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A clínica psicanalítica com crianças: da adaptação à solução em referência ao sintoma

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

MARIA GLÁUCIA PIRES CALZAVARA

A CLÍNICA PSICANALÍTICA COM CRIANÇAS: da adaptação à

solução em referência ao sintoma

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

MARIA GLÁUCIA PIRES CALZAVARA

A CLÍNICA PSICANALÍTICA COM CRIANÇAS: da adaptação à

solução em referência ao sintoma

Tese apresentada, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.

Linha de pesquisa: psicologia, psicanálise e educação

Orientadora: Profa. Dra. Ana Lydia Santiago

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A CLÍNICA PSICANALÍTICA COM CRIANÇAS: da adaptação à solução em referência ao sintoma.

Autora: Maria Gláucia Pires Calzavara Orientadora: Ana Lydia Bezerra Santiago

Tese de doutorado submetida ao programa de Pós- Graduação em Educação, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Educação.

Aprovada por:

______________________________________

Presidente, Profa. Dra. Ana Lydia Bezerra Santiago – Orientadora

_______________________________________ Profa. Dra. Margarida Maria Elia Assad

_______________________________________ Profa. Dra. Ilka Franco Ferrari

_______________________________________ Profa. Raquel Martins de Assis

_______________________________________ Profa. Dra. Margaret Pires do Couto

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“O p ro g ra ma d e to rna r - se feli z, q u e o p rin cip io d o p ra zer n o s impõ e, não p od e ser rea liza d o ; co n tu do , não d evemo s – na verd ad e, não pod emo s – a ba nd ona r n o sso s esfo rço s d e ap ro xi má - lo da con secu çã o , d e u ma ma n eira ou d e o u tra .

Ca min ho s mu ito d iferen tes p od em ser to mado s n essa d ireçã o , e p od emo s co n ced er p rio rida d es qu er a o a sp ecto po sitivo do ob jetivo , e ob ter p ra zer, q u er ao n ega tivo , e evita r o d espra zer. Nen h u m d esse s ca minh o s no s leva a tud o o qu e d eseja mo s.

A felicid a d e, no red u zid o sen tido em qu e a reco nh ecemo s co mo po ssível, co n stitu i u m p ro b lema da econo mia d a libido d o ind ivíduo .

Nã o existe reg ra d e o u ro qu e se ap liq u e a tod o s: todo ho mem tem d e d esco b rir po r si mesm o d e q u e mod o esp ecífico ele po d e ser sa lvo .

Todo s o s tip o s d e d iferen tes fa to res o p era rão , a fim d e d irig ir su a esco lh a . É u ma qu estão d e qua n ta sa tisfaçã o rea l ele p o d e esp era r o b ter do mun do extern o , d e a té ond e é leva d o p a ra to rn a r- se in d ep end en te d ele, e, fina lmen te, d e qu an ta fo rça sen te à sua d ispo siçã o p a ra a ltera r o mun do , a fim d e ad a p tá - lo a seu s d esejo s.

Nis so , su a con stitu ição p síq u ica d esemp en ha rá pap el d ecisivo , ind ep en d en temen te d a s circu n stân cia s extern a s. ”

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AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ - por ter possibilitado a realização desta pesquisa.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) junto ao Programa Mineiro de Capacitação Docente - PMCD pela concessão de bolsa auxílio à pesquisa.

À Dra. Ana Lydia Santiago, pelos preciosos momentos de orientação, pelo enorme conhecimento que me proporcionou durante a construção deste trabalho. Muito mais do que orientar, ela possibilitou que eu pudesse me reorientar em um conhecimento e uma prática que vão além da consistência.

Aos professores doutores, que muito me honraram ao aceitar o convite para compor a banca da minha tese.

À Dra. Ilka Ferrari, pelos comentários tão bem colocados e estimulantes durante o exame de qualificação. Causou-me ânimo para prosseguir.

Agradeço ao Américo, meu marido, que sempre participou em minha trajetória de estudos e trabalho, e especificamente nesta tese me deu apoio incondicional, revelando cada vez mais que nossa relação de amor e de casamento valem a pena.

Ao meu filho Gabriel, por compreender que as horas permanecidas no computador tinham uma boa causa. Mais do que isso, penso que o desejo que carrego na construção deste trabalho foi para ele uma grande lição de como se haver com o próprio desejo.

Agradeço à minha amiga Geralda Mapa, pela amizade de longa data, pelo carinho ao saber escutar minhas angústias e pela contribuição sempre pertinente na leitura deste trabalho.

Agradeço também a todas as pessoas que de certa forma viveram comigo esta trajetória: Maria do Carmo, sempre Madrinha; Aline, sempre querendo saber em que pé estava o trabalho; e à Josie, sempre cuidadosa com minhas coisas, facilitando tudo ao máximo para que eu pudesse me dedicar ao trabalho de escrita.

À Cristina Drummond, que de uma forma singular me deu serenidade nesse processo de construção.

Aos meus colegas, professores do Departamento de Psicologia da UFSJ. Cada um, a seu modo, contribuiu para a realização deste trabalho ao ministrarem as disciplinas as quais leciono.

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À Dra. Ana Maria Jacó Vilela, pelo acolhimento e pelo aceite na Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ, quando da realização do Doutorado “Sanduíche”. Do mesmo modo, pela participação no grupo de estudos em História da Psicologia - Clio- Psyché.

À Dra. Regina Helena de Freitas Campos que por motivos de estudos fora do país não pode compor esta banca de tese. Meus sinceros agradecimentos, pelo acolhimento neste doutorado, pelo carinho por mim, pela preocupação recorrente se eu estava com bolsa de auxílio ou não, pelo carinho pela minha cidade e minha Universidade (UFSJ). Obrigada pela leitura sempre atenta dos meus textos, pelos e-mails sempre respondidos com prontidão e por acreditar em mim.

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RESUMO

A ideia principal deste estudo consiste em destacar as transformações pelas quais passou a clínica psicanalítica com crianças a partir da orientação lacaniana, que enfatiza o sintoma e sua relação com a dimensão pulsional, em detrimento da adaptação ao social. Considera-se que a perspectiva adaptacionista da clínica com crianças é um desvio promovido por algumas inflexões conceituais, sobretudo a postulação freudiana da pulsão de morte em 1920. Assim, buscou-se demonstrar que o recurso à adaptação priorizado pelas psicanalistas de crianças que se destacavam no movimento psicanalítico – Anna Freud e Melanie Klein – nesta época, conduziu à desconsideração da dimensão pulsional do sintoma. Na prática clínica com crianças, ocorre, assim, segundo estas autoras, um afastamento da clínica do sintoma como produção do inconsciente, visando à minimização daquilo que, na criança, caminha na contramão da educação e do projeto social. A partir da leitura das produções teóricas das duas psicanalistas de crianças pode-se destacar a perspectiva terapêutica que se encaminha para a adaptação ao social. Anna Freud propõe uma clínica essencialmente voltada para um viés pedagógico. Melanie Klein, por sua vez, ancora inicialmente, sua prática, nos fundamentos psicanalíticos freudianos e, depois, formula sua própria teoria. No primeiro momento de seus trabalhos, é possível isolar algumas considerações daquilo que se propõe, neste estudo, como adaptação do sintoma. Não se desconhece que, mais tarde, a dimensão pulsional foi privilegiada por Melanie Klein, porém suas primeiras formulações não deixaram de influenciar aqueles que praticavam o tratamento clínico psicanalítico com crianças até os dias de hoje. Além disso, no segundo momento da contribuição de Melanie Klein, o arcabouço teórico, baseado na teoria de objeto com ênfase em sua completude, parece velar a importância da teoria das pulsões. Por último, este trabalho busca mostrar que a orientação lacaniana, promovida pelos alunos de Jacques Lacan nos anos de 1960, reintroduz efetivamente a articulação do sintoma à pulsão. O aforismo preconizado por Robert e Rosine Lefort, segundo os quais “a criança é um analisante em plenos direitos”, é o que mobilizou uma mudança radical na clínica com crianças em que a adaptação não tem mais lugar. A referência ao sintoma nessa clínica se apresenta como solução para o sujeito, cuja manifestação se impõe como condição da clínica psicanalítica: trata-se de interrogá-lo para se chegar ao particular de cada sujeito. A partir de então, é o sintoma como solução que se transforma em qualquer forma de adaptação.

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ABSTRACT

The main idea of this study is to highlight the transformations that came to psychoanalytic practice with children from the Lacan’s orientation, which emphasizes the symptom and its relation to the instinctual dimension at the expense of social adaptation. It is considered that the adaptationist perspective of the clinic with children is a deviation promoted by some conceptual inflections, especially Freud’s postulation of death instinct in 1920. Thus, we attempted to demonstrate that the use of adaptation, prioritized by the children psychoanalysts, who stood in the psychoanalytic movement, Anna Freud and Melanie Klein, at that time, led to disregard the instinctual dimension of the symptom. In clinical practice with children, according to these authors, there is a removal from the clinical symptoms as a production of the unconscious, in order to minimize what, in the child, was going in the opposite direction of education and the social project.

From the reading of the productions of the two theoretical psychoanalysts of children it is possible to highlight the therapeutic approach that is headed for the social adaptation. Anna Freud proposes a clinic essentially focused on an educational bias. Melanie Klein, in turn, initially anchors its practice in Freud’s psychoanalytic foundations, and then formulates her own theory. At first, in her work, it is possible to isolate some considerations of what is proposed in this study as an adaptation of the symptom. It is known that, later, the instinctual dimension was privileged by Melanie Klein. But her early formulations did not fail to influence those who practice clinical psychoanalytic treatment with children up to the present day. Moreover, in the second stage of Melanie Klein’s contribution, the theoretical framework, based on the theory of object with emphasis on completeness, seems to hide the importance of the theory of instincts. Finally, this paper tries to show that Lacan’s orientation, organized by the Jacques Lacan’s students in the 1960’s, reintroduces effectively the articulation of the symptom to the instinct. The aphorism recommended by Robert and Rosine Lefort, according to which “the child is an analyser in full rights,” is what mobilized a radical change in clinical practice with children in which the adjustment has no more room. The reference to the symptom in this clinic presents itself as a solution to the person, whose manifestation is imposed as a condition of psychoanalytic practice: it is about to interrogate him or her to get to the inside of each person. Since then, it is the symptom as a solution that transforms itself in any form of adaptation.

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RÉSUMÉ

L’idée principale de cette étude consiste à rehausser les tranformations subies par la clinique psychanalytique avec les enfants à partir de l’orientation de Lacan, qui met en valeur le symptôme et sa relation avec la dimension pulsionnelle, en détriment de l’adaptation au social. On considère que la perspective adaptative de la clinique avec les enfants est un détour promu par quelques inflexions conceptuelles, notamment la postulation freudienne de la pulsion de mort en 1920. Ainsi, on a cherché démontrer que la ressource à l’adaptation mise à priori par les psychanalystes d’enfants qui se distingaient dans le mouvement psychanalytique – Anna Freud et Melanie Klein – à cette époque, a mené le dénigrement de la dimension pulsionnnelle du symptôme. Dans la pratique clinique avec les enfants, selon ces auteurs, il arrive ainsi un éloignement de la clinique du symptôme comme production de l’inconscient, envisageant à la minimisation de ce que, dans l’enfant, allait dans le sens contraire de l’éducation et du projet social. D’après la lecture des productions théoriques des deux psychanalystes d’enfants on peut mettre en relief la perspective thérapeutique qui va vers l’adaptation au social. Anna Freud propose une clinique essentiellement tournée vers un biais pédagogique. Melanie Klein à son tour, établi au début, sa pratique dans les fondements psychanalytiques freudiens et, après, formule sa propre théorie. Au début de ses travaux, il est possible d’écarter quelques considérations de ce qu’il est proposé dans cette étude comme adaptation du symptôme. Il n’est pas méconnu que, plus tard, la dimension pulsionnelle fut privilégié par Melanie Klein, cependant ses premières formulations non pas manqué d’influencer ceux qui pratiquaient le traitement clinique psychanalytique avec les enfants jusqu’à nos jours. En outre, dans le deuxième moment de la contribution de Melanie Klein, le projet théorique, basé dans la théorie d’objet avec emphase en son intégralité, semble veiller sur l’importance de la théorie des pulsions. Finalement, ce travail cherche montrer que l’orientation de Lacan, promue par des élèves de Jacques Lacan dans les années 60, introduit effectivement à nouveau l’articulation du symptôme à la pulsion. L’aphorisme préconisé par Robert et Rosine Lefort, qui d’après eux « l’enfant est un analysant en pleins droits », c’est ce qui a mobilisé un changement radical dans la clinique avec les enfants où l’adaptation n’a plus lieu. La référence au symptôme en cette clinique se présente comme une solution pour le sujet, car la manifestation s’impose comme condition de la clinique psychanalytique : il s’agit de l’interroger pour atteindre l’individuel de chaque sujet. À partir de là, c’est le symptôme tant que solution qui se transforme en n’importe quelle forme d’adaptation.

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SUMÁR IO

INT RO DU ÇÃO . .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. 1 2

CAP ÍTULO I

A Co ncepçã o de Sinto ma a pa rt ir da Pulsã o de Mo rte . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .22

1 .1 A clínica co m cria nça s: p u lsão nã o é ad ap tação .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .22 1 .2 O sinto ma co m o d efesa. . . .. . .. . .. . ... . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ..2 5 1 .3 O sinto ma co m o satisfação . . .. . .. . .. .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ..2 9 1 .4 Ap rop r iação p ar ticu lar d a no va fo r m u lação p u lsio n al. . . .. . .. . 31 1 .5 O sinto ma co m o r ep etição é u m a so lu ção . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .3 6 1 .6 O sinto ma co m o so lu ção não é ad ap tação . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .40 1. 6. 1 O eq u ívo co d a d esco nsid er aç ão do sinto ma no camp o esco lar . . . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .4 0

CAP ÍTULO I I

Anna Freud: O Eu em Detri ment o da Ref erencia à Pulsã o . . .. . .. . .. . .. .43

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CAP ÍTULO I II

Mela nie Klein e o Tra ta men to do Sint oma . . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .7 2

3. 1 1 921 -1 932 : inf lu ê ncia d a teo r ia fr eud ia na clás sic a. . . .. . .. . .. . .. . .73 3 .1 . 1 Pr eve nção co ntr a o sinto m a no tr atame nto ?. . . .. . .. . .. . .. .75 3 .2 . 1 934 -1 957 : no vas elab o r açõ es teó ricas. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. .84 3 .3 A ansied ad e co mo d efesa d o eu co ntr a a pu lsão . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .8 5 3 .4 O tr atamento p sican alít ico co m cr ianças. . . .. . .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. 89 3 .4 .1 A cria nç a no tr atame nto . . . .. .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ..9 0 3 .4 . 2 Fam ília no tr atame nto . . . . .. . ... . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ..9 4 3 .4 .3 O sinto m a d a cr ian ça. . . .. . .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ..9 5 3 .4 .4 O inco nscie nte. . . .. . .. . .. . .. .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ..9 7

CAP ÍTULO I V

A Orient a çã o La ca nia na. . .. . .. . .. . .. . .. .. . .. . ... . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. .10 0

4 .1 Su jeito d o inco nsc iente – su jeito do d esejo . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .103 4 .2 O sinto ma e a p u lsão . . . . .. . .. . .. . .. . .. . .. .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .1 05

CAP ÍTULO V – A Prá t ica Clínica co m Cria nça s na O rienta ção La ca nia na .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ... . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. .1 12

5 .1 A cr iança ana lisa nd o em p le no s d ir eito s . . . .. . .. . .. . .. . .. . .. .. . .. . .113 5 .2 A p r ática c lín ica d a cria nça na o rie ntação la ca niana. . . .. . .. . .117 5 .2 . 1 – A cr iança no tratam ento . . . .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ..1 17 5 .2 . 2 – Fam ília no tratame nto . . . ... . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ..1 2 1 5 .2 . 3 – O sinto ma d a cr ia nça. . . ... . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ..1 23 5 .2 . 4 – O inco n sc iente. . . .. . .. . .. . ... . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ..1 24

CONSID ERA ÇÕ ES FINAIS . . . .. . .. . .. . .. .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . ..1 26

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C171c T

Calzavara, Maria Gláucia Pires, 1965-

A clínica psicanalítica com crianças : da adaptação à solução em referência ao sintoma / Maria Gláucia Pires Calzavara. - UFMG/FaE, 2012.

145 f, enc,

Tese - (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação.

Orientadora : Ana Lydia Santiago. Bibliografia : f. 134-145.

1. Educação -- Teses. 2. Psicanálise infantil -- Teses. 3. Adaptabilidade (Psicologia) -- Teses.

I. Título. II. Santiago, Ana Lydia. III. Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação

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INTRODUÇÃO

A fo r m u laç ão d a pu lsão d e mo rte p o r Freud no ano d e 1 9 20 fo i u m co nce ito q u e r ep rese nto u u m d iviso r d e águ as na teo r ia fr eu d iana e entr e o s fr eu d iano s, p rincip alm ente p ela p ar ticu lar id ad e d essa p u lsão qu e, se gu nd o Fr eu d (193 8 /198 0 ) , “é r eco nd uzir o qu e está vivo ao estad o ino r gâ nico ” ( p . 17 3 ). E sse mo vim e nto r egr ess ivo d e u m r eto rno ao estad o anter io r to r no u - se a esp ec ific id ad e d a pu lsão e, po r tanto , o p ro tó tip o d a pu lsão d e mo rte. Além do mais, o texto d e 1 9 20 intr o du z a no ção d e co m pu lsão à r ep etição do sinto ma, qu e p er mite “tr a zer à lu z as ativid ad es d o s im p u lso s rep r im id o s ”1 (FRE UD, 1 920 /19 80 , p . 33 ) . A ins istência d o mater ial reca lcad o em fazer su a ap ar ição na co ns ciência po r meio d o sinto m a r eve lo u a Fr eu d u m a sat isfa ção d e o u tr a or d em , qu e ins iste co mo r ep etição incessant e em alc ançar seu ob jet ivo . O qu e p od e ser d est acad o n es se texto é a p r esença d a d im ens ão p u lsio nal no sinto ma , qu e, na segu nd a tó p ica, to m a a cena e m d etr imento do sinto ma co mo merame nt e d escr it ivo . A p artir d e ssa d ata, a p r esença d a d im ens ão pu ls io na l se in scr eve co m o imp o ss ib ilid ad e ad ap tativa d o sinto ma .

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M ais ad iante, no texto O Ma l-esta r n a Civiliza çã o , Fr eud ( 1929 /1 930 /1 980 ) d estaca a d im ensão p ar ticu lar d a pu lsão d e m o r te co mo faze nd o p ar te do esse ncia l d o ho mem. Par a e le, es sa p u lsão é p r óp r ia à co nd ição d o ho m em no p ro cesso d e c ivilização e a lo ca liza co mo iner e nte à estru tu ra do su jeito .

No q u e co ncer ne à r ef er ência à p u lsão , po stu lad a p o r Fr eud , est a fo i tem a d e u m a p esq u isa r ea liz ad a po r Camp o s ( 19 91 ) , int itu lad a o Co n texto só cio - cu ltu ra l e tend ên cia s da p edag o g ia p sican a lítica n a E u ropa Cen tra l e no B ra sil . A au to ra r eco n hece na o b r a d e Freud du as ver te ntes, q u e, a seu ver , se co ntr ad izem no q u e d iz r esp eito a d ed u zir d a p sicanálise p r incíp io s p ar a u ma edu cação d e cr ia nça s. Uma p r imeir a ver te nte, q u e en se ja a livr e exp r essão d o s im p u lso s in co n sc ientes é co m p ensad a, p o r su a vez, p o r u ma tend ê ncia à neces s id ad e d e ad ap tar as cr ianças ao p r incí p io d a r ealid ad e. É a edu cação d e cr ianças q u e to m a a ce na ne ssa p r ime ira ver t ente. Po r ou tro lad o, a segu nd a ver ten te p o ssu i co m o car acter íst ica es se ncia l a ênfa se no p ap el d as p u lsõ es p rim ár ias e a r elevânc ia d o s d estino s p u ls io nais na estr u tu r ação d o p siq u ismo . A p r esença d a p u lsão d e m o r te r e vela a imp o ss ib ilid ad e d e ente nd im ento do s d istú r b io s d a o rd em d o p siq u ismo p ela via d a p reve nção .

Co ns id er a nd o a se gu nd a ver t ente ap o ntad a po r Camp o s ( 199 1 ), nest a, é po ssí vel r eco n hecer a p resenç a d a r ep etição d o sinto m a e a imp o ss ib ilid ad e d e r eso lu ção d e qu alq u er co mp o r tame nto po r essa via. É a p r esença d a d im ens ão p u lsio nal e seu s ef eito s no p síq u ico qu e mar cam u m p essim ismo em r elação às p o ssib ilid a d es d e p revenção , d estacad a em su a p r ime ira ver ten te. A le itu ra realizad a p ela au to r a no s le va a d estaca r qu e o ante s e o d ep o is d a r eve lação d a p resença d a sat isf ação no sinto ma d em ar ca m a imp o ss ib ilid ad e d a ad ap tação d o su je ito co mo u m fato d e estr u tu r a, tal co mo r eve lad o po r Fr eu d (1 920 /19 80 ). Isso no s lev a a co nsid er ar , co m o d iz Camp o s ( 19 9 1 ), q u e a p r ese nça d o elem ento pu ls io na l na vid a d a cr iança no s imp o ss ib ilita fazer q u alq u er d eter mina ção do r esu ltad o d e su a edu cação .

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Kle in. De ss e m o do , p er gu ntamo s : co m o se d eu p ar a Anna Freu d e M ela nie K lein a re fer ênc ia ao sinto ma a p artir d a p u lsão d e mo r te? Co mo cad a u ma d essas au to r as se co lo co u fre nte à d im e ns ão p u lsio n al d o sinto ma em su a p r ática clí nica co m cria nças?

O inter es se p e lo tema d esta p esq u isa n asc eu a p ar tir d e m inha exp er iênc ia na p r át ic a c lí nica co m cr ianças. Na m inh a fo rm ação , o p tei po r u m a fo r mação clín ica esp ec ific am ent e p ela clí nica co m cr ia nças. Nessa ép o ca, ano s d e 1 9 80 , o s estu d os teó rico s so b r e a cr iança se anco r av am no s texto s d e An na Fr eu d e Mela nie K lein e a p rática c lí nica se o r ient a va p ela p ro po sta kle iniana.

I nicie i m inha p r ática em c lí nica p ar t icu la r e em in st itu ição inf a nt i l ( cr ec he) . A p ar tir d esse mo me nto , com ecei a su p er vis ão d o s caso s ate nd id o s em clí nica p ar ticu lar co m su p erviso r em fo rm ação p elo en sino d e Lacan. Ao m esmo temp o , m antin ha su p erv isão na inst itu ição d e cr ianças p ela ab o rd agem k leiniana.

M ed iante o tr ab alho em inst itu ição infant il asso c iad o à abor d agem klein iana , e co nco mita nte ao tr ab alho em clí nic a p ar ticu lar co m su p er visão em o rie ntação lacania na, algu mas q u estõ es me inq u iet avam . O q u e eu ente nd ia n a m in ha p r ática, po r m eio d a minha fo r mação klein iana, so b re o qu e er a clí nica so b u m a p er sp ectiva p s icanalít ica ap r ese ntava - se no tr ab alho em inst itu ição inf ant il co m u m a ver tent e ter ap êu tica, a f im d e e lim inar o s into m a p ar a ad ap tar es sa cr ian ça ao so cial. E ssa p er sp ect iva er a evid ent e nessa inst itu ição , cu jo ob jet ivo d o p sicó lo go e d e su a p r ática er a no rm alizar o s co mpo rtamento s inaceit áveis. Ao me sm o tem p o , in iciei a exp er iên cia d e d o cent e , q u e am p lio u meu s co n hec imento s e , d o mesm o mo d o, meu s q u estio nam e nto s. Viv i, então , u m imp as se, p o is p ar t icip ava d e u ma inst itu ição q u e tinha co m o ob jet ivo fa zer a cr ia nça se co mp o rtar e s e aju st ar p ara se ad ap tar ao so cia l. P o r o u tro lad o , d esco b r ia, na sup er vis ão clí n ica d e o rie ntação lacania na, q u e a cr ianç a “é u m su jeito em p leno s d ir eito s” (LE FO RT , 198 4) .

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cr ianças ? Po r q u e ess as d u as p ersp ect iva s p arecem s e m istu r ar no âmb ito d a p sicaná lise co m cr ianças? E ssas q u estõ es, vivid as na p r ática co m cr ianças, m e exig iram es clar ecim ento s, e m inha intenç ão nes te tr ab alho é p esqu isá - las.

Dia nte d essa cena, p r op u s- m e a e stu d ar a p r átic a c lín ica co m cr ianças, es se ncia lm ente no qu e co ncer ne à ab o rd agem teó r ica ta nto d e An na Fr eu d qu anto d e M ela nie K lein, p ara exam inar se há a lgu m mo m ento ou situ ação em qu e pod em o s p er ceb er a ex ist ência d e u ma ab er tu ra nes sas p r áticas q u e se encam in ham p ar a o o b jetivo ter ap êu tico d e ad ap tar a cria nça ao so cial.

Do mesmo m odo , ver if icar se, em fu nç ão d a fo r m a co mo essa s p sicanalista s iniciaram no ter re no d a p sicanálise co m cr ianças, se não haver ia ind icat ivo s o u até cer ta p r ep o nd er ânc ia d e ad ap tação d a cr iança ao so cial em seu s texto s. Será q u e p od eremo s ver if icar e lem ento s q u e se r ep etem e q u e no s p erm item d izer q u e a p er sp ectiva d a ad ap tação se imp r im e em d etr im ento d a r efer ênc ia ao inco nsc iente e ao sinto ma? Da mesm a fo r ma, ser á q u e p o d er emo s af ir m ar qu e a p ersp ectiva d o sin to ma, co m o p ro du to do inco nscie nte, p ar ece ter se p erd id o nesse encam inhamen to d ad o po r Anna Fr eu d e M ela nie K lein?

I nter essa- no s tamb ém, nesta p esq u isa, ver if icar as tr an sfo r maçõ es qu e o co r r er am na p sica nális e co m cr ianças co m a intr o du ção , no âmb ito d essa c lí n ica, d as co ntr ib u içõ es d e Jacq u es Lacan, q u e elu cid ad as e o rd enad as p o r Jacq u es A lain M iller no camp o freu d iano s e to rnar am co n hec id as p o r o rie ntação lacan iana. A o rie nt ação lac an ia na, co mo her a nça d a E sco la d e Laca n, fu nd ad a em 1 9 6 4, se d ir igiu a u m mo vim ento d e d enú nc ia ao s d es vio s p elo s q u ais p as sa va a t eo ria d e Fr eud , p ar a q u e “reco nd u za a p ráxis o r iginal q u e ele inst itu iu so b o no me d e p sica nálise ao d ever q u e lhe co mp ete neste mu nd o ” ( LACA N, 196 4 /2003 , p . 23 5 ).

(18)

clí nica co m cr ianças, esta p esq u is a visa a invest igar se e ssa in fle xão p ro vo cou r esso nâ ncias n es sa clí nica e q u ais seu s efeito s.

Nes se se nt id o , a leitu r a d a clí nica co m cr ia nças r ealizad a p o r San tia go ( 200 5 ) no âm b ito d e su a p esqu isa so b r e a inib ição intele ctu a l ap o nta u m a inf lexão n es se cam p o . A au to ra d estaca , inic ia lme nt e a p ar tir d e su a leitu r a do s texto s fr eu d iano s, q u e a fob ia fo i, em r elação ao tratam ento p sica nalít ico co m cr ian ças, a “catego r ia c lí nica fu nd am enta l d a ap r eensão p sica nalít ica d a neu ro se na infâ ncia ” ( p . 67 ) . Co mo se sab e, o tr atamento d a fob ia d o p equ eno Hans – u m m enino d e cinco ano s d e id ad e – , r elatad o p o r F reu d (190 9 ) , inau g u r a o camp o d a p sicaná lise co m cr ianças, f azend o d esse s into ma “o gr and e p arad igm a d as p ato lo g ias me ntais d a in fâ ncia” ( SANT IAGO, 2 005 , p . 67 ).

E ntr eta nto , a p artir d o ano d e 1 9 20 , qu ando a clí nica p s icana lít ica co m cr ianç as co m eço u a se fir m ar no mov im ento p sicana lít ico , Sant iago ( 2005 ) r eco nhece u m a inf lexão nes sa clí nica. A au to ra m o stro u qu e “as fo r mu laçõ es teó r icas so b r e o inf ans in scre vem - se p ar a além d es se p ar ad igm a d a fo b ia” ( p . 67 ). Os tr ab alho s d e Fr eud r efer ent es à fo b ia ser vem d e b ase p ar a o s inter es sad o s na p r ática co m cria nças, mas a qu estão q u e se so b r ess aía ness e ano d e 1 92 0 er a sab er “qu al a p rát ica mais ap r op riad a p ara se e vit ar q u e a cr ia nça se to r ne u m ad u lto neu ró tico ” (ib id em ). São as qu estõ es refer ente s à p r eve nção qu e to mam a ce na nes sa d ata.

Nes se co ntex to , as p r ecu r so ras d a p rática clí n ica co m cr ianças – Her m ine Vo n Hu g- He llmu th, A nna F reu d e M ela nie K lein – intr o du zem var iad as ind agaçõ es so b re a efic ácia d o tr atam ento co m cria nças . E a qu estão qu e se to r no u centr al p ar a a p r ática co m cr ianças é: q u al o r ientação clín ica ma is ap r o p riad a p ar a gara nt ir o d esen vo lvim ento d a cr iança em d if icu ld ad es: “cu r a p sic ana lít ica p r op riame nte d ita o u método ed u cativo fu nd ame ntad o na p sic aná lise ?” ( SA NT IAGO, 200 5 , p . 68 ).

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A p artir d esse tr ab alho , fo r mu lamo s a hip ó tese d e qu e ho u ve no mo vim ento p sican alít ico , naq u ela d ata, po r p ar te d e algu n s s egu id o r es d a dou tr ina fr eu d ian a, u ma ap r ee nsão p artic u lar d a r efer ê ncia ao nú cleo d a pu lsão d e m o rte p r esent e no s into ma. A fo r m a co mo se d eu a ap r op r iação d a co nceitu ação d a p u lsão no s p ar ece ter p ro mo v id o na clí n ica co m cr ianças u ma inf le xão q u e p ro p icio u u m recu r so à ad ap tação d o sinto ma ao so cial, co m o d esco ns id eração pu ls io nal, em d etr im ento do sinto m a co m o pr od u ção do inco n sc ie nte.

Co ns id er a nd o as p r odu çõ es teó ricas d as d u as em inente s p sicanalista s d e cr ianç as ,2 Anna Fr eu d e M elanie K lein, q u e se d estacavam, no m o vim ento p sicana lít ico , no qu e d iz r esp e ito ao co n hec ime nto e à p r ática p s icanalít ica co m cr ian ças no ano d e 19 2 0, cad a u ma, a seu mo do, fez su a ins er ção no m o vim ento , p ro po nd o no vas p r áticas p ar a a clí nica co m cria nças. E ssas p r átic as p er mit ir am o início d a fo r mação d e d u as esco la s d e p ensam e nto , cu jo ob jet ivo se a nco rava em p r áticas c lín icas p ró p r ias p ar a se hav er co m o sinto m a d a cr ian ça, mas q u e, so br etud o , no s p arece se afastar em do s fu nd am ento s c lín ico s d a teo r ia fr eu d iana, p r inc ip alm ente em refer ênc ia à d im e nsão pu ls io nal d o sinto ma .

Co ns id er a nd o no ssa hip ó tese, p arece -no s q u e, a p ar tir d o modo p ar ticu lar , u tilizad o tanto p o r Anna Fr eu d qu anto M elanie Kle in, na ap r eensão d o co nceito d e pu lsão d e m o r te, ho u ve cer to encam in ham ento d a pr ática, qu e po ssib ilito u , ao s se gu id o res fu tu ro s, no esp ecíf ico d a clí nica co m cr ianças, a id eia d e cu ra na med id a d a ad ap tação d a cr iança ao so cial.

Ao lo ngo d e no ss a p esq u is a, naq u ilo que s e ap r esenta co m o u ma p r ática d e ad ap tação d o co mp or tam ent o d a cr iança ao so cia l , ser á r essa ltad o ju stame nt e o q u e é d esco nsid er ad o no sinto m a d o su jeito , a sab er : a d im e nsão pu lsio nal. Ver - se- á qu e o ob jetivo ter ap êu tico d e d eter minad as p ráticas co m cr ia nça s é ad ap tá - las ao so cial, so b o r eco nhe cime nto d o bo m co mp or tam ento na fam í lia, na e sco la o u na

2

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so cied ad e , d esco nhecend o , po r essa p er sp ect iva, a d im ensão p u lsio nal d o sinto ma.

A e ntr ad a d a o rie ntação lacan iana no mo vim e nto p sica nalí t ico d enu nc ia es se d es vio p elo q u al p asso u a clí nica co m cr ianças n a med id a em q u e r esgata a re f er ênc ia ao sin to ma. E ssa tr ans fo r mação d a clín ica inicia -s e a p ar t ir d o afo r ism o p r eco nizad o p o r Rob er t e Ro sin e L efo r t d e qu e “a cr ia nça é u m ana lisa nte em p leno s d ireito s” ( LEF ORT , 1 984 ). T al co m o o adu lto q u e chega à aná lise q ueix and o -se d e seu s into m a, o sinto ma d a cr ian ça tamb ém d ev e s er levado em co nta co mo u ma r espo sta do su jeito .

Nes se se nt id o , r efer ind o - se à p o sição do analis ante, L acan no s fala, no texto Co n ferên cia em Gen eb ra sob re o sin to ma , d o ano d e 1985 , qu e a p esso a qu e chega a fo rm u lar u m a verd ad eira d em and a d e análise é es sa p es so a q u em tr ab alha. Desse m o do , o analisante é aq u ele q u e d esincu mb e o ana lista d e ser o resp o nsáve l, n a o casião , p ela an ális e. E acrescenta mais ad iante: “Vo cês não d evem co nsid er á - la, d e m o do algu m, co m o algu ém q u e d evem mo ld ar ” ( p . 7 ). Ser u m “ana lisa nt e em p leno s d ir eito s” m ar ca u ma no va fo r ma d e ab o rd ar a cr iança na c lín ica, po is, tal co m o o adu lto , a cr ia nça é u m su je ito d o inco ns cie nt e e p ar ticip a, co mo tal, d essa co nd ição d e su jeito na clí nica.

O afo rismo , pr eco nizad o p elo s p sicana listas co m cr ianç as, Ro b er t e Ro s ine Lefo r t, r evita lizo u a clínica infant il e s e ap rese nt a co mo co nd ição d a p r ática c lí nica co m cr ianças na o r ie ntação lac ania na. Po r tanto , analisante em p leno s d ir eito s, co nvo ca - no s a p ensar no su jeito d e d esejo , nesse su jeito q u e se lo caliza d iante d o ob jeto co mo falta a se r ( LE FORT , 199 1 ).

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cr ianças q u e ser ão estu d ado s. No sso p ercu r so , d iante d es s es te xto s, p ar te d a segu inte q u estão , qu e ser á co lo cad a em cad a leitu r a: co mo cad a u ma d essas p s ica nalistas d e cr ianças se co lo co u fr ente à d ime nsão p u ls io na l do sinto m a no tr atame nto co m cria nças.

Da me sm a fo r ma, bu scar emo s , na m ed id a d o entend im e nto d a entr ad a d a o r ienta ção laca nian a no m o vim e nto p sica nalít ico , qu e se encam inho u a u m m o vim ento d e d e nú nc ias ao s d es vio s p elo s q u ais p assava a teo r ia d e Fr eu d , co mo se d eu u ma m u d ança d e p ersp ect iva qu anto ao sinto ma na c lí nica co m cr ianç as. E ssa c lí nica, p o r meio d o s p sicanalista s Ro b er t e Ro sin e Lefo r t, resg ata a re lação do su jeito em su a r elação co m o inco nsciente e o sinto ma e m su a d im ens ão pu lsio nal. São o s texto s q u e esp ec ificam ente tr at am d es sa m u d ança d e p er sp ectiva em r elação ao sinto ma q u e serão tr ab alhad o s.

Par a esc lar ecer mo s no s sa tra jetó r ia, no p rim eir o cap ítu lo , far em o s o p ercu r so r elat ivo à elab o ração d a segu nd a tó p ica do ap ar elho p síq u ico , ap r ese ntand o o d esv io qu e fico u im p r esso a p artir d essa no va fo r mu lação . Imp o r tante d est acar q u e n ão entr ar em o s na d escr ição d e co m o Fr eud co nstru iu e p o stu lou a pu lsão d e mo r te, mas, sim, d e co mo es sa no va e lab o ração int er f er iu na p r ática p sicana lít ica e p r od u ziu r esso nânc ias na clí nica, e aq u i esp ec if ic ame nte na clí nica co m cria nças. A fo r ma p ar ticu lar d e ap rop riação d essa no va fo rm u laç ão no s p arece ter encam inhad o a c lí nica co m cr ianças em d ir eção a u m r ecu r so à ad ap tação do sinto ma ao so cial co m o d esco ns id eração d a d im ensão pu ls io na l d o sinto ma. Do mesm o mo d o, nes se cap ítu lo , é a co ncep ção do sinto m a em Fr eud qu e ser á d estacad a : o s into ma co m o d efesa e co mo r ep etição . Na r ep etição , é a in sistênc ia d a d im e nsão p u lsio nal q u e ser á su b linhad a.

(22)

texto s freu d ia no s em r elação ao so cia l e as e xp eriê ncia s ed u cativas , tai s co m o as creche s- lare s e a E s co la He it zing, são algu ns d o s r ecu r so s u tilizad o s p o r Anna Fr eu d , qu e n o s le vam a co nsid er ar o encam inhamen to d e su a p r ática p ar a a d esco ns id er ação d a d im ensão pu ls io na l d o sinto ma, p er mit ind o u m r ecu r so ad ap tativo na clí nica. No int ento d e d estacar em q u al p er sp ect iva d o sinto ma A nna Fr eu d se inser e em su a p r ática, r eco r r er em o s ao tratam ento p sicanalít ico co m cria nça s p ropo sto po r ela a p ar t ir d e q u atro po nto s p o r nó s d ef inid o s: a cr iança no tratam ento , a f am í lia no tr atam ento , o sinto ma d a cr ian ça e o inco nsc iente.

No ter ce iro cap ítu lo , tratar em o s d a pr ática c lí nica d e M elanie Kle in. D es se m o do , a p er gu nta q u e no s o r ienta nele é: co m o M elani e Kle in se co lo ca em su a c lín ica fr ent e à fo rmu lação d a p u lsão d e m o r te? Par a r esp o nd er a essa p er gu nt a, inic iar em o s co m M elan ie K lein no q u e se r efer e, em u m pr ime iro mo mento d e su a teo ria, à inf lu ên cia d a teo r ia freu d ia na c lás sica em seu s te xto s e no s en cam inhar emo s, po ster io r me nte , p ar a as no v as e lab o raçõ es teó ricas d e M ela nie K lein, q u e se d istanc iam d as fo rm u laçõ es fr eu d ian as. Do mesm o m od o q u e em Anna Fr eu d , ser á po r meio d o tr atame nto p si can alít ico co m cr ian ças e d o s q u atro tóp ico s po r nó s co ns id er ad o s: a cr iança em a nálise, a fam í lia no tr atamento , o sinto ma d a cr ian ça e o inco nsciente , q u e ir emo s resp o nd er à qu estão : em qu al p er sp ectiva em r ela ção ao sinto m a M ela nie Klein se in ser e ?

No q u ar to cap ítu lo , tr atar emo s d a entrad a d a o rient ação lacan ia na na clí nica co m cr ianças e co mo essa e ntrad a r ep ercu tiu nes sa c lín ica , p rodu zind o u ma no va fo r ma d e co nceb er o tr atamento co m cr ianças. É a no ção d e su je ito d o inco nsc iente q u e ser á d est acad a em su a no va elab o r ação ar ticu lad a à co nceitu ação d e s into ma e p u lsão . É , tamb ém, o b inár io sent id o e go zo em r elação ao sinto ma q u e ir á no s en cam inhar p ar a a su a d imen são d e r ea l d o s int o m a na c lín ica d e o rie ntação lacania na.

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u ma clí nica o r ientad a p ar a o r eal, mar ca o fim d o d esv io d enu nc iad o p o r Jacq u es Lacan no s ano s d e 1 950 no q u e co ncer ne às p ráticas vo ltad as p ar a u m vié s ad ap tativo . A p r át ica d e tr at amento co m cr ianças na c lín ica d e or ie ntação laca niana ser á tamb ém d estacad a no s q u atro po nto s j á u tilizad o s na in vest igação d e A nna Fr eu d e M elanie K lein. S ão e les : a cr iança no tr atam ento , o lu gar d a fam ília, o s into m a d a cr ian ça e o inco nsc iente. A p ar tir d e então , ser á a p r esença d a d ime ns ão pu ls io na l inser id a no sinto ma o campo d e inv es t igaç ão d essa clí nica.

E sta p esq u isa p ar tiu d e u m im p asse vivid o em m inha p rátic a clí nica em re laç ão às ab o rd age ns u tilizad as no s tr atam ento s co m cr ianças. A q u estão qu e p ro vo cou inq uiet ação er a s ab er co m o Anna Fr eud e M ela nie K lein s e co lo caram na d ime ns ão d a tens ão e ntr e o q u e é ad ap tação do su jeito ao so cia l e a e scu ta d o su jeito p articu lar .

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CAP ÍT ULO I – A CONCEPÇ ÃO DE SI NTO MA A PAR TI R DA PULS ÃO DE MO RTE

T r atar emo s neste c ap ítu lo d a pu lsão d e m o r te co mo qu estão q u e p ro vo cou certa inf lex ão d a pr átic a clí nica p s ica nalít ica , m ais esp ec if icam ente so b r e a clínica co m cria nças a p ar t ir do ano d e 1 920 . Imp o r tante d estacar q u e não entr aremo s na d escr ição d e co mo Fr eud co nstr u iu e p o stu lou a p u lsão d e mo r te, mas, sim , d e co mo es sa no va elab o r ação inter fer iu na p rática p sic ana lític a, p rod u zind o r esso nân cias na clí nica co m cr ia nças.

A p o stu lação d a p u lsão d e mor te p o r Freud no ano d e 19 20 p arece -no s ter p er mit id o , às inter es sad as na c lín ica co m cria nças, A nna F reu d e M ela nie Kle in, u ma ab er tu r a em d ireção a u ma p r átic a cu ja ter ap êu tica ir ia u tilizar co mo recu r so à ad ap tação do s into ma ao so cia l, co nd u zind o a u ma d esco nsid eração d a d imen são p u lsio n al p resent e no sin to ma. E ssa d esco ns id er ação p u lsio nal d o sinto m a no s co nd u z a co nsid er ar , co mo ef eito , a p r esença d e u m a inf lexão n a p r átic a clí n ica co m cr ianças.

1 .1 A clínica co m cria n ça s: pulsã o não é ada pta ção

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co m eço u a se estab elecer no m o vim ento p sican alít ico r ep r ese ntad a p o r An na Fr eu d e M elan ie Kle in. T o d av ia, as p r im eir as p ub lica çõ es so b r e a clí nica co m cr ianças inic iar am - se no s an o s anter io r es a 1 92 0. Her m ine Vo n Hu g- Helm u th, p s icanalista viene nse, fo i p io ne ir a n es sa c lí nica e se d estaco u po r d esenvo lver e p ub licar ar tigo s so b re a imp o r tânc ia d e ativid ad es d e jo go e d esenho co m cr ianç as. Desse m o do , fo i a p rim eir a a d esen vo lver a p r ática c lí nica co m cr ian ças. No ano d e 191 2 , Fr eud , co n hecend o Hu g- Helm u th e su as ativ id ad es so b r e jo go e d ese nho , d ed icou -lh e, na r e vista I ma g o, u ma ses são r efer ent e à p s ica nálise co m cr ianças. A p art ir d e então , Hu g- He lmu th p u b lico u artigo s e s e d ed ico u às at ivid ad es lú d icas e d o d esen ho , revela nd o a imp o r tânc ia d o b r incar na c lí nica co m cr ian ças ( ROUDINE S CO; PLON, 1 99 8 ) .

E ntr eta nto , fo i no a no d e 1 9 09 q u e a p sic aná lise co m cr ianç as tev e co m o ato fu nd ado r, na teo r ia fr eu d iana, a pub licaç ão do caso d e Her b er t Gr af, d eno m inad o Pequ eno Ha n s – Aná lise d e u ma fob ia em u m men ino d e cin co a no s ( FRE UD, 1 90 9 /198 0 ). O ca so do p equ eno Her b ert Gr af se to r no u céleb r e na teo r ia fr eu d iana ao inau gu r ar o tratamento d e u ma cr iança e m p sica nálise. M as a int enção maio r d e Fr eu d co m esse caso não er a elab o r ar , a p ar tir d este, u m a técnic a d e at end imen to inf ant il. Seu int er esse ma io r era co nf ir m ar na inf â ncia a cau sa d as neu r o ses e fu nd ame nt ar su a te se acer ca d a sexu a lid ad e inf ant il – e xp o sta em 1 9 05 no s T rês en sa io s so b re a teo ria da sexua lida d e ( FRE UD , 1 90 5 /1980 ). M as o q u e se d estaca nesse caso d e Ha ns, d e aco rd o co m Santiago ( 2005 ), é a re fer ênc ia ao s into m a fó b ic o co mo o gr and e mo d elo d as d ivers as ma nif est açõ es p ato ló gicas d a inf ância.

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p r eve nç ão : “co mo evitar q u e a cr ia nç a se to rne u m ad u lto neu ró tico ” ( id em). E ssa p o sição s e anco r a na d esco b erta d e Fr eu d ( 1896 /1 980 ) sob r e a neu r o se d o adu lto e d e su as reminiscê ncia s em r ela ção à sexu alid ad e.

A p artir d es se tr ab a lho p ub licad o p or Sa nt iago ( 2 00 5 ), po d em o s co nsid er ar a hip ó tese d a p r ese nça d e u m a inf lexão na c lí nica co m cr ianças q u e se d eu d ev id o a u m a ap rop riação p ar ticu lar d a r efer ên cia à pu lsão d e m o r te p r esent e no sin to ma . As p sica nalistas d e cr ian ças, aq u i esp ec if icam ente, falamo s d e An na Fr eud e M elanie K lein, q u and o iniciaram s eu trab alho na clí nic a, incent ivad as p ela teo r ia fr eu d ia na , p ar ece- no s t er d esco ns id erad o a r eferê nc ia ao s into m a co mo d im ensão pu ls io na l, le vand o a u ma in fle xão na clí nica co m cr ianç as. T a l inf le xão pod e ter p o ssib ilitad o u m encam in ham ent o q u e pr ivile gia a ad ap tação d a cr iança ao so cia l.

No int ento d e esc lar ecer o qu e chamamo s d e ad ap tação ao so cial, é necessár io no s d ir igir mo s inic ialme nt e ao entend im ento do “sen so co m u m”. Qu and o fala mo s d e ad ap tação ao so cial, im ed iat am ente so m o s r emet id o s ao s p ad rõ es d e edu cação v igentes na so cied ad e , q u e p erm item ao su jeito , q u e se ins er e nes se p ad r ão , viver em co nfo r m id ad e co m o so cial. Alain d e M ijo lla ( 2 00 5 ) , no Dicio ná rio In tern a cion a l d e Psi ca ná lise, d esig na ad ap tação co mo “um co nju nto d e p ro cesso s qu e p er m item a u m o r ga nism o v ivo aju star - se d a m elho r fo r ma po ssível às co nd içõ es d e vid a qu e lhe são imp o stas p elo meio amb ie nte ” ( p . 24 ). E ssas co nd içõ es d e vid a b u scam gar a nt ir a p r óp ria so b r evivênc ia d o o r gan ism o e têm a f ina lid ad e d e p erp etu ar a esp éc ie.

(27)

E ssa p rát ica ad ap tativa p o d er ia ser co ns id er ad a, a no sso ver, co mo u ma cr ença na p redo m inân cia d e elem ento s exter no s p ar a a edu cação do su jeito . Dessa ma neir a, u m a cr iança, cu jo co mpo r tam ento n ão se d es via d a no r ma est ab elecid a, ta nto na esco la q uanto na f am í lia e na so cied ad e, ser ia u m a cr ia nça ad ap tad a ao so cial. Po r o u tro lad o , po d em o s int er r o gar : e a cr iança q u e não se inser e na no r ma so c ial? Qu ais o s ef eito s d esse co m po r tam ento , co ns id er ad o aqu i u m sinto m a, no so cial e no cam p o esco lar ?

No ent a nto , nest a p esq u isa, q u and o no s refer irm o s à ad ap tação d a cr iança ao so cial, estar emo s faland o d o qu e r esu lta d e u m a p o ssíve l d esco ns id er ação d a refer ênc ia ao nú cleo d a pu lsão d e mo r te pr ese nte no sinto ma. Fo r mu lamo s a hip ó tese d e q ue a ap ro pr iação p articu lar d o co nce ito d a no va p o stu lação p u lsio na l, p o r p ar te d e algu ns segu id o r es d a teo r ia fr eu d iana, no s ano s d e 1 92 0 , pod e ter p er mit id o u ma ab ertu ra p ar a u ma p r ática cu ja ter ap êu tica ir ia p riv ilegi ar o sinto m a naq u ilo qu e ele se ad ap ta ao so cia l. Send o ass im, a ref er ênc ia à d im e ns ão pu lsio na l p r esente no s into m a no s p arece t er sid o d esco ns id er ad a p elas ana lis tas d e cr ianças, A nna Freu d e M elan ie K lein, na qu ela ép o ca.

E ssa no s p ar ece ser u ma int er p r etação u tilizad a po r p ar te d e algu ns teó rico s p ó s- fr eu d iano s, q u e p arecem acr ed itar q u e, p o r m eio d a elim inação d o sinto m a, se d o minar ia tamb ém a p u lsão d e mo r te. Segu iremo s o s ca m inho s d a fo r mu lação do sinto m a em Fr eu d até a co ncep ção do sinto m a em su a d im ensão pu ls io na l.

1 .2 O sint o ma co mo def esa

A p o stu lação d a pu lsão d e mo r te e a p rese nça d a d im ensão pu ls io na l no sinto ma r ep r es entaram a gra nd e v isad a d e Freu d em r elação à clí nica a p ar tir d a s egu nd a tó p ica. E ntr eta nto , o r eco nh ecim ento d a no v a p o stu lação d a p u lsão fo i p r eced id o po r u ma p rim eir a co ncep ção d o ap ar elho p síq u ico , qu e é re leva nt e d estacar, p r inc ip alm ente no q u e co ncer n e ao sinto ma naq u ele p rim eir o mo mento .

(28)

e p ré - co nscie nte. O sent id o do p ercu r so ana lít ico e d a cu ra analít ica p ropo sto po r Fr eud , naqu ela ép o ca, se a nco ra na p r op o s ição tão r eco rr ente em A I n terp reta ção do s S onh o s : “to r nar co ns cient e o inco nsc iente” ( FRE UD, 1 900 /19 80 ). E ssa pr opo sição er a a exp r essão do mod o d e fu ncio nam ento d o p siq u ismo , qu e tinha co mo fim, p ela int er p r etação , fa zer o inco nscien te se ap r esentar , p er mit ind o , d esse mod o, o esvaec imen to do sinto m a.

E ssa p r op o sição , to rnar co nscie nt e o inco ns cie nt e, er a r ep r esentat iva d a terap êu tica u t ilizad a p r eced entem ente no s estu d o s so b r e a hister ia : “o mo mento em qu e o méd ico d esvend a a o cas ião d a p r imeir a o co r r ênc ia d o sinto ma e a r azão d e seu ap arecim ento é exatam ente o mo m ento em q u e o sinto ma se esv ai” ( FRE UD, 1 8 93 /19 80, p . 47 ). O sinto m a, ness e m o m ento esp ecíf ico d o s estu d o s d e Fr eu d , se ap r ese ntava no tr atame nto ana lít ico co mo mensa gem c ifr ad a a ser int er p r etad a p elo analist a e d ecifr ad a p elo an alis ante.

Um p o u co m ais ad ia nt e, no texto No vo s co men tá rio s sob re a s n eu ro p sico ses d e d efesa , Fr eu d ( 1896 /1980 ) acrescent a q u e o sin to ma neu ró tico “é cara cter iz ad o p elo r eto r no d as lemb rança s r ep rim id as – isto é, p elo fr acasso d a d efesa” ( p . 19 5 ) . E ntre tanto , co ntinu a Fr eu d :

o q u e s e t o rna cons ci ent e como i dei a e afet os ob s ess i vos , s ubs t i t ui nd o as l emb ra nças p at ogê ni cas , no q ue con cer n e à vi da co ns ci ent e, s ão es t rut ur as q u e co ns i s t em e m u m a con ci l i a çã o ent r e i deias r ep ri mi das e r epr es s oras ( i d em ).

Naq u ele mo m ento do s estu do s d e Freud , caracteriz ad o co mo p r imeir as p ub licaçõ es p s ican alít icas, o s s into m as vis avam a p r o m o ver u ma co nciliação , po r u ma fa lha d a d ef esa no p siq u ismo , entre as r ep r esentaçõ es d e id eias inco n cil iáv eis d o inco nscie nte p ar a o co nsc ient e.

(29)

do sinto ma : “é u m f ato q u e a teo ria qu e r eg e to do s o s s into m as p sico neu r ó tico s cu lm ina nu m a ú nica p ro po sição , qu e asse ver a q u e eles tam b ém d evem s er encar ad o s co m o realiz açõ es d e d ese jo s in co n sc iente s” ( p . 606 ). Po rtanto , no ano d e 1 9 00 , tanto o so nho q u anto o sinto m a fo r am r eco nhe cid o s p or Fr eu d co mo p rod u çõ es do inco nsc iente e, co mo tais, p assí veis d e in ter p r etação e d e sent id o . Lo go , isso fazia d a p sic aná lise u ma ar te inter p r etat iva.

T od avia, naq u ela d ata, as m anif est açõ es inco nscie ntes, tanto do sinto ma q u anto do so nho , se d ifere nc ia vam entre si. E mb o ra se jam r eco nhe cid o s co mo p rod u çõ es d o inco nsc iente , Freu d ob servava q u e hav ia u ma fixid ez d o sinto m a em co ntr ap o siç ão ao ef êm er o d o so nho , o qu e d ificu ltav a o tr ab alho ana lítico .

Fr eud (1 9 0019 80 ) co m eçou a r eco nhec er , a p ar tir d e e ntão , q u e a int er p r etação , d ir ig ind o - se d ir etam ente ao sinto ma , se ap r esent a va co mo u ma imp o ssib i lid ad e d a o rd em estru tu ral. Ao mesm o temp o, reco nheceu tam b ém q u e a p rop o sição to r nar co nscie nt e o in co nscie nte n ão p o d er ia se r edu zir a u m a simp les d ec ifr ação d o s eleme nto s censu r ad o s e exclu íd o s d a co nsciência. No enta nto , Freu d d estaco u qu e a ins istên ci a e a co nst â ncia d o sinto ma r eve lavam a p rese nça d e o u tr a d im ensão p ar a a lém do sab er in co n sc iente q u e p r ecis ava ser inv estig ad a. E ss a d im ens ão r ep r esentava algo d a o rd em d a p u lsão .

(30)

Fo i no ano d e 1 910 , no texto int itu lad o A co n cep ção p sica na lítica da p ertu rba ção p sico g ên ica da visã o, qu e Fr eu d ( 191 0 /1 98 0 ) p rin cip io u a fo rm aliza ção d e su a inve st igação so b re a d ime nsão pu ls io na l. Nesse texto , Fr eud inicia d ize nd o d e seu inter ess e em to mar o exemp lo d a p er tur b ação p sico gê nica d a v isão , “a f im d e mo str ar as mo d ificaçõ es q u e se o p er am em no ssa co nc ep ção d a gênese d o s d istú r b io s d essa esp écie , so b a inf lu ência d o s méto do s d e investig ação p sicana lít ic a” ( p . 1 97 ). Pr o ssegu e o texto , r elat a nd o q u e r eco nhe ce a p esq u is a d e algu n s au to res so b r e tal d istú r b io , co mo a d a E sco la Fr an ce sa co m C harco t, J anet e B inet e o mo d elo d e su gest ão h ip nó tica u tilizad o no s caso s d e h ist er ia. M ed ia nte es se s p o sicio n ame nto s já co n hec id o s, d iz Fr eu d (19 1 0 /198 0 ) qu e há u m int er esse em o b ter u m ente nd im ento d e p er tur b ação visu a l à lu z d a p sic análise. Para isso , Freud ressalta a imp o r tância d as fo r ças co nsc ient es e inco nsc ient es q u e int era gem o u qu e, mu itas vezes, se inib em e ntr e esses d o is s istem as no p siq u ismo . Reco nhece t am b ém a r elevânc ia d o p ap el d o r ecalq u e inter ag ind o no gr u po d e id eias q u e se opõ em à co ns ciê ncia. É a imp o r tânc ia d o r ecalq u e e , mais aind a, d a su a falha em iso lar no inco nscie nte u m gru po d e id eias inac eitáv eis q u e “co nst itu em a p r eco nd ição d a fo r mação dos s into mas” ( p . 199 ) .

Des sa m a neir a, Fr eu d (191 0 /1 980 ) ad m ite q u e o fato d e “c er tas id eia s r elac io nad as co m a vis ão ser su p rim id a d a co n sc iênc ia, [. . . ] q u e es sa s id eias entrar am em o p o sição a o u tras id eia s, ma is p od ero sas” (p . 199 ). E ntr eta nto , ele lança a q u estão : “m as q u al p od e ser a o rigem d es sa opo sição , q u e p ro vo ca a r ep ressão entre o ego e o s vár io s gr u p o s d e id eia s?” ( id em) . E co ntinu a:

d es cob ri mos q ue cada i ns t i nt o pr o cu ra t or nar-s e efet i v o p or mei o d e i dei as at i vant es q ue est ej am em har mo ni a com s eus ob j et i vos . Es t es i nst i nt os n em semp r e s ã o comp at í vei s ent r e si ; s eus i nt e res s es a mi ú de ent ram e m con fl i t o. A op os i çã o en t r e as i dei as é ap enas u m a exp r es s ão das l utas ent re os vári os i ns t i nt os ( i b i dem).

(31)

teo r ia p u ls io na l. E le intr o du ziu naq u ela d ata o p ar pr im eir am ent e co nsid er ad o pu lsão sexu al e pu lsão d e au to co nser vação , qu e ser viu d e r efer ência p ar a a inve st igação d a d im ensão p u lsio nal e su a p o ster io r elab o r ação .

E m 1 91 5, no p r imeir o d o s texto s q u e co mpõ em su a m etap sico lo gia , A Pu lsã o e seu s Destin o s, Fr eu d (1 91 5 /1 980 ) d estaca a lgu m as caract eríst icas d a p u lsão , qu e p er mite m co nsid er ar su a p r esença no o r gan ism o co m o u ma fo rm a mu ito p ar ticu lar d e atu ação . Pr im eir am ente , a pu lsão é co nsid er ad a co mo p ro ve nien t e d o p ró p r io o r ganismo , o qu e p er m ite su a atu ação d ir eta so b r e o p siq uismo . Por o u tr o lad o , a pu lsão tem co m o finalid ad e a e xe cu ção d e um ato p ara su p rim ir a tensão p ro vo cad a p or ela no o rganismo . E co mo caracterí st ica q u e a esp ecif ica co m o d im ens ão p u lsio nal é q u e “u ma p u lsão jam ais atu a co m o u m a fo r ça qu e imp rim e u m im p acto mo mentâneo , m as s em p r e co mo u m imp acto co nst a nte” ( p . 1 38 ). Po r tanto , su a p r esen ça co nsist e e in siste. N ão há co m o d esco ns id er á -la.

No entanto , a clí nic a p sic ana lít ica, fu nd amentad a no s mo ld es d a int er p r etação co m o ob jetivo d e to rnar co nscie nte o in co nsc ient e, co m eçava a se ap r ese ntar insu f icie nte na p r ática naq u ela ép o ca. Isso po rqu e a interp retaçã o d o m ater ia l inco nsciente p o r p ar te d o ana lista , am p liand o o cam po d o sab er do su jeito , não gara nt ia a p r odu ção d e r esu ltad o s efet ivo s. Des se m o do , o sinto ma co m o d efes a, r ep r ese nt at ivo d esse p r ime ir o m o mento tóp ico , ced e lu gar ao sinto m a co m o satisfaç ão . A p artir d e ent ão , era a ins istê ncia d a d imen são p u lsio nal, p r odu zind o ef eito s na clí nic a, o po nto a ser co ns id er a do po r Fr eud .

1 .3 O sint o ma co mo sat isf a çã o

(32)

ating ir. Ne le, Fr eu d r eco n hec e q u e o o bjet ivo ter ap êu tico est ab elecid o no s p r im eir o s temp o s d a p sica ná lis e, tal co mo r efer id o na int er p r etação do s so nho s, não er a p o ssíve l ser alca nçad o na p r ática. E co nt inu a:

o pa ci ent e n ão p od e r ec or dar a t ot al i da de d o qu e nel e s e a cha r ep ri mi d o, e o q u e nã o l he é p os sí v el r ecor d ar po d e s er exat amen t e a p art e es s enci al . [. . . ] É ob ri gad o a r ep et i r o mat eri al r ep ri mi do co mo s e fos s e um a exp eri ê nci a cont emp o r ânea, em vez d e, co mo o médi co p r eferi ri a v er, recor dá -l o como al g o p er t encent e a o p as s ad o (p. 3 1).

Des sa ma neir a, a ins istên cia d o mater ial r ecalcad o em fazer su a ap ar ição na co nsc iê nc ia p o r m eio d o sinto m a p er m it iu a Fr eu d r eco nhe cer a d ime nsão pu lsio nal ins er id a n ele.

Des se m o do , a intr o d u ção d o co nceito d e p u lsão d e mo rte no ano d e 1 92 0 ter mino u po r alterar a teo ria p u lsio nal co nc er ne nte à p r imeir a tóp ica ao m o d if icar a co ncep ção d e d u alid ad e pu ls io nal: o p ar, p r imeir ament e co ns id erad o pu lsão se xu a l e pu lsão d e au to co nser vaçã o , ced er á lu g ar ao b inô m io pu lsão d e vid a e pu lsão d e mo rte, r esu ltad o d a no v a fo r mu lação do p siq u ismo na segu nd a tóp ica ( FRE UD, 1 920 /19 80 ).

O q u e se d estaca no esp ecí f ico d esse te xto é a co m pu lsão à r ep etição co mo fenô meno clí n ico q u e emerg e co mo p o nto d e r esistê ncia no p ro cesso a nalít ico , m as q u e, po r ou tro lad o, p er mite “tr azer à lu z as ativid ad es d o s in st into s rep r im id o s” ( FR E UD, 1 920 /1 980 , p. 3 3) . Co mo ele no s d iz, é p r eciso f icar clar o q u e p ensamo s eq u ivo cad ament e q u e a r es istência p ro vém d o inco nsci ente. Na ver d ad e, o mater ial r ecalcad o inco nsc iente n ão o fer ece r es istên cia; p e lo co ntr ár io , su a in sistênc ia em ap ar ecer na co nsciên cia é co ntí nu a. É a ins istê ncia d e ap ar ição do mater ial r ec alcad o qu e se ap resenta co m o d esp r azer . Desse mo d o , su rge a r es istência na te nt at iva d e ev itar e ss e d esp razer. I sso , no e nt anto , “co nst itu i d esp r azer p ar a u m d o s s ist em as e, s imu ltan eamen te, sat isfaç ão p ar a o o u tr o ” (ib id em ) .

(33)

do lo r o sas levo u Fr eud a car acter iz ar esse f enô me no co mo u ma e xigê ncia d e sat is fação , q u e é d a o rd em d a p u lsão . E , ass im, co mp leta ele : “e nco ntrar em o s co ragem p ar a supo r qu e e xiste r ealme nt e na m ente u ma co m pu lsão à rep etição q u e sob r epu ja o p r incíp io d o p r azer ” ( FRE UD , 192 0 /1980 , p. 36 ). E ssa no va elab o r ação p síq u ica m o d if ica a d im ens ão do sinto m a ago r a r evelad o so b a ver tent e d a p u lsão .

O s into ma, q u e na p r im e ira tó p ica era o r igin alme nt e u ma o rd em d efe nsiv a co ntr a as rep r esentaçõ es inco nciliáveis d o in co n sc iente, ad q u ir e, a p ar tir d a segu nd a tó p ica, a qu alid ad e d e u ma satisfação . As s im , d efine Fr eu d ( 19 2 5 /19 26 /1 9 80 ), em In ib ição , S in to ma e A ng ú stia : “u m sinto ma é u m s inal e u m su b stitu to d e u m a sat isfação inst intu al q u e p er m ane ceu em estad o jacent e; é u m a co nseq u ênc ia d o p ro cesso d e r ep r essão ” ( p . 112 ). Nesse no vo mo ment o , o sinto ma, q u e até ent ão er a visto co mo m ensag em a s er d ecifrad a, se d ist a ncia d esse o b jetivo merame nt e d escr itivo a favo r d a d imensão pu ls io na l.

1 .4 Apro pria çã o pa rt icula r da no va fo rmula çã o pulsio na l

Dia nte d a no va fo r mu lação d o fu ncio name nto p síq u ico e d a hip ó tese d a existên cia d e u ma pu lsão d e m o r te , ho u ve , po r p arte d o mo vim ento p sican alít ico , u m a fo r ma p ar ticu lar d e ap r eensão d e seu co nce ito ( J ONE S, 19 79 ), p r inc ip alm ent e p ela p articu lar id ad e d a f inalid ad e d ess a p u lsão , q u e, segu nd o Freu d (193 8 /1 98 0 ), “é r eco nd u zir o qu e está vivo ao es tad o ino r gâ nico ” (p . 17 3 ). E sse m o vim ento r egr es s ivo d e r eto rno a u m est ad o anter io r to r no u - se a esp ec ific id ad e d a pu lsão e, po r tanto , o p ro tó tip o d a pu lsão de mo rte.

(34)

O di fí ci l r aci ocí ni o q ue s e des enr ol a no l i vr o q u e con si d era mo s faz q ue a l i nha de p ens a me nt o s ej a, d e t o dos os ân gul os , ár du a de s egui r -s e, e mui t os a nal i st as , i n cl ui ndo -s e eu mes mo, t ê m t ent ad o apr es ent á-l o e m l i n gu agem ma i s s i mpl es , s en do q ue os p ont o s d e vi st a d e F reud em r el açã o a ess e ass unt o mu i t as v ez es t ê m s i d o mal ap reendi d os (p. 60 7).

E sse m o do p ar ticu lar d e ap r ee ns ão d a p u lsão se estend eu a m u ito s p sicanalista s. Uns p ou co s, segu nd o Jo nes ( 1 979 ), tais co mo Alex and er , E it in go n e M elan ie K lein, aceitar am- na im ed iat ament e. Os ú nico s ana lista s q u e aind a emp r e gav am a exp ress ão “inst into d e mo r te” , e nestes M ela nie Klein es tava inc lu íd a, “fazem -no nu m se nt id o p u r ament e clí nico , q u e é u m se nt id o d ista nciad o da teo r ia o r iginal d e Fr eu d ” ( p . 606 ).

Histo r icame nt e, o ano d e 1 92 0 pod e ser car acter izad o co mo u m se gu nd o mo m ento d e d isse ns ão na teo r ia d e Fr eu d. O pr im eir o mo m ento pod e ser d estacad o lo go no iní c io d e seus tr ab alho s d a p r imeira tó p ica, no q u e se r ef er e à s c o ns id er açõ es so b r e o in co n sc iente , a se xu a lid ad e e a trans fer ênc ia. E s se s fu nd am ento s p sic analít ico s não t iver am aceit aç ão po r p arte d e algu ns d e seu s d iscíp u lo s, tais co m o Alfr ed Ad ler , no ano d e 191 1, e Car l Gu stav J u ng, no ano d e 19 13 . A p ar tir d e e ntão , co nd u ziram- se a d o u trinas p r óp r ias m ed iante a fo rm ação d e su as p rodu çõ es teó ricas : a p s ico lo g ia ind ividu al, no caso d e Ad ler , e a p sico lo g ia an alít ica , no qu e se r efer e a J u ng ( J ONE S, 197 9 ).

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