OCORPOEASDIFERENTESFORMASDOADOECERHUMANO Ohomemnuncaseconformoucomafatalidadedadoença;ao contrário,combativo,elevembuscandomeiosparaenfrentá-la evencê-ladesdeoiníciodacivilização—rituaisreligiosos, magias,ervasterapêuticas,sugestões,xamãsemuitosoutros recursosforameaindasãobuscadosnumatentativadeescapar deumdesfechoàsvezesinevitável.Nessecontexto,surgea Psicanalista,
membrodoCírculo Psicanalíticode MinasGerais; mestreem Psicologiapela UFMG.
MariaCarolinaBellicoFonseca
RESUMO:Trabalha-se com a hipótese de que o trauma provoca umainvasãoderealquepodesercontidapeloFPSque,aofazê-lo, torna-seelemesmoumpontodecondensaçãodegozo.Paraisso, elabora-seocorpoeoadoecerapartirdaPsicanálise.Faz-se,em seguida,umabreverevisãodateoriadotraumadentrodasteorias freudianaelacaniana,marcandosuaimportânciaparaaocorrência dalesão.Naseqüência,aborda-seoFPSnavertentedosignificantee dogozo.Porfim,considera-seahipótesedeoFPSserumremendo nofurocausadopelotraumanateladafantasiaounodelírio.
Palavras-chave: Psicanálise, trauma, Fenômeno Psicossomático (FPS),fantasia,delírio.
ABSTRACT:Fromthetraumatothepsychosomaticphenomenon (PSP)—dealingwiththemeaningless?Thehypothesisoftheauthor isthattraumaprovokesaninvasionoftheRealthatcanbestopped bythePSP.Becauseofthat,itbecomesthecondensationpointof jouissance.Thetextstartstakingalookaboutthebodyandthe diseasesinapsychoanalyticalapproach.Itgivesashortrevision of the trauma’s theory in Freud and Lacan Works, emphasizing its importance for the occurrence of the lesion. An articulation ofthePSPwiththetheoryofthesignificantandthejouissanceis proposed.Atlast,theauthorconsidersthehypothesisthatPSPcan beapatchinthepuncturecausedbytraumaonthefantasyscreen orinthedelirium.
Medicinaquevem,desdeHipócrates,seaperfeiçoandoemdarrespostasecriar terapêuticasquepromovamcuras,aliviemdoreseadiemamorte,mitigandoo sofrimentohumano.Contudo,háalgonumaformadeadoecerquelheescapa por extrapolar os limites do organismo, por se relacionar ao sujeito e não a vírusebactérias,porestaralémdodiscursocientificista.Eéaquiqueentraa abordagempsicanalítica.
AocontráriodoqueocorrecomaMedicina,emPsicanálise,aabordagem queéfeitadosujeitoédiferente—naprimeira,eleéfalado,enquantoque,na segunda,eleéescutadoedesnudadonomaisíntimodeseuser;aquiodesejose esboçaparaalémdeumademandadetratamento.AMedicinaopera,pois,com osaberlógicoeformaldaciência,enquantoapsicanáliseoperacomaescutado Inconsciente.Saberesdiferentes,porémoperaçõesquepodemsesomar.
SeparaaMedicinaocorpoéumamáquina,umorganismoquepodeser abordado,manipulado,dissecadopeloolhardaciência,paraaPsicanáliseele éumorganismoerogeneizado,marcadopelapulsãoepelalinguagem,ambas inseparáveis, como numa banda de Moebius. Mesmo antes do nascimento, quandoumserviventeédesejadoesonhado,elejáexistenoimagináriodos pais,quelheatribuemsignificantesesignificadosqueinterferirãoemsuacons-tituiçãofutura.Nosprimeirosanos,essecorpoémarcadolibidinalmentepelos cuidadosmaternosepelodesejoparental;sóaospoucosoindivíduovaidele seapropriando.Dessaforma,oadoeceraosolhosdaPsicanáliseédiferentede aosolhosdaMedicinapormanifestar-senãoapenasnumorganismo,masnum corpomarcadopelalinguagemepelapulsão.Podemosdizerqueestadiferença jápodeserobservadaemseusprimórdios,desdeaépocaemqueFreudcon-segueescutarnosofrimentodashistéricasomurmúriodedesejosadvindosde umainstânciadesconhecidadoeu—oInconsciente—enquantoaMedicina sóouviaopitieodesconsiderava.
Poroutrolado,énocampodaMedicinaquealgodiferentenoadoecerdo corpofoisedestacando,nãoapenasapartirdeFreud,comomuitosgostariam deacreditar,masdesdeosprimórdiosdestaciênciaquandosepensavanainter-ferênciada“alma”nosujeito.Porém,apenasemmeadosdoséculoXIX,antes do advento da Psicanálise é que surge Heinrotz, um psiquiatra alemão, que reconheceuainfluênciadas“paixões”emalgumasdoenças.Elefoioprimeiro a utilizar o termo Psicossomática, sendo considerado por muitos o pioneiro nessecampo.Outrosvieramdepoisdelesustentandoaimportânciadosafetos noadoecer.
asneurosesatuais(neurosedeangústia,neurasteniaehipocondria).Ribeiroe Santana(2003)chegamaafirmarqueFreuddeixa,pormeiodasneurosesatuais, umgrandelegadoparaoestudodosfenômenospsicossomáticos:“teorizaro sintomasomáticocomooprodutodaangústia—semamediaçãodarepressão —,ocaráteratualdaetiologiaeosintomacomoconseqüênciadanãosatisfação dalibido”(RIBEIRO&SANTANA,2003,p.140-141).Aimportânciadaangústia nessesestudoséinegável;elairromperiamedianteaimpossibilidadedaformação deumsintoma,trazendodesamparoaoeu.
Analistasdediferentesescolasseinteressarampelotema,todavia,algunsentre estescederamàtentaçãodetratartodaformadeadoecimentopsicossomático comoformaçãosintomáticacomraizinconsciente,comumsentidopsíquico, algopróximoàformaçãodesintomanasneuroses.Emalgumasformasdeadoe-cimento,pode-sefazertalcorrelação,masháumtipoespecíficodeadoecer,cuja essênciaestásemprealhures,impossíveldeseralcançadaintelectualmente,que étratadocomoumfenômeno—oFPS(fenômenopsicossomático).Eledifere dosintomapornãoterestruturametafórica.São
“fenômenosestruturadosdemodobemdiferentedoquesepassanasneuroses,a saber,ondehánãoseiqueimpressãoouinscriçãodiretadeumacaracterística,e mesmo,emcertoscasos,deumconflito,noquesepodechamaroquadromaterial queapresentaosujeitoenquantosercorpóreo”.(LACAN,2002,p.352)
AlgunsseguidoresdeLacancolheramestaseoutraspoucasidéiasqueesse autordeixousobreapsicossomáticae,apartirdelas,desenvolveramumateo-rizaçãoprópria.Taisidéiasnorteiamopresenteartigo.
OFPSéaquitrabalhadocomoumadasmanifestaçõesdoreal.Diferentedo sintoma,queinscritonoregistrosimbólicorevelaodesejoinconsciente,oFPSé umamostraçãonãopassíveldeserdecifradapelosignificante,pontodeangústia sobreoqualoindivíduonãopossuiumsaber.Enquantoosintomaseinscreve nadimensãodametáfora,dentrodacadeiadesignificantesquedeslizadeacor-docomasignificaçãofálicaeseendereçaaalguém,oFPSinscreve-se,como serávistoadiante,nadimensãodaholófrase,foradequalquersignificação,sem nenhumendereçamento.Eletambémsediferenciadesomatizaçõesjáque,ao contráriodestas,acarretalesõescomasquaisosujeitonãosevêimplicadoeàs quaisnãoatribuisentidoouqualquertipodeinterpretação,comoocorrecomas somatizações:“minhadordecabeçaéessecasamento”...“aquiloquenãoconsegui dizermeembrulhouoestômago”,etc.NoFPSocorreassimumcontornamento dosimbólicoealgodorealfazincidênciadiretasobreocorpo.
outroéacionadoporumsignificantequetemefeitotraumáticosobreosujeito eépassíveldetratamentopelosimbólico,ouseja,épossívelanós,comoana-listas,tratá-locomonoséindicadopelopróprioLacanemsua“Conferênciaem Genebra”(1998b).
MasoquepoderialevaràocorrênciadeumFPS?Épossívelfalaremgênese deumamanifestaçãodoreal?Gênesesupõerelaçãodecausaeefeito,naqual umelementodásentidoaooutro,oquenãoseaplicanessecaso.Mas,porou-trolado,autorescomoMillereValasestabelecemdeformainteressanteuma relaçãoentreosurgimentodoFPSeotraumademodosemelhanteàneurose, mascomadiferençadenãoocorreraintermediaçãodosimbólico:“noque concerneaopsicossomáticoprecisamente,tentamosdarvaloraoefeitotraumá-ticodealgumacontecimentoquenãofoitraduzidoquantoaosimbólico,mas que,emcurto-circuito,marcaocorpo”(MILLER,1999,p.23);ouainda“tudo sepassariadecertomodocomoseosujeitosentisseaimposiçãosobresidas significaçõesconfusasdodiscursodoOutroque,àforçadeserepetir,causaria trauma”(VALAS,1990,p.83).
AcreditoqueestasejaumamaneirainteressantedesepensaroFPS—algo dorealdotrauma,escapandoàsleisdalinguagem,nãosendotraduzidoem palavrasesemanifestandocomoumamostraçãonocorpo.Istoéaomesmo tempointeressanteeperigoso,poissecorreoriscodesecairnasmalhasdo conceitodesintoma,deseestabelecerumarelaçãodesubstituiçãonumacadeia naqualossignificantesdeslizam,eentreosseusintervalossurgeosujeitodo inconscienteeodesejopodeserpinçado.NadamaisavessoaoFPS...Trauma, pontodurodereal...Aceito,comoessesautores,essedesafioetentarei,apartir deles,desenvolverestasidéias.
DOTRAUMAAOFPS
Trauma,esteconceitotãocaroàPsicanálisedesdeseusprimórdios,épocaem queosexualeraproibidoevelado,continuaemvogaaindahojequandoosexo ébanalizado,veiculadopelamídia,vendidocomomaisumgadgetdodiscurso capitalista.Todosfalamdeocorrênciasditastraumáticas,querendodizercom isso que algo marcou profundamente um sujeito levando-o a sentimentos e comportamentosinusitados;algoqueésempreexternoequeporissomesmo desresponsabilizaosujeitotornando-osemprevítimadoinfortúnio.Grandes mudanças se operaram na sociedade, nos costumes, mas o ser humano, ou melhor,oserfalanteseguetraumatizadoe,apesardetodaabadaladaliberação sexualdaeracontemporânea,pode-sedizerqueseguerecalcado,forcluídoou denegado.
comoasvivênciasdecastração,donão-ser,doserdividido.Vivênciasdeumreal inexorável,quenãopodemserevitadasouantecipadas,nasquaisestáimplicado certamenteoOutroeseudesejoindecifrávelqueexcluiosujeito.Quersejapor eventospsíquicos,quersejaporcatástrofesnaturais,sãosempre“desgraças”que lhecaemnacabeça,comonoslembraSoler(2004).Alémdeexcluído,continua aautora,cabeaosujeitocarregarasmarcasdeixadasporumtraumaaoqualnão pôdereagir,contraoqualnãotevecomolutar.Essanoçãodeexclusãodosujeito trazidaporSolerindicaqueelesaidecenaquandoétomadodeassaltoporuma vivênciadetrauma.Aliás,anoçãodeexclusãoéimportantenodesenvolvimento dopresenteartigoporquedefendoaidéiadesenvolvidaporautoreslacanianos deque,diferentementedosintoma,oFPSencontra-seforadesubjetivação,ou seja,osujeitonãopodedeleseapropriar,permanecendoalheio,oumelhor,não implicadoemsuaocorrência.
EmFreudoconceitodetraumaperpassatodooseupercursoteórico.Nos primeirostextos,essaconcepçãoéabordadacomo“umincrementodaexcita-çãonosistemanervoso”(FREUD,1892/1975,p.197),medianteoqualnãose temaçãooupalavrasquepermitamsuadissipação;eleé,aprincípio,ligadoao factual,maslogoesseautorsedácontadeque,portrásdashistóriascontadas porseuspacientes,hámuitodefantasiaepassaaseinteressarmaispelotexto quelheétrazidodoquepelocontextorealpretendido.Poroutrolado,elejá haviadescobertoqueatemporalidadedotraumaéadosó-depoisoudo aposte-riorinaqualocorreavalidaçãodeumaimpressãoquenãopôdesersignificada nomomentodesuapercepção,masquefoifixada,retornandoposteriormente emoutroseventos.
Maistarde,em1920,aoutilizaremsuaconcepçãodoaparelhopsíquicoa metáforaextraídadaEmbriologiade“vesículaviva”,cujacamadamaisexterna setransformaemumescudoprotetor,Freuddiráquesãotraumáticosaqueles estímulosqueatravessamestacamada,esteescudoprotetor,oqueocorreria devidoàfaltadepreparodoeueaosfatoresdesurpresaesusto.Posteriormente, em1925,eleassociaráotraumaàidéiadaangústiacomoumsinalereaçãoa este,quetrariaaoegoumaexperiênciadedesamparo.
Destaco, aqui, o fato de Freud articular o trauma com a época em que a criançaestácomeçandoafalar,pois,comoalinguagemaindanãofezsuaen-trada,nãoficamlembrançasnoinconsciente,mastraços.Tambémgostariade chamaraatençãoparaadescriçãodotraumacomo“experiênciasnocorpodo indivíduo”—corpoquetomaránota,queregistraráoqueaconteceu;corpo queficarámarcado,mas,comonareferênciaao“BlocoMágico”(1925[1924]), nadaserápercebidonasuperfície,essestraçosficarãoregistradosnumacamada maisprofunda.
Freud,no“EsboçodePsicanálise”(1940[1938])),aindaconcluiarespeitoda universalidadedotraumaesobreasrepressõesquetaisexperiênciasoriginam. Ateorialacanianareafirmaessauniversalidade,mas,demaneiradiferente:trau-máticaéaprópriaentradanalinguagemqueocasionaráaordenaçãodegozo, aregulamentaçãodogozoremanescenteeaimpossibilidadedeacessoàCoisa. Dessaforma,todoserfalanteétraumatizado,issoéfatodeestrutura.
NoSeminário11,otraumaéconceituadoporLacancomoaquiloqueháde inassimilávelnorealdarealidadesexual.Emminhaopinião,esseinassimilável écorrelativoao“umbigodosonho”descritoporFreudnocapítuloVIIda“In- terpretaçãodossonhos”(1900):“trechoquetemqueserdeixadonaobscuri-dade”[...]“emaranhadodepensamentosoníricosquenãosedeixadesenredar” [...]“pontoondeelemergulhanodesconhecido”.(FREUD,ediçãoeletrônica). Mas,poroutrolado,esseinassimilávelpodeproduzirefeitoseafetos,plenosde angústia,quedesorientamosujeito,arrancando-odacenasimbólicaaotirar-lheaspalavrasdaboca.Restaaosujeitocriar,construirumsaberpossívelque, aomesmotempoquebordejaohorrordessavivência,dandoalgumavazãoao afetoaprisionado,apontaparaela.Afantasia,tidaporLacancomo“janelapara oreal”porestarentreorealeosimbólico,éumapossibilidadedepôrfimà vivênciade‘não-ser’,de‘não-ter’desejo,trazidapelotrauma.Masexistemoutras possibilidadesmenossaudáveiseoadoecerestáentreelas.
Aquilodotraumatismoquenãoéassimiladopelopsiquismodeixatraços fixados (Fixierung) que mais tarde, por associação, são assimilados a outras experiências,encontroscomorealquesãoressignificadosenquantotraumaa posteriori.Éavivificaçãodovelhosedandopormeiodarepetiçãosignificante,e issoocorredemaneirasdiferentescomcadasujeito,emmomentosdiferentes desuavida,daíacontingênciadesuaocorrência.Mascomotraçoselestêm tambémumpontodenão-assimilação,denão-significação,pontosenigmáticos queafetamoindivíduopodendolevá-loaopadecimentoeàdoença.
nãotraduzidospelosimbólicoqueengendramalesão.Essalesãoéprovocada, induzida,porumsignificante(induçãosignificante)quevemdoOutro,por algoobscuronodiscursodoOutroqueétraumáticopornãoserassimilado. Alesãoé,pois,umaconstruçãonãosimbólicaescritanocorpo,respostado sujeitoemudecidoaotrauma.
Consideroqueessasinscriçõesdotraumaquetêmcomoumpossívelefeitoo FPS,sãoanterioresaoregistroinconsciente,comose,tambémaqui,fossepossível sefalardeum“umbigo”damesmaformacomoFreudofezcomrelaçãoaosonho —deumpontoduroinassimilável,atémesmopelaausênciadeumrepresentante psíquicoparaeleepelaexclusãodosujeitodoinconscienteimplícitanessasins-crições.Algoquetrazvivênciasdaordemdonecessário,portrazeremindíciosde invasãodereal;experiênciascujasdimensõesultrapassamoslimitesdosimbólico, apagandoosujeito,ou,numalinguagemmaisfreudiana,trazendoodesamparo eaangústiamortíferaquetocamocorpo,pontoúltimodeancoragemantesda dissoluçãopsíquica.Vivênciasnasquaisfaltampalavrase,algumasvezes,sobram passagensaoato,ou,comonocasodoFPS,passagensaocorpo.
UMACORRELAÇÃOPOSSÍVELENTREFPS,TRAUMAELETRA
ParaLacan,aletraéosignificantedescoladodequalquersignificado,litoralentre saberegozo(Seminário20).Aoqueparece,algoéinscritonopsiquismodoser falante,pelalinguagemdoOutro,nummomentotãoprimitivoqueseapaga; algoquenãotemrepresentaçãopsíquica,comonosdiriaFreud,masquerisca, ficandoilegível,masaindaassiminscritoemsulco,marcandoeproduzindo efeitos;inscriçãoque,decertaforma,traçaumaborda,circunscrevendooirre-presentável.Ora,emminhaopinião,issoseaproximadateorizaçãofreudiana sobreas“cicatrizesdoego”deixadaspor“impressõesdetraumasprimitivos”, eascorrelacionoaoFPScomoquestõesdasquaiseleéaresposta.OFPSpode, dessaforma,serconsideradocomooefeitotraumáticodaletranocorpo,um tipodeescrita,oumelhor,derasura,umpontoduro,umosso,semexplicação, umhieróglifo,umtextoescritopelocorpoenocorpo,demaneirailegível, produzindoseusefeitos,entreelesodecondensaçãodegozo,debarraàpulsão; saídaplausívelperanteaameaçaderupturadopsiquismotrazidapelavivência dotrauma.Umarespostapossível,contingencialporfatoresgenéticosedavida dossujeitos.Umapossívelsaídaparaoinsuportáveltrazidopelotrauma.
OFPSNAVERTENTESIGNIFICANTEENAVERTENTEDOGOZO
ParasustentaraidéiadesenvolvidaporalgunsautoreslacanianosdoFPScomo umaescritasemsentido,comovenhofazendoatéentão,faz-senecessáriotra-balhardentrodavertentedosignificanteoconceitodeholófrase,umavezque éelaaresponsávelpelafalhadesignificaçãonessesfenômenos.
Holófrase,essetermoobscuro,emLingüística,refere-seaumenunciadoque condensaumasentençaquecarregaumsentidoouumaintençãodoemissor.Em Psicanálise,otermoéintroduzidoporLacan(Seminário11 )parasereferiràcon-densaçãodoprimeiropardacadeiadesignificantes(S1–S2)quepassaaformar
umgel,umamassa.Sabemosqueéoespaçoentreossignificantesquepossibilita osurgimentodosujeitoedoobjetoa ,causadedesejo;havendoholófrase,are-presentaçãodosujeitoporumsignificanteaosignificanteseguintenãoocorree asoperaçõesdealienaçãoeseparaçãonãoserealizam.DeacordocomLacan,tais operaçõessãoresponsáveispelarealizaçãodosujeitonolugardoOutro;elassere-petemaolongodavidadosindivíduos,emsuasrelações,comonumapulsação,nas operaçõesdeinterseçãoeseparaçãodedoiscampos—dosujeitoedoOutro.
Inseparáveis,aalienaçãoeaseparaçãoocorremquasequeinstantaneamente, eatravésdelassefazpossívelainstauraçãodosujeitodoinconsciente,ousujeito dodesejo.Estecaidoespaçoentreosdoisprimeirossignificantesdacadeia, dividido e desejante, mas para que isso ocorra é necessário que haja espaço entreS1eS2,énecessárioquenãohajaholófrase,pois,casocontrário,elenão
caificandocoladoaosignificanteholofrásico.Napresençadeholófraseocorre asuspensãodafunçãosignificantecomotal(ausênciadadimensãometafórica), comgrandeprejuízoparaoregistrosimbólico.
Stevens(1987)chamaaatençãoparaofatodeaholófraseseralgo“informu-lávelparaosujeito”quedeixanãointerrogávelodesejodoOutro(p.71),Outro queseapresentacomonãobarrado,nãodesejante.Aimpossibilidadedecapturar odesejodoOutroimplicaaimpossibilidadedesurgircomoumserdesejante; assimosujeitonãoseafaniza,nãosesepara,ficandoalienadonesseOutronão barrado.IssoremeteàausênciadaMetáforaPaternaedoNome-do-Pai,opera-doresteóricosqueLacanintroduzparaabordaressetempodoÉdipo,noqualo Pai,oualguémemsuafunção,barraamãeeofilho.
emcertossítiosdodiscursoenãoemoutros”(p.48),posicionamentoesteque seassemelhaaodeNasio(1993)quevaisereferirnessescasosà“foraclusão comomecanismolocal”(p.60).
Lacan,emsuaConferênciaemGenebra(1975/1998b),refere-seà psicosso-máticacomoalgodaordemdoescrito,dohieróglifo,oqual,emmuitoscasos, nãosabemosler,oquepodesercompreendidocomoumescritoparanãoler (pas-à-lire).Trata-sedeumregistroquenãosedirigeaninguém,apenasuma notação,numdeterminadopontododiscursoou,comoachomaisinteressante dizer,umamostração.
Seguindoestaseoutrasidéiaslacanianasarespeitodapsicossomática,prin-cipalmentenessaConferênciaenoSeminário11,oFPSécomparado,pordiversos autores,aotraçounário,signatura,nomepróprio,hieróglifo,cartucho.Areferência aotraçounáriosejustifica,umavezqueoFPSapontaparaaquiloquetemde ranhura,marcadoOutronoserdesujeitonaqualaslesõesseriamumaforma deapresentaçãodesseOutro.Areferênciaasignaturarerum(assinaturaquetraza essênciadetodasascoisas)éfeitaporLacanem1975,numaclaraalusãoaoFPS comoumenigmadorealcomparávelaohieróglifooucartucho(moldurana escritahieroglíficaquecontinhaonomedeumsoberano)—ocorpofuncionaria comoamoldura(cartucho)dessaformadenomepróprio,denomedosujeito, queéoFPS.ParaLaurent(1990),noFPSonomepróprioéfeitocomogozo, nomecompostocomumciframentoparticulardegozo.
Acreditoqueéimportanteressaltaraquiestacomparaçãocomohieróglifo, umavezqueeleéumaescritaque,pormuitotempo,permaneceuparaosestu-diososcomoenigmaimpossíveldesercompreendidopoisnãohaviareferenciais paradecifrá-la.Isso,atéadescobertadapedradeRoseta,ondeestavagravadoum textoescritoemduaslínguasconhecidaseemhieróglifo.Pormeiodoestudo comparativoentreaslínguasfoipossívelaChampollionefetuarsuadecifração. Ouseja,comoohieróglifo,oFPSsedáalernumaescrituradesconhecidado simbólico,numaescritadoreal,daíadificuldadedadecifraçãohabitualquese fazcomoauxíliodesignificantes.Escritaque,paraLacan,sefazemnúmeros, queciframogozo,numacontagemabsolutaquemarcasuasirrupçõesnocorpo dosujeitoemsurtosinesperadosesucessivos,comonumapulsaçãodemorte. Osujeito,semcompreenderodesejodoOutroquelheéenigmático,sesubmete aumimperativodeseugozo,gozoquefazretornonaquiloquedeveriasero desertodocorpo.Esseautornosadverte,comoveremosnofinaldestetexto, queépelaviadogozoqueéprecisoabordá-lo.
formadelaço,deamarraçãodessaenergia.Mediantearupturadosemblante peloefeitodetrauma,eleseriaumapossibilidadedeenlaçamentodessegozo realnocorpo,textoescritonocorpo,pelocorpo,demaneirailegível,escrita dereal,queproduzentreosseusefeitosodecondensaçãodegozo,debarraà pulsão;umasaídaplausívelperanteaameaçaderupturadopsiquismo.Saída possívelàdesorganizaçãoqueestainvasãotrazaoserdesujeito,pois,aopromo-verumacondensaçãodegozo,oFPSimpedequeestesealastrenoorganismo, comoocorrenapsicose,porfuncionarcomoumtipodelaço,deamarração comarealidade.
NoFPS,essegozosemostraporintermédiodaslesões,dacarnemarcada —uma“libradecarne”parapagarpelafalhasignificante.Medianteumencontro traumático,contingente,comoreal,ocorreumretornodegozonocorpoqueé circunscritopelaslesõesqueprovocam,assim,o“enlouquecimento”doorga-nismo.Comisso,acreditoqueoFPSpromovaoenlaçamentocomarealidade, permitindoumanomeação,oumelhor,umapelidoparaosujeitopormeioda doença(jáquetalnomeaçãonãosefazpormeiodalei),medianteessavivên-ciaimpossíveldonão-ser,do“estarsemchão”,trazidapelotrauma.Issopode serpercebidoemcasodepsicose,noqualoindivíduoalternasurtosdedelírio oualucinaçõescomlesõespsicossomáticas,mastambémpodeserpercebido, emalgunscasosdeneurose,noarrefecimentodossintomasquandoocorreo adoecimentodocorpo,umavezqueesteprovocauminvestimentonarcísicono órgão.Issonãoquerdizerquenãoocorrahorroreatémesmopânicomediante asmanifestaçõessomáticas.Aqui,oarrebatamentopelogozosedátambémpelo sofrimento,sofrimentomostradonocorpo.
com uma criança pequena diante do espelho. Sua angústia continuou, mas agorajátinhaumnomeeele,enfimescutadoporalguém,pôdeporfimaceitar aindicaçãodeumaanálise.
UMAPROPOSTADECOMPREENSÃODIFERENTEDOFPS
Esteestudomelevouaalgumasarticulaçõesquenãoencontreiemnenhuma referênciabibliográfica.Trata-sedeumamaneirapessoaldepensaroFPS,tema dedifícilabordagem,relacionando-oaosefeitosdotraumaeaumapossível funçãonaestabilizaçãodosistemapsíquico.Vimosqueosautoresqueteori-zamaesserespeitofazemusodeanalogiasdiversasparaexplicaroFPS:traço unário,hieróglifo,cartucho,nomepróprio.Gostariadeacrescentaraanalogia deum‘remendodetela’dafantasiaoudodelírioosquaispodemromperapós umencontro(quecomovimosésempreumreencontro)comoreal.Escolhi oremendoenãoasuturapelofatodeoprimeirodaraidéiadealgopostiço, quenãoencaixacompletamente,quesaltaaosolhosenãotampona.Comisso, querodizerqueorealnãopodeserdetodocontido,afantasiaeodelírionão podemfazê-lo,eoFPStambémnão.
Tantoafantasiaquantoodelíriopodemserpensadoscomoincidênciasdoreal nosimbólico,pertencendo,porém,aestruturasdiferentes.Podemosponderar queelestêmemcomumofatodeserem,aomesmotempo,teladeproteção dosimbólicoejanelaparaorealeseremresponsáveisporcertahomeostaseno funcionamentopsíquico.Seiquepodecausarestranhezaessaafirmaçãododelírio comoteladeproteçãodoreal,masestouoperandocomaidéiafreudianadeele serumatentativadecuraparaapsicose,umareconstruçãopossíveldarealidade apósodesmoronamento,odesenlaçamentodosujeitotrazidopormaisumsurto dereal.Masseporumladoafantasiaseconstróisobaégidedasignificaçãofálica, odelírio,poroutrolado,lheescapapornãoterofalocomoreferente.
AfantasiaéherdeiradorecalqueoriginárioqueapagaoS1,queporsuavez
recobreaCoisa.Elapoderiaserarticuladacomooresquíciodainsistênciada percepçãoque,aotentaratravessartodososneurôniosprotetoresdosistema psíquicoemformação,vaisetransmutando,sedepurando,ficandoemrestos... coisa,S1,traçounário,recalque,fantasia...delasótemosflashes
Nessesmausencontros,ogozopodesedesregulareromperateladafanta-sia,ameaçandoosujeitodoinconscientecomoapagamento,comoafogamento numtsunamideefeitosprolongados,senelenãopuderinterviroescoamento pelaviadosignificante.Masnestavivênciacontingencialde“perdadechão”, oqueocorre,entreoutrascoisas,éaimpossibilidadedevazãodaangústia pelalinguagem,brechaabertaparaoadoecimentodosujeito.Eéaquique entrariaoFPS—comoapossibilidadede‘remendo’dessatela,paraqueela nãoseesgarce,oquelevariaàintrusãodeumgozocompletamentedesregu-ladoporestarforadaordemfálica.Detecidodiferentedafantasia,queéfeita designificantes,oFPSsetornaumremendoesdrúxulo,quesaltaaosolhose denunciaaangústiaquedeveriaencobrir;porintermédio daslesõeselecon-densaogozo,setornandoumaformapossíveldetratamentodorealnesses sujeitos.Podeserditoqueelefuncionariaassimcomoumprotetordafantasia, como aquilo que impede sua ruptura ao conferir ao sujeito “desarvorado” pelotraumaapossibilidadedeumanovaidentidade,oqueserelacionariaa umpossívelfuncionamentodoFPScomoumdosnomes-do-paiqueimpede queosujeitocaiadacena.
Gostariadeutilizarumfragmentoclínicoparadiscutiressaformaparticular deteorização.Marina,20anos,buscaanáliseemdecorrênciadesentimentos defracassocausadosporforteinibiçãointelectualqueadeixaparalisada,“sem saberoquefazer”,semprequeéconvocadaadarmostrasdealgumsaberno trabalho,massobretudonafaculdade.Suamãe,perfeccionista,épercebidacomo impossíveldesersatisfeitaemsuaseternasexigências;elasemprecomparaa filhaaoirmão,tidocomo“brilhante”,eaumatia,poucomaisvelhaqueMarina, “todacertinha”.Ascobrançasmaternassãoatualizadaspelascobrançasdopatrão edeumprofessor“exigente”;frenteaelasMarina,empânico,étomadapor “brancos”eficasemtercomoresponder.Sem“saberoquefazer”,elasecoça reativandoumeczemacrônico,presente“desdesempre”emsuavida,resistente atodotratamentomédico(ocuriosoéqueatiatambémtemumaafecçãode peledomesmotipo).
ParaMarina,aexigênciamaternarepetidaeatualizadaétraumática;elafaz furonafantasiaconsoladoradepoderteralgumsabere“darconta”desuas coisaslançando-aaoabismodonada(nadapoderdizer,nadaentender,nada fazer)paralisando-a.Oeczematira-adesseabismoaotransferiracenaparao corpo — mediante a impossibilidade do recurso ao simbólico (ele falha, dá branco),ocoçaréaúnicaaçãopossívelaessamoça,aangústiaédessamaneira corporificadanaslesões(tantoquenaocasiãoquebuscouaanáliseelahavia interrompidootratamentopornãodesejar“engordar”).
odesejo,masimpedindoqueotraçadodestesedesvanecesse.Aofazê-lo,no entanto,elecolariaosdois,sujeitoeobjeto,nummonólitopassadoaocorpo. Eleentrariatantocomopossibilidadedeescoamentodecertogozo(asferidas incomodam,enfeiametrazemsofrimento)quantocomoumremendodesta telapelaviadaidentificaçãocomatia(amãequeriaqueelaseparecessecom atiaeelaofaz,pelaviadalesão).Comooentremetimentodosignificantese fazimpossíveldevidoàaçãodaholófrase(“terquefazercerto”),oFPSéuma possibilidadedecircunscriçãodogozoa“certossítios”docorpo,impedindo adevastaçãopelaangústia.Nessesentido,eleéumapossibilidadedeenlaça-mentodostrêsregistros,RSI,funcionandoaquicomoumdosnomes-do-pai. Elesustentariaosujeitoqueassimnãodelira,nãodesestrutura,apenasviveo sofrimento.
Algocorrelatoaconteceriacomodelírionapsicose.Comojádisse,noinício destaseção,odelírioemsiéumatentativadecuradapsicose(FREUD,1911), com eleosujeitofazumatentativadereconstrução,deorganizaçãodareali-dadeexterna.Ouseja,peranteodesenlacedosujeitodarealidade,dianteda invasãodorealnoaparelhopsíquico,elefuncionariacomoatentativadeum novolaço,sóquedelirante.ComonoslembraJorge(2004),eleéumatentativa depreencherafalhadeixadapelanãoentronizaçãodafantasia,umatentativa dereconstituiçãodamatrizsimbólicaporelarepresentada.Elenãodeixadeser umaformapossíveldetratamentodorealnapsicose,poisaomesmotempo em que barra o gozo ele permite que, através de suas formações delirantes, vestígiosdestecheguemaoindivíduo.Dessaforma,acreditoserpertinentea postulaçãodamesmatesequefoifeitaparaarelaçãodoFPScomafantasia,ou seja,ofuncionamentodestecomoumremendo—medianteapossibilidadede desestabilizaçãododelírio,queaquiestásendotratadonametáforaderuptura, devidoaumrecrudescimentodegozo,oFPStambémfuncionariacomoum remendolhetrazendocertaestabilização.Daíaocorrênciaclínicajácitadade sujeitospsicóticosalternaremsurtosdelirantescomausênciadelesões,esurtos psicossomáticoscomalgumalucidezecertoapaziguamento.
umsignificantetraumáticoparaosujeito,esteseapaga.Comeleapaga-seo quehádemaisestruturadonopsiquismo,afantasiaeodelírio—tratamentos simbólicospossíveisdoreal.
UtilizandoamesmametáforadeFreudparaoaparelhopsíquico,adavesí-culaviva,épossívelpensarque,medianteotrauma,ocorreumarupturaeuma invasãoderealqueécontida,decertaforma,peloFPS.Alesãoseria,assim,sua partemaisexterna,sua‘crostainorgânica’que,aomesmotempoqueapontapara orealpormeiodacondensaçãodegozo,impedequeeleinvadaopsiquismo. Audaciosamente,estoupropondoqueoFPSseriaumdostratamentosdadosao realdotrauma.
ValeapenaressaltarqueoestudodoFPSéumgrandedesafiodevidoàdi-ficuldadedeseterumateoriaespecíficaparaestetema.Autoresaquicitadose muitosoutrosvêmtrabalhandonaconstruçãodealgumsaberquepossabordejar essamanifestaçãodorealquesefazpresentenaclínicaequeresisteàapreensão. Dessaforma,pensoquetaistrabalhos,damesmaformaqueopresenteartigo, não têm a pretensão de apresentar uma solução teórica para esse problema, seriamantesbordejosdomesmo.
Enigmaparaosprofissionaisquedeletratam,horror,desgraçaouconsolo paraospacientesqueoportam,épossívelpensarqueoFPSadvémdeuma conjuntura: o encontro do necessário — real do trauma representado pela induçãosignificante(palavrasvenenosas)—comocontingente,representado porfatoresgenéticos,hábitosdevida,etc.Nessecaso,acontingênciatambém seriaevidentenaformacomoorealdotraumasefazpresenteparadadosu-jeito—eleocorreparatodos,édaordemdonecessário,masamaneiracomo ocorreécontingente.
Nocasorelatado,oditodoOutro,“saberfazercerto”,tinhaestruturaholo-frásicaparaMarinaque,diantedele,apagava-se.Nãohavendosujeitoparaum ato,sólherestavasecoçar...pois,naimpossibilidadedesercomoamãe,oude acordocomodesejomaterno,elatomavaemprestadoumtraçodealguémque representavaamãeparaela(nocasoamadrinhaquetambémtinhaeczema). EssaéumaformademimetismofreqüentementeevocadaemcasodeFPSedescrita porGuir(1997)comoofuncionamentodosujeitocomoumapartedocorpo dooutro.IssoseaproximadoconceitodeidentificaçãodeFreud.Poder-se-ia pensarque,emcasodeFPS,aidentificaçãosefaznocorpo?
Poroutroladooeczema,aomesmotempoquetraziasofrimentoeaplacava aangústia,adenunciavapormeiodarepetiçãoedaimpossibilidadedeparar. Apenasquandoessaangústiaentrounocenáriodaanálise,équefoipossível pinçarosujeito,sujeitoquetemsefortalecidoelutadopara,paulatinamente, escapardasgarrasdoOutro.Marinaassimvemseimpondo,conquistandope-quenasvitórias,confrontando,discutindo.Fazseismesesqueelanãosecoça (temporecorde).Maissenhoradesi,elajápodealçarvôosmaisaltos,mudou deempregoeestáestudandoumapropostaparaumatemporadafora.Acoceira podevoltar,masjáencontraráalguémcomcerto“saberfazer”.
Compreenderoadoeceréalgoquefascinaedesafiaoserhumano,como foiditonoiníciodesteartigo.Cedosedescobriuqueelepodeserelacionarao alémdovisívelnumaatribuiçãoaoOutro,sejaeleDeus,Alma,Inconsciente, Real;umsentidoébuscadoalhures,paraalémdoorganismoedanatureza,na contramãodaMedicina.OFPSnoscolocaumdesafio:comolidarcomosem-sentido? Como Champollion, os estudiosos se debruçam sobre esse enigma, acionadoporumsignificante,masnãopassíveldeleiturapelomesmo,poiso textoporeleescritoseencontraemoutralíngua,umalínguaviva,coabitada pelogozoenãopelosignificantemortificador.Escritooucifradoemnúmero,o FPSseguedesafiandoosaber,esseS2humilhado,masque,comooinconsciente,
nãodesiste,insiste.Anós,queporelenosinteressamos,cabebordejaressefuro emnossosaber,auxiliadospornossaescutanaclínicadessespacientesepelo difícilcotejamentoteóricodestetema.
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MariaCarolinaBellicoFonseca