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A Construção/reconstrução das competências profissionais do assistente social diante da gestão do serviço social da indústria SESI a partir dos anos 90

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PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL - PPGSS

MARIA FIGUERÊDO DE ARAÚJO

A CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DAS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO ASSISTENTE SOCIAL DIANTE DA GESTÃO DO SERVIÇO SOCIAL DA

INDÚSTRIA – SESI– A PARTIR DOS ANOS 90.

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A CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DAS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO ASSISTENTE SOCIAL DIANTE DA GESTÃO DO SERVIÇO SOCIAL DA

INDÚSTRIA – SESI – A PARTIR DOS ANOS 90.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós – Graduação em Serviço Social do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de mestre em Serviço Social, na Área de Trabalho, Proteção Social e Cidadania.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Célia Correia Nicolau

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A CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DAS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS DO ASSISTENTE SOCIAL DIANTE DA GESTÃO DO SERVIÇO SOCIAL DA

INDÚSTRIA – SESI – A PARTIR DOS ANOS 90.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós – Graduação em Serviço Social do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de mestre em Serviço Social, na Área de Trabalho, Proteção Social e Cidadania.

Aprovado em 20/09/2005.

BANCA EXAMINADORA

_______________________ _______________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria Célia Correia Nicolau (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

_______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Denise Câmara de Carvalho (Membro - titular)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

_______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Bernadete de Lourdes Figueiredo de Almeida (Membro - titular)

Universidade Federal da Paraíba – UFPB

_______________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Severina Garcia de Araújo (Suplente)

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Ao meu grandioso Deus que na sua competência suprema não deixou em nenhum momento que eu desistisse e me mostrou de diversas formas que é o Deus do impossível.

Em especial, agradeço a minha mãe Elizabete, e ao meu pai João Araújo (in memoriam) que sempre confiaram em mim, ensinando-me com uma sabedoria ímpar, pautada pela dignidade, humildade e amor.

Aos meus irmãos Juscelino e Juquinha. A Edneide e Tânia pelo apoio, e aos demais familiares.

Ao meu amado noivo Rondinele, pelo companheirismo, pelas palavras de conforto, compreensão, diálogo e amor, verdadeiros combustíveis que me conduziram a essa vitória.

À D. Raimunda, e ao Sr. Geraldo (in memoriam), pais do meu noivo e também meus pais, pelo exemplo de pessoas dignas, e pelo carinho que sempre tiveram comigo, acolhendo-me como filha em seu lar. Muito obrigada!

Aos irmãos e cunhados de meu noivo, em especial a Andreza, querida cunhada, amiga e colega de profissão. Jamais esquecerei o seu apoio em todos os sentidos.

À Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do RN (FACEX), em especial à coordenadora do Curso de Serviço Social, Lúcia Fonseca, pelo apoio e compreensão, e a todos os meus colegas de trabalho e alunos.

À minha orientadora Profª. Drª. Maria Célia Correia Nicolau pelo incentivo à escolha deste estudo, pela contribuição intelectual e pela confiança que depositou em mim.

Às Professoras Drª. (s) Maria Arlete Duarte de Araújo e Denise Câmara de Carvalho pelas contribuições, em especial, na Banca de qualificação desse trabalho.

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Saúde, Educação e Lazer, Unidade de Relações para o Mercado e o Representante da Direção do Sistema de Qualidade do SESI, DR/RN.

Ao CRESS, 14ª Região pelo interesse e apoio através do fornecimento de materiais sobre a questão das competências profissionais do assistente social.

À minha querida colega de profissão, Zelinha, que me deu uma contribuição incalculável, através de informações e documentos sobre a história do SESI/RN antes dos anos 90. Sem nenhuma dúvida, conhecê-la foi uma das grandes riquezas que eu ganhei com esse trabalho.

À minha “irmã” Lúbia e a Gilderlam pela escuta, carinho, apoio, incentivo e tantas outras coisas boas que não tenho como qualificá-las.

À Paizinha, minha sempre coordenadora, amiga de todas as horas, inclusive para o assessoramento em relação à língua francesa.

A Chaguinha, amigo da PPGSS/UFRN, pela força e contribuição bibliográfica e a Carlos pelas contribuições.

A todos os demais amigos, em especial Naire, Do Carmo, Tetê, Rose, Lusivânia, Luluza, Neidinha, Nenenzinha, Ana Paula e Joelma.

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horizontes que se busca atingir”.

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O estudo sobre o processo de construção/reconstrução das competências do assistente social sob a gestão do SESI, Natal, Rio Grande do Norte, a partir de meados dos anos 90 reafirmou a perspectiva de que esse processo é resultado tanto de determinações macrossocietárias presentes de forma particular no Brasil, quanto da forma em que o assistente social, profissional inscrito na divisão social e técnica do trabalho, desenvolve o seu aprimoramento técnico e intelectual em meio a um cenário de reestruturação produtiva que exige um novo perfil de trabalhador diante da crise do capital e do Estado. A pesquisa, de natureza qualitativa e quantitativa, efetivou-se através da combinação entre pesquisa bibliográfica e empírica.Os sujeitos foram oito assistentes sociais e seis trabalhadores da área administrativa do SESI, Natal/RN. A coleta de dados foi obtida por meio de entrevistas semi- estruturadas. Foram analisadas as mudanças ocorridas em termos da gestão do SESI e das competências exigidas do assistente social; a influência do espaço sócio-ocupacional sobre a ação profissional e sobre o processo de construção/reconstrução de competências; o alargamento de demandas institucionais para o assistente social no âmbito da prestação de serviços; bem como a constatação da importância desse profissional, sua ousadia, mas também alguns limites e desafios enfrentados diante da qualificação incentivada pelo SESI que ingressa o profissional num processo contraditório de qualificação e desqualificação profissional.

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L´étude du processus de construction / reconstruction des compétences de l´assistant social sous la gestion du SESI (Service Social de l´ Industrie), Natal/RN, dès la moitié des années 90 a réaffirmer la perspective que ce processus est le résultat de déterminations macrosociétaires qui sont présents, particulièrement au Brésil, aussi que, la façon par laquelle l´assistant social, le professionnel inscrit dans la division sociale et technique du travail, fait développer son perfectionement technique et intelectuel dans un milieu de nouvelles structures productives qui éxigent un nouveau profil du professionnel face à la crise du capital et de l´État. Cette recherche, de nature qualitative et quantitative, a eu lieu par de combinaisons de recherche bibliographique et empirique. Les sujets ont été huit assistants sociaux et six travailleurs administratifs du SESI, Natal/RN. Les donnés ont été obtenus par des interviews semi-structrées. On a analisé les changements qui sont arrivés dans les gestions du SESI et les compétences qui sont éxigées de l´assistant social ; l´influence du milieu socio-occupationel sur l´action professionnelle et sur le processus de construction/reconstruction de compétences; l´agrandissement de demandes institutionnelles pour l´assistant social par rapport à la prestation de services ; aussi que la constatation de l´importance de ce professionnel, sa hardiesse, mais aussi quelques limites et défis affrontés face à la qualification stimulé par le SESI, en amenant le professionnel dans un processus contradictoire de qualification et disqualification professionelle.

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ACOPLAN- Assessoria de Coordenação e Planejamento AIDS- Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

ARH- Administração de Recursos Humanos ASPLAN- Assessoria de Planejamento

BVQI -Bureau Veritas Anality in International CAT - Centro de Atividades

CCQ’s- Círculos de Controle de Qualidade CFB- Constituição Federativa do Brasil CFESS- Conselho Federal de Serviço Social

CIPA’s- Comissões Internas de Prevenção de Acidentes CLT- Consolidação das Leis Trabalhistas

COFI- Comissão de Fiscalização

CRESS- Conselho Regional de Serviço Social DESSO- Departamento de Serviço Social

DIPEQ- Divisão Integrada de Desenvolvimento de Pessoas de Qualidade DN- Departamento Nacional

DR’s- Departamentos Regionais

DST- Doenças Sexualmente Transmissíveis

FIERN - Federação das Industrias do Estado do Rio Grande do Norte FNUAP - Fundo de População das Nações Unidas

FUNDAC- Fundação Estadual da Criança e do Adolescente GEP- Grupo Especial de Programação

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LBA- Legião Brasileira de Assistência LOAS- Lei Orgânica da Assistência Social NSO-Núcleo de Saúde Ocupacional

PBQP- Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade PCMSO- Programa de Controle Médico- Saúde Ocupacional PE- Planejamento Estratégico

PETROBRÁS- Petróleo do Brasil

PNDH - Programa Nacional de Desenvolvimento Humano PPGSS- Pós- Graduação em Serviço Social

PPRA- Programa de Prevenção de Riscos Ambientais PQT’s- Programas de Qualidade Total

PSMA- Programa de Conservação Auditiva RH- Recursos Humanos

RN - Rio Grande do Norte

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SESI - Serviço Social da Indústria

SESICLÍNICA- Clínica do SESI, DR/RN

SIPAT’s- Semanas Internas de Prevenção a Acidentes de Trabalho TIR’s- Treinamentos Integrados Regionais

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INTRODUÇÃO...14

CAPÍTULO 1 – A EMERSÃO DO SESI: SUA GESTÃO E AS COMPETÊNCIAS EXIGIDAS DO ASSISTENTE SOCIAL...31

1.1- O surgimento do SESI e o Serviço Social...31

1.2-A trajetória histórica do SESI/RN e as competências exigidas do assistente social...39

1.2.1- O SESI/RN no período entre os fins de 40 até a década de 50...42

1.2.2- O SESI/RN no período entre 1960 a 1979...47

1.2.3- O SESI/RN na década de 80...53

CAPÍTULO 2 – A GESTÃO DO SESI NA ATUALIDADE E AS NOVAS COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL...58

2.1 - O SESI/RN a partir dos anos 90...59

2.2- A inserção do assistente social no SESI, Natal/RN hoje e as competências que lhe são exigidas... 76

CAPÍTULO 3- A GESTÃO DO SESI, NATAL/RN E A CONSTRUÇÃO/RECONSTRUÇÃO DAS COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL...91

3.1- A rotina de trabalho do assistente social no SESI, Natal/RN e o processo de construção/reconstrução de competências...91

3.2- As competências do assistente social no SESI, Natal/RN: processo de (re)qualificação profissional...109

CONSIDERAÇÕES FINAIS...125

REFERÊNCIAS ...134

APÊNDICES...142

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INTRODUÇÃO

Para se entender o processo de construção/reconstrução das competências do assistente social sob a gestão do SESI a partir dos anos 90, considera-se necessário articular duas dimensões indissociáveis: de um lado pensar as determinações macrossocietárias que estabelecem limites e possibilidades ao seu exercício profissional inscrito na divisão social e técnica do trabalho e ao processo de capacitação, e, do outro lado, os anseios e respostas teórico-técnicas e ético-políticas do assistente social, que expressam e traduzem como esses limites e possibilidades são analisados e projetados pelo profissional a partir das intervenções desencadeadas, seja no âmbito coletivo ou individual.

Torna-se necessário, portanto, olhar de forma especial para esse momento da realidade brasileira, em especial, a partir dos anos 90, que passa a vivenciar significativas mudanças no campo da produção de bens e serviços nos moldes da denominada globalização. Trata-se de um reordenamento da organização dos processos de trabalho expresso pela introdução de novas formas de gestão, pela implantação de Programas de Qualidade Total, pela exigência de novas competências profissionais, bem como pela “[...] ressignificação das noções de trabalho, qualificação, competência e formação profissional” (MANFREDI,1998,p.25), estratégias para promover uma “restauração econômica do capital” (MOTA, 2000, p.23).

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O Estado brasileiro, ao assumir uma posição de subordinação no contexto dessa nova ordem do capital, tem aderido à sua reestruturação e presencia, ainda em finais da década de 80, um pacto do capital financeiro internacional1 com o capital produtivo nacional, adotando o projeto neoliberal2 como base político-ideológica, o que provoca um reordenamento das relações entre Estado e sociedade. Esta adoção é demarcada pela

[...] idéia da privatização, da redução da responsabilidade pública no trato das necessidades sociais das grandes maiorias, em favor da sua mercantilização, desarticulando direitos sociais, rompendo os padrões de universalidade atinentes a esses direitos e provocando uma profunda radicalização da questão social. (IAMAMOTO, 2002, p.19).

São transformações que causam impactos em todos os indivíduos sociais e alteram a organização do trabalho, o mercado de trabalho, as demandas profissionais para o assistente social e, ainda, as condições para a execução do trabalho desses profissionais que passam a ser pautadas por relações de trabalho flexíveis e, sob novas formas de gestão como a gestão participativa, círculos de controle de qualidade, etc, que, por sua vez, exigem novas competências profissionais.

A questão da competência tem um significado histórico e vive em constante construção ao longo dos tempos.

1 Conforme mostra Montaño (2004), o capital financeiro internacional é aquele que vive de juros e que no caso

brasileiro em 1989, Fernando Collor de Melo, então presidente do Brasil, firmará um pacto com tal capital, tendo como aliado o capital produtivo nacional. Nos anos 2000, Iamamoto (2002, p. 28) citando Salama (1999), mostra que a lógica financeira de acumulação do capital tende a “[...] provocar crises que se projetam no mundo, gerando recessão. É resultante dessa lógica a volatividade do crescimento que redunda em maior concentração e aumento da pobreza, ‘não apenas nas periferias dos centros mundiais, mas atingindo os recônditos mais sagrados do capitalismo mundial, expressando um apartheid social”.

2 De acordo com Perry Anderson (1995, p.9), o neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na

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Embora até os anos 70 não fosse utilizado explicitamente esse conceito nas organizações produtivas, nem tampouco no âmbito escolar, considera-se que já havia uma requisição para o trabalhador de que este tivesse capacidade para agir sobre determinadas situações de trabalho. Ou seja, no momento em que se requisitava alguém com qualificação, cujos componentes eram a “[...] educação escolar, formação técnica e experiência profissional” (DELUIZ, 2003, p.02), para assumir determinado posto de trabalho, supunha-se conseqüentemente, que este indivíduo tivesse competência para tanto.

No entanto, nas últimas décadas, em razão das significativas mudanças na estruturação dos processos de trabalho, passa-se a requerer o trabalhador não apenas para um posto de trabalho específico, mas sim para administrar diversas situações previstas e imprevistas de trabalho, o que torna evidente a requisição de um profissional polivalente com competências que venham responder às novas demandas de trabalho. De forma geral, a competência é entendida hoje como a capacidade para agir diante de situações previstas e imprevistas no ambiente de trabalho em um contexto sócio-histórico determinado, reconhecida como um saber agregador de benefícios para a organização e que, como bem acrescenta Fleury, A. e Fleury, M. (2001), deve também agregar valor social ao indivíduo.

De acordo com Deluiz (2003, p.2), trata-se de uma progressiva substituição de conceitos na qual o termo qualificação, relacionado à educação escolar, formação técnica e experiência profissional, cede progressivamente lugar no mercado de trabalho para o modelo de competências no qual:

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Para a conformação desse modelo, surgem tanto no meio escolar quanto no empresarial novos desafios referentes à construção/reconstrução de competências profissionais, sendo nesse processo visualizado um jogo de interesses entre as determinações das organizações produtivas e princípios das categorias profissionais.

Essa dinâmica é concreta na realidade particular do SESI, Natal/RN, na qual as competências dos assistentes sociais são construídas/reconstruídas ao longo dos anos a partir de um processo de formação profissional influenciado por diversos âmbitos da vida pessoal e social do indivíduo mediado pelo trabalho profissional e desenvolvido a partir de requisições organizacionais.

O trabalho, como ato social “[...] sob uma forma exclusivamente humana” (MARX, 1989, p. 202) existe como um elemento de extrema importância para a explicitação e construção/reconstrução de competências, uma vez que possibilita ao indivíduo um processo de aprendizagem através da criação de novas habilidades e necessidades. Como mostra Nicolau (1999, p.37) com base em autores, dentre eles, Marx, Lukács e Lefebvre:

O próprio trabalho torna-se uma necessidade que exige esforço, disciplina, planejamento, cooperação e estudo. Em tal dinamismo, no processo de trabalho vão sendo criadas novas necessidades, instrumentos e formas de relação, construindo e reconstruindo, continuamente, os sentidos ou representações sociais dos objetos e acarretando mudanças nas próprias necessidades.

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transformação da realidade e do indivíduo que trabalha. Ainda nas palavras de Nicolau (1999, p.40-41), esse processo é possível porque o indivíduo

[...] não é passivo, mas ativo e consciente: no manejo dos meios de produção consumidos no seu trabalho, este indivíduo, como força de trabalho em ação, articula um processo de aprendizagem quando responde aos desafios desta prática, ao construir novos conhecimentos e habilidades.

No SESI em estudo nessa pesquisa, esse processo se dá em meio a influências sócio -institucionais que se delineiam numa gestão com uma nova forma de controle sobre o trabalhador, tanto no que diz respeito ao tipo de construção/reconstrução de competências profissionais como à forma de implementação dos processos de trabalho3 que impulsiona a formação de uma nova cultura de trabalho4.

Refere-se a uma nova lógica em que a construção/reconstrução dessas competências passa a ser exigida e incentivada pela organização a partir de estratégias de (re) qualificação profissional, tendentes a apresentar novos desafios aos profissionais, pelo fato de provocarem um alargamento da capacitação dos mesmos sem resultar necessariamente na aproximação de questões diretamente vinculadas aos referenciais discutidos contemporaneamente na profissão.

A forma pela qual se processa a construção/reconstrução das competências profissionais do assistente social no SESI, Natal/RN a partir de meados dos anos 90,

3 Vale destacar, com base em Marx, que o processo de trabalho já se revela no momento em que o homem

trabalha, visto que é um “[...] processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio com a natureza [...] Os elementos componentes [desse] processo são: 1)a atividade adequada a um fim, isto é o próprio trabalho; 2) a matéria a que se aplica o trabalho, o objeto de trabalho; 3) os meios de trabalho, o instrumental de trabalho” (MARX, 1989, p.202). À propósito ver também Barbosa; Cardoso; Almeida (1998, p. 116).

4 Como mostram Mota & Amaral (2000, p.36), o objetivo da burguesia a partir do pensamento neoliberal “[...] é

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constituiu-se, portanto a questão central deste trabalho. Questão que provocou o surgimento de outras como: quais as competências que passaram a ser exigidas ao assistente social a partir dos anos 90? Que mecanismos a gestão do SESI tem utilizado para a construção/reconstrução dessas competências? Que estratégias têm sido utilizadas pelos assistentes sociais no processo de construção/reconstrução de competências? Considera-se que tais questões para serem elucidadas necessita de uma análise que leve em consideração categorias como: trabalho, competências profissionais, qualificação profissional e gestão institucional.

Compreende-se que várias são as matrizes que guiam a identificação, definição e construção de competências, como a matriz funcionalista, a condutivista/behaviorista, a matriz construtivista5 e a matriz teórico-conceitual crítico-emancipatória.

Em relação a matriz condutivista ou behaviorista e a matriz funcionalista, segundo Deluiz (2003, p. 8), “[...] estão estritamente ligadas à ótica do mercado e limitam-se à descrição de funções e tarefas dos processos produtivos”. Hoje bastante presentes nos currículos brasileiros, inclusive de nível superior, tais matrizes podem ser visualizadas através da existência de listas de atividades e comportamentos nos programas das disciplinas que limitam a autonomia e o saber do educando ao desempenho específico das atividades e tarefas. Trata-se de uma concepção que tem a preocupação central na formação do trabalhador para o mercado.

No que se refere a matriz construtivista, tem se fundamentado a partir de metodologias de investigação como a pesquisa-ação e, diferentemente das matrizes citadas acima, procura identificar a relação que existe entre as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores em seu

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lugar de trabalho e os conhecimentos incorporados e/ou mobilizados, a fim de construir competências

[...] não só a partir da função do setor ou empresa, que está vinculada ao mercado, mas concede igual importância às percepções e contribuições dos trabalhadores diante de seus objetivos e potencialidades, em termos de sua formação”(DELUIZ, 2003, p.8).

Segunda esta autora, tal concepção apresenta grande importância para o indivíduo, pelo fato de atribuir importância não só a constituição de competências voltadas para o mercado, mas direcionadas aos objetivos e potencialidades do trabalhador. No entanto, apresenta alguns pontos negativos, como por exemplo, a limitação da autonomia à dimensão individual, focada no mundo do trabalho, pois a

Construção do conhecimento é considerada como um processo individual, subjetivo, de desenvolvimento de estruturas cognitivas, em uma perspectiva naturalista da aprendizagem, sem enfatizar o papel do contexto social para além da esfera do trabalho na aprendizagem dos sujeitos. Apresenta, assim, uma concepção mais ampliada de formação, mas minimiza a sua dimensão sócio-política”(DELUIZ, 2003, p. 8-9).

Em se tratando da matriz crítico-emancipatória, entende a competência como capacidade multidimensional, referindo-se ao âmbito individual, sócio - cultural e situacional (contextual – organizacional). É uma matriz que não se restringe à identificação, definição e construção de competências profissionais centradas nas necessidades e demandas estritas do mercado e na ótica do capital, mas também nas contradições no mundo do trabalho e nos valores e lutas dos trabalhadores. Dessa forma,

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de recursos por eles acumulado (aprendizados multidimensionais, transferências, reutilizações) nas atividades de trabalho” (DELUIZ, 2003, p. 9).

Coerentes com essa matriz, autores como Oliveira (2003), Manfredi (1998), Deluiz (2004) e Paiva (2001) entendem que o uso predominante do termo competência hoje em vez de qualificação seja no âmbito empresarial, seja no educativo, aparece como uma estratégia das elites capitalistas para camuflar a crise do desemprego a da exclusão das pessoas do mercado de trabalho.

Ressalte-se que esse debate sobre a competência na contemporaneidade é polêmico e envolve uma dimensão ideológica6, pois, como mostra Hirata (2002), demanda relações pouco formalizadas, pouco negociadas, sem acordos sindicais, com tendência a uma relação bilateral (trabalhador individual e recursos humanos), o que exacerba o aspecto de individualização e desmobiliza os acordos coletivos.

Assim, compreende-se que qualquer reflexão voltada para a competência exige um pensar sobre uma relação intrínseca: a capacidade para agir dos profissionais; e, sobre o contexto sócio-histórico em que esta é reconhecida como tal a fim de que o termo competência não fique vazio, sem significação precisa, mas revele o caráter ideológico em que está revestido.

É preciso também refletir sobre o valor social dessas competências para o profissional, que por sua vez não deve perder de vista a perspectiva ética e propositiva preocupada com o projeto ético-político da profissão.

6 Conforme Mészáros (1996, p.22) “[...] a ideologia não é ilusão nem superstição religiosa de indivíduos

mal-orientados, mas uma forma especifica de consciência social, materialmente ancorada e sustentada. Como tal é

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Quanto à capacidade para agir, é entendida como a mobilização de um conjunto articulado de saberes: os saberes teóricos do profissional; o saber fazer — saber experiencial, tácitos adquiridos pela ação humana; e o saber ser, referente às atitudes e a postura ético -política do profissional; e comporta as dimensões teórico-intelectual, técnico-instrumental, ético-político e formativa dos profissionais, estando sempre em construção.

A efetivação dessas dimensões pode acontecer de forma desarticulada e ter uma direção crítica ou acrítica diante das questões postas na realidade, dependendo não apenas do indivíduo profissional, mas também de determinantes presentes no contexto sócio-histórico propulsor da construção e materialização da competência desse indivíduo, seja nas relações de trabalho, seja no âmbito familiar, acadêmico, entre outros. No caso específico, o assistente social tem a possibilidade de construir uma capacidade para agir com uma direção crítica, pautada pelo compromisso com o projeto ético-político da profissão que “[...] busca dar respostas precisas e concretas ao ‘que fazer’, ‘como’ e ‘porque fazer’, face às contradições sociais trabalhadas no campo da intervenção profissional” (NICOLAU, 2001, p.06).

Mas essa construção tem se tornado um desafio, como se constatou no espaço sócio-ocupacional do SESI em estudo nessa pesquisa, diante das relações de trabalho capitalistas ali presentes, nas quais os processos de trabalhos têm, de forma predominante, uma direção acrítica, referente a uma capacidade para agir que obedece às formas pré-traçadas, sob o comando de uma racionalidade formal-abstrata (GUERRA, 2005), uma perspectiva de executá-las com eficácia sem preocupação em questioná-las.

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competências do assistente social; analisar os mecanismos utilizados pelos assistentes sociais no processo de construção/reconstrução de competências profissionais no espaço-sociocupacional do SESI.

Considera-se que o alcance de tais objetivos contribui nas discussões no âmbito da formação acadêmica e do exercício profissional acerca das competências dos assistentes sociais, sobretudo a partir da lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social, Lei 8.662/93 (CFESS, 1993), que em seus artigos 4º e 5º trata respectivamente das competências profissionais e atribuições privativas do assistente social e que integra as diretrizes do Projeto Ético-Político Profissional do Serviço Social na contemporaneidade. Eis, pois, um dos pontos relevantes desta pesquisa que, pretende subsidiar ações e experiências em torno do trabalho do assistente social no âmbito de instituições como o SESI, e no processo da formação profissional.

O percurso para chegar aos resultados pretendidos nessa pesquisa, que expressem o processo de construção e reconstrução das competências no exercício profissional dos assistentes sociais no SESI, Natal/RN a partir de meados dos anos 90, segue uma rota ou um caminho metodológico imprescindível e delineado a seguir.

Para o desvendamento de um objeto de estudo a pesquisa se constitui um caminho de significativa importância por possibilitar ao investigador e aos investigados conhecimentos surpreendentes sobre a realidade estudada, embora sempre inacabados e provisórios. A aproximação com os sujeitos investigados, com o lócus de pesquisa e com os referenciais teórico - metodológicos constituem elementos de significativa importância no estudo, análise e interpretação da temática abordada.

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organização dos processos de trabalho a partir de uma gestão preocupada com a construção/reconstrução de competências, com vistas à efetivação de uma política de qualidade.

Tratou-se de uma pesquisa realizada no SESI de Natal/RN, organização que presta serviços de saúde, educação e lazer através de um Centro de Atividades - CAT7 - e duas Unidades Operacionais – UP’s8, sendo o foco desse estudo centrado no CAT, pelo fato de comportar seis dos oito assistentes sociais constituintes do universo dos sujeitos pesquisados, e na Casa da Indústria9, local em que funciona parte da área – meio do SESI e estão os demais sujeitos investigados.

A pesquisa estruturou-se em três fases organicamente interligadas. Na primeira fase foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica sobre as categorias analíticas desse estudo, o lócus de pesquisa e os posicionamentos teóricos acerca do objeto de estudo. Como mostra Cruz Neto (2002, p.53),

[...] a pesquisa bibliográfica coloca frente a frente os desejos do pesquisador e os autores envolvidos em seu horizonte de interesse. Esse esforço em discutir idéias e pressupostos tem como lugar privilegiado de levantamento as bibliotecas, os centros especializados e arquivos. Nesse caso, trata-se de um confronto de natureza teórica que não ocorre diretamente entre pesquisador e atores sociais que estão vivenciando uma realidade peculiar dentro de um contexto histórico - social.

7 Conforme Sinopse Estatística do SESI – 1998, o CAT é o “local de atendimento cujos equipamentos e

instalações se encontram em imóvel próprio, cedido ou alugado para o SESI, onde são prestados serviços de mais de uma área de atuação e que representa o SESI em função de atividades –fins”. No caso do CAT a que a pesquisa se refere situa-se no SESICLÍNICA, na avenida Capitão Mor Gouveia, Bairro de Lagoa Nova, Natal/RN.

8 As Unidades Operacionais são espaços cujos equipamentos e instalações se localizam em imóvel próprio,

alugado ou cedido, onde são prestados serviços de uma só área de atuação e que representa o SESI em função do desenvolvimento de sua atividade – fim.

No SESI de Natal existe uma Unidade Operacional na Zona Norte da Capital e outra na Cidade de Parnamirim que faz parte da Grande Natal.

9 A Casa da Industria constitui-se num espaço onde funciona a parte administrativa do Sistema da Federação das

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A segunda fase comportou um estudo empírico com base em um levantamento de dados documentais e de campo.

Os documentos pesquisados foram relatórios anuais do SESI/RN no período de 1995 a 2003, uma vez que nestes estão descritas as atividades desenvolvidas no SESI de Natal; o Planejamento Estratégico da Organização para 2000 a 2004; o relatório “Retrospectiva do Serviço Social da Indústria –SESI – Departamento Regional do Rio Grande do Norte — 40 anos de criação” e o relatório do programa de Serviço Social do SESI de Natal em 1982. O objetivo da leitura era detectar as competências exigidas do assistente social e as atividades desenvolvidas pelos profissionais desde a criação do SESI, a fim de identificar as mudanças que ocorreram a partir dos anos 90 para o Serviço Social.

Quanto aos dados de campo obtidos pela delimitação dos sujeitos da pesquisa, foram escolhidos intencionalmente, visto que, pelo fato de a pesquisa ter uma abordagem predominantemente qualitativa, embora associada em alguns momentos a dados quantitativos, não se prendeu a amostras aleatórias, mas teve a preocupação principal em extrair as significações que os sujeitos de pesquisa têm em função do que se almeja alcançar. Conforme mostra Minayo (1995, p.22) a pesquisa qualitativa

[...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde ao espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

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trabalhadores; o representante da Divisão do Sistema de Gestão da Qualidade do SESI/RN, a fim de elucidar a forma de gestão hoje adotada pelo órgão e o tratamento da questão das competências profissionais dos que fazem parte das relações de trabalho dessa organização, em específico os assistentes sociais; a gerente da Divisão Integrada de Desenvolvimento de Pessoas e Qualidade do Sistema FIERN para identificar possíveis mecanismos de desenvolvimento de competências profissionais no SESI; o coordenador da Unidade de Relações com o Mercado, pelo fato de ser um profissional que, uma vez que foi contratado pelo SESI em 1974, percorreu várias funções, dentre elas a de Assessoria de Planejamento e também a Superintendência do órgão, o que o tornou um profissional importante para falar sobre as diferenças entre a gestão do SESI antes dos anos 90 e depois; e todos os profissionais contratados como assistentes sociais e em exercício no SESI de Natal/RN, no total de oito assistentes sociais, por entender que a construção/reconstrução de competências não ocorre de forma homogênea em todos os profissionais, mesmo que sejam de uma mesma profissão e, por vezes, trabalhem numa mesma área de atuação.

As informações coletadas junto a este público - alvo foram obtidas através de técnicas de investigação como: observação assistemática10 com anotações em diário de campo e entrevista mista na qual “[...] algumas questões são acompanhadas de uma opção fechada de respostas enquanto outras serão abertas” (LAVILLE; DIONE, 1999, p.187) e entrevista semi-estruturada, que se constitui “[...] numa série de perguntas abertas feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimento”. (LAVILLE; DIONE,1999, p.188). A ênfase maior na entrevista justificou-se pelo fato de a técnica possibilitar uma relação direta com o entrevistado, sendo mais ampla, uma vez que

10 Conforme Richardson (1999, p.261) a observação assistemática é mais livre, “[...] sem fichas ou listas de

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[...] oferece maior amplitude do que o questionário, quanto à sua organização: esta não estando mais irremediavelmente presa a um documento entregue a cada um dos interrogados, os entrevistadores permitem-se, muitas vezes, explicitar algumas questões no curso da entrevista, reformulá-las para atender às necessidades do entrevistado (LAVILLE; DIONE, 1999,p.188).

As informações obtidas com os assistentes sociais foram colhidas inicialmente em entrevista semi-estruturada, captando-se dados de identificação, formação e exercício profissional dos assistentes sociais. Buscou-se saber a área e função de cada profissional; as possíveis mudanças ocorridas no cotidiano das relações de trabalho no SESI, Natal/RN a partir da extinção do Setor de Serviço Social (1997) e da construção do Planejamento Estratégico 2000-2004; as competências exigidas pelo SESI e sua possível relação com as estabelecidas na Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social (8.662/93); as demandas postas para o profissional hoje; os meios pelos quais as assistentes sociais constroem/reconstroem as competências exigidas e a visão dos profissionais sobre o que é ser competente, hoje, no SESI (apêndice A). Em outro momento, foi realizada uma entrevista semi-estruturada a fim de adquirir maiores dados relativos ao posicionamento do assistente social diante das relações de trabalho hoje no SESI (apêndice B). Com exceção de uma entrevista (por opção da entrevistada), as demais foram gravadas (março de 2004), transcritas e estruturadas em códigos, como mostra o quadro a seguir:

Assist. social- área de Saúde

Assist. social- área de Educação

Assist. social- área Administrativa/

Financeira

Assist. social- Unid. de Relações com o Mercado

SSO1 SSO3 SSO2 SSO8

SSO4 SSO6

SSO5 SSO7

TOTAL 08 assistentes sociais

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Para os supervisores também foi utilizada entrevista semi-estruturada (março de 2004) a fim de se obter dados relativos à identificação, formação e o exercício profissional. Procurou-se identificar quais as competências exigidas para os assistentes sociais, hoje, no SESI e os desafios enfrentados por estes; a possível existência de algum tipo de estratégia de atualização destinada aos assistentes sociais; a organização dos processos de trabalho nas áreas e a visão dos supervisores sobre o que é ser competente hoje para o SESI (apêndice C). A entrevista foi codificada da seguinte forma:

Área de Saúde Área de Educação Área de Lazer

SU2 SU3 SU1

TOTAL 03 supervisores

QUADRO 2 - Códigos dos supervisores por área de atuação.

No caso específico do representante da direção do Sistema de Qualidade do SESI, DR/RN (RDSQ), foi adotada uma entrevista semi–estruturada (maio de 2004) com o objetivo de compreender a forma de gestão hoje adotada pelo SESI com ênfase na qualidade total (apêndice D), temática aprofundada mediante entrevista com a gerente da DIPEQ que discorreu sobre a gestão de pessoas no SESI (apêndice E).

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Ressalta-se que todas as entrevistas realizadas foram gravadas com o consentimento dos entrevistados e, dentre estes, apenas um assistente social não autorizou a gravação.

A terceira fase comportou a análise e interpretação dos dados obtidos à luz dos referenciais teóricos sobre as categorias analíticas da pesquisa. O levantamento foi feito com base na transcrição das entrevistas que possibilitaram a elaboração de quadros, entendidos conforme Lakatos e Marconi (1988, p.33) como um “método estatístico sistemático, de apresentar os dados em colunas verticais ou fileiras horizontais, que obedece à classificação dos objetos ou materiais da pesquisa”, sendo apresentados ao longo do trabalho, tendo a seguinte estruturação:

O primeiro capítulo, A emersão do SESI: sua gestão e as competências exigidas do assistente social, aborda o surgimento do SESI no Brasil, sua gestão e relação com a institucionalização do Serviço Social. Particulariza a realidade do SESI, DR/RN entre os períodos de 1949 (quando surgiu) até a década de 80, enfocando as competências exigidas ao assistente social nessa trajetória histórica. Procura mostrar que mesmo nessas épocas que não havia um discurso sobre as competências profissionais, já existia um processo de construção/reconstrução das competências pelo próprio aprimoramento da ação do profissional diante das situações de trabalho.

O segundo capítulo, A gestão do SESI na atualidade e as novas competências do assistente social, analisa a lógica de gestão do SESI a partir de meados dos anos 90, ressaltando em específico a realidade do SESI, DR/RN, palco de um reordenamento nos processos de trabalho, administrado por uma gestão voltada para a construção/reconstrução de competências de seus trabalhadores, dentre estes, o assistente social. Apresenta ainda a inserção deste na organização e as competências que lhe são exigidas.

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competências desse profissional tendo o espaço sócio-ocupacional do SESI como um dos principais influenciadores, a partir da estruturação de uma dinâmica que por um lado alarga o campo de conhecimentos do assistente social, mas por outro, tende a conduzi-lo para uma desqualificação no que diz respeito ao aprofundamento dos referenciais teóricos da profissão na contemporaneidade e sobre a assistência social.

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CAPÍTULO 1 - A EMERSÃO DO SESI: SUA GESTÃO E AS COMPETÊNCIAS EXIGIDAS DO ASSISTENTE SOCIAL.

1.1- O surgimento do SESI e o Serviço Social

Entender o porquê do surgimento da instituição SESI, e sua relação histórica com a profissão de Serviço Social na sociedade brasileira requer que sejam demarcadas as conjunturas do Brasil entre as décadas de 30 e 50 do século XX, quando o País adentrava um desenvolvimento industrial dependente11em um cenário de expansão do capitalismo mundial.

Nos anos 30 a sociedade brasileira vivenciou transformações societárias que acarretaram grandes repercussões para os anos seguintes no Brasil. Em 1930 vivencia uma revolução que muda a posição do Estado em relação à oligarquia agrário-exportadora12. Essa revolução “[...] cria bases para um novo projeto estatal de caráter industrialista e nacionalista”(DOS SANTOS,1994, p.47). Se o Estado brasileiro até então servia para garantir a expansão da oligarquia agrário-exportadora, passa com essa revolução a viver um período de transição do modelo agrário-exportador para uma economia industrial nacionalista melhor delineada com a implantação do chamado Estado Novo (1937-1945) de Getúlio Vargas.

É a partir de 1937 que se inicia no Brasil uma fase em que o Estado sob a lógica do corporativismo enquanto sistema de dominação política, busca de várias maneiras dar estímulos às indústrias de base, viabilizando a expansão do setor industrial, organizando o

11

De acordo com Dos Santos (1994, p.15) o termo desenvolvimento dependente designa a dependência “não enquanto uma relação de uma economia nacional nativa com uma economia que a submete, mas sim, uma relação básica que constitui e condiciona as próprias estruturas internas das regiões dominadas ou dependentes”.

12 No Brasil, a oligarquia agrário-exportadora forma-se ainda no século XVI por grandes “proprietários

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mercado de trabalho e implantando políticas financeiras e cambiais para apoiar a capitalização e acumulação desse setor (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996).

Consolida-se nesse período uma aliança corporativa entre o Estado, a burguesia industrial e os grandes proprietários rurais, que se estrutura principalmente a partir de 1945, num contexto de crescimento de um emergente proletariado urbano. Diante dessa realidade, surge a necessidade de essa aliança controlar esse novo setor, que crescia de forma espantosa em razão do aumento da industrialização e da urbanização.

Ressalte-se que os fluxos populacionais que engrossarão esse setor emergente, não são mais provenientes da Europa, e sim do interior do país, como conseqüência da capitalização interna da agricultura, que passa a ser comandada pela estrutura corporativista a fim de “fortalecer o seu projeto, neutralizando seus componentes autônomos e revolucionários” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996, p.243).

Institucionaliza-se nesse contexto uma legislação social, trabalhista e sindical que em meio à repressão e à tortura da ditadura vigente, dará base a uma política de massas que atenderá, de alguma forma, às reivindicações dos setores populares, através de um reconhecimento legal da cidadania do proletariado, em resposta à questão social13 vista agora não mais como caso de polícia, mas sim, como questão política. É nessa perspectiva que o Estado corporativo pressupõe o surgimento estratégico de novas instituições, tais como:

[...] Seguro Social, Justiça do Trabalho, Salário Mínimo, Assistência Social, etc [...] como respostas ao desenvolvimento real ou potencial das contradições geradas pelo aprofundamento do modo de produção que atinjam o equilíbrio das relações de força (IAMAMOTO; CARVALHO, 1995, p.245).

13 Como mostra Iamamoto (2002, p.26) “A questão social diz respeito ao conjunto das expressões das

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Outra estratégia estatal referiu-se à transformação dos sindicatos de trabalhadores em mecanismos burocráticos para angariar favores do Estado, surgindo então a figura do pelego, líder sindical comprometido com a burocracia do Ministério do Trabalho. E, ao mesmo tempo em que são proibidos os movimentos autônomos, são incentivadas a sindicalização e as mobilizações organizadas para receber os novos benefícios oferecidos pelo Estado.

Por sua vez, as reivindicações históricas do proletariado são incorporadas através de políticas sociais que “[...] atuam como deslocadoras das contradições que se dão ao nível das relações de produção, reproduzindo e projetando essas contradições ao nível das instituições assistenciais e previdenciárias [...]” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996, p.248). Os Institutos e as Caixas de Pensões e Aposentadorias representam algumas das instituições que serviram de mecanismo do Estado naquela conjuntura dos anos 40.

Em decorrência da Segunda Grande Guerra e da crise do Estado Novo, novas instituições são criadas. A época é de mudanças significativas no âmbito econômico, social e político. Ao mesmo tempo em que o Brasil vivenciava um aprofundamento capitalista através da expansão industrial, ocorre, de forma contraditória, acentuado declínio do salário real dos trabalhadores urbanos14, que passam a conviver em condições de trabalho mais precarizadas e com o aumento do ritmo e da intensidade da exploração.

É diante desse fato que surgem várias instituições assistenciais como “instrumento de controle social e político dos setores dominantes de manutenção do sistema de produção, tanto por seus efeitos econômicos como pela absorção dos conflitos sociais e disciplinamento das relações sociais vigentes” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996, p.248). Dentre estas instituições estão o Serviço Nacional de Aprendizagem e a Legião Brasileira de Assistência (LBA), criados em 1942 para obter apoio da população insatisfeita com a política de Vargas,

14 De acordo com Iamamoto e Carvalho (1996, p.251), “o índice de salário mínimo real, entre 1940 e 1944, cai

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em especial, com a sua participação na Segunda Grande Guerra, insatisfação essa que faz ressurgir o movimento operário no plano político através da luta antifascista.

Saliente-se ainda, que a organização e combatividade do movimento operário também contribuirá para o surgimento do SESI e da Fundação Leão XIII, primeiras instituições que irão absorver os assistentes sociais — novos trabalhadores especializados no trato das populações carentes e marginalizados.

Quanto ao SESI, foi criado oficialmente pelo Decreto/Lei nº 9.403, no Governo Eurico Gaspar Dutra, em 25 de junho de 1946, a fim de ser

[...] uma instituição de direito privado com sede e foro jurídico na capital da República, cabendo à Confederação Nacional da Indústria, inscrever-lhes os atos constitutivos e suas eventuais alterações no registro público competente (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, 1996).

Seus grandes mentores os empresários Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi, partiram do principio que “o crescimento do país exigia tranqüilidade social, solidariedade entre empregados e patrões. A paz, enfim, sobre o signo de generosidade cristã”.15 (MACKSEN,

1996) e criaram o SESI com a finalidade explícita de

Auxiliar o trabalhador da indústria e atividades assemelhadas a resolver os seus problemas básicos de existência (saúde, alimentação, economia, recreação, convivência social, consciência sócio-política), preocupando-se em nortear seus objetivos principais para a área de educação, destinados ao

15Em se tratando da obtenção de recursos para o funcionamento desta instituição, Iamamoto; Carvalho (1996,

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trabalhador e seus dependentes (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, art. 4º. 1996).

Mas, de forma implícita, a grande finalidade era possibilitar a reprodução da classe trabalhadora de forma disciplinada, a partir de serviços voltados para desenvolver a consciência sócio-política com vistas ao desenvolvimento do capitalismo. É a partir dessa grande finalidade que essa instituição prestará serviços assistenciais no âmbito sócio educativo e através de benefícios voltados para a melhoria da qualidade de vida (no que diz respeito a higiene, alimentação e habitação do trabalhador) além de pesquisas e investimentos na educação.

Esses serviços se espalham pelo Brasil através de núcleos regionais e se organizam em dois centros de atividades: um direcionado à finalidade institucional (serviços de assistência, lazer, educação popular, etc) e outro voltado para atividades complementares (estudos e pesquisas econômico-sociais, preparação de técnicos, etc), “cuja atuação seria suportada por um Departamento Central e Centros Sociais nos bairros operários” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996).

Para a execução desses serviços, o SESI adota uma gestão16 que busca estruturar diversos processos de trabalho a partir de uma racionalidade do trabalho influenciada por teorias originárias do século XX, como a Administração Científica, nos Estados Unidos, elaboradas por nomes como Taylor e Ford; e a Teoria Clássica de Administração, na França, por Fayol17.

16 Em termos gerais entende-se o termo “gestão” como a política e as práticas administrativas realizadas nas

organizações (sejam estatais, empresas lucrativas ou organizações não governamentais), com vistas à estruturação e o desenvolvimento da produção de bens e serviços. Quanto ao termo “organização”, refere-se ao “[...] agrupamento de pessoas e recursos – dinheiro, equipamentos, materiais, informações e tecnologia- com o objetivo de produzir bens e/ou prestar serviços” (TENÓRIO, 1998, p.17).

17 A propósito ver Idalberto Chiavenato em A Teoria Geral da Administração. São Paulo. Ed. MZGRAW-HILL,

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Observe-se que, apesar desta influência do fordismo/taylorismo18 e especialmente da Teoria Clássica da Administração na forma de gestão do SESI - hierarquizada, compartimentalizada, há que se considerar o fato de esta instituição ser uma prestadora de Serviços.

Como mostra Karsch (1998, p.26), sendo os serviços um mecanismo produtivo do capital monopolista e, portanto, parte da divisão do trabalho, assumem um “modo peculiar e configuram certa especificidade administrativa”. Ou seja, diferentemente de atividades que podem ser submetidas diretamente a critérios de eficácia e eficiência bem próprios tanto da racionalidade fordista/taylorista como da Teoria Clássica da Administração, implantados nas atividades do setor primário e secundário19, os serviços, incluídos no setor terciário20, obedecem a uma lógica pela qual as modificações, quer tecnológicas, quer ideológicas, são expressas pelo objetivo organizacional.

Os serviços são atividades necessárias para o bom andamento dos processos de trabalho no capitalismo monopolista, implementados em sua maioria para dar suporte aos demais setores, o que os leva a se constituírem atividades que ingressam no circuito de criação da mais-valia, embora “[...] não produzam, independentemente mais-valia e capital”. (LOJKINE apud BARBOSA et al, 1998, p.126).

que executam os processos de trabalho, o que é próprio do processo crescente de divisão do trabalho que, a partir do período industrial, terá como grande diferenciadora a ciência. Esta, conforme Iamamoto (1995, p.69) será apropriada pelo capital que a utilizará em “função de seus fins de valorização e dominação”.

18 De acordo com Antunes (1999:17), o fordismo é um modelo de produção que tem como características “a

produção em massa através da linha de montagem e de produtos mais homogêneos, através do controle de tempos e movimentos pelo cronômetro fordista e produção em série taylorista, pela existência do trabalho parcelar e pela fragmentação das funções; pela separação entre elaboração e execução no processo de trabalho, pela existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas e pela constituição/consolidação do operário-massa, do trabalhador coletivo, entre outras dimensões”. Já o taylorismo é entendido como um modelo de produção criado por Frederick Taylor que tem como objetivo produzir mais em menos tempo, através da produção.

19

O setor primário inclui a agricultura, a pesca, a caça e as florestas. Já o setor secundário engloba as indústrias extrativas e de transformação, a construção e as obras públicas e o setor água/gás/eletricidade. Ver a respeito, Úrsula Karsch M.S em O Serviço Social na Era dos Serviços (1998, p.11).

20 No setor terciário são desenvolvidas atividades voltadas para a distribuição (transportes, comércio), a

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São atividades que se deslocam, expandem, desaparecem dos organogramas organizacionais de acordo com as mudanças nos processos de trabalho e são desenvolvidas em função de um trabalho cooperativo21dentro das organizações de acordo com as atribuições delegadas.

Para a execução dos serviços, as organizações institucionais contratam um conjunto de profissionais, dentre esses o assistente social que se constitui um especialista na divisão sócio-técnica de trabalho para lidar com a questão social no mundo capitalista, através da implementação de políticas sociais.

Dentre as diferentes instituições prestadoras de serviços e contratantes desse profissional no Brasil, pode ser citado o SESI, que, em razão das mudanças na lógica de produção das empresas e das relações sociais, cria, expande e extingue diversos serviços, tendo como bases diretrizes próprias que organizam uma política de gestão estruturada de forma hierárquica, piramidal, e que é visível na divisão sócio-técnica do trabalho em setores de serviços predominantemente assistenciais; esses presentes até os anos 90 na instituição e supervisionados por profissionais de Serviço Social.

Essa profissão influenciará as bases políticas da gestão do SESI que adotará em suas diretrizes gerais o princípio do Serviço Social da época: “ajudar a ajudar-se, quando e quanto necessário: o indivíduo, o grupo e a comunidade” (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, art. 6º, 1996), com vistas tratar os problemas crescentes, frutos da estrutura social capitalista, como problemas individuais, grupais ou comunitários, nunca como desigualdades entre classes sociais.

A adesão ao princípio do Serviço Social pelo SESI explicita a forte relação que essa instituição e a profissão têm nesse momento, bem como a grande importância na sua institucionalização e profissionalização nos anos 40. Como mostram Iamamoto e Carvalho

21 A cooperação é entendida como força produtiva, coletiva, constituindo-se em trabalho socialmente

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(1996, p.284), as atividades que o antigo Serviço Social desenvolve em suas primeiras experiências sofrem significativas mudanças no seu âmbito e utilização, com o surgimento do SESI, uma vez que essa instituição irá disponibilizar um significativo conjunto de auxílios materiais destinados a uma parcela do proletariado urbano, bem como a criação de departamentos de Serviço Social em que “[...] o trabalho coletivo- entre Assistentes Sociais e entre estes e outros profissionais - quebrará o anterior isolamento do assistente social, integrando-o num trabalho coletivo específico”(IAMAMOTO;CARVALHO,1996, p. 284)22 como trabalhador assalariado.

O SESI permitirá uma maior visibilidade do Serviço Social mediante a adoção sistemática de técnicas utilizadas pelos assistentes sociais de forma isolada, além de inseri-los mais profundamente nas relações industriais. Será um espaço que permitirá ao assistente social adotar novas técnicas para melhor responder aos anseios da clientela do Serviço Social, que deixa de ser uma pequena parte da população pobre em geral, (atingida pelas ações dispersas das obras sociais) para ser os grandes setores do proletariado (IAMAMOTO, 1995, p.94).

Ao mesmo tempo, o Serviço Social é de grande importância para o SESI, pelo fato de subsidiar teórica e metodologicamente a atuação sócio-educativa dos profissionais envolvidos no trato das questões voltadas à dissolução de revoltas por parte do operariado, bem como dos problemas gerados pela forma de estruturação da sociedade capitalista: deficiência alimentar, uso de drogas, delinqüência, depressão, problemas familiares, etc.

Ao se reportar em específico sobre a realidade do Departamento Regional do SESI do Rio Grande do Norte, é notório o lugar estratégico da profissão de Serviço Social nesse

22 Convém destacar que antes do surgimento no Brasil na década de 40 de grandes instituições assistenciais

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espaço sócio - ocupacional que a reconhece uma profissão intermediadora das relações conflituosas entre trabalhadores e empregadores. É o que se pretende mostrar no item seguinte voltado para o percurso histórico deste Departamento no período entre o fim de 1949 e começo dos anos 80 e as competências exigidas para o assistente social.

1.2- A trajetória histórica do SESI/RN e as competências exigidas do assistente social.

Essa instituição assistencial que é o SESI surgiu no Brasil em uma conjuntura política, econômica e social de acirramento da questão social, através dos fenômenos da urbanização e da industrialização sob moldes capitalistas que provocaram o surgimento e/ou crescimento de diferentes problemas sociais a partir das contradições entre capital e trabalho, expressas nas condições de moradia, trabalho, acidentes, insuficiência alimentar, desagregação familiar, abandono e mortalidade infantil (IAMAMOTO; CARVALHO 1995).

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Diante dessa lógica, expandem-se de forma gradativa delegacias regionais do SESI em todos os estados brasileiros, inclusive o Rio Grande do Norte; sua delegacia foi criada em 22(vinte dois) de fevereiro de 1949, com sede em Natal.

O Rio Grande do Norte vivencia, nessa época, grandes mudanças. A cidade de Natal, sede de uma das mais importantes bases para os aliados na Segunda Grande Guerra, sofre significativas transformações de ordem política, econômica e social. Como mostra Gouveia; Cavalcanti; Cardoso, et al (1993, p.22),

A presença do americano e a circulação abundante do dólar no mercado [...] provocaram ou aceleraram as correntes migratórias para Natal, como que forçando um processo peculiar de urbanização para o qual a cidade não estava realmente preparada.

Outras questões problemáticas fazem ainda parte desse cenário, como o desenfreado êxodo-rural, em razão da falta de políticas públicas de subsídios à população da zona rural, vítima ao mesmo tempo de grandes secas e da modernização no campo, as quais expulsam essa população para as cidades, essas não tendo nenhuma condição de autosustentação. Além disso, havia a difícil situação de famílias de combatentes de guerra, “[...] cuja ausência dos esposos ou filhos criava e/ou acentuava problemas de natureza tanto econômica como psíquica e social” (GOUVEIA; CAVALCANTI; CARDOSO et al,1993, p.22).

Soma-se à urbanização a presença já visível no Rio Grande do Norte de alguns pontos industriais especializados em cultura do algodão, salinas e minérios, aglutinando um número expressivo de trabalhadores assalariados e submetidos a condições de trabalho precárias, o que os levou a uma organização autônoma23 com vistas a melhorias nas suas condições de trabalho.

23 Sobre a organização autônoma de trabalhadores no RN, em específico nas regiões salineiras em Macau, ver

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Assim, em 1949, quando se instalou a Delegacia Regional do SESI em Natal, havia uma razão central para tal fato: a formação no estado de uma significativa parcela de trabalhadores assalariados nas cidades em condições precárias que os levavam a várias formas de resistência e organização. Delineava-se uma situação social que, semelhante a outras regiões do Brasil, como o sudeste, passou a preocupar o Estado e a burguesia industrial, o que confluiu na implantação no Rio Grande do Norte de um conjunto de profissionais, incluindo assistentes sociais. Esses profissionais se aproximam da vida cotidiana do trabalhador norteriograndense, até de suas formas de organização, visando a possibilitar, por um lado, a melhoria de suas condições de vida através da prestação de alguns bens materiais e serviços de cunho sócio-educativo; por outro, desmobilizá-lo em relação aos ideais de resistência diante das relações e condições de trabalho.

Quanto a esses serviços, os mesmos se modificaram à proporção que a própria estrutura organizacional do SESI/RN alterou-se em conseqüência de novas demandas e novos objetivos organizacionais, o que por sua vez exigiu mudanças em termos de competências dos profissionais, dentre os quais o assistente social.

Essas alterações, conforme pesquisa em documentos do SESI/RN24, apesar de não se poder afirmar que provocaram entre os anos 40 e 80 uma profunda mudança na forma de gestão no DR, é possível visualizar períodos bastante distintos, que neste trabalho perfazem três etapas: uma que comporta os fins dos anos 40 até finais dos anos 50; uma segunda, entre os anos 60 e 70, e a última nos anos 80. Em todas essas fases, à medida que os serviços assistenciais se alteram, o Serviço Social sofreu diretamente as inflexões dessas mudanças. É

trabalho e as estratégias de resistência. DESSO/PPGSS/UFRN. Natal/RN.2004. Ver também, Geraldo Sabino em História do sindicalismo no Rio Grande do Norte. Natal/RN: CLIMA,1985.

24 O documento pesquisado para subsidiar esse item foi o Relatório feito em 1989 “Retrospectiva do Serviço

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o que se pretende apresentar no sub-item a seguir, cujo objetivo é analisar as possíveis mudanças de gestão e de competências exigidas do assistente social nesse órgão.

1.2.1- O SESI/RN entre os fins de 40 até a década de 50.

Em 1949, quando surge no Rio Grande do Norte uma Delegacia do SESI, esta passa a seguir as diretrizes gerais do Departamento Nacional do SESI, diretrizes preocupadas com o objetivo mais amplo e direto da instituição, o qual é conforme Iamamoto e Carvalho (1996, p.281) contribuir para a ordem e a paz social do país através da contraposição à nova conjuntura “[...] marcada pela ampliação das liberdades democráticas, ao fortalecimento da organização autônoma do proletariado através de uma ampla política assistencial”.

Com esse fim, esta Delegacia estrutura-se em duas áreas: Serviço Social (a primeira a surgir), e Administração, as quais se organizam em duas divisões respectivamente: a de Orientação Social e a de Administração (tesouraria e pessoal) através de uma hierarquia piramidal na qual no topo se encontra o delegado regional e logo depois os supervisores das divisões. Nesta estrutura insere-se o assistente social, em especial na área de Serviço Social, sendo-lhe exigido que tenha determinadas competências, como supervisionar todos os serviços assistenciais da Divisão de Orientação Social, agrupados nas seções: de saúde, jurídica e de Educação Social.

Convém ressaltar que o termo competência nas décadas de 40 e 50 não estava em evidência como nos anos atuais. Vários autores de diferentes correntes teórico-metodológicas que estudam essa categoria25mostram que somente nos anos atuais é que essa palavra adquiriu

25 A propósito de autores brasileiros que abordam essa questão pode-se citar alguns como: Fleury, A e Fleury,

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um lugar central devido às grandes transformações ocorridas no mundo do trabalho, nas empresas e nas sociedades.

Como mostra Le Boterf (2003, p.16) “o conceito de competência, que acompanha o profissionalismo, só ganhou importância no decorrer dos anos 80. Na década de 70, era a noção de ‘qualificação’ que dominava [...]”. Autoras como Ropé e Tanguy (1997, p.17), mostram também que:

[...] A noção de competência é uma dessas noções, testemunho de nossa época [...] Entretanto não poderíamos dizer que essa noção teve duração de vida suficientemente longa para caracterizar um período e ser capaz de se aplicar ao passado tão bem quanto ao presente; podemos, no máximo, assinalar que, por ter usos específicos no passado, nem por isso ocupava um lugar tão central como hoje.

Falar em competência exigida do assistente social nesse SESI no marco histórico entre as décadas de 40 e 50 significa compreendê-la como uma capacidade de agir26 diante de atividades previstas no ambiente de trabalho em um determinado contexto sócio-histórico, sendo estas atividades remetidas às características profissionais do trabalhador advindas de um conjunto de conhecimentos adquiridos por este profissional em sua qualificação profissional, por sua vez, entendida em seu conceito tradicional, conforme Deluiz (2003, p.2), sendo

[...] componentes organizados e explícitos da qualificação do trabalhador: educação escolar, formação técnica e experiência profissional. Relacionava-se, no plano educacional, à escolarização formal e as seus diplomas correspondentes e, no mundo do trabalho, à grade de salários, aos cargos e à

26 A partir da leitura sobre vários autores com perspectivas diferentes, como Le Boterf (2003) - perspectiva

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hierarquia das profissões, sendo expressão histórica das relações sociais diversas e contraditórias estabelecidas no processo produtivo.

Nesse sentido, o SESI/RN ao requisitar o assistente social, exige-lhe a capacidade de agir nas situações previstas na organização, relacionadas, em especial, à questão assistencial, ao considerar que o profissional era portador de conhecimentos teórico-metodológicos sobre a assistência ao indivíduo, grupo e comunidades. Note-se que, em razão dessa relação com a assistência, ao assistente social é reservado um espaço de destaque na divisão sócio-técnica da organização, sendo-lhe exigida, além da competência para supervisionar o trabalho de diferentes profissionais, a de implementar todos os serviços assistenciais existentes na seção de Educação Social, a fim de formar uma nova cultura na classe trabalhadora voltada para a adesão ao novo cenário político e econômico capitalista, sendo ainda em 1955 acrescida a exigência de mais uma competência: assessorar27a superintendência do então Departamento Regional do SESI28.

Assim, em linhas gerais, do assistente social passam a ser exigidas, entre os fins dos anos 40 até a década de 50, várias competências tanto relacionadas ao gerenciamento desse regional, quanto voltadas para à prestação de serviços assistenciais, como se pode visualizar no quadro a seguir:

27Quanto ao surgimento desta assessoria técnica (staff), considera-se um elemento importante influenciado pela

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01- Assessorar a superintendência do SESI/DR; 02- Supervisionar os serviços assistenciais;

03- Implementar os serviços assistenciais da secção de Educação Social;

04- Atender os usuários (industriários e familiares destes) para informá-los e encaminhá-los aos serviços do SESI/RN;

05- Orientar e executar planos de trabalhos criados pelo DN voltados para grupos de “Donas de Casa” organizados em bairros de Natal;

06- Fazer levantamento social sobre a realidade industrial e dos sindicatos para a divulgação dos trabalhos do SESI/RN;

07- Promover integração dos serviços oferecidos pelo SESI/RN;

08- Intermediar as relações entre empresa e empregados, bem como entre SESI/RN e empresas. QUADRO 3 - Competências exigidas do assistente social no SESI/RN entre fins de 40 até a década de 50

Compreende-se que no processo de efetivação dessas competências, o profissional participa ativamente de uma construção/reconstrução destas através do trabalho, pois este possibilita que o profissional, através de meios ou instrumentos de trabalho, imprima a um objeto ou matéria-prima, “o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade” (MARX, 1989, p.202).

Ao terminar o processo, estão ali expressos seus saberes, suas habilidades fundidas em um resultado para qual, contribuíram em muito os instrumentos de trabalho. Surgem também nesse processo novos interesses, novas necessidades, angústias, que possibilitam um aprimoramento do indivíduo com o desenvolvimento de novas competências profissionais. Competências que são reconhecidas, não só pelo trabalhador, mas também por outros indivíduos em um determinado contexto histórico.

Assim, entende-se que os assistentes sociais ao fazer parte do SESI/RN no período de 1949 até final da década de 50 explicitavam através do trabalho, competências exigidas pela organização e postas em prática através de conhecimentos já adquiridos. Mas, ao mesmo tempo, vivenciavam em diferentes processos de trabalho, a construção/reconstrução de

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competências por meio do trabalho profissional. Este, por sua vez, é constituído de prestação de serviços29 com efeitos concretos, embora seja efetivado a partir do uso de meios e instrumentos de trabalho que em sua maioria, não tem características materiais, mas sim, são

[...]organizados por diversas disciplinas do campo das ciências sociais e utilizados por diversas práticas sociais, para modelar o comportamento humano, para racionalizar as relações entre os homens, atendendo a diferentes interesses sociais. São instrumentos que potencializam a produção de atitudes, postura comportamentos adequados a estes diferentes interesses (TRINDADE, 2001, p.25).

É nessa forma particular de trabalho que o assistente social se insere para prestar serviços de natureza predominantemente sócio-educativa e assistencial, bem como de caráter investigativo e integrativo, no que diz respeito às diversas ações profissionais.

No desenvolvimento desses serviços, os determinantes sócio-históricos influenciadores da estruturação dos processos de trabalho no âmbito organizacional em muito influenciam para qual direção (seja crítica ou não) a capacidade de agir (ou competência) do profissional se dirigirá. Mas não se trata apenas de uma determinação unilateral, pois nesse processo de construção/reconstrução de competências e de qual direção às mesmas terão, há também a influência importante do profissional e seus conhecimentos, valores e condutas profissionais, importantes elementos nesse processo que explicitam o embasamento teórico-metodológico do profissional.

No caso do período em foco (1949 até 1959), o assistente social do SESI, respalda-se num projeto profissional acrítico em relação ao entendimento sobre a constituição e desenvolvimento da realidade social, bem como sobre a forma de ação voltada para a resolução dos problemas gerados na realidade social.

SESI/RN) em substituição à Delegacia de Natal/RN.

Referências

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