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A EMERSÃO DO SESI: SUA GESTÃO E AS COMPETÊNCIAS EXIGIDAS DO ASSISTENTE SOCIAL.EXIGIDAS DO ASSISTENTE SOCIAL.

1.1- O surgimento do SESI e o Serviço Social

Entender o porquê do surgimento da instituição SESI, e sua relação histórica com a profissão de Serviço Social na sociedade brasileira requer que sejam demarcadas as conjunturas do Brasil entre as décadas de 30 e 50 do século XX, quando o País adentrava um desenvolvimento industrial dependente11em um cenário de expansão do capitalismo mundial.

Nos anos 30 a sociedade brasileira vivenciou transformações societárias que acarretaram grandes repercussões para os anos seguintes no Brasil. Em 1930 vivencia uma revolução que muda a posição do Estado em relação à oligarquia agrário-exportadora12. Essa revolução “[...] cria bases para um novo projeto estatal de caráter industrialista e nacionalista”(DOS SANTOS,1994, p.47). Se o Estado brasileiro até então servia para garantir a expansão da oligarquia agrário-exportadora, passa com essa revolução a viver um período de transição do modelo agrário-exportador para uma economia industrial nacionalista melhor delineada com a implantação do chamado Estado Novo (1937-1945) de Getúlio Vargas.

É a partir de 1937 que se inicia no Brasil uma fase em que o Estado sob a lógica do corporativismo enquanto sistema de dominação política, busca de várias maneiras dar estímulos às indústrias de base, viabilizando a expansão do setor industrial, organizando o

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De acordo com Dos Santos (1994, p.15) o termo desenvolvimento dependente designa a dependência “não enquanto uma relação de uma economia nacional nativa com uma economia que a submete, mas sim, uma relação básica que constitui e condiciona as próprias estruturas internas das regiões dominadas ou dependentes”.

12 No Brasil, a oligarquia agrário-exportadora forma-se ainda no século XVI por grandes “proprietários

agrícolas, além de grandes comerciantes exportadores” (DOS SANTOS, 1994, p.28) que tinham por base uma economia monoprodutora, exportadora, latifundiária e escravista dependente no início da Coroa Portuguesa e, a partir do século XIX, da Inglaterra. Em 1782, com a independência do Brasil, as oligarquias irão “manter o controle total do novo Estado, convertendo-se na nobreza de um Estado monárquico e contando com o mais amplo apoio da Inglaterra” (idem). Esse controle adentra o início do século XX, quando o Estado, em 1906, passa a ser obrigado, pelo Acordo de Taubaté, a comprar o excedente de café para regular a oferta internacional do produto.

mercado de trabalho e implantando políticas financeiras e cambiais para apoiar a capitalização e acumulação desse setor (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996).

Consolida-se nesse período uma aliança corporativa entre o Estado, a burguesia industrial e os grandes proprietários rurais, que se estrutura principalmente a partir de 1945, num contexto de crescimento de um emergente proletariado urbano. Diante dessa realidade, surge a necessidade de essa aliança controlar esse novo setor, que crescia de forma espantosa em razão do aumento da industrialização e da urbanização.

Ressalte-se que os fluxos populacionais que engrossarão esse setor emergente, não são mais provenientes da Europa, e sim do interior do país, como conseqüência da capitalização interna da agricultura, que passa a ser comandada pela estrutura corporativista a fim de “fortalecer o seu projeto, neutralizando seus componentes autônomos e revolucionários” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996, p.243).

Institucionaliza-se nesse contexto uma legislação social, trabalhista e sindical que em meio à repressão e à tortura da ditadura vigente, dará base a uma política de massas que atenderá, de alguma forma, às reivindicações dos setores populares, através de um reconhecimento legal da cidadania do proletariado, em resposta à questão social13 vista agora não mais como caso de polícia, mas sim, como questão política. É nessa perspectiva que o Estado corporativo pressupõe o surgimento estratégico de novas instituições, tais como:

[...] Seguro Social, Justiça do Trabalho, Salário Mínimo, Assistência Social, etc [...] como respostas ao desenvolvimento real ou potencial das contradições geradas pelo aprofundamento do modo de produção que atinjam o equilíbrio das relações de força (IAMAMOTO; CARVALHO, 1995, p.245).

13 Como mostra Iamamoto (2002, p.26) “A questão social diz respeito ao conjunto das expressões das

desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista, impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da produção, contraposto à apropriação privada da própria atividade humana- trabalho-, das condições necessárias à sua realização, assim como de seus frutos”.

Outra estratégia estatal referiu-se à transformação dos sindicatos de trabalhadores em mecanismos burocráticos para angariar favores do Estado, surgindo então a figura do pelego, líder sindical comprometido com a burocracia do Ministério do Trabalho. E, ao mesmo tempo em que são proibidos os movimentos autônomos, são incentivadas a sindicalização e as mobilizações organizadas para receber os novos benefícios oferecidos pelo Estado.

Por sua vez, as reivindicações históricas do proletariado são incorporadas através de políticas sociais que “[...] atuam como deslocadoras das contradições que se dão ao nível das relações de produção, reproduzindo e projetando essas contradições ao nível das instituições assistenciais e previdenciárias [...]” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996, p.248). Os Institutos e as Caixas de Pensões e Aposentadorias representam algumas das instituições que serviram de mecanismo do Estado naquela conjuntura dos anos 40.

Em decorrência da Segunda Grande Guerra e da crise do Estado Novo, novas instituições são criadas. A época é de mudanças significativas no âmbito econômico, social e político. Ao mesmo tempo em que o Brasil vivenciava um aprofundamento capitalista através da expansão industrial, ocorre, de forma contraditória, acentuado declínio do salário real dos trabalhadores urbanos14, que passam a conviver em condições de trabalho mais precarizadas e com o aumento do ritmo e da intensidade da exploração.

É diante desse fato que surgem várias instituições assistenciais como “instrumento de controle social e político dos setores dominantes de manutenção do sistema de produção, tanto por seus efeitos econômicos como pela absorção dos conflitos sociais e disciplinamento das relações sociais vigentes” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996, p.248). Dentre estas instituições estão o Serviço Nacional de Aprendizagem e a Legião Brasileira de Assistência (LBA), criados em 1942 para obter apoio da população insatisfeita com a política de Vargas,

14 De acordo com Iamamoto e Carvalho (1996, p.251), “o índice de salário mínimo real, entre 1940 e 1944, cai

de 100 para 81, acentuando-se a queda para os trabalhadores que percebiam salários superiores ao mínimo legal”.

em especial, com a sua participação na Segunda Grande Guerra, insatisfação essa que faz ressurgir o movimento operário no plano político através da luta antifascista.

Saliente-se ainda, que a organização e combatividade do movimento operário também contribuirá para o surgimento do SESI e da Fundação Leão XIII, primeiras instituições que irão absorver os assistentes sociais — novos trabalhadores especializados no trato das populações carentes e marginalizados.

Quanto ao SESI, foi criado oficialmente pelo Decreto/Lei nº 9.403, no Governo Eurico Gaspar Dutra, em 25 de junho de 1946, a fim de ser

[...] uma instituição de direito privado com sede e foro jurídico na capital da República, cabendo à Confederação Nacional da Indústria, inscrever-lhes os atos constitutivos e suas eventuais alterações no registro público competente (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, 1996).

Seus grandes mentores os empresários Roberto Simonsen e Euvaldo Lodi, partiram do principio que “o crescimento do país exigia tranqüilidade social, solidariedade entre empregados e patrões. A paz, enfim, sobre o signo de generosidade cristã”.15 (MACKSEN, 1996) e criaram o SESI com a finalidade explícita de

Auxiliar o trabalhador da indústria e atividades assemelhadas a resolver os seus problemas básicos de existência (saúde, alimentação, economia, recreação, convivência social, consciência sócio-política), preocupando-se em nortear seus objetivos principais para a área de educação, destinados ao

15Em se tratando da obtenção de recursos para o funcionamento desta instituição, Iamamoto; Carvalho (1996,

p.281) mostram que a situação é igual ao SENAI. Ou seja, o segmento da burguesia industrial institucionalizada, por meio do Estado, organiza “[...] uma forma de ação política baseada no assistencialismo”. Assim, o acordo é feito de modo que o Estado exige legalmente recolher e fiscalizar a contribuição mensal equivalente a 2% da folha de pagamento que, conforme mostram Dantas & Diniz (2001, p.65), são recursos provenientes dos próprios trabalhadores, administrados e gerenciados pela indústria, através basicamente de serviços assistenciais e de educação popular desses industriários. Conforme estudo feito por Araújo e Oliveira (2000), o SESI tem sofrido uma queda nas receitas de contribuições, devido redução na folha de pagamento das empresas, como também da diminuição na porcentagem de contribuição empresarial, que passou de 2% para 1,5%, e até o não-pagamento por parte de algumas empresas. Os condicionantes que levam a essa diminuição contributiva-recessão da economia, programa de privatizações, grande número de demissões nas empresas ou até o não pagamento desta, faz com que o SESI passe a vender seus serviços como mostra o capítulo seguinte.

trabalhador e seus dependentes (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, art. 4º. 1996).

Mas, de forma implícita, a grande finalidade era possibilitar a reprodução da classe trabalhadora de forma disciplinada, a partir de serviços voltados para desenvolver a consciência sócio-política com vistas ao desenvolvimento do capitalismo. É a partir dessa grande finalidade que essa instituição prestará serviços assistenciais no âmbito sócio educativo e através de benefícios voltados para a melhoria da qualidade de vida (no que diz respeito a higiene, alimentação e habitação do trabalhador) além de pesquisas e investimentos na educação.

Esses serviços se espalham pelo Brasil através de núcleos regionais e se organizam em dois centros de atividades: um direcionado à finalidade institucional (serviços de assistência, lazer, educação popular, etc) e outro voltado para atividades complementares (estudos e pesquisas econômico-sociais, preparação de técnicos, etc), “cuja atuação seria suportada por um Departamento Central e Centros Sociais nos bairros operários” (IAMAMOTO; CARVALHO, 1996).

Para a execução desses serviços, o SESI adota uma gestão16 que busca estruturar diversos processos de trabalho a partir de uma racionalidade do trabalho influenciada por teorias originárias do século XX, como a Administração Científica, nos Estados Unidos, elaboradas por nomes como Taylor e Ford; e a Teoria Clássica de Administração, na França, por Fayol17.

16 Em termos gerais entende-se o termo “gestão” como a política e as práticas administrativas realizadas nas

organizações (sejam estatais, empresas lucrativas ou organizações não governamentais), com vistas à estruturação e o desenvolvimento da produção de bens e serviços. Quanto ao termo “organização”, refere-se ao “[...] agrupamento de pessoas e recursos – dinheiro, equipamentos, materiais, informações e tecnologia- com o objetivo de produzir bens e/ou prestar serviços” (TENÓRIO, 1998, p.17).

17 A propósito ver Idalberto Chiavenato em A Teoria Geral da Administração. São Paulo. Ed. MZGRAW-HILL,

1983. De acordo com esse autor, essas teorias têm uma finalidade central em comum que é elevar a eficiência industrial. Um outro elemento comum a essas teorias é a presença de uma acentuada hierarquia e ao mesmo tempo uma separação entre aquelas pessoas que administram, planejam e supervisionam a produção e aquelas

Observe-se que, apesar desta influência do fordismo/taylorismo18 e especialmente da Teoria Clássica da Administração na forma de gestão do SESI - hierarquizada, compartimentalizada, há que se considerar o fato de esta instituição ser uma prestadora de Serviços.

Como mostra Karsch (1998, p.26), sendo os serviços um mecanismo produtivo do capital monopolista e, portanto, parte da divisão do trabalho, assumem um “modo peculiar e configuram certa especificidade administrativa”. Ou seja, diferentemente de atividades que podem ser submetidas diretamente a critérios de eficácia e eficiência bem próprios tanto da racionalidade fordista/taylorista como da Teoria Clássica da Administração, implantados nas atividades do setor primário e secundário19, os serviços, incluídos no setor terciário20, obedecem a uma lógica pela qual as modificações, quer tecnológicas, quer ideológicas, são expressas pelo objetivo organizacional.

Os serviços são atividades necessárias para o bom andamento dos processos de trabalho no capitalismo monopolista, implementados em sua maioria para dar suporte aos demais setores, o que os leva a se constituírem atividades que ingressam no circuito de criação da mais-valia, embora “[...] não produzam, independentemente mais-valia e capital”. (LOJKINE apud BARBOSA et al, 1998, p.126).

que executam os processos de trabalho, o que é próprio do processo crescente de divisão do trabalho que, a partir do período industrial, terá como grande diferenciadora a ciência. Esta, conforme Iamamoto (1995, p.69) será apropriada pelo capital que a utilizará em “função de seus fins de valorização e dominação”.

18 De acordo com Antunes (1999:17), o fordismo é um modelo de produção que tem como características “a

produção em massa através da linha de montagem e de produtos mais homogêneos, através do controle de tempos e movimentos pelo cronômetro fordista e produção em série taylorista, pela existência do trabalho parcelar e pela fragmentação das funções; pela separação entre elaboração e execução no processo de trabalho, pela existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas e pela constituição/consolidação do operário- massa, do trabalhador coletivo, entre outras dimensões”. Já o taylorismo é entendido como um modelo de produção criado por Frederick Taylor que tem como objetivo produzir mais em menos tempo, através da produção.

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O setor primário inclui a agricultura, a pesca, a caça e as florestas. Já o setor secundário engloba as indústrias extrativas e de transformação, a construção e as obras públicas e o setor água/gás/eletricidade. Ver a respeito, Úrsula Karsch M.S em O Serviço Social na Era dos Serviços (1998, p.11).

20 No setor terciário são desenvolvidas atividades voltadas para a distribuição (transportes, comércio), a

administração pública e todas as atividades que não têm por objetivo elaborar uma produção física (KARSCH,1998, p. 11).

São atividades que se deslocam, expandem, desaparecem dos organogramas organizacionais de acordo com as mudanças nos processos de trabalho e são desenvolvidas em função de um trabalho cooperativo21dentro das organizações de acordo com as atribuições delegadas.

Para a execução dos serviços, as organizações institucionais contratam um conjunto de profissionais, dentre esses o assistente social que se constitui um especialista na divisão sócio- técnica de trabalho para lidar com a questão social no mundo capitalista, através da implementação de políticas sociais.

Dentre as diferentes instituições prestadoras de serviços e contratantes desse profissional no Brasil, pode ser citado o SESI, que, em razão das mudanças na lógica de produção das empresas e das relações sociais, cria, expande e extingue diversos serviços, tendo como bases diretrizes próprias que organizam uma política de gestão estruturada de forma hierárquica, piramidal, e que é visível na divisão sócio-técnica do trabalho em setores de serviços predominantemente assistenciais; esses presentes até os anos 90 na instituição e supervisionados por profissionais de Serviço Social.

Essa profissão influenciará as bases políticas da gestão do SESI que adotará em suas diretrizes gerais o princípio do Serviço Social da época: “ajudar a ajudar-se, quando e quanto necessário: o indivíduo, o grupo e a comunidade” (SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, art. 6º, 1996), com vistas tratar os problemas crescentes, frutos da estrutura social capitalista, como problemas individuais, grupais ou comunitários, nunca como desigualdades entre classes sociais.

A adesão ao princípio do Serviço Social pelo SESI explicita a forte relação que essa instituição e a profissão têm nesse momento, bem como a grande importância na sua institucionalização e profissionalização nos anos 40. Como mostram Iamamoto e Carvalho

21 A cooperação é entendida como força produtiva, coletiva, constituindo-se em trabalho socialmente

(1996, p.284), as atividades que o antigo Serviço Social desenvolve em suas primeiras experiências sofrem significativas mudanças no seu âmbito e utilização, com o surgimento do SESI, uma vez que essa instituição irá disponibilizar um significativo conjunto de auxílios materiais destinados a uma parcela do proletariado urbano, bem como a criação de departamentos de Serviço Social em que “[...] o trabalho coletivo- entre Assistentes Sociais e entre estes e outros profissionais - quebrará o anterior isolamento do assistente social, integrando-o num trabalho coletivo específico”(IAMAMOTO;CARVALHO,1996, p. 284)22 como trabalhador assalariado.

O SESI permitirá uma maior visibilidade do Serviço Social mediante a adoção sistemática de técnicas utilizadas pelos assistentes sociais de forma isolada, além de inseri-los mais profundamente nas relações industriais. Será um espaço que permitirá ao assistente social adotar novas técnicas para melhor responder aos anseios da clientela do Serviço Social, que deixa de ser uma pequena parte da população pobre em geral, (atingida pelas ações dispersas das obras sociais) para ser os grandes setores do proletariado (IAMAMOTO, 1995, p.94).

Ao mesmo tempo, o Serviço Social é de grande importância para o SESI, pelo fato de subsidiar teórica e metodologicamente a atuação sócio-educativa dos profissionais envolvidos no trato das questões voltadas à dissolução de revoltas por parte do operariado, bem como dos problemas gerados pela forma de estruturação da sociedade capitalista: deficiência alimentar, uso de drogas, delinqüência, depressão, problemas familiares, etc.

Ao se reportar em específico sobre a realidade do Departamento Regional do SESI do Rio Grande do Norte, é notório o lugar estratégico da profissão de Serviço Social nesse

22 Convém destacar que antes do surgimento no Brasil na década de 40 de grandes instituições assistenciais

como o SESI, o Serviço Social já tinha surgido nesse país, embora de forma incipiente, e teve sua origem em obras e instituições que começam a surgir após o término da Primeira Grande Guerra. À propósito, ver Iamamoto e Carvalho (1996,p.169-240). Em relação ao processo de institucionalização do Serviço Social enquanto profissão reconhecida na divisão social do trabalho ver Iamamoto (1995 p.91-95).

espaço sócio - ocupacional que a reconhece uma profissão intermediadora das relações conflituosas entre trabalhadores e empregadores. É o que se pretende mostrar no item seguinte voltado para o percurso histórico deste Departamento no período entre o fim de 1949 e começo dos anos 80 e as competências exigidas para o assistente social.

1.2- A trajetória histórica do SESI/RN e as competências exigidas do assistente social.

Essa instituição assistencial que é o SESI surgiu no Brasil em uma conjuntura política, econômica e social de acirramento da questão social, através dos fenômenos da urbanização e da industrialização sob moldes capitalistas que provocaram o surgimento e/ou crescimento de diferentes problemas sociais a partir das contradições entre capital e trabalho, expressas nas condições de moradia, trabalho, acidentes, insuficiência alimentar, desagregação familiar, abandono e mortalidade infantil (IAMAMOTO; CARVALHO 1995).

À medida que os fenômenos da industrialização e urbanização se expandem pelas diversas regiões do país, ocorrem uma disseminação e diversificação desses problemas, acompanhados de conflitos e pressões pela ampliação da cidadania social, exige do Estado e da burguesia industrial um enfrentamento desses problemas mediante uma ação integrativa e mobilizadora dos trabalhadores urbanos de forma controlada, com uma aparente incorporação gradativa das suas reivindicações, por causa da necessidade de se possibilitar o livre desenvolvimento do capitalismo no país. E uma das estratégias mais visíveis se concretiza na expansão, para essas regiões, de instituições assistenciais como o SESI, que aparecem para lidar com esses problemas, em resposta ao acirramento das contradições que emergem do aprofundamento e expansão do capitalismo, e interferem na harmonia das relações de força entre as classes. A finalidade maior, portanto, dessas instituições volta-se para o apaziguamento dos conflitos entre capital e trabalho.

Diante dessa lógica, expandem-se de forma gradativa delegacias regionais do SESI em todos os estados brasileiros, inclusive o Rio Grande do Norte; sua delegacia foi criada em 22(vinte dois) de fevereiro de 1949, com sede em Natal.

O Rio Grande do Norte vivencia, nessa época, grandes mudanças. A cidade de Natal, sede de uma das mais importantes bases para os aliados na Segunda Grande Guerra, sofre significativas transformações de ordem política, econômica e social. Como mostra Gouveia; Cavalcanti; Cardoso, et al (1993, p.22),

A presença do americano e a circulação abundante do dólar no mercado [...] provocaram ou aceleraram as correntes migratórias para Natal, como que forçando um processo peculiar de urbanização para o qual a cidade não estava realmente preparada.

Outras questões problemáticas fazem ainda parte desse cenário, como o desenfreado êxodo-rural, em razão da falta de políticas públicas de subsídios à população da zona rural, vítima ao mesmo tempo de grandes secas e da modernização no campo, as quais expulsam essa população para as cidades, essas não tendo nenhuma condição de autosustentação. Além disso, havia a difícil situação de famílias de combatentes de guerra, “[...] cuja ausência dos esposos ou filhos criava e/ou acentuava problemas de natureza tanto econômica como

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