica calcificante(14). As duas primeiras são quase sempre

concomitantes e contribuem para a ocorrência de eventos clínicos. A

calcificação valvar compartilha fatores de risco com os dois primeiros tipos,

enquanto a arteriolopatia urêmica calcificante ocorre em pacientes

portadores de doença renal crônica e usuários de varfarin e possui

mecanismos diversos das demais categorias de calcificação (15).

A aterosclerose é um processo predominantemente inflamatório do

qual participam macrófagos, linfócitos, mediadores inflamatórios, como as

interleucinas (IL) 1, 4 e 6, interferon-γ (INF-γ) e fator de necrose tumoral-α

(TNF-α), adiponectina e a lipoproteína de baixa densidade (LDL) em sua

forma oxidada (14). Esses fatores favorecem a proliferação das células

endoteliais, apoptose celular, necrose, calcificação e a formação da placa

aterosclerótica (16). A calcificação aterosclerótica, como o próprio nome diz,

ocorre na camada íntima vascular dentro da placa aterosclerótica e sua

extensão reflete a gravidade do processo (17). Histopatologicamente

apresenta-se de forma excêntrica, com distribuição irregular e obstrução do

lúmen vascular (15). As estruturas se assemelham àquelas da ossificação

endocondral, além de haver a mineralização do núcleo lipídico com áreas

(30)

A calcificação da camada média, também conhecida como

arteriosclerose de Mönckeberg, é bastante frequente em pacientes

diabéticos, portadores de DRC e idosos (15). Esse tipo de calcificação

compartilha as características da ossificação não-endocondral ou

intramembranosa (18). O acometimento da camada média reduz a

complacência vascular, aumenta a pressão de pulso e o trabalho miocárdico

e, através destes mecanismos, contribui para a ocorrência de eventos

cardiovasculares (15).

Nosso entendimento da fisiopatologia da calcificação vascular evoluiu

muito nos últimos anos. Inicialmente considerava-se a calcificação um

evento meramente passivo, decorrente da interação físico-química entre

cálcio e fósforo e sua consequente deposição sob a forma de hidroxiapatita

na parede vascular. Recentemente, porém, várias evidências sugerem que

se trata de um processo ativo, regulado biologicamente (18). Sabe-se que

ocorre uma espécie de osteogênese dentro da parede vascular, que pode

ser endocondral ou membranosa, e que isto só é possível devido à

transformação fenotípica das células musculares lisas vasculares em células

com características semelhantes às dos osteoblastos (18). Estas passam a

expressar fatores de regulação do tecido ósseo e proteínas estruturais

ósseas, como o fator de transcrição conhecido como Cbfa-1, responsável

pela diferenciação osteoblástica, a fosfatase alcalina, a osteopontina, as

BMP´s (bone morphogenetic proteins), a proteína de matriz Gla (MGP),

RANK/RANKL (Receptor Ativador do Fator Nuclear Kappa B/Ligante do

(31)

(17). Além disto, células semelhantes a osteoclastos também foram

observadas nas placas calcificadas e teriam a função de reabsorver parte do

mineral depositado (18).

A regulação do processo de calcificação vascular é feita através do

balanço entre inibidores e ativadores da transição fenotípica que resulta na

produção de células semelhantes aos osteoblastos. As BMP´s 2 e 4

participam ativamente via Msx2 e Wnt (19) e sua produção é estimulada pela

hiperglicemia (20). A presença de concentrações elevadas de fósforo no

meio extracelular também age sobre as células musculares lisas dos vasos,

efeito que será descrito com mais detalhes posteriormente (5, 21).

Entre os inibidores deste processo destacam-se a MGP e a fetuína,

que evitam a precipitação dos cristais de hidroxiapatita ligando-se a eles e,

assim, facilitam sua eliminação pelas células (19). Ambas são ainda

antagonistas do efeito osteogênico das BMP´s (19).

Estudos sobre a regulação da calcificação tecidual têm destacado o

papel de moléculas pertencentes à família do TNF: o RANK, seu ligante

(RANKL) e a OPG. O RANKL, uma proteína transmembrana, está presente

na superfície dos osteoblastos. Quando o RANKL se liga ao RANK presente

na superfície dos precursores dos osteoclastos, estas células se diferenciam

e passam a reabsorver o tecido ósseo. Se, por outro lado, a OPG presente

no meio extracelular se liga à RANKL, não ocorre a diferenciação

osteoclástica e a reabsorção óssea é inibida (22). Assim, o balanço entre

RANKL-OPG influencia a remodelação e a massa óssea (23). Além disso,

(32)

imunológicas (24) e parece participar da regulação da calcificação vascular

(22, 23). Ratos knock-out para OPG desenvolvem, além de redução de

massa óssea, calcificação arterial média difusa (23).

Os níveis séricos de OPG já foram correlacionados com a gravidade

da lesão coronariana observada à angiografia (24) e com o aumento de

eventos cerebrovasculares (25). Também já foi demonstrada associação

entre níveis elevados de OPG e progressão acelerada de calcificação

vascular em pacientes dialíticos (26). Ainda não se sabe se a elevação da

OPG é parte do mecanismo que leva à calcificação vascular ou uma

tentativa de auto-regulação e limitação do processo.

A complexidade das vias responsáveis pela calcificação vascular

pode ser estimada pelo grande número de mediadores inflamatórios,

hormônios e outras proteínas sabidamente envolvidas, conforme demonstra

(33)

IFN-γ:Interferon γ, IL-6: Interleucina 6, MMP: Metaloproteinase de matriz, TNF: Fator de necrose tumoral, HDL:Lipoproteína de alta densidade, RANKL: Ligante do receptor ativador do fator nuclear κ B , OPG:

Osteoprotegerina, PPi: Pirofosfato inorgânico, vit D: Vitamina D, PTH: Paratormônio, FGF-23: Fator de crescimento de fibroblastos-23, BMP: Proteína morfogenética óssea, MGP: Proteina Gla de matriz

FONTE: Adaptado de Sage e cols (18) FGF-23

Klotho

↓ Vitamina K

Metabolismo mineral

↑BMP2/4

↓BMP7 MGP Runx2, Sox9 Wnt-βcatenina Colágenos tipo I e II

Transformação fenotípica Inflamação IFN-γ IL-6 MMP´s Macrófagos Degradação da elastina

Cristais minerais

Fetuína A Ca Leptina TNF HDL RANKL OPG

P PPi Vit D Insulina Glicose PTH

(34)

1.1.3 Métodos de imagem para avaliação da calcificação vascular

Os principais métodos de imagem utilizados para avaliar a presença

de calcificações vasculares são: radiografia simples, ultrassonografia e

tomografia computadorizada (27). Nenhum deles, no entanto, é capaz de

localizar a camada vascular em que se encontra a calcificação, ou seja, se

na íntima ou na camada média.

Apenas calcificações extensas são visualizadas na radiografia

comum, o que torna este método pouco sensível. A ultrassonografia é

bastante útil no diagnóstico de calcificações valvares. Seu uso para a

detecção de depósitos vasculares, no entanto, é limitado, uma vez que o

ultrasom intravascular, apesar de muito sensível e específico (28), é invasivo

e indisponível na maioria dos centros.

A tomografia computadorizada (TC), inicialmente realizada por

emissão de elétrons (EBCT) e mais recentemente a TC helicoidal (MDTC),

ganha progressivamente mais espaço e tornou-se o método mais popular na

avaliação da calcificação vascular coronariana. Isto foi possível devido ao

desenvolvimento de escores como o de Agatston (13), capazes de fornecer

uma quantificação da área calcificada que permite acompanhar a progressão

da doença e avaliar os efeitos de diferentes intervenções. Já foi

demonstrada correlação entre a área de cálcio detectada pela EBCT e a

área da placa aterosclerótica na análise histopatológica (29). Além do seu

valor preditivo em relação a eventos clínicos, o escore de calcificação

(35)

cintilografia miocárdica (30) e de estenose coronariana significativa

detectada tanto à cineangiocoronariografia (31, 32) quanto à

angiotomografia (33).

1.2 Metabolismo mineral

1.2.1 Homeostase do fósforo

O fósforo (P) é um elemento fundamental em diversos processos

celulares, principalmente de geração e transferência de energia e

mineralização óssea. Participa ainda da estrutura da membrana celular, DNA

e RNA e vários outros mediadores intracelulares. No entanto, dos cerca de

600 gramas de fósforo presentes no organismo humano, 85% encontram-se

depositados na matriz extracelular óssea (34).

A concentração sérica de fósforo em adultos com função renal normal

varia de 3,0 a 4,5 mg/dL e apresenta um ritmo circadiano próprio, com

valores mais baixos pela manhã e mais elevados à noite, além de variar de

acordo com sexo, idade, ingesta proteica e taxa de crescimento (34). O P

está presente no soro principalmente sob a forma inorgânica (PO4) e pode

ser dividido em três frações: iônica (55%), ligada a proteínas (10%) e ligada

a cátions como sódio, cálcio e magnésio (35%) (35). A homeostase do

fósforo depende da absorção intestinal, da excreção urinária e do balanço

(36)

O transporte de fósforo através das membranas das células intestinais

e tubulares é feito por co-transportadores sódio/fósforo (Na/Pi) regulados

biologicamente por hormônios.

O fósforo é encontrado na maioria dos grupos de alimentos e

aproximadamente 800-1400 mg de fósforo são ingeridos ao dia. Destes,

60% são absorvidos no intestino delgado, principalmente no jejuno. A

absorção de P no intestino ocorre tanto por mecanismo difusional, passivo,

pela via paracelular, quanto de forma ativa, mediada pelo cotransportador

Na/Pi tipo 2b e é regulada pelo calcitriol (34).

Aproximadamente 85% do fósforo sérico é filtrado através dos

glomérulos e apenas 12 a 13% são excretados pela urina. Mais de 80% da

reabsorção tubular de fósforo é realizada no túbulo proximal pelos

cotransportadores Na/Pi tipos 2a e 2c presentes na membrana apical das

células tubulares. Hipercalcemia, depleção do volume extracelular e redução

da ingestão de fósforo aumentam a reabsorção proximal de fósforo,

enquanto hipocalcemia, PTH e FGF-23 promovem a fosfatúria pela redução

do número de cotransportadores Na/Pi na membrana celular (35).

1.2.1.1 Paratormônio

O PTH é produzido pelas células principais das glândulas

paratireóides e o principal estímulo para sua produção é a redução da

concentração extracelular de cálcio. Além da hipocalcemia, outros estímulos

são o aumento do fósforo extracelular e a redução na concentração sérica

(37)

séricas de fósforo e cálcio agindo principalmente no intestino, rins e tecido

ósseo. (35)

A molécula do paratormônio é composta por 84 aminoácidos. Além da

forma intacta, diversos fragmentos são produzidos tanto pelas paratireóides

quanto pelo metabolismo sistêmico do PTH. O fragmento aminoterninal

contém 34 aminoácidos (1-34) e é responsável por suas funções biológicas

conhecidas, pois é a porção que se liga ao receptor específico para PTH

(PTHR1). Os fragmentos carboxiterminais englobam os últimos 50

aminoácidos e não são capazes de ativar o PTHR1. Por este motivo,

tradicionalmente não se atribuía nenhuma função biológica a estes

peptídios, considerados inativos. Entretanto, foi demonstrada a presença de

um receptor específico para os fragmentos C-terminais e, em algumas

circunstâncias de acúmulo destes fragmentos, como na insuficiência renal,

sua importância biológica pode ser maior do que se pensava anteriormente

(36).

A administração de PTH promove a liberação de cálcio e fósforo do

osso pelos osteoclastos e, em situações de exposição prolongada ao PTH,

como no hiperparatireodismo, ocorre um aumento no número de

osteoclastos e da reabsorção óssea. No rim, o paratormônio exerce três

funções principais: estimula a reabsorção de cálcio e a síntese de calcitriol e

inibe a reabsorção de fósforo (35).

A ação fosfatúrica do PTH ocorre através da inibição da reabsorção

do fósforo tanto no túbulo proximal quanto no distal. O mecanismo de ação é

(38)

da produção e internalização dos cotransportadores Na/Pi 2a (e

provavelmente 2c), diminuindo a reabsorção tubular (35).

O cálcio extracelular é o principal regulador da síntese de PTH e o

faz através do receptor sensível a cálcio (CaR). A presença de hipocalcemia

estimula a produção e secreção do PTH, além de promover a proliferação

das células da paratireóide. A relação PTH-Ca iônico pode ser representada

por uma curva signoidal inversa que reflete a grande resposta do PTH a

pequenas variações do cálcio sérico. As células paratireóides são capazes

de aumentar a secreção de PTH em segundos, o que ajuda a manter os

níveis de cálcio sérico dentro de uma estreita faixa de referência (35).

O fósforo, por outro lado, promove a produção do PTH e,

provavelmente, também sua secreção. O mecanismo sensor de fósforo nas

células paratreóides, no entanto, ainda não está esclarecido (35). O calcitriol

age ativando o receptor nuclear para vitamina D (VDR) e reduz a secreção

de PTH.

O Fibroblast Growth Factor 23 (FGF-23) influencia de diversas formas

a regulação do PTH. Antes considerado um regulador positivo da produção

de PTH por seu efeito inibitório sobre a síntese de vitamina D ativa (37), hoje

se sabe que o FGF-23 reduz a produção de PTH agindo diretamente sobre

as paratireóides através de seu receptor (38). Indiretamente, a fosfatúria

resultante do aumento de FGF-23 pode reduzir a concentração sérica de

fósforo e inibir a secreção do PTH. Por outro lado, se os níveis de FGF-23

mantiverem-se cronicamente elevados, há uma diminuição significativa da

(39)

a depender da situação considerada, a interação FGF-23-paratireóide pode

variar e resulta do balanço entre suas ações diretas e indiretas. (39).

1.2.1.2 Vitamina D

Os seres humanos obtêm vitamina D basicamente através da

produção endógena de vitamina D3 pela pele e, em menor grau, pela

ingestão de alimentos que contêm naturalmente os precursores D3 ou D2 ou

que foram enriquecidos artificialmente. Na pele, a vitamina D3 é gerada pela

conversão fotolítica do 7-dehidrocolesterol induzida pela exposição aos raios

UV. Estas formas não possuem atividade biológica e, para que sejam

capazes de ativar o receptor de vitamina D (VDR), precisam sofrer duas

hidroxilações que ocorrem no fígado e no rim (35).

No fígado, as vitaminas D2 e D3 sofrem a primeira hidroxilação, no

carbono 25, reação que produz a 25-hidroxi-vitaminaD (25(OH)vitD), que

circula no sangue ligada à proteína carreadora de vitamina D e outras

proteínas. O nível sérico da 25(OH)vitD é utilizado clinicamente como

indicador do status de vitamina D, uma vez que é proporcional à exposição

solar e ingesta de vitamina D2 e D3 (35, 40).

O último passo na ativação da vitamina D é a segunda hidroxilação,

desta vez no carbono 1, catalisada pela enzima 1α-hidroxilase presente

principalmente nas células tubulares renais. O resultado é a formação da

1,25(OH)2vitD ou calcitriol, que é responsável pelos efeitos conhecidos da

(40)

menor que o de 25(OH)vitD, da ordem de pg/mL, o que torna sua dosagem

pouco prática do ponto de vista clínico. Ainda nos túbulos renais existe uma

segunda enzima que utiliza a 25(OH)vitD como substrato, a 24-hidroxilase,

capaz de produzir um metabólito inativo, a 24,25(OH)2vitD (35).

A atividade da 1α-hidroxilase é amplamente regulada. PTH e FGF-23

possuem efeitos opostos sobre a produção renal de calcitriol, estimulando e

inibindo o processo, respectivamente. A hipocalcemia aumenta a atividade

da 1α-hidroxilase diretamente no rim e indiretamente através do estímulo à

produção de PTH pelas paratireóides. A sobrecarga de fósforo, por outro

lado, reduz o calcitriol sérico tanto indiretamente pelo aumento da secreção

de FGF-23 quanto de forma direta (35, 41).

O calcitriol pode ser considerado um hormônio, pois age em várias

células do organismo através de um receptor nuclear próprio, o VDR. Sua

função mais importante parece ser auxiliar na manutenção dos níveis séricos

de cálcio dentro dos limites fisiológicos através da integração entre tecido

renal, onde é produzido, e paratireóides, intestino e osso (35).

No intestino, o calcitriol aumenta o transporte de cálcio e fósforo. Nas

paratireóides, inibe a produção de PTH em um mecanismo de

retroalimentação, aumenta a sensibilidade celular ao cálcio e à própria

vitamina D ativa promovendo a expressão dos receptores CaR e VDR e

impede a proliferação celular. No rim, ocorre o aumento da produção dos

canais TPRV5, responsáveis pelo transporte de cálcio pelos túbulos distais

em resposta ao calcitriol. Por fim, a presença de níveis adequados de

(41)

apropriado entre os processos de reabsorção e formação óssea, além de

aumentar a expressão de FGF-23 pelas células ósseas em um mecanismo

de feedback (35, 42) .

Na presença de níveis baixos de 25(OH)vitD e, consequentemente,

de 1,25(OH)2vitD, o cálcio sérico cai e ativa os CaR das glândulas

paratireóides, aumentando a produção de PTH. Este mecanismo fisiológico

levou os primeiros estudiosos do assunto a considerar inadequados níveis

séricos de 25(OH)vitD abaixo dos quais o PTH se eleva, o que ocorre a

partir dos 30 ng/mL. A deficiência de vitamina D é definida como níveis

inferiores a 20 ng/mL enquanto insuficiência éd definida como níveis entre

20 e 30 ng/mL (40). Os hábitos alimentares ocidentais e o uso cada vez mais

freqüente de bloqueadores solares tornaram a deficiência de vitamina D um

problema crescente em diversas populações (43), incluindo a população

brasileira (44).

A conversão da 25(OH)vitD para 1,25(OH)2D não acontece apenas

nas células renais, pois vários outros tecidos expressam a 1α-hidroxilase. O

receptor da vitamina D também foi encontrado em outras células que não

eram consideradas, a princípio, alvos da ação do calcitriol, como

cardiomiócitos, células musculares lisas vasculares e várias células do

sistema imune (41). Assim, o calcitriol não se presta apenas ao controle do

metabolismo mineral, mas participa também de outros processos, como

controle da proliferação celular e imunomodulação (45).

(42)

de neoplasias como o câncer de cólon (46) e mama (47), embora esta

associação não tenha sido demonstrada para outros tipos de tumores, como

o câncer de próstata (48). Além disso, estoques inapropriados de vitamina D

favorecem o aparecimento de doenças auto-imunes como diabetes tipo 1

(49), esclerose múltipla (50), artrite reumatóide, lupus eritematoso sistêmico

e doença de Chron (51). Os efeitos da vitamina D sobre o sistema

cardiovascular serão descritos adiante.

1.2.1.3 Fibroblast Growth Factor 23

O Fibroblast Growth Factor-23 (FGF-23) é um hormônio identificado

recentemente que pertence à família dos FGF´s, mais especificamente à

subfamília FGF-19, e é composto por 251 aminoácidos (52). O aumento da

atividade do FGF-23, seja por superexpressão do gene responsável ou pela

diminuição de seu metabolismo, é responsável pelo aparecimento de

condições que cursam com hipofosfatemia secundária ao aumento da

excreção renal de fósforo, como o raquitismo hipofosfatêmico autossômico

dominante (ADHR) (53) e a osteomalácia induzida por tumor (TIO) (52). A

partir desta observação, pesquisas in vitro e in vivo progressivamente

esclareceram o papel do FGF-23 no metabolismo do fósforo e da vitamina D

e sua descoberta foi fundamental para a compreensão atual da homeostase

do fósforo. Assim, o FGF-23 parece ser o principal membro da família das

“fosfatoninas”, termo cunhado para designar a classe de substâncias

(43)

(sFRP-4) e pela fosfoglicoproteína extracelular (MEPE), entre outras (54, 55).

O FGF-23 é produzido principalmente no tecido ósseo pelos

osteoblastos e osteócitos em resposta ao aumento na concentração de

fósforo extracelular e também em menor quantidade por outros tecidos como

fígado e rim (56). Além do fósforo sérico, o calcitriol estimula a produção do

FGF-23 de maneira dose-dependente (57, 58) e o tratamento com calcitriol

aumenta os níveis séricos de FGF-23 (59, 60).

A resposta ao aumento do conteúdo de fósforo na dieta foi

inicialmente demonstrada tanto em animais saudáveis (61,62) quanto na

presença de insuficiência renal (63). Em humanos, o FGF-23 se eleva

apenas após uma sobrecarga mantida de fósforo na dieta. Nishida e cols

não conseguiram demonstrar alteração aguda em seu nível sérico após a

ingesta de uma única refeição rica em fósforo (64). Já Burnett e cols (65)

estudaram 66 indivíduos saudáveis randomizados para receber dietas com

diferentes concentrações de fósforo por 5 dias. O FGF-23 intacto sérico

aumentou em média 23% após a sobrecarga dietética de fósforo e houve

redução de 9% após restrição de fósforo. Provavelmente um aumento mais

prolongado na ingestão de fósforo seja necessário para estímular à

produção de FGF-23.

Ao contrário dos demais componentes da família dos FGF´s, o

FGF-23 atua de maneira sistêmica através de receptores, principalmente o

FGFR1, que possuem o Klotho (KL) como cofator (66). Seu órgão alvo

principal é o rim, onde aumenta a excreção de fósforo. O local exato de ação

(44)

diminuir a reabsorção de fósforo no túbulo proximal através da inibição da

expressão dos cotransportadores Na/Pi2a e Na/Pi2c (67), ativando a via da

MAP-quinase (68). Ainda no túbulo proximal, inibe a enzima 1α-hidroxilase,

responsável pela produção da forma ativa da vitamina D e aumenta a

atividade da 24-hidroxilase (69).

Além de agir no rim, o FGF-23 também inibe a produção de PTH

pelas paratireóides, cujas células expressam FGFR e klotho (37,38). Esta

ação direta do FGF-23 é antagônica ao efeito indireto causado pela

supressão da 1-α-hidroxilase; o resultado final sobre a concentração de PTH

depende, portanto, do balanço entre estas duas ações aparentemente

contrárias. Por outro lado, o FGF-23 também parece ser regulado pelo PTH.

Neves e cols (70) demonstraram que, em animais nefrectomizados, os níveis

de FGF-23 eram maiores naqueles que receberam altas doses de PTH,

sendo esse o primeiro estudo a revelar um efeito independente do PTH nos

níveis de FGF-23, achados que foram posteriormente confirmados em ratos

sem disfunção renal (71). O PHEX (gene regulador do fósforo com

homologias às endopeptidases no cromossomo X) e a DMP-1 (proteína

matriz da dentina-1) agem inibindo a produção de FGF-23 pelo osteócitos

por mecanismos ainda incertos (72).

Animais deficientes em FGF-23 apresentam, além de hiperfosfatemia,

alterações ósseas, calcificações ectópicas e hipoglicemia (73). Estas

alterações são revertidas após a deleção do receptor de vitamina D (VDR),

sugerindo que algumas das características destes animais são resultantes

(45)

sensibilidade à insulina aparentemente são mediados pela produção de

vitamina D, corroborando a hipótese da existência de uma interação entre a

regulação do metabolismo ósseo e dos níveis glicêmicos.

Em humanos, a deficiência de FGF-23 leva à hiperfosfatemia e

calcinose tumoral, condição debilitante por cursar com grandes e

deformantes calcificações ectópicas, principalmente em articulações (75).

A concentração sérica de FGF-23 se eleva precocemente com a

queda do ritmo de filtração glomerular (76, 77) e em estágios mais

avançados da DRC, atinge níveis até 1000 vezes maiores que os

encontrados em indivíduos com função renal preservada (78). As possíveis

causas de aumento do FGF-23 nesta população são o estímulo da

hiperfosfatemia, a alteração de seu metabolismo e a menor excreção renal.

O aumento do FGF-23 sérico no estágio 3 da DRC acontece antes

mesmo que sejam observadas alterações laboratoriais de cálcio, fósforo,

PTH ou calcitriol (76, 77). Em pacientes com clearance de creatinina acima

de 30 ml/min/1,73m2 o FGF-23 apresenta correlação inversa com a

1,25(OH)2vitD e reabsorção tubular máxima de fósforo, o que já não ocorre

em situações de perdas mais acentuadas de função renal (79). Estes

achados mudaram paradigmas e permitiram uma nova interpretação da

tradicional teoria do trade-off (80). Nos estágios precoces da DRC a

elevação do FGF-23 consegue aumentar a excreção de fósforo e exerce

efeito direto de inibição da produção do PTH. A produção de calcitriol, no

entanto, é reduzida, o que estimula as paratireóides. À medida que néfrons

(46)

a fosfatemia. Os níveis elevados de fósforo passam a ser mais um estímulo

ao desenvolvimento do hiperparatireoidismo secundário (81) e o efeito

inibidor sobre o PTH é perdido, pois as células paratireóides tornam-se

progressivamente menos sensíveis ao FGF-23 devido à redução na

expressão dos receptores para FGF e de klotho em glândulas hiperplásicas

(82). Podemos concluir, portanto, que durante a fase precoce de perda renal

o FGF-23 protege o organismo da hiperfosfatemia e do hiperparatireoidismo,

enquanto em estágios mais avançados de DRC passa a se comportar como

marcador de perda de massa renal e da sobrecarga de fósforo.

O FGF-23 basal medido em 103 pacientes dialíticos foi fator preditor

para o surgimento de hiperparatireoidismo secundário após dois anos de

seguimento (83) e em outro estudo os níveis de FGF-23 foram capazes de

predizer a resposta dos níveis de PTH à terapia com calcitriol (84). Além

disto, o tipo de quelante de fósforo utilizado também altera os níveis de

FGF-23. Quelantes que não contêm cálcio reduzem de maneira mais significativa

o FGF-23 sérico quando comparados aos quelantes à base de cálcio tanto

em pacientes dialíticos (60) quando naqueles em tratamento conservador

(85). O impacto de possíveis intervenções sobre o FGF-23, no entanto,

ainda é desconhecido.

Os níveis séricos do FGF-23 são mensurados por ensaios

imunoenzimáticos (ELISA) capazes de detectar apenas a molécula inteira

(FGF-23 intacto) ou a molécula inteira e o fragmento C-terminal, resultado da

quebra da molécula. A utilidade dos dois tipos de ensaio varia de acordo

(47)

hipofosfatêmicas, o ensaio que mensura apenas a molécula intacta foi mais

sensível para o diagnóstico (86). Entretanto, não existem estudos

comparando os ensaios na população geral sem disfunção renal.

1.2.1.4 Klotho

O gene klotho, cujo nome se refere a uma das deusas da mitologia

grega que controlam o fio da vida, foi identificado acidentalmente em 1997

como uma mutação presente em uma linhagem de camundongos que

apresentavam um fenótipo de envelhecimento precoce (87). Os animais com

expressão defeituosa da proteína klotho apresentavam alterações

características do processo de senescência, como tempo de vida reduzido,

atrofia muscular, osteopenia, calcificações vasculares e enfisema pulmonar

(87), que posteriormente foram reconhecidas também em animais knockout

para FGF-23 (73). Por outro lado, demonstrou-se que o aumento da

expressão do gene klotho era capaz de prolongar o tempo de vida (88), o

que sugeriu seu envolvimento direto na regulação da sobrevida e do ritmo de

envelhecimento.

O gene klotho codifica uma proteína transmembrana que possui uma

porção extracelular passível de ser secretada na circulação e é codificado

apenas em alguns tecidos, como o rim, mais especificamente nos túbulos

contorcidos distais, e no plexo coróide. Sua forma livre, no entanto, pode ser

responsável pela ação em outros tecidos. A presença do klotho na

(48)

por seus receptores, principalmente os FGF-23, FGF-21 e FGF-19/15,

responsáveis, respectivamente, pela regulação do metabolismo mineral,

metabolismo energético e produção da bile (89). Como a proteína Klotho é

essencial para a ligação do FGF-23 ao seu receptor, sua presença apenas

em algumas células confere seletividade à ação deste hormônio.

Além de alterações relacionadas ao envelhecimento, animais

deficientes em klotho desenvolvem alterações no metabolismo energético e

mineral. (90) A falta de sinalização do FGF-23 nas células tubulares renais,

por exemplo, leva à produção exagerada de calcitriol e ao aumento da

reabsorção tubular de fósforo, com conseqüente hiperfosfatemia (90).

O papel do klotho na homeostase do cálcio é mais complexo e

envolve vários mecanismos. Animais knockout para klotho cursam com

hipercalcemia secundária aos níveis séricos elevados de calcitriol e

conseqüente aumento na reabsorção intestinal de cálcio e hipercalciúria

devido à hipercalcemia (90). No entanto, estudos recentes demonstram que

o klotho aumenta a quantidade de canais TPRV5 nos túbulos distais, e sua

ausência provoca um defeito na reabsorção tubular de cálcio, adicionando

um mecanismo alternativo às alterações encontradas nestes animais (91).

As calcificações vasculares presentes neste modelo acometem a camada

média dos vasos e se assemelham à arteriosclerose de Monckeberg

presente em pacientes idosos, diabéticos e portadores de DRC (87).

Os fenótipos decorrentes da ausência dos genes responsáveis pela

produção tanto do klotho quanto do FGF-23 podem ser atribuídos

(49)

do gene responsável pelo cotransportador Na/Pi 2a corrige a fosforemia e o

envelhecimento precoce (92). Por outro lado, uma dieta rica em fósforo

resgata as alterações fenotípicas nestes animas duplo knockout para klotho

e Na/Pi 2a (92). Em outras palavras, neste modelo, o fósforo induz ao

envelhecimento.

O excesso de calcitriol também colabora para a senescência, pois a

ablação do receptor de vitamina D (VDR) (74) ou da 1α-hidroxilase (93) é

capaz de reverter as alterações encontradas nestes animais. Este efeito, no

entanto, é provavelmente indireto e mediado pela hiperfosfatemia induzida

pelo excesso de calcitriol.

Em humanos, polimorfismos do gene klotho já foram associados à

osteoartrite (94), densidade mineral óssea reduzida (95), doença arterial

coronariana (96, 97, 98) e seus fatores de risco como níveis de HDL e

pressão arterial (99) e LDL e ácido úrico (100), além de longevidade (99) na

população geral e mortalidade em pacientes em hemodiálise (101).

A Figura 2 ilustra resumidamente o controle da homeostase do

(50)

Figura 2 – Regulação da homeostase do fósforo

Pit-2: Transportador de fósforo inorgânico-2, PTHR1: receptor para PTH-1 FONTE: Adaptado de Bergwitz e cols (72).

1.2.2 Homeostase do cálcio

O cálcio é o quinto elemento mais abundante no organismo humano,

que contém em média 1000 gramas de cálcio. Deste total, mais de 99% se

encontram no osso sob a forma de cristais de cálcio, principalmente

hidroxiapatita, o que proporciona rigidez à estrutura óssea. O cálcio que não

se encontra imobilizado perfaz menos de 10 g. No entanto, é responsável

por vários processos essenciais como a sinalização intra e extracelular, a

contração muscular e a transmissão dos impulsos nervosos. Os níveis

Osso Paratireóides

P dieta

Intestino Rins

(51)

normais de cálcio total vão de 8,8 a 10,4 mg/dL e incluem íons livres (51%),

ligados a proteínas como albumina e globulina (40%) e a outros íons (9%).

Os níveis de cálcio iônico são regulados rigidamente e se mantêm entre 4,4

e 5,4 mg/dL. O balanço de cálcio depende da ingestão, da absorção

intestinal e da excreção renal de cálcio e varia de acordo com a faixa etária e

sexo do indivíduo (33, 102).

A homeostase do cálcio depende basicamente de dois hormônios

reguladores: o paratormônio (PTH) e o calcitriol. Além disso, os receptores

para estes hormônios (PTHR e VDR) e o receptor sensível a cálcio (CaR)

também são fundamentais na manutenção de níveis séricos adequados.

Quando há redução dos níveis séricos de cálcio, o CaR presente nas

glândulas paratireóides deixa de ser ativado, o que induz a produção de

PTH. O PTH secretado aumenta a reabsorção óssea e liberação de cálcio

pelo osso, além de estimular a reabsorção de cálcio e a produção de

calcitriol pelos túbulos renais. O calcitriol contribui para a normalização dos

níveis de cálcio agindo no epitélio intestinal no sentido de aumentar a

reabsorção a partir do lúmen (33, 102).

1.3 Metabolismo mineral e mortalidade/morbidade cardiovascular

1.3.1 Fósforo e doenças cardiovasculares

A associação entre fósforo e morbimortalidade foi demonstrada há

alguns anos, inicialmente na população de portadores de DRC em

(52)

confirmada em diversas outras coortes populacionais (103). Análise dos

dados de pacientes originários de 12 países participantes do DOPPS

(Dialysis Outcomes and Practice Pattern Study) mostrou que níveis séricos

de fósforo entre 6,1 e 7,0 mg/dL e acima de 7,1 mg/dL no início do estudo

conferiam um aumento no risco de morte por qualquer causa de 18% e 43%,

respectivamente, quando comparados a níveis de fósforo na faixa de

referência (entre 3,6-5,0 mg/dL). Para o risco de morte por causas

cardiovasculares o aumento de risco foi de 61% e 81%, respectivamente

(103). Níveis muito reduzidos de fósforo também foram associados à

mortalidade aumentada, refletindo talvez o pior estado nutricional deste

pacientes. Sabe-se ainda que concentrações elevadas de fósforo estão

associadas à presença de calcificações vasculares, valvares e de tecidos

moles nesta população (104) e em fases mais precoces da disfunção renal

(105).

Posteriormente, estas observações foram estendidas à população

geral e, surpreendentemente, níveis de P ainda nos limites superiores da

normalidade mostraram-se associados à maior morbimortalidade (106). O

primeiro estudo a replicar estes achados na população sem disfunção renal

foi uma análise post hoc do estudo CARE (Cholesterol And Recurrent

Event), cujo objetivo original era avaliar o benefício do uso de pravastatina

em pacientes com história prévia de infarto agudo do miocárdio (106). Tonelli

et al (106) estudaram 4.127 pacientes e após 5 anos de seguimento foi

encontrada associação positiva e gradual entre o fósforo sérico basal e

(53)

1,02-1,58; P=0,03). Pacientes com P sérico superior a 4 mg/dL

apresentaram um HR aumentado para o surgimento de insuficiência

cardíaca e eventos coronarianos não-fatais (1,43 e 1,50, respectivamente)

quando comparados àqueles com P entre 2,5 e 3,4 mg/dL. Apenas 5,2% dos

pacientes apresentavam hiperfosfatemia. As associações permaneceram

inalteradas após a exclusão de pacientes com clearance de creatinina

estimado inferior a 60 ml/min/1,73m2.

Mais recentemente, uma análise derivada da coorte de Framingham

incluindo mais de 3000 pacientes com tempo médio de seguimento de 16

anos confirmou a associação entre os quartis mais altos de P sérico basal e

mortalidade cardiovascular no período observado (4).

Os mecanismos através dos quais o fósforo aumenta a mortalidade e

a incidência de eventos cardiovasculares ainda não estão estabelecidos,

mas é provável que esta associação seja consequência de sua participação

na patogênese da calcificação vascular e do processo de aterosclerose (107,

108).

Se a relação entre P e eventos parece cada vez mais clara, pelo

menos dois estudos demonstraram associação entre P e gravidade das

lesões coronarianas à angiografia. Estudo de 1997 realizado em indivíduos

com função renal normal e suspeita de doença coronariana mostrou uma

correlação positiva entre os níveis de fósforo e o número de vasos

acometidos observados na angiografia (109). Neste estudo, um aumento de

(54)

de 3,01 para doença coronariana significativa. No entanto, não houve

correlação entre os níveis de cálcio e a gravidade das lesões. A termo de

comparação com outros fatores de risco já descritos para doença

coronariana, os autores observaram que as razões de chance obtidas para

hipercolesterolemia e tabagismo foram, respectivamente, 2,69 e 2,29 (109).

Já Rasouli et al (110), estudando 260 pacientes portadores de doença

coronariana, encontraram correlação não só entre fósforo e gravidade das

lesões coronarianas como também entre o grau de lesão arterial e as

concentrações de cálcio e produto CaxP.

O fósforo também parece ser fator de risco para o surgimento de

calcificações vasculares na população geral. Em uma coorte de 3015

pacientes adultos jovens (média de idade 25 anos) partipantes do estudo

CARDIA e seguidos durante 15 anos houve associação entre o nível sérico

de P basal e o aparecimento de calcificações coronarianas avaliadas por

tomografia computadorizada (111). Em outra coorte que incluiu pacientes

com média de idade mais elevada (48 anos) seguidos por 6 anos, o fósforo

sérico na primeira avaliação foi preditor tanto do surgimento de calcificação

coronariana quanto da sua progressão durante o seguimento (OR 1,54, p

=0,002), embora não tenha havido correlação entre os dois parâmetros

(55)

1.3.1.1 Fósforo e calcificação vascular

O fósforo participa do processo de calcificação vascular induzindo a

transformação fenotípica das células musculares lisas dos vasos em

osteoblastos. Jono et al (5), estudaram células musculares lisas humanas

extraídas da aorta expostas a diferentes concentrações de fósforo e

observaram que quando essas células eram expostas a concentrações

elevadas de fósforo no meio (>2mmol/L), ocorria uma mudança no padrão

da expressão gênica celular. Ao invés de marcadores musculares, como a

alfa-actina, estas células passavam a produzir marcadores tipicamente

osteocondrogênicos como o fator transcripcional Runx2 (também conhecido

como Cbfa). Esta mudança fenotípica conduzia à calcificação acentuada do

meio extracelular, com deposição de colágeno e cálcio. Foi demonstrado

ainda que o efeito do fósforo é dependente do co-transportador sódio-fosfato

tipo III (Pit-1) presente na membrana celular (5). A figura 3 ilustra o

processo.

Além disso, a hiperfosfatemia induz a elevação de PTH, que tem

efeito deletério sobre os cardiomiócitos (113) e participa da regulação da

calcificação vascular (114). Este mecanismo explicaria a relação entre

calcificação vascular e fósforo sérico na vigência de hiperfosfatemia, como,

por exemplo, na população portadora de disfunção renal. Entretanto, a

(56)

possui fosforemia dentro dos limites de referência implicaria no envolvimento

dos outros mecanismos de regulação e uma possível supressão dos

inibidores da calcificação vascular.

Figura 3 – Efeito da hiperfosfatemia sobre as células vasculares lisas

Alkaline phosphatase: fosfatase alcalina; calcium-binding proteins: proteínas ligadoras de cálcio; collagen-rich ECM: matriz extracelular rica em colágeno; matrix vesicles: vesículas de matriz; CML: células musculares lisas.

Adaptado de Giachelli e cols (115).

1.3.2 Vitamina D e doenças cardiovasculares

O impacto do status de vitamina D no sistema cardiovascular

começou a despertar interesse a partir de observações epidemiológicas que

relacionaram a deficiência de vitamina D ao aumento da mortalidade Hiperfosfatemia

Imagem

Figura 4 – Processo de inclusão dos pacientes no protocolo
Tabela 1 – Características clínicas e escores da população estudada N  290  Sexo (n, % masculino)  167 (57,5)  Idade (média ± DP)  58,1 ± 9,3  Raça (Brancos, n,%)  188 (64,8)  Indicação de cineangiocoronariografia (n, %)       Angina estável  76 (26,2)
Tabela 2 – Parâmetros laboratoriais da população estudada        Creatinina (mg/dL)  0,89 ± 0,17  Uréia (mg/dL)  36 (30-44)  Cálcio total (mg/dL)  9,5 ± 0,5  Cálcio iônico (mg/dL)  5,1 (5,0-5,3)  Fósforo (mg/dL)  3,57 ± 0,54
Figura 5 – Distribuição do Escore de Agatston na população estudada
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Referências

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