Universidade Est adual Paulist a “ Julio de Mesquit a Filho”
Faculdade de Arquit et ur a, Ar t es e Com unicação
Pr ogr am a de Pós gr aduação em Design
Aspe ct os e r gon ôm icos e m colh e dor a s de ca n a de
-a çú c-a r : Ru ído, dist r ibu içã o dos com -a n dos e
a v a lia çã o pon de r a da de con for t o.
José Ant onio Cor r êa
Pr of. João Eduar do Guar net t i dos Sant os.
José Ant onio Cor r êa
Aspe ct os e r gon ôm icos e m colh e dor a s de ca n a de
-a çú c-a r : Ru ído, dist r ibu içã o dos com -a n dos e
a v a lia çã o pon de r a da de con for t o.
Dissert ação de Mest r ado apr esent ada ao Pr ogr am a de Pós-graduação em Design ( área de concent ração: Desenho do Produt o; Linha de pesquisa: Ergonom ia) , da Faculdade de Ar quit et ura, Ar t es e Com unicação da Universidade Est adual Paulist a “ Julio de Mesquit a Filho” com o exigência par a obt enção do t ít ulo de m est r e.
Orient ador: Pr of. Dr. João Eduardo Guarnet t i dos Sant os.
Ba n ca de Av a lia çã o
Pr of. Dr .João Eduar do Guar net t i dos Sant os.
Universidade Est adual Paulist a “ Julio de Mesquit a Filho”
Pr of. Dr . Luis Car los Paschoar elli.
Universidade Est adual Paulist a “ Julio de Mesquit a Filho”
Pr ofª .Dr ª a. Cr ist iane de Affonso Alm eida Zer bet t o.
Universidade Est adual de Londr ina
Pr of. Dr . José Car los Plácido da Silva.
Univer sidade Est adual Paulist a “ Julio de Mesquit a Filho”
Prof. Dr. Jair Rosas.
Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura... Enquanto durar
D e dica t ór ia
Agr a de cim e n t os
Gost aria inicialm ent e de agradecer ao m eu orient ador , Pr of. Guarnet t i pela confiança deposit ada em m im e pelo apoio sem o qual não seria possível t erm inar est a em pr eit ada.
Tam bém aos Pr of Paschoar elli e ao Prof. Plácido que sem pr e m e aj udaram e sem pre m e orient ar am nos m om ent os difíceis desde a graduação.
Tam bém sou grat o aos professores Crist iane de Affon so Alm eida Zerbet t o, Jair Rosas por aceit ar em o convit e par a par t icipar dest a banca.
Gost ar ia de agr adecer à em pr esa Cosan S/ A pela opor t unidade, colabor ação confiança e par a a ex ecução dessa pesquisa em especial seus funcionár ios o Sr. Wilson Bert olini Filho e o Sr . Rafael que sem pr e m e aux iliar am . Tam bém agradeço ao sem pre at en cioso Sr . Marcos Silva. Agradeço t am bém aos Senhor es Telles, Pet t e Fum aça assim com o t odos os t rabalhador es das frent es qu e visit ei.
Sou grat o t am bém aos Professor es João Candido, Osm ar , João ( arquit et ura) e Edm ilson ( arquit et ura UNI P) que m e aux iliaram com os equipam ent os para a colet a dos dados.
Muit íssim o obrigado t am bém à Nat ália e ao Paulo do laborat ório de prot ót ipos da FAAC, pela at enção, sim pat ia e ét ica com que fui recebido , e aos Senhor es Helder e Silvio do Set or de pós Gr aduação, pela paciência com o cidadão aqui. Tam bém aos funcionár ios da Marcenaria do Cam pus de Bauru e Bot ucat u, que m e aj udar am .
SUM ÁRI O
1 . I N TROD UÇÃO _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 1 2 . REV I SÃO BI BLI OGRÁFI CA _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 5 2.1. A LAVOURA CANAVI EI RA NO BRASI L ____________________________________________ 5 2.2. A MECANI ZAÇÃO NA CULTURA CANAVI EI RA _______________________________________ 12 2.3. ERGONOMI A EM EQUI PAMENTOS AGRÍ COLAS ______________________________________ 15
2.3.1. Acesso e cabine _______________________________________________ 19
2.3.2. Vibr ação _____________________________________________________ 23
2.3.3. Ruído _______________________________________________________ 24
3 . JUSTI FI CATI V A _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 2 8 4 . FORM ULAÇÃO D O PROBLEM A _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 3 0 5 . OBJETI VOS _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 3 1 5.1. OBJETI VOS GERAI S ______________________________________________________ 31 5.2. OBJETI VOS ESPECÍ FI COS __________________________________________________ 31 6 . M ETOD OLOGI A _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 3 3 6.1. ASPECTOS ÉTI COS ______________________________________________________ 33 6.2. OBJETOS DE ESTUDO _____________________________________________________ 34 6.3. SUJEI TOS ____________________________________________________________ 36 6.4. MATERI AI S ___________________________________________________________ 37
6.4.1. Av aliação da dist r ibuição dos com andos e o alcance ____________________ 37
6.4.2. Av aliação da ex posição ao r uído ___________________________________ 39
6.4.3. Aplicação de quest ionár io ________________________________________ 40
6.4.4. Análise dos dados ______________________________________________ 41
6.5. MÉTODOS ____________________________________________________________ 42
6.5.1. Av aliação da dist r ibuição dos com andos e o alcance ____________________ 42
6.5.1.1. Det er m inação o PRA ________________________________________ 42
6.5.1.2. Medição da posição dos com andos ______________________________ 43
6.5.2. Av aliação da ex posição ao r uído ___________________________________ 44
6.5.3. Aplicação de quest ionár io ________________________________________ 45
LI STA D E FI GURAS
LI STA D E TABELAS
RESUM O
ASPECTOS ERGON ÔM I COS EM COLH ED ORAS D E CAN A- D E- AÇÚ CAR: RU Í D O,
D I STRI BUI ÇÃO D OS COM AN D OS E AV ALI AÇÃO PON D ERAD A D E CON FORTO.
A colheit a m ecanizada de cana- de- açúcar se expande con sideravelm ent e, principalm ent e em São Paulo, o principal est ado pr odut or. Com o a m aioria dos produt os indust rializados m odern os há um grande com part ilham ent o de sist em as, visando a r edução dos cust os de desenv olvim ent o e fabricação. As vant agens econôm icas dest e com par t ilham ent o não t êm apr esent ado a m esm a eficácia quando t rat am os da er gonom ia na int erface " hom em x m áquina" . A usabilidade de um produt o t em influencia de div ersos fat ores regionais at uando diret am ent e seu grau de adequação às n ecessidades dos u suários. Um a das pr er rogat iv as do design ergonôm ico com o at ividade proj et ual é a com pr eensão da int eração ent re o usuário e seu pr odut o. Par a t ant o for am avaliadas dois m odelos cont em por âneos com er cializados pelas principais em presas no ram o. Foram colet ados dados colet ados sobre a disposição espacial dos com andos, acesso ao post o do t rabalhador, nív el de ex posição ao ruído e sat isfação ponderada dos t rabalhadores sobr e div er sos aspect os do equipam ent o. Os dados obt idos foram com parados com as nor m as e a lit er at ur a e com as infor m ações indicadas pelos usuár ios. Est e t rabalho apresent a o nív el de eficiência ergon om ia dest es equipam ent os quando ut ilizados nas lavouras paulist as buscando for n ecer subsídios par a o desenv olv im ent o dest es equipam ent os e fom ent ar n ov as pesquisas par a a m elhor adequação ao t r abalhador.
Pa la v r a s- ch a v e : design ergonom ia, int erface “ hom em / m áquina” , colhedoras de
ABSTRACT
ERGON OM I CS ASPECTS I N SUGAR CAN E HARVESTERS: NOI SE, DI STRI BUTI ON OF
CON TROLS AN D WEI GH TED COM FORT EV ALUATI ON. Mechanized har v est ing of sugar cane has expanded significant ly, especially in Sao Paulo, t he m ost im por t ant pr oducing st at e in Br azil. As alm ost m oder ns indust r ial pr oduct s t his equipm ent s shar e m any sy st em s, aim ing t he cost s r educing in dev elopm ent and m anufact ur ing. The econom ic adv ant ages of sharing syst em s m ay not hav e t he sam e efficiency in ergonom ics of " m an x m achine." I nt erface. The usabilit y of any product is influenced by m any regional fact ors t hat influence direct ly t heir degree adj ust m ent of t he user ’s needs. One of ergonom ic design prer ogat iv es is t o under st and t he int eract ion bet w een t h e user and y our product . So, w e hav e ev aluat ed t w o cont em porary m odels of t he m aj or com panies in t he Brazilian m ar ket . We collect ed dat a about t he cont r ol’s spat ial layout , operat ion’s cabin access, n oise exposur e level and w or k er ’s sat isfact ion about m any aspect s of t he equipm ent . Making a com parison bet w een t h e dat a obt ained, t he st andards, t he lit erat ure and t he inform at ion giv en by user s, w e look ed for any relat ionship show s ergonom ics problem s. This paper present s t he ergonom ic efficiency level of t hese devices in Sao Paulo’s st at e far m s t r ying t o prov ide subsidies for t h ese equipm ent s dev elopm ent and st im ulat ing fur t her resear ch t o adapt t hese m achines t o t he w or ker ’s need.
Ke y w or d s: ergon om ic design, hum an x m achine int er face, sugar cane har vest er s,
1 . I N TROD UÇÃO
A hist ór ia do cult ivo da cana- de- açúcar no Br asil confunde- se com a
do própr io país, j á que sua int rodução em “ t erras brasilis” rem ot a o início da
colonização por t uguesa volt ado par a abast ecer o com ér cio int er nacional de
açúcar.
As plant ações difundiram - se por grande part e do t errit ór io nacional,
devido pr incipalm ent e às caract er íst icas da plant a em se adapt ar a
condições nem sem pre ideais, alçando o país ao post o de principal produt or
m undial em pouco t em po.
At ualm ent e o set or sucr oalcooleiro é de ext rem a im por t ância par a a
econom ia br asileir a e um dest aque no set or agr ícola m undial, com o
pr incipal pr odut or de açúcar e álcool. O set or t em t radição na aplicação
efet iva de novas t ecnologias em gr ande part e do seu pr ocesso produt ivo,
cont rast ando m uit as vezes com o processo ant iquado de colheit a m anual.
Esse pr ocesso dem andava de um a grande quant idade de m ão de
obr a e foi supr ida por escr avos afr icanos at é o século XI X, influenciando
decisivam ent e na for m ação da população e cult ura brasileira.
Se nos pr im ór dios, o pr incipal produt o final er a o açúcar , com o
passar dos anos o álcool ganhou dest aque, e o et anol a par t ir da cana,
apr esent a- se com o um dos m ais v iáveis com bust íveis ext raídos a part ir da
biom assa.
Nos últ im os dez anos, por ém a int r odução de equipam ent os para
colheit a t em se t or nado um a r ealidade cada vez m ais pr esent e nessas
lavouras.
O set or sucr oalcooleir o t em expandido vert iginosam ent e a frot a de
colhedor as aut om ot r izes ext inguindo paulat inam ent e a colheit a m anual,
im pulsionada por vant agens econôm icas e pressionada pelas obrigações
Est es equipam ent os dispensam a queim a pr évia, cor t am a cana no
t opo e na base, separam a palha picam e deposit am em um a carret a. Cada
equipam ent o subst it ui em m édia de 70 t r abalhador es br açais, conhecidos
com o bóias- fr ia só no cor t e, elim inando ainda a et apa de carregam ent o.
Da m esm a for m a que ocor r eu em out r os set or es onde o t rabalho
m anual foi subst it uído por m áquinas, as m udanças acarret aram
quest ionam ent os sobr e os avanços e r et rocessos com r elação aos ant igos
padr ões em difer ent es set or es da sociedade.
Há que se dest acar o apar ecim ent o de um novo t rabalhador , o
oper ador de colhedor a de cana- de- açúcar e que no desenvolvim ent o de
suas at iv idades est a condicionado a inúm er as var iáveis exclusivas de sua
at iv idade, pot encializando a possibilidade do surgim ent o de dem andas
er gonôm icas igualm ent e par t icular es.
O conhecim ent o das caract er íst icas do usuár io final é fundam ent al
para o desenvolv im ent o de qualquer produt o. Não são r ar os os exem plos de
produt os que apresent am var iação da eficiência em sit uações dist int as.
Aspect os cult ur ais, clim át icos, or ganizacionais, ant ropom ét r icos, ent r e
out ros t em influenciado t ais var iações.
Um post o de t rabalho não adequado às at iv idades e ao perfil
ant ropom ét rico do t rabalhador pode det er m inar a queda de seu r endim ent o
produt ivo, chegando a com prom et er a saúde do pr ofissional dur ant e as
at iv idades labor ais.
O Br asil pela sua ext ensão apresent a difer enças cult ur ais m ar cant es,
que for am acent uadas por influências localizadas de im igr ant es. Est as
difer enças pr ovocam r egionalidade nas caract er íst icas ant r opom ét r icas,
sendo m ais significat ivas as difer enças quando com paradas aos perfis
populacionais do hem isfér io nor t e.
Na agr icult ur a m undial, o Br asil dest aca- se pelo volum e de sua
produção, diversidade de produt os, t am anhos das unidades produt oras e
t ecnologia aplicada nest e set or . Apesar do país t er um hist ór ico no
ao se t rat ar de desenvolv im ent o equipam ent os agr ícolas, o país não
apr esent a o m esm o desem penho.
Os equipam ent os dest inados à agr icult ur a m oder na incluindo
t rat ores, plant adeiras, colheit adeiras e colhedor as aut opropelidas em ger al
são equipam ent os sofist icados com sist em as elet r ônicos, hidráulicos e
m ecânicos com plex os, dem andando const ant es invest im ent os em
desenvolv im ent o.
Essa exigência de m elhor am ent o cont ínuo lim it a e inibe a pr odução
dest es equipam ent os por em pr esas m enor es, sendo pr oduzidas
principalm ent e por grande conglom er ados t ransnacionais, t radicionais n a
pr odução de im plem ent os agr ícolas.
Apesar dos pr oj et os desses equipam ent os apr esent ar em um a nít ida
pr eocupação com a er gonom ia, o com par t ilham ent o dos sist em as,
im por t ant e aliado par a pr odução ser iada e r edução de cust os, pode
cont ribuir negat ivam ent e com a er gonom ia ao não at ender as
part icular idades locais dos operadores, prej udicando a eficiência dos
sist em as de confor t o do equipam ent o.
Há m uit os fat or es t ant o pr oj et uais e am bient ais que int er fer em no
funcionam ent o da int er face “ hom em / m áquina” sendo a ident ificação do
nível de sat isfação do usuár io do equipam ent o, um a ferr am ent a im port ant e
dent r e os conceit os pr econizados pelo design ergonôm ico par a avaliar a
eficácia desse sist em a.
Apesar de cada função t er suas dem andas específicas, ex ist em
algum as com uns a diver sas pr ofissões. Ao r evisar a lit er at ur a not a- se que a
m á dist r ibuição de com andos, desr espeit os aos lim it es de ant r opom ét r icos e
nível de r uído elevado são pr oblem as com um ent e enfr ent ados por
t rabalhador es agr ícolas.
Est a pesquisa buscou o apr ofundam ent o nos conhecim ent os sobr e os
fat or es t écnicos e er gonôm icos, assim com o a evolução t ecnológica
present e no at ual processo de colheit a m ecanizada da cana- de- açúcar .
desses equipam ent os est ão subm et idos, assim com o a disposição ger al dos
com andos e o acesso em conj unt o com um a avaliação do nível de
desconfor t o ponder ado indicado pelos própr ios oper ador es.
Os dados obt idos foram avaliados crit icam ent e, com parando- os com
os dados nor m at izados e/ ou pr econizados pela lit er at ur a, avaliando o nível
de eficiência da int er face “ hom em / m áquina” nos m ais m oder nos m odelos
2 . REV I SÃO BI BLI OGRÁFI CA
2 .1 .
A lavoura canavieira no Brasil
Desde o início de sua hist ór ia a ut ilização acent uada dos recursos
nat ur ais é um a caract er íst ica m ar cant e no Br asil, t al com o a ext ração de
m adeira e m et ais ou a exploração de suas t err as para agr icult ur a.
Devido às favor áveis condições clim át icas e de solos, a cana-
de-açúcar foi int roduzida no país no século XVI e em pouco m ais de m eio
século, os engenhos se expandiram pelo lit or al do país e o país hav ia se
t or nado o m aior pr odut or m undial de açúcar pr ovenient e da cana ( MI RANDA
et al. 1994) . Na Figura 1 pode ser vist o o engenho de cana ao fundo do
m apa de Per nam buco do século XVI I .
De acordo com Casagrande ( 1991) , a cana- de- açúcar é consider ada
um a plant a sem i- per ene e apr esent a um ciclo m édio de quat ro anos desde
o plant io at é a r enovação das ár eas plant adas. Esse veget al possui alt a
eficiência fot ossint ét ica, gr ande capacidade de conver t er luz em ener gia, e
um elevado pont o de sat uração lum inosa, ou sej a, dem anda de um per íodo
longo de exposição ao sol. O cr escim ent o dos colm os est a suj eit o à var iação
da t em per at ura do ar, sendo o faixa ideal ent r e 25 e 35° C, apr esent ando
cr escim ent o nulo quando em t em per at ur as infer ior es a 19° C.
Lim a et al. ( 1999) afirm a que solos com pH 6,5 são os que
possibilit am o m áxim o desenvolv im ent o da espécie, por ém sua
caract er íst ica de ser bast ant e t oler ant e a acidez e a alcalinidade possibilit ou
que seu cult ivo se est abelecesse em div er sos t ipos de solo no país, de
t ext ur a ar enosa a ar gilosos, com alt os t eor es de m at ér ia or gânica dissolv ida
ou quase nenhum a.
Segundo o BRASI L ( 2009) a cana pode ser colhida por cinco anos
com um a produt iv idade m édia de 85 t on./ ha, o r endim ent o do açúcar de
138 kg/ t on. e 82 l/ t on. para o álcool, com o pode ser obser vado na Tabela 1.
Ta be la 1 - I nfor m ações t écnicas da cult ur a de cana no Br asil – Font e BRASI L 2008.
I t e m D a dos
Ciclo 5 anos
Núm er o m édio de cor t es 5 cor t es
Produt iv idade de cana 85 t on/ ha ( 120 – 65)
Rendim ent o de açúcar 138 kg/ t on
Rendim ent o de álcool 82 l/ t on
Cult ivar es Regist r ados no Mapa 10 ( Sacchar um offinar um L.)
101 ( Saccharum spp.)
A cana de açúcar é um dos pr incipais pr odut os agr ícolas do Br asil,
sendo cult ivada desde a época da colonização. Do seu pr ocesso indust r ial,
obt ém - se o açúcar e suas der ivações, o álcool anidr o e hidr at ado, o vinhot o,
a levedura de cana e o bagaço ( PI ACENTE; PI ACENTE, 2006) .
Alves et al. ( 2004) explicam que a expansão do m er cado prom oveu
o m elaço, a r apadura e a aguar dent e, pr odut os m uit o com er cializados no
m er cado ext er no. Ainda segundo os aut or es, o em pr ego da cana- de- açúcar
para a fabr icação em escala de et anol ( álcool hidrat ado e álcool anidr o) dat a
do século XX, t endo r ecebido um gr ande incent ivo pelo Br asil nas décadas
de 70 e 80, com o pr ogr am a denom inado Proálcool.
Moura et al. ( 2004) explicam que durant e os anos 70, em m eio à
cr ise do pet r óleo, o gover no br asileir o lançou o Progr am a Nacional do Álcool
- Proálcool, com o obj et ivo de am pliar a ofer t a de álcool par a fins
carburant es, r eduzindo as im por t ações do pet r óleo que t inha sofr ido um a
for t e elevação de preços ( de US$ 3,00, par a US$ 12,00 o bar r il) .
Lopes ( 1996) ressalt a que em bor a t enha surgido com o propósit o de
r esolver o desequilíbr io nas cont as ex t er nas do País, os subsídios
alavancar am m uit os invest im ent os no set or da agroindúst r ia canav ieira,
sendo de grande im port ância para a am pliação da capacidade produt iva e
m oder nização do set or .
Souza ( 2006) explica que o Proálcool foi im plant ado em duas fases,
na prim eir a, ent re 1975- 1979, foi m arcada pela adição de álcool anidro na
gasolina, obj et ivando subst it uir par t e da gasolina consum ida no país, por ém
o excesso de pr odução de cana e açúcar , além da exist ência de capacidade
ociosa das usinas paulist as ocasionou um aum ent o subst ancial da pr odução
de álcool anidro em 1977- 78, ult rapassando a dem anda pelo pr odut o.
A ocor rência do Segundo Choque do Pet róleo, em 1979, e a
exist ência dest es est oques elevados de álcool anidr o levou o gover no a
assinar um acordo com a indúst r ia aut om obilíst ica, para a produção de
veículos m ovidos exclusivam ent e a álcool car act er izando a segunda fase do
program a que se est endeu de 1979 a 1985.
Ram os et al. ( 2007) relat am que no per íodo ent re 1983 e 1988, os
aut om óveis m ov idos a álcool passar am a const it uir m ais de 80% das
vendas, pr incipalm ent e em decor rência do am plo uso de subsídios aos
Por m eio do pr ogr am a Proálcool, o Br asil pode r eduzir suas
im por t ações de pet róleo, est im ulando a indúst ria aut om obilíst ica local para
a produção de veículos a álcool, cuj as vendas int er nas passaram de 283 m il
para 699 m il por ano, ent re os anos de 1980 e 1986. A expansão na venda
de aut om óveis a álcool foi de sum a im por t ância na m anut enção do
dinam ism o econôm ico do país no final da década de 60 e início da década
de 70, quando a pressão exercida pelo m er cado int er nacional do pet r óleo
passou a influenciar a t axa cam bial ( GUARNI ERI ; JANNUZZI , 1992) .
Durant e a década de 90 houve um processo gradat ivo de
desr egulam ent ação do set or , decor r ent e das dificuldades em equilibr ar a
ofert a à dem anda e de operar num am bient e de livre m ercado. Em m aio de
1997 ocorreu a liber ação dos preços do álcool anidro e, a part ir de fever eiro
de 1999 os preços do açúcar, da cana- de- açúcar e dos dem ais t ipos de
álcool t ornaram - se liv res ( MORAES, 1999) .
Souza ( 2006) esclarece que a cr ise que o país at ravessou nos anos
90 pr ovocou um a redução dos subsídios, elevando os cust os de pr odução do
álcool. No m er cado m undial, o preço do pet róleo dim inuiu a part ir de 1986 e
no cenár io nacional ocor r er am gr andes avanços na pr odução de pet r óleo, o
que desm ot ivou a pr odução dest e com bust ível.
Por out r o lado, o açúcar possuía elevados pr eços no m er cado
int er nacional levando o set or a desviar cana da pr odução de álcool par a a
de açúcar ger ando escassez do pr odut o no m er cado int er no no final de
1989. Est a cr ise de desabast ecim ent o der rubou, significat iv am ent e, as
vendas de car r os a álcool nos anos seguint es.
Ainda segundo Souza ( 2006) , o set or vem se or ganizando para
oper ar de for m a m ais eficient e no am bient e de livre m er cado. A int rodução
de inovações no pr ocesso pr odut ivo e adm inist r at ivo vem colabor ando par a
a r edução de cust os e aum ent o da com pet it iv idade, per m it indo que as
em pr esas cont inuem oper ando nest e novo am bient e.
Macedo ( 2005) explica que cont em por aneam ent e ao seu est udo, os
pr odut or es de cana- de- açúcar no Cent ro- Sul do Br asil não t êm qualquer
pr odução do et anol nas usinas m ais eficient es, em condições est áveis, j á
er am equivalent es ao cust o int er nacional da gasolina sem adit ivos com
pet r óleo a US$ 25/ bar r il. Segundo o aut or havia per spect iva de aum ent o
dest a com pet it iv idade par a os anos seguint es e indicação clar a de que o
set or j á er a sust ent ável nest e sent ido.
De acor do com o BRASI L ( 2009) , a cana- de- açúcar e seus der ivados
são a segunda pr incipal font e de ener gia pr im ár ia da m at r iz ener gét ica
nacional e o consum o de et anol j á é superior ao da gasolina.
O cr escim ent o da dem anda int er nacional por um com bust ível m ais
lim po e a boa aceit ação dos carros bicom bust íveis no m er cado nacional t em
est im ulado o aum ent o da pr odução e expansão das unidades produt oras,
além da inst alação de novas unidades, levando a um aum ent o da pr odução
de álcool ( SOUZA, 2006) .
Piacent e e Piacent e ( 2006) ressalt am que a exper iência do Program a
Br asileir o do Álcool Com bust ível é um dos pr incip ais m odelos de
desenvolvim ent o sust ent ável no Br asil e sendo cer t am ent e a m aior
cont ribuição m undial em com bust íveis líquidos a part ir da biom assa.
Os dados de BRASI L ( 2009) apont am que na safra 08/ 09 a indúst ria
sucroalcooleira processou 563 m ilhões de t oneladas de cana em t odo o país.
Dest e t ot al, 220 m ilhões de t oneladas ( 39% ) for am dest inados a produção
de açúcar. Já os out ros 61% , for am div ididos em 122 m ilhões de t oneladas
para a produção de álcool anidro e 220 m ilhões de t oneladas dest inadas à
produção de álcool hidrat ado.
Aut or es com o Ripoli e Ripoli ( 2005) r essalt am que o set or canavieir o
é de ext rem a im port ância para o agronegócio nacional e r epr esent am 3,5%
do PI B brasileiro. Par a Carvalho ( 2006 apud Salv i 2006) as 336 m ilhões de
t oneladas de cana- de- açúcar colhidos na safra 2005/ 2006, consolidam o
Br asil com o m aior pr odut or m undial dessa cult ur a.
Mor aes ( 2007) explica que o est ado de São Paulo foi responsável por
63% de t oda a cana- de- açúcar produzida no País, 63,3% da produção de
acr escent a ainda que o est ado est ipulou o m enor pr azo par a a elim inação
t ot al da queim a.
Avaliando os dados divulgados pelo BRASI L ( 2009) da safra
2008/ 2009 o est ado de São Paulo dest aca- se, t endo processado 354
m ilhões de t oneladas de cana, o que r epr esent a 61% do t ot al pr ocessado
no país. O est ado produziu ainda 16 bilhões de lit r os de álcool e 20 m ilhões
de t oneladas de açúcar, sendo, port ant o o principal est ado produt or .
Tonet t e et al. ( 2009) concluíram que as pr essões am bient ais cont idas
na lei 11.241 e no prot ocolo agroam bient al do est ado de São Paulo
influenciar am nas m udanças do processo de colheit a de cana.
A lei 11.241 ( SÃO PAULO, 2002) det er m ina que a ext inção gr adat iva
das queim adas pr é- colheit as nas lavour as canavieir as do est ado de São
Paulo, dever á ocorrer at é 2021 nas áreas m ecanizáveis e 2031 em áreas
não m ecanizáveis.
Essa legislação define com o ár eas m ecanizáveis as plant ações em
t er r enos acim a de 150 ha ( cent o e cinqüent a hect ar es) , com declividade
igual ou infer ior a 12% ( doze por cent o) , em solos com est r ut uras que
per m it am a adoção de t écnicas usuais de m ecanização para a at iv idade.
Todas as dem ais são consider adas ár eas não m ecanizáveis.
Cont udo, em j unho de 2007, foi assinado um pr ot ocolo de
cooper ação ent r e o Gover no do Est ado de São Paulo, a Secr et ar ia de Est ado
do Meio Am bient e, Secr et ar ia de Est ado da Agricult ura e a União da
Agroindúst r ia Canavieir a de São Paulo – UNI CA – dest inado a consolidar o
desenvolvim ent o sust ent ável na cu lt ur a canavieir a no est ado, denom inado
Prot ocolo Agr oam bient al.
O pr ot ocolo t em o obj et ivo de pr om over um a cooper ação t écnica
ent r e as par t es visando um a ant ecipação da elim inação da queim a no
Est ado de São Paulo ( UNI CA, 2007) .
As usinas e pr odut or es que ader iram ao m esm o dever ão ant ecipar a
elim inação da queim ada, de 2021 par a 2014 em áreas m ecanizáveis,
70% . Ainda segundo o m esm o pr ot ocolo nos t er r enos com decliv idade
acim a de 12% , o prazo final de ext inção da queim a ser á adiant ado de 2031
para 2017, adiant ando o porcent ual, em 2010, de 10% para 30% ( UNI CA,
2007; MORAES, 2007) .
A ant ecipação dos prazos pr opost os pelo Prot ocolo Agroam bient al em
com paração com os est ipulados pela lei 11.241 podem ser acom panhados
pelos dados apr esent ados na Tabela 2.
Ta be la 2 – Com par ação ent re os pr azos do prot ocolo agroam bient al e a lei 11.241.
Tipo de Ter r eno Mecanizável Não Mecanizável
% em 2010 Elim inação % em 2010 Elim inação
Lei nº 11.241 50% 2021 10% 2031
Prot ocolo 70% 2014 30% 2017
Nunes Júnior et al. ( 2005) apont am a subst it uição do processo de
cor t e m anual par a o pr ocesso m ecanizado de colheit a, sendo que na safr a
2003/ 2004 da região cent ro- sul do país 38,8% da produção de cana foi
colhida m ecanicam ent e e dest as, 40,7 % na for m a picada e cr ua.
Em seu est udo sobe o im pact o da m ecanização da colheit a de cana
de açúcar , Veiga Filho et al. ( 1994) afirm am que a colheit a m ecanizada é
um a realidade no est ado de São Paulo, ainda que na safra de 1992
est im ava- se que apenas 15% da colheit a est adual est ava m ecanizadas m as,
algum as usinas j á apr esent avam índices superiores a 50% .
Mor aes ( 2007) afirm a que a t endência de m ecanização da colheit a,
pr incipalm ent e na r egião Cent ro- Sul, é ir r ever sível e t ende a se aceler ar por
diver sos m ot ivos. Além do cr onogr am a de ext inção da queim a, nos anos
r ecent es, as usinas est ão invest indo em co- ger ação de ener gia elét r ica a
part ir da queim a de bagaço de cana, para com ercialização de energia. A
palha t am bém pode ser ut ilizada com o m at éria- pr im a para a co- geração de
ener gia elét r ica, o que est im ula as usinas a deixar em de queim á- la.
cana-de- açúcar e a aplicação da legislação t rabalhist a) a m ecanização t ende a se
aceler ar t am bém em função do aum ent o de com pet it iv idade das usinas.
2 .2 . A m e ca n iz a çã o n a cu lt u r a ca n a v ie ir a
O avanço da m ecanização nas difer ent es at iv idades da agricult ura
não é um fenôm eno recent e, t ão pouco exclusivo da cult ur a canavieir a.
De 1970 a 2000 o núm er o de m áquinas agrícolas prat icam ent e
t riplicou em São Paulo, assim com o a porcent agem de propriedades que
ut ilizam t rat ores passou de 14% para 42% do t ot al. Na década de 90 o
núm ero de operadores de m áquinas e t r at or ist as do est ado chegou a 8,6%
dos resident es nas fazendas. Em 2004, a m ecanização alcançou 70% da
ár ea cult ivada em r egiões com o Ribeirão Pr et o com o afirm ou Zanella
( 2008) .
Font ana et al. ( 2004) dest acam que a colheit a é um a das oper ações
m ais im por t ant es na agr icult ura dev ido ao seu alt o valor agr egado e da sua
boa execução depende o r et or no dos invest im ent os r ealizados em t odo o
ciclo produt ivo de um a cult ur a.
Scopinho ( 1995 apud SCOPI NHO et al., 1999) apont a para um a
t endência de aum ent o do cor t e m ecanizado da cana, est ando subsidiada
não som ent e pela pr eocupação com o m eio am bient e ou com os
t rabalhador es, m as sobr et udo, pelas vant agens de or dem econôm ica
( oper acionais, indust r iais e agr onôm icas) que m ovem as usinas nest a
dir eção.
No Br asil são ut ilizadas, pr incipalm ent e, as colhedoras com binadas
aut om ot r izes de cana picada, onde o pr odut o passa por várias et apas
dent r o da colhedor a, desde o m om ent o do cort e na base da plant a ( cort e
basal) , at é o car r egam ent o no veículo de t r anspor t e ( Figura 2) .
A m áquina, dur ant e o pr ocesso de colheit a, é posicionada em um a
fileira de cana e quando é iniciado o seu deslocam ent o, os pont eir os são
pelos div isor es de linhas ( 2) , r olo alim ent ador ( 3) e t om bador ( 4) , que
direcionam a fileira de cana para o cor t e. O cor t e de base é r ealizado por
dois discos r ot at ivos com lâm inas ( 5) , e o recolhim ent o e t ranspor t e int er no
das canas int eir as é r ealizado por r olos alim ent ador es e t ranspor t ador es
( 6) .
O cor t e da cana em r ebolos ( cana cor t ada em pequenos gom os) é
feit o pelos picador es ( 7) e a r et ir ada das im purezas ( lim peza) pelo ext rat or
pr im ár io ( 8) . Em seguida, os r ebolos são elevados pelo elevador de t aliscas
( 9) e na par t e super ior , ant es do descar r egam ent o, ocor r e um a segunda
lim peza pelo ext rat or secundário ( 10) ( NEVES, 2003) .
Figu r a 2 - Esquem a de um a colhedor a de cana picada, baseado no esquem a propost o por Nev es ( 2003) .
O cort e m ecanizado apresent a algum as peculiar idades relacionadas
às int er ações m áquina/ plant a podendo ger ar danos à plant a e,
conseqüent e, queda na pr odut iv idade com o r elat ado por Kr oes e Har r is
( 1996) . Est es danos podem reduzir a produção na colheit a seguint e por
aum ent ar a exposição do t oco ao at aque de pragas e doenças deixando- os
m uit o alt os e/ ou dilacer ados. No caso de cor t e m uit o r aso há a possibilidade
de dest r uição ou r em oção das novas gem as ou danificação do sist em a
Ridge e Dick ( 1988) cham am at enção par a o cor t e basal, onde ocor r e
grande part e das perdas de açúcar e m at éria pr im a, sej a diret am ent e pelo
cor t e não ideal, sej a pelo r ecolhim ent o de t er r a durant e est a oper ação,
r eduzindo a qualidade do produt o par a o beneficiam ent o indust r ial.
Sobr e est es pr oblem as Volpat o ( 2001) cor r obor a com os aut or es
ant er ior es, afir m ando que a deficiência no cont role da alt ur a de cor t e das
colhedor as de cana- de- açúcar , além de cont am inar os colm os com t er ra
durant e a operação em profundidade, pode t am bém pr ovocar cor t e elevado
com a conseqüent e per da de m at ér ia- pr im a. Confor m e Ripoli e Par anhos
( 1990) a var iação da alt ura de cor t e basal é, em ger al, r ealizada por
m ecanism os hidráulicos cont r olados m anualm ent e pelo oper ador .
Ripoli e Ripoli ( 2005) explicam que a velocidade de deslocam ent o das
colhedor as de cana- de- açúcar é influenciada diret am ent e pelas condições
da cult ur a e do t er r eno, sendo que a capacidade de cor t e por unidade de
t em po t em relação dir et a com sua velocidade. Est es equipam ent os podem
t rabalhar com velocidade de at é 9,0 km / h, segundo especificações dos
fabr icant es, no est ado de São Paulo, não ult rapassavam 4,0 a 6,0 k m / h,
possivelm ent e devido à falt a de sist em at ização dos t alhões, volt ados par a a
colheit a m ecânica
Garson ( 1992) explica que um cont role aut om at izado de alt ur a do
cor t e basal das colhedor as de cana- de- açúcar pode reduzir a quant idade de
solo present e no suprim ent o para a indúst ria. Out ras vant agens desse
sist em a são: r edução do consum o de com bust ível; m aior facilidade de
oper ação da colhedor a; r edução dos danos à base da cana ( GARSON;
ARMSTRONG 1993) .
Salv i et al. ( 2005) ao analisarem o uso de um disposit ivo sem
i-aut om át ico de cor t e de base sob ut ilização de operadores com graus de
exper iência dist int os. Os r esult ados m ost r ar am que a habilidade/ exper iência
do oper ador t em influência par a a alt ur a de cor t e da cana e o uso do
disposit ivo auxiliou o oper ador m enos exper ient e a obt er um a alt ura m édia
Para Corrêa et al. ( 2008) a colheit a m ecanizada é um a realidade cada
vez m ais pr esent e na cult ura canavieir a dem andando de um a m elhor
com pr eensão dessa at iv idade par a a adequação dos equipam ent os às
necessidades dos oper ador es, que t raduzir á num a m aior sat isfação do
usuár io e conseqüent e aum ent o do desem penho dos m esm os.
2 .3 . Er gon om ia e m e qu ipa m e n t os a gr ícola s
A int rodução de m áquinas para a r ealização de t ar efas que ant es
er am feit as m anualm ent e m odificou as r elações ent r e o t rabalhador e suas
at iv idades labor ais, essa r elação ent r e o hom em e os equipam ent os é
denom inado sist em a “ hom em / m áquina”
Grandj ean ( 1998) esclarece que o sist em a “ hom em / m áquina” possui
um ciclo fechado, no qual o hom em ocupa posição chave, enquant o
com pet e a ele o poder de decidir . Ainda segundo o aut or , o cont role de
m áquinas nos pr im eiros t em pos não er a um grande problem a, com o
advent o da elet r ônica, com o aper feiçoam ent o do m esm o e com o aum ent o
da capacidade de pr odução, as t arefas do hom em , especialm ent e no que
t ange as per cepções das infor m ações e sua cor r et a int er pr et ação,
t or naram - se cada vez m ais delicadas e com plexas. Conseqüent em ent e, o
“ fat or hum ano” nest es sist em as foi se t or nando cada vez m ais im por t ant e.
Por esses m ot ivos hoj e em dia dá- se gr ande im por t ância à concepção
er gonôm ica do sist em a “ hom em / m áquina” .
Prat es ( 2007) ressalt a que o am bient e de t rabalho deve favor ecer o
bom desem penho das at iv idades dos colabor ador es, pois r eflet irá
dir et am ent e na pr odut ividade dos m esm os e conseqüent em ent e na
lucrat ividade da em presa. O conhecim ent o de t écnicas er gonôm icas e sua
filosofia para adapt ar o t rabalho ao hom em t êm gerado grandes benefícios
à funcionár ios e às or ganizações.
I ida ( 2005) elucida que a er gonom ia é o est udo da adapt ação do
t rabalho ao hom em , com am pla abrangência r efer indo- se às m áquinas,
equipam ent os e t odas as sit uações que envolvem o r elacionam ent o hom em
Solm am ( 2002) afir m a que o design de equipam ent os, em especial
da int erface com hom em , é crucial para o desem penho do sist em a
“ hom em / m áquina” , influenciando não som ent e nos esforços a ser em
exigidos do oper ador , com o, t am bém na exposição a r iscos que o m esm o
pode ser subm et ido.
Nest e cont ext o a oper ação de equipam ent os agr ícolas enquadr a no
conceit o de int er face “ hom em / m áquina” , j á que engloba basicam ent e dois
fat or es: o hom em ( oper ador ) e a m áquina ( t r at or ) , m as a eficiência dest e
sist em a depende de diver sos out ros fat or es.
Murrel ( 1965 apud DEBI ASI , et al., 2004) expõem alguns dest es
fat or es, ent r e os quais se dest acam , no âm bit o da operação de t r at or es
agr ícolas, as condições am bient ais do post o de oper ação ( t em per at ur a, luz,
um idade do ar) , ruídos, v ibrações, com andos e assent o do oper ador .
Alguns aut or es ( MÁRQUEZ, 1990; LI LJEDAHL et al., 1996; apud
DEBI ASI , et al., 2004) concor dam que quando a oper ação de m áquinas
agr ícolas não const it ui um sist em a eficient e, o oper ador fica expost o a um a
elevada carga física e m ent al. I st o r esult a num a r edução da eficiência do
m esm o ( produt iv idade e qualidade do t rabalho) , aum ent ando a ocorrência
de er r os, acident es e o desenvolvim ent o de doenças ocupacionais.
Em um a avaliação sobr e painéis de colhedor as da cana, Cor r êa et al.
( 2008b) afirm am que há um a gr ande dem anda no r edesenho dos
com ponent es desse sist em a, a fim de facilit ar a r ecepção das infor m ações
que são fundam ent ais par a o oper ador. Os aut ores afirm am ainda que t ais
m edidas, seguindo os conceit os do design er gonôm ico no conj unt o do post o
do oper ador são im por t ant es par a r eduzir as chances de t om adas de
decisão er r adas, as quais podem r esult ar em acident es, além de m inim izar
a fadiga m uscular e m ent al do operador.
Ao avaliar colheit adeiras com binadas, onde a at iv idade fundam ent al
dos oper ador es é r ealizada no post o de condução ( cabine) , Font ana et al.
( 2004) ressalt am a im por t ância da aplicação de cr it érios er gonôm icos que
per m it am est abelecer a cor r et a adapt ação dos com ponent es do sist em a
oper ador es e do t rabalho que se r ealiza. E dest e m odo alcançar m aior
eficiência produt iva, m aior grau de confor t o e segur ança na t ar efa
r esult ando na m elhor ia das condições de t rabalho.
Tór en e Öber g ( 2001) com ent aram que ao dir igir um t rat or agrícola
ou um a colheit adeir a, o t rabalhador est á expost o a pr oblem as com o
vibrações, post ura sent ada pr olongada e a adoção de post uras com t or ção
lat er al de t ronco. Confor m e Torén et al. ( 2002) o t rabalho com t rat ores e
colheit adeir as em t em po pr olongado r esult a no aum ent o de desconfor t o/ dor
na r egião das cost as, r egião ciát ica e nos quadr is.
Lim a et al. ( 2005) afirm am que o acesso a det er m inada m áquina,
bem com o o confor t o t ér m ico, o cam po v isual, o esfor ço par a acionam ent o
dos com andos e as dim ensões do post o do oper ador são aspect os
im por t ant es a ser em obser vados em um a avaliação er gonôm ica de
m áquinas, v isando um m aior confor t o, segurança e m aior pr odut iv idade
durant e a realização da j ornada de t rabalho ao longo do t em po.
Conform e Lim a et al. ( 2005) , durant e a realização de seu t rabalho, os
oper ador es ficam expost os às condições adversas vindas do m eio am bient e
( t em per at ur a, poeir a, um idade et c.) e da m áquina ( ruídos, vibrações,
post ura, gases, t em per at ur a et c.) , sendo as últ im as decor r ent es do pr oj et o
da m áquina.
O cont role das condições am bient ais no post o de oper ação dos
equipam ent os agr ícolas é essencial, sendo que j á est ão disponíveis sist em as
que per m it em isolar , pelo m enos par cialm ent e, o oper ador do calor
pr oduzido pelo conj unt o m ecânico, bem com o daquele or iundo dos r aios
solares ( DEBI ASI , 2002) .
Para alguns aut or es ( MÁRQUEZ, 1990; FEBO; PESSI NA, 1995;
SCHLOSSER, 2001) o cont role m ais efet ivo da exposição ao calor é
pr opor cionado por um a cabine, que colabora ainda para a r edução dos
níveis de exposição do oper ado ao r uído, vibr ações e subst âncias est r anhas
Segundo Springfeldt ( 1996) a grande im por t ância das cabinas levou
alguns países ( I nglat er r a, Suécia e Finlândia) t or narem esse disposit ivo
obr igat ór io em t odos os equipam ent os agr ícolas novos e ainda possuír em
sist em a de aquecim ent o.
Para Dupuis ( 1959 apud PATEL et al., 2000) as lesões nos
t rabalhador es podem ser r esult ados de um pr oj et o er gonôm ico pobre e que
quando os com andos do oper ador não são devidam ent e adapt ados para
t rabalhar em har m onia, o desem penho exigido do t rabalhador pode levá- lo
r apidam ent e aos seus lim it es de t oler ância ou ult rapassá- los. O aum ent o da
possibilidade de acident es apr esent a- se com o conseqüência do st r ess
excessivo, da fadiga prem at ura e da saúde debilit ada.
Fiedler ( 1995) aler t a que as m áquinas são, na m aior ia das vezes,
im port adas ou adapt adas de out ras m áquinas e de cust os elevados, o que
exige o m áxim o aproveit am ent o de t odas as suas funções m enosprezando,
m uit as vezes, as condições de t rabalho, principalm ent e o hom em que opera
est a m áquina, for çando- o a adapt ar - se às condições da m áquina r elegando,
dest a m aneira, os pr incípios er gonôm icos.
As lim it ações de nat ur eza fisiológica podem var iar m uit o ent r e
t rabalhador es da m esm a at iv idade segundo Márquez ( 1990) , sendo
influenciadas por fat or es com o a fadiga, as drogas ( álcool, t abaco,
m edicam ent os et c.) , os pr odut os quím icos, as enfer m idades e as condições
am bient ais.
Queiróga ( 1999 apud MORAES, 2002) , afirm ou que cada cat egoria
funcional possui um a caract er íst ica par t icular de exigência m ent al e m ot or a,
na m esm a pr opor ção dos fat or es dos r iscos exist ent es, int ensidade e
exposição aos m esm os. Em algum as at iv idades labor ais pode- se
desenvolver sint om at ologias específicas, com o alt er ações post urais
funcionais ou est r ut urais. Alm eida ( 1998) acr escent a que há var iações nos
padr ões sint om at ológicos confor m e a at iv idade de t rabalho.
O proj et o das m áquinas agr ícolas deve levar em consider ação os
fat or es hum anos e segundo Lilj edahl et al. ( 1996) , est es fat ores, quando
grande quant idade de t arefas com plexas com eficiência, segur ança e um
m ínim o de fadiga.
2.3.1. Acesso e cabine
Alguns aut or es t êm desenvolvido t rabalhos par a est udar a aplicação
da er gonom ia em m áquinas agr ícolas. Baeza e Casabella ( 1991)
desenvolver am um est udo par a avaliar a ergonom ia da cabine de com ando
de colhedor as de cana- de- açúcar em Cuba, analisando o aj ust e dim ensional
da m esm a às caract er íst icas do operador e vias de acesso à cabine.
Suut arinen ( 1992) afirm a que o acesso e a saída do equipam ent o são
causas com uns de lesões em oper adores de t rat or es. Tendo em vist a t ais
problem as, Fiedler ( 1995) suger e que os degr aus de acesso aos
equipam ent os devem ser desenhados e posicionados de for m a a não ser em
at ingidos e danificados durant e a operação da m áquina.
Exist em nor m at izações em alguns países com o na Suécia, r elat ado
por Ar bet sm ilj oinst it ut ed et al. ( 1990) recom endando que os degraus de
acesso à m áquina se r et raiam aut om at icam ent e par a um a posição segur a
durant e a m ov im ent ação. A norm a I SO 4253 ( I SO 1977 apud PATEL et al.,
2000) est abelece algum as dim ensões e caract eríst icas dos degraus de
acesso ao post o de oper ação, bem com o dim ensões das por t as de acesso,
quando o equipam ent o é dot ado de cabine fechada. Delgado ( 1991)
com plem ent a ao afir m ar que os pedais no int er ior da cabine não devem
dificult ar ou obst ruir o acesso ao equipam ent o.
Refer indo- se ao dim ensionam ent o do post o de operação
Ar bet sm ilj oinst it ut ed et al. ( 1990) suger em que haj a espaço suficient e para
abr igar qualquer oper ador , independent em ent e de suas car act er íst icas
físicas, possibilit ando ainda a adoção de posições de t rabalho confor t áveis,
além de dispor locais específicos par a per t ences pessoais.
Sendo a disposição dos com andos fundam ent ais par a a m anut enção
de post uras adequadas, alguns aut or es ( DELGADO, 1991; MÁRQUEZ, 1990)
e m anej o fácil sem que sej a necessár io que o oper ador se desloque da sua
posição norm al de t rabalho para acioná- los.
Robin ( 1987) dest aca a im por t ância da consider ação do espaço livre
para m ovim ent ação dos pés e para t roca de post ura durant e o t rabalho e
Debiasi et al. ( 2004) indicam a necessidade da padr onização das
caract er íst icas dos com andos at ravés de nor m as t écnicas.
Sant os ( 2005) dest aca a im por t ância do assent o na concepção do
post o de t rabalho, j á que est e disposit ivo de int er face ser á ocupado pelo
oper ador m ais hor as do que qualquer out ro durant e a r ealização de suas
at iv idades labor ais. Cor roborando com est a idéia alguns aut ores ( MURREL,
1965; CUTULI et al. 1977) esclarecem que as caract eríst icas do assent o do
operador são de grande im port ância na t ar efa de r eduzir o t rabalho est át ico
m uscular , pr opiciando a t om ada de post uras cor por ais cor r et as.
Ent re as caract er íst icas que o assent o deve possuir , dest acam - se as
dim ensões ( lar gura e com prim ent o do assent o, alt ur a em r elação à
super fície de apoio, dist ância em relação ao volant e de dir eção e os pedais e
inclinação do assent o e do encost o) sendo que est as se encont r am
norm at izadas at ravés da norm a NBR I SO 4253 ( ABNT, 1999a) .
Sobr e assent os I ida ( 2005) pr opõe um r edesenho dest es disposit ivos,
de m odo a absor ver as vibrações e facilit ar as r ot ações do t ronco e da
cabeça, um a vez que a coluna ver t ebr al do t rat or ist a sofr e o im pact o das
vibrações e das t orções do cor po. O oper ador deve m ant er - se em um a
post ura est ável apesar de v ibr ar e sacolej ar o t em po t odo. Confor m e o t ipo
de t ar efa em execução pelo t rat or ist a, gr ande par t e de seu t em po é gast o
em m ovim ent os r ot acionais da cabeça, que chegam at é 15 ou 20 r ot ações
por m inut o. Dev ido à necessidade de fazer essas const ant es r ot ações com a
cabeça, o t rabalhador m ant ém o t ronco t or cido, em sit uação de cont ínua
t ensão dos m úsculos lom bar es, aum ent ando a pr obabilidade de fadiga e
dor es m uscular es.
Em sua pesquisa Fiedler ( 1995) analisou assent os par a m áquinas
flor est ais em que os oper ador es ent revist ados indicaram os assent os e
apoio par a os br aços, além de ser em const r uídos com m at ér ias de boa
qualidade apresent aram as m elhores avaliações. Os piores assent os foram
aqueles que não ofer ecer iam aj ust es de alt ur a ou de inclinação do encost o,
além dos m uit o baixos ou duros.
Ainda nest a pesquisa out r o fat or apont ado com o pr ej udicial ao
confor t o for am os assent os confeccionados com m at er iais m uit o lisos ou
que favor eciam o aquecim ent o, t ransm it indo sensação de desconfor t o e/ ou
insegurança.
A r espeit o do m at er ial de r evest im ent o, I ida ( 200 5) cit ou que,
geralm ent e é usado algum t ipo de m ola ou espum a, visando dist r ibuir a
carga do cor po no assent o e, assim , haver r edução na pr essão em pont os
isolados. No ent ant o, se o r evest im ent o for m uit o m acio, haver á o per igo do
cor po não t er m ais o apoio necessár io e do t rabalho da est abilização cair
m ais um a vez sobr e os m úsculos.
Debiasi et al. ( 2004) dest acam ainda a im por t ância do volant e de
dir eção dent r e os com andos de um t rat or agr ícola por seu acionam ent o
cont ínuo, além da dist ância em r elação ao assent o e seu gr au de inclinação
de seu eixo cent r al em r elação à ver t ical.
Da m esm a form a, Lilj edahl et al ( 1996) afirm am que a cor ret a
disposição dos com andos de oper ação exer ce papel fundam ent al na
int er ação hom em / m áquina, aum ent ando o desem penho do oper ador e
dim inuindo seus er r os.
Em um est udo sobre er gonom ia veicular Rozest rat en ( 2006) afirm a
que as infor m ações binár ias com o ligado/ desligado, suficient e/ falt a de...,
cheio/ vazio, luz alt a/ luz baixa, aber t o/ fechado, dent r e out r os, podem ser
m ais bem indicadas por pict ogr am as e com luz color ida. Ainda no m esm o
ar t igo há a sugest ão sobr e a ut ilização de luz m est ra ou luz de aviso ger al,
ser ia um a for m a m ais eficient e de m ost r ar que há funcionam ent o anor m al
de algum disposit iv o.
De acor do com Ker ihuel ( 1989) apud Rozest rat en ( 2006) o t em po
x Fase balíst ica, na qual a pessoa m ovim ent a os olhos par a o alvo;
x Fase de adapt ação ao am bient e ( lum inosidade, dist ância do
alvo, profundidade, por exem plo) ;
x Fase de leit ura, na qual se dá a com pr eensão e a int er pr et ação
da inform ação.
O aut or enfat iza a im port ância em reduzir o m áxim o o t em po
necessár io par a a r ealização de cada um a dessas fases.
Ao efet uar um a avaliação com par at iv a ent r e dois painéis de
colhedor as de cana, Cor rea et al. ( 2008b) observaram que é significat iva a
im por t ância do cor r et o dim ensionam ent o dest es disposit ivos par a m inim izar
a sobr ecar ga do t rabalhador . Segundo os aut or es deve- se at ent ar sobr e a
posição dest es disposit ivos, facilidade e a qualidade das inform ações
apr esent adas De acor do com Cout o ( 1995) , a ilum inação adequada se
const it ui em um dos pr incipais it ens par a o confor t o hum ano, pr odut iv idade
e qualidade de vida, r azão por que se t or na r elevant e que t ant o o cam po de
t rabalho quant o os m ecanism os de acesso à m áquina est ej am devidam ent e
ilum inados.
Par a I ida ( 2005) a visibilidade dos com andos e inst r um ent os
( m ost r ador es em ger al) m er ece at enção, devendo ser disponibilizados
dent r o do cam po de v isão do oper ador . Os m ais im por t ant es ou m ais
ut ilizados devem est ar cent ralizados à frent e do operador sendo que os de
segunda im por t ância podem ocupar os pont os m enos favor áveis. O aut or
dest aca ainda a im port ância da sinalização lum inosa desses inst r um ent os,
que devem t er br ilho suficient e par a que sej am vist as inclusive em
condições am bient ais de m aior lum inosidade. O aut or pr opõe zonas de
m áx im a e ót im a v isualização par a a inst r um ent ação e sinais lum inosos de
advert ência.
Chudakov ( 1977) dest aca que a per cepção pelos olhos do operador é
a pr im eira e fundam ent al et apa da t om ada de decisão, precedendo qualquer
reação com os out ros m em bros do cor po, e Zander ( 1972) , alert a sobre a
im por t ância das caract er íst icas do cam po visual que influencia dir et am ent e
na post ura do t rabalhador , sendo com um aum ent ar o cam po visual por
Essa afir m ação é corroborada por Rio e Pir es ( 2001) que afirm am que
o desconfor t o visual pode pr ovocar sensação de cansaço nos olhos, dor ,
irr it abilidade e verm elhidão obr igando, m uit as vezes, o t rabalhador a adot ar
post uras e m ovim ent os inadequados buscando sit uações de confor t o visual
Font ana ( 2005) que acr escent a que as condições de visibilidade da cabine
t êm influência sobr e a segur ança e a pr odut iv idade.
2.3.2. Vibr ação
O cor po hum ano est á expost o a v ibr ações em vár ios am bient es e
podem os classificá- las pelo m odo com o são t ransm it idas ao cor po: vibr ação
de cor po int eiro e v ibr ação t ransm it ida por m eio das m ãos.
Fer nandes e Mor at a ( 2002) explanam que a v ibração de cor po int eiro
ocor r e quando o cor po est á sendo supor t ado por um a super fície que vibra e
é produzida de t rês for m as:
x ao sent ar m os num assent o que vibr a;
x ao ficarm os em pé num piso que v ibr a;
x ao se deit arm os num a super fície vibrant e.
Ainda segundo os aut or es esse t ipo de v ibração ocor r e em t odas as
form as de t ransport e.
Para Pekkar inen ( 1995) , a v ibração de cor po int eiro é um est ím ulo
difuso que excit a vár ios r ecept or es sim ult aneam ent e causando est r esse
ger al. Os efeit os da v ibr ação de cor po int eiro est ão bem pr oxim am ent e
r elacionados aos efeit os do r uído de baixa freqüência. O aut or relat a que a
vibração de cor po int eiro t em sido r esponsabilizada por alt er ações na
cir culação sangüínea da or elha int er na e que t em sido obser vado um a
r edução t em por ár ia do lim iar audit ivo ent r e nas fr eqüências de 2 e 4 kHz,
ligada à v ibração de corpo int eiro.
A vibração t am bém pode ser classificada com o sendo t ransm it ida por
m eio das m ãos e em ger al, a v ibr ação t ípica de equipam ent os é m aior do
que 0,316 m / s2 ( MATOBA, 1994) . A ação repet ida desses est ressor es no
ner voso per ifér ico, m as t am bém o sist em a ner voso cent ral ( FERNANDES;
MORATA 2002) .
Mat oba ( 1994) refere que dor de cabeça, insônia, esquecim ent o,
irr it abilidade, depressão, zum bido e im pot ência apar ecem em indivíduos
expost os à vibr ação at ravés das m ãos à m edida que os sinais e sint om as
vão pr ogr edindo. Por ém as alt er ações m ais com uns ser iam da cir culação
per ifér ica, ner vosa e m uscular , da ar t iculação e do sist em a ner voso cent ral
e aut ônom o, associada com perda audit iva nist agm o e ver t igem . Essas
alt er ações são observadas em 60 a 70% dos pacient es. A avaliação física
r evela sinais de alt er ações cir culat ór ias, n er vosas e m uscular es nos dedos e
braços.
Murat a et al. ( 1990 apud Fer nandes; Mor at a ( 2002) ) exam inaram os
efeit os de v ibr ação at ravés das m ãos no sist em a ner voso cent ral e
per ifér ico por m eio do exam e do pot encial audit ivo evocado, concluindo que
a exposição com binada a est r essor es com o vibrações, r uído, difer enças
clim át icas e t rabalho pesado, afet a não apenas o sist em a ner voso per ifér ico,
m as t am bém o sist em a ner voso cent ral.
2.3.3. Ruído
Wünsch Filho ( 2004) afirm am que as lesões por esforços repet it ivos
( LER) e a perda audit iva induzida por r uído ( PAI R) const it uem - se nas duas
doenças m ais not ificadas ent r e as r elacionadas ao t rabalho. Bast os e
Fer nandes ( 2008) infor m am que a part ir de 1989, a Organização Mundial de
Saúde ( OMS) j á passou a t rat ar o ruído com o pr oblem a de saúde pública.
Sobre a perda audit iv a aut ores com o Pinheiro et al. ( 1999) e Mir anda
et al. ( 1999) encont r ar am níveis de pr evalência de at é 58,7% em
det er m inados set or es indust r iais. Mir anda et al. ( 1999) ressalt a ainda que
essa perda pode ser induzida m ais rapidam ent e se o t rabalhador apresent ar
algum a doença sist êm ica cr ônica. Os aut or es caract er izar am a Per da
audit iva decor r ent e da exposição cont inuada a níveis elevados de r uído e
const at ar am que, um a vez inst alada, t or na- se ir r ever sível.
Okam ot o e Sant os ( 1996) afir m am que o est ím ulo audit ivo, ant es de
chegar ao cór t ex cer ebr al, passa por inúm er as est ações subcor t icais,
pr incipalm ent e pelas funções veget at ivas, que explicam os efeit os
não-audit ivos induzidos pelo ruído.
Para St angl et al. ( 1973 apud SÜMER et al., 2006) o ruído é um dos
m ais am plos e fr eqüent es problem as do sist em a “ hom em / m áquina” . O r uído
é nor m alm ent e definido com o som indesej ável ou incôm odo e afet a o
hom em fisicam ent e, psicologicam ent e e socialm ent e segundo Br üel e Kj aer
( 1986 apud SÜMER et al., 2006) .
Os aut ores afirm am ainda que o ruído pode int erfer ir na
com unicação, ir r it ar , pr ovocar cansaço, reduzir a eficiência e induzir per das
audit ivas t em por ár ias ou per m anent es, sendo que est as afir m ações são
cor r obor adas por Levicit us e Sam pt on ( 1993) .
Okam ot o e Sant os ( 1996) ver ificaram que ruídos de baixas
fr eqüências são capt ados por bar or r ecept or es de ór gãos ocos ( vasos de
gr osso calibr e, est ôm ago e int est ino) desencadeando a est im ulação
neur oquím ica com indução de vasoconst rição e, conseqüent em ent e,
est im ulação do sist em a ner voso cent ral com ocor r ência de hiper m ot ilidade e
hiper secr eção gast roduodenal, r elat a, ocasionando gast r it e, úlcer a
gast roduenal, diarr éia e prisão de vent re.
Nest e sent ido a per t ur bação ger ada pelo r uído não é apenas
dependent e do seu nível, m as t am bém da fr eqüência que quant o m aior
aum ent ar á o incôm odo segundo Br üel e Kj aer , ( 1986 apud SÜMER et al.,
2006) . Bak ker ( 1993) afirm a que os t r abalhador es agr ícolas exper im ent am
um a das m ais elevadas t axas de per da audit iva ent r e t odas as pr ofissões.
Est a é causada em par t e por num er osas font es pot enciais de poluição
sonor a for t e na explor ação agrícola e Mart oba ( 1994) afirm a que o nível de
pr essão sonor a ger ado por equipam ent os em ger al t ende a ser super ior à
Aut or es com o Sant os ( 1996) e Ger ges ( 1998) suger em m edidas de
cont r ole am bient al e or ganizacional iniciando pelas m edidas de engenhar ia,
a fim de r eduzir na font e ou na t ransm issão o nível do ruído.
Sant os ( 1996) apresent a as possíveis int er venções para cont role do
r uído, cit ando que a pr im eir a m edida deve ser at ravés de um a int er venção
na font e em issor a, elim inando ou subst it uindo por m áquinas m ais
silenciosas; r edução de concent ração de m áquinas e m odificação do r it m o
de funcionam ent o da m áquina.
Par a Gr andj ean ( 1998) par a a avaliação de exposição ao r uído são
avaliados os níveis de sons com o m edida de int ensidade sonor a, sendo que
é efet uada um a filt ragem par cial das energias sonor as nas fr equências alt as
e m ais baixas. O aut or acrescent a ainda que est udos psicológicos
dem onst ram que a m edição no canal A ( dB ( A) ) r epr esent am um a boa
m edida da pert urbação sonora produzida pelo som .
Ao avaliar em colhedor as de cana Cor r êa et al. ( 2008) puder am
ident ificar r eclam ações r elat ivas aos r uídos int er nos nos equipam ent os. Os
aut or es obser var am ainda que o dim ensionam ent o inadequado de alguns
sist em as com o as por t as, além de não ofer ecerem isolam ent o adequado,
apresent avam folgas t ornando font es ger ador as de r uídos.
O Anexo I da NR 15, preconiza que um t r abalhador poder á expor - se
no m áxim o oit o hor as diár ias a um nível de r uído de 85 dB ( A)
apresent ando um a t abela em que o t em po de exposição ao r uído var ia na
pr opor ção inver sa ao aum ent o da int ensidade da pr essão sonor a. Gr andj ean
( 1998) cor robora com a norm a afirm ando 85 dB( A) é o nível de ruído
aceit ável para oit o horas por dia.
Okam ot o e Sant os ( 1996) relat am pesquisas cuj o result ado
evidenciou que a ex posição a r uído cont ínuo dim inui a habilidade e o
rendim ent o do indiv íduo, acarr et ando um provável aum ent o de acident es de
t rabalho. Os aut or es explicam ainda que a dilat ação da pupila sej a a r eação
visual à exposição, sendo que em t rabalhos de pr ecisão ( que exigem
cont inuam ent e a dist ância do foco, o que aum ent aria sua fadiga e
pr obabilidade de err os.
Süm er et al. ( 2006) apont am um a predileção por par t e dos
pesquisador es pelo t r at or ao ser avaliado o nível de exposição ao r uído,
t endo em vist a que est e é o pr incipal equipam ent o agr ícola, ent r et ant o, o
aut or r essalt a a necessidade de est udos que exam inam os níveis de r uído
de out ras m áquinas com propulsão própr ia, especialm ent e nos países em
3 . JUSTI FI CATI V A
A m ecanização da agr icult ur a não é um fenôm eno recent e,
envolvendo t odas as et apas do cult ivo, do plant io a colheit a.
Na cult ur a canav ieir a a colheit a com o em algum as out r as cult uras,
t eve a expansão da m ecanização m ais t ardia, porém em r it m o acelerado,
ger ando discussões devido aos aspect os t écnicos, cult ur ais, econôm icos,
ecológicos e sociais envolv idos nest a cult ur a.
Os equipam ent os at uais cont rast am a t ípica im agem r úst ica do
cam po, com sua elevada com plex idade t écnica e m oder na t ecnologia
em bar cada. Essas m áquinas são fabricadas, pr incipalm ent e, por grandes
conglom er ados indust r iais t ransnacionais que pr oduzem t am bém
equipam ent os par a diver sos cult ivos, com o colhedor as com binadas, t rat or es
além de im plem ent os.
As colhedor as aut om ot r izes de cana crua são equipam ent os de uso
bem específico, difer indo das colheit adeiras para grãos, que são m ais
ver sát eis bast ando a subst it uição da plat afor m a de colheit a par a se adequar
à cult ur a.
No ent ant o, com o em t odo pr odut o indust r ializado m oder no, apesar
de seu elevado gr au de especificidade, é im port ant e dest acar que há um
com part ilham ent o de diver sos de seus sist em as com out r os equipam ent os.
A cult ur a canav ieir a se adapt ou m uit o bem às condições clim át icas
br asileir as, com o t am bém nos dem ais principais produt ores ( Í ndia, China e
Tailândia) . As sem elhanças dest a cult ura nest es países vão além das
condições clim át icas, t odos est es países são classificados com o em
desenvolvim ent o e, apesar de ser em im port ant es export adores, apresent am
um a carência em pesquisas para o desenv olv im ent o de pr odut os adequados
a sua r ealidade, o que m uit as vezes se t raduz em obj et os pouco eficient es
O Br asil t em posição de dest aque não apenas pelo volum e de sua
pr odução, m as t am bém pela sua pr odução cient ífico - t ecnológica com
dest aque no set or agrícola.
Com um a indúst r ia sucroalcooleira de abrangência e influência
int er nacional, líder m undial na produção de cana e seus der ivados, o Br asil
é o pr incipal consum idor de pr odut os e equipam ent os dest inados ao set or
sucr oalcooleir o, devendo pr ezar pela a adequação dest es às suas dem andas
t écnicas e hum anas. Conhecer t ais dem andas é fundam ent al par a que o
país e sua indúst r ia possam alcançar a alm ej ada responsabilidade
socioam bient al.
A aplicação dos conceit os do design er gonôm ico t em dem onst rado
eficiência não apenas na r edução das sobr ecar gas labor ais, m as t am bém
ger ando consequências posit ivas na eficiência pr odut iva, por ém é
fundam ent al que haj a um em basam ent o cient ífico das dem andas
er gonôm icas específicas de cada at iv idade par a o desenvolv im ent o dest es
4 . FORM ULAÇÃO D O PROBLEM A
As colhedor as de cana com er cializadas no Br asil são fr ut o de
em pr esas t ransnacionais e conseqüent e desenvolv im ent o grande par t e de
seus pr oj et os int er nacionalm ent e. As dem andas er gonôm icas a serem
consider adas por est es pr oj et ist as podem não sat isfazer as necessidades
dos oper ador es br asileir os.
Difer enças cult ur ais, sociais, clim át icas e ant r opom ét ricas
apresent am grandes var iações regionais no Brasil, podendo m inim izar e at é
anular as soluções t écnicas encont r adas par a um det er m inado pr oblem a.
Est as difer enças são m ais acent uadas quando t rat am os de um produt o
desenvolv ido par a um oper ador de out ra nação.
Qual o nível de adequação das at uais colhedor as de cana- de- açúcar
às dem andas er gonôm icas nas lavour as paulist as? A dist r ibuição dos
com andos e o nível de r uído int er no são adequados? Qual a percepção de