Análise do processo de t rabalho
em laborat órios de pesquisa em saúde:
uma propost a de invest igação
Analysis o f the wo rk p ro ce ss in he alth re se arch
lab o rato rie s: a p ro p o sal fo r inve stig atio n
1 Departam en to d e Form ação Profission al em Ciên cia e Tecn ologia em Saú d e, Escola Politécn ica d e Saú d e Joaqu im Ven ân cio, Fu n d ação Osw ald o Cru z . Av. Brasil 4365, Rio d e Jan eiro, RJ 21045-900, Brasil.
M árcia d e Oliveira Teix eira 1
Abst ract Th is article p resen ts a p rop osal for an alyz in g th e w ork p rocess in volved in bu ild in g tech n oscien tific k n ow led ge in th e h ealth field , focu sin g on th e w ork d evelop ed by research labo-ratory tech n ician s in th e Osw ald o Cru z Fou n d ation . Begin n in g w ith an in -d ep th d escrip tion of th e tech n ician s’ laboratory activities, w e d iscu ss th e relation sh ip betw een th e variou s stages of w ork an d th e d ifferen t actors, th e tech n ician s’ valu e as actors in th e p rocess of bu ild in g k n ow led ge, an d variou s actors’ p ercep tion s of h ow essen tial th is w ork is. We attem p t to ou tlin e th e con -text in w h ich th e w ork p rocesses in h ealth scien ces laboratories w ere in corp orated in to an an aly-sis of th e w ork p rocess in h ealth . By establish in g a d ialogu e w ith th e sociology of scien ce, w e p re-sen t ou r p rop osal as an attem p t to in trod u ce n ew social scien ces ap p roach es for an alyz in g th e w ork p rocess, sp ecifically as ap p licable to an an alysis of w ork in th e h ealth field .
Key words Laboratory Person n el; Laboratories; Tech n ology in Health ; Health M an p ow er
Resumo Este artigo ap resen ta u m a p rop osta d e an álise d os p rocessos d e trabalh o en volvid os n a con stru ção d e con h ecim en tos tecn ocien tíficos n o cam p o d a saú d e, con cen tran d o-se n o trabalh o d esen volvid o p elos técn icos d e n ível m éd io, em laboratórios d e u n id ad es d e p esqu isa d a Fu n d a-ção Osw ald o Cru z . Partin d o d e u m a d escria-ção d en sa d as ativ id ad es d esen v olv id as n o in terior d estes laboratórios p or tais técn icos, d iscu tim os: as in terações en tre as várias etap as d o trabalh o e seu s d iferen tes atores, a valoriz ação d os técn icos en qu an to atores d o p rocesso d e con stru ção d e con h ecim en tos, bem com o a p ercep ção d e su a essen cialid ad e p elos d iferen tes atores. Com o etap a fu n d am en tal d a d iscu ssão d esta p rop osta, p rocu rarem os d elin ear a con ju n tu ra n a qu al os p ro-cessos d e trabalh o em laboratórios d e ciên cia e tecn ologia em saú d e foram in corp orad os à an ali-se d os p rocessos d e trabalh o em saú d e. Em ali-segu id a, a p artir d o estabelecim en to d e u m in ten so d iálogo com as p rop osições d a sociologia d a ciên cia, situ arem os n ossa p rop osta com o u m a ten -tativa d e in corp orar n ovas abord agen s d o cam p o d as ciên cias sociais à an álise d o p rocesso d e trabalh o. Ao faz ê-lo, colocam os com o u m a d e n ossas p rin cip ais qu estões a p ossibilid ad e d este in stru m en tal ad equ ar-se a u m a an álise, cu jo eixo é o p rocesso d e trabalh o em saú d e.
Introdução
Este artigo tem com o p rin cip al ob jetivo a d is-cu ssão d e u m a p rop osta d e an álise d o p roces-so d e tra b a lh o d e técn ico s d e n ível m éd io em lab oratórios d e C&T em saú d e, q u e vem sen d o d esen volvid a p ela Escola Politécn ica d e Saú d e Jo a q u im Ven â n cio EPSJV/ Fio cru z ( Teixeira , 1994). Nossa d iscu ssão p arte d a im p ossib ilid a-d e a-d e co m p reen sã o a-d o p ro cesso a-d e tra b a lh o d o s técn ico s d e n ível m éd io, n o s la b o ra tó rio s d e p esq u isa e d esen volvim en to (P&D) d a Fu n -d ação Oswal-d o Cru z, -d issocia-d a -d a in teligib ili-d a ili-d e ili-d o p ró p rio p ro cesso ili-d e co n stru çã o ili-d o s con h ecim en tos tecn ocien tíficos. Procu ram os, p or con segu in te, in corp orar à an álise d os p ro-cessos d e trab alh o em saú d e u m in stru m en tal teó rico m eto d o ló gico vo lta d o à co m p reen sã o d o s p ro cesso s d e co n str u çã o d o s sa b eres tec-n o cietec-n tífico s, su a legitim a çã o e d ifu sã o p ela socied ad e. Deste m od o, colocam os com o u m a d e n o ssa s p rin cip a is q u estõ es a p o ssib ilid a d e d e este in stru m en tal se ad eq u ar a u m a an álise cu jo eixo é o p rocesso d e trab alh o em saú d e.
A invisibilidade do t rabalho t écnico e as análises do processo de t rabalho em saúde
A trajetória d a tem ática d os recu rsos h u m an os em sa ú d e, à q u a l a a n á lise d o s p ro cesso s d e tra b a lh o está a rticu la d a , co n fu n d e-se co m o p ró p rio m ovim en to d e a p roxim a çã o e in tera -çã o en tre a s ciên cia s socia is e a s ciên cia s b io-m éd ica s (Mercer, 1985; Nu n es 1985a e b ). Ao lo n go d a s três ú ltim a s d éca d a s, esta tem á tica foi m arcad a p ela in trod u ção d e n ovos referen -cia is teó rico s e m eto d o ló gico s, resu lta n d o n a u tiliza çã o p ro gressiva d a s ca tego ria s d e fo rça d e trab alh o, p rofissões em saú d e, e m ais recen -tem en te d e p ro cesso s d e tra b a lh o s em sa ú d e. As m eta m o rfo ses so frid a s p o r essa tem á tica , além d e trad u zirem tran sform ações n o in terior d o cam p o d a saú d e, acom p an h am a d in âm ica d as ciên cias sociais, q u e se d eslocam em d ire-ção à sín tese teórica en tre a aire-ção e a estru tu ra, a p ó s d u a s d éca d a s d e p ro fu n d a p o la riza çã o, op on d o as escolas d e m acroteorização, d e viés estru tu ra lista , à s d e m icro teo riza çã o, sen d o, en tretan to, id en tificad as às p rop ostas fen om e-n o ló gica s (Alexa e-n d rer, 1987). Deste m o d o, é p o ssível in serirm o s a s ca tego ria s d e fo rça d e trab alh o e p rofissões em saú d e n o in terior d es-te m ovim en to p en d u la r, en tre a estru tu ra e a a çã o : en q u a n to a fo rça d e tra b a lh o evo ca u m “agen te su bord in ad o à organ iz ação social d a p rod u ção e d istribu ição d os serviços” (Sch ra
i-b er & Ped u zzi, 1992:15-16), a categoria d e p ro-fissões em saú d e n os rem ete à n oção d e su jeitos p len os d a a çã o (op.cit). No ca m p o d a sa ú -d e, esse m ovim en to -d e sín tese m a n ifesta -se p ela crescen te u tiliza çã o d a ca tego ria d e p ro
-cesso s d e tra b a lh o em sa ú d e e p ela reto m a d a d a ca tego ria d e recu rso s h u m a n o s em sa ú d e (Gon çalves, 1992).
De m od o geral, o con ju n to d estas an álises, referen cia d a s p o r d iferen tes a b o rd a gen s d o cam p o d as ciên cias sociais, gu ard a algu m as si-m ilitu d es en tre si, d as qu ais d estacasi-m os o fato d e p ren d erem -se q u a se q u e exclu siva m en te aos p rofission ais d e n ível su p erior, com n ítid o p rivilégio d o s m éd ico s, e a o s serviço s d e sa ú -d e. Nos ú ltim os an os, com o p arte -d a ten -d ên cia de discu tir as p ráticas de saú de cotidian am en te rea liza d a s d en tro d e p ostos d e sa ú d e e h osp itais, ou tros p rofission ais len tam en te foram in -corp orados à an álise, con tu do ain da carecem os d e u m olh ar m ais m in u cioso sob re os q u ad ros d e n ível m éd io. Além d isso, se o u n iverso d e técn ico s d e la b o ra tó rio e a u xilia res d o s ser vi-ços de saú de ain da p erm an ece em p arte desco-n h ecido, qu adesco-n do desco-n os voltam os p ara os técdesco-n icos vin cu lad os aos lab oratórios d e C&T em saú d e, p assam os a n avegar p or u m terren o ain da in ex-p lorado. As an álises dos diferen tes ex-p rocessos de tra b a lh o em sa ú d e co n tin u a m , em su a m a io r p arte, p resas ao setor de serviços de saú de, ap e-sar d o fortalecim en to d o p ap el d as in stitu ições d e p esqu isa e d esen volvim en to n o setor saú d e.
con cep ção in d ivid u alista d as ciên cias, qu e n e-ga su a d im en são d e con stru ção coletiva:
“Essa é m ais u m a in terp retação qu e faz d a d escoberta cien tífica u m a esp écie d e revelação, u m breve lam pejo do gên io in dividu al, em con -traste com os esforços prolon gados de u m traba-lh o coletivo. De fato, as n u m erosas an edotas n os fazem p en sar qu e m esm o h oje, à ép oca d a “big scien ce”, essa con cep ção in dividu alista da ciên -cia com o revelação está presen te. Ela con stitu i a base cu ltu ral qu e ex p lica a in visibilid ad e d os técn icos e d e ou tras categorias p rofission ais as-sociadas à p esqu isa cien tífica, daí advém n ossa ten d ên cia d e ver a ciên cia com o u m a ativid ad e p u ram en te in telectu al m ais d o qu e com o u m trabalh o” (Sh ap in , 1991:330).
Pod em os red esen h ar u m a série d e con tex-to s, q u e, a rticu la d o s, p o ssib ilita rã o a ‘fertili-za çã o’ d a p ro b lem a ti‘fertili-za çã o d o s p ro cesso s d e trab alh o em in stitu ições d e p esq u isa e d esen -volvim en to n o cam p o d a saú d e. Destacam os a elab oração e im p lem en tação d o Plan o d e Car-reira d e Ciên cia e Tecn o lo gia , o q u a l, a o esti-m u la r a reco n figu ra çã o d e a lgu esti-m a s ca rreira s, term in ou p or torn ar p aten te o descon h ecim en -to d e a lgu n s p ro cesso s d e tra b a lh o s a í in clu í-d os. Este í-d escon h ecim en to reap arece, co n sti-tu in d o-se com o segu n d o fator, q u an d o se d is-cu te a ca p a cita çã o d o s p ro fissio n a is d e n ível m éd io d as in stitu ições d e C&T em saú d e, p ois a an álise d as d eficiên cias e a seleção d as p ossí-veis d iscip lin as oferecid as esb arram con tin u a-m en te n a carên cia d e in fora-m ações sob re as ati-vid a d es co tid ia n a s d esen vo lati-vid a s p o r esses p rofission ais, sob retu d o p orq u e os vários p ro-cessos d e trab alh o d e u m d eterm in ad o lab ora-tório, ap esar d e gu ard arem d iferen ças en tre si, são in terd ep en d en tes e d e d ifícil com p reen são qu an d o fragm en tad os.
Na s a n á lises vo lta d a s à in vestiga çã o d o s p ro cesso s d e tra b a lh o n o seto r d e ser viço s d e saú d e, a id en tificação d o d escon h ecim en to d as a tivid a d es rea liza d a s, p rin cip a lm en te p elo s trab alh ad ores d e n ível m éd io, aliad a à n ecessi-d aecessi-d e ecessi-d e resgatar as con ecessi-d ições sociais ecessi-d e reali-za çã o d os d iferen tes p rocesso d e tra b a lh o em saú d e resu ltaram em u m m ovim en to d e forta-lecim en to d o in stru m en tal m etod ológico clás-sico d a an trop ologia, n o in terior d o cam p o d a sa ú d e. Nos ú ltim os a n os, d iscern im os u m a u -m en to n o n ú -m ero d e d isserta çõ es vo lta d a s à in vestigação d a d in âm ica assu m id a p elo trab alh o n o s ser viço s d e sa ú d e, b em co m o a s m u -d an ças trazi-d as p ela in tro-d u ção -d e n ovas tec-n ologias, ap oiad as tec-n a recotec-n stru ção d a h istória d e vid a, n a ob servação m in u ciosa d as ativid a-d es cotia-d ian as e n a an álise a-d e a-d iscu rso (Sch rai-b er, 1993; Gon çalves, 1994).
Com o terceiro p on to, su b lin h am os os qu es-tio n a m en to s em to rn o d a s rela çõ es en tre a s tecn ociên cias e a socied ad e, trad u zid os n a rá-p id a d issem in ação d os Estu d os d e Lab oratório n o País, a p artir d a d écad a d e 80, qu e estab ele-cem u m a rica e in ten sa in terlocu ção com a et-n o m eto d o lo gia , co m p a rtilh a et-n d o p ro b lem á ti-cas e categorias d e an álise, às q u ais retorn are-m os are-m ais ad ian te, p ois, an tes d e exp licitarare-m os q u ais características d istin gu em os Estu d os d e La b o ra tó rio, é n ecessá rio exp o r o referen cia l teó rico -m eto d o ló gico so b re o q u a l eles estã o assen tad os.
Uma abordagem sociológica das t ecnociências
As ú ltim a s d éca d a s a ssistira m à rá p id a d isse-m in ação d e u isse-m a n ova rep resen tação social d as tecn ociên cias, n a qu al estas são trad u zid as co-m o u co-m co-m od o p articu lar d e con stru ir en u n cia-d os reorgan izan cia-d o o m u n cia-d o, exercício qu e n ão p o d e ser d esco n ecta d o d o co n texto so cia l n o q u al esta con stru ção é efetu ad a. As tecn ociên -cia s n ã o co n stitu em u m ca m p o so b era n o, regu la d o p o r n o rm a s gera d a s n o in terio r d a co -m u n id a d e cien tífica , n ã o d ia lo ga -m si-m p les-m en te coles-m a socied ad e, estão, p elo con trário, m ergu lh ad as n os im p asses p olíticos, econ ôm i-cos e ju ríd ii-cos q u e as p erm eiam . De certo m od o, e xp re ssõ e s co m o od ia lo ga r e liga r sã o im -p ró -p ria s, a o re a firm a re m a e xistê n cia d e in s-tân cias au tôn om as, u m a vez q u e estam os tra-tan d o d e cam p os cu ja existên cia en qu an to tais se p au ta n a m istu ra, n o laço ap ertad o e in d is-sociável, n a in terd ep en d ên cia. É p ossível p re-cisa rm o s co m rigo r em q u a l m o m en to a p es-q u isa atôm ica p erd e su a ‘p u reza’, su a es-q u alid a-d e a-d e essen cia l e em in en tem en te cien tífica , ‘en rolan d o-se’ com a p olítica e a econ om ia? E a Aid s, p od e ser efetiva m en te en cla u su ra d a co-m o u co-m a q u estã o cien tífica e d e sa ú d e? O d es-co m u n a l im p u lso em su a s p esq u isa s só p o d e ser com p reen d id o caso am p liem os n osso cam -p o d e an álise; in clu iríam os, en tão, o -p od er -p o-lítico e eco n ô m ico d a co m u n id a d e gay, a d is-p u ta d os gra n d es con glom era d os fa rm a cêu ti-co s en vo lven d o m erca d o s, a s p o lêm ica s em to rn o d o co m p o rta m en to sexu a l n a s ú ltim a s d écad as e o p recon ceito.
En tretan to, recon h ecer a u n icid ad e d os la-ços e fios, q u e atam em u m a esp écie d e tecid o sem costu ra as tecn ociên cias, a p olítica, a eco-n o m ia e to d o s o s ca m p o s a b riga d o s so b re a égid e d o social, n ão b asta, caso a m eta seja tor-n a r esta m a lh a ú tor-n ica itor-n teligível. Rep etim o s co m certa co n tu m á cia q u e a s tecn o ciên cia s são con stru íd as socialm en te, m as d e fato o qu e isso sign ifica ? Co m o essa a rticu la çã o d en sa m a n ifesta -se co tid ia n a m en te n a s b a n ca d a s, n as salas d e reu n ião e em tod a sorte d e even tos tecn ocien tíficos? De q u e m od o as ciên cias sociais, e em esp ecial a sociologia, p od eriam in vestiga r a s tecn o ciên cia s co m o p rá tica s so -ciais? (Latou r, 1989)
Um n ovo ca m in h o fo i a b erto, n o fin a l d a d éca d a d e 60, p o r u m gru p o m u ltid iscip lin a r d a Un iversid a d e d e Ed im b u rgo, co n stitu íd o p or lin gü istas, filósofos, sociólogos e m atem á-ticos, u n id os p ela in q u ietação d ian te d as p rop o siçõ es so cio ló gica s e filo só fica s n a a b o rd a -gem d as tecn ociên cias. Recolh en d o in flu ên cias d e u m am p lo lequ e d e au tores e d iscip lin as, to-m a ra to-m co to-m o p o n to d e p a rtid a a n o çã o d e co n stru çã o so cia l d o s co n h ecim en to s tecn o -cien tífico s, d efen d en d o a rd o ro sa m en te a n e-cessid ad e d e se in corp orar o con teú d o d as p es-qu isas ao cam p o d e an álise. Esse p rin cíp io p o-d e ser ap on tao-d o com o in stau rao-d or o-d o Program a Forte eProgram Sociologia d o Con h eciProgram en to, cu -ja s p ro b lem á tica s cen tra is circu la m a o red o r b asicam en te d e d ois p on tos (Bloor, 1976): a) a ru p tu ra com a n oção d e qu e as tecn ociên -cia s, a p o lítica , a eco n o m ia , o d ireito, co n sti-tu em esfera s a to m iza d a s, p o d en d o, p o rta n to, ser com p reen d id as sep arad am en te;
b ) a estreita in ter-relação en tre estes cam p os está tra d u zid a n o co n teú d o d o s en u n cia d o s tecn o cien tífico s, o s q u a is se to rn a m p a rte d a an álise sociológica d as p ráticas cien tíficas.
A sociologia n ão d everia lim itar-se a in ter-ro ga r co m o o so cia l in flu en cia o s resu lta d o s d as p esqu isas, p assan d o a com p reen d ê-los com o fru to d e u com co n texto co n stitu íd o p ela in -terseção d e m ú ltip las d im en sões, sim u ltan em en te tran sforem an d o-as e sen d o tran sforem a-d o p or elas.
As p rop osições d o Program a Forte m istu ra-d as com ou tras aborra-d agen s, tam b ém m arcara-d as p elo ca rá ter m u ltid iscip lin a r, d era m origem a u m a série d e estu d os, con form an d o u m cam p o d e a n á lise – ca m p o d o s Estu d o s So cia is d a s Ciên cias e d as Técn icas –, cu ja u n icid ad e resi-d e n a p ersp ectiva resi-d e iresi-d en tificar a tessitu ra so-cial n os p róp rios con teú d os d as p esqu isas tec-n ocietec-n tíficas. Detec-n tro d este itec-n tetec-n so m ovim etec-n to d e tran sform ação d as ab ord agen s sociológicas d as tecn ociên cias, u m gru p o d istin gu e-se p ela
in co rp o ra çã o d e in stru m en ta is etn o grá fico s p ara an alisar as p ráticas realizad as n os lab oratórios, fu n d an d o a corren te d e Estu d os d e La -b oratório. A m icroan álise d as p ráticas cotid ian a s é d efeian d id a co m o ú ian ico m o d o d e co m p reen d er a com p lexid ad e d as ativid ad es cien -tífica s (La to u r & Wo o lga r, 1988). A So cio lo gia d as Ciên cias (Sociologia d a In ovação, p ara Mi-ch el Callon , ou d as Associações, com o p refere Bru n o Latou r), e em esp ecial os Estu d os d e La-b o ra tó rio, p a rtem d a o p o siçã o a o u tra s a La-b o r-d agen s, q u e circu lam p elo cam p o r-d os Estu r-d os So cia is d a s Ciên cia s e d a s Técn ica s, p a ra to r-n ar as relações er-n tre as tecr-n ociêr-n cias e a socied a socied e m a is co m p reen síveis. Essa s crítica s p o -d em ser aglu tin a-d as em três p on tos b ásicos: a) De m o d o gera l, a o p o sicio n a rem -se fo ra d os lab oratórios, estas ab ord agen s term in aram exclu in d o d e seu cam p o d e an álise o con teú d o em si d as p esqu isas. A in terseção en tre as ciên -cias, as técn icas e o social é ap reen d id a d a an álise d o d iscu rso d os p esq u isad ores, d as com u -n ica ções form a is e i-n form a is, d a p rod u çã o d e texto s cien tífico s, d eb a tes em to rn o d a ética cien tífica, d os fóru n s d e d ivu lgação e in terface com gru p os d e p ressão n ão cien tíficos. A an álise p arte d e fatos p ron tos, n ão p rob lem atizan -d o a s co n -d içõ es -d e su a p ro -d u çã o, a ten -d o -se m a is à d ifu sã o d o s co n h e cim e n t o s n a so cie -d a-d e.
b ) Ao p ro m overem u m a crítica co n tu n d en te ao cen tralism o d as ab ord agen s econ om icistas e cien tificista s, a lgu n s estu d o s term in a m su -p ervalorizan d o a d im en são social, d escon sid e-ra n d o co m p leta m en te o s fa to res essen cia lm en te cien tíficos, os q u ais talm b élm con d icio -n am as p esqu isas.
c) A con seqü ên cia direta deste m odo de recor-ta r o ca m p o d e a n á lise é a reifica çã o d a in d e-p en d ên cia d as tecn ociên cias, reafirm an d o qu e as d ecisões resp ald am -se n o ju lgam en to p u ra-m en te cien tífico. Corre-se o risco, p ortan to, d e d escon ectarem -se m ais u m a vez as ciên cias, as técn icas e o social. A com u n idade cien tífica adq u ire gran d e au ton om ia com o in stân cia regu lad ora/ legitim ad ora, m ed ian d o as relações en tre os p esqu isadores, su as escolh as e as dem an -d as sociais exp ressas p or -d iferen tes gru p os.
a d in âm ica d e su as relações, u m a vez qu e os fa-tos/ artefatos tecn ocien tíficos caracterizam -se p or n ão serem d e ord em em in en tem en te n atu -ra l e n em in tei-ra m en te so cia l, sã o elem en to s h íb rid os, d efin id os com o u m a con figu ração assu m id a p o r u m a a sso cia çã o d e a to res e ca m -p os in terd e-p en d en tes (social/ tecn ocien tífico). Os sociólogos id en tificad os com essa p rop osta teórico-m etod ológica p rocu ram com p reen d er a d in âm ica d essa associação (Latou r, 1994), n a q u al d iferen tes atores geram áreas d e in flu ên -cia – cam p os d e força – cap azes d e fortalecer o la b o ra tó rio d en tro d e seu ca m p o d iscip lin a r, d irecion an d o d ecisões in tern as e extern as, fa-vo re ce n d o a tra n sfe rê n cia d e co n h e cim e n to s lo ca lm e n te co n stru íd o s p a ra a so cie d a d e. Ao d eclararm os qu e os con h ecim en tos tecn ocien -tífico s sã o so cia lm en te co n str u íd o s, esta m o s afirm an d o qu e esses con h ecim en tos são gesta d o s a o lo n go e segu n d o a in ten sid a d e d o em -b ate d e forças sociais e tecn ocien tíficas, m an ob rad as e reu n id as p elos p esq u isad ores, n o in terio r d o s la b o ra tó rio s. In terp reta m o s o s co -n h ecim e-n tos tec-n ocie-n tíficos com o p rod u tos d e u m con ju n to d e a ções a lta m en te p olítica s,
acarretan d o, com o coloca Lévy (1993), a id en -tificação d os p esq u isad ores en q u an to h om en s p olíticos, p reocu p ad os sim u ltan eam en te com p rocessos em in en tem en te sociais e com a “en
-gren agem com p licad a d as coisas”(Lé vy, 1993: 55).
O s est udos de laborat ório
Con cen trar-n os-em os n os Estu d os d e Lab ora-tório, com o in tu ito d e localizá-los n o in terior d as p rop osições teórico-m etod ológicas d a So-ciologia d a Ciên cia, exp licitan d o su a esp ecifi-cid ad e, b em com o a d e n ossa p róp ria p rop os-ta. Su a in terp retação d o p rocesso d e ‘p rod u ção’ d o s co n h ecim en to s tecn o cien tífico s, gera l-m en te ch al-m ad a d e ‘con stru tivista’, ap óia-se n a im p o ssib ilid a d e d e se rea liza r u m a in vestiga -ção d os con h ecim en tos p rod u zid os d issociad a d a in teligib ilid a d e d a s p rá tica s q u e os con sti-tu íram .
Qu an d o ab an d on aram as exp licações con -cen tra d a s n a a n á lise d e p ro d u to s já p ro n to s, d efen d en d o a in co rp o ra çã o d a d iscu ssã o d o s co n teú d o s d a s p esq u isa s rea liza d a s n o s la b o-ratórios, os sociólogos b u scaram recon stru ir o p rocesso d e p esqu isa, ao lon go d o qu al en contra re m o s a p e n a s e n u n cia d o s frá ge is e ca m -b ian tes. A in vestigação se con cen tra n os la-b ora tó rio s, esp a ço d e p ro d u çã o d e fa to s e rela -çõ es so cia is, rep resen ta d o s co m o u m ca m p o con flitu a l, on d e d iferen tes força s oriu n d a s d e
d iversa s á rea s (p o lítica s, eco n ô m ica s, ju ríd i-cas) in teragem cotid ian am en te. A viab ilização d esta p rop osta recai n a escolh a d e in stru m en -tais qu e assegu rem o acesso aos m icroeven tos, os qu ais con form am o con texto social d e con s-tru çã o d e u m d eterm in a d o co n h ecim en to o u artefato tecn ocien tífico. Os Estu d os d e Lab ora-tório trad u zem a op ção p or u m a an álise d en sa d o cotid ian o d os lab oratórios d e p esqu isa, am -p lam en te in flu en ciad a -p elo in stru m en tal clás-sico d a an trop ologia. A ob servação e o registro m in u ciosos d as atitu d es e p ráticas, execu tad as p elo con ju n to d e trab alh ad ores en volvid os n as ativid ad es d e p esq u isa, são aliad as às técn icas d e a n á lise d e d iscu rso e à reco m p o siçã o d a s tra jetó ria s in d ivid u a is, p o r m eio d o s rela to s e d a a n á lise d o cu m en ta l, p a ra a reco n stitu içã o d o p rocesso d e con stru ção d os con h ecim en tos tecn ocien tíficos. Os sociólogos esp eram id en -tifica r a s situ a ções con tin gen cia is, os in teres-ses e d isp u tas, q u e in flu en ciam as d ecisões tom a d a s p elo s p esq u isa d o res a o lo n go d o p ro cesso d e con stru ção d os con h ecim en tos tecn o -cien tífico s, p o sterio rm en te ju stifica d a s co m o sen d o cien tificam en te ad equ ad as.
Os au tores id en tificad os com os Estu d os d e Lab oratório p rom ovem u m a in stigan te e in u si-ta d a etn ogra fia d os la b ora tórios, b a sea d a n os estu d os d e cu ltu ras n ão ocid en tais e d e gru p os u rb an os e ru rais, em p regan d o a an álise d e d is-cu rso com su as d iferen tes escolas e, sob retu d o, a ob servação p articip an te. Essa ap rop riação d o in stru m en ta l a n tro p o ló gico d e a n á lise o co rre n o m o m en to em q u e ele p a ssa p o r a lgu m a s tran sform ações, im p u lsion ad as p ela u rb an izaçã o e o cid en ta liza izaçã o d o o b jeto d e in vestiga -ção, u m a vez q u e o d istan ciam en to d o u n iver-so d e relações m an tid o p elos an trop ólogos foi d esfeito. Co m o o b ser vo u Mo n tero (1993), a glob a liza çã o d os p a d rões cu ltu ra is ocid en ta is a b a lo u o s três p ila res fu n d a m en ta is so b re o s q u a is se a ssen tou a reflexã o a n trop ológica : “o trabalh o d e cam p o, a in terp retação d o ou tro, a au toria” (Mo n tero, 1993:161). A a p roxim a çã o relativa d o ‘ou tro’ resu ltou n a sob rep osição d as técn icas d e an álise d e d iscu rso, p ara recon stru çã o d a s tra jetó ria s in d ivid u a is d o s in fo rm a n -tes, co n q u a n to a en trevista seja seu p r in cip a l m aterial em p írico, além do em p rego m ais sistem ático de técn icas de p erfil qu an titativo. Os an -trop ólogos, tra d icion a lm en te en volvid os com o p ro b lem a d o reco rte etn o grá fico, vêem -se d ian te d a n ecessid ad e d e con stru ção d e m ú ltip lo s u n iverso s d e o b ser va çã o e d a in co rltip o ra -ção d e n ovos h orizon tes con ceitu ais, fru tos d a in terlocu ção com ou tras d iscip lin as.
registro d e atitu d es, extrem am en te m arcan tes n a etn ografia clássica, cen trais n os Estu d os d e Lab oratório. Um a d iferen ça en tre estes estu d os e a etn o gra fia d e gru p o s so cia is u rb a n o s é a b u sca , p o r esses ú ltim o s, d e u m a in tera çã o sim b ólica com o ob jeto (id en tifica çã o com os va lo res e a n seio s) e o s q u estio n a m en to s em torn o d os resu ltad os d a p esq u isa p ara o gru p o estu d a d o (Ca rd oso, 1988; Du rh a m , 1988). Sã o q u estões q u e ocu p am gran d e p arte d os textos ela b o ra d o s va len d o -se d a sistem a tiza çã o d o s estu d os d e caso u rb an os, m as q u e n ão são ex-p licitad as ex-p elos Estu d os d e Lab oratório.
A u tilização d a ob servação p articip an te co-m o t é cn ica d e p e sq u isa p r ivile gia d a a ce n t u a n o s Estu d o s d e La b o ra tó rio a n ecessid a d e d e registrar os p ap éis d esem p en h ad os p elos p esqu isad ores e técn icos, tip ifican d o algu n s com -p ortam en tos e con fron tan d o-os com o d iscu r-so fo rm u la d o p elo s p ró p rio s a to res. A a n á lise d os d iscu rsos n ão p od e ser d escartad a, con tu -d o co rre m o s p e rm a n e n te m e n te o risco -d e fi-ca rm os refén s d a s exp lifi-ca ções ela b ora d a s p e-lo s in fo r m a n t e s, se m a co n fro n t a çã o co m a t ra je t ó r ia d e vid a d e ca d a u m e a o b se r va çã o d e su a s a t ivid a d e s e a t it u d e s. Id e n t ifica m o s n o s Est u d o s d e La b o ra t ó rio u m e sfo rço p a ra e n ge n d ra r m e t o d o lo gia s d e p e sq u isa q u e re -cu p erem o equ ilíb rio en tre a an álise d e d is-cu rso, a re co n st ru çã o d a h ist ó ria d e vid a e a o b servação p articip an te. Afin al, o desejo de ab an d on a r su a con d içã o d e estra n geiro, a lim en ta -d o p elos p esqu isa-d ores, n ão im p lica a -d estitu ição d a cap acid ad e d e su rp reen d erse, qu e fu n -d am en ta o ‘olh ar’ an trop ológico sob re o ou tro, m esm o qu e este ‘ou tro’ já n ão seja efetivam en -te ou tro.
Os Estu d os d e Lab oratório p rocu ram resga-tar os m étod os (etn om étod os) em p regad os p e-los in d ivíd u os (p esq u isad ores e técn icos) p ara rea liza rem a s a tivid a d es d e p esq u isa n o in te-rio r d o s la b o ra tó te-rio s – a s esco lh a s, d ecisõ es, n egociações, ações e sen tid os –, u m a vez qu e a in teligib ilid ad e d o p rocesso d e con stru ção d os co n h ecim en to s tecn o cien tífico s rep o u sa n a com p reen são e ap reen são d as p ráticas q u e os con stitu íram . Segu n d o os etn om etod ólogos, os fatos sociais n ão existem en q u an to realid ad es efetivas (q u e fazem sen tid o) q u an d o exclu íd os d o co n ju n to d e p rá tica s q u e o s co n stitu íra m , d ep en d en d o d e su a recon textu alização – a re-ferên cia a u m a d eterm in ad a situ ação (Cou lon , 1995; Den zin , 1984). Tod o o p rocesso d e legiti-m ação (valid ação cien tífica) d e u legiti-m en u n ciad o, b em com o seu p róp rio con teú d o são resu ltan -tes d a a rticu la çã o d e u m co n ju n to p reciso d e p rá tica s – d e m éto d o s – u tiliza d a s, co m p a rti-lh a d a s e co n sta n tem en te a tu a liza d a s p elo s
a to res n o in terio r d o s la b o ra tó rio s. Méto d o s q u e d itam u m m od o p articu lar d e ap reen d er a n a tu reza e o u n iverso so cia l, d e id en tifica r e d elim itar áreas p rob lem áticas, tratan d o-as co-m o ob jetos d e p esq u isa cien tífica, d e for co-m u lar h ip óteses exp licativas, d e colh er e ord en ar in -form ações, e até d e selecion ar o qu e con stitu irá essa in form ação (d ad o), p ara p osteriorm en -te d ivu lga r o s resu lta d o s so b a fo rm a d e u m texto cien tífico ou p rotótip o. Este con ju n to d e p ráticas (d e p roced im en tos) con ced em o cará-ter d e realid ad e, d e cien tificid ad e aos con h eci-m en to s gera d o s n o s la b o ra tó rio s. O sen tid o d estes con h ecim en tos está referid o a u m a d eterm in ad a situ ação, ao con texto d e su a p rod u -ção, ao con ju n to, p ortan to, d e m étod os m an i-p u lad os e tran sform ad os i-p elos atores cotid ia-n a m eia-n te e to d a so r te d e situ a çõ es im p revisí-veis (p olítica s, econ ôm ica s, tecn ocien tífica s), extrem a m en te co n tin gen cia is. Este co n texto, p or seu tu rn o, é m eta m orfosea d o p elos sen tid o s em co n stru çã o n o in terio r tid o s la b o ra tó -rios, ou seja, p elos p róp rios ob jetos técn icos.
Os Estu d os d e Lab oratório, p ortan to, n ão se a têm à s teo ria s, a o s m eca n ism o s m en ta is d o p ro cesso tecn o cien tífico, m a s à p rá tica em si d a p esq u isa: a ten são e d isp u ta q u e p erm eiam o rela cio n a m en to en tre o s a to res, a s n ego cia -ções realizad as p elos p esqu isad ores p ara asse-gu rar o flu xo d e recu rsos, p ara ap rovar u m a n o-va lin h a in vestiga tio-va o u escrever u m a rtigo com os ú ltim os resu ltad os ob tid os p elo gru p o. Procu ram segu ir os atores em seu p érip lo coti-d ian o en tre os vários p ólos coti-d e u m a m esm a re-d e re-d e relações, n a q u al a p olítica, a econ om ia, os in teresses d e cad a gru p o e as con trovérsias tecn ocien tíficas, estão m esclad as; vão d a b an -ca d a p a ra a a n te-sa la d a d ireto ria d e a lgu m a a gên cia d e fo m en to, p a ssa m p elo Co n gresso Na cio n a l, e xp õ e m se u s p ro je t o s e m u m p ro -gra m a d e televisã o, p a rticip a m co m o cien tis-tas/ esp ecialistas d e u m a ONG.
Sen do assim , os Estu dos de Laboratório d is-tin gu em -se p elas segu in tes características: a) Ad otam com o su p osição b ásica q u e o p ro-cesso d e p rod u ção tecn ocien tífico é essen cial-m en te con tin gen cial;
b ) o la b ora tório torn a -se u n id a d e m ín im a d e a n á lise, en q u a n to esp a ço d a co n stru çã o d o s con h ecim en tos e m an ip u lação d os etn om éto-d os;
c) os estu d os a p óia m -se n a m icroa n á lise d a s p rá tica s tecn ocien tífica s (a n á lise d os m icro e-ven tos/ m icroações qu e con stitu em aqu ele p ro-cesso);
Ap ós a con stitu içã o d este b reve p a in el, n o qu al p rocu ram os estab elecer os con torn os d as p rop osições teórico-m etod ológicas d a Sociolo-gia d a Ciên cia , e em esp ecia l d o s Estu d o s d e Lab oratório, p assarem os p ara u m a n ova etap a d este texto, n a q u al exp licitarem os n ossa p ro-p o sta d e a n á lise d o ro-p ro cesso d e tra b a lh o d o s técn ico s d e n ível m éd io, em la b o ra tó rio s d e p esq u isa e d esen volvim en to d a Fu n d ação Os-wald o Cru z. Em segu id a, con cen trar-n os-em os n as categorias in icialm en te selecion ad as p ara efetu ar esta an álise.
Uma propost a de análise do t rabalho t écnico em laborat órios de Ciência e Tecnologia em saúde
A recon stru ção d as ativid ad es realizad as coti-d ian am en te p elos técn icos coti-d e n ível m écoti-d io é o eixo con dutor de n osso p ercurso n o in terior dos lab oratórios, atu an d o com o via d e acesso ao con ju n to d e p rob lem áticas qu e d esejam os d is-cu tir. Este acesso p ossibilitará a organ ização de in form ações, d elin ean d o u m p erfil m in u cioso dos técn icos, que con tem p le seu m odo de agir e sua p róp ria visão do m un do de trabalho n o qual ele está in serid o. A p artir d a sistem atização d as rotin as, p reten d em os id en tificar e com p reen -d er: as relações técn ico-p esq u isa-d or, a valori-zação d os técn icos com o atores d o p rocesso d e con stru çã o d os con h ecim en tos tecn ocien tífi-cos, os m ecan ism os p ara o ap rim oram en to p ro-fission al, as p olíticas d e recap acitação qu e p os-sib ilitam este ap erfeiçoam en to. A recon stru ção das rotin as, aliadas à an álise de discu rso, torn a-rá p ossível o rastream en to d e exp ressões, valo-res, m o d elo s e p ro ced im en to s co n stitu id o res de u m determ in ado cam p o discip lin ar, com ba-se n o qu al situ ações são solu cion adas, en u n cia-d os são elab oracia-d os e com p rovacia-d os. Mecia-d ian te a an álise d o d esen volvim en to d o trab alh o d os técn icos d e n ível m éd io, recon stru irem os u m a p arte d o u n iverso d e relações, p rocessos in te-lectu ais e p ráticos, os q u ais con form am o p rcesso de con stru ção dos con h ecim en tos tecn o-cien tíficos. Procu ram os rem on tar m ais d o q u e o agir dos trabalh adores en volvidos n a con stru -ção d as tecn ociên cias, en ten d en d o com o e p or qu e esta ação ocorre. Reafirm am os a n ecessida-d e ecessida-d e com p reen ecessida-d er os fatores con ecessida-d icion aecessida-d ores da con du ta dos técn icos n os laboratórios, in ter-rogan do quais fatores con cedem iden tidade aos técn icos en qu an to atores d o p rocesso d e con s-tru ção d os con h ecim en tos tecn ocien tíficos.
A n ecessid ad e d e eleger u m p rin cíp io, u m a via d e acesso à d in âm ica in tern a d os lab orató-rios tra d u z igu a lm en te o esforço p a ra con
tor-n ar a cotor-n d ição d e estrator-n geiro, exp erim etor-n tad a p elo p esq u isa d o r d ia n te d o u n iverso d a p es-q u isa, facilitan d o a con stru ção d e u m m od elo in terp retativo. O ‘ser estran geiro’ revela-se n o d esco n h ecim en to d a s p rá tica s, d a lin gu a gem rech ead a d e term in ologias técn icas e ab revia-çõ es q u e a s sim p lifica m d a s p ro b lem á tica s e categorias p róp rias ao cam p o d iscip lin ar. Nas b an cad as rep letas d e vid rarias, eq u ip am en tos e a n o ta çõ es, o p esq u isa d o r recém -ch ega d o n ã o en co n tra u m a ‘co erên cia ó tica’ ca p a z d e ap roxim á-lo d esse m u n d o. Este im p acto d ian te d o o u tro, a p erd a to ta l d e referên cia s q u e o orien tassem , foi registrad a p or Latou r & Wool-gar (1988), ao ju stificarem a ad oção d a an álise etn o grá fica em seu estu d o d o In stitu to Sa lk. Reen co n tra m o s, a o lo n go d a exp o siçã o, referên cia s a o s ca d ern o s d e ca m p o, o n d e co p ila -va m o b sessi-va m en te o s d iá lo go s, o d esâ n im o fren te à im b rica d a lin gu a gem u tiliza d a p elo s p esqu isad ores e técn icos, além d e u m rep ertó-rio d e com en táertó-rios, qu e geralm en te p ovoam os textos etn ográficos. Essa via organ iza e aglu tn a itn form ações, tn ão p erm ititn d o qu e o p esqu isad or seja fagocitad o p elo seu d iscu rso articu -la d o, p erd en d o -se em m eio à a p a ren te d eso r-d em im p eran te n os lab oratórios.
“É n ecessário, con tu d o, escolh er u m p rin cí-p io organ iz ad or cací-p az d e lh e forn ecer u m a vi-são d o laboratório su ficien tem en te d iversa d a-qu ela d os cien tistas, m as a-qu e p ossa in teressar tan to os biólogos, qu an to os leigos. Esse p rin cí-p io organ iz ad or d eve ser o fio d e Ariad n e qu e gu ia o observ a d or p elo la birin t o on d e p red o-m in a o caos e a con fu são” (La to u r & Wo o lga r, 1988:35).
A eleiçã o d e u m p rin cíp io o rga n iza d o r se ju stifica , p o rta n to, n a n ecessid a d e d u p la d e en gen d ra r u m a rtifício p a ra a p roxim a r-se d o ou tro, e con com itan tem en te orien tar a coleta e sistem a tiza çã o d e in form a ções. Atra vés d esse p rin cíp io, as p ráticas cotid ian as d o lab oratório e os atores em seu s d iferen tes p ap éis com eçam a fa zer sen tid o, p erm itin d o a co n stru çã o d e m od elos arq u itetad os p elos p esq u isad ores, li-m itad os aos lab oratórios estu d ad os.
Deste m od o, o p on to d e p artid a p ara a exe-cu çã o d essa p ro p o sta é a co n stru çã o d e u m p erfil d eta lh a d o d esses técn ico s, o b ser va n d o as segu in tes etap as:
a) d escrição d e su as ativid ad es;
b ) an álise d as p ercep ções d esen volvid as p elos técn ico s e p esq u isa d o res so b re su a s p ró p ria s ativid ad es e in terações;
c) id en tifica çã o d o s co n h ecim en to s e h a b ili-d a ili-d es, os q u a is con stitu em o sa b er-fa zer ili-d es-tes técn icos;
Acre d ita m o s q u e a u n iã o d a s p ro p o siçõ e s d a Sociologia d a Ciên cia (ou Sociologia d a In o-vação, ou ain d a d as Associações) com as an áli-ses d o p rocesso d e trab alh o em saú d e p od erão con trib u ir:
a) p ara a com p reen são d os d iferen tes p rocsos d e trab alh o en volvid os n a con stru ção d es-tes con h ecim en tos e, p or con segu in te, d o p ró-p rio ró-p rocesso d e con stru ção d as tecn ociên cias; b ) com n ovos d ad os p ara a d iscu ssão p ú b lica d as p ráticas tecn ocien tíficas;
c) p ara a cap acitação d estes p rofission ais, em u m p rocesso qu e p arta d o m u n d o d o trab alh o; d ) p ara a ab ertu ra d e n ovas p ersp ectivas teó -rico -m eto d o ló gica s n a a n á lise d a s p ro fissõ es em saú d e;
e) p ara resgatar p ara as d iscu ssões d as p rofis-sões técn icas em saú d e a d im en são m aterial, o u n iverso d a s co isa s in a n im a d a s e d a s teo r ia s cien tíficas que as cercam , con stituin do seu coti-d ian o, m as q u e p aracoti-d oxalm en te são afastacoti-d as d e d eb ates p resos som en te à d im en são social.
At ores e port a-vozes e o t rabalho nos laborat órios
Um a d as p rin cip ais características d os Estu d os d e La b o ra tó rio é a p o u ca freq ü ên cia co m q u e seu s au tores se d ed icaram à elab oração d e tra-b alh os cen trad os n a sistem atização teórica d e seu s resu ltad os. In variavelm en te, p rivilegiaram a d iscu ssã o d e estu d o s d e ca so, a o lo n go d o s qu ais as categorias e os in stru m en tais m etod oló gico s em p rega d o s sã o a p resen ta d o s e co n -fron tad os com os resu ltad os d e an álises an te-riores. É p ossível qu e o m aior d esafio esteja n o exercício d e d escola r esta s ca tegoria s d o con -texto em q u e fo ra m ela b o ra d a s, o u seja , d a s an álises d a con stru ção d e con h ecim en tos tec-n o cietec-n tífico s tec-n o itec-n terio r d e la b o ra tó rio s, em u m con texto esp ecífico. Man ip u lam os, p or ou -tro lad o, u m con ju n to d e categorias em p roces-so d e con stru ção, alvo d e u m p erm an en te exer-cício d e d escon stru ção, n o qu al são con fron ta-d as com ta-d iferen tes realita-d ata-d es.
Logo, o ob jetivo d esta etap a é exp licitar as n o çõ es b á sica s, n ecessá ria s a o en ten d im en to d a d in âm ica d os atores en volvid os n o p rocesso d e con stru ção d os con h ecim en tos tecn ocien tí-fico s em la b o ra tó rio s d e C&T em sa ú d e, b em com o d o n osso ob jetivo esp ecífico, qu al seja, a in vestigação d o p rocesso d e trab alh o d e técn i-co s d e n ível m éd io. Ao fa zê-lo, é p rová vel q u e reto rn em o s a a lgu n s p o n to s leva n ta d o s a n te-riorm en te.
O la b o ra tó rio é rep resen ta d o co m o u m com p lexo cam p o, p elo q u al se m ovim en ta u m con ju n to d iversificad o d e atores, m arcad os p
e-la extrem a va ried a d e d e in teresses, visõ es d e m u n d o e m od os d e con d u ta. Em u m p rim eiro m om en to, d iscern im os n este cam p o relacion al ap en as os elem en tos h u m an os, com p etên cias (p esqu isad ores, técn icos, ou estagiários) reu n i-d a s em to rn o i-d e a lgu m a s lin h a s i-d e p esq u isa . Co n tu d o, co m o p en sa r em la b o ra tó rio s e n a con stru çã o e va lid a çã o d e fa tos tecn ocien tífi-cos, sem a grega r à s com p etên cia s u m a m u lti-p licid a d e d e eq u ilti-p a m en to s, d e su b stâ n cia s qu ím icas e cob aias? Com o en ten d er as ativid ad es ad e p esqu isa, sem in corp orar os in stru m en -tos d e in scrição (teses, tab elas, relatórios, arti-gos e an otações) u sad os p ara organ izar os d a-d o s, sistem a tiza r a s in fo rm a çõ es, a-d ifu n a-d ir o s con h ecim en tos p rod u zid os n o in terior d os la-b o ra tó rio s? Did a tica m en te, esta red e in tern a p o d e ser segm en ta d a em d o is gra n d es b lo co s in terd ep en d en tes e, n a p rática, in d issociáveis: n o p rim eiro, en con tram os tod os os atores h u -m an os – p esq u isad ores, técn icos e estu d an tes d e gra d u a çã o e p ó sgra d u a çã o, o s q u a is figu ra m co m o b o lsista s; n o o u tro extrem o, a lo ja -m o s o s ele-m en to s -m a teria is, q u e co -m p õ e-m a d im en sã o em in en tem en te técn ica d a p esq u i-sa , u m a série d iversifica d a d e eq u ip a m en to s, su b stâ n cia s q u ím ica s, texto s e co b a ia s. Estes elem en tos h u m an os e n ão h u m an os são in d is-tin tam en te id en tificad os com o atores, cap azes d e a tra ir p a ra su a á rea d e in flu ên cia (m o b ili-za r) en tid a d es h etero gên ea s (p esq u isa d o res, técn icos, equ ip am en tos, artigos), con stitu in d o red es d e relações n o in terior d os lab oratórios, p ara a p rod u ção d e con h ecim en tos tecn ocien -tíficos.
A red e d e relações in tern a, cu ja con form a-ção d elin eam os su cin tam en te, está articu lad a a u m a exten sa a sso cia çã o d e p a rceiro s exter-n os, q u e d e algu m m od o p articip am d as ativi-d a ativi-d es ativi-d e p esq u isa , seja a tra vés ativi-d e a co rativi-d o s ativi-d e co o p era çã o, d o o ferecim en to d e cu rso s, d o em p réstim o d e equ ip am en tos e com p etên cias. Nom eam os, com b ase n as su gestões d e Callon (1989), este círcu lo d e in terlocu tores d e lab ora-tório exten so, em op osição a red e restrita – la-b o ra tó rio restrito, n o q u a l esta s a sso cia çõ es h eterogên eas se trad u zem em con h ecim en tos e artefatos tecn ocien tíficos ao fin al d e u m p ro-cesso len to e su jeito a in d eterm in ações d e d i-feren tes ord en s.
ecífi-co s d a s a tivid a d es d o la b o ra tó rio. Os en sa io s p rá tico s, q u e reú n em técn ico s, esta giá rio s, eq u ip am en tos e u m con ju n to d e con h ecim en -tos teórico-p rá ticos, a tu a m n a tra n sform a çã o d o sen tid o con stru íd o em u m con texto esp ecí-fico e in stável em u m sen tid o im u tável, u n iver-sa lm en te vá lid o. Ca d a en iver-sa io p rá tico p ro d u z u m sen tid o, u m resu lta d o, q u e será tra n sfo r-m ad o, con firr-m ad o ou totalr-m en te ab an d on ad o, p elo p osterior. O p rod u to fin al é u m a su cessão d e sen tid os, con ectad os en tre si p ela cad eia d e m ed iações, p rod u zid as ao lon go d as in terações en tre os d iferen tes atores. Cad a p rojeto p ossu i su a p róp ria red e d e relações n o in terior d o la-b oratório, m ola-b ilizan d o u m gru p o d eterm in ad o d e técn ico s, esta giá rio s, p esq u isa d o res, eq u ip am en tos, solu ções, além d e u m certo con ju n -to d e sab eres. Deste m od o, cad a a-tor se trad u z com o u m a m icrorred e d e relações, articu lan d o aliad os, com o ob jetivo d e execu tar e legitim ar seu s p rojetos, a tra vés d a m ob iliza çã o d e tod o tip o d e elem en tos p resen tes, ta n to n o la b ora -tório restrito, qu an to n o exten so.
Esta lista , p o ten cia lm en te in fin ita , d e ele -m en tos -m ob ilizá veis, essen cia is à s a tivid a d es d e p esq u isa , é fo rm a d a p o r p o rta -vozes (Ca l-lo n , 1989), q u e, a o serem en vo lvid o s p o r u m a d eterm in ad a red e d e relações, m ob ilizam , p or su a vez, os atores h u m an os e n ão h u m an os re-p re se n ta d o s re-p o r e le s. A in co rre-p o ra çã o d e u m n ovo p e sq u isa d o r p o d e se r tra d u zid a co m o a a gre ga çã o d e u m co n ju n to d e co m p e tê n cia s in te le ctu a is e sa b e re s p rá tico s e xp re sso s (re-p resen tad os) (re-p or ele, form ad os e a(re-p u rad os em u m a o u tra in stitu içã o (la b o ra tó rio exten so ). Através d esta cap acid ad e d e m ob ilizar aliad os, trazen d o p ara o in terior d e su a red e restrita d e relações seu s legítim os rep resen tan tes (p orta-vozes), os lab oratórios exten d em seu cam p o d e atu ação. Torn am -se, assim , cap azes d e m ob ili-zar u m con ju n to am p lo e d iversificad o d e d is-cip lin a s. O m esm o o co rre q u a n d o p en sa m o s n o s eq u ip a m en to s, u m sim p les m icro scó p io ó tico o u u m eletrô n ico d e va rred u ra , q u e ex-p ressa m u m co n ju n to d e co n h ecim en to s, d e p rin cíp ios cien tíficos já valid ad os, d elim itan d o u m certo cam p o d e op eração e ap licab ilid ad e, rep resen tan d o atores in visíveis, m as m ob ilizáveis, graças ao ato d e rep resen tação. Reen con -tram os este ato b ásico d e rep resen tar algu ém , ju n to a u m a o u tra red e d e rela çõ es, q u a n d o tratam os d os textos cien tíficos (artigos, relató-rio s, co m u n ica çõ es a p resen ta d a s em even to s cien tífico s), q u e n a d a m a is sã o d o q u e rep re-sen tações escritas d e u m exp erim en to ou p ro-jeto em fase fin al d e elab oração, ao lad o d e u m cam p o m ais d ilatad o d e in terlocu tores – a co-m u n id ad e cien tífica. A rep resen tação é p
ossi-b ilita d a p ela ca p a cid a d e d e esten d er a s red es restrita s, a sso cia d a s n o in terio r d o s la b o ra tó -rio s, p a ra u m ca m p o m a is va sto d e rela çõ es, p erm itin d o o en red am en to d e atores d istan tes, a con solid ação d e acord os, a n egociação d e in -tercâm b ios com ou tros gru p os.
Este exercício d e m o b iliza çã o d e a lia d o s p or m eio d e p orta-vozes legítim os p od e ser d e-fin id o com o u m a m an ip u lação d e feixes d e for-ça. A tran sform ação d os d iferen tes elem en tos associad os n o in terior d os lab oratórios em fei-xes d e força exp licita-se a p artir d a cap acid ad e d e u m a tor d esloca r (a tra ir ou rep elir) a lia d os ou op on en tes p ara su a área d e in flu ên cia, au -xilian d o n a form ação ou n o fortalecim en to d a red e in tern a d e relações, au m en tan d o, assim , a ca p a cid a d e d e co n stru çã o d e co n h ecim en to s n o in terior d os lab oratórios. A m ob ilização d e com p etên cias ou eq u ip am en tos p od e resu ltar n a a p rova çã o d e u m p ro jeto ju n to a a lgu m a a gên cia d e fo m en to, o u n a p u b lica çã o d e u m a rtigo, em p erió d ico s in d exa d o s. O fo rta lecim en to d a red e d e relações lecim ob ilizad a p elos la -b o ra tó rio s, a o a m p lia r a ca p a cid a d e d e co n s-tru ção d e fatos tecn ocien tíficos valid ad os p ela com u n id ad e cien tífica in tern acion al, fortalece, p or con segu in te, o lab oratório n o(s) cam p o(s) d e co n h ecim en to n o (s) q u a l(is) ele a tu a . Se con sid era m os q u e os a tores, a o lon go d o p rocesso d e con stru ção d os con h ecim en tos tecn o -cien tíficos, m ob ilizam forças, p od em os d efin ir o s la b o ra tó rio s co m o a sso cia çõ es d en sa s d e fo rça , co n stitu in d o u m a esp écie d e ca m p o agon ístico (Latou r & Woolgar, 1988), d en tro d o q u al d iferen tes atores d isp u tam in su m os b ási-co s p a ra a execu çã o d e p esq u isa s, visa n d o à cien tifiza çã o d e seu s en u n cia d os, p a ra d isp u -tar a h egem on ia d e u m d eterm in ad o cam p o d e con h ecim en to com ou tros lab oratórios.
Os técn icos são atores q u e, m ed ian te o d o-m ín io d e p roced io-m en tos técn icos n ecessários à realização d as etap as exp erim en tais d os p jetos, fortalecem os en u n ciados cien tíficos p ro-p ostos ro-p elos ro-p esqu isad ores. Para o d esen volvi-m en to exp erivolvi-m en tal d os p rojetos d e p esq u isa n as b an cad as, m ob ilizam u m am p lo con ju n to d e a to res n ã o h u m a n o s (eq u ip a m en to s, so lu -ções, cob aias, reagen tes), reu n id os e tran sform a d o s p elo d o sform ín io d e u sform co n ju n to d e co -n h ecim e-n tos teóricos e p ráticos, d os qu ais são p ortavozes. Associam se, de igu al m odo, a in ú m ero s a to res h u m a n o s (p esq u isa d o res, esta -giá rio s, o u tro s técn ico s), a lgu n s d o s q u a is já p erten cen tes à red e d e relações d o lab oratório, en q u an to ou tros serão m ob ilizad os através d o tra b a lh o d e ste s té cn ico s, a p a rtir d e su a re d e p essoa l d e rela ções n o in terior d a in stitu içã o; assegu ram a u tilização d as in stalações lab ora-to ria is d e u m a o u tra u n id a d e o u la b o ra tó rio, agilizan d o o con serto ou a in stalação d e algu m eq u ip a m en to. Neste sen tid o, p o d em o s co n si-d erá-los com o u m ator-resi-d e: u m ator cu ja
ati-vid a d e se tra d u z n o a to d e a sso cia r u m a série d e elem en tos, can alizan d o os con h ecim en tos, as h ab ilid ad es e as d iferen tes form as d e u so d e ca d a p o n to d e su a red e, p a ra a co n stru çã o d e con h ecim en tos tecn ocien tíficos. Um ator, p or-ta n to, q u e p a ssa a ser con fu n d id o, n o in terior d o la b o ra tó rio, co m esta red e sim p lifica d a d e en tid a d es, to rn a n d o -se seu p o rta -voz. Deste m od o, a o p rop orm os a d iscu ssã o d o p rocesso d e trab alh o d os técn icos, estam os n os con cen -tra n d o em m icrorred es d e rela ções, cu jos ele-m en to s a rticu la d o res sã o o s técn ico s d e n ível m éd io. A p o ssib ilid a d e d e co m p reen d erm o s estas m icrorred es, sem p erd erm os a d im en são d e totalid ad e d os lab oratórios, é d ad a p ela in -teligib ilid ad e d as ativid ad es realizad as n os d i-feren tes lab oratórios (su as lin h as d e p esqu isas, p ro je to s p rin cip a is, a lgu m a s fo n te s d e fin a n -cia m e n to, a lé m d o s a co rd o s d e co o p e ra çã o m ais im p ortan tes). Este m ap eam en to p erm ite a co n stitu içã o d e u m p erfil d o s la b o ra tó rio s, su ficien tem en te p reciso p a ra lo ca liza rm o s a s ativid ad es d os técn icos.
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