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Partículas e antipartículas no cone de luz.

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Academic year: 2017

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DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1806-11173731845

Part´ıculas e antipart´ıculas no cone de luz

(Particles and antiparticles in the light cone)

Jorge Henrique Sales

1

, A.T. Suzuki

2

, L.A. Soriano

2

1Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilh´eus, BA, Brasil

2Instituto de F´ısica Te´orica, Universidade Estadual Paulista “J´ulio de Mesquita Filho”,

S˜ao Paulo, SP, Brasil

Recebido em 23/2/2015; Aceito em 5/7/2015; Publicado em 30/9/2015

Na teoria quˆantica de campos usual, descrita no espa¸co-tempo de Minkowski, os conceitos de part´ıcula e an-tipart´ıcula surgem associados aos estados de energia positiva e negativa respectivamente. Nesse artigo focando como p´ublico alvo alunos de p´os-gradua¸c˜ao em F´ısica, discutimos de maneira pedag´ogica como esses conceitos podem ser ou n˜ao transferidos quando fazemos uma mudan¸ca de coordenadas, do espa¸co-tempo de Minkowski para as coordenadas do cone de luz. Conclu´ımos que nessas novas coordenadas temos uma arbitrariedade na escolha, uma vez que o sinal da energia fica atrelado ao sinal da componente longitudinal do momento no cone de luz. Embora haja essa arbitrariedade, a correla¸c˜ao de sinal que existe entre a energia e o momento longitudinal implica profundas consequencias f´ısicas. Momentos positivos implicam energias positivas e momentos negativos implicam energias negativas. Isso significa, por exemplo, que no v´acuo quˆantico da frente de luz n˜ao pode haver produ¸c˜ao de pares part´ıculas e antipart´ıculas, ao contr´ario do que ocorre no espa¸co de Minkowski usual.

Palavras-chave: teoria quˆantica de campos, espa¸co de Minkowski, cone de luz, antipart´ıculas.

In the usual quantum theory of fields, as described in the Minkowski space-time, the concepts of particle and antiparticle appear associated with positive and negative energy states respectively. In this article, which is directed to graduate students in physics, we discussed in a pedagogical way how these concepts can be transferred when we make a change of coordinates, from the Minkowski space-time to the coordinates of the light cone. We conclude that these new coordinates have an arbitrary choice, once the sign of the energy is coupled to the sign of the longitudinal component of the momentum in the light cone. Although there is this arbitrariness, the sign correlation between the energy and the longitudinal momentum implies profound physical consequences. Positive momenta imply positive energy, and negative momenta imply negative energies. This means, for example, that in the quantum vacuum of the light front there cannot be any pair production of particle and antiparticle, unlike what happens in the usual Minkowski space.

Keywords: quantum theory of fields, Minkowski space, light cone, antiparticles.

1. Introdu¸

ao

No universo material em que estamos inseridos, a mat´eria que a comp˜oe tem hoje uma formula¸c˜ao ma-tem´atica muito elegante, baseada nos conceitos da teo-ria quˆantica de campos, que utiliza tanto o formalismo da mecˆanica quˆantica - fundamental para a descri¸c˜ao dos constituintes do microcosmo – bem como do for-malismo da mecˆanica relativ´ıstica de Einstein – fun-damental para descrever as part´ıculas com velocidades pr´oximas `a da luz.

Dentro desse arcabou¸co te´orico, entendemos os princ´ıpios de conserva¸c˜ao de quantidades f´ısicas como resultante das propriedades de invariˆancia por simetria das equa¸c˜oes de movimento que governam certo

pro-cesso f´ısico. Assim, a invariˆancia por transla¸c˜ao de um sistema f´ısico reflete-se na conserva¸c˜ao da quantidade de movimento (ou momento linear) desse sistema, en-quanto a invariˆancia por transforma¸c˜oes de calibre re-dundam em conserva¸c˜ao da carga el´etrica.

Um dado experimental que a natureza nos apre-senta ´e que part´ıculas que comp˜oe a mat´eria podem vir sob duas cargas el´etricas distintas: positiva e/ou negativa. Quando todas as demais propriedades de duas part´ıculas, tais como massa, spin, etc. s˜ao iguais, mas a carga el´etrica delas ´e diferente, temos a´ı con-figurado a part´ıcula e a antipart´ıcula. Por exemplo, o el´etron e o p´ositron, o pr´oton e o anti-pr´oton, s˜ao exemplos desse par part´ıcula-antipart´ıcula: Cada par desses tem a mesma massa, o mesmo spin, mas cargas

2E-mail: suzuki@ift.unesp.br.

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el´etricas opostas. Por conven¸c˜ao, o el´etron e o pr´oton s˜ao as part´ıculas e o p´ositron e o anti-pr´oton s˜ao as antipart´ıculas correspondentes ao el´etron e ao pr´oton.

A interpreta¸c˜ao te´orica desse fato experimental, isto ´e, a maneira de entender a existˆencia dessas antipart´ıculas veio primeiramente com as id´eias de P.A.M. Dirac ao tentar resolver o problema das solu¸c˜oes quˆanticas da equa¸c˜ao de Klein-Gordon com energias negativas, possibilitadas na rela¸c˜ao relativ´ıstica de energia-momento:

E=±√k2c2+m2c4. (1) Como essa ideia de antipart´ıculas surgiu na con-cep¸c˜ao de Dirac? Bem, vimos que a rela¸c˜ao entre ener-gia e momento de uma part´ıcula eletricamente carre-gada como o el´etron, ´e dada pela rela¸c˜ao (1). Para Dirac, a possibilidade de se admitir a solu¸c˜ao de ener-gia negativa para o el´etron implicaria na necessidade de se postular uma antipart´ıcula do el´etron da seguinte forma: Como os sistemas f´ısicos tem a tendˆencia de evolu´ırem para estados de energia m´ınima, a existencia de estados de energia negativa para os el´etrons impli-caria que eles tenderiam a ir para os estados cada vez mais negativos, irradiando energia de maneira continua e infinitamente. Mas isso n˜ao se verifica experimental-mente. Ent˜ao Dirac postulou que h´a um “mar (infinito) de el´etrons” de energia negativa, uniforme e por con-seguinte n˜ao produzindo efeitos observ´aveis. Devido ao princ´ıpio de exclus˜ao de Pauli, os el´etrons de esta-dos de energia positiva n˜ao poderiam ir para os estaesta-dos de energia negativa, j´a todos ocupados por el´etrons. Quando um el´etron desse “mar de el´etrons”, todos de energia negativa, fosse excitado por um f´oton e fosse conduzido para um estado de energia positiva, no “mar” ficaria um“buraco” ou uma “bolha”, agora com efeito observ´avel, que se comportaria como part´ıcula de carga positiva e energia positiva. Em outras palavras, como uma antipart´ıcula do el´etron. Embora seja uma id´eia interessante, ela ´e instatisfat´oria na medida em que se associa antipart´ıculas a “buracos” ou “vazios/bolhas”. Al´em disso, esses “buracos” seriam aqueles deixados num “mar infinito” de el´etrons de energia negativa, que carece de uma fundamenta¸c˜ao experimental [1].

Mais tarde, na d´ecada de 1940, R.P. Feynman deu a interpreta¸c˜ao que atualmente se aceita como sendo a explica¸c˜ao mais plaus´ıvel para os estados quˆanticos de energia negativa que seriam ent˜ao os estados quˆanticos associados `as antipart´ıculas. A id´eia de Feynman foi interpretar, na solu¸c˜ao da fun¸c˜ao de onda expressa em termos de ondas planas, de energia negativa, (−E), a propaga¸c˜ao da part´ıcula para o passado, (−t), o qual agora seria interpretado como sendo antipart´ıculas de energia positiva, (+E), progapagndo-se para o futuro, (+t),

ψ(x, t) = Aei(k·x−(−E)(−t)) = Aei(k·x−(+E)(+t)).

Vamos a seguir ver o que ocorre com essa ideia de Feynman aos transferirmos para as coordenadas do cone de luz.

Nas coordenadas usuais do espa¸co de Minkowski, temos os quadrivetores espa¸co definidos por

x= (ct,x) = (ct, x, y, z) = (x0, x1, x2, x3), que, expressos nas coordenadas do cone de luz ficam

x= (x+, x1, x2, x

) = (x+,x

, x−

),

em quex+ exao definidos por

= x 0

±x3

2 ,

x⊥ = (x1, x2).

Analogamente para os quadrivetores momento, te-mos

= k 0

±k3

2 ,

k⊥ = (k1, k2).

Do produto escalar entre eles,k·x=k0x0

−k·x= k0x0

−k1x1

−k2x2

−k3x3, expresso em termos dessas novas coordenadas da frente de luz,k·x=k−

x+

−k⊥

· x⊥

+k+x−

=k−

x+−k1x1−k2x2+k+x−

notamos dois pontos importantes: a) Podemos associar a coordenada k− como a energia na frente de luz e a coordenadax+ como o tempo na frente de luz, em analogia `a energia k0 e ao tempo x0 usuais; e b) o produto do momento longitudinalk+ e a coordenada longitudinalx´e

posi-tivo, diferentemente do caso usual, onde o sinal dek3x3 ´e sempre negativo.

Que interesse f´ısico haveria para se fazer uma sim-ples mudan¸ca de coordenadas e quais consequencias h´a para tal mudan¸ca? Evidentemente que a f´ısica perma-nece a mesma, por´em, assim como mudar de coordena-das cartesianas para coordenacoordena-das polares ou esf´ericas pode facilitar a descri¸c˜ao de sistemas com simetria esf´erica, utilizamos a mudan¸ca de coordenadas para a frente de luz para facilitar a descri¸c˜ao anal´ıtica de um fenˆomeno onde as vari´aveis envolvidas sejam tais que envolvam grandes momentos (momento “infinito”). O formalismo da frente de luz ´e bastante ´util ent˜ao na des-cri¸c˜ao de espalhamentos em altas energias que ocorrem nas colis˜oes entre h´adrons ou entre l´eptons e h´adrons realizadas nos grandes aceleradores de part´ıculas, uma vez que nessas experiˆencias, as part´ıculas interagentes s˜ao ultra-relativ´ısticas e ocorrem ao longo de um eixo preferencial que ´e o eixo da colis˜ao [2–9].

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dif´ıcil interpretar o que seria a raiz quadrada de um operador quˆantico. Por outro lado, a mesma rela¸c˜ao de energia e momento expressa nas coordenadas da frente de luz se torna:

k−

= k

⊥2+m2c2

2k+ , (2)

que mostra ser uma rela¸c˜ao racional linear entre ener-gia e momento. Al´em do mais, a Eq. (2) mostra que existe uma correla¸c˜ao do sinal da energia com o sinal do momento longitudinalk+: Quandok+ ´e positivo, a energia ´e positiva e vice-versa. Esta correla¸c˜ao, entre outras coisas, pro´ıbe a manifesta¸c˜ao da cria¸c˜ao de pares no v´acuo quˆantico da frente de luz, o que fisicamente interpretamos como sendo um v´acuo de estrutura mais simples que no caso covariante.

Uma outra consequencia importante do uso das co-ordenadas da frente de luz tem a ver com o que chama-mos de maximiza¸c˜ao do grupo de estabilidade dos ge-radores da ´algebra de Poincar`e. Sistemas relativ´ısticos podem ser descritos pelo grupo de transforma¸c˜oes de Lorentz juntamente com as transla¸c˜oes – que comp˜oem o que denominamos de grupo das transforma¸c˜oes de Poincar`e. No espa¸co de Minkowski usual, os dez ge-radores do grupo de Poincar`e se subdividem em seis geradores cinem´aticos e quatro dinˆamicos. Nas coor-denadas do cone de luz, os dez geradores de Poincar`e se subdividem em sete cinem´aticos (m´aximo poss´ıvel) e trˆes dinˆamicos, o que representa uma vantagem na dcri¸c˜ao anal´ıtica das equa¸c˜oes do movimento. Mais es-pecificamente, “boosts” (“empurr˜oes”) ao longo do eixo transversal s˜ao puramente cinem´aticos, conservando o momento longitudinal ao longo desse eixo. Em tese, portanto, a f´ısica na frente de luzdeveriaser mais sim-ples de ser tratada. Em tese, porque como diz o di-tado chinˆes, “n˜ao h´a almo¸co gr´atis”. A vantagem au-ferida por uma lado, acarreta desvantagens de outro lado! Notamos que na express˜ao da Eq. (2) temos o denominador k+ que quando se anula se torna numa singularidade para a energia k−

. Essa singularidade ´e conhecida pelo nome de “modo zero”, que interv´em em muitos processos e requer um ferramental especializado para se tratar.

Neste trabalho mostramos como no formalismo da Mecˆanica Quˆantica no cone de luz (ou como aparece algumas vezes na literatura, formalismo do plano-nulo) definimos a propaga¸c˜ao de part´ıculas ou antipart´ıculas. Isso pode ser observado pela Mecˆanica Quˆantica no cone de luz que nos indica para x+ > 0 e k+ > 0 temos a part´ıcula se propagando para frente no tempo no plano-nulo (x+= 0). Caso contr´ario, parax+<0 e k+<0 teremos a part´ıcula propagando-se para o pas-sado, o que corresponde a uma antipart´ıcula avan¸cando para frente no tempo do cone de luz.

Mas ser´a poss´ıvel descrever um sistema f´ısico em qualquer hipersuperf´ıcie do espa¸co-tempo com condi¸c˜oes iniciais definidas em uma hipersuperf´ıcie

di-ferente de t = 0? Em 1949 Dirac [10] publicou uma compara¸c˜ao entre trˆes distintas formas que poderiam descrever a dinˆamica de sistemas relativ´ısticos. A mo-tiva¸c˜ao estava em que duas dessas formas n˜ao usam o tempo usual t para descrever a dinˆamica das propri-edades do sistema. Em outras palavras, a escolha de qual forma utilizamos para descrever a dinˆamica rela-tiv´ıstica ´e uma quest˜ao de conven¸c˜ao, a escolha sendo a princ´ıpio arbitr´aria. Portanto, Dirac prop˜oe, dessa ma-neira, diferentes formas de dinˆamica relativ´ıstica. Es-tas formas de dinˆamica s˜ao identificadas, como sendo a forma instantˆanea (ou instante), que corresponde `a teo-ria relativ´ıstica quˆantica com as condi¸c˜oes de contorno definidas em t = 0; a forma frente de luz (ou cone de luz), onde as condi¸c˜oes iniciais s˜ao dadas em um hiper-plano do espa¸co de Minkowski que cont´em a trajet´oria da luz, e a forma pontual, a qual n˜ao trataremos neste trabalho.

Neste artigo vamos explorar o conceito que garante ao propagador quˆantico no cone de luz a sua correspon-dente evolu¸c˜ao do estado de part´ıcula para um tempo futuro no cone de luz x+/c = (t+z/c)/2, tempo definido no cone de luz). Em princ´ıpio, isto ´e equiva-lente `a quantiza¸c˜ao canˆonica no cone de luz [2–9,11–13]. Kogut e Soper [4] tamb´em utilizam esta maneira de construir quantidades no cone de luz: partem de am-plitudes ou equa¸c˜oes 4-dimensionais e realizam a inte-gra¸c˜ao em k−

= (k0+k3)/2, equivalente `a energia da part´ıcula no cone de luz), com a defini¸c˜ao k+ >0 (k+= (k0+k3)/2), o que corresponde `a representa¸c˜ao dos processos descritos por tais amplitudes ou equa¸c˜oes no tempo x+/c. Com isto o tempo relativo entre as part´ıculas desaparece e apenas a propaga¸c˜ao global do sistema intermedi´ario ´e permitida. A propaga¸c˜ao glo-bal do sistema intermedi´ario ´e a transla¸c˜ao temporal do sistema f´ısico entre dois instantesx+/c[14, 15].

2.

Part´ıcula e antipart´ıcula na

relativi-dade

A mecˆanica ondulat´oria de Schr¨odinger n˜ao previa o spin do el´etron, e a equa¸c˜ao de onda definia a fun¸c˜ao Ψ como quantidade escalar. Pauli tentou introduzir o spin na mecˆanica ondulat´oria. Para isso, construiu uma fun¸c˜ao de onda Ψ de duas componentes, corres-pondente a duas orienta¸c˜oes poss´ıveis do spin. Era um progresso em rela¸c˜ao a teoria de Schr¨odinger, mas a teo-ria n˜ao se apresentava como relativ´ıstica. Dirac, depois de ter estabelecido a forma relativ´ıstica da equa¸c˜ao de Schr¨odinger, mostrou que a fun¸c˜ao de onda Ψ era uma grandeza de quatro componentes e que as equa¸c˜oes as-sim obtidas eram invariantes sob a transforma¸c˜ao de Lorentz.

(4)

vou da sua quantidade de movimentoktemos

E=1 2mv

2= 1 2mk

2,

o que corresponde a um valor deE sempre positivo na mecˆanica cl´assica. Na mecˆanica relativ´ıstica, por outro lado, a energia total ´e dada pela Eq. (1), que reescre-veremos agora de maneira um pouco diferente

E=±c√m2

0c2+k2, (3)

em que introduzimos a nota¸c˜ao para a massa de repouso como m0, para distingui-la da massa relativ´ıstica que muitas vezes encontramos na literatura. Vemos que a Eq. (3) permite que a energia seja positiva ou negativa, numa rela¸c˜ao irracional com os quadrados do momento e da massa de repouso.

Este ponto ´e de grande importancia para a teoria das antipart´ıculas no cone de luz, e ´e por isso que vamos insistir na an´alise via teoria da relatividade restrita. A rela¸c˜ao (3) ´e equivalente a

E= m0c 2

±

√ 1v2

c2

. (4)

A partir da Eq. (3), criou-se a defini¸c˜ao de massa relativ´ıstica,mrel, para simplificar a nota¸c˜ao,

mrel= m0

±

√ 1−vc22

=γm0, (5)

em queγ=±√ 1

1−v2

c2

e ent˜ao a famosa f´ormula de

Eins-tein poderia ser escrita genericamente tamb´em para corpos em movimento

E=mrelc2. (6)

A rela¸c˜ao dada pela Eq. (3), rigorosamente falando, deveria ser sempre escrita com um sinal ± antes da raiz como fizemos explicitamente. Foi assim que Dirac conectou as anti-part´ıculas da teoria de campos com a relatividade especial.

Um outro modo de analisar a quest˜ao ´e atrav´es do sinal do intervalo invariante. O quadrado do intervalo invariante do espa¸co-tempo de Minkowski ´e dado por

ds2=c2dt2

−dx2

−dy2

−dz2. (7)

Manipulando o quadrado do intervalo invariante e dividindo por dt2, obtemos o fator γ da seguinte ma-neira

ds2

c2dt2 = 1− 1 c2

(

vx2−vy2−v2z

)

= 1−v

2 c2 =

1 γ2 ds

dt =± c

γ . (8)

Usando este resultado na Eq. (5), permite reescre-ver a massa relativ´ıstica como

mrel= cm0 (±ds/dt).

Se tomarmos o sinal +, mrel ser´a tamb´em positiva e a energia E =mrelc2 ser´a positiva. Consequentemente, a escolha do sinal negativo − para o valor da massa relativ´ıstica implica um valor negativo para a energia E.

Vemos ent˜ao que o sinal da massa relativ´ıstica – e consequentemente o aparecimento de anti-part´ıculas – est´a relacionado com a escolha dos valores±ds/dt vis-tos na Eq. (8).

3.

Part´ıcula e antipart´ıcula no cone de

luz

Podemos fazer algo semelhante no cone de luz. Usando as transforma¸c˜oes de coordenadas do espa¸co de Min-kowski para as coordenadas do cone de luz, temos

x+ =√1

2 (

x0+x3)

x−

=√1

2 (

x0

−x3)

x⊥=x1i+x2j, (9)

em que x0=ct´e a componente temporal,x1, x2 ex3 s˜ao as componentes espaciais (x, y, z) respectivamente. O vetorx⊥ est´a contido no plano (x, y) e ´e transversal

`as compontentes (x+, x

).

Os momentos canonicamente conjugados `as coorde-nadas x+, xexao, respectivamente dados por

k−

= √1

2 (

k0−k3) ,

k+ = √1

2 (

k0+k3) ,

k⊥ = (

k1, k2)

. (10)

O m´etodo usual de encontrar a rela¸c˜ao da energia nas coordenadas do cone de luz ´e calcular o produto escalar kµkµ =c2m20 do quadri-momento nessas coor-denadas, com massa de repousom0, ou seja,

k

µ = c2m20 E

c2 2

−k2x−ky2−k2z = c2m20 2k+k−

−k⊥2 = c2m20 k− = c

2m2 0+k

⊥2

2k+ (11) Note que a energia de uma part´ıcula livre no espa¸co-tempo de Minkowski ´e dada por k0 = E = ±c√

m2

(5)

quadr´atica de k0 com k em contraste com a de-pendˆencia linear entre (k+)−1 e knas coordenadas

do cone de luz. Observe que na energia relativ´ıstica temos os dois sinais, e na Eq. (11) o sinal de k− est´a

atrelado ao dek+. O sinal da energiak−

depende do sinal dek+. Va-mos agora, analisar com ajuda do quadrado do intervalo invariante do espa¸co-tempo no cone de luz se ´e poss´ıvel encontrar uma rela¸c˜ao que nos mostre se o sinal da energia no cone de luz est´a associado ao sinal do qua-drado do intervalo invariante. Usando a Eq. (9) para reescrever a Eq. (7), temos

ds2 = (

dx++dx

2 )2

−dx2−dy2−

( dx+

−dx−

2 )2

= 2dx+dx−−dx⊥2. (12) N˜ao escolheremos, como usualmente se faz, a coor-denada x+ como o “tempo” no cone de luz, mas usa-remos o tempo pr´oprio τ e a massa de repouso m0, pois s˜ao invariantes por mudan¸ca de referencial. Dessa forma

ds2

dτ2 = 2v +v

−v⊥2

m2 0ds2

dτ2 = 2k +k

−k⊥2, (

m0 ds dτ

)2

= 2k+k

−k⊥2, (13)

em que usamosv+,−,⊥= dx+,−,⊥ dτ ek

+,−,⊥=m

0v+,−,⊥, e sendo ds/dτ=±c, teremos

c2m2

0= 2k+k

−k⊥2

k−

= c 2m2

0+k

⊥2

2k+ . (14)

Vemos na Eq. (13) que, no cone de luz, n˜ao pode-mos associar o sinal da energia ao quadrado do intervalo invariante como anteriormente. A rela¸c˜ao dada pela Eq. (14) ´e exatamente a que encontramos na Eq. (11). O sinal negativo para a energia – ou seja, a existˆencia de anti-part´ıculas – ´e arbitr´aria, atrav´es da escolha do sinal de k+. Al´em disso, nas coordenadas do cone de luz, como os sinais de k− e de k+ est˜ao vinculados, n˜ao h´a a possibilidade do aparecimento simultˆaneo de part´ıculas e antipart´ıculas.

4.

Conclus˜

ao

Como na dinˆamica da part´ıcula no cone de luz o sinal da energiak−

est´a vinculado com o sinal dek+, a escolha do sinal ´e totalmente arbitr´aria. Sendo assim, fica claro que n˜ao ´e poss´ıvel termos part´ıculas e antipart´ıculas si-multaneamente, uma vez escolhido o sinal, teremos um ou o outro, mas n˜ao os dois o mesmo tempo.

Esse resultado, muitas vezes referido como triviali-dade do v´acuo, na realitriviali-dade ´e apenas um artif´ıcio da

forma de descri¸c˜ao da dinˆamica no cone de luz, nada tendo a ver com a experiˆencia. Os resultados experi-mentais nos garantem que h´a part´ıculas e antipart´ıculas subsistindo simultaneamente e que o v´acuo quˆantico n˜ao ´e trivial.

No espa¸co-tempo da dinˆamica na forma instantˆanea a rela¸c˜ao de energia-momento ´e uma rela¸c˜ao quadr´atica, de onde surge naturalmente os estados com energia positiva e negativa respectivamente interpretados`a la Feynman como part´ıculas e antipart´ıculas. Tal n˜ao ocorre quando utilizamos o espa¸co-tempo de Minkowski no cone de luz, onde a rela¸c˜ao de Einstein entre ener-gia e momento ´e linear mas agora os sinais da enerener-gia k−

e do momento k+ est˜ao vinculados. Desta forma, o espa¸co de Fock dos estados quˆanticos das part´ıculas cont´em apenas part´ıculas (ou antipart´ıculas — a esco-lha ´e apenas uma quest˜ao de conven¸c˜ao). Processos f´ısicos onde antipart´ıculas aparecem, no formalismo do cone de luz est˜ao “camuflados” como efeitos subjacen-tes do modo zero - a singularidade da energia no limite quandok+

→0. Este fato introduz muitas sutilezas na forma da dinˆamica no cone de luz por ser uma dinˆamica singular.

Agradecimentos

L.A. Soriano agradece o apoio financeiro da CAPES. J.H.O. Sales agradece o apoio da FAPESB-Propp 00220.1300.1088 e a hospitalidade do Instituto de F´ısica Te´orica, UNESP, onde parte desse trabalho foi desen-volvido.

Referˆ

encias

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