M E G A L E N C E F A L I A
C O N S I D E R A Ç Õ E S A R E S P E I T O D E 7 C A S O S D I A G N O S T I C A D O S E M V I D A
GILBERTO MACHADO DE A L M E I D A * N E L I O GARCIA DE BARROS * *
Virchow chamou a atenção para a hipertrofia cerebral vera,
diferen-ciando-a dos tumores encefálicos; ulteriormente esta denominação foi
substi-tuída pela expressão megalencefalia. As variadas interpretações dadas a
êste têrmo
1, 2, 3, 4, 7, 9, 1 0são sujeitas a críticas. O conceito de Corradini
1parece-nos satisfatório: "aumento de volume e de pêso do encéfalo, não
sen-sivelmente desarmônico, na ausência de hidrocefalia, edema ou formação
tumoral circunscrita". Como sinônimo de megalencefalia, alguns autores
usam a expressão macrocefalia; preferimos dar a êste último têrmo uma
acepção mais ampla, englobando todos os casos de aumento do crânio,
qual-quer que seja a causa (tumor, hidrocefalia ou megalencefalia).
Costuma-se descrever dois tipos de megalencefalia: fisiológica ou
pri-mária e patológica ou secundária. Na megalencefalia fisiológica o encéfalo
é de maior volume e mais pesado que normalmente, sendo, entretanto,
normal quanto à morfologia macro e microscópica; êste tipo, que geralmente
não determina manifestações clínico-neurológicas, tem sido encontrado em
indivíduos de capacidade intelectual acima da média (Turgeniev — 2.012 g;
Bismark — 1.790 g; Byron — 1.807 g )
1 0. Nos casos de megalencefalia
pa-tológica, além do aumento de pêso, existem anormalidades morfológicas e
histológicas (alterações da cito-arquitetura cortical, sinais de imaturidade
do encéfalo, neurônios com alterações regressivas ou aumentados de volume,
hiperplasia glial e depósitos de substâncias estranhas); em tais
circunstân-cias geralmente ocorrem distúrbios neuropsíquicos.
A incidência de mais de um caso na mesma família é referida
2, 5e
vários autores indicam o sexo masculino como o mais atingido
1, 4, 5.
Geralmente o diagnóstico tem sido feito mediante autópsia; entretanto,
parece-nos interessante que êste diagnóstico seja feito em vida, devido à
possibilidade de confusão com hidrocefalia.
Num período de 7 anos (1957 a 1963), entre cêrca de 550 pacientes
encaminhados ao nosso Serviço com o diagnóstico de hidrocefalia,
encon-tramos 7 nos quais fizemos, em vida, o diagnóstico de megalencefalia.
O B S E R V A Ç Õ E S
CASO 1 — S . A . ( R e g . H C 471232; P r o n t . a m b . 2 7 1 6 3 ) , s e x o m a s c u l i n o , b r a n c o , b r a s i l e i r o , e x a m i n a d o p e l a p r i m e i r a v e z e m 831957, a o s 16 meses de i d a d e . T r a -t a v a - s e d o -t e r c e i r o f i l h o de pais n ã o c o n s a n g ü í n e o s ; os d o i s i r m ã o s m a i s v e l h o s n ã o a p r e s e n t a v a m a n o r m a l i d a d e s ; u l t e r i o r m e n t e seus pais t i v e r a m o u t r a f i l h a , t a m -b é m m a c r o c e f á l i c a , q u e é o caso 2. O p a c i e n t e nasceu de p a r t o n o r m a l , a t ê r m o , sem sinais de a n ó x i a . C o m 40 dias de i d a d e c o m e ç o u a ser n o t a d o a u m e n t o e x a -g e r a d o d o v o l u m e c r a n i a n o e r e t a r d o n o d e s e n v o l v i m e n t o . Exame clínico-neuroló-gico — N í t i d a m a c r o c e f a l i a ( p e r í m e t r o c r a n i a n o 52 c m ) , b r e g m a a b e r t o , r e t a r d o a c e n t u a d o d o d e s e n v o l v i m e n t o , m o v i m e n t a ç ã o escassa n ã o m u d a n d o e s p o n t â n e a -m e n t e de d e c ú b i t o , h i p e r t o n i a dos -m e -m b r o s s u p e r i o r e s , sinal d e B a b i n s k i b i l a t e r a l e " r e f l e x o de g r a s p i n g " nos pés e nas m ã o s . Exame de líquido cefalorraqueano: punções v e n t r i c u l a r e s d i f í c e i s ; as a m o s t r a s o b t i d a s dos v e n t r í c u l o s e da c i s t e r n a m a g n a n ã o a p r e s e n t a v a m a n o r m a l i d a d e s . Sinugrafia (11-3-1857) n o r m a l . Evolução: 5 dias a p ó s a s i n u g r a f i a o p a c i e n t e f a l e c e u , c o m p r o c e s s o b r o n c o p n e u m ô n i c o , n ã o t e n d o sido f e i t a n e c r o p s i a .
N e s t e caso n ã o f o i p o s s í v e l f i r m a r o d i a g n ó s t i c o de m e g a l e n c e f a l i a ; a suspeita foi f e i t a r e t r o s p e c t i v a m e n t e , a p ó s o e s t u d o d e sua i r m ã ( c a s o 2 ) .
CASO 2 — M . A . ( R e g . I A P F E S P 2 7 6 6 2 ) , s e x o f e m i n i n o , b r a n c a , b r a s i l e i r a , e x a m i n a d a p e l a p r i m e i r a v e z e m 1851961, c o m 5 m e s e s de i d a d e . T r a t a v a s e de p r o -d u t o -da q u a r t a g e s t a ç ã o , -de pais n ã o c o n s a n g ü í n e o s , sen-do q u e o t e r c e i r o f i l h o é o caso 1; os o u t r o s i r m ã o s n ã o a p r e s e n t a r a m a n o r m a l i d a d e s . A p a c i e n t e nasceu de p a r t o n o r m a l , a t ê r m o . A o s t r ê s m e s e s d e i d a d e a m ã e n o t o u a u m e n t o do v o l u m e c r a n i a n o e r e t a r d o d o d e s e n v o l v i m e n t o . Exame clíniconeurológico — M a c r o -c e f a l i a ( p e r í m e t r o -c r a n i a n o 46 -c m ) , f o n t a n e l a b r e g m á t i -c a a m p l a , s u t u r a s d i s j u n t a s , e s t r a b i s m o c o n v e r g e n t e b i l a t e r a l , a u s ê n c i a de sinal de sol p o e n t e , r e t a r d o do d e s e n -v o l -v i m e n t o p s i c o m o t o r , d i f i c u l d a d e r e s p i r a t ó r i a p o r o b s t r u ç ã o n a s a l . Eletrencefa-lograma: a n o r m a l i d a d e p a r o x í s t i c a nas á r e a s r o l â n d i c a e p a r i e t a l d i r e i t a . Exame de líquido cefalorraqueano: a pesquisa d e c o l e ç õ e s s u b d u r a i s f o i n e g a t i v a e a p u n -ç ã o v e n t r i c u l a r d i f í c i l , sendo a t i n g i d o a p e n a s o v e n t r í c u l o l a t e r a l d i r e i t o ; a a m o s t r a o b t i d a d ê s t e v e n t r í c u l o , a s s i m c o m o a l o m b a r , n ã o a p r e s e n t a v a a n o r m a l i d a d e s . Radiografias do crânio: a u m e n t o dos d i â m e t r o s c r a n i a n o s e n í t i d a d e s p r o p o r ç ã o c r â n i o - f a c i a l . Pneumencefalografia: c o n t r a s t a ç ã o d e f i c i e n t e d o s i s t e m a v e n t r i c u l a r ; o v e n t r í c u l o e s q u e r d o , m e l h o r v i s i b i l i z a d o , n ã o a p r e s e n t a v a d e f o r m i d a d e s ou a u -m e n t o d o v o l u -m e . Evolução — O c r â n i o c o n t i n u o u c r e s c e n d o e x a g e r a d a -m e n t e e a p a c i e n t e a p r e s e n t o u a c e n t u a ç ã o do r e t a r d o m e n t a l ; n u n c a t e v e c o n v u l s õ e s . Os si-nais de o b s t r u ç ã o n a s a l p e r m a n e c e r a m a t é a é p o c a do ó b i t o , e m f e v e r e i r o de 1962.
Pneumoven-triculografia ( 1 6 - 5 - 5 8 ) : d i s c r e t a a s s i m e t r i a e n t r e os v e n t r í c u l o s l a t e r a i s , sendo m a i o r o e s q u e r d o ; n ã o e x i s t i a d i l a t a ç ã o v e n t r i c u l a r n í t i d a . Angiografia cerebral v i a a r -t é r i a c a r ó -t i d a d i r e i -t a ( 1 0 - 6 - 6 0 ) n o r m a l . E m 18-7-60 f o r a m f e i -t a s perfurações se-g u n d o a t é c n i c a de D a n d y e b i o p s i a d o c ó r t e x p a r i e t a l p o s t e r i o r d i r e i t o ; o e x a m e h i s t o l ó g i c o m o s t r o u t r a t a r - s e de c ó r t e x c e r e b r a l n o r m a l . Pneumoventriculografia ( 2 5 - 7 - 6 0 ) : d i l a t a ç ã o v e n t r i c u l a r d i s c r e t a , sendo o v e n t r í c u l o l a t e r a l e s q u e r d o u m p o u c o m a i o r que o d i r e i t o . Evolução — O p a c i e n t e foi c o n t r o l a d o e m a m b u l a t ó r i o a t é o u t u b r o de 1960, q u a n d o o c o r r e u o ó b i t o . A p e s a r d o uso de a n t i c o n v u l s i v a n t e s as crises e p i l é t i c a s n ã o p u d e r a m ser c o m p l e t a m e n t e c o n t r o l a d a s , e s p e c i a l m e n t e n o p e r í o d o f i n a l . O c r â n i o a p r e s e n t o u c r e s c i m e n t o p r o g r e s s i v o , p e r m a n e c e n d o o seu p e r í m e t r o c ê r c a de 5 c m a c i m a dos v a l ô r e s n o r m a i s m é d i o s p a r a as r e s p e c t i v a s i d a d e s . O r e t a r d o d o d e s e n v o l v i m e n t o p s i c o m o t o r foi se a c e n t u a n d o n í t i d a m e n t e , o q u e f o i e v i d e n c i a d o p e l o s t e s t e s de G e s e l l e f e t u a d o s e m 26-3-58 ( Q D = 8 0 ) , e m 7-11-58 ( Q D = 7 5 ) e e m 25-5-60 ( Q D = 3 6 ) .
CASO 4 — P . M . G . ( R e g . H C 656409; P r o n t . a m b . 4 3 2 7 3 ) , s e x o m a s c u l i n o , b r a n c o , b r a s i l e i r o , e x a m i n a d o p e l a p r i m e i r a v e z e m 2231962, c o m 6 m e s e s d e i d a d e . T r a -ta-se de p r i m o g ê n i t o . O p a c i e n t e nasceu d e p a r t o m e d i a n t e c e s á r e a , m u i t o g r a n d e (55 c m d e a l t u r a e 4.650 g d e p ê s o ) , c o m d e s p r o p o r ç ã o c r â n i o - f a c i a l ( c o m 22 d i a s de i d a d e o p e r í m e t r o c r a n i a n o m e d i a 41 c m , s e g u n d o i n f o r m a ç õ e s da m ã e ) . Exame clíniconeurológico — C r i a n ç a c o n t a c t u a n d o b e m p a r a a idade, s e m d é f i c i t n e u r o -l ó g i c o ; m a c r o c e f a -l i a ( p e r í m e t r o c r a n i a n o 49,2 c m ) , a u s ê n c i a de sina-l de so-l p o e n t e , fundos o c u l a r e s n o r m a i s . Reação de Sabin-Feldman n e g a t i v a . Eletrencefalograma n o r m a l d u r a n t e sono b a r b i t ú r i c o . Exame de líquido cefalorraqueano: a p e s q u i s a de c o l e ç õ e s s u b d u r a l s foi n e g a t i v a ; o v e n t r í c u l o l a t e r a l d i r e i t o n ã o f o i a t i n g i d o ; do e s q u e r d o , p u n c i o n a d o c o m d i f i c u l d a d e , f o i r e t i r a d o l í q u i d o h e m o r r á g i c o ( a c i d e n t e d e p u n ç ã o ) ; a a m o s t r a o b t i d a p o r v i a l o m b a r n ã o a p r e s e n t a v a a n o r m a l i d a d e s . Radiografias do crânio: a u m e n t o g l o b a l e s i m é t r i c o d o s d i â m e t r o s c r a n i a n o s ; m o -d e r a -d a s e p a r a ç ã o -das s u t u r a s c o r o n á r i a s . Pneumencefalograma n o r m a l . Evolução — O c r â n i o c o n t i n u o u c r e s c e n d o e x a g e r a d a m e n t e , p e r m a n e c e n d o o seu p e r í m e t r o m a i s de 5 c m a c i m a dos v a l ô r e s n o r m a i s p a r a as r e s p e c t i v a s i d a d e s . O d e s e n v o l -v i m e n t o p s i c o m o t o r f o i b o m . E m 15-1-63 o t e s t e de G e s e l l m o s t r o u l i g e i r o r e t a r d o a p e n a s n o s e t o r da m o t r i c i d a d e ; nos d e m a i s o d e s e n v o l v i m e n t o e r a n o r m a l e e m a l g u m a s p r o v a s , u l t r a p a s s a v a a i d a d e c r o n o l ó g i c a . N ô v o t e s t e f e i t o e m 19-7-63 m o s t r o u Q D = 92.
CASO 5 — S . A . G . ( R e g . H C 666812; P r o n t . a m b . 44652), s e x o f e m i n i n o , b r a n c a , b r a s i l e i r a , e x a m i n a d a p e l a p r i m e i r a v e z e m 981962, c o m 8 meses de i d a d e . T r a -t a - s e da ú l -t i m a f i l h a de u m a p r o l e de seis. N ã o e x i s -t e m casos s e m e l h a n -t e s na f a m i l i a . A p a c i e n t e nasceu de p a r t o n o r m a l , a t ê r m o . D e s d e o n a s c i m e n t o , os f a m i l i a r e s n o t a r a m que o v o l u m e d a c a b e ç a e r a e x a g e r a d o e a l í n g u a m u i t o g r a n de. Exame clíniconeurológico — M a c r o c e f a l i a ( p e r í m e t r o c r a n i a n o 50 c m ) , f o n t a -n e l a b r e g m á t i c a a m p l a e pla-na, p r o t u s ã o da l í -n g u a , a u s ê -n c i a d e si-nal de sol p o e -n t e , fundos o c u l a r e s n o r m a i s . Eletrencefalograma n o r m a l . Exame de líquido cefalorraqueano: pesquisa de c o l e ç õ e s s u b d u r a i s n e g a t i v a s ; n ã o f o r a m a t i n g i d o s os v e n t r í -culos l a t e r a i s ; a a m o s t r a d o L C R c i s t e r n a l n ã o a p r e s e n t a v a a n o r m a l i d a d e s a o e x a m e l a b o r a t o r i a l . Radiografia do crânio: a u m e n t o dos d i â m e t r o s c r a n i a n o s c o m d e s p r o p o r ç ã o c r â n i o f a c i a l . Pneumencefalografia: s i s t e m a v e n t r i c u l a r d i s c r e t a m e n t e d i l a -t a d o . Evolução — A p a c i e n -t e e v o l u i u b e m ; o p r i m e i r o exame pelos -tes-tes de Ge-sell, f e i t o e m 14-8-62, m o s t r o u l i g e i r o r e t a r d o ( Q D = 8 5 ) , p r i n c i p a l m e n t e nos set o r e s m o set o r ( 7 7 ) e da l i n g u a g e m ( 7 7 ) ; n o s e g u n d o e x a m e , f e i set o e m 15163, o r e -s u l t a d o f o i m e l h o r ( Q D = 9 7 ) , c o m r e t a r d o a p e n a -s n o -s e t o r m o t o r ( 8 5 ) . O c r â n i o a p r e s e n t o u c r e s c i m e n t o p r o g r e s s i v o , p e r m a n e c e n d o s e m p r e o seu p e r í m e t r o c ê r c a d e 5 c m a c i m a dos v a l ô r e s m é d i o s p a r a as r e s p e c t i v a s i d a d e s .
-tes nos c o l a t e r a i s . A p a c i e n t e nasceu a t e r m o m e d i a n t e c e s á r e a . C o m c ê r c a de 5 m e s e s f o i n o t a d o a u m e n t o d o c r â n i o . Exame clínico-neurológico — M a c r o c e f a l i a ( p e r í m e t r o c r a n i a n o 46,5 c m ) , f o n t a n e l a b r e g m á t i c a a m p l a m a s n ã o d i s t e n d i d a ; f r o n t e a b a u l a d a ; m a n c h a v i n h o s a de l i m i t e s i r r e g u l a r e s , m e d i n d o c e r c a de 3 c m n o m a i o r d i â m e t r o , a o n í v e l da g l a b e l a ; a u s ê n c i a de sinal d e sol p o e n t e ; fundos o c u l a r e s n o r m a i s . Eletrencefalograma n o r m a l . Exame de líquido cefalorraqueano: pesquisa de c o l e ç õ e s s u b d u r a i s n e g a t i v a ; os v e n t r í c u l o s l a t e r a i s f o r a m a t i n g i d o s c o m d i f i c u l d a d e , s e n d o c o l h i d a s a p e n a s a l g u m a s g ô t a s q u e n ã o p e r m i t i r a m e x a m e l a b o -r a t o -r i a l ; a m o s t -r a o b t i d a p o -r v i a c i s t e -r n a l s e m a n o -r m a l i d a d e s . Radiog-rafias do c-râ- crâ-nio: a u m e n t o g l o b a l p r o p o r c i o n a l e s i m é t r i c o d o s d i â m e t r o s c r a n i a n o s . Pneumence-falograma: l i g e i r a d i l a t a ç ã o dos v e n t r í c u l o s l a t e r a i s . Evolução — A c r i a n ç a foi o b s e r v a d a d u r a n t e 4 m e s e s ; t e s t e de G e s e l l f e i t o e m 6-4-63 m o s t r o u Q D = 104.
C A S O 7 — J.C.C. ( R e g . H C 693553; P r o n t . a m b . 4 7 1 5 8 ) , s e x o m a s c u l i n o , b r a n c o , b r a s i l e i r o , e x a m i n a d o e m 18-4-1963, c o m 7 a n o s e 6 m e s e s de i d a d e . I r m ã o d e M . F . C . C . ( c a s o 6 ) . O p a c i e n t e nasceu a t e r m o , m e d i a n t e c e s á r e a . D e s d e o nasci-m e n t o a p r e s e n t a v a v o l u nasci-m e c r a n i a n o e x a g e r a d o e nasci-m a n c h a v i n h o s a na r e g i ã o da g l a b e l a . N u n c a t e v e c o n v u l s õ e s . O v o l u m e c r a n i a n o a u m e n t o u p r o g r e s s i v a m e n t e . O d e s e n v o l v i m e n t o p s i c o m o t o r p a r e c e t e r s i d o n o r m a l , p e l o m e n o s n o i n í c i o : sen-tou-se a o s 7 meses, f a l o u as p r i m e i r a s p a l a v r a s c o m 12 meses e a n d o u c o m 14 m e s e s . Exame clínico-neurológico — M a c r o c e f a l i a ( p e r í m e t r o c r a n i a n o 58,5 c m ) , a u s ê n c i a de sinal de s o l p o e n t e ; m a n c h a v i n h o s a a o n í v e l da g l a b e l a , s e m e l h a n t e à e n c o n t r a d a n o caso 6; fundos o c u l a r e s n o r m a i s . Eletrencefalograma n o r m a l . Tes-tes de desenvolvimento: t e s t e de T e r m a n M e r r i l , Q D = 75 e Tes-teste de G o o d n o u g h , Q I = 65.
N e s t e caso, c o m o n o caso 1, n ã o foi c o n f i r m a d o o d i a g n ó s t i c o de m e g a l e n c e f a l i a ; e n t r e t a n t o , ê s t e d i a g n ó s t i c o p a r e c e p r o v á v e l e m v i s t a da a c e n t u a d a m a c r o c e f a l i a , das s e m e l h a n ç a s c o m o q u a d r o a p r e s e n t a d o p e l a i r m ã ( c a s o 6 ) e da c o n -s a n g ü i n i d a d e e n t r e o-s pai-s.
C O M E N T Á R I O S
Em todos os nossos casos a macrocefalia era evidente. N o gráfico 1
estão assinalados os perímetros cranianos medidos na primeira consulta,
em relação à idade dos doentes; a curva representada corresponde aos
va-lôres normais médios. Observa-se que tôdas as crianças tinham perímetro
craniano maior do que o valor médio para a idade correspondente. As
menores diferenças (2, 5 e 3 cm) foram observadas nos casos 6 e 2,
justa-mente aquêles nos quais a hipótese de megalencefalia é reforçada pela
exis-tência de um irmão atingido. Nos outros pacientes as diferenças entre os
perímetros cranianos e os valôres normais foram iguais ou superiores a
5 cm.
e avaliar, se bem que grosseiramente, a espessura do tecido nervoso. N o
caso 7 foram feitas punções ventriculares porque a fontanela estava
fecha-da. Nos outros 6 casos foi difícil atingir os ventrículos laterais ou retirar
amostras do LCR quando se conseguia puncioná-los; a pesquisa de coleção
subdural resultou negativa em todos. Êstes achados, em pacientes macro¬
cefálicos sugerem o diagnóstico de megalencefalia.
Nos casos 2, 3, 4, 5 e 6 a hipótese de megalencefalia sugerida pelas
punções ventriculares foi confirmada pelas pneumografias, que mostraram
ventrículos normais ou apenas ligeiramente dilatados. A existência de
dis-creta dilatação ventricular é compatível com o diagnóstico de
megalence-f a l i a
2 , 5, 8; o aumento do sistema ventricular é muito mais acentuado
quan-do a macrocefalia é determinada por hidrocefalia. Nos casos 1 e 7 não
foram feitas pneumografias que confirmassem o diagnóstico; entretanto,
ambos os pacientes tinham irmãos comprovadamente megalencefálicos
(res-pectivamente casos 2 e 6) indicando ser esta doença a causa mais provável
para a macrocefalia; além disso, no caso 1, a punção ventricular já
suge-rira esta hipótese.
a fim de serem submetidos a operações de derivações liquóricas, pacientes
portadores de megalencefalia ou mesmo outras afecções, especialmente
co-leções subdurais ou papilomas dos plexos coróides. Algumas vêzes a
anam-nese e o quadro clínico já sugerem o diagnóstico de megalencefalia, mas,
na maioria dos casos, são as punções ventriculares que orientam para o
diagnóstico certo. A comprovação poderá ser feita pela pneumencefalo¬
grafia ou pela pneumoventriculografia, sendo difícil dizer qual dêstes exames
é o melhor, uma vez que ambos podem apresentar vantagens e
inconvenien-tes. N o pneumencefalograma, às vêzes, o sistema ventricular apresenta-se
insuficientemente contrastado (casos 2 e 3 ) ; por outro lado, a
pneumoven-triculografia, além de ser mais traumatizante, pode apresentar problemas
de ordem técnica pela relativa dificuldade em atingir, mormente em
crian-ças, ventrículos laterais não dilatados. Preferimos iniciar com o
pneumen-cefalograma; se o exame fôr insuficiente fazemos injeção ventricular.
As radiografias do crânio e os eletrencefalogramas não contribuíram,
em nossos doentes, para o diagnóstico diferencial; entretanto, Geissler e
Stadler
6chamaram a atenção para as alterações eletrencef álicas
encontra-das em um caso. A angiografia cerebral confirmou, no caso 2, a ausência
de dilatação ventricular apreciável; êste exame nos parece, entretanto, de
importância secundária em relação às pneumografias.
Nossa casuística é maior do que as encontradas na literatura que
pu-demos compulsar. Êste fato talvez seja devido à preocupação que tivemos
de fazer o diagnóstico em vida, enquanto a maioria dos autores se baseia
no exame necroscópico. Acreditamos que o estudo cuidadoso de todos os
pacientes macrocefálicos permitiria mostrar que a megalencefalia é muito
mais freqüente do que geralmente se pensa.
O número relativamente pequeno de casos não permite afirmar ou
in-firmar a opinião de autores
1,4,5que, baseados em revisões, indicam o sexo
masculino como o mais atingido; 4 de nossos pacientes eram do sexo
mas-culino e 3 do feminino. A incidência familiar foi observada em dois
pares de irmãos (casos 1, 2 e 6, 7 ) . Os pais dos casos 6 e 7 eram
primos-irmãos; não havia consangüinidade entre os genitores dos casos 1, 2 e 3;
nos casos 4 e 5 não obtivemos dados a respeito.
No caso 5 chamou a atenção a existência de macroglossia. Em dois
irmãos (casos 6 e 7) foi observada a existência de mancha vinhosa ao nível
da glabela, cuja relação com a megalencefalia não pôde ser estabelecida.
N o caso 2 existia obstrução nasal intensa, fato êste observado também por
Wilson
1 0.
Nos casos 1, 2 e 3 o quadro clínico e a evolução sugeriram o diagnóstico
de megalencefalia patológica.
R E S U M O
O diagnóstico de megalencefalia deve ser feito em vida, especialmente
pela possibilidade de confusão com hidrocefalia. Os dados anamnésticos e
clínicos poderão, em alguns casos, sugerir esta hipótese diagnóstica;
entre-tanto, são as punções ventriculares que, geralmente, orientam para o
diag-nóstico certo. As pneumografias confirmam o diagdiag-nóstico, podendo ser
dis-pensadas nos casos típicos. Outros exames (radiografias do crânio,
eletren-cefalograma ou arteriografia cerebral) têm pouco valor.
São apresentados 7 casos em que o diagnóstico foi feito em vida. Em
um paciente havia também macroglossia e, em dois irmãos, mancha vinhosa
ao nível da glabela. A incidência familiar foi observada em dois pares de
crianças, sendo que em um dêles os pais eram consangüíneos.
A casuística apresentada — relativa a um período de 7 anos — maior
do que as encontradas na literatura compulsada, mostra que a
megalence-falia não é tão rara como geralmente é admitido.
S U M M A R Y
Megalencephaly. Comments on 7 cases diagnosed during life.
Megalencephaly should be diagnosed during life, especially knowing that
it could be confused with hydrocephalus. The diagnosis could be arrived
at on the basis of clinical data in some cases, but mostly by way of the
ventricular puncture. Pneumoencephalography or pneumoventriculography
may confirm the diagnosis but it is not essential in a typical case. Other
procedures like X rays of the skull, electroencephalograma or cerebral
angio-graphy are of little help.
Seven cases diagnosed during life are presented. One patient had
macro-glossia; two brothers had a hemangioma at the glabella area. A familial
tendency was noticed in two pairs of children, one of them with
consan-guineous parents.
Judging by our series, which seems to be larger than others,
megalen-cephaly is not such a rare condition as it is thought to be.
R E F E R Ê N C I A S
de m e g a l e n c e f a l i a . C e r v e l l o 34:81-98, 1958. 5. F O R D , F . R . — D i s e a s e s o f t h e N e r v o u s S y s t e m in I n f a n c y , C h i l d h o o d and A d o l e s c e n c e . E d . 3. C h a r l e s C. T h o m a s , S p r i n g f i e l d ( I l l i n o i s ) , 1952, p á g . 267. 6. G E I S L E R , E. & S T A D L E R , A . — K l i n i s c h e B o o b a c t u n g und E E G - V e r ä n d e r u n g e n bei M e g a l e n c e p h a l i e . H e l v . P a e d i a t . A c t a 1 2 : 541-547, 1957. 7. S E N I S E , T . — C o n c e t t o e a s p e t t i d e l l a m e g a l e n c e f a l i a . C e r v e l l o 13:71-89, 1934. 8. S T E E G M A N , A . T . & K A R N O S H , L . J. — I n f a n t i l e a m a u r o t i c f a m i l y i d i o t y w i t h m e g a l e n c e p h a l y and c e r e b e l l a r a t r o p h y . A m e r . J. P s y c h i a t . , 9 2 : 1413-1424, 1936. 9. W E I L , A . — M e g a l e n c e p h a l y w i t h d i f f u s e g l i o b l a s t o m a t o s i s o f b r a i n s t e m a n d c e r e b e l l u m . A r c h . N e u r o l , a. P s y c h i a t . , 30:7958C9, 1933. 10. W I L -S O N , -S. A . K . — M e g a l e n c e p h a l y . J. N e u r o l , a. P s y c o p a t h . , 14:193-216, 1934. 1 1 . W O L F , A . & C O W E N , D . — C y t o p l a s m i c b o d i e s in a c a s e o f m e g a l e n c e p h a l y . B u l l . N e u r o l . I n s t . N e w Y o r k 6:1-11, 1937.