CRÉDITO R U R A L NO C O N T E X T O
DO DESENVOLVIMENTO*
J o ã o L u i z C A R D O S O * *
RESUMO: Análise das relações do crédito rural no processo de desenvolvimento agrícola e dos fa-tores que afetam a necessidade do crédito neste contexto.
UNITERMOS: Crédito rural; desenvolvimento; capital; poupança rural; tecnologia.
1. I N T R O D U Ç Ã O
E m g e r a l , o p r o c e s s o de d e s e n v o l v i mento a c a r r e t a o d e c l í n i o r e l a t i v o d a a g r i cultura e m r e l a ç ã o a o c o n j u n t o d a e c o n o -mia. N o e n t a n t o , i s t o n ã o s i g n i f i c a q u e o setor r u r a l p e r d e s u a i m p o r t â n c i a à m e d i da que as etapas d o p r o c e s s o de d e s e n v o l -vimento s ã o u l t r a p a s s a d a s . A o c o n t r á r i o , a i n é r c i a d o setor p r i m á r i o p o d e c a u s a r o bloqueio d o d e s e n v o l v i m e n t o de u m p a í s .
N o c u r s o d o d e s e n v o l v i m e n t o h á e m geral u m a s o b r e c a r g a das f u n ç õ e s d o setor rural, fato q u e f r e q ü e n t e m e n t e a c a r r e t a a necessidade de u m a c r é s c i m o d a p r o d u t i vidade a g r í c o l a . N e s t a s c o n d i ç õ e s , as i n t e -rações entre a a g r i c u l t u r a e os o u t r o s setores a u m e n t a m , s o b r e t u d o c o m a i n d ú s tria. A a g r i c u l t u r a se t o r n a m a i s d e p e n -dente dos bens e s e r v i ç o s p r o v e n i e n t e s d o setor i n d u s t r i a l e das v e n d a s a este setor.
E n t ã o , r e c u r s o s d e v e m existir a f i m de p o s s i b i l i t a r os i n v e s t i m e n t o s n e c e s s á -rios n o setor p r i m á r i o , p a r a os q u a i s a p o u p a n ç a r u r a l n e m s e m p r e é s u f i c i e n t e . Estas s ã o p e l o m e n o s a l g u m a s das r a z õ e s
que e x p l i c a m a i m p o r t â n c i a d o f i n a n c i a -mento à a g r i c u l t u r a .
A s s i m , o o b j e t i v o p r i n c i p a l , neste est u d o , é e v i d e n c i a r a i m p o r est â n c i a d o c r é d i -to r u r a l n o p r o c e s s o de d e s e n v o l v i m e n t o . P a r a t a l , breves c o n s i d e r a ç õ e s gerais so-bre o d e s e n v o l v i m e n t o a g r í c o l a s ã o efe-tuadas e, e m s e g u i d a , a l g u n s fatores q u e p o d e m d e t e r m i n a r a n e c e s s i d a d e d o c r é d i -to s ã o a n a l i s a d o s .
2. D E S E N V O L V I M E N T O D A A G R I -C U L T U R A
N a s fases i n i c i a i s d o p r o c e s s o de des e n v o l v i m e n t o , o desetor a g r í c o l a é i m p o r -tante p a r a c r i a r u m excedente a c e l e r a d o r deste p r o c e s s o e c o m o r e s e r v a t ó r i o de m ã o - d e - o b r a . A m e l h o r i a d o d e s e m p e n h o da a g r i c u l t u r a i m p l i c a q u e o v o l u m e de p r o d u ç ã o a u m e n t a , a s s i m c o m o a p r o d u tividade a g r í c o l a p o r hectare e p o r t r a b a -l h a d o r . C o m o c o n s e q ü ê n c i a , a a g r i c u -l t u r a tem suas f u n ç õ e s c a d a v e z m a i s a m p l i a das. D e s t a f o r m a , o setor a g r í c o l a f i n a n -cia o c r e s c i m e n t o e é l e v a d o a m o d i f i c a r sua e s t r u t u r a e seu s i s t e m a de p r o d u ç ã o .
* Resumo de um capítulo inicial (referente à parte sobre "a problemática geral do crédito na agricultura"), do nosso exercício de tese (6).
A c o n t e c e e n t ã o o d e c l í n i o r e l a t i v o d a a g r i c u l t u r a n a e c o n o m i a m o d e r n a , i s t o é: o v o l u m e de p r o d u ç ã o a g r í c o l a a u m e n t a mas a r e l a ç ã o entre o p r o d u t o b r u t o d a a g r i c u l t u r a e o p r o d u t o g l o b a l d a e c o n o -m i a decresce; a r e l a ç ã o entre a p o p u l a ç ã o ativa a g r í c o l a e a p o p u l a ç ã o a t i v a g l o b a l d i m i n u i , c o m o ê x o d o r u r a l - u r b a n o ; a rel a ç ã o entre a r e n d a a g r í c o rel a m é d i a e a r e n -da d o c o n j u n t o d a e c o n o m i a é decrescen-te; e, e n f i m , os p r o d u t o s n ã o - a g r í c o l a s p o d e m se t o r n a r c o n c o r r e n t e s d a m a t é r i a -p r i m a o r i u n d a d a a g r i c u l t u r a (1:307-315). N a v e r d a d e , os efeitos d o a c r é s c i m o da p r o d u t i v i d a d e a g r í c o l a t ê m u m a l i g a ç ã o estreita entre a a g r i c u l t u r a e a i n d ú s tria de u m p a í s . O a u m e n t o d a p r o d u t i v i dade a g r í c o l a a c a r r e t a o a u m e n t o das r e n das a g r í c o l a s , q u e é c a p a z de oferecer n o vas p o s s i b i l i d a d e s à s i n d ú s t r i a s " a m o n tante e a j u s a n t e " d a p r o d u ç ã o a g r o p e c u á r i a ( f o r n e c e d o r a s de i n s u m o s e p r o c e s -sadoras de p r o d u t o s ) .
E v i d e n t e m e n t e , q u a n d o a p o p u l a ç ã o ativa a g r í c o l a de u m p a í s n ã o a c o m p a n h a o crescimento d a p o p u l a ç ã o g l o b a l , t o r n a -se n e c e s s á r i o a u m e n t a r c a d a v e z m a i s a p r o d u t i v i d a d e d a m ã o - d e - o b r a n o setor r u r a l e t a m b é m o r e n d i m e n t o p o r hectare. Isto p o d e acontecer a t r a v é s d o s a v a n ç o s em t e c n o l o g i a b i o l ó g i c a , q u í m i c a e m e c â -n i c a .
T o d a v i a , a c u r t o p r a z o , a c a p a c i d a d e de p o u p a n ç a das f a m í l i a s r u r a i s n e m s e m -pre p o d e f i n a n c i a r os i n v e s t i m e n t o s necess á r i o necess . O r e c u r necess o i m e d i a t o é o e n d i v i d a -m e n t o . C o -m o a i n é r c i a d o setor a g r í c o l a p o d e b l o q u e a r o d e s e n v o l v i m e n t o de u m p a í s , as a u t o r i d a d e s g o v e r n a m e n t a i s v i -sam c r i a r c o n d i ç õ e s p a r a o f i n a n c i a m e n t o d a a g r i c u l t u r a . U m d o s m e i o s m a i s u s a d o s é o c r é d i t o r u r a l .
A l g u n s fatores e x p l i c a m a necessida-de d o c r é d i t o , r a z ã o p e l a q u a l passa-se e m seguida a a n a l i s a r este a s s u n t o .
3. N E C E S S I D A D E D O C R É D I T O
A c a r a c t e r i z a ç ã o d o s fatores q u e de-t e r m i n a m a necessidade d o c r é d i de-t o s e r á
feita a t r a v é s d a e s p e c i f i c a ç ã o das necessi-dades d o setor a g r í c o l a e m g e r a l e mostrando-se a l g u n s m o t i v o s q u e l e v a m os agricultores a r e c o r r e r aos f i n a n c i a -mentos.
3.1. Necessidade de capital na agricultura
A p a r t i r de a l g u m a s d é c a d a s passa-das, o setor a g r í c o l a o b t e v e g a n h o s de p r o d u t i v i d a d e c o n s i d e r á v e i s , de a c o r d o c o m o n í v e l de d e s e n v o l v i m e n t o dos dife-rentes p a í s e s . R e g i s t r a r a m - s e d i m i n u i ç õ e s de m ã o - d e - o b r a e m p r e g a d a n o setor a g r í c o l a , p r o p o r c i o n a l m e n t e à m ã o d e -o b r a t -o t a l . A -o m e s m -o t e m p -o , ac-ontece- acontece-ram a u m e n t o s g l o b a i s de p o p u l a ç ã o e ne-cessidades a l i m e n t a r e s crescentes.
S o b este aspecto constata-se o a u x í l i o da m o d e r n i z a ç ã o : esta t o r n o u p o s s í v e l u m a p r o d u ç ã o a g r í c o l a a c r e s c i d a , c o m u m a q u a n t i d a d e de m ã o d e o b r a p r o p o r -cionalmente decrescente e c o m r e l a ç õ e s de p r e ç o e m g e r a l d e s f a v o r á v e i s p a r a a a g r i -c u l t u r a .
" A s s i m é que n a A l e m a n h a a p o p u l a -ç ã o a t i v a e m p r e g a d a n a a g r i c u l t u r a pas-sou de 3,9 m i l h õ e s de pessoas e m 1950, para 1,3 m i l h õ e s e m 1974; n o s E s t a d o s U n i d o s , n o m e s m o p e r í o d o , passou-se de 10 m i l h õ e s a 4,3 m i l h õ e s . O s g a n h o s de p r o d u t i v i d a d e o b t i d o s , apesar deste ê x o -do c o n s i d e r á v e l , t o r n a r a m - s e p o s s í v e i s de-vido a u m a forte c a p i t a l i z a ç ã o " (10:13).
24,5 milhares de f r a n c o s e m 1980, c o n t r a 13 milhares e m 1973 (8:2-3).
N o B r a s i l , o b s e r v a n d o - s e a r e l a ç ã o entre os m o n t a n t e s de c r é d i t o c o n c e d i d o e a renda i n t e r n a d o setor a g r í c o l a , d u r a n t e o p e r í o d o 1969-80, pode-se c o n s t a t a r a i m p o r t â n c i a d o c r é d i t o r u r a l ( T a b e l a 1). Torna-se n e c e s s á r i o r e s s a l v a r que n o s montantes totais d o c r é d i t o r u r a l e s t ã o compreendidos os f i n a n c i a m e n t o s de c o -m e r c i a l i z a ç ã o , que v i s a -m as a t i v i d a d e s p ó s p r o d u ç ã o p r o p r i a m e n t e d i t a , e os c r é -ditos de i n v e s t i m e n t o , c u j a d u r a ç ã o fre-q ü e n t e m e n t e a b r a n g e v á r i o s a n o s . M e s m o assim, tendose e m c o n t a q u e os f i n a n c i a -mentos de custeio r e p r e s e n t a m a m a i o r parcela d o v a l o r t o t a l de c r é d i t o c o n c e d i -do (57% e m 1980), p o d e - s e a d m i t i r a grande i m p o r t â n c i a d o c r é d i t o r u r a l n o p e r í o d o c o n s i d e r a d o .
P a r a os p a í s e s m e n o s d e s e n v o l v i d o s , onde o c r e s c i m e n t o d e m o g r á f i c o a t i n g e
cerca de 2 , 5 % ao a n o , as necessidades de c o n s u m o a l i m e n t a r e, p o r t a n t o , de p r o d u -ç ã o , s ã o a c e n t u a d a s .
A s perspectivas m o s t r a m q u e as f o r m a ç õ e s e c o n ô m i c a s e s o c i a i s d e v e m r a c i o -nalizar a u t i l i z a ç ã o d o s r e c u r s o s e e v i t a r drasticamente o d e s p e r d í c i o . N e s t e s e n t i -d o , os p a í s e s e m -d e s e n v o l v i m e n t o -d e v e m recusar o p r o c e s s o de d i f u s ã o - i m i t a ç ã o proveniente dos p a í s e s a v a n ç a d o s , a d a p -tando m é t o d o s m a i s a d e q u a d o s à s suas p r ó p r i a s c o n d i ç õ e s .
É p r o v á v e l q u e nas p r ó x i m a s d é c a d a s os setores n ã o a g r í c o l a s n ã o p o s s a m a b sorver, c o m i n t e n s i d a d e , o a c r é s c i m o n a -t u r a l de pessoas e m i d a d e de -t r a b a l h a r , provenientes d o setor a g r í c o l a , n o s p a í s e s menos d e s e n v o l v i d o s . I s t o s i g n i f i c a q u e grande p a r t e d a m ã o - d e - o b r a r u r a l deve permanecer n o p r ó p r i o setor (13:15).
TABELA 1 — Brasil: estimativa da renda interna do setor agrícola e montantes de crédito rural concedidos a produtores e cooperativas, de 1969 a 1980, em mil cruzeiros.
A n o
R e n d a i n t e r n a d o setor a g r í c o l a
(a)
M o n t a n t e de c r é d i t o r u r a l
(b)
R e l a ç ã o (b) (a)
1969 1 4 . 3 3 6 . 3 1 4 6 . 4 8 9 . 0 9 6 0,45
1970 17.126.636 9 . 2 4 7 . 9 8 0 0,54
1971 2 3 . 9 7 3 . 3 5 4 12.869.711 0,54
1972 30.560.091 18.668.785 0,61
1973 4 4 . 2 7 0 . 5 5 4 3 0 . 3 3 3 . 9 1 9 0,68
1974 6 5 . 6 5 7 . 4 3 9 48.272.761 0,73
1975 87.820.907 (1) 89.997.117 1,02
1976 1 3 7 . 7 0 3 . 1 8 2 (1) 130.226.160 0,95
1977 2 3 6 . 8 4 9 . 4 7 3 (1) 165.858.671 0 , 7 0
1978 320.670.501 (1) 2 3 3 . 9 4 2 . 4 5 4 0,73
1979 5 2 9 . 5 5 5 . 2 6 5 (1) 4 4 8 . 7 3 0 . 8 9 4 0,85
1980 1.085.323.516 (1) 859.193.128 0 , 7 9
Fonte: B a n c o C e n t r a l d o B r a s i l (2:7), F u n d a ç ã o I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de G e o -grafia e E s t a t í s t i c a (11:764).
(1): R e s u l t a d o s p r e l i m i n a r e s
C o n s i d e r a n d o s e os aspectos q u e f o -ram analisados, v e r i f i c a - s e q u e as
necessi-dades de recursos n a a g r i c u l t u r a a i n d a se f a r ã o sentir. E n t ã o , o a p o i o f i n a n c e i r o a o setor a g r í c o l a deve seguir as m e s m a s t e n -d ê n c i a s .
A p o u p a n ç a p o d e ser d e f i n i d a c o m o a d i f e r e n ç a entre a r e n d a l í q u i d a r e a l e o c o n s u m o , q u e a d v é m d o f a t o d a a b s t e n -ç ã o de u m c o n s u m o i m e d i a t o p a r a se asse-gurar u m c o n s u m o a c r e s c i d o n o f u t u r o .
A s d e c i s õ e s de p o u p a r se v e r i f i c a m p r i n c i p a l m e n t e nas f a m í l i a s , e n q u a n t o que a f o r m a ç ã o l í q u i d a de c a p i t a l é s o b r e -tudo de i n i c i a t i v a das e m p r e s a s .
A p o u p a n ç a de u m a f a m í l i a d e p e n d e f u n d a m e n t a l m e n t e d o o r ç a m e n t o f a m i -l i a r . Se a r e n d a f a m i -l i a r é b a i x a , a m a i o r parte d e l a se d e s t i n a a o c o n s u m o de p r o -dutos a l i m e n t a r e s , h a b i t a ç ã o e v e s t u á r i o . Estas razoes i n d i c a m q u e a p o u p a n ç a deve ser m a i s forte q u a n d o as r e n d a s s ã o supe-riores à m é d i a (14:219-225).
N o setor r u r a l , s o b r e t u d o n o s p a í s e s em d e s e n v o l v i m e n t o , a m a i o r p a r t e das unidades de e x p l o r a ç ã o a g r í c o l a t e m r e n das b a i x a s . E n t ã o , as p o s s i b i l i d a d e s de i n -vestimento s ã o m o d e s t a s , r a z ã o p e l a q u a l retorna-se à f r a q u e z a das r e n d a s .
S e g u n d o B e r g m a n n , " a l e g e n d á r i a frugalidade c a m p e s i n a p e r m i t i u a i n u m e -r á v e i s f a m í l i a s p o u p a -r e i n v e s t i -r . I s t o se traduz e m taxas de p o u p a n ç a p a r t i c u l a r -mente elevadas d o s a g r i c u l t o r e s . M a s este f e n ô m e n o d a p o u p a n ç a c a m p e s i n a é i n s u
ficiente o u f a l h a e m v á r i a s c i r c u n s t â n -c i a s " (3:136).
F r e q ü e n t e m e n t e , o p r o g r e s s o t é c n i c o exige a c r é s c i m o s c o n s i d e r á v e i s de investi-mentos, p a r a os q u a i s a p o u p a n ç a r u r a l nem sempre é s u f i c i e n t e . E n t ã o , torna-se n e c e s s á r i o r e c o r r e r a o c r é d i t o .
N a F r a n ç a , a a n á l i s e d a e v o l u ç ã o d o coeficiente de c a p i t a l n a a g r i c u l t u r a c o n -f i r m a as r a z õ e s a n t e r i o r m e n t e assinaladas ( T a b e l a 2). N ã o i m p o r t a q u a l seja o m é t o d o p a r a o c á l c u l o d o c o e f i c i e n t e de c a p i -tal, este a u m e n t a r e g u l a r m e n t e , s a l v o pa-ra o p e r í o d o 1970-73, e m q u e o v a l o r agre-gado b r u t o * t i n h a a u m e n t a d o de m a n e i r a e x c e p c i o n a l .
P a r a a C a i x a N a c i o n a l de C r é d i t o A g r í c o l a d a F r a n ç a o e n d i v i d a m e n t o d a a g r i c u l t u r a francesa f o i , n o p a s s a d o , e c o n t i n u a sendo, a t u a l m e n t e , c o n d i ç ã o i m -portante p a r a sua m o d e r n i z a ç ã o (5:31).
F r e q ü e n t e m e n t e as r e l a ç õ e s de p r e ç o s entre a a g r i c u l t u r a e a i n d ú s t r i a s ã o p r e j u -diciais à p r i m e i r a , de f o r m a q u e os agri-cultores f i c a m c o m m e n o s acesso aos bens de e q u i p a m e n t o . O u t r a d i f i c u l d a d e p a r a o setor a g r í c o l a é a i m p o r t â n c i a d o c a p i t a l terra n o c o n j u n t o d a u n i d a d e d e p r o d u ç ã o e as t e n d ê n c i a s , a l o n g o p r a z o , de a l t a nos p r e ç o s d a t e r r a .
T A B E L A 2 — França: e v o l u ç ã o do coeficiente de capital na agricultura, 1960 a 1976. Coeficiente de capital (diferentes
defini-ções) 1960 1965 1970 1973
Capital fixo de exploração (1) 0,54 0,91 1,07 1,10
Valor agregado bruto
Capital de exploração total (2) 2,45 2,98 3,09 2,95
Valor agregado bruto Total do b a l a n ç o (3) Valor agregado bruto
6,21 7,67 8,28 7,65
Fonte: Caise Nationale de Crédit Agrícola (4:13)
(1) Capital fixo de exploração: construções de exploração + material e equipamento.
(2) Capital de exploração total: capital fixo de exploração + capital vivo + capitais circulantes.
(3) Total do balanço: capital de exploração total + capital em terra, inclusive o capital dos proprietários de terra que não a exploram.
O u t r o s aspectos interessantes d e v e m ser assinalados: " q u a n d o se c o m p a r a a renda de u m a g r i c u l t o r à de u m a s s a l a r i a -do, é n e c e s s á r i o c o n s i d e r a r o f a t o de q u e este ú l t i m o p o d e c o n s a g r a r a q u a s e t o t a l i -dade de sua r e n d a à c o m p r a de bens de consumo, d u r á v e i s o u n ã o d u r á v e i s , e n -quanto que o a g r i c u l t o r e s t á r e s t r i t o a consagrar u m a g r a n d e p a r t e de seus r e c u r sos à c o m p r a de bens de e q u i p a m e n t o n o -vos" (12:118); " a n í v e l i g u a l de r e c u r s o s , as famílias de a g r i c u l t o r e s p o u p a m sensi-velmente m a i s " (3:147).
A F A O , r e c o n h e c e n d o o p a p e l i m -portante que a p o u p a n ç a p o d e desempe-nhar, r e c o m e n d a : q u e as i n s t i t u i ç õ e s de crédito e os o r g a n i s m o s c o o p e r a t i v o s se-jam dotados de estruturas p a r a e n c o r a j a r as contas de p o u p a n ç a ; q u e estas c o n t a s se beneficiem de c o n d i ç õ e s a p r o p r i a d a s , n o -tadamente de taxas de j u r o s atraentes e m relação à s taxas a p l i c á v e i s aos e m p r é s t i -mos p a r a os a g r i c u l t o r e s ; q u e a c o l e t a d a p o u p a n ç a seja l i g a d a , se p o s s í v e l , à c o -m e r c i a l i z a ç ã o d o s p r o d u t o s ; e q u e os es-forços a f i m de e n c o r a j a r a p o u p a n ç a se-jam intensificados nas é p o c a s d o a n o e m que o a g r i c u l t o r d e t e n h a a r e c e i t a p r o v e -niente d a v e n d a de s u a p r o d u ç ã o (9:6-7).
F i n a l m e n t e , m e s m o c o n s i d e r a n d o - s e o e s f o r ç o de p o u p a r q u e c a r a c t e r i z a as de-cisões n o setor r u r a l e, a c i m a de t u d o , a i m p o r t â n c i a desta p o u p a n ç a , tornase i n dispensável u m s u p l e m e n t o a t r a v é s de o u -tros recursos, p r o v e n i e n t e s d o c r é d i t o , quando se pretende assegurar u m p r o c e s -so d i n â m i c o d o setor a g r í c o l a .
3.3. Riscos, expectativas e bem-estar
A c e i t a n d o s e q u e o c r é d i t o r u r a l p o -de c o n s t i t u i r u m m e i o i m p o r t a n t e -de e s t í m u l o à s a t i v i d a d e s d o setor r u r a l , devese a i n d a c o n s i d e r a r q u e certos f a t o res p o d e m m o d i f i c a r as p o s i ç õ e s das c u r -vas de o f e r t a e de d e m a n d a d o c r é d i t o .
P r i m e i r a m e n t e , deve-se r e c o n h e c e r que os a g r i c u l t o r e s t e n d e m a t o m a r d e c i -sões e c o n ô m i c a s r a c i o n a i s . E l e s p r o c u r a m
t o m a r e m p r é s t i m o s q u a n d o a t a x a de r e n -tabilidade d o s i n v e s t i m e n t o s p r o j e t a d o s tende a ser s u p e r i o r à t a x a de j u r o s e x i g i d a pelas i n s t i t u i ç õ e s c r e d i t í c i a s .
T o d a v i a , considerese q u e o f u n c i o -namento destas t r a n s a ç õ e s n ã o a c o n t e c e de f o r m a t ã o s i m p l e s . O s seguintes ele-mentos t a m b é m a t u a m : de u m l a d o , a a v e r s ã o d o agente f i n a n c e i r o d i a n t e d o risco e, de o u t r o , a a v e r s ã o a o r i s c o d o t o -m a d o r p o t e n c i a l de e -m p r é s t i -m o s . C o -m o resultado, p o d e a c o n t e c e r u m r a c i o n a mento p o r p a r t e d o s o r g a n i s m o s f i n a n c e i -ros (oferta l i m i t a d a ) o u d o s a g r i c u l t o r e s (demanda l i m i t a d a ) .
N o que se refere à d e m a n d a p o r c r é dito, n e m s e m p r e os i n v e s t i m e n t o s a t i n -gem o p o n t o ó t i m o , t a l c o m o s e r i a deter-m i n a d o p e l o c á l c u l o e c o n ô deter-m i c o . E deter-m cer-tas s i t u a ç õ e s h á e r r o s de i n v e s t i m e n t o e excessos, s o b r e t u d o se as taxas de j u r o s f o r e m atraentes. O u t r o s a g r i c u l t o r e s s ã o guiados p o r u m c o m p o r t a m e n t o de p r u -d ê n c i a e p a r a m -de i n v e s t i r b e m antes -d e atingir o p o n t o ó t i m o .
U m o u t r o a s p e c t o i m p o r t a n t e d i z respeito à i n c e r t e z a r e l a c i o n a d a a a l g u n s f a tores: as c o n d i ç õ e s c l i m á t i c a s , as p o s s i b i -lidades de d o e n ç a s n o s vegetais e a n i m a i s e, e n f i m , a e x t r e m a v a r i a b i l i d a d e d o s p r e ç o s a g r í c o l a s q u e p o d e a c a r r e t a r o s c i l a -ções de receitas.
É e v i d e n t e q u e este p r o c e d i m e n t o b a n c á r i o p o d e ter d i v e r s a s c o n s e q ü ê n c i a s . P o r e x e m p l o , os g r a n d e s p r o p r i e t á r i o s de terras e g r a n d e s e m p r e s á r i o s p o d e m ser f a v o r e c i d o s ( 7 : 18-19).
O u t r o s a s p e c t o s q u e a n i m a m os a g r i cultores e m suas d e c i s õ e s de t o m a r e m p r é s t i m o s t a m b é m d e v e m ser c o n s i d e r a -dos. P o r e x e m p l o : a r e d u ç ã o d o s s e r v i ç o s penosos, a c o m o d i d a d e d o t r a b a l h o e o p r e s t í g i o ( 3 : 1 4 5 ) .
M á q u i n a s m o d e r n a s p o d e m p o s s i b i l i -tar a r e d u ç ã o d o s c u s t o s d e m ã o - d e - o b r a e a e x e c u ç ã o d o s t r a b a l h o s m a i s r a p i d a m e n -te e c o m m e n o s s a c r i f í c i o s .
O desejo d e i n d e p e n d ê n c i a e x p l i c a certas d e c i s õ e s d o s a g r i c u l t o r e s q u a n t o à c o m p r a de u m a m á q u i n a , q u a n d o o e m -prego e m c o m u m c o m o u t r o s a g r i c u l t o r e s o u a l o c a ç ã o p o d e r i a m c o n s t i t u i r a l t e r n a -tivas m a i s e c o n ô m i c a s .
C e r t o s a g r i c u l t o r e s p o d e m efetuar grandes i n v e s t i m e n t o s e m b u s c a de p r e s t í g i o n a c o m u n i d a d e . É o c a s o , p o r e x e m p l o , d a c o m p r a de t r a t o r n o v o .
A s s i m , p r o c u r o u - s e e v i d e n c i a r certos fatores q u e d e t e r m i n a m , c o m m a i o r o u m e n o r i n t e n s i d a d e , o c o m p o r t a m e n t o d o s agricultores n o q u e se r e f e r e à d e m a n d a p o r c r é d i t o s .
C A R D O S O , J . L . — The role of rural credit in the process of development. Perspectivas, São Paulo, 6:109-114, 1983.
ABSTRACT: The objectives of the present work are to analyse contríbutions of rural credit in the process of agricultural development and factors which affect demand for rural credit in this process.
KEY-WORDS: Rural credit; development; capital formation; rural saving; technology.
R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S 1. B A D O U I N , R. — Economie rurale. Paris,
Libr. Armand Colin, 1971.
2. B A N C O C E N T R A L D O BRASIL — Crédito rural: dados estatísticos — 1981. Brasília, Departamento do Crédito Rural, 1982. 3. B E R G M A N N , D . — Politique agricole:
struc-tures — introduction générale; population et travail; capital et financement. Paris, 1975. t.2 (Série Economie et Sociologie Ru-rales).
4. CAÍSSE N A T I O N A L E D E C R E D I T A G R I -C O L E — L'agriculture française et son financement. Paris, Dossier C N C A , 1978. (Assemblée Générale de la C N C A ) .
5. C A Í S S E N A T I O N A L E D E C R E D I T A G R I C O L E — L'endettement de Vagricul-ture française. Paris, Dossier C N C A , 1978. (Assemblée Générele de la C N C A ) .
6. C A R D O S O , J . L . — - Analyse de 1'évolution du crédit agricole au Brasil. Montpellier, Fa-culte des Sciences Economiques de l'Uni-versité de Montpellier I, 1980. (Tese-Doutoramento).
7. C A R D O S O , J . L . & N O R O N H A , J . F . — Crédito rural em condições de diferentes níveis tecnológicos. P i r a c i c a b a , E S A L Q / U S P , 1978. (Série Pesquisa, 39).
8. L E C R E D I T agricole chez les neuf: une selecti-vité de plus en plus dure. Agra-Europe (997):l-3, 1978.
9. F A O . Le crédit agricole en faveur du développment. C O N F E R E N C E M O N T -D I A L E S U R L E C R E -D I T A G R I C O L E A U X PETITS E X P L O I T A N T S D A N S LES P A Y S E N V O I E D E D É V E L O P P -M E N T , Roma, 1975.
10. F I N A N C E M E N T de 1'agriculture. Agriculture dans le Monde, (1): 12-22, 1976.
11. F U N D A Ç Ã O INSTITUTO BRASILEIRO D E G E O G R A F I A E E S T A T Í S T I C A — Anuário estatístico do Brasil — 1981. Rio de Janeiro, 1982. v.42.
12. K L A T Z M A N N , J . — Les politiques agrícoles: idées fausses et illusions. Paris, P U F , 1972.
13. P A D M A N A B H A N , K. P. — Les industries villageoises dans le développment rural: la stratégie indienne. Ceres: revue de la FAO sur 1'agriculture et le développment, 76:15-9,1983.
14. S A M U E L S O N , P . A . — Introdução à análise econômica. 8.ed. Rio de Janeiro Agir, 1975. v . l .