• Nenhum resultado encontrado

A crença no arrebatamento da Igreja: Seus Desenvolvimento e transformações imagéticas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "A crença no arrebatamento da Igreja: Seus Desenvolvimento e transformações imagéticas"

Copied!
122
0
0

Texto

(1)

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

P

ROGRAMA DE

P

ÓS

-G

RADUAÇÃO EM

C

IÊNCIAS DA

R

ELIGIÃO

A crença no arrebatamento da Igreja: seus

desenvolvimentos e transformações imagéticas

ANDRÉA DOS REIS SEBASTIÃO

(2)

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

P

ROGRAMA DE

P

ÓS

-G

RADUAÇÃO EM

C

IÊNCIAS DA

R

ELIGIÃO

A crença no arrebatamento da Igreja: seus

desenvolvimentos e transformações imagéticas

por

ANDRÉA DOS REIS SEBASTIÃO

Orientador: Prof. Dr.

Paulo Augusto de Souza Nogueira

Dissertação apresentada em cumprimento às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, para obtenção do grau de Mestre.

(3)

A dissertação de mestrado sob o título “A crença no arrebatamento da

Igreja: seus desenvolvimentos e transformações imagéticas”, elaborada

por Andréa Dos Reis Sebastião foi apresentada e aprovada em 03 de

Março de 2010, perante banca examinadora composta por Paulo Augusto

de Souza Nogueira (Presidente/UMESP), Etienne Alfred Higuet

(Titular/UMESP) e José Adriano Filho (Titular/ UNIFIL).

________________________________________ Prof. Dr. Paulo Augusto de Souza Nogueira Orientador e Presidente da Banca Examinadora

________________________________________ Prof. Dr. Jung Mo Sung

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião

Área de Concentração: Literatura e Religião no Mundo Bíblico

(4)

aos meus pais,

(5)

AGRADECIMENTOS

Meus sinceros e cordiais agradecimentos:

A Deus, pela vida, saúde, início e término deste curso.

À querida mãe, Eunice, pelas orações e compreensão pelas decisões que tomo.

À família: Paulo, Regiane, Gizele, Karine, Danielle e Gian, pelo incentivo. À amicíssima Claudia dos Santos Rezende, que tão solicitamente me emprestou o espaço e o silêncio de seu lar para que eu pudesse estudar.

À querida amiga Giane que, mesmo à distância, incentivou-me nesta empreitada. Aos colegas de curso de um modo geral, em especial Ana Pinheiro dos Santos, Santa Ângela Cabrera, Fernando Cândido da Silva, Ângela Maringoli, por compartilharem conhecimentos e indicarem caminhos.

A todos os professores, por nos conduzirem pelos caminhos do conhecimento. Ao meu orientador Paulo Augusto de Souza Nogueira, pelo incentivo inicial e pela paciência ao longo do caminho.

(6)

Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos ansiosamente como Salvador o Senhor Jesus Cristo, que transfigurará o nosso corpo humilhado conformando-o ao seu corpo glorioso, pela força que lhe dá poder de submeter a si todas as coisas.

(7)

SEBASTIÃO, Andréa dos Reis. A crença no arrebatamento da Igreja: seus desenvolvimentos e transformações imagéticas. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2010.

SINOPSE

A crença no arrebatamento da Igreja faz parte de um sistema escatológico fundamentalista que costuma ser chamado de dispensacionalismo pré-milenista. Seu surgimento se dá a partir do século XIX, pelo ensino de John Nelson Darby, um pregador evangélico britânico, fundador dos Irmãos de Plymouth. Seu ensino aguarda a vinda de Cristo em duas etapas: uma, em secreto para a Igreja, há de levá-la ao Céu e poupá-la dos sete anos de tribulação que se seguirão; e outra, num aparecimento glorioso, ao final dos sete anos há de instaurar o reino milenial sobre a terra. O ensino de Darby foi popularizado nas notas de rodapé da Bíblia de Referência Scofield, publicada em 1909 por Cyrus I. Scofield, e ainda hoje se configura na crença escatológica da maioria das igrejas evangélicas fundamentalistas, tanto nos EUA quanto no Brasil. Em 2002 foi produzido o filme: Deixados para Trás que retrata esta crença bem como sua atualização para épocas recentes. Contudo, um estudo mais aprofundado desta crença expõe seu caráter de construto doutrinário, em que textos bíblicos de perspectivas diferentes, do Antigo e do Novo Testamento, são unidos para formar um quadro escatológico em vias de se cumprir.

(8)

SEBASTIÃO, Andréa dos Reis. A crença no arrebatamento da Igreja: seus desenvolvimentos e transformações imagét icas. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2010.

ABSTRACT

The belief in the rapture of the church is part of a fundamentalist eschatological system that is often called premillennial dispensationalism. Its appearance is noted to start in the XIX century through the teachings of Jonh Nelson Darby, a british evangelical preacher founder of the Plymouth Brethren. His teaching incompass the coming of Christ in two steps. One in secret for the church, taking it to heaven and saving it from seven years of tribulation that will follow, the second, a glorious return at the end of seven years for establishment the millennial kingdom on earth, the teaching of Darby were popularized in the footnotes of the Scofield Reference Bible published in 1909 by Cyrus I. Scofield, and it is still set in the eschatological beliefs of the majority of the evangelical fundamentalist churches, both in the EUA and Brazil. In 2002, the film was produced: Left Behind for portraying this belief as well as its update to recent times. However, further study of this belief exposes its doctrinal construct character in which biblical texts from different perspectives of the old and New Testaments are united to form an eschatological framework about to be fulfilled.

Keywords: rapture, dispensationalism, premillennial, fundamentalist, Darby, Scofield Left Behind.

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 12

CAPÍTULO I 1. O que é o arrebatamento?... 15

1.1. Inserção do arrebatamento nas doutrinas escatológicas bíblicas... 15

2. Arrebatamento e milênio... ... 16

2.1. Pré-milenismo ... 16

2.2. Pós -milenismo... 19

2.3. Amilenismo ... ... 20

3. Dispensacionalismo... 20

3.1. A hermenêutica das Setenta Semanas de Daniel ... ... 22

4. A crença no arrebatamento segundo o dispensacionalismo ... 25

4.1. Os textos em que se apoia... 26

5. Quais as principais implicações da crença... 27

CAPÍTULO II 2. O surgimento da doutrina do arrebatamento da Igreja... 30

2.1. Origens nos EUA ... 30

2.2. Fundamentalismo e dispensacionismo nos EUA ... ... 32

2.3. A Bíblia de Referências Scofield ... ... 35

2.4. No Brasil ... 37

2.4.1. Livros americanos de impacto no Brasil... ... 37

2.4.2. Resenha dos livros acima citados ... 37

2.4.3. Autores brasileiros importantes na escatologia... ... 38

(10)

CAPÍTULO III

3. Análise do filme Deixados para trás ... 48

3.1. Por que a análise de um filme?... ... 48

3.2. Resumo do enredo ... ... 50

3.3. Análise temática do filme Deixados para trás... 56

3.3.1. O filme: ficção com status de verdade... 56

3.4. A hermenêutica bíblica do arrebatamento segundo o filme... 59

3.5. Conteúdo ideológico: suas ambiguidades e implicações ... 65

3.5.1. A centralidade de Israel ... 64

3.6. A crítica ao capitalismo na ficção ... 67

3.7. A imagem negativa a respeito dos árabes... 70

3.8. Fusões em texto-imagem: a consolidação de uma crença ... 73

3.8.1. Dinâmica texto-imagem e suas consequências para a significação da vida ... 74

3.8.2. O uso de signos como produtores e sustentadores de ideologias ... 75

CAPÍTULO IV 4. Análise e crítica de textos fundantes ... 76

4.1. Exegese de 1 Tessalonicenses 4,13-18 ... 76

4.1.1. Crítica textual... ... 76

4.1.2. Delimitação... ... 77

4.1.3. Contexto maior... 79

4.1.4. Tradução formal ... ... 79

Conclusão da exegese... 98

4.2. Exegese de Apocalipse 20,1-6 ... ... 99

4.2.1. Tradução formal ... ... 100

4.2.2. Análise do conteúdo ... ... 101

(11)

4.2.4. Contexto anterior ... ... 102

4.2.5. Contexto posterior... 103

4.2.6. Análise exegética... ... 103

4.2.7. Divisão da perícope ... ... 104

4.3. Crítica exegética do arrebatamento: convergências e divergências interpretativas entre as duas passagens... ... 107

CONCLUSÃO ... 110

(12)

INTRODUÇÃO

A doutrina do arrebatamento coletivo faz parte do conteúdo escatológico bíblico particularmente a partir do corpus paulino. É um assunto que encontramos principalmente em 1 Tessalonicenses 4,17 e 1 Coríntios 15,51-52, embora haja perícopes nos Sinótic os, tais como Mt 24,40-41 e Lc 17,34-36, que são usadas para corroborar a mesma crença. Ao longo da história cristã, o arrebatamento não teve grande destaque, já que foi interpretado apenas como um apêndice da segunda vinda de Cristo. Contudo, a partir do desenvolvimento do dispensacionalismo e de sua ligação com o fundamentalismo, por volta do século XIX, o tema do arrebatamento ganha importância, à medida que é visto como um marco final na história da Igreja, que será seguido pela grande tribulação e pela implantação do reino milenar de Cristo. Embora nem todo fundamentalista seja dispensacionalista, uma parte quantitativa considerável pode ser assim definida. Esse movimento evangélico, com sua visão escatológica bíblica característica, tem produzido literaturas e filmes divulgando seu modo de crer. Por isso, uma de nossas tarefas será a análise de um filme que aborda esta interpretação. Tal filme é uma obra de ficção baseado numa série de best-sellers de mesmo nome: Left Behind (Deixados para trás) e que teve ampla aceitação nos meios de semelhante fé. Aqui delineamos nosso objetivo de entender como o tema do arrebatamento da Igreja é considerado no mundo evangélico, e para isso será necessário confrontar formas de leitura especialmente sugeridas pelo filme que, criando uma teologia escatológica de longo alcance, determina a interpretação de textos particulares, entre eles, o texto fundante de 1Ts 4,13-18. A construção da doutrina, portanto, se configura numa montagem de textos bíblicos de escatologias diferentes, cujas divergências e dissonâncias são preteridas em prol de um único e principal conteúdo escatológico.

(13)

Paulo, no entanto, tenha-o mencionado. Dessa forma, nota-se uma forte elaboração escatológica através da junção e imbricação de perícopes bíblico-escatológicas.

Atualmente, conquanto se considere que o pensamento pós-moderno tenha atingido todas as esferas da vida, muito ainda se recorre à Bíblia como fonte de revelação de acontecimentos futuros. Convém, portanto, voltar a ela sempre novos olhares e atualizá-los de acordo com o desenvolvimento histórico, mesmo porque as apropriações feitas até agora influenciaram e ainda influenciam a leitura e o comportamento das comunidades de fé, como também interagem na história e na cultura.

O primeiro capítulo desta dissertação definirá o que é o arrebatamento da Igreja propriamente dito, segundo a corrente dispensacionalista, bem como sua inserção nas correntes escatológicas em que porventura figure. Nesse mesmo capítulo elencaremos os principais textos ou versículos em que se apoia a crença, ou mesmo que fazem parte da construção da mesma. Por fim, esboçaremos as principais implicações da crença, tanto do ponto de vista de seus adeptos quanto de seus opositores.

O segundo capítulo privilegiará a crença moderna no arrebatamento como uma construção doutrinária de origem no eixo Inglaterra-EUA, embora sua principal divulgação se deva aos EUA. Em seguida, abordaremos o fundamentalismo e o dispensacionalismo nos EUA pelos principais livros divulgadores do tema, em especial os que tiveram impacto no Brasil. Por fim, exporemos as principais formas de divulgação da crença escatológica no Brasil.

No terceiro capítulo apresentaremos uma análise do filme Left Behind (Deixados para trás), o qual, com sua ênfase na verossimilhança, dá a uma montagem doutrinal um aspecto de realidade objetiva. O uso de recursos imagéticos, bem como as fusões entre texto bíblico e imagem fílmica consolidam de certa forma o caráter de constructo que a crença promove. Finalmente, exporemos algumas ambiguidades da crença retratada no filme, bem como as principais implicações dessa hermenêutica.

(14)
(15)

CAPÍTULO I

1. O que é o arrebatamento?

O arrebatamento (secreto ou coletivo) da Igreja é uma doutrina cristã evangélica que promove a crença de que a Igreja será arrebatada (raptada) por Cristo para estar com ele nos Céus, antes do milênio, com base em textos como 1Ts 4,13-18 e 1Cor 15,51-52, entre outros. Há três correntes interpretativas desta crença: 1) Jesus arrebatará a Igreja antes da Grande Tribulação; 2) Jesus arrebatará a Igreja na metade da Grande Tribulação; 3) Jesus arrebatará a Igreja após a Grande Tribulação. No entanto, a crença no arrebatamento não é estática nem tampouco inconteste no meio cristão.

1.1. Inserção do arrebatamento nas doutrinas escatológicas bíblicas

Os ensinos sobre o arrebatamento1 estão íntima e inseparavelmente ligados ao assunto da chamada segunda vinda de Cristo2. Ao longo da história da Igreja e da interpretação bíblica, a segunda vinda de Cristo é corroborada por passagens bíblicas neotestamentárias como Mt 24,30; 25,19-31; 26,64; Jo 14,3; At 1,11; 3,20-21; Fl 3,20; 1Ts 4,15-16; 2Ts 1,7-10; Tt 2,13; Hb 9,28 etc. Para falar de uma segunda3 vinda de Cristo, o grego do NT usa basicamente três termos principais:

I. Apocalypsis (desvendamento, revelação): indica a remoção do que obstrui a visão de Cristo: 1Cor 1,7; 2Ts 1,7; 1Pd 1,7-13; 4,13.

II. Epiphaneia (aparecimento, manifestação): sair a partir de um substrato oculto com as ricas bençãos da salvação: 2Ts 2,8; 1Tm 6,14; 2Tm 4,1-8; Tt 2,13.

1 Arrebatamento usado no sentido de arrebatamento coletivo ou, como preferem alguns, arrebatamento

secreto, com base em textos como 1Ts 4,13 e 1Cor 15,58. 2 Embora, para a corrente dispensacionalista, sejam eventos distintos.

(16)

III.Parousia (presença): vinda que precede a presença ou que resulta na presença: Mt 24,3; 27,37; 1Cor 15,23; 1Ts 2,19; 3,13; 4,15; 5,23; 2Ts 2,1-9; Tg 5,7-8; 2Pd1,16; 3,4-12; 1Jo 2,28.

Assim, a segunda vinda, referida em várias passagens e em contextos diferentes tem dado, no decorrer dos séculos, lugar a diversas interpretações e crenças.

Ao assunto da segunda vinda soma-se costumeiramente nos tratados de teologia sistemática o milenismo e suas correntes, nas quais também se insere o arrebatamento.

2. Arrebatamento e milênio

O milenismo ou milenarismo é dividido em correntes interpretativas sempre tendo como referência a segunda vinda. São três as correntes milenaristas conhecidas:

• a pré-milenista;

• a pós-milenista;

• a amilenista.

2.1. Pré-milenismo

(17)

sobreviria o juízo final e apareceria uma nova criação, na qual os remidos viveriam eternamente na presença de Deus.

Nos séculos subsequentes à interpretação patrística, a ideia acima sofreu algumas alterações que confirmaram algumas ideias e especificaram acontecimentos considerados claramente escatológicos. O desenvolvimento do tema levou-o a este enredo fundamental: o advento de Cristo está próximo e visível, pessoal e glorioso. Será precedido por tais eventos: a evangelização de todas as nações, a conversão de Israel e seu estabelecimento na Terra Santa, a grande apostasia, a grande tribulação e a revelação do homem do pecado (Anticristo). A Igreja, portanto, passará pela grande tribulação (no caso do pré-milenarismo antigo). Ao grandioso evento da segunda vinda somam-se outros que se impõe sobre a Igreja, Israel e o mundo. Os fiéis que já morreram serão ressuscitados, e os que vivem serão transformados (arrebatados), e juntos serão transladados para encontrar -se com o Senhor em sua vinda. O Anticristo e seus aliados serão mortos. Os gentios se converterão a Deus em grande número e participaram do reino terreno de Cristo, onde haverá justiça e paz, como profetizaram os profetas no Primeiro Testamento. Após esse período de mil anos, os mortos restantes ressurgirão para que se siga o juízo final e a subsequente criação de novos céus e nova terra.

No segundo quartel do século 19 surgiu uma nova forma de pré-milenismo muito atrelado ao chamado dispensacionalismo4 seguido na Inglaterra e na América. Os novos conceitos foram popularizados principalmente pela Bíblia de Scofield e se disseminaram amplamente. Essa “nova” concepção premilenista apresenta uma filosofia da história da redenção própria, na qual Israel desempenha o papel principal, e à Igreja cabe um papel de interlúdio. A Bíblia é dividida em livro do Reino e livro da Igreja. Ao descrever o procedimento de Deus para com o homem na história da redenção, elabora uma sequência de alianças e dispensações (sete no total). Dependendo do programa escatológico deduzido desta concepção, é possível encontrar ideias de que haverá duas segundas vindas, duas ou três (ou até quatro) ressurreições5 e também três juízos, e a

existência de dois povos de Deus (segundo alguns, separados eternamente, Israel habitando na terra e a Igreja no Céu). A escatologia elaborada por essa concepção é a seguinte: a volta de Cristo é iminente, podendo ocorrer a qualquer momento, pois não

4 Segundo nota da Bíblia Scofield, dispensação é um período de tempo durante o qual o homem é provado quanto à obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus.

(18)

há eventos preditos que devam precedê-la (já que a evangelização às nações fracassará6). Todavia, sua vinda consistirá em dois eventos distintos, separados um do outro por um período de sete anos. Assim, primeiramente ocorrerá a parousia, quando Cristo aparecerá nos ares para encontrar seus santos. Todos os fiéis falecidos ressurgirão, e os que estiverem vivos serão transformados e arrebatados nos ares para celebrar as bodas do Cordeiro, e estarão para sempre com o Senhor. Enquanto Cristo e sua Igreja (e com ela o Espírito Santo) estiverem ausentes da terra, haverá um período de sete anos (ou mais) dividido em dois pares, em que sucederão várias coisas: o Evangelho do Reino será pregado pelos crentes judeus remanescentes, e resultarão muitas conversões. O Senhor retomará suas relações com Israel. Na segunda metade desse período de sete anos, haverá uma tribulação sem precedentes; o Anticristo será revelado e parte da ira de Deus será derramada sobre a humanidade. No fim dos sete anos dar-se-á a vinda do Senhor (segunda etapa, não para seus santos, mas com eles para julgar as nações, Mt 25,35). Os fiéis que morreram durante a grande tribulação serão res suscitados7 (segunda ressurreição para os fiéis); o Anticristo será destruído e

Satanás será preso por mil anos, quando então será estabelecido o reino milenar, um reino concretamente visível, terrestre e material, reino dos judeus, teocrático e de realeza davídica. O trono de Cristo será estabelecido em Jerusalém, no Monte Sião, que voltará a ser o local central de culto. Após o milênio, Satanás será solto por um breve lapso de tempo; ocorre a guerra entre Gog e Magog contra Jerusalém, porém esta vence porque um fogo advindo do céu devorará seus inimigos. Após esse curto período de tempo, os ímpios ressuscitarão para comparecer ao juízo perante o Trono Branco, conforme Apocalipse 20,11-15. E então haverá novos céus e nova terra.

Essa é uma visão geral da elaboração pré-milenarista; contudo, não é de forma alguma unívoca mesmo entre os que a professam. Conquanto ela procure abarcar todos os temas e textos bíblicos a respeito do fim dos tempos numa única doutrina, não consegue, entretanto, alcançar suficiente coesão e coerência, de maneira que há inúmeras opiniões, indefinições e incertezas entre os pré-milenistas.

Essa interpretação tem sido a mais influente na escatologia cristã evangélica.

6 Neste ponto há divergências: alguns crêem que, para que haja o arrebatamento, antes é necessário haver a reconstrução do templo judaico.

(19)

Tempo atual Segunda vinda nos ares

Sete anos (3/5 + 3/5)

literal

Segunda vinda terrena

Milênio

2.2. Pós-milenismo

Afirma que o retorno de Cristo será depois do milênio, o qual se espera para durante (era cristã) ou no fim da dispensação do Evangelho. Existem, então, duas formas teóricas de interpretação pós -milenista: uma espera a realização do milênio por influência sobrenatural do Espírito Santo, e a outra, por um processo natural de evolução.

Uma forma mais antiga de pós-milenarismo ocorreu entre alguns teólogos reformados da Holanda, que esperavam o milênio para as proximidades do fim do mundo, imediatamente antes da segunda vinda de Cristo. Predominava entre eles a ideia de que o Evangelho se propagaria gradativamente pelo mundo todo, tornando-se assim muito mais eficiente e rico de bênçãos espirituais. Nesse tempo os judeus também compartilhariam das bênçãos do Evangelho. Posteriormente, alguns teólogos reafirmaram esta visão dizendo que o milênio será “um período dos últimos dias da Igreja militante, quando, sob a influência especial do Espírito Santo”, o espírit o dos mártires reaparecerá, a verdadeira religião será grandemente revigorada e revivida, os membros da Igreja de Cristo tomarão tal consciência de seu poder em Cristo que triunfarão sobre os poderes do mal de maneira jamais concebida. A idade de ouro da Igreja será então seguida por um breve período de apostasia, um terrível conflito entre as forças do bem e as do mal, e pela ocorrência simultânea do advento de Cristo, da ressurreição geral e do juízo final.

Uma forma bem recente de pós-milenismo é de um tipo bastante influenciado por ideias modernistas8. Visto que o homem moderno é pouco receptivo a ideias e esperanças milenistas do passado, e pouco afeito à dependência de Deus, ele não espera que uma nova era seja introduzida pela pregação do Evangelho juntamente com a obra do Espírito Santo, muito menos como resultado de mudanças cataclísmicas. Antes,

(20)

acredita que o milênio virá pela evolução que o próprio homem iniciará adotando uma política construtiva de melhorar o mundo. Assim, o interesse no milênio está atrelado ao desejo de uma ordem social em que se valorize a liberdade, a honra, a fraternidade humana, a solidariedade e a justiça social. Creem alguns que esta nova ordem é responsabilidade do homem pela fé que Deus opera por seu intermédio. Dessa maneira, o curso da história progride por meio de lutas e evoluções nas quais o homem empenha habilidade e operosidade (empenho). Segue-se também que as moléstias deverão ser curadas ou evitadas, os males sociais deverão ser remediados pela educação e pela legislação, as desgraças internacionais deverão ser impedidas pelo estabelecimento de novos padrões e novos métodos de tratamento, e nunca por uma aniquilação repentina.

Tempo Atual

Milenismo Conflito bem X mal Apostasia ressurreição geral Segunda vinda juízo final

Obs.: o pós -milenarismo não espera pelo arrebatamento como evento distinto.

2.3. Amilenismo

O amilenismo, na verdade, é a negação de um milênio concreto e terreno. Antes afirma que este é simbólico e diz respeito à era da Igreja. Assim, após a presente dispensação seguir-se-á imediatamente o Reino de Deus em sua forma consumada e eterna, uma vez que o Reino de Cristo é eterno e não temporal (cf. Is 9,7; Dn 7,14; Lc 1,33; Hb 1,8; 12,28; 2Pd 1,11; Ap 11,15); e ao se entrar no reino futuro entra-se num estado eterno de vida e salvação (cf. Mt 21,22; 18,8-9; Mc 10,25-26). Portanto, aqui também inexiste a crença no arrebatamento da igreja.

Tempo atual = milênio Segunda vinda; ressurreição geral; juízo final

(21)

O dispensacionalismo é o sistema doutrinário que dá as bases para a doutrina do arrebatamento. Embora faça parte de uma corrente teológica considerada ortodoxa por aqueles que a seguem, é recente em sua forma hegemônica. Os dispensacionalistas costumam entender que tal sistema incorre num método de interpretação das Escrituras: em sua essência, a convicção de que as Escrituras devem ser interpretadas literalmente. Deixam claro que as passagens metafóricas não devem em princípio ser entendidas literalmente, mas que, “se o significado simples faz sentido, não se deve procurar outro”9; é o que costumam chamar de literalismo coerente. Entretanto, isso muitas vezes

significa que a profecia é interpretada de modo muito literal e, muitas vezes, com doses consideráveis de detalhes. Um exemplo patente é o termo Israel, que sempre é compreendido como uma referência a Israel como nação ou etnia, não como a Igreja. Assim, as profecias do AT que ainda não se cumpriram não podem necessariamente cumprir-se na Igreja cristã, uma vez que esta e Israel são entidades distintas. É bom considerar que o uso do termo dispensacionalismo como sistema interpretativo bíblico não é novo. Berkhof10, por exemplo, fala da teoria das três dispensações encontrada em

Irineu, a qual falava em três alianças, sendo a primeira, a lei escrita no coração, a segunda, a lei como mandamento externo dado no Sinai, e a terceira, a lei restabelecida no coração pela operação do Espírito Santo; assim, portanto, cada aliança regia uma dispensação. Outrossim, outros pais da Igreja também usaram algum tipo de sistema dispensacional como recurso interpretativo, embora sejam considerados elementares (ou não desenvolvidos) pelos próprios dispensacionalistas modernos. Esses, como no caso de Darby e Scofield11, propagam a existência de sete dispensações, sendo elas: a da inocência, a da consciência (ou responsabilidade moral), a da promessa, a da lei, a da graça e a do reino, sendo que “dispensação é um período de tempo durante o qual o homem é provado quanto à obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus”12. Segundo Frank E. Gaebelein13 se o homem tivesse preenchido todas as condições necessárias na primeira dispensação, as outras seriam desnecessárias; porém, o homem falhou e continuou a falhar a cada chance dada nas demais dispensacões, o que demonstra o fracasso humano e a misericórdia divina.

9 ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. 10 BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007, p. 270. 11Bíblia de Referências Scofield. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1986, p. 4.

12 GAEBELEIN, Frank E. In Exploring the Bible, p. 95, apud BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007 p. 269.

(22)

Em relação à doutrina do arrebatamento coletivo, é importante a teoria das dispensações para compreender a ênfase dada na distinção entre Israel e Igreja. Alguns sustentam que Deus fez uma aliança incondicional com Israel, e suas promessas a este não dependem do cumprimento de exigências; antes, como povo especial, Israel receberá sua benção de uma forma ou de outra no fim de tudo. Israel como etnia, nação e unidade política, jamais deverá, portanto, ser confundido com a Igreja; por isso, não se deve entender que as promessas feitas a Israel aplicam-se à Igreja sendo nela cumpridas. Compreendem que Deus interrompeu o tratamento especial dispensado a Israel quando este rejeitou o Messias (Jesus), mas o retomará em algum ponto no futuro, quando Israel mudar de atitude. Assim, as profecias não cumpridas acerca de Israel serão cumpridas na própria nação, e não na Igreja. Inclusive crê-se que a Igreja sequer é mencionada nas profecias do AT. A Igreja seria um parêntese dentro do plano geral de Deus em seu relacionamento com Israel. O milênio tem, portanto, um significado todo especial para os dispensacionalistas, já que é nesse período que Deus retomará seu relacionamento com Israel; as profecias não cumpridas o serão nesse período, quando a Igreja já não estará presente na terra, pois já terá sido arrebatada para os céus com Cristo, antes da grande tribulação. Por isso, existe nessa crença a separação categórica entre o arrebatamento e a segunda vinda de Cristo, como eventos distintos e cronologicamente separados: o arrebatamento é para a Igreja, e a segunda vinda é principalmente para Israel e também para aqueles que ficarem na grande tribulação (e se converterem). Esse ponto de vista justifica o motivo de Israel passar pela grande tribulação: é por causa de sua rejeição ao Messias. Nesse aspecto, a grande tribulação é um tempo de preparação para a restauração e a conversão de Israel (cf. Dt 4,29-30; Jr 30,3-11; Zc 12,10), embora seja considerado o Dia do Senhor, o dia da ira de Deus. Também por isso, somente após se conscientizarem desse fato é que Israel adentrará o milênio, que terá um caráter completamente judaico. Quanto à duração da tribulação, acreditam que será de sete anos, com um acirramento dos flagelos na metade do período. Tal duração é baseada na interpretação do livro de Daniel 9,24-27 e também em passagens do Apocalipse.

(23)

O conceito de grande tribulação e sua duração é um assunto importante para o ensino escatológico dispensacionalista e é retirado do livro de Dn 8,13, em conexão com o tema das Setenta Semanas (9,24-27), uma tradição apocalíptica antiga que parece inclusive ter influenciado a expectativa apocalíptica de Jesus, conforme encontramos nos sinóticos (cf. Mt 24,15). A Bíblia Scofield14 possui em sua nota explicativa um breve resumo do ensino escatológico baseado em Dn 9,24-27.

A passagem profética sobre as Setenta Semanas de Daniel é usada como um quadro cronológico do estabelecimento do reino messiânico sobre a terra, e tem fornecido juntamente a base cronológica dos eventos do fim. É importante levar em consideração que, para a leitura fundamentalista, o livro de Daniel é datado da época do cativeiro babilônico (586 aEC), mencionado em 2Cr 36,17-21, e conforme Jr 25,11, em que tal cativeiro deveria durar setenta anos. Daniel teria sido levado para a Babilônia no início do cativeiro e, quando da profecia do capítulo 9, já estaria idoso. Dessa forma, teria profetizado15 cerca de 500 anos antes da vida do Messias (Jesus).

A partir do v. 24 sublinha-se o endereçamento da profecia ao povo de Daniel (ou seja, o povo de Israel) e a sua cidade santa (Jerusalém) que terão o tempo de Setenta Semanas, um tempo após o qual cessar iam16 a transgressão, os pecados, a iniquidade e para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia, para ungir o Santo dos Santos.

O período de Setenta Semanas (

~y[iøb.vi ~y[i’buv'

) em

hebraico significa “sete setenta” (da direita para a esquerda). Na passagem, tal período é dividido em três períodos menores: primeiro sete semanas; depois, 62 semanas e, finalmente, uma semana. Assim, temos: 7 + 62 + 1= 70 semanas.

Segundo Scofield17, as Setenta Semanas da profecia são semanas de anos18, uma importante medida de tempo sabático do calendário judeu. E foi a transgressão da

14Bíblia de Referências Scofield. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1986, p. 863-864. 15 A leitura fundamentalista não considera os aspectos de profecia ex eventum, nem a pseudepigrafia,

características comuns nos escritos apocalípticos dos dois séculos anteriores à Era Cristã, época em que a escola liberal histórico- crítica costuma datar o livro de Daniel.

16 A ideia de cessar a transgressão, o pecado e a iniquidade dificilmente é interpretada de outra maneira que não no horizonte do sacrifício expiatório de Cristo.

17Bíblia de Referências Scofield. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1986, p. 864.

(24)

guarda do ano sabático inteiro que trouxe o juízo do cativeiro babilônico e determinou sua duração em setenta anos (cf. Lv 25,1-22; 26,33-35; 2Cr 36,19-21; Dn 9,2). A passagem de Gn 29,26-28 é usada para reforçar a ideia de que “semana” indica sete anos. Portanto, Setenta Semanas equivale a 490 anos. E esses 490 anos “proféticos” têm cada um 360 dias, uma vez que os meses são de 30 dias (cf. uso no livro de Gênesis)19. Conforme McClain20, o início do período total de Setenta Semanas é fixado no v.25: “desde a saída da ordem para restaurar e para edificar a Jerusalém”, e o fim do período será marcado pela apresentação do Messias, o Príncipe de Israel. Deve-se levar em conta que dois príncipes diferentes são mencionados: o primeiro se chama Messias, o príncipe (v. 25), e o segundo é descrito como “príncipe que há de vir” (v. 26). Então, por essa leitura, o início refere-se ao decreto dado a Neemias para restaurar e para edificar Jerusalém e seus muros, cuja data é 445 aEC (cf. Ne 2,1), e a partir desta data as primeiras 69 semanas (o mesmo que 483 anos) chegam até o “Príncipe Ungido” que, conforme acreditam, refere-se a Jesus, o Messias que será morto. Então, novamente o santuário e a cidade serão destruídos pelo povo do outro príncipe (“que há de vir”), o que se refere ao povo romano e seu imperador, que em 70 EC destruiu Jerusalém. Portanto, esses dois acontecimentos são postos imediatamente antes da septuagésima semana. Essa última semana, que conforme a contagem refere-se aos últimos sete anos, é o tempo em que ocorre uma aliança da nação de Israel com o príncipe vindouro. Tal aliança dura apenas metade da semana, e a violação do tratado faz cessar o sacrifício judaico e precipita sobre o povo de Israel um tempo de ira e desolação, que durará até o fim da semana (v. 27). Portanto, assim como os acontecimentos relacionados a essa última semana não ocorreram ainda, e uma vez que Cristo cita estes acontecimentos relacionando-os a sua segunda vinda (Mt 24,6.15), esta última semana é aguardada para o futuro. E o intervalo que fica entre a sexagésima nona até a septuagésima semana é considerado o período da Igreja, uma lacuna profética que ocorre devido à rejeição do povo de Israel ao Messias (Jesus) e sua aceitação pelos gentios. Quando o período da Igreja acabar, então a última semana terá início para selar o cumprimento da profecia. Essa interpretação, que atribui a última semana ao fim dos tempos, começou com os pais da Igreja. Scofield lembra que Irineu, por exemplo, coloca o aparecimento do

(25)

Anticristo nesta última semana, afirmando que a tirania do Anticristo durará exatamente meia semana21 (três anos e seis meses).

Portanto, partindo de Dn 9,24-27 é possível perceber de onde provém a base para a sustentação do período de grande tribulação pelo qual passará o povo de Israel, e do qual a Igreja estará livre (pelo arrebatamento) de acordo com o dispensacionalismo.

4. A crença no arrebatamento segundo o dispensacionalismo

O arrebatamento coletivo ou secreto abordado nesta dissertação é o translado ou rapto dos fiéis cristãos aos céus para junto de Cristo antes da tribulação e do milênio, por isso denominada pré-milenista dispensacionista e pré-tribulacionista. É uma interpretação bíblica bastante popular, especialmente nos círculos evangélicos tradicionais, conservadores, pentecostais e independentes; é portanto, em termos de abrangência numérica a que prevalece. É divulgada principalmente em literaturas, filmes e sites.

Como vimos, a característica principal para que um sistema doutrinário seja considerado pré-milenista é o anúncio de um reino terrestre de Cristo que será estabelecido antes de sua vinda. Entretanto, é importante nessa interpretação levar em conta que o evento arrebatamento é distinto da segunda vinda de Cristo. E embora a ideia de milênio provenha principalmente de Apocalipse 20 (em que é descrito o reino milenar de Cristo, quando haverá perfeita paz, retidão e justiça entre os homens), no AT profetas como Isaías (11,6,7; 65,25) profetizaram acerca de um período de reinado messiânico sobre a terra, o que sugere que esta crença cristã possui resquícios de uma tradição antiga. A maioria dos dispensacionalistas (mas não todos) acredita que tal reino será literalmente de mil anos. Nesse período Cristo estará presente fisicamente sobre a terra. A instauração do reino será de modo dramático e cataclísmico, conforme Mt 24,12, e com fenômenos cósmicos, perseguição e grande sofrimento, após o esfriamento da fé de muitos e a grande tribulação, que há de ressaltar os efeitos do milênio que o

(26)

sucederá. Entretanto, como o dispensacionalismo não é unívoco, como já dissemos, em relação à grande tribulação, há quem creia que a Igreja será arrebatada antes; outros, que ela passará pela metade do período da tribulação; e há ainda os que creem que a Igreja será arrebatada no fim da tribulação. Contudo, a ênfase desta dissertação recai sobre o arrebatamento pré-milenista, pré-tribulacionista e dispensacionalista, como já mencionado, no qual a Igreja é poupada da grande tribulação.

Dessa maneira, a interpretação feita sobre Apocalipse 20 é literal e coerente22,

segundo alegam. Entendem que as duas ressurreições dessa passagem são do mesmo tipo, mesmo porque o verbo usado é o mesmo (e;zhsan, viveram), e atingem dois grupos diferentes no intervalo de mil anos, sendo que os participantes da primeira ressurreição não passarão pela segunda, uma vez que por esta só o restante dos mortos que não reviveram (antes do milênio) passarão.

Esta interpretação pré-milenista reforça bastante a ideia de que a grande tribulação – tempo de dificuldades e convulsões sem precedentes, incluindo distúrbios cósmicos, perseguições e grande sofrimento, precederá o milênio, conforme os sermões proféticos dos evangelhos sinóticos e também segundo entendem no próprio Apocalipse23.

4.1. Os textos em que se apoia

Vimos que o modo fundamentalista de interpretar a bíblia é bastante literalista e dá muita importância às Escrituras como livro histórico e profético. A veracidade da Bíblia é a veracidade da história – e de tal modo é assim que todo o discurso dessa corrente está fatalmente caracterizado pelo antigo costume de apoiar cada fala com quantas citações bíblicas forem possíveis. Com o “rapto coletivo” não é diferente.

Conquanto o termo a`rpa,zw (rapto) usado nesse sentido seja encontrado apenas em 1Ts 4,13-182 4, os defensores de tal doutrina citam 26 textos bíblicos para

22 Há certa insistência quanto a uma hermenêutica literal e coerente por parte dos dispensacionalistas. Ver ICE, Thomas. Entendendo o dispensacionalismo. Porto Alegre: Actual Edições, 2004, p. 23-24; A verdade sobre o arrebatamento. Porto Alegre: Actual Edições, 2001, p. 21-22.

23 Segundo GROMACHI, Robert, apud ICE, Thomas. A verdade sobre o arrebatamento (p. 61), a ausência da Igreja em Ap 4-19 é indicação de que ela não estará presente na tribulação.

(27)

apoiar tal ensino. São eles: Mt 24,40-41; Lc 17,34-36; Jo 14,1-3; Rm 8,19; 1Cor 1,7-8; 15,51-53; 16,22; Fl 3,20-21; 4,5; Cl 3,4; 1Ts 1,10; 2,19; 4,13-18; 5,9; 5,23; 2Ts 2,1; 1Tm 6,14; 2Tm 4,1.8; Tt 2,13; Hb 9,28; Tg 5,7-9; 1Pd 1,7.13; 5,4; 1Jo 2,28-3,2; Jd 21; Ap 2,25; 3,1025.

5.

Quais as principais implicações da crença

Podemos abordar este tema sob dois pontos de vista: o dos seguidores da doutrina e o dos que não a seguem.

Segundo os defensores do arrebatamento como doutrina bíblica, tal crença pretende promover basicamente três atitudes comportamentais na vida dos cristãos:

1) A santidade cristã: uma vez que o arrebatamento é iminente e imprevisto, os cristãos devem buscar a santidade e a pureza para poder fazer parte dele.

2) O evangelismo: cada dia é visto como uma oportunidade para “ganhar almas”. Ice cita a seguinte frase de Tim Lahaye2 6:

Surge uma igreja evangelística constituída de crentes ganhadores de almas, pois quando cremos que Cristo pode aparecer a qualquer momento, procuramos falar sobre Ele com nossos amigos, para que estes não fiquem para trás quando Ele vier.

Afirma ainda que milhares de pessoas chegaram à fé em Cristo como resultado de esforço evangelístico motivado pela profecia bíblica, e também de livros como A agonia do grande planeta Terra, de Hal Lindsey.

3) A prática de missões: os adeptos dessa corrente acreditam que a iminência do arrebatamento desenvolve e incentiva a visão missionária. Em citação a Timothy

entretanto, muitas das referências citadas possuem interpretação duvidosa e até forçada.

25 Esta lista foi baseada no livro de ICE, Thomas. A verdade sobre o arrebatamento. Porto Alegre: Actual Edições, 2001, p. 48.

(28)

Weber27, Ice28 relata que a crença no arrebatamento tem sido um grande incentivo para

as missões nos últimos 150 anos.

Por outro lado, as implicações da crença no arrebatamento coletivo, segundo seus opositores, são muitas e bastante negativas. O dispensacionalismo pré-milenista é considerado uma posição interpretativa e também um guia de conduta religiosa; por isso, sua representação, mesmo que em termos de ficção, tem chamado bastante a atenção de acadêmicos, sejam eles analistas religiosos, sociais, culturais e mesmo políticos.

A série de ficção Left Behind tem sido, nos últimos anos, a representação por excelência dessa crença. Seu conteúdo itera as interpretações anteriores, bem como atualiza seu mapeamento na sociedade moderna, e tem sido divulgado por todo o mundo. Sua leitura bíblica apela para ameaças de terrorismo, Armagedon nuclear, suspeitas nacionalista de organizações internacionais, comércio nacionalista, unificação da moeda e diferenciação religiosa.

Como a leitura pré-milenista dispensacionalista enfatiza os textos bíblicos que mencionam profeticamente dramas cósmicos como catástrofes, guerras, fome e destruição sobre a Terra, tanto a série quanto os adeptos dessa crença são acusados de promover e disseminar o medo para, por seu intermédio, buscar atingir objetivos proselitistas. Sua cosmovisão fatalista e determinista com relação ao fim dos tempos está baseada na ideia de que a Bíblia é a história escrita antecipadamente; isso faz com que todas as catástrofes, guerras, fome e destruição sejam vistas como necessárias ao cumprimento de profecias. Semelhante visão demonstra uma postura cínica em relação ao sofrimento humano. Seus adeptos frequentemente acham inútil lutar contra as guerras, a fome, a desigualdade, ou mesmo apoiar quem o faça. Tal atitude ignora os milhares de inocentes envolvidos, e por isso tem sido vista como egoísta e calcada numa fé individualista, corporativa e etnocentrista, onde a maior preocupação reside no indivíduo e seus entes queridos em detrimento dos demais. São, muito frequentemente, apegados a ideologias conservadoras. Também sua forma de polarizar o mundo entre sagrado x secular, salvo x condenado, crente x incrédulo, tem promovido grandemente o preconceito em relação ao diferente. Expõe uma postura histórica dualista, moralista e

27 TIMOTHY, P. Weber. Living in the Shadow of the Second Coming: American Premillennialism,

1875-1982. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1983, p.81.

(29)
(30)

CAPÍTULO II

2

. O surgimento da doutrina do arrebatamento da Igreja

2.1. Origens nos EUA

O arrebatamento pregado, crido e atribuído aos moldes paulinos (nas cartas de 1 Tessalonisenses e 1 Coríntios) esteve presente na agenda escatológica da maior parte da Igreja cristã, principalmente nos últimos séculos (XIX e XX). Nas alas fundamentalistas, sob influências advindas das inquietações e questionamentos sobre as proximidades do ano 2000, favoreceram-se as crenças escatológicas e um constante reforço de doutrinas das quais o arrebatamento é um exemplo. Portanto, não por acaso, recentemente a série de livros Left Behind (Deixados para trás), de Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins, que narra os últimos dias na Terra após o arrebatamento da Igreja de Cristo, pretensamente baseada nos eventos descritos no Apocalipse de João, vieram a tornar-se best-sellers2 9. Deixados para trás tornou-se uma das séries de ficção (cristã) mais lidas no mundo. A série de livros, que teve início em 1995, vendeu mais de 70 milhões de exemplares e foi publicada em 34 idiomas. Três filmes também foram produzidos sobre a série, como também jogos digitais e outros produtos. Sucesso de vendas3 0, a série é

também alvo de pesadas críticas, tanto da parte de cristãos quanto de céticos. A história reúne ficção cristã, ação e suspense, com lances de alta tecnologia. O tema principal é o final dos tempos.

Para esta dissertação, é interessante notar como são feitas as interpretações e leituras das principais passagens das Escrituras relacionadas à escatologia. A série, por exemplo, inicia-se com o arrebatamento da Igreja, seguido pela ascensão do Anticristo, Tribulação etc. Assim, como afirmam os autores, “procura seguir a ordem de acontecimento do Apocalipse de João”, embora neste livro inexista a ideia de

(31)

arrebatamento coletivo; são feitos, portanto, arranjos interpretativos e ordenados, de forma que os acontecimentos obedeçam a uma lógica sequencial e bíblica.

Esta suposta lógica sequencial, quando analisada a fundo, expõe as irreconciliáveis escatologias paulina e joanina, o que para leituras superficiais parece não levantar grandes problemas.

De qualquer forma, o impacto da série e do filme fez com que surgissem várias discussões e questionamentos ao porquê da bem-sucedida empreitada editorial e cinematográfic a. Para alguns, o gênero literário se assemelha ao de outros escritores americanos que escrevem sobre espionagem militar, horror, fantasia, ficção científica etc., e que têm vendido centenas de milhares de exemplares. Portanto, a série seria mais uma que no ramo de entretenimento ficcional seduz pelo ritmo, ação e suspense. Para outros, em vez disso, o sucesso provém da forma como trata da interpretação bíblica literalista: um pré-milenarismo dispensacional, pré-tribulacionista e fundamentalista conformado à crença sobre o fim dos tempos que predominou nos últimos tempos nos EUA e, por que não dizer, em grande parte do continente americano. Argumentam inclusive que na Europa, onde o dispensacionalismo não ganhou força, a série também não teve muito êxito. Na verdade, como os próprios autores reconhecem, embora seja ficção, a série foi escrita para refletir a vida e a crença de milhares de cristãos (fundamentalistas). A realização do filme e as técnicas cinematográficas usadas acabaram, ao que parece, por tornar uma antiga crença mais verossímil do que nunca.

(32)

2.2. Fundamentalismo e dispensacionalismo nos EUA

Deve-se, antes de mais nada, salientar que fundamentalismo aqui significa aquela reação ou contra-ofensiva ao modernismo e ao liberalismo31 que fizeram parte do

protestantismo no início do século XIX. O fundamentalismo surgiu então com o intuito de renovar o protestantismo. Esse esclarecimento é importante na medida em que a palavra fundamentalismo tem obtido nos últimos tempos muitos significados, como por exemplo, todo tipo de opinião conservadora, seja política ou religiosa, ou pessoas que defendem uma posição com entusiasmo e veemência. No entanto, o fundamentalismo no que tange à interpretação bíblica é principalmente aquele que se opõe aos métodos históricos -críticos como ferramentas para se fazer teologia a partir de textos bíblicos.

Tal reação pode ser localizada entre 1909 e 1915, com a publicação nos Estados Unidos de uma série de textos, numa revista com edição superior a três milhões de exemplares, sob o título The Fundamentals – a Testimonium to the Truth (Os fundamentos – um testemunho em favor da verdade). Os fundamentos eram, portanto, conteúdos de fé, verdades absolutas e intocáveis que deveriam ficar imunes à ciência e à relativização da verdade bíblica por meio do método histórico-crítico. Os temas principais eram a inspiração verbal e literal, a divindade e o nascimento virginal de Jesus, seu sacrifício expiatório e vicário, sua ressurreição corporal, a segunda vinda de Cristo à Terra com sinais apocalípticos, ou o retorno para um reino milenar e intermediário etc. O movimento se espalhou para outros países e continentes combatendo ideias pluralistas positivistas, relativistas, historicistas e antiautoritaristas, características da modernidade.

Para se entender como a crença no arrebatamento tomou força a partir da reação fundamentalista, é preciso levar em conta ensinos como o do dispensacionalismo, que se popularizou também a partir do século XIX.

(33)

O dispensacionalismo é um sistema teológico ou, pode-se dizer, um método de interpretar a Bíblia atribuído a John Nelson Darby (1800-1882), participante e líder do movimento dos Irmãos Livres de Plymouth3 2, movimento este que surgiu na Irlanda e Inglaterra no início do século XIX. A partir de Darby e, posteriormente, por meio da Biblia de Referências Scofield e de Conferências Bíblicas de Verão (como as de Niagara, Northfield e Winona) o dispensacionalismo foi largamente disseminado.

Pode-se definir o dispensacionalismo como um sistema teológico segundo o qual a segunda vinda de Jesus Cristo será um acontecimento no mundo físico, e envolverá o arrebatamento da Igreja antes de um período de sete anos de tribulação, após o qual ocorrerá a batalha do Armagedon e o estabelecimento do reino de Deus na Terra. Ele apresenta duas distinções básicas: 1) uma interpretação “consistentemente literal das Escrituras”, em particular da profecia bíblica; 2) a distinção entre Israel e a Igreja no programa de Deus. A teologia dispensacionalista acredita que há dois povos distintos de Deus: Israel e a Igreja. Acreditam que a salvação foi sempre pela fé (em Deus no Antigo Testamento; especificamente em Deus Filho no Novo Testamento). Afirmam, ainda, que a Igreja não substituiu Israel no programa de Deus, e que as promessas do Antigo Testamento a Israel não foram transferidas para a Igreja. Creem que as promessas feitas por Deus a Israel no Antigo Testamento serão cumpridas no período de mil anos de que fala Ap 20. Creem, ainda, que Deus, da mesma forma como concentra sua atenção na Igreja nesta era, novamente, no futuro, concentrará sua atenção em Israel (Rm 9-11).

Os dispensacionalistas entendem que a Bíblia está organizada em sete dispensações: Inocência (Gn 1, 1–3,7), Consciência (Gn 3,8–8,22), Governo Humano (Gn 9,1–11, 32), Promessa (Gn 12, 1 – Ex 19,25), Lei (Ex 20,1 – At 2,4), Graça (At 2,4 – Ap 20,3) e Reino Milenar (Ap 20,4–20,6). Estas dispensações não são caminhos para a salvação, e sim maneiras pelas quais Deus interage com o homem num determinado período de tempo. O dispensacionalismo como sistema resulta em uma interpretação milenar da segunda vinda de Cristo, e geralmente de uma interpretação pré-tribulacional do arrebatamento. A palavra dispensação deriva de um termo latino que significa administração ou gerência, e se refere, portanto, ao método divino de lidar com a humanidade e de administrar a verdade em diferentes períodos de tempo.

(34)

Assim, pelo fato de surgimento e ascensão do dispensacionalismo ter em ocorrido de forma paralela ao movimento fundamentalista, aquele passou a ser virtualmente, em muitos casos, a teologia oficial do fundamentalismo. Na verdade, o que ocorreu foi que, após Darby ter desenvolvido o pensamento dos Irmãos de Plymouth e com ele a interpretação dispensacionalista, outros escritores, entre eles Cyrus Ingerson Scofield, contribuíram para disseminar tal interpretação. É bastante provável que a popularização mais eficaz do dispensacionalismo tenha emanado da Bíblia de Referências Scofield, já que os leigos contavam com poucas bíblias de referências no início do século XX. Contudo, os institutos bíblicos (muitos tornaram-se faculdades posteriormente) também tiveram sua participação na divulgação do dispensacionalismo. Conforme Millard33, muitas congregações fundamentalistas que

anteriormente foram parte de grandes denominações, recebiam seus ministros, direta ou indiretamente, dos seminários daquelas denominações; entretanto, quando apareceram indicações de desvios doutrinários (influências modernistas e liberalistas) nestes seminários, as igrejas começaram a receber seus ministros dos institutos bíblicos. E estes eram, quase sem exceção, dispensacionalistas. Alguns institutos bíblicos evoluiram para faculdades bíblicas e depois para faculdades cristãs de filosofia e letras; por exemplo, o Instituto Bíblico de Providence veio a ser a Faculdade Bíblica de Providence-Barrington, e depois a Universidade de Barrington. O Instituto Bíblico de Los Angeles veio a ser a Faculdade Biola, mas também deu origem ao Seminário Teológico Talbot. O Seminário de Dallas3 4 passou por um processo semelhante, e seu principal fundador, Lewis Sperry Chafer35, teve um grande peso na disseminação do dispensacionalismo. Dessa forma, os estudantes para o ministério não tinham de escolher entre uma educação de seminário e uma educação teológica totalmente evangélica. Alguns obtinham sua educação pré-graduada num instituto bíblico, e depois iam para um seminário dispensacionalista tal como Dallas, Talbot, Grace ou Batista Conservador do Oeste.

É importante considerar, portanto, que, o dispensacionalismo surgiu em meio ao desenvolvimento da alta crítica e suas pressuposições racionalistas que anulavam os

33 MILLARD, J. Erickson. Opções contemporâneas na escatologia: um estudo do milênio. São Paulo: Edições Vida Nova, 1991.

34 O seminário de Dallas tornou-se o centro do dispensacionalismo até os dias de hoje, e muitos de seus professores são conhecidos por literaturas divulgadas em várias línguas; entre eles: Merrill Unger, Dwight Pentecost, Norman Geisler, Hal Lindsey e Charles Swindoll.

(35)

eventos sobrenaturais da Bíblia. Disso decorre que o dispensacionalismo acabou por enfatizar uma interpretação literalista da Bíblia a tal ponto que não-literal tornou-se sinônimo de liberal. A compreensão da época pode ser assim resumida: fundamentalismo implica em dispensacionalismo, e dispensacionalismo implica em ortodoxia; portanto, para se fazer a interpretação correta da Bíblia é preciso abraçar os métodos dispensacionalistas. Uma literatura que veio a ser útil para tanto foi a publicação da Bíblia de Referências Scofield, que mencionarei a seguir.

A doutrina do arrebatamento da Igreja, como já foi dito, não está dissociada de um contexto maior (a escatologia), a qual foi e é assunto importantíssimo para a leitura fundamentalista-dispensacionalista da Bíblia. É em tal leitura que o arrebatamento é levado em conta, já que no pós -milenarismo e no amilenarismo ele não tem tanta importância. O arrebatamento secreto, como alguns preferem dizer, é na verdade o próximo evento iminente a ter lugar na crença pré-milenarista; portanto, é bastante enfatizado nesse meio. Sua origem adveio principalmente da distinção feita por Darby entre o plano de Deus para Israel e o plano de Deus para a Igreja: afinal, se Deus deve cumprir literalmente suas antigas promessas a Israel, a Igreja tem de ser removida antes disso, para dar condições a que os dois planos se integrem na plena realização do reino milenar. É nessa lógica que o arrebatamento da Igreja antes da tribulação (pré-tribulacionismo) é tanto polêmico quanto enfatizado.

2.3. A Bíblia de Referências Scofield

Essa Bíblia foi publicada com anotações no rodapé de suas páginas feitas por Cyrus Ingerson Scofield, que sentiu a necessidade de esclarecer passagens difíceis de entender. Scofield nasceu em Michigan, em 1843, converteu-se em 1879 e foi ordenado pastor em 1883. Era advogado e não possuía formação teológica; contudo, foi discipulado por James Hall Brookes3 6, considerado pai do dispensacionalismo

americano. Após anos (cerca de 30) de dedicação à criação de notas explicativas da Bíblia, e contando com a ajuda de vários pastores convidados, publicou em 1909 a Bíblia de Referência Scofield. Tal fato contribuiu grandemente para a propagação do

(36)

ensino dispensacionalista que, por parte de Scofield, veio da assimilação dos ensinos de John Newton Darby37. A Bíblia Scofield que usou a versão do texto inglês de King James, reeditada em 1917 e revisada em 1967, e da língua inglesa foi traduzida para outras línguas. Em espanhol, foi publicada em 1960, a partir da versão revisada de Casiodoro de Reina (1569); em português, especificamente no Brasil, foi editada em 1983 a partir de versão de João Ferreira de Almeida, e chegou à quarta edição em 19933 8. Devido a sua praticidade, tornou-se bastante popular no século XX, inclusive no meio pentecostal, que provavelmente é também o maior divulgador da corrente escatológica dispensacionalista atualmente. Os ensinos da Bíblia de Referência Scofield são bastante criticados atualmente por correntes escatológicas que dela divergem, por exemplo, a corrente reformada, embora tenha surgido em seu âmbito; por outro lado, são fortemente divulgados por seus adeptos. Assim, afora a controversa interpretação dispensacionalista da Bíblia Scofield, esta reforça crenças fundamentalistas cristãs como a infalibilidade das Escrituras, a divindade, humanidade e ressurreição de Cristo e o juízo final, além de pressupor a unidade intrínseca das Escrituras como revelação da história gradual e contínua da redenção humana e a inspiração divina como fonte última de harmonia revelacional; enfim, vê Cristo como centro da Escritura. Crenças estas que atraem muitos fundamentalistas.

Outras literaturas podem ser citadas como divulgadoras do dispensacionalismo. Primeiramente nos EUA, os livros Maranatha (1870) de James Hall Brookes; Jesus is Coming (1878) de William E. Blackstone39, e A agonia do grande planeta Terra (1970), de Hal Lindsey. Estes dois se tornaram best-sellers em suas épocas e foram traduzidos em diversas línguas.

37 Darby foi um destacado aluno do pastor presbiteriano Edward Irwing (1792-1834). Quando de sua morte, deixou vasta obra escrita, constituída de 40 volumes (quatro exclusivamente sobre profecias). A partir dessa obra o sistema dispensacionalista difundiu- se no mundo de fala inglesa.

38 Em 2009, uma nova edição foi feita no Brasil.

39 Blackstone (1841-1935), um protestante de confissão metodista, foi um magnata americano do ramo

(37)

2.4. No Brasil

2.4.1. Livros americanos de impacto no Brasil

O Brasil sempre sofreu influência norte-americana direta nas doutrinas cristãs protestant es e evangélicas fundamentalistas. Em termos de literatura, tanto a Bíblia de Referência Scofield quanto os dois últimos livros mencionados tiveram ampla aceitação no Brasil.

O livro A agonia do grande planeta Terra foi, nas décadas de 70 e subsequentes, muito lido no Brasil; suas especulações escatológicas sobre o fim dos tempos, imbuídas de interpretações pré-milenaristas, dispensacionalistas e patrióticas (comuns aos americanos) levou a milhares seu ponto de vista. Outros livros de cunho escatológico que tiveram bastante repercussão no Brasil foram os do autor Wim Malgo, fundador da Obra Missionária Chamada da Meia-Noite; entre livros e livretos encontra-se O arrebatamento: o que é e quando acontecerá, O controle total: 666, O Apocalipse de Jesus Cristo etc.

2.4.2. Resenha dos livros citados acima

O livro A agonia do grande planeta Terra, de Hal Lindsey, explora o profundo desejo humano de conhecer o futuro. Entre inúmeros profetas e profecias modernas, o livro se diz a voz autêntica, pois estaria baseada nos profetas e profecias bíblicas, as quais têm dado testemunho através do tempo de serem verdadeiras. Escrito nos tempos da Guerra Fria, o autor interpreta os livros proféticos bíblicos principalmente à luz da realidade política e econômica da época. A Rússia, por exemplo, é Gog, o inimigo que vem do Norte em Ezequiel 38. O livro acabou por ficar desatualizado, uma vez que o cenário mundial mudou completamente e suas profecias não se cumpriram a contento.

(38)

O controle total: 666, de Wim Malgo, procura mostrar de maneira compreensível o estágio avançado em que o mundo se encontra em relação à era anticristã sem percebê-lo. Ao mesmo tempo, a Igreja de Jesus é seriamente exortada a se preparar para o momento do arrebatamento. Além disso, Wim Malgo não somente se refere ao número da besta, 666 – que aparece com frequência sempre maior, mas também esclarece o seu significado. Trata-se de um número do homem, e todos os que adorarem a besta aceitarão esse sinal. Seis é o número do homem, que foi criado no sexto dia. O sete é o número da perfeição divina. O número seis, um após o outro, fala de esforço e trabalho para atingir a perfeição, enquanto o sete mostra descanso divino. O número 666, então, expressa a desesperada tentativa do diabo de ser como Jesus Cristo. O Apocalipse de Jesus Cristo, também de Wim Malgo, é um comentário que incentiva o cristão a esperar pela vinda de Cristo.

Essas literaturas descritas acima têm a semelhança de serem de fácil e rápida leitura, o que naturalmente atrai os leitores.

2.4.3. Autores brasileiros importantes na escatologia

(39)

vendidas. Como este livro, outros publicados pela CPAD seguem a mesma influência norte-americana e são muito lidos no meio pentecostal.

2.4.4. Formas de divulgação da doutrina no Brasil

Assim como nos Estados Unidos, no Brasil também divulgações escatológicas foram e são feitas por meio de instituições para-eclesiásticas, cursos, palestras, panfletos e atualmente pela internet. Cada denominação promove palestras e cursos pautados em sua visão escatológica e usa literaturas afins.

Uma instituição que podemos considerar importante na divulgação de literatura e palestras escatológicas de cunho dispensacionalista é a já mencionada Obra Missionária Chamada da Meia-Noite, fundada por Wim Malgo (1922-1992) em 195540, nos EUA, com estes objetivos: chamar as pessoas para Cristo, proclamar a segunda vinda de Cristo, preparar a Igreja para sua vinda, defender a fé e advertir contra falsas doutrinas. Esta missão é mantida por ofertas voluntárias e não possui fins lucrativos. Antes do advento da internet, seu objetivo era alcançado principalmente com a divulgação de livros publicados no Brasil. Atualmente ela promove cursos e palestras amplamente divulgados em seu site. Juntamente com a Chamada da Meia-Noite existe a Associação Beth-Shalom para Estudo Bíblico em Israel, com o objetivo de despertar e fomentar entre os cristãos o amor pelo Estado de Israel e pelos judeus; também promove congressos sobre a palavra profética em Jerusalém e viagens com a intenção de levar o maior número possível de peregrinos cristãos a Israel, onde mantém a Casa de Hóspedes Beth-Shalom (no monte Carmelo, em Haifa).

Um exemplo recente das palestras promovidas pela Obra Missionária Chamada da Meia-Noite é o ciclo realizado na Igreja Irmãos Menonitas nos anos de 2004, 2005 e 20064 1, todas de viés escatológico. A Igreja cedeu o local e a Obra forneceu os palestrantes e o material a ser usado.

Contudo, atualmente o site da Obra é sem dúvida o maior divulgador de suas doutrinas, palestras, cursos e literaturas. Em seu conteúdo fica bastante patente a doutrina dispensacionalista; aliás, no que diz respeito ao interesse por Israel, sua

(40)

diferenciação da Igreja é explicitamente apontada e enfatizada. Numa leitura escatológica da História, a nação israelita é considerada o relógio do mundo, marcador principal dos fatos apocalípticos finais. Uma série de nove livretos, intitulados A verdade sobre42, uma literatura de fácil acesso e leitura, divulga o ensino aqui abordado, entre vários outros.

Outros meios que podem ser considerados de divulgação são as revistas de estudos bíblicos, revistas de escolas bíblicas dominicais e também os folhetos evangelísticos distribuídos em lugares públicos43. Tais meios eram possivelmente os

principais antes do advento da internet.

42 A verdade sobre: Os sinais dos tempos, Armagedom e o Oriente Médio, O Anticristo e seu reino, A

tribulação, O arrebatamento, O céu e a eternidade, O milênio, Jerusalém na profecia bíblica, O templo dos últimos dias. Todos da Actual Edições e vendidos pelo site chamada.com.br.

(41)
(42)
(43)
(44)

Revista Lições Bíblicas Juvens e Adultos 4º.Trimestre/2006

Título: As verdades centrais da fé cristã

(45)
(46)
(47)

Folheto evangelístico com oito páginas, distribuído em 2009, na estação Sé do Metrô (São Paulo). Descreve a história do mundo através da Bíblia e o arrebatamento da igreja previsto para 21/05/2011.

(48)

CAPÍTULO III

3. Análise do filme

Deixados para trás

3.1. Por que a análise de um filme?

44

“Qual préstimo poderia ter para a história o folclore?”. É a pergunta que inicia a reflexão de Ferro. Ele lembra que, no início do séc. XX, o animatógrafo45 era

considerado pelas pessoas supostamente cultas uma máquina de embrutecimento e de dissolução, um passatempo de iletrados. Assim o filme, comparado aos documentos escritos que provinham do ponto de vista daqueles considerados a classe dominante da sociedade, era de nenhum valor como documento ou material histórico. Mesmo porque imagens fílmicas, pretensamente representações da realidade, são escolhíveis, modificáveis, transformáveis, fruto de montagem intencional. Com o passar do tempo, a história se transforma, com as exigências de um novo espírito científico desembocando numa nova história4 6 também influenciada por outras ciências humanas. Porém, ainda para essa Nova História cabe a pergunta: que préstimo um filme pode ter, uma vez que é representação do real e manipulação de imagens? Ferro aponta para a prática da censura, que possibilitou constatar que as imagens podem também ameaçar interesses dominantes. Um filme pode funcionar como testemunha; pode, em seu lapsos, desestruturar construções antigas de instituições e grupos que foram forjadas ao longo dos anos. Por outro lado, um filme pode reforçar e promover visões de mundo particulares. A antiga ideia de que um gesto corresponde a uma frase, e um olhar a um

44 Esta reflexão está baseada no texto de FERRO, Marc, O filme, uma contra-análise da sociedade?, in

História: novos objetos, dir. Jacques Le Goff e Pierre Nora, 3ª ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1988, p. 202-204.

45 O mesmo que cinematógrafo, um invento do fim do séc. XIX que consta de equipamento de fotografia e de projeção capaz de colher, em rápida sequência, uma série de instantâneos de objetos que se movem e de projetá- los numa sucessão igualmente rápida e intermitente, de modo a produzir a ilusão de cenas em movimento.

(49)

longo discurso, chega a ser insuportável, uma vez que assim sendo, as imagens constituiriam a matéria de uma história diferente da História, principalmente do ponto de vista dominante; isto é o que para Ferro significa uma contra-análise da sociedade. Por isso, ele postula que as imagens – não apenas como ilustração, confirmação ou desmentido de um outro saber ou da tradição escrita, antes apelando até outros saberes, afim de melhor captá-las – podem ser consideradas fontes históricas. A associação de um filme ao mundo que o produz, seja ele imagem da realidade ou não, documento ou mesmo ficção, intriga autêntica ou pura invenção, é história; sendo assim, seu postulado é: o que não aconteceu, as crenças, as intenções, o imaginário do homem, é tão história quanto a História.

Nessa forma de abordagem do filme, pode-se dispensar o ponto de vista semiológico, ou estético, de história do cinema ou obra de arte, já que tem seu valor por aquilo que testemunha pode ser visto como um produto, uma imagem-objeto cujas significações não são unicamente cinematográficas. Neste caso, a análise não incide necessariamente sobre a obra em sua totalidade, podendo apoiar-se em extratos, planos, temas etc. conforme a necessidade. Também a crítica não se limitaria ao filme, mas o integraria no mundo que o rodeia e com ele se comunica. A análise simultânea no filme (narrativa, cenário, escrita, relações do filme com o que não é filme, autor, produção, público, crítica, regimes, crenças) pode compreender melhor não só a obra, mas também a realidade que ela figura, uma vez que tal realidade não se comunica diretamente.

Outrossim, Ferro questiona:

São os próprios escritores plenamente senhores das palavras, ou da língua? Por que haveriam então os homens da câmera de serem senhores das imagens que produzem, posto que filmam involuntariamente muitos aspectos da realidade?

Para ele, portanto, esse traço é evidente nas imagens atuais:

Referências

Documentos relacionados

Ficou com a impressão de estar na presença de um compositor ( Clique aqui para introduzir texto. ), de um guitarrista ( Clique aqui para introduzir texto. ), de um director

29 Table 3 – Ability of the Berg Balance Scale (BBS), Balance Evaluation Systems Test (BESTest), Mini-BESTest and Brief-BESTest 586. to identify fall

Os Autores dispõem de 20 dias para submeter a nova versão revista do manuscrito, contemplando as modifica- ções recomendadas pelos peritos e pelo Conselho Editorial. Quando

Este trabalho tem como objetivo contribuir para o estudo de espécies de Myrtaceae, com dados de anatomia e desenvolvimento floral, para fins taxonômicos, filogenéticos e

São eles, Alexandrino Garcia (futuro empreendedor do Grupo Algar – nome dado em sua homenagem) com sete anos, Palmira com cinco anos, Georgina com três e José Maria com três meses.

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,

O Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb), criado em 2000, em Minas Gerais, foi o primeiro programa a fornecer os subsídios necessários para que

Water and wastewater treatment produces a signi ficant amount of methane and nitrous oxide, so reducing these emissions is one of the principal challenges for sanitation companies