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Práticas e comportamento alimentar no meio urbano: um estudo no centro da cidade de São Paulo.

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Academic year: 2017

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Prát icas e comport ament o aliment ar no meio

urbano: um est udo no cent ro da cidade

de São Paulo

Eating p ractice s and b e havio r in the urb an

e nviro nme nt: a stud y in d o wnto wn São Paulo

1 Departam en to de Nu trição, Facu ld ad e d e Ciên cias M éd icas, Pon tifícia Un iversid ad e Católica d e Cam p in as.

Av. Joh n Boyd Du n lop s/no,

Cam p in as, SP 13020-904, Brasil.

Rosa Wan d a Diez Garcia 1

Abst ract Th is stu d y focu ses on th e im p lication s of u rban life style on eatin g h abits an d th e re-lated sym bolic rep resen tation s. Th eoretical referen ces u sed to ap p roach th e food ex p erien ce are t h e con cep t s of social rep resen t at ion an d h abit u s. Th e m et h od ology con sist ed of a qu alit at iv e an alysis of in t erv iew s w it h 21 ad m in ist rat iv e em p loyees an d field observ at ion s m ad e at com -m ercia l est a blish -m en t s in d ow n t ow n Sã o Pa u lo, su ch a s sn a ck ba rs a n d rest a u ra n t s. St u d y of eatin g beh avior an d p ractices w as d evelop ed alon g tw o p lan es: food actu ally eaten an d food d e-sired . Resu lts w ere classified in to th ree segm en ts: “in gestin g an d d igestin g affection”, “d eterm i-n ai-n ts of social rep resei-n tatioi-n s of eatii-n g p ractices”, ai-n d “ritu als ii-n eatii-n g p ractices”. Du e to th eir origin in a d om estic u n iverse, sym bolic asp ects associated w ith food h ave a stron g affective m a-trix. Con crete con d ition s of th e u rban en viron m en t associated w ith th e su bject’s fin an cial lim its establish a stru ctu re of valu es an d feelin gs com p atible w ith th e su bject’s p ossibilities. Th e stu d y ad d resses both th e abbreviation of food ritu als an d its im p lication s on food beh avior as w ell as featu res of th e p resen t u rban food p attern .

Key words Feed ; Feed in g Beh avior; Food Habits; Social Rep resen tation

Resumo Este trabalh o exp lora a d im en são d a com id a n o m od o d e vid a u rban o, ten d o em vista as im p licações qu e este m od o d e vid a tem n os h ábitos alim en tares e n as rep resen tações sim bóli-cas en volvid as. Utiliz am os com o referen cial teórico os con ceitos d e rep resen tação social e d e h a-bitu s p ara abord arm os a exp eriên cia alim en tar. A m etod ologia u tiliz ad a foi a an álise qu alitati-va d o d iscu rso d e 21 fu n cion ários ad m in istrativos e o estu d o d e obseralitati-vação em estabelecim en tos com erciais, com o lan ch on etes e restau ran tes n a região cen tral d e São Pau lo. O estu d o d o com -p ortam en to alim en tar foi ex-p osto em d ois -p lan os: o d os alim en tos e -p re-p arações con su m id os e o d os d esejad os. Por su a origem n o u n iverso d om ést ico, os asp ect os sim bólicos associad os à ali-m en tação têali-m u ali-m a forte ali-m atriz afetiva. As con d ições con cretas d o ali-m eio u rban o associad as aos lim ites fin an ceiros d o su jeito estabelecem u m arcabou ço d e valores e sen tim en tos com p atíveis com su as p ossibilid ad es. A abreviação d os ritu ais alim en tares e su as im p licações n o com p orta-m en t o aliorta-m en t ar são abord ad os beorta-m coorta-m o as caract eríst icas d o at u al p ad rão d e aliorta-m en t ação u rban o.

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Introdução

A a lim en ta çã o está en vo lta n o s m a is d iverso s sign ificad os, d esd e o âm b ito cu ltu ral até as ex-p eriên cias ex-p essoais. Nas ex-p ráticas alim en tares, qu e vão d os p roced im en tos relacion ad os à p re-p aração d o alim en to ao seu con su m o re-p rore-p ria-m en te d ito, a su b jetivid a d e veicu la d a in clu i a id en tid a d e cu ltu ra l, a co n d içã o so cia l, a reli-gião, a m em ória fam iliar, a ép oca, q u e p erp as-sa m p o r esta exp eriên cia d iá ria , ga ra n tia d e n ossa sob revivên cia.

Partin d o d a p rem issa d e qu e características d o m o d o d e vid a u rb a n o o rien ta m o co m p o r-ta m en to a lim en r-ta r, o o b jetivo d este tra b a lh o fo i exp lo ra r a d im en sã o d a co m id a e su a s re -p resen tações sim b ólicas n este m eio, con h ecer o qu e as p essoas com em e o qu e rep resen ta co-m er n o cen tro d a cid ad e d e São Pau lo.

Delim ita m o s co m o locu sca ra cterístico d o m eio u rb a n o, u m trech o d o cen tro d a cid a d e d e São Pau lo (en tre as Praças d o Patriarca e São Ben to, in clu in d o as ru as São Ben to, Líb ero Ba-d aró e aBa-d jacên cias) on Ba-d e realizam os ob serva-ção d e cam p o em estab elecim en tos com erciais com o lan ch on etes e restau ran tes. Ao p reten d er ab ord ar o com en sal u rb an o, d u as p ossib ilid a -d es foram cogitd as: en trevistar os q u e trab a-lh am n o cen tro d a cid ad e e os qu e p assam p elo cen tro. Op ta m o s p elo co m en sa l q u e tra b a lh a n o cen tro d a cid a d e e fa z p elo m en o s u m a gran d e refeição (alm oço) n este local. O trab a-lh o foi b asead o p rin cip alm en te em en trevistas co m 21 fu n cio n á rio s a d m in istra tivo s q u e tra b alh am n a Secretaria d a Hab itação d a Prefeitu -ra Mu n icip a l d e Sã o Pa u lo, lo ca liza d a n o Ed . Martin elli, situ ad o n o trech o d elim itad o p ara o estu d o. Do s 21 en trevista d o s 10 era m d o sexo fem in in o e 11 d o m a scu lin o. To d o s era m fu n -cion ários ad m in istrativos: 13 ocu p am o cargo d e o ficia l d a a d m in istra çã o gera l, 2 sã o a ssis-ten tes ad m in istrativos, 2 au xiliares d e p esq u i-sa , 2 en ca rrega d o s d e seto r e o s d em a is, a u xi-lia r d e escritó rio e secretá rio. Dezessete p es-soas tin h am o segu n d o grau com p leto, 1 o p ri-m eiro grau cori-m p leto e 3 tin h ari-m títu lo u n iver-sitá rio sem n u n ca terem exercid o a p ro fissã o. En tre 20 e 29 an os h avia 12 en trevistad os; en tre 30 e 39, 6; e co m m a is d e 40 a n o s, 3 p esso a s. Qu atorze en trevistad os n asceram e sem p re vi-vera m em Sã o Pa u lo, 3 era m p a u lista s e 4 vie-ra m d e o u tro s esta d o s. As en trevista s fo vie-ra m orien tad as p or u m roteiro flexível e realizad as n o h orário d e trab alh o, segu n d o a d isp on ib ili-d aili-d e ili-d o fu n cion ário. Du raram em m éili-d ia en tre u m a h ora e u m a h ora e m eia e foram gravad as. An alisam os as en trevistas p or categoria tem á-tica (com o se sen te n a cid ad e, valoração p

ositi-va o u n ega tiositi-va d e a lim en to s e lo ca is, h á b ito s alim en tares n os d ias e fin s d e sem an a, com id a d e casa, refeições feitas d u ran te o tu rn o d e trab a lh o, la n ch es, etc.) e p o r u n id a d e, co n sid e -ran d o a coerên cia d o d iscu rso d o en trevistad o. Na a n á lise d a s en trevista s, esta rem o s u sa n d o cita çõ es d o s rela to s em fu n çã o d a tem á tica a ser en focad a.

Com o referen cial teórico, u tilizam os o con -ceito d e rep resen tação social (Moscovici, 1978) e d eh abitu s (Bou rd ieu , 1983) p ara ab ord arm os a exp eriên cia alim en tar. Ap resen tam os, n o tex-to q u e se segu e, os resu ltad os d o estu d o sob re p rá tica s e co m p o rta m en to a lim en ta r u rb a n o n o cen tro d a cid ad e d e São Pau lo su b d ivid id os em três p a rtes: “in gestã o e d igestã o d o a feto”, “algu m as con d ições qu e d eterm in am as rep resen ta çõ es so cia is so b re a s p rá tica s a lim en ta -res” e “os ritu ais n as p ráticas alim en ta-res”.

Prát icas e comport ament o aliment ar urbano

O co m p o rta m en to a lim en ta r d o q u a l esta re-m os tratan d o aq u i é o relatad o p elos en trevis-ta d o s q u e a d en tra d u a s in stâ n cia s: a d o s a li-m en to s co n su li-m id o s e a d o s d eseja d o s. Nã o n o s p reo cu p o u d istin gu ir, n o s rela to s, esta s d u as in stân cias p or con sid erarm os q u e am b as fazem p arte d as rep resen tações sociais sob re a alim en tação e orien tam o com p ortam en to ali-m en tar.

Ab o rd a rem o s o a ssu n to n o s a p o ia n d o n o con ceito d e rep resen tação social, d efin id a co-m o a con stru ção co-m en tal d a realid ad e q u e p ossib ilita a com p reen são e organ ização d o m u n -d o, b em com o orien ta o com p ortam en to (Mos-covici, 1978; Jod elet, 1988). Trata-se d e com o o o b jeto so cia l é a p reen d id o, in terp reta d o e recon stitu íd o. Os elem en tos d a realid ad e, os recon -ceitos, as teorias e as p ráticas são su b m etid os a u m a recon stitu ição a p artir d e in form ações co-lh id as e d a b agagem h istórica (social e p essoal) d o su jeito, p erm itin d o, d esta form a, qu e se tor-n em com p reetor-n síveis e ú teis. Nesse p rocesso, as rep resen ta ções socia is torn a m u m ob jeto sig-n ificasig-n te, isig-n trod u zisig-n d o-o sig-n u m esp aço com u m , d igerin d o o d e fo rm a a p erm itir su a co m -p reen são e su a in cor-p oração com o recu rso -p e-cu liar ao su jeito.

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n am com o d isp osições estru tu rad as e estru tu -ran tes, são fortem en te m arcad os p elas p rim ei-ra s exp eriên cia s, a s q u e o co rrem n o in terio r d as m an ifestações fam iliares. Essas estru tu ras d e o rigem irã o co n stitu ir o p rin cíp io d a p er-cep ção e d a ap reciação d e tod a a vid a u lterior. O gosto, os con flitos, as p reocu p ações, as lições d e m o ra l, en tre o u tro s, m a n ifesta rseã o se -gu n d o tais exp eriên cias con stitu in tes d o h abi-tu s. Ele fu n cion a com o m a triz d e p ercep ções, d e ap reciações e d e ações e é p rin cíp io gerad or e estru tu ra d o r d a s p rá tica s e d a s rep resen ta -ções. Ao p alad ar (ap reciad o) in corp oram -se re-p resen tações sociais sob re alim en tação form ad as, p or exem p lo, a p artir ad e in form ações cien tífica s veicu la d a s p ela m íd ia . Ta is rep resen ta -ções p od erã o, n o d iscu rso, se sob rep or a o p a-lad ar. O com p lexo d e elem en tos con stitu in tes d a s rep resen ta çõ es so b re a lim en ta çã o e q u e o rien ta m o co m p o rta m en to a lim en ta r n ã o é regid o, n ecessa ria m en te, p ela co erên cia , o u m elh or, ela existe circu n stan cialm en te, im p os-ta p or u m a d ad a situ ação. Um m esm o en trevis-tad o, p or exem p lo, q u an d o está se referin d o à co m id a d e su a ca sa , co lo ca -a co m o sen d o a m elh or e a p referid a. Nu m ou tro m om en to, ao falar d e su a exp eriên cia com as refeições feitas fora d e casa, o en trevistad o d iz q u e com e m e-lh or fora d e casa. Tais elem en tos, con stitu in tes d a s rep resen ta çõ es so cia is, co n vivem em estru tu ras flexíveis, ad ap tan d ose às circu n stân -cia s, a o go sto, a o s va lo res, etc. Esta n d o a s re-p resen tações sociais n o en trem eio d o d iscu rso e d a p rá tica , o rien ta n d o -o s e sen d o p o r eles o rien ta d a s, a cred ita m o s q u e ta is rep resen ta -çõ es m u ta n tes, p rin cip a lm en te n o p la n o d o d iscu rso, sã o m a is refra tá ria s a o p la n o d a ex-p eriên cia.

As rep resen ta çõ es so cia is so b re a lim en ta ção p od em estar sen d o orien tad as p or d iferen -tes m atrizes. Por exem p lo, p elo h ed on ism o ou p ela d iscip lin a , gu ia n d o -se resp ectiva m en te p oraqu ilo qu e se qu er com er, ou seja, p ela b u s-ca d a satisfação d o p alad ar, d o p razer p elo qu e será co n su m id o, o u , a o co n trá rio, p o r aqu ilo qu e se d eve com er,q u an d o a n orm a é o p ad rão id ea liza d o r p red o m in a n te d essa s rep resen ta -ções sociais.

Exem p lifica m o s co m d u a s en trevista s q u e servem com o referên cias p olares e an tagôn icas d o s d o is m o d elo s: a q u ele q u e em su a s rep resen tações d estaca o “p razer” e aq u ele q u e en -fatiza a “n orm a” n a alim en tação.

”Se eu p recisar, eu p eço d in h eiro p ro agiota, m as eu m e alim en to bem . “...”Eu n ão m e p reo-cu po se vou com er m u ita m assa e vou en gordar, ou vou com er m u ita gord u ra e vou ter coleste-rol. Eu n ão m e preocu po. Eu ach o o segu in te:

vo-cê tá aí, u m d ia vovo-cê vai ter qu e m orrer. O p es-soal fala: o cigarro m ata. Eu con h eço m u ita gen te qu e tá com 90 an os d e id ad e e fu m an d o, n ão m orreu ain da. Vai do organ ism o da pessoa, da saú de da pessoa. Qu an to m ais você se cu ida, pior é.”

”Sou vegetarian o. Ten h o u m sistem a d e co-m er. Às vezes até co-m e dá foco-m e, co-m as eu ... porqu e o organ ism o vai se adaptan do. En tão eu ach o qu e você, p ara o fu n cion am en to regu lar d o teu or-gan ism o, você tem qu e ter equ ilíbrio, u m a discp lin a alim en tar. (...) Se você tiver u m discp ou qu i-n h o d e coi-n sciêi-n cia d e alim ei-n tação, você vai p rocu rar se adequ ar a esse am bien te da m elh or form a possível.(...) É lógico, a m áqu in a vai des-gastan do, a m áqu in a n ão pára. Volta e m eia vo-cê tem qu e levar pro m ecân ico pra fazer u m a revisão geral. Eu ach o qu e você en tão tem qu e lu -brificar a su a m áqu in a da m elh or m an eira pos-sível, através de alim en tos de qu alidade.”

Atra vés d e a lgu m a s fra ses q u e tra zem , em essên cia , a rela çã o d o su jeito co m a co m id a , origin á ria d a exp eriên cia p regressa , p u d em os id en tifica r a lgu n s d iscu rso s regid o s p o r d ife ren tes vín cu los com a alim en tação. Por exem -p lo:

“Com o d e tu d o”. Esta m a triz d e orien ta çã o d o vín cu lo co m a co m id a , tem co m o ca ra cteríst ica u m a re la çã o a u st e ra a d q u ir id a n a in -fân cia:

”Desd e m en in o eu sem p re fu i criad o assim , tip o você com e o qu e tem n a m esa. Estu d ei em escola in tern a, n é, en tão você tin h a qu e com er d e tu d o qu e as tias d avam , você en fiava goela abaixo.”

Neste ou tro exem p lo, o “com er de tu do” d i-feren cia -se p ela va lo riza çã o d a va ried a d e d e com id a d e casa, com o p od e ser ob servad o n es-ta fala:

”N ão ligo p ra rou p a, sap ato, p ra jóia, p ra n ada; agora, pra alim en tação... isso é u m a coisa qu e m eu p ai m e en sin ou : em casa n u n ca faltou n ada, eu sem pre com i m u ito bem . Podia n ão ter rou p a ou sap ato bon ito, m as sem p re m e ali-m en tei ali-m u ito beali-m . N ão p osso falar: isso eu n ão com i ou daqu ilo eu n ão com i, n ão tem .”

H á ta m b ém o u tro s tip o s d e rela çã o, co m o p od em os con statar em com en tários com o:

“...sem p re bu sco u m a d iscip lin a alim en tar” ou “n ão sou de com er m u ito m esm o.”

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Ingestão e digestão do afeto

A con d ição h u m an a, p ela au sên cia d o ap arato in stin tivo qu e lh e d ê au ton om ia, é a d a d ep en -d ên cia -d e seu s sem elh a n tes, q u e in a u gu ra , d esd e o n a scim en to, a in serçã o n u m m u n d o cu ltu ralm en te con stitu íd o (Steffen , 1988). Não é p ossível situ ar os lim ites d a n atu reza e d a cu l-tu ra já n a am am en tação, esse ato b iológico p or excelên cia. Com n ascim en to in au gu ram -se, e a a m a m en ta çã o co n sa gra , sim u lta n ea m en te a existên cia física, a p síqu ica e a cu ltu ral.

Origin á ria n o u n ive rso d o m é stico, a a li-m e n ta çã o, e n q u a n to p rá tica , e stá e n vo lta n o con vívio fam iliar e social, vin cu lad a m ais esp e-cificam en te à figu ra d a m ãe e d a m u lh er e, p or-tan to, atrelad a a u m a referên cia afetiva. Con fgu rad a n o esp aço d om éstico e sob resp on sab i-lid ad e d a m u lh er, a alim en tação era com p arti-lh ad a essen cialm en te n a in tim id ad e d o lar. Ho-je, m esm o a m u lh er q u e tra b a lh a fo ra d e ca sa n ão se fu rta d a tarefa e d a resp on sab ilid ad e d e ser a p rin cip al p roved ora d a alim en tação d a fa-m ília , co fa-m a tivid a d es q u e vã o d esd e a d efin i-ção d o card áp io, in clu in d o a resp on sab ilid ad e d e ad eq u ar os recu rsos fin an ceiros às n ecessi-d aecessi-d es ecessi-d e alim en tos, a realização ecessi-d e com p ras e p rep aração d as refeições (Grácia-Arn aiz, 1996). O tem p o n a cid a d e p rovo co u u m a reo rga -n iza çã o d a ro ti-n a i-n ter-n a d a fa m ília , m esm o q u a n d o a m u lh er n ã o se en con tra in serid a n o m ercad o d e trab alh o e d ed ica seu tem p o exclu -sivam en te às ativid ad es d om ésticas. Com er em casa, n os gran d es cen tros u rb an os, n ão d ep en -d e ap en as -d e ter algu ém q u e se ocu p e -d o p re-p a ro d a co m id a . A d istâ n cia en tre o lo ca l d e tra b a lh o e a ca sa , a s d ificu ld a d es d e d eslo ca -m en to i-m p ostas p elo trân sito e o p róp rio rit-m o d a cid ad e, d ificu ltam a execu ção d as refeições n o d om icílio.

Lo n ge d o red u to fa m ilia r, co m o o b ser va -m os n o cen tro d a cid ad e d e São Pau lo, esse asp ecto a fetivo a co m asp a n h a reasp resen ta çõ es so -cia is liga d a s à co m id a q u e se m a n ifesta m d e m a n eira s d iversa s. Atra vés d a in tim id a d e d o ato d e com er, d a n ecessid ad e d a com p an h ia d e a m igo s, p a ren tes o u d o co lega m a is p ró xim o, d a escolh a d o resta u ra n te, n orm a lm en te feita p o r in d ica çã o d e a m igo s, d a va lo riza çã o d e a m b ien tes a co n ch ega n tes, d a freq ü ên cia a o s m esm os lu gares, qu er seja p ela com id a ou p ela rela çã o a m istosa com os ga rçon s d o loca l, ve-m os ve-m an ifestações q u e d elatave-m a b u sca con s-tan te d a “casa” n a “ru a”.

”A m aioria d os lu gares qu e eu vou é p or in dicação do pessoal daqu i de den tro m esm o. En -tão fu i com er u m a vez, d u as, três, d aí com eço a ir direto.”

”Nove an os qu e eu trabalh ei aí, e n ove an os eu fu i h abitu ado a com er lá. Porqu e lá é u m lu -gar qu e a gen te sabe qu e é lim p in h o, qu e o p es-soal lá faz boa com id a, e eu con h eço a p essoa qu e trabalh a n o balcão... Eu com ecei a ir porqu e o pessoal daqu i com eçou a ir lá, dizen do qu e era m u ito bom .”

”Lá você tem aqu eles restau ran tezin h os, qu e os d on os são p ortu gu eses, são am igos d o m eu p ai. Você en tra assim , o cara te traz u m a sop a, d ep ois tem tam bém o p rato d o d ia, m as o p es-soal faz n a h ora, traz as porções até você...”

En ten d erm o s a s q u estõ es co n seq ü en tes à tran sferên cia d essa rotin a alim en tar p ara ou tro esp aço q u e n ão o d om éstico, im p lica con sid e-rar ou tros valores associad os à alim en tação em refeitó rio s d e in d ú stria s e esco la s, resta u ra n -tes, n o p róp rio local d e trab alh o, n a ru a, etc.

DaMatta (1985) u tiliza a “casa” e a “ru a” co-m o categorias sociológicas p ara coco-m p reen d er-m os a socied ad e b rasileira en ten d id a coer-m o u er-m sistem a d e ação em b eb id o em valores e id éias. A o p o siçã o en tre “ca sa” e “ru a” n ã o d eve ser com p reen d id a a p artir d e esp aços rígid os, m as p rin cip alm en te com o en tid ad es m orais, com o esfera s d e a çã o so cia l, ca p a zes d e d esp erta r em oções, leis, reações, etc. Nos cód igos d a “ca-sa”, a h osp italid ad e e a fam iliarid ad e tip ificam u m a su p o sta h a rm o n ia d o la r. O có d igo d a “ru a” é regid o p o r leis e m eca n ism o s im p es-soais (o m od o d e p rod u ção, a lu ta d e classes, a su bversão d a ord em , a lógica d o sistem a fin an -ceiro ca p ita lista , etc.). Dessa m a n eira , n ã o se p o d e tra n sfo rm a r im p u n em en te a “ca sa” n a “ru a” e vice-versa . H á regra s e ritu a is im p o r-tan tes p ara isso.

As m a n ifesta ções d e a fetivid a d e q u e com -p õem as re-p resen tações sociais d a alim en tação n o m eio u rb an o tran sferem p ara o con vívio d a “ru a” elem en to s p red o m in a n tes d o co n vívio d o m éstico. As p esso a s gera lm en te p referem sair p ara com er acom p an hadas p or aqueles que têm m aior ligação afetiva, valorizam a com id a caseira e criam vín cu los n os lu gares on d e h ab i-tu alm en te fazem su as refeições. O vín cu lo afe-tivo tam b ém é con solid ad o n o ato alim en tar.

”Trabalh ar até se trabalh a com qu em a gen te n ão gosta, m as alm oçar n ão. Qu an do a com -p an h ia n ão agrad a, o -p a-p o fica com -p licad o, a com ida faz m al. ...”

”A gen te sai, sem pre vai pra ir con versar, u m p ou qu in h o, n ão im p orta o qu e a gen te vai co-m er.”

”N ós com em os aqu i. Com o a gen te trabalh a aqu i, em equ ipe, a gen te tam bém com e aqu i em equ ipe, u m a espera a ou tra.”

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”Norm alm en te alm oço com o m eu m arid o, se o m eu m arid o n ão tá, eu alm oço soz in h a. Norm alm en te n o serviço, o pessoal tem a pessoa certa para alm oçar”.

”Meu pai trabalh a aqu i n o cen tro, de vez em qu an d o n ós alm oçam os ju n tos, u m as d u as ou três vezes por sem an a.”

O restau ran te é u m recin to p ú b lico e o d es-con forto d e com er sozin h o n este local é m aior d o qu e n o am b ien te d e trab alh o, u su alm en te o refeitório, seja p or se ter m ais p ossib ilid ad es d e en co n tra r u m co n h ecid o, seja p o r sen tir-se m ais à von tad e.

Nu m a ten tativa d e m ap ear as m elh ores re-giões p ara com er em São Pau lo, u m d os en trevistad os u tilizou com o referên cia a relação en -tre su a casa e o cen tro:

”Pra com er m elh or, você p recisa se afastar daqu i. Se afastar até ch egar n a su a casa. Qu an -to m ais você se afastar do cen tro você vai com er m elh or.”

Este com en tário m ostra com o o p lan o afe-tivo orien ta a escala d e p referên cia, m an ifesta-d a n a op osição en tre “casa” e “ru a”.

Um caráter d e in tim id ad e circu n d a a com i-d a e o m oi-d o i-d e com er, revelai-d o n a p reocu p ação e n o con stran gim en to q u e as p essoas sen -tem a o esta rem sen d o ob serva d a s q u a n d o es-tã o co m en d o. A co m id a d ela ta a co n d içã o so-cial. Qu an d o as p essoas fazem a refeição n o lo-cal d e trab alh o, sem p re escolh em u m can to re-serva d o, lon ge d os olh os d e q u em p ossa ver o qu e estão com en d o:

”Se for com er aqu i vão ficar olh an d o o qu e estou com en d o, e o p ovo sem p re com en ta . Eu m esm o já vi gen te qu e com e só arroz , feijão e ovo.”

”Com er n o local de trabalh o, só qu an do n ão tem jeito, (...) você tem qu e com er rap id in h o, n u m can to escon d id o, (...) as p essoas ficam olh an do.”

Na va lo riza çã o d a co m id a d o tip o ca seiro, p ersegu e-se a “casa”, lu gar id ealizad o p ara ali-m en ta çã o. A co ali-m id a d o d ia -a -d ia e a co ali-m id a d o lazer, d os fin ais d e sem an a, tran scorrem em esp aços d istin tos e m arcam d iferen ças sim b ó-licas im p ortan tes. A com id a d a “ru a” n u n ca p o-d erá su b stitu ir a com io-d a o-d e “casa” e os en volvi-m en tos qu e d ela d ecorrevolvi-m .

Os critério s u tiliza d o s p a ra d iscern ir a co -m id a “caseira”são aq u eles q u e id en tificam -se com o esp aço d om iciliar, ou seja: “u m lu gar pe-qu en o”, “qu e n ão serve gran d e qu an tid ad e d e com id a”, “on d e a com id a, p or ter m ais gosto, é m ais forte”. Em co n tra p a rtid a , a co m id a tid a com o “de escala in du strial”é qu alificad a com o ru im p or rep resen tar o con trário d a d om iciliar: “por ter cara de com ida em gran de escala”; p ela

d escon fian ça e d escon h ecim en to d o p rocesso d e ela b o ra çã o d a co m id a , co m o d em o n stra m a s a cu sa çõ es d e q u e a co m id a d esses lu ga res tem , segu n d o algu n s en trevistad os,“salitre”e, segu n d o o u tro s, “con servan tes”, a m b o s tid o s com o p reju d iciais à saú d e. Um d os restau ran -tes n ã o q u a lifica d o s co m o “caseiro”fo i co n si-d era si-d o b o m p o r ser “lim p o”, “com carsi-d áp io equ ilibrad o p or n u tricion ista”,“com p ratos fi-xos”, m a s ru im “p or servir m u itas refeições”e ser tid o com o restau ran te d e“esqu em a em p re-sarial”.

As características d e d istin ção en tre o qu e é “caseiro”e o q u e é “in d u strial”estão organ iza-d as p rin cip alm en te p elo argu m en to sim b ólico, com o ob servam os n os relatos. A com id a “casei-ra”p erten ce a o d o m ín io fa m ilia r, o a sp ecto “in d u strial”rep resen ta o im p esso a l e d esco -n h ecid o.

A d ive rsid a d e d e o p çõ e s e m t e r m o s a li-m en ta res, q u e a s p essoa s d izeli-m en con tra r n o cen tro d a cid ad e, n ão satisfaz. Sem p re em d e-trim en to d a com id a d a “ru a”, a com id a d e “ca-sa” é va lo riza d a p o r se r “lim p a”,“m elh or d e tem p ero”, “p or saber qu em faz”, “p orqu e n ão en joa”, etc. Mesm o co n sid era n d o a va ried a d e d e o p çõ e s, a co m id a d o ce n tro é tid a , m u ita s vezes, com o “rep etitiva”, “m on óton a”e“en joa-da.”

A com id a d e casa é id en tificad a com ad jetivo s a sso cia d o s a o â m b ito a fetijetivo e p ela segu -ran ça d e con h ecer su a origem .

”En tão, qu an do vou pra casa da m in h a m ãe, qu an d o eu volto p ra cá...qu an d o eu fico p or lá assim , d e fin al d e sem an a, eu volto p ra cá m ais forte, m ais bon ito.”

”Jan to à n oite em casa, jan to bem , com id i-n h a caprich ada da m am a.”

”Em casa, você é m ais con fian te porqu e você sabe o qu e tem n a com id a”, “em casa é sem p re m ais segu ran ça p ra com er”, “você sabe qu em faz, com o faz...”, “sabe qu e a com ida é bem m ais tratada”,“e a gen te sabe de on de com p ra, qu em fez e on d e foi feito”,“o sabor, a h igien e, a gen te sabe com o é feita a com ida em casa”.

Em co n tra p a rtid a , co m er fo ra d e ca sa tem con ota ções d istin ta s q u a n d o se tra ta d os d ia s d e trab alh o e fin s d e sem an a. Neste ú ltim o caso, ou n u m d ia d e sem an a esp ecial, p or exem -p lo, “com er fora”en qu ad ra-se em ou tra catego-ria , a d o la zer. Aten u a m -se a q u i o s in co n ve-n ieve-n tes exp ostos com rela çã o a com er fora d e casa n os d ias d e sem an a.

(6)

” Fin al d e sem an a, qu an d o a gen te sai p ra com er com a m aioria d o p essoal, a gen te vai n u m rodízio, com e carn e e salada.”

”O orçam en to n ão d á p ra com er fora, n ão p erm ite m esm o, d o con trário, von tad e a gen te tem , n é, m as é difícil.”

”No fin al de sem an a, você tem m u ita opção, você n ão é obrigado a com er n u m determ in ado lu gar. Você vai on d e ach a legal, o qu e é gostoso com er, en tão sem p re você escolh e o m elh or lu -gar, pra ir jan tar, n é? E qu e seja n u m preço aces-sível tam bém .”

A co m id a feita fo ra d e ca sa n o s d ia s d e se-m a n a , d u ra n te o p erío d o d e tra b a lh o, n ã o é b oa p orq u e “a gen te n ão sabe com o eles p rep a-ram , a gen te n ão vê, m as qu e tem diferen ça tem , p orqu e fazem em qu an tidade”, “n ão tem m u ita opção, porqu e a com ida é cara e n ão é igu al à da casa da gen te”,“você n ão sabe o qu e está com en -d o, n ão sabe com o é feito, geralm en te o p essoal n ão tem m u ita h igien e”, “dep en de da sorte e da con fian ça n o lu gar”, ou p orqu e“n ão sabe o qu e vai en con trar n o p rato”,“a com id a a gen te n ão vê, n ão sabe qu an to tem p o fica p arad a, on -d e,...”, “você vê a -d iferen ça -d e u m a p essoa qu e trabalh a n o cen tro e com e n o cen tro, para aqu e-las qu e com em em casa”. As d esva n ta gen s ap on tad as em com er n o cen tro n ão foram su s-ten tad as d u ran te tod a a en trevista. A com p aração com a com id a d e casa acen tu ou as d evan -tagen s d e com er n a “ru a”.

Co m o n o ta m o s n a s ca ra cteriza çõ es d a s p rá tica s a lim en ta res p ertin en tes a d iferen tes esp aços, h á d ois tip os d e relação en tre com id a d e “ca sa” e co m id a d e “ru a”: u m a rela çã o d e op osição e u m a d e in d ep en d ên cia em qu e p re-d o m in a m sign ifica n tes a u tô n o m o s re-d e ca re-d a in stân cia.

Os exem p lo s q u e se segu em sã o d a q u eles q u e d e sfr u t a m d a a lim e n t a çã o fe it a fo ra d e casa:

”Bom , com o sou u m a p essoa soz in h a, eu adoro com er fora, porqu e u m a das coisas qu e eu d etesto é cozin h ar. Pra m im é u m a coisa m u ito p rática com er n o cen tro, eu com o, eu gosto d e u m a com id a assim bem sim p les, e tem vários cardápios, saladas e ou tras coisas.”

”Carn e p ra m im n ão p od e faltar, sabe? Por isso qu e eu te falo, é m elh or com er aqu i d o qu e em casa. Aqu i tod o d ia eu com o carn e ou fran -go, ou de vaca ou de boi.”...”gosto daqu i sim , gos-to dos lu gares, da com ida, eu gosgos-to.”

”N ão, n ão é diferen te com er em casa. Eu n ão com o n ad a assim d e ex traord in ário em casa. Porqu e assim , se você com e bem n a ru a, ch ega em casa você n ão tem o qu e com er, n ão tem gra-ça n en h u m a. En tão você tem qu e se virar, com er aqu ilo qu e dá n a tu a casa.”

”Se você n ão gosta de algu m a coisa, tem u m m on te d e op ção. En tão aqu i eu con sigo faz er u m a refeição com o eu faço n a m in h a casa.”

Qu an d o a p rática alim en tar d o âm b ito d o-m éstico é colocad a coo-m o referên cia à ou tra, e n o ca so d a a lim en ta çã o isto é h a b itu a l, é res-sa lta d o o ca rá ter d e o p o siçã o d esses esp a ço s. Mas qu an d o essas in stân cias se d eslocam p ara situ a çõ es p a ra lela s, isto é, co m a u to n o m ia d e valores e com referên cias n ítid as d iferen ciad as, gera -se u m a o u tra m a triz d e rep resen ta çã o, a q u ela p ecu lia r a ca d a u m d esses esp a ço s. É p ossível n otarm os com o, su tilm en te, em algu -m as ocasiões, q u an d o esses d o-m ín ios são tra-ta d o s co m a u to n o m ia , a ten u a m -se a s p o la ri-d a ri-d es. Qu a n ri-d o se tra ta ri-d e u m a refeiçã o feita fora d e casa com o lazer, p or exem p lo, os critérios d e qu alificação n ão são os m esm os qu e co m er n a “ru a”; q u a n d o d esva n ta gen s d e se co m er em ca sa sã o a p o n ta d a s resga ta m se ele -m en to s p o sitivo s a sso cia d o s a co -m er fo ra d o d o m icílio, m esm o q u a n d o, a n terio rm en te, a com id a d e “casa” ten h a sid o en altecid a.

Estas con statações in d icam u m a coerên cia vu ln erável n os d iscu rsos, u m a in flu ên cia d a rela çã o co m o esp a ço (“ca sa” e “ru a”) n a exp e -riên cia alim en tar com forte ten d ên cia d e valo-rização d a exp eriên cia d om éstica e m u itos cri-tério s su b jetivo s n a d eterm in a çã o d a rela çã o d o su jeito co m a co m id a . Co m o tem p o, a ex-p eriên cia alim en tar sen d o con solid ad a fora d o esp aço d om éstico, talvez se con stru a u m a rela-çã o m a is p o sitiva co m a a lim en ta rela-çã o fo ra d e ca sa . Esta é u m a p o ssível h ip ó tese a esse res-p eito.

Algumas condições que det erminam as represent ações sociais das prát icas aliment ares

(7)

A co m id a co n su m id a em “ca sa” e n a “ru a” reflete, d iferen cia lm en te, a s con d ições d isp o-n íveis. Em casa a variação e a escolh a d o qu e se vai com er d ep en d e d a m atéria-p rim a d isp on í-vel e d as op ções d e p rep aro d eterm in ad as p elo s recu rso s fin a n ceiro s e in flu ên cia s só cio -cu ltu ra is. Na cid a d e escolh e-se en tre o d isp o-n ível q u e está p ro o-n to p a ra ser co o-n su m id o. A varied ad e é d eterm in ad a p elas altern ativas d e card áp ios d efin id os p or estab elecim en to. A escolh a é p osterior à p rep aração. Em casa, as op -çõ es d ep en d em d a m a tér ia p rim a e d o s h á b i-tos alim en tares d a fam ília. A com id a d e “casa” é u m reflexo m ais fiel d a con d ição social, eco-n ôm ica e cu ltu ral.

A m arm ita p od eria ser u m recu rso valoriza-d o p or p erm itir qu e a com ivaloriza-d a valoriza-d e casa p ossa ser con su m id a n o local d e trab alh o, m as é u m a al-tern a tiva q u e tra d u z, p o r d iferen tes m o tivo s, u m sin al d e p ob reza.

”Qu er dizer, o m áxim o qu e você alm oça fora é p elo m en os d ez d ias, o restan te d o m ês é obri-gado a trazer de casa.”

”É, qu an d o acaba o vale refeição, eu trago m arm ita.”

”Optei por m arm ita. Tem ou tras opções, m as são pou cas. Ou você com e n o vegetarian o, qu e é m ais variad o, m as tam bém n ão tem carn e, ou você com e sem p re os m esm os. É tam bém p elo din h eiro, porqu e a com ida aqu i sobe dem ais.”

”Bom , p ra m im , d etesto cozin h ar e carregar m arm ita, n ão ten h o qu e reclam ar, se reclam ar, vou reclam ar d em ais.(...) Eu trabalh ei m u ito tem po carregan do m arm ita, eu ach o isso h orrí-vel, se você qu iser com er com id a fresca tem qu e levan tar ced o, tip o 5 h oras d a m an h ã.(...) Ho-m eHo-m n en h u Ho-m gosta de carregar Ho-m arHo-m ita, os ca-rin h as vão tirar u m sarro d a m in h a cara, qu er d izer, é coisa d e h om em , d e colega. En tão o qu e ele faz, ele com e lan ch e porqu e ele gan h a pou co, ele n ão tem con dições pra se alim en tar bem .”

O card áp io fixo b aliza n os d ois sen tid os: n a esco lh a d o p ra to d o d ia o u p a ra o p ta r p o r u m ou tro p rato.

”Qu arta-feira eu sei qu e tem feijoada, en tão eu p ego e p rocu ro ou tro p rato, qu alqu er coisa, u m ch u ch u , qu alqu er ou tra coisa qu e su bstitu a aqu ilo. Tem m acarrão n a m an teiga, o arroz, u m tipo de arroz com legu m es ...”

”Só n a qu in ta-feira, só levo em con sideração a qu in ta m esm o, qu e é m assa”.

”Você sabe qu e tem u m card áp io e qu e tem u m ou tro tip o d e alim en to, além d o p rato d o dia. O prato do dia é geralm en te em todo restau -ran te, m as o p essoal tem sem p re u m p rato dife-ren te, en tão a gen te vai procu ran do.”

”Geralm en te é o p rato do dia, e qu arta-feira tem qu e com er feijoada.”

”Porqu e p rato do dia, geralm en te é m ais rá-p id o, você ch ega, n ão é sem rá-p re, você d em ora d e cin co a dez m in u tos pra con segu ir u m lu gar, aí, se você p ed e u m p rato qu e n ão é o d o d ia, logi-cam en te vai ter qu e esperar u m pou co m ais.”

A va ried a d e d e o p çõ es d e resta u ra n tes, d e d iferen tes tip o s d e co m id a e d e sa b o res fo i ap on tad a com o van tagem m esm o en tre aq u e-les qu e freqü en tam os lu gares fixos p ara com er. Se, p or u m lad o, a varied ad e d e op ções é valo-rizad a p ositivam en te, o tem p o e o p reço d as refeições são vistos com o u m p rob lem a p ela in -su ficiên cia . O co m en sa l sa b e q u e q u a lid a d e e d iversid a d e d e a lim en to s estã o rela cio n a d o s com o p reço e, p ortan to, a ad ap tação d eve ser d o p alad ar. O lim ite d o orçam en to está in trin -seca m en te a sso cia d o a o d esco n fo r to co m a s refeições feitas fora d e casa.

”Tem dias qu e eu com o só fru tas p ra n ão ter qu e com er fora. Tem d ia qu e eu com o p ão com presu n to pra n ão ter qu e com er aqu i. É m ais fá-cil, eu ach o m ais gostoso, m ais barato tam bém .” O “ticket” ou vale refeição é u m im p ortan te d eterm in an te d a escolh a alim en tar. Na p resen -ça d a in flação, p rogressivam en te vai red u zin d o seu p od er d e com p ra. Há p eríod os em q u e ele n ã o co b re a s d esp esa s d e u m a refeiçã o sen d o n ecessárias altern ativas p ara alim en tarse d en -tro d o orçam en to. Com freq ü ên cia é o p alad ar q u em ced e a o p reço. Op çõ es co m o sa lga d i-n h os, sai-n d u ích es são freq ü ei-n tes i-n esses p erío-d os.

”Um a refeição sad ia h oje, d ecen te, está cu s-tan d o em m éd ia CR$ 30.000,00. O n osso vale, aqu i, p or exem p lo, é CR$ 16.800,00, qu er d izer, você tem qu e com p letar se qu iser se alim en tar bem . Ou se n ão, você passa à base de lan ch e, qu e está em m éd ia d e CR$ 25.000,00 e até CR$ 30.000,00. A m en os qu e você com a u m a esfih a e u m refrigeran te, com o n a m aioria d as vezes eu faço, pra qu e o vale possa dar o m ês in teiro.”

”É, qu an d o acaba o vale refeição, eu trago m arm ita.”

O vale p od e ser ad equ ad o p ara qu em com e p ou co e p od e recorrer à com id a p or q u ilogra-m a , o n d e p a ga -se o va lo r co rresp o n d en te à q u an tid ad e d e com id a q u e tem n o p rato. Para aq u eles q u e trazem m arm ita, o vale é acresci-d o a o o rça m en to acresci-d o m éstico co m o m o eacresci-d a em algu n s su p erm ercad os.

”Não fica tão caro, o vale da gen te pra m im é su ficien te e até sobra. En tão, eu com o aqu i p or cau sa disso.”

(8)

-d eu . O teu salário já é p ou co, o vale refeição é p ou co, tu d o é p ou co. Falta estru tu ra em tu d o, desde den tro de casa até n o seu em prego, n a tu a fam ília, filh o, tu do.”

O s rit uais nas prát icas aliment ares

Em fu n ção d o tem p o, ab reviaram -se os ritu ais d estin ad os à alim en tação, d eslocan d o-os p ara am b ien tes com p atíveis com ou tras ativid ad es. Estu dos sobre con su m o alim en tar baseiam -se em m étod os in form ativos d e d escrição p or-m en oriza d a d a a lior-m en ta çã o con su or-m id a . Co or-m os n ossos en trevistad os, n osso ob jetivo n ão era ter p recisã o d a in gestã o a lim en ta r, m o tivo d a op ção p ela m etod ologia qu alitativa. Este crité-rio m eto d o ló gico p erm itiu tecerm o s a lgu m a s co n sid era çõ es so b re o co m p o rta m en to a li-m en ta r e, d essa fo rli-m a , co n trib u ir co li-m o b ser-vações sob re p ossíveis p rob lem as n a ob ten ção d e in fo rm a çõ es q u a n d o se u tiliza m m éto d o s q u a n tita tivo s cen tra liza d o s n o co n su m o a lm en tar. Qu an d o as p essoas referelm -se à colm i-d a é co m u m ela s en fo ca rem a s gra n i-d es refei-çõ es, p rin cip a lm en te a lm o ço e ja n ta r. Ta lvez alim en tos con su m id os d e m an eira d isp ersa, n o d ecorrer d o d ia e em locais d estin ad os a ou tras ativid ad es, d escon textu alizad os, p ela au sên cia d e u m ritu a l p ecu lia r à q u ela refeiçã o, so fra m u m registro n a m em ória m ais tên u e e orien ta-d o p o r u m o u tro ta-d o m ín io. Reco rren ta-d o a u m a im agem ilu strativa, é com o se tivéssem os esca-n iesca-n h os categorizad os p or tem as. Por exem p lo, o lazer com p orta a com id a, m as a m esm a está co n tid a n esta o u tra tem á tica . Assim , a o p er-gu n ta rm o s so b re a lim en ta çã o, rem etem o s o su jeito u su alm en te àq u elas refeições m ais for-m alizad as. Ufor-m salgad in h o n o d ecorrer d o d ia, u m b iscoito com cafezin h o, u m ch ocolate, u m refrigera n te, u m a cer veja co m p etisco s, n ã o são classificad os d a m esm a m an eira, são gu iad o s p o r o u tra s iad iretrizes; en co n tra m se, en -q u a n to a lim en to s, vo la tiliza d o s em d iverso s segm en tos com d iferen tes sign ificad os. Nossas im p ressões n os levam a su p or qu e com er, n es-sas ocasiões, n ão tem o m esm o rigor n o regis-tro d o con su m o alim en tar n a m em ória.

As lan ch on etes, p rin cip alm en te os fast food esva zia ra m su b sta n cia lm en te o s ritu a is a sso -cia d o s à a lim en ta çã o. A p ró p ria va ried a d e d e u ten sílio s d im in u iu em fu n çã o d a s p rep a ra çõ es. Ba sta n te sim p lifica d a s p ela textu ra , ta -m an h o, for-m a, as p rep arações -m an tê-m a -m es-m a con cen tração d e n u trien tes e gasta-se es-m e-n os tem p o p ara su a ie-n gestão. Pelas em b alagee-n s d esca rtá veis, é co m fa cilid a d e q u e u m a refei-çã o se d eslo ca p a ra o u tro s lo ca is, p a ra u m a

m esa d e trab alh o, ou p ara a fren te d e u m a tele-visã o. Isto p o d e ter leva d o a u m en fra q u eci-m en to d a co n sciên cia d o a to d e a lieci-m en ta r-se em fu n ção d essas facilid ad es p ara d isp ersar as refeiçõ es. Qu a n d o reco rre-se a m éto d o s d e co n su m o a lim en ta r q u e u tiliza m co m o ú n ica referên cia a a lim en ta çã o, o u tra s in fo rm a çõ es so b re a co m id a p o d erã o fica r esca m o tea d a s p or estarem d isp ersas sob ou tros rótu los d e re-gistro n a m em ória.

Em term o s d e co m p o rta m en to a lim en ta r, en fraq u ecen d o seu s ritu ais, é p ossível facilitar m u d an ças n os p ad rões alim en tares p elo esva-ziam en to d as rotin as m ais estru tu rad as d e ali-m en ta çã o. A d esestru tu ra çã o d a a liali-m en ta çã o tem sid o m en cion ad a com o u m im p ortan te fa-tor d e m u d an ça n a alim en tação (Fisch ler, 1995; Men n ell et al., 1994; Dem u th , 1988).

Prin cip alm en te n os d ias d e sem an a a tele -visão cen traliza a aten ção d u ran te o jan tar. Em casa é a p rogram ação qu em faz com p an h ia aos com en sais. Ob servam os n os relatos a segu ir as características d a rotin a d as refeições feitas em casa, p rin cip alm en te n os d ias d e sem an a.

”Olh a, n orm alm en te a gen te n em sen ta. Por-qu e com o som os só eu e ela, n ós fazem os o prato e é a h ora d a n ovela, sabe, e en tão n ós vam os sen tar. E, p rin cip alm en te, lá em casa é ap arta-m en to, é pequ en o, n é, en tão eu saio da cozin h a, já estou n a sala. Pego o p ratin h o, sen ta lá e fica ven do n ovela e jan tan do. Todo dia é isso.”

”Sabe, u m p ega o p rato e vai p ra televisão, ou tro fica lá m esm o en ten d eu . N ão tem aqu ela m esa posta, assim n ão. Sabe, vai n o fogão, cada u m se serve. A n ão ser qu an do vai algu ém , algu -m a visita, aí já é d iferen te. Aí, é lógico, n a -m esa e tal. Mas n orm alm en te n ão é m esa p osta, n ão. Cada u m se vira lá, pega o seu prato e se serve.” ”Porqu e é ap artam en to, a cozin h a é p equ e-n a, ee-n tão e-n ão tem esp aço p ara colocar a m esa n a cozin h a e a m esa é n a sala. As crian ças ficam p ed in d o: vira a televisão p ara este lad o. Elas qu erem assistir, geralm en te é n o h orário dos pro-gram as in fan tis, n é, n a Cu ltu ra. En tão é n este h orário, sete, sete e m eia, oito. Se n ão n in gu ém vai ficar, n in gu ém vai tirar a m esa, daí você tem qu e virar a TV para todo m u n do assistir.”

”E eu gosto de com er ven do televisão. Eu gos-to, eu gosto m u ito d e ver TV, com en d o. Mesm o n a cozin h a, eu gosto de ficar ou vin do.”

”Às vezes, está assistin d o televisão m as está d iscu tin d o algu m a coisa. En tão a televisão fica ligad a, m as só p elo fato d e estar ligad a. Você n ão fica en tretido, com en do e en tretido n a tele-visão.”

(9)

Ao con trário d os d ias d e sem an a, o d om in -go d iferen cia -se p o r ter o a lm o ço ritu a liza d o, ca ra cteriza n d o o en co n tro fa m ilia r em to rn o d a m esa . É ra ro freq ü en ta r a ca sa d e a m igo s p ara com er. Norm alm en te as refeições em con -ju n to são en tre p aren tes e, m esm o assim , en tre os m ais p róxim os.

Áries & Du by (1992) tam b ém fazem alu sões a m u d a n ça s n o ritu a l d a a lim en ta çã o, ten d o co m o o b jeto d e o b ser va çã o p rin cip a lm en te a socied ad e fran cesa e a am erican a. “An tigam en -te os ritu a is a lim en ta res im p rim ia m o ritm o à vid a fam iliar. Hoje a alim en tação está cad a vez m ais su b m etid a às im p osições d o trab alh o (p. 320)”. (...) “...a refeiçã o co letiva , m o d ern a , in d u stria l, d ietética , b a ra ta , co m p ro m ete a co m en sa lid a d e: n a h ora d o in terva lo, n o resta u -ra n te d a em p resa o u em o u tro lu ga r co m o s ‘tickets-restau ran tes’, a p essoa alm oça d ep res-sa , cerca d a p elo s co lega s, m a s n ã o co m eles. Nã o se tem tem p o, visto q u e u m a p a rte d este in tervalo será u tilizad a n as cam in h ad as. Tem -p o cu rto d e con su m o. Tem -p o cu rto d e -p re-p ara-ção (p. 320)”.

Ob ser va n d o in fo rm a çõ es so b re co n su m o a lim en ta r en co n tra d a s n o s rela to s d o s en tre-vista d os, p rin cip a lm en te a s gra n d es refeições são ressaltad as. Algu n s com en tários sob re p e-tiscos con su m id os com cerveja, d oces, salgad i-n h os, b iscoitos, coi-n su m id os d u rai-n te o d ia, d e-latam ou tras faces d o con su m o alim en tar q u e foram exp licitad as som en te e q u an d o solicita-d as in form ações asolicita-d icion ais sob re in gestão ali-m en ta r vin cu la d a a essa s o u tra s situ a çõ es, p rin cip a lm en te d e la zer e in ter va lo s en tre a s gran d es refeições.

O lazer está associad o à com id a, à b eb id a e à d an ça, com p on en tes u n iversais d a n oção d e “festa”, ca tego ria p ró xim a d a id éia d e la zer, p razer, gozo. Na socied ad e in d u strial m od ern a, ta is p rá tica s, co n tin u a m ten d o, p a ra to d a s a s cla sses so cia is, u m a co n o ta çã o d e en treten i-m en to e sociab ilid ad e (Forjaz, 1988). Acred ita-m os q u e, d ep en d en d o d a ritu alização eita-m tor-n o d a m esa, com o p or exem p lo em com em orações com o casam en tos, an iversários, Natal, en -tre ou tro s, a con scien tiza çã o d o con su m o a li-m en tar é orien tad a d iferen cialli-m en te coli-m o re-su ltado dos sign ifican tes qu e acom p an h am tais situ ações. Um exem p lo é a cerveja, con su m id a n a sextfeira n o fin al d o exp ed ien te, acom p a-n h ad a p or p etiscos, os qu ais só foram m ea-n cio-n ad os m ed iacio-n te p ergu cio-n ta sob re o assu cio-n to.

Qu an d o q u estion ad os sob re o q u e com em , p rin cip alm en te o alm oço e o jan tar foram d es-critos e, com m en os freq ü ên cia, o d esjeju m . O qu e é in gerido n os in tervalos ou ocasion alm en -te n ão foi m en cion ad o esp on tan eam en -te.

A p rin cip al refeição feita em casa, d u ran te a sem an a, é o jan tar. Du ran te a sem an a o arroz e o feijã o sã o o s co m p o n en tes b á sico s d a a li-m en tação, sen d o o card áp io variad o p rin cip al-m en te p elos vegetais e n u al-m segu n d o p lan o p e-las p rep arações à b ase d e carn e, já qu e n ão são tod os os qu e a con som em regu larm en te.

O d esjeju m co n siste b a sica m en te d o co n -su m o d e café e p ara p ou cos rep resen ta u m a re-feição m ais su cu len ta.

”De m an h ã, saio d e casa e tom o u m café só p ra fu m ar. Café p u ro. Eu n ão gosto d e café com leite.”.

”De m an h ã é u m copo de café com leite e só, n ão passa m ais n ada”.

”Eu n ão tom o café da m an h ã, n ada”. ”Tom o só u m golin h o d e café, sem p ão, sem n ada”.

Em con tra p a rtid a , os p ou cos q u e m en cio -n am com er -n esta refeição relatam :

” Me alim en to bem d e m an h ã, tom o leite, café, bolach a, com o u m a fru ta sem p re qu an d o tem ...”.

”Eu geralm en te com o algu m a coisa, com o bolach a e m ais u m su co”.

”Eu sou acostu m ad o a com er fru ta, su co d e laran ja, com er pão com algu m a coisa...”

No a lm o ço d e sá b a d o a s p rep a ra çõ es sã o sim ila res à s d o s d ia s d e sem a n a , a ssin a la d a s b asicam en te p elo arroz e feijão. Com o o sáb a-d o é a-d ea-d ica a-d o a a tivia-d a a-d es a-d o m éstica s co m o co m p ra s d e gên ero s a lim en tício s, lim p eza d a ca sa , o rga n iza çã o d a s ro u p a s, en tre o u tra s, o alm oço n ão é u m a refeição d e d estaq u e. O sá-b ad o à n oite in au gu ra o fim d e sem an a p ara o d esca n so, em gera l co m u m a “p izza” o u co m u m lan ch e feito em casa.

Do m in go, a o co n trá rio, é o d ia d ed ica d o a saciar o ap etite com p rep arações cu lin árias d i-feren ciad as.

”Dom in go, p ra m im , se n ão tiver m acarrão n ão é dom in go. Pode ter arroz, feijão, pode ter o qu e tiver, m as tem qu e ter o m acarrão.”

”Gosto de m assa, gosto de pizza ao sábado.” ”De sábad o, com er u m a p izzin h a, e d om in -go, aqu ela m acarron ad a com p orp eta, brach o-la.”

”Dom in go se n ão tiver u m a m acarron ad a, u m n h oqu e, n ão tem alm oço.”

”Dom in go é geralm en te m acarrão, risoto, u m fran go, u m a carn e, u m a m aion ese, u m a la-san h a, às vezes faço cu scu z.”

”Fin al d e sem an a é aqu ele tal n egócio, m a-carron ada, u m a lasan h a, u m arroz de forn o, às vezes feijoada.”

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”A ú n ica coisa qu e eu com o fora m esm o, to-do sábato-do, é pizza, n ão tem jeito.”

”O p essoal n ão faz m u ita com ida de sábado à n oite, aí vai n u m a pizzaria...”

Se d u ra n te o s d ia s d e sem a n a o a rroz e o feijão são os p ratos b ásicos, n os fin s d e sem an a p red om in a o p a la d a r ita lia n o. A m a ca rron a d a tem go sto d e d o m in go. Algu m a s vezes o m a ca rrã o a co m p a n h a o a rroz e o feijã o, a q u i co -m o “-m istu ra” e n ã o co -m o “p ra to p rin cip a l”. Cascu d o (1983) faz esse m esm o com en tário so-b re a a sso cia çã o d o m a ca rrã o co n co rren d o com ou tros p ratos d e n ossa cu lin ária e su a d i-fu são n o gosto coletivo.

É n o terren o d os costu m es alim en tares qu e ap reciam os as m esclas cu ltu rais qu e p erm item id en tifica rm os u m a d ieta tip ica m en te p a u lis-tan a e, ao m esm o tem p o, u m a com p osição d e p ratos com as m ais variad as in flu ên cias qu e se tra d u z, n o ca so d e Sã o Pa u lo, p o r u m co sm o-p o litism o n o o-p la n o a lim e n ta r. A im igra çã o a crescen to u n ovo s p a la d a res e o s in co rp o ro u a o s n o sso s h á b ito s d e ta l m o d o q u e, co m o vi-m os n o ca so d a vi-m a ca rron a d a d e d ovi-m in go, ou d a p izza n o sáb ad o à n oite, p od em os assu m ir, n a n o ssa id en tid a d e a lim en ta r, esse tra ço ita -lian o. Além d os restau ran tes típ icos, in stân cia form al d e p reservação d e valores cu lin ários d e ou tras cu ltu ras, p od em os assim ilar fisiologica-m en te os fisiologica-m ovifisiologica-m en tos fisiologica-m igratórios, n as b arra-cas d as b aian as d a feira d e artesan ato d a Praça d a Rep ú b lica, n as b arracas d e com id a ch in esa e jap on esa d o b airro d a Lib erd ad e, n os q u ib es e esfih a s d a s la n ch o n etes esp a lh a d a s p ela ci-d a ci-d e e n a s esp ecia lici-d a ci-d es sír io -lib a n esa s ci-d o s arred ores d o Parqu e Dom Ped ro.

Os card áp ios en con trad os n o cen tro d a ci-d aci-d e ci-d e São Pau lo são caracterizaci-d os p or ci-d u as ten d ên cias sim u ltân eas: a h om ogen eid ad e e a h eterogen eid ad e, categorias p ecu liares às con -cen trações u rb an as (Wirth ,1987). Determ in am tais ten d ên cias, os flu xos h u m an os d as m igrações e im igraigrações aos qu ais a cid ad e esteve su -jeita a o lo n go d e su a h istó r ia , a s in flu ên cia s eco n ô m ica s in tern a s e extern a s, d eterm in a n -tes con ju n tu rais d as ofertas e d e d isp on ib ilid a-d e a-d e alim en tos qu e, n o a-d ecorrer a-d o tem p o, a-d elin ea ra m o ecletism o d os costu m es a lim en ta res d o p au listan o. Paralelam en te, h á u m a “ten d ên cia n ivelad ora” d ecorren te d essa alta con -cen tra çã o d e d iversid a d es, q u e fa z p a rte d o p rocesso d e d esp erson alização.

A ca ra cterística so cia l e cu ltu ra l d a cid a d e va i sen d o co n tru íd a a tra vés d a s m igra çõ es. Weffort (1984) p rob lem a tiza a q u estã o m igra tória, em fu n ção d o p oten cial d e ab sorção so -cia l, cu ltu ra l e p o lítica , exem p lifica o ca so d a p erm eab ilid ad e ao italian o, p or h aver, n a

ocasião, esp aço social, cu ltu ral e p olítico e, ao con -trá rio, a situ a çã o q u e p rovoca a resistên cia a o n ord estin o em São Pau lo. Na m ed id a em qu e a ten d ên cia atu al d a econ om ia é a in tern acion a-liza çã o, a h egem o n ia eco n ô m ica rep ro d u z a d esn acion alização associad a à im p ortação d e ou tra referên cia cu ltu ral. A ten d ên cia m assifi-ca n te n o p a d rã o a lim en ta r, exp liassifi-ca a n o tá vel a b so rçã o d o s co stu m es a lim en ta res n o rte-am erican os. A p resen ça d e lan ch on etes com o Mc Do n a ld ’s, Bo b’s, a Pizza Hu t, b em co m o a en trad a d o h am b ú rgu er n os card áp ios d as lan -ch o n etes, sã o exem p lo s d a d ifu sã o d e o u tro p ad rão alim en tar. Por ou tro lad o, restau ran tes q u e servem o “p rato d o d ia” e d isp õem d e car-d á p io sem a n a l a ten car-d em a s car-d iferen ça s étn ica s in co rp o ra d a s à cozin h a b ra sileira em fu n çã o d a im igra çã o (vira d o à p a u lista , d o b ra d in h a , n h oqu e, feijoad a, etc.).

Disp ostos e d ifu sos n a cid ad e d e São Pau lo, vem o s ta m b ém resta u ra n tes d e co m id a ja p o-n esa, io-n d iao-n a, italiao-n a, frao-n cesa, ru ssa, alem ã, en tre o u tra s. Sã o Pa u lo d esta ca -se, co m o d iz Weffort (1984), p or ser a cid ad e qu e m ais reú n e a m o stra s exp ressiva s d e to d a s a s regiõ es d o p a ís. Atra vés d a s cu lin á ria s típ ica s se co n fir-m a fir-m esta s p resen ça s: ch u rra sca ria s ga ú ch a s, resta u ra n tes d e com id a típ ica b a ia n a , ca p ixa-b a, m in eira, n ortista e n ord estin a.

O gosto é u m a m an ifestação d e id en tid ad e cu ltu ral. No caso d os filh os d e im igran tes, n as-cid os n o Brasil ou b rasileiros casad os com im i-gra n tes, é in teressa n te ob serva r com o a a p recia çã o d e a m b o s o s p a la d a res va i se a co m o -d an -d o à rotin a alim en tar.

”Eu sem pre, com o u m bom filh o de italian o, gostei d e com er bem .(...) Dom in go aqu ela m a-carron ada com porpeta, brach ola...(...) Italian o qu in ta feira é tradicion al o m acarrão (...) O qu e eu m ais gosto d e com er é arroz, feijão, bife ace-bolad o, p u rê d e batata e salad a qu e n ão p od e faltar. Filh o d e italian o d everia gostar m ais d e com id a italian a, m as o qu e eu m ais gosto é es-sa.”

”A ú n ica coisa qu e eu vario em casa é fazer u m qu ibe, assim , d e vez em qu an d o, u m a coa-lh ad a, u m a coacoa-lh ad a síria. Eu fu i criad o com com ida árabe, assim , n é.”

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ir-m ãs, as du as são casadas coir-m italian os, en tão é só m assa.”

”Ach o qu e até os 7 an os d á p ra m od ificar a crian ça, depois dos 7 an os o h ábito fica arraiga-do. Eu gosto de m assa, pizza aos sábados. En tão pra m im eu vejo qu e a dificu ldade qu e eu ten h o, parece qu e você sen te falta desse tipo de alim en -to. Com o sou d escen d en te d e italian o, a gen te está acostu m ad o a com er m assa d esd e crian ca, eu gosto, m as eu sei qu e é errado p ro m eu orga-n ism o, orga-n ão faz bem . (...) A ú orga-n ica extravagâorga-n cia qu e eu faço é m assa n é, de fim de sem an a qu e eu gosto m ais, de sábado à n oite, pizza, e m acarrão dom in go, n a casa da m am a.”(vegetarian o)

Já, n estes ou tros exem p los, p od e-se n otar a id en tid ad e com o p alad ar n acion al e a força d a b ase d a n ossa d ieta, o arroz e feijão.

”Eu n ão sei com er sem feijão. Arroz e feijão p ra m im é vital, sei lá, é coisa de m olequ e, vício de crian ça.”

”Eu n ão com o sem feijão, se eu com er sem feijão, eu m e sin to fraca, tem qu e ter arroz e fei-jão”.

”Só gosto de coisa bem brasileira m esm o, n a-da diferen te. A m aioria a-das vezes é arroz e feijão”. Segu n d o Ca n d id o (1987), a a p recia çã o d a co m id a só lid a d eriva d a n ecessid a d e d e ter a “b a rriga ch eia”. A “co m id a sa b o ro sa” d esign a co m id a só lid a e, d e p referên cia , a ca rn e. No m eio u rb a n o, a p referên cia p ela co m id a m a is ca lórica con cen tra -se n a s cla sses socia is p a ra as qu ais a ab u n d ân cia rep resen ta u m a valor d e a scen sã o e en tre tra b a lh a d o res b ra ça is (Ma r-tin s et al.; 1994; Zalu ar, 1988).

Tal com o é p erceb id a p ela p op u lação estu -d a -d a , a refeiçã o tem o ca rá ter -d e rep o siçã o su b stan cial d e en ergia, ao con trário d o lan ch e q u e é ca ra cteriza d o com o u m a a ltern a tiva in -cap az d e aten d er às n ecessid ad es.

”Os lan ch es são gostosos, n u tritivos, m as ach o qu e é só a n ível d e en gan ar n a h ora, ach o qu e n ão ch ega a su sten tar legal.”

”Se eu vir qu e o tick et n ão vai d ar p ro m ês tod o, eu p aro d e com er e vou com er n a lan ch o-n ete”.

”O san d u ích e n ão su bstitu i m in h a refeição, é u m com plem en to alim en tar.”

” São vin te d ias ú teis d e trabalh o, qu in z e dias você se alim en ta bem e cin co você tom a u m lan ch e ou algu m a coisa assim .”

”A lan ch on ete é u m a op ção barata. Qu an do o vale n ão vai d ar p ara o m ês tod o, com o lan -ch e” ou “ ...Qu an d o a gran a tá cu rta e n ão d á para alm oçar.”

”Ach o qu e o p reço (d o lan ch e) é qu ase id ên -tico e a refeição su sten ta m ais.”

As con d ições d isp on íveis, form ad as, d e u m lad o, p elas p ossib ilid ad es fin an ceiras e, d e ou

-tro, p ela o ferta d e lo ca is p a ra fa zer a refeiçã o, vã o d eterm in a r o lim ite d e p o ssib ilid a d es d e q u e o su jeito d isp õe p ara se alim en tar n o cen -tro d a cid ad e e sob re as q u ais, en tre ou -tros asp ecto s, irá co n stru ir su a s reasp resen ta çõ es so -cia is. O la n ch e é o p çã o q u a n d o h á lim ites fi-n afi-n ceiros.

Ob ser va m o s u m a va ried a d e d e tip o s d e san d u ích es: aq u eles b asead os n o p ad rão n or-te-am erican o, ten d o com o b ase o h am b ú rgu er; o s m a is tra d icio n a is à b a se d e frio s co m o o “b a u ru ”, o “a m erica n o”, o “m isto q u en te”; o s “b eiru tes”, feito s à b a se d e p ã o á ra b e; o “ca -ch o rro -q u en te” em d iferen tes versõ es, en tre o u tro s. Os sa lga d in h o s n ã o sã o co n sid era d o s la n ch es, a p esa r d e serem ta m b ém u m a op çã o p ara a falta d e tem p o e d e d in h eiro. Os salgad i-n h os m ais coi-n su m id os são a coxii-n h a, esfih a e o qu ib e.

Na região d elim itad a p ara este estu d o, h á as lan ch on etes d as red es Mc Don ald’s, Pizza Hu t e Bob’s. Ap areceram n as falas tam b ém as lojas d a red e Well’s, Well’s Bu rgu er, q u e fo ra m lem -b ra d a s p o r u m d o s en trevista d o s p o r esta rem p róxim as ao an tigo local d e trab alh o.

A im p ressão é q u e essas lan ch on etes estão a cim a d a s su sp eita s q u e p a ira m so b re a s d e -m ais. Su sp eitas d e qu alqu er tip o: sob re a h igie-n e, a q u a lid a d e, e tc. Algu m a s ca ra cte rística s d esse tip o d e esta b elecim en to fo ra m a p o n ta -d a s co m o va n ta jo sa s ...”fast foo-d é tu -d o au to-m ático, n in gu éto-m to-m exe”. Nu m p a ra lelo co m o q u e o co rre co m a m o d a n o vestu á rio, o s fast foodim p ortad os são as grifes m ais valorizad as, co m o p o d em o s o b serva r n estes co m en tá rio s: “Por aqu i é tu d o lu gar p ara você com er em p é ou fast food . N o caso d e fast food , algu n s d e m arca, Mc Don ald’s, Piz z a Hu t, Bob’s, eles d ão m esin h a p ra com er. M as a m aioria, esses bote-qu in h os do tipo esbote-qu in in h a, ou abote-qu eles com pri-din h os qu e n o m áxim o você fica sen tado n u m a ban qu etin h a, u m do lado do ou tro, com esp aço pra você com er, com er u m lan ch e.”

Mesm o q u an d o d esvalorizad os, os lan ch es d a s red es d e la n ch o n etes sã o en q u a d ra d o s com d eferên cia, com o ob servam os n esta fala:

”É m u ito difícil eu com er lan ch e, n em n o Mc Don ald’s.”

Tam b ém p ara aq u eles q u e se in titu lam ve-geta ria n o s (d o is d e n o sso s en trevista d o s), h á u m a relação m ais p erm issiva e con d escen d en -te co m es-te tip o d e la n ch o n e-te, n o ca so o Mc Don a ld’s. En tre os com en tá rios a resp eito d os la n ch es em gera l, o Mc Do n a ld ’s é d esta ca d o com certa p erm issivid ad e:

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O o u tro vegeta ria n o referin d o se a o s la n -ch es d iz:

”Bom , eu p eço n orm alm en te assim , filé d e fran go, algu m a coisa n esse sen tid o. N o Mc Don ald ’eu co m o à s vezes, até bastan te, aí eu já..., eu já n ão..., aqu ela carn e n ão tem m u ito gosto n é, eu já n ão... porqu e lá eu com o todos os tip os , tod os os qu e tem lá eu gosto. Ap esar d o h am bú rgu er ser feito d e carn e e eu n ão gostar de carn e, aqu ela eu com o p orqu ê n ão tem m u i-to gosi-to de carn e n é, é u m a carn e m eia... n ão sei com o é feito m as eu com o.”

Em tais reticên cias p arece resid ir u m esp a-ço p erm issivo on d e os recu rsos q u e p od eriam ter sid o u tiliza d o s p a ra cla ssifica r, p o r exem -p lo, o h am b ú rgu er en qu an to carn e, n ão -p red o-m in arao-m . Io-m p erou o n oo-m e d a lan ch on ete co-m o u co-m a en tid a d e q u e en glo b a o to d o – o Mc Do n a ld ’s. A rep resen ta çã o so cia l co n stitu i-se sob re a en tid ad e Mc Don ald’s q u e se sob rep õe aos tip os d e lan ch es.

Pod em os su p or qu e h aja u m a sob rep osição d a m a rca so b re o p ro d u to. Os elem en to s q u e co m p õ em a m a rca , o ró tu lo, su p era m o co n -teú d o; e o recu rso qu e seria u tilizad o p ara qu a-lifica r o h a m b ú rgu er d e q u a lq u er la n ch o n ete p a ssa a ser secu n d á rio. O exem p lo a cim a d e vegeta ria n o q u e co m e o h a m b ú rgu er d o Mc Do n a ld ’s d em o n stra q u e a p o ssib ilid a d e d e classificar o h am b ú rgu er en q u an to carn e p as-sou p ara u m segu n d o p lan o fren te à m arca. Po-d em os ter aqu i in Po-d ícios p ara a com p reen são Po-d e a lgu n s elem en to s p ertin en tes à rá p id a in co r-p oração d e certos h áb itos alim en tares, com o é o ca so d a p erm ea b ilid a d e q u e o co stu m e a li-m en ta r n o rte-a li-m erica n o teli-m tid o n o n o sso p aís, con sid eran d o com o p an o d e fu n d o o p o-d er exercio-d o p ela p ressão econ ôm ica o-d o cap i-ta l in tern a cio n a l, im p o n d o su a s m erca d o ria s a sso cia d a s a h á b ito s e im a gen s, a b so r vid a s e, m ais esp ecificam en te, d igerid as com esses n ovos p rod u tos. Harvey (1993), referin d ose à im -p o rtâ n cia d a im a gem -p a ra o -p ro d u to, d iz ser ela q u em p ro m ove a sso cia çõ es co m o “resp ei-tab ilid ad e”, “qu alid ad e”, “p restígio”, “con fiab ili-d a ili-d e”, en tre ou tros. Na q u ilo q u e ob serva m os, esp ecificam en te relativo à m arca Mc Don ald’s, ta is a sso cia çõ es p a recem su p era r o p ró p rio p rod u to.

A ten tativa d e d escrever e d iferen ciar a car-n e d o h a m b ú rgu er d o Mc Do car-n a ld ’s, p o r “car-n ão ter gosto d e carn e”o u ser“u m a carn e m eia...” m ascara su a origem . Elias (1990) assin ala m u -dan ças n as p ráticas e sen tim en tos vin cu lados à form a de servir alim en tos à m esa, com o m arcas d o p ro cesso civiliza tó rio. Co n sid era n d o o p e-ríod o qu e vai d a Id ad e Méd ia até os d ias atu ais, h ou ve m u d an ças n o p ad rão d e sen tim en tos

li-gad os a certas p ráticas q u e n os levaram a ab o-m in ar o trin ch o d o an io-m al o-m orto à o-m esa, h áb i-to an teriorm en te valorizad o, qu e p ara n ós está associad o à lem b ran ça d o sacrifício d o an im al, d e tal form a qu e h oje, as p rep arações à b ase d e ca rn e sã o tã o d isfa rça d a s q u e q u a se n ã o lem -b ra m o s d a su a o rigem . O h a m -b ú rgu er é u m exem p lo p lau sível d essa m u d an ça.

Ta gle (1988) exp lica o êxito d esse tip o d e alim en to p ela facilid ad e d e acesso d e h orár io, rap id ez d e serviço, p reços razoáveis e p ela p a-d ron ização e regu laria-d aa-d e a-d o p roa-d u to qu e evi-ta su rp resa s. A p ró p ria va ria çã o d e sa b o res se d á a p artir d e u m a m esm a m atéria-p rim a on d e o s a d itivo s p ro m ovem a d iferen cia çã o estrita d e sab ores.

Conclusão

Sen d o o n ú cleo d e p reo cu p a çã o o co m p o rta -m en to a li-m en ta r, con h ecer a s rep resen ta ções sim b ó lica s e o s co stu m es en vo lvid o s n a a lim en ta çã o a p o n ta p a ra a co lim p reen sã o d e co -m o se d á o elo d e e-m b r ica -m en to d e q u estõ es sócio-cu ltu rais e p sicológicas con sagrad as n o a to d e a lim en ta rse. Atra vés d a s rep resen ta çõ es so cia is é co n ceb id a a id éia d e a lim en ta -ção en qu an to veícu lo d e con figu rações con cre-tas e im agin árias con stru íd as p elo p en sam en to so cia l, a d a p ta d a s e rea d a p ta d a s à s co n d içõ es d isp o n íveis, m a s so b retu d o exp erim en ta d a s, com u m d ecod ificad or q u e, tal com o u m a car-ga gen ética, é su sten tad o p or m atrizes qu e p re-servam a h istória social e in d ivid u al d o su jeito, através d o p alad ar.

Ou tro asp ecto d o com p ortam en to alim en -ta r, fa cili-ta d o p elo estu d o d a s rep resen -ta çõ es sociais, é a flexib ilid ad e d e su a estru tu ra. Con s-tatam os com o u m m esm o d iscu rso se am old a a d iferen tes situ ações, o q u e n os p erm ite con -clu ir, através d a an álise d os d iscu rsos sob re ali-m en ta çã o, q u e h á esp a ços p a ra a titu d es flexí-veis, orien tad as p elas circu n stân cias. Esta fle-xib ilid ad e coloca em qu estão a ob jetivid ad e es-p era d a d a s in fo rm a çõ es so b re co n su m o a li-m en tar.

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