1 Agradecemos a CAPES pela bolsa de pós-doutorado na França no períododesetembrode2004asetembrode2005.
2 Endereço:RuaRobertoSimonsen,305,CentroEducacionalUNESP, PresidentePrudente,SP,Brasil19060-900.E-mail:menin@prudente. unesp.br
3 ZoneMuette,nooriginal.
4 Entende-senormalmentepela“EscoladeAix”umgrupodepesquisa-dores,pertencentesàUniversidadedeAix-en-Provence,naregiãode Provence,França,quesededicaàanáliseestruturaldasrepresentações sociais, como Claude Flament, Jean Claude Abric e Christian Gui-melli.
RepresentaçãoSocialeEstereótipo:
AZonaMudadasRepresentaçõesSociais
1MariaSuzanadeStefanoMenin2
UniversidadeEstadualdeSãoPaulo–CampusdePresidentePrudente
RESUMO–Nesteartigo,apartirdadefiniçãodoconceitodezonamudadasrepresentaçõessociais,descrevemosastécnicasde substituiçãoededescontextualizaçãonormativadesenvolvidaspelaEscoladeAix-en-Provencepararevelarasrepresentações escondidasoumascaradasemfunçãodesuainadequaçãoàsnormassociaisvigentesnogrupodereferênciadosrespondentes dequestionários.Aseguir,relatamososprimeirosestudosrealizadoscomaintençãoderevelarelementosrepresentacionaisda zonamudaderepresentaçõeseosestudosatuaissobreesseconceitoedescrevemosediscutimostrêspossíveisexplicaçõespara amudançaderepresentaçõesemsituaçõesdesubstituiçãooudedescontextualizaçãonormativa:aprojeçãoderepresentações condenáveispelasnormassociaisaoutrosgruposderepresentaçãoquandoossujeitosfalamporoutrosgruposenãoporsi mesmo;oefeitodatransparênciaderepresentaçõesquandosãodescritasasrepresentaçõesdegruposconhecidos;oefeitoda influênciasocialdenormasouderepresentaçõesproeminentesnogrupodepertença.
Palavras-chave:representaçõessociais;zonamudadasrepresentações;estereótipos;preconceito.
SocialRepresentationandStereotypes:
TheMuteZoneoftheSocialRepresentations
ABSTRACT–Inthispaper,departingfromthedefinitionoftheconceptofMuteZoneofthesocialrepresentations,we describethetechniquesofsubstitutionandnormativedescontextualizationdevelopedbytheschoolofAix-en-Provenceto disclosethehiddenormaskedrepresentationsduetoitsinadequacytothesocialnormsinforceinthereferencegroupofthe peoplethatansweredthequestionnaires.Next,wereportthefirststudiescarriedoutwiththeintentiontorevealrepresentative elementsoftheMuteZoneofrepresentationsandthecurrentstudiesaboutthisconceptandwedescribeanddiscussthree possibleexplanationsforthechangeofrepresentationsinsituationsofsubstitutionornormativedescontextualization:the projectionoftherepresentationsthatarecondemnablebythesocialnormstoothergroupsofrepresentationwhenthesubject personsspeakonbehalfofothergroupsandnotbythemselves;theeffectofthetransparencyofrepresentationswhenthe representationsofknowngroupsaredescribed;theeffectofthesocialinfluenceofnormsorproeminentrepresentationsin thegroupwheretheybelong.
Keywords:socialrepresentations;mutezoneoftherepresentations;stereotypes;prejudice.
Jodelet(1996)eAbric(1996)apontamaimportânciaea adequaçãodeseestudarfenômenosrelacionadosàexclusão socialatravésdaanálisederepresentaçõessociais.Paraesses autores, embora seja necessário investigar e interferir nos fatoresobjetivosqueintervémnaexclusão,issonãoésufi-cienteparaacompreensãodeumfenômenoqueé,também, denaturezasimbólica.
Nopresentetrabalho,nosinteressamospelasrepresenta-çõesqueumgrupodeindivíduospodefazerdeoutrogrupo, alvo de preconceitos. Como captar essas representações? E em que medida, se pode dizer que são representações sociais?
A Escola de Aix-en-Provence, realizando análise es-trutural dos componentes das representações e buscando identificar os elementos centrais das mesmas deparou-se, emalgumasinvestigações,comrepresentaçõesdisfarçadas (masquées),ouseja,certoselementosdeumarepresentação apareciamnumasituaçãoenãoemoutras,surgindoentãoa hipótesedazonamuda.
Aquasetotalidadedosestudosemrepresentaçãosocial sebaseianasverbalizaçõesdesujeitosinvestigadasatravés deentrevistas,questionárioseoutrosinstrumentosidentifica-Neste artigo descrevemos alguns estudos que buscam
doresdediscursos.Abric(2003)levantaoproblemadacon-fiabilidadedosdadosobtidos:“aspessoasqueinterrogamos nosdizemmesmooquepensam?”(p.61).Oautorilustraesse problemasereportandoàsestatísticasrealizadasnaFrança a respeito das eleições presidenciais de 2002. Embora as estatísticasmostrassemLePenemterceirolugarnasinten-çõesdevoto(depoisdeChiraceJospin)osresultadosreais ocolocaramemsegundo.Ora,paraoautor,provavelmente as pessoas entrevistadas antes das eleições não revelaram suasintençõesdevotoportemordeseremmalvistas.Assim, conclui Abric, “para certos objetos, em certos contextos, existeumazonamudaderepresentaçãosocial.Estazona mudaécompostadeelementosdarepresentaçãoquenão sãoverbalizáveispelossujeitospelosmétodosclássicosde coletadedados”(2003,p.61).
Azonamuda,segundoGuimellieDeschamp(2000),é compostadeelementosdarepresentaçãoquesão“contra-normativos”, ou seja, cognições ou crenças que não são expressaspelosujeitoemcondiçõesnormaisdeprodução, poispodementraremconflitocomvaloresmoraisounor-masdeumdeterminadogrupo.ParaAbric(2003),estazona podesercompostaporcertoselementosdonúcleocentral deumarepresentaçãoqueestão“adormecidos”nãoporque não estejam ativados, mas porque são “não-expressáveis” (p.62).Assim,certoselementosdarepresentação,mesmo aquelesquepodemsercentrais,podemficar“escondidos”ou “mascarados”deformaqueoqueaparecesãooselementos periféricos.Considerando,ainda,queoselementosdonúcleo centralpodemserfuncionaisounormativos5,Abric(2003) sugerequeosqueficamnazonamudasãoosnormativos,pois sãoestes,maisligadosaavaliaçõesevalores,queaparecem comoilegítimosparaogrupodepertençadoindivíduoque representa.
Afimdeseconseguirrevelaroselementosdazonamuda derepresentaçãoéprecisodesenvolvermétodosespecíficosde investigação.E,dadoqueestazonaéconstituídadeelementos contra-normativos,pararevelá-loséprecisoreduzirapressão normativasobreosujeitoquerepresenta.Abric(2003)afirma quenumaprimeiraanálise,apressãonormativaencontrasua origememdoiselementosdasituação:oprópriosujeitoeo grupodereferência,eésobreestesdoisaspectosqueastécni-casparaidentificarazonamudaatuarão.Aprimeira–técnica desubstituição–visareduzirapressãonormativa,reduzindoo níveldeimplicaçãopessoaldosujeitocomrelaçãoàrepresen-taçãodoobjeto.Asegunda–técnicadedescontextualização normativa – visa reduzir a pressão normativa colocando o sujeitonumcontextomaisdistantedeseuprópriogrupode referência,permitindo-lhe,assim,exprimirmaislivremente seupensamentoatravésdareduçãodosriscosdejulgamento negativodapartedeseusinterlocutores.
Atécnicadesubstituição
Baseia-se na idéia de que um sujeito poderá exprimir representações “proibidas ao seu grupo” atribuindo-as a
outros,istoé,falandoporoutros,quenãosimesmo.Primeiro, pede-seàpessoaquedêsuaprópriaopinião(associações) sobreumtema;e,aseguir,pede-sequerespondacomoum outroofariaquandointerrogadopelomesmotema.Ooutro deveserrelacionadoaogrupodereferênciadosujeito;no entanto,oníveldeimplicaçãodesteoutrocomapessoares-pondentepodesermanipuladopelotipodesolicitaçãofeita (pode-sepediraumestudantedeLetrasquerespondacomo umestudantedeLetrasresponderia,oucomoos“franceses emgeral”responderiam).
Abric(2003)fazaressalvadequeatécnicadasubsti-tuiçãopermiteapenasahipótesedequeasrepresentações colocadassãodazonamuda.Podeacontecerqueasrepre-sentaçõesfornecidasnasubstituiçãosejamrepresentações que os sujeitos têm do grupo de referência (os franceses emgeral...)enãoaquelasdazonamuda.Esteéumlimite importantedatécnica.
Atécnicadedescontextualizaçãonormativa
A técnica de descontextualização normativa consiste emmanipularoreceptordasrespostasdosujeito,ouseja,a quemosujeitorespondeaoquestionário;equepodeserou alguémdogrupodereferênciadoprópriosujeito,comseus mesmosvalores,oualguémcomoutrosvalores.Postula-se queserámaisfácilaosujeitoresponder,expressandosuas idéiasdesviantes,contra-normativas,emfacedeumapessoa menos próxima e que não partilha do mesmo sistema de referênciadosujeito.
Abric (2003) exemplifica esta técnica com um estudo efetuadocomestudantesdeLetrassobreasrepresentações de“Maghrébin”,nasquaissepediramassociaçõesaossujei-tosnumacondiçãonormal(normativa),emqueoaplicador seapresentoucomoestudantedeLetras,enumacondição de descontextualização normativa, na qual o aplicador se apresentoucomoestudantedeDireito.Nafaculdadeonde estesalunosestudam,osestudantesdeLetrassãopercebidos, deacordocomoestereótipoquesetêmdeles,comomais tolerantes,comnormasmaisrígidascontraoracismoque osalunosdeDireito.
Como resultados, obteve-se diferenças acentuadas nas representaçõesnasduascondições.Nacondição“normal” (estudantesdeLetrasrespondemparaentrevistadortambém de Letras) apareceram como elementos centrais palavras como: “geográfico”, “cultura”, “racismo”, “calorosos”; e comoelementosperiféricos:“delinqüência”,“igual”,“impe-didosdeseintegrar”,“vítimasderacismo”.Nacondiçãode descontextualização(estudantesdeLetrasrespondempara estudantesdeDireito)apareceramoselementos:“geográfi-co”,“delinqüência”,“racismo”,“imigração”,comocentraise “nãoqueremseintegrar”,“comida”,“baixoníveleconômico” comoelementosperiféricos(Abric,2003).Assim,asexpres-sões“delinqüência”e“nãoqueremseintegrar”podemser elementosdazonamuda.Nasituaçãodedescontextualização, portanto,osestudantesproduzirammuitomaisassociações negativasqueemsituaçãonormal.
Concluindosobreascondiçõesdeexistênciadazona muda,Abric(2003)chamaaatençãoaofatodequeeladiz respeitoacertotipoderepresentação:aquelasquerepresen-tamobjetosimpregnadosporvaloressociaisreconhecidos 5 SegundoAbric(1976)oselementosnormativosdeumarepresentação
epartilhados.Sãoobjetos“sensíveis”nosentidoqueseu camporepresentacionalcomportacogniçõesecrençasque, seexpressas,colocamemxequevaloresmoraisounormas sociais valorizadas pelos grupos. No entanto, em certas situações,oselementosdazonamudaseexpressam;ea pesquisadeveinvestigarascondiçõesdeexpressãodesses elementos.
Ahipótesedazonamudacolocaumaquestãoimportante paraateoriadonúcleocentral:seasrepresentaçõesmudam segundocontextosnormativosdiferentes,oquesemantémes-távelnumarepresentação?Pode-seaindapensaremumnúcleo centraldetodarepresentação?ParaAbric(2003),ofatode existiremelementosmascaradosouescondidosnazonamuda edeseremesteselementososdonúcleocentralnãoimplicana suposiçãodequeonúcleocentraldeumarepresentaçãonão sejaestável.Abricreafirmasuahipótesedeque“Oconteúdo donúcleocentralnãomudasegundovariaçõesdocontexto. Eleésimplesmentemodulável.Certoselementosserãomais facilmenteexpressosqueoutros.Noentanto,existem.Opro-blemaéfazê-losemergir.”(Abric,2003,p.80).
Apesquisadazonamudanasrepresentaçõessociais –primeirostrabalhos
Flamenteasrepresentaçõesdeestudo
UmapesquisarealizadaporFlament(1999)sobreare-presentaçãodeestudoemestudantesdePsicologiarevelouo quantorespostasdadasaumquestionáriopodemseadequar àsnormasdogrupodereferênciaparaquemoquestionário érespondido.Oautorteceaidéiadequeasrespostasque normalmentecolhemosrefletemasopiniões“bemvistas”(ou “malvistas”)porcertasinstânciasdereferência,nãoporque ossujeitossedeclaremsobreestainfluência,masporqueas opiniõesstandart(colhidasemsituação“normal”)correlacio-nam-secomasopiniõesdereferência.ParaFlament(1999),a idéiadequeexisteumaspectonormativonasrepresentações sociaisébemtrabalhadapela“EscoladeAix”.
Abric(1976)sugerequeonúcleocentraltemelementos normativosefuncionais.AbriceTafani(1995)mostraram que certos elementos podem ser funcionais e normativos. Moliner(1994,1995)propõeummodelo“bi-dimensional” queevidencia“campos”sendoquenazonadonúcleocentral, háo“campo”dasnormas.Flament(1994)propõeaconside-raçãodarepresentaçãosocialcomointeiramentecomposta de “prescrições”, isto é, de normas; o que não impediria oselementosdeserem,conformeaocasião,funcionaisou descritivos.
Flament(1999)partindodasuposiçãodequeosques-tionários que habitualmente utilizamos para descrever as representaçõessociaissãolargamenteoreflexodediscursos normativosatribuídosàsdiversasinstânciasdereferência, solicita a alunos que dêem suas representações de estudo emtrêstiposdesituação:standart,quandoosalunosres-pondemporsimesmos,nacondiçãodeserem“bemvistos” porprofessoresoupessoasacimade40anos,enacondição deserem“malvistos”poressasmesmaspessoas.
Flamentjáhaviaobtido,emestudoanterior(Flament, 1994)arepresentaçãodeestudocomo“ummeiodefazer amigos” como uma representação que pode ser “bem
vista” por estudantes, mas “mal vista” por outros gru-posdereferência.Assim,seperguntandosobrequando representaçõesrevelamnormas,oautordecideporeste métodooperacionalparatestaremquemedidaasopiniões standartrefletemainfluêncianormativadeumainstância dereferênciaeaqualinstânciaosdiscursosdossujeitos maissecorrelacionam.
Flament(1999)passouprimeiramentea278estudantesde Psicologiaumquestionário,naformastandart,naqualforam apresentados15itens(inspiradosemMoliner,1995)naforma defrasessobreosestudos(porexemplo:“osestudossãodifí-ceis”;“osestudospermitemadquirircultura”;“osestudosdão prazer”;“osestudossãoummeiodeobterumaprofissão”; “osestudossãoummeiodefazeramigos”;etc).
Ossujeitosdeveriamcolocarumsinal+nositensque lhes parecessem mais característicos de “estudos” e um sinal–diantedoscincoitensquelhesparecessemosmenos característicos.Apósresponderemoquestionáriostandart, ossujeitosreceberamdoisoutrosquestionários,iguaisaos primeiros,mas“normativos”,istoé,naqualsepediaque respondessemcomoofariaumestudantebemvisto(depois malvisto)porseusprofessores(paraoutrogrupo,porpessoas de40a50anos).
Depoisdoprimeiroquestionário,foirealizadaatécnica de“MiseemCause”(MEC)ou“ColocaremXeque”com 100 sujeitos, tal como utilizada por Moliner (1995) onde foramapresentadasfrasesparaasquaissedeveriadizerse setratavamdeestudosounão.Porexemplo:“Pode-sedizer quealguémfazseusestudosseoqueelefaznãodemanda trabalho?”. As respostas deveriam sersim ounão. Foram consideradas como elementos do núcleo central aquelas frasesquetiveramaomenos75%derefutação.
Na pesquisa de 1999, Flament encontra diferenças significativasnasrespostasdosalunosàstrêscondiçõesdo questionário:condiçãostandart,condiçãodeserem“bem vistos” por pais e professores, e condição de serem “mal vistos”.Emtodososgrupos,elementosintelectuaisepráti-cosdeestudoforamosmaisescolhidos,noentanto,certos elementosficarammaisevidentesnumtipodequestionário que em outro; por exemplo, “amizade” foi o último item nacondiçãostandarteoquintonacondição“bemvisto”. Ouseja,foramobtidosdiferentes“perfis”derepresentação conforme a condição do questionário. Houve diferenças, também,noselementosdasrepresentaçõesdealunosfilhos depaiscomnívelsuperiordeensino(“herdeiros”)oucom paissemnívelsuperiordeensino(“não-herdeiros”),sendo queosprimeirosvalorizarammaisaspectos“intelectuais”do estudoeossegundos,maisaspectos“práticos”.Oautorcon-cluique“Oquepensamosterestabelecidoéqueasrespostas quecolhemoshabitualmentenosestudosderepresentação socialsãolargamente(senãototalmente)oreflexocomplexo dediversosmodelosnormativospertinentesparaoobjeto darepresentação”(Flament,1999,p.50).
GuimellieDeschampseasrepresentaçõessobreciganos
A técnica de substituição, na qual os sujeitos podem respondercomooutrosofariam,segundoAbric(2003),já erautilizadaemtrabalhosforadocampodasrepresentações sociais.Masfoiusadapelaprimeiraveznapesquisaemre-presentaçõessociaisporGuimellieDeschamps(2000).
Segundo Guimelli e Deschamps (2000) a técnica das associações livres tem o objetivo de permitir o acesso a conteúdosdasrepresentaçõese,apartirdaanálisedosmes-mosfazerressaltarapartecomumdosdiferentesdiscursos individuais. Mas, como dizem os autores, as associações nuncasão“livres”:éopesquisadorqueasinduzescolhendo aspalavrasindutoras;alémdisso,oenquadreemquesão feitasasassociaçõestambémasorientaemdiferentesdire-ções.Esseenquadreemqueasassociaçõessãosolicitadas (paraumapesquisa,oanonimato,anãopreocupaçãocom oindividualesimcomocoletivo)impõeaossujeitosuma seleçãodeassociações.Comosugeremosautores,asprimei-raspalavrasquevêmàmentenemsempresãoasprimeiras a serem expressas. Podem ser expressas as que parecem maisadequadasemaissocialmenteaceitáveisouadmitidas numcertocontexto.Assim,osautorescolocamoobjetivo demodificarocontextopsicossocialeverificarseusefeitos emassociaçõesverbais.
GuimellieDeschamps(2000)solicitaramasrepresen-tações sobre ciganos em dois contextos de produção de respostas: “normal” – sujeitos deveriam responder por si mesmos–ede“substituição”–respondiampelos“franceses emgeral”.Primeiro,forampedidascincoassociaçõesapartir dapalavra“cigano”.Paraumgrupodesujeitos(estudantesde Psicologia),asassociaçõeseramfeitasprimeironasituação “normal”edepoisnasituaçãode“substituição”;paraoutro grupo,oinverso.Emseguida,ossujeitosdeveriamavaliaras associaçõesquefizeram,comopositivasounegativasdando-lhesnotas(--,-,0,+,++).Depois,deveriamdaronúmero deciganos(emporcentagemdezeroa100)queteriamas característicasdadasnasassociações.Osautoresproduziram, assim,trêsmedidasderepresentação:orankdeaparecimento das associações (ordem de aparecimento das associações verbais);suaconotaçãopositivaounegativa;disparidadeou homogeneidadepercebidaparacadaumadasrespostasna escolhadasporcentagens(zeroa100).
Comoresultadosprincipais,GimellieDeschamps(2000) obtiveram que o número de associação feitas na situação “normal” e de “substituição” foi semelhante; mas, apesar de muitos termos estarem presentes nas duas condições, aspalavrascomconotaçãomaisnegativa,como“ladrão”, “sujo”,“mendigo”,“estrangeiro”,“não-trabalhador”apare-cerambemmaisnasituaçãode“substituição”.Aconteceram diferenças,também,naordemdeaparecimentodaspalavras; apalavra“ladrão”,porexemplo,nocontextodesubstituição éaprimeiraaapareceremuitofreqüente.
Assim, concluem os autores, houve termos que apa-receram igualmente nas duas condições (pregnância), por exemplo, o elemento “nômade”, e outros que apareceram diferentementeemcadacondição.Ostermosmaispregnantes provavelmentesãoosdonúcleocentralesecaracterizampor suaestabilidade.Outrasrepresentaçõesapareceramconforme ocontextodoquestionáriooqueevidenciaquepodemter
sidoconsideradas,pelossujeitos,comoindesejáveisfrente aumcertocontexto.Duashipótesespodemexplicaresses resultados, segundo os autores. Pode ser que os sujeitos, simplesmente,tenhamumavisão(ouadotemumaposição) maispositivadoquepensamdavisãodeoutros(“osfranceses emgeral”).Masparecerazoável,aosautores,pensarqueum efeitodedesejabilidadesociallevouossujeitosamascararem avaliaçõesnegativascontranormativas.
OsresultadosobtidosporGuimellieDeschamps(2000) vão,segundoessesautores,namesmadireçãodasreflexões deMoscovici(1998)arespeitodasrepresentaçõesracistas ouétnicasqueprovavelmentenãodesaparecem,masficam marginalizadasemcertosperíodosoquetornaasuaexpres-sãopoucoprovável,eemoutrosperíodospodemressurgir.
DeschampseGuimellieasrepresentaçõessociaisde segurançaeinsegurança
Considerando novamente que nem sempre o que os sujeitos dizem em associações verbais é uma produção “livre”,mas“adequada”adiferentessistemasdereferência normativa, Deschamps e Guimelli (2004) realizaram uma pesquisacomoobjetivodeestudaraorganizaçãointernadas representaçõessociaisdesegurançaeinsegurançadebense pessoasatravésdeassociaçõesverbais.Pediramaossujeitos quedessem10respostasassociativas:cincoapartirdoin-dutor“segurança”ecincoapartirdoindutor“insegurança”. Alémdeoutrasvariáveisindependentes(exposiçãoafrases sobre“segurança”e“insegurança”deacordocomatécnica de“amorçage”6 ;contextosituacionaldossujeitos–Aix-en-ProvenceeLausanneeordemdeassociaçõesdaspalavras “segurança”e“insegurança”)efoinovamentemanipuladoo contextopsicossocialdoquestionáriosendoapresentadoem duascondições,“normal”(responderporsimesmo)ouem condiçãode“substituição”(responderporumoutro,“osfran-cesesemgeral”,porexemplo).Assim,DeschampseGuimelli (2004)pediramaossujeitosquedessemasassociaçõessobre “segurança”ou“insegurança”primeirodeacordocom“oque lhesvêmàcabeça”–situação“normal”e,depoiscomo“os francesesemgeral”–situaçãodesubstituição.
Como resultados principais, os autores confirmaram a hipótese de que as representações de “segurança” e de “insegurança”podemserindependentes,umadaoutra;ou seja,sãoutilizadostermosdistintosemumaeoutra,assim como podem ser usados antônimos entre uma e outra. HouvediferençasnasrepresentaçõesdossujeitosdeAixe deLausanne.“Insegurança”foimaisassociadaa“desem-prego”e“pobreza”emLausanneeemAix,maisassociada a “agressão” e “periferia”. Com relação aos contextos de “substituição”e“normal”houvediferençasmarcantes.No contexto“normal”,porexemplo,aspalavrasmaisassociadas à “Segurança” foram: “calma”, “ordem”, “paz”, “sonho”, sinônimode“compreensão”,“autoridade”e“lei”nasquais se sobressaiu, de acordo com os autores, uma atividade cognitivadedescrição.Nocontextode“substituição”,apa-receramrespostassobretudoligadasàsformasdesemanter
asegurança,fossemelaslegais(“alarme”,“vigia”,“prisão”), fossemelascontestáveissocialmente(“menosestrangeiros”) oufrancamenteilegais(“armas”).
DeschampseGuimelli(2004)ressaltaramcomoessasres-postaspertencemaumdomíniopoucoaprovadoquepodem “manchar”aimagemdequemasfaz,pois,mesmoquando sãorespostasdentrodalei,elastendemaafirmaraviolência contraaviolência;oquevaicontraosvaloressociaismais aprovados.Nocontextode“substituição”,comosediminuiu ograudeimplicaçãodossujeitos,essarespostaspuderam aparecer e o fizeram de modo dominante. O mesmo fato aconteceucomapalavraindutora“Insegurança”.Nasituação “normal”foiassociadaa“medo”,“perigo”,“acidente”,“in- certeza”,“fraqueza”,“doença”;ouseja,referiram-seasenti-mentoseemoçõesligadasàinsegurança,emaisdescritivos. Nasituaçãode“substituição”asassociaçõesmaisfreqüentes referiram-sea“periferia”,“jovem”,“droga”,“estrangeiros”, “desemprego”,ligadas,portanto,àscausasdainsegurança emaisatributivasquedescritivas.Essasassociaçõesseriam malaceitassocialmenteoucontráriasaosvaloresmoraisou normassociaisvalorizadaspelogrupodereferência.
EmboraDeschampseGuimelli(2004)levantemapos-sibilidade de que as representações na situação de “subs-tituição” apenas revelem o que os sujeitos pensam ser as representaçõesdeoutros,conhecendo,portanto,osestereó-tiposdeumgrupo(comonocaso,“osfrancesesemgeral”), é mais provável que as respostas evidenciem o efeito da “zonamuda”.Osautoresressaltam,finalmente,ainfluência dascondiçõesemqueasrepresentaçõessociaissãocolhidas nasmodificaçõesdosdadosobtidos,principalmentequando osobjetosderepresentaçãosãoobjetossensíveisàsnormas sociais.Maisumavez,portanto,estavademonstradoumefei-todedesejabilidadeouadequaçãosocialnosquestionários derepresentaçãosocial.
Acontinuidadedeestudossobreazonamudanaescola deAix-en-Provence
Seguindo a linha de investigação aberta em Aix-en-Provencesobrea“zonamudadasRepresentaçõesSociais”, começamasurgiroutrostrabalhosinvestigandoestefenôme-no.SãoexemplosasmonografiasdeMaster17deRachida,El Bourkadi,eAbouabadallah(2002/2003)sobreasrepresenta-çõesde“maghrébins”edeChavaneleRomain(2004)sobre asrepresentaçõessociaisdemuçulmanosnaFrança.
Rachidaecols.(2002/2003),estudaramasrepresentações que alunos “não-maghrébinos” fazem dos maghrébinos. Segundoosautores,quandoosfrancesesfalamdeimigran-tes,evocam,sobretudo,osnegrosafricanos,osturcoseos maghrébinos.Essesgrupospodemseralvoderacismoapa-renteou“disfarçado”8,comoexplicamPettigreweMeertens
(1995).Segundoessesautores,existeumtipodepreconceito mais velado que evita afirmar características negativas ao grupo alvo, mas que dá menos respostas positivas. Esse racismo “disfarçado” seria “frio”, “distante”, “indireto” e éexpressodetalformaanãosercondenadopelasnormas sociaisvigentes.Revela-se,principalmenteportrêsformas: adefesadevalorestradicionais,aexageraçãodediferenças culturais,notadamenteemníveldecrençasreligiosas,ea negaçãodeemoçõespositivasaoexogrupo.
Parainvestigarasrepresentaçõessobremaghrébinos,os autoresusaramatécnicadasubstituiçãoedadescontextuali-zaçãonormativa.Aprimeiraconsistiuempediraossujeitos, alunosdafaculdadedeAix-en-Provence,querespondessem aumquestionáriocomfrasesneutras,contraouafavordos maghrébinosnacondiçãonormal(oquepensamsobre)enas condiçõesdesubstituição(comosefossemracistasoucomo sefossemamigosdemaghrébinos).
Natécnicadedescontextualizaçãonormativa,osautores utilizaram-sededuasaplicadorasdequestionário,umacom característicasdemaghrébinaeoutracomcaracterísticasde francesa.Forammontadosgruposdiferentesdesujeitosem funçãodascombinaçõesdasvariáveismanipuladas.
Para a confecção do questionário, realizaram, primei-ramente, entrevistas semi-dirigidas sobre os maghrébinos e levantaram os temas mais comumente usados, como: racismo, integração, religião, insegurança, terrorismo; e aspectospositivos,como:hospedeiros,calorosos.Apartir dessestemas,construíramumquestionáriocom21frasesàs quaisossujeitosmarcavamsuaconcordânciaounãonuma escaladequatropontos.
Comoresultadosprincipais,Rachidaecols.(2002/2003) obtiveram respostas muito diferentes nas duas variáveis manipuladas na pesquisa: a condição do questionário (de substituiçãoversusnormal)eadescontextualizaçãonorma-tiva (entrevistadora maghrébina e francesa). As respostas nacondiçãode“racista”forammuitodiferentesdasfeitas em condição “normal” ou de “amigos de maghrébinos”; estas últimas mais semelhantes entre si. Além disso, as respostasàpesquisadoramaghrébinaforamdiferentesdas respostasàpesquisadorafrancesa.Emrelaçãoàtécnicade descontextualizaçãonormativa,foinacondiçãodeaplica-doranão-magrhébinaqueossujeitosmostraramrespostas maisnegativas.Emrelaçãoàtécnicadesubstituição,foina condiçãode“racista”queossujeitosexpressarammaisseu acordoafrasesnegativascontraosmaghrébinos.
Os resultados revelaram, portanto, uma plasticidade grandenasrepresentaçõessociaissobreosmaghrebinosem funçãodassituaçõesdoquestionáriovariaremolugardoqual sefala(substituição)eoparaquemsefala(descontextualiza-çãonormativa).Osautorescolocamahipótesedaatuaçãoda “zonamudanasrepresentações”,emboralevantemadúvida deseasvariaçõesderespostas,nacondiçãodesubstituição, apenasrevelemuma“transparênciadasrepresentações”,isto é,umconhecimentopelossujeitosdosestereótiposdeoutros grupospelosquaisfalam,nocaso,osracistas.
Um trabalho semelhante foi realizado por Chavanel e Romain (2004). Neste, foram investigadas as represen-tações sociais sobre muçulmanos. Também neste estudo foramutilizadasfrasesneutras,positivasenegativassobre muçulmanos e pediu-se aos sujeitos, 200 estudantes da 7 Na Faculdade francesa, após o terceiro ano de curso, há dois anos
deMaster nos quais os alunos escolhem certas especializações em Psicologiae,dependendodasescolhas,devemfazerpesquisascomo monografiasdefimdecurso.Ostrabalhosqueagoraapresentamossão referentesamonografiasdoMaster1emPsicologiaSocial,orientados porprofessoresdoLaboratóriodePsicologiaSocialdeAix-en-Proven-ce.
FaculdadedeLetrasemAix-en-Provence,quemarcassem seuacordooudesacordoàsfrasesapartirdeumaescalade 11pontos.Duascondiçõesforammanipuladasnaaplicação dosinstrumentosdepesquisa:apresençadeumtextoneutro sobreosmuçulmanosapresentadoantesdoquestionáriode frasesaumdosgruposdesujeitoeaparticipaçãodeduas entrevistadoras,umacomnomeedeorigemmuçulmanae outracomnomeeorigemfrancesa,comotécnicadedescon-textualizaçãonormativa.Apresençadotextoneutro,como ativaçãodeestereótipos,foiinspiradaemestudosamerica-nosqueusaramesteprocedimento,talcomoosdeDevine (1989)eGilberteHixon(1991)baseadosnahipótesedeque certasatividadespodemativarosestereótiposeimpediro aparecimentodeles,comoformadealertas,eminvestigações posteriores.ChavaneleRomain(2004)usaramotextode ativaçãodeestereótipoparainvestigarseomesmoinibiria asrepresentaçõessituadasnazonamuda.Otextocontinha informaçõesedescriçõesimparciaissobreaimigraçãode muçulmanosnaFrança.
Comoresultadosprincipais,asautorasobtiveramdiferen-çasnasrepresentações,principalmenteemfunçãodavariável relacionadaàsaplicadoras.Foiempresençadaaplicadora árabequeforamobtidasmenosrespostasnegativasaosmu-çulmanos.Foipequenooefeitodapresençadotextoneutro, maselesemanifestounosentidodediminuiroapoioafrases negativassobreosmuçulmanos.Houve,também,umefeito relacionadoaosexodossujeitos.Oshomensapresentaram menosrespostasdeapoioàsfrasesnegativassobreosmu-çulmanosqueasmulheres,oquesugeriuumaadequação derespostasaosexooposto.Maisumavez,osresultados obtidos neste estudo, confirmam um efeito de adequação das respostas dos sujeitos à situação do questionário e as respostaspreconceituosasnovamenteficarammaisevidentes nacondiçãodedescontextualizaçãonormativa.
Finalmente,encontramosapesquisadeGaymard(2003) queinvestigaaspectosnormativosdasrepresentaçõessociais num contexto de biculturalismo, testando, num grupo de estudantesmaghrébinas,partedelasemcondiçõesderuptura familiar,ainfluênciadomodeloparentalsobresuasrespostas a oito temas: igualdade dos homens e mulheres em casa; independênciadosjovens;igualdadedeacessoaosestudos para as mulheres e os homens; casamento e as mulheres; virgindade;fumo;religiãoeacessoaoutrasculturas.
OstemasforaminspiradosemMalewska-Peyreecols. (1982). Os temas foram apresentados em pares de frases como proposições estereotipadas do tipo normativo. Para cadapardefrases,pediu-seaossujeitosqueescolhessem qualaproposiçãoquecorrespondiaasuaopinião(condição desimesmo),adeseupaieadesuamãe.Oquestionário foiapresentadoemquatrocondições:condiçãostandart,na qualossujeitosdeveriamescolherasfrasessegundoasua própriaopinião,etrêscondiçõesdesubstituição;naprimeira, pedia-sequemarcassemasfrasescomoofariaumaestudante maghrébinabemvistaporseuspais;nasegundacondição desubstituição,deveriarespondercomoumaestudantemal vistaporseuspaisenaterceiracondição,comoumaestudante cujospaisnãofossemdeorigemmaghrébina.
Como resultados principais, Gaymard (2003) obteve marcáveisefeitosdainfluênciadomodelonormativo“bem vistopelospais”nasrespostasdasestudantes.Acondição
desubstituiçãoporummodeloocidental(sempaismaghré-binos)obteveresultadosmaisdiferenciadosentreasjovens em ruptura familiar. Na condiçãostandart e nas demais, ficouevidentequecertasfrasestiveramdiferentesgrausde importância;algumasforampercebidascomomaistradicio-naisqueoutrastantoparaasestudantes,quandorespondiam porsi,comoquandorespondiampelosseuspais.
Ostemasrelativosafumo,religião,virgindade,casamen- to,eindependênciaforamosquemaisseopuseramnascon-dições“bemvisto”e“malvisto”,outrositenscomoinstrução eacessoaoutrasculturas,forammenosdiferenciadosem funçãodascondiçõesdoquestionário.Aautoracomentaque tudosepassacomoseossujeitosdistinguissemosaspectos normativosabsolutosecondicionaisentreseuspais.Assim, Gaymardconcluique:“osresultadosmostramqueosindi-víduosnãosãoprisioneirosdesuasrepresentaçõessociais” (2003,p.88).Asrespostasdasjovensemcondiçãostandart foraminfluenciadaspormodelosnormativoseasmesmas foramcapazes,emcondiçãode“substituição”,dedistinguir osaspectosabsolutosecondicionaisentreseuspais.
Demonstrou-senovamente,comoestudodeGaymard (2003),umefeitonormativodoquestionárionascondições standartede“substituição”,assimcomoaexistênciade aspectosmaisoumenos“negociáveis”,condicionais,das representaçõesquepodemmudarnasdiferentescondições doquestionário.Oestudosugere,também,oconhecimento queumgrupodesujeitos(asjovensmagrhébinas)temdas representaçõesdeseuspaisoudejovensnãomagrhébinos em temas normativos. O que pode explicar a adaptação dasrespostasacadagrupofocadonascondiçõesdesubs-tituição.
Azonamudaeosfenômenosdetransparênciadas representaçõesedeinfluênciasocial
Os estudos que aqui descrevemos deparam-se com o fenômeno da mudança das representações de um objeto quandoumgrupofalaporsieporoutros.Decertaforma,este fenômenopoderevelaroefeitodeadaptaçãodosdiscursos àsnormassociaisvigentesdeformaquequandoossujeitos falam por si, tenderiam a não demonstrar representações “malvistas”,condenáveispelosgruposdereferência;éa hipótesedazonamuda,talcomoexplicitadaporGuimelli eDeschamps(2000),Abric(2003),DeschampseGuimelli (2004).Pode-secolocar,também,outrahipóteseparaessa adequação das respostas às condições dos questionários, relativaaofenômenoda“transparênciadasrepresentações”. A transparência consiste no conhecimento que um grupo temdasrepresentaçõesdeummesmoobjetoporoutrogru-po.Nestecaso,asrespostasdeumgrupoaofalarporoutro nãorevelariamnecessariamenteaspectos“escondidos”ou “condenáveis”dasrepresentaçõesquenãopoderiamserditas livrementepelosprópriossujeitos,comoumfenômenode “projeção”,masapenasoconhecimentoqueumgrupotem dasrepresentaçõesouestereótiposdeoutros.
do objeto representado. Os autores relatam o estudo de Campbell,Muncer,GuyeBanim(1996)queinvestigouas representaçõesdeagressãoemhomensemulheres.Nessa pesquisa, além de levantarem as representações de cada grupo,osautorespediramaoshomensqueexplicitassemas representaçõesdasmulhereseaestasqueexplicitassemas representações dos homens, em condição de substituição, portanto.Osautoresobtiveramquehomensemulherestêm representaçõesdiferentesdeagressão;maisexpressivaepor falta de controle, por exemplo, entre as mulheres, e mais instrumentalparaoshomens.Noentanto,ambososgrupos foram capazes de representar, consistentemente, o que o outrogrupopensarevelando,então,umconhecimentodas representaçõesdooutrogrupo.
Flament e Rouquette (2003) descrevem, também, o estudo de Gonthier e Jeanson (2000) que investigaram as representaçõesdetoxicomaniaemjovenseempessoasde 40 a 50 anos. Os sujeitos deveriam avaliar frases através deumaescaladeacordooudesacordo,respondendoporsi mesmos(condiçãostandart)e,depoiscomoooutrogrupoo faria(osjovensrespondendopelosmaisvelhoseestespelos jovens).Osautoresinteressaram-seemsaberatéqueponto umarepresentaçãosupostaporgruposobreoutro,oume-lhor,imputadaaumgrupoporoutro,refletearepresentação “verdadeira”.Osresultadosanalisadosatravésderegressão múltiplamostraramumaboaestimativadecadagruposobre arealidadedarepresentaçãodooutro.Ouseja,constatou-se umatransparênciaimportanteentreosjovenseaspessoasde maisde40anos.Tudosepassou,comocomentamFlament eRouquette(2003),comoseosestudanteseaspessoasde outras gerações discutissem suficientemente toxicomania paraconheceremoquecadagrupopensa.
Assim,poressesrelatos,sugere-seofenômenodetrans-parênciaparaexplicarosestereótiposqueaparecemquando um grupo fala das representações de outro. Desta forma, quandoestudantesfalampelos“francesesemgeral”oupela “opiniãopública”ouainda,pelos“racistas”,nãoobrigato-riamenteestariamprojetandosuasprópriasrepresentações condenáveis,masfalandodoqueconhecemdasrepresenta-çõesdeoutrosgruposcomosquaisconvivem.
Continua,noentanto,aquestãodaadequaçãodosques-tionáriosassuascondiçõesdeaplicação.Seosjovensfalam diferentementequandofalampelo“públicoemgeral”doque quandofalamporsimesmos,elessãotambémo“público emgeral”;asrepresentaçõesqueaparecemnessacondição tambémsãosuas.Abric(2003)natécnicadesubstituição recomenda que o grupo que substitui o sujeito não seja muitodistantedoprópriosujeito,deformaqueesteseen-contrarámenosimplicado,masnãototalmenteafastadodas representações daquele grupo. Além disso, na técnica de descontextualizaçãonormativa,comamudançadoaplicador doquestionário,ossujeitoscontinuamfalandoporsi,desuas representações, só que, possivelmente, frente a um outro grupodereferência,enestecaso,tambéméforteoefeitode adequaçãoderespostas,ouseja,azonamudaseevidencia.
Continua forte, portanto, a hipótese da adequação dos questionáriosàinfluênciadenormassociaisvigentesdentro deumgrupodereferênciaparaossujeitosquerespondema umquestionário.Oquenoslevaàspossíveisrelaçõesentre ateoriadeinfluênciasocialeaasrepresentaçõessociais.
Mugny,QuinzadeeTafani(2001)discuteminterrelações possíveisentreosprocessosdeinfluênciasocialeosdemu-dançanasrepresentaçõessociais.Osprocessosdeinfluência socialestão,segundoosautores,nocentrodasatividades humanaseseexprimempelofatodequefreqüentementemu-damosdeopiniãooucrençasquandotomamosconhecimento deopiniõesoucrençaspartilhadasporoutraspessoas.
Em síntese, existem duas correntes sobre influência social, a funcionalista e a interacionista. Na primeira, a influênciaéexplicadaapartirdopoderqueumafontede influência9exercesobreapopulaçãoalvoeaconsiderauma relaçãoassimétricaunidimensionalnaqualoalvoestáem posição de dependência em relação à fonte de influência; estaéumaautoridadeinstitucional,umamaioria,umlíder.O grupoéconsideradocomoumsistemasocialquefuncionade formaotimizadaequemantémumequilíbriointernoquase homeostático.Seufuncionamentoéperturbadoquandoum oumaisindivíduosrecusam-seaseconformaràsnormasdo gruposendoqueumadiminuiçãodacoesãodogrupoameaça a existência do mesmo. As pressões exercidas têm como funçãoinduzirosmembrosdesviantesaseconformarem. Nessaperspectiva,asnormas,crenças,opiniõesououtras cogniçõessão“petrificadas”numestadoúnicoconsensual, universal,imutável.
Numasegundaperspectiva,ainteracionista,considera-seasnormas,crençaseopiniõescomoplurais,relativas,e, pornatureza,mutáveis.Nessecaso,outrasentidadespodem exercerinfluêncianogrupo;comoasminoriasintragrupoou exterioresaogrupo(Moscovici,1996),eissopodesedever àconsistênciadaminorianadefesadeseupontodevistae noseuestilodenegociação;ouseja,nasuacapacidadede introduzirumconflitosocial.
Considerando-seasegundaperspectivaqueexplicaos processos de influência social, podem se distinguir dois níveisdeinfluência:
– ainfluênciamanifesta,visívelpelafontedeinfluênciae peloalvo,naqualocorremmudançaspúblicasdeopinião oudeatitudeeimediatasemrespostaàpressãoàconfor-midadeintroduzida,mesmoimplicitamentepelafonte; – ainfluêncialatente,maisprofunda,dependentedeuma
elaboraçãocognitivadoalvodeinfluênciasobreospon-tosdevistaopostos.Traduz-sepormudançasindiretas, privadasoudiferenciadasqueaparecemapesardofato dafontenãoexercermaisapressãoàautoridade. Nesses processos, há “conformidade” (complaisance) quando o indivíduo mostra apenas uma mudança superfi-cialdeopiniãoeunicamentemanifesta;ehá“conversão” (conversion)quandoainfluênciaélatente.Podemexistirdife-rentescasosemqueessesfenômenosacontecemdependendo devariáveiscomootipodeautoridadedafontedeinfluência (depoderouepistemológica);ovaloratribuídoaoseudis-cursopeloalvo;otipoderelaçãosocialestabelecidaentre afonteeoalvo,naqualpodemestarpresentesameaçasà identidadedoalvoourelaçãodecooperaçãoouaprendizagem comafonte;sentimentosdecapacidadeouincapacidadeda populaçãoalvoemrelaçãoàfontedeinfluênciaeatribuídos aestapeloalvo,eoutras.
Mugnyecols.(2001)explicamquedopontodevistadas teoriasdeinfluênciasocial,asrepresentaçõessociaisqueos indivíduos possuem podem ser consideradas como sendo construídaseapropriadasnumaculturadadaatravésdein-teraçõessociaise,notadamente,emprocessosdeinfluência quesefundamemrelaçõesdeinterdependênciaedetrocasde informações(crenças,opiniões,atitudeseguiasdecompor-tamento)entrediversasentidadessociais.Assim,mudanças derepresentaçõespodemindicardiferentesrelaçõesentre fontesdeinfluênciaealvoemsituaçõesdeconflitos.
Considerandoosprocessosdeinfluênciasocial,pode-se pensarqueaadequaçãoqueossujeitostêmmostradoem situaçõesdedescontextualizaçãonormativa,quandosemuda a pessoa para quem se responde o questionário, pode ser similaràexposiçãodossujeitosàsopiniõesdeumafontede influência.Oaplicadordoquestionário,ouaautoridadeque elerepresenta(paraquemsefazapesquisa,ainstituiçãoque abaliza,aautoridadedopesquisador)transparecenasituação depesquisaeossujeitosinterrogadossofreriamainfluência dasopiniõesquepensamserasdele.Há,portanto,adequação das respostas em função de para quem se responde, com mudançasnasrepresentações.
Mugny,MolinereFlament(1997)testaramahipótese demudançanasrepresentaçõessociaisemprocessodein-fluênciasocialinvestigandoasrepresentaçõessobregrupo idealdeamigos.Sabe-se,pordiversosestudosanteriores,que nessarepresentaçãoaausênciadehierarquianogrupoéum elementocentraleaconvergênciadeopiniões,umelemento periférico.Manipulandodiversasvariáveis,osautoresexpu-seramestudantesquetinhamasrepresentaçõesdegrupode amigosidealtalcomoasjáinvestigadas,àleituradeumtexto atribuídoaumaautoridadecientíficanaqualsedefendiao pontodevistaqueumgrupodeamigosidealpodeterum líder,portanto,umpontodevistaopostoaodosestudantes. Como resultados principais, os autores constataram uma forteinfluênciadotexto“científico”nasrepresentaçõesdos estudantes,deformaqueosmesmospassaramaadmitira existênciadeumgrupoidealquecontinhaliderança.Houve mudança, portanto, no núcleo central da representação. Estamudançapodeserexplicadacomoumatransformação progressivaumavezqueossujeitoscontinuaramafirmando quepreferiamumgrupoidealsemliderança.Noentanto,a condiçãodafontedeinfluência–uma“autoridadecientí-fica”emsituaçãoescolar,numarelaçãoepistêmicaesem que houvesse ameaça à identidade dos estudantes, parece terproduzidoumamudançaderepresentaçãomaisdoque apenasmanifesta.
Outros estudos dentro da teoria de influência social investigaramopapeldenormasantidiscriminaçãointragru-pocomofontedeinfluênciaderepresentaçõesétnicasem processosdediscriminaçãoentregrupos.Falomir-Pichastor, Muñoz-Rojas, Invernizzi e Mugny (2004) realizaram três estudos investigando o papel da ameaça sentida por um grupoemrelaçãoaoutroeainfluênciadenormasantidis-criminaçãointragrupo.Perguntaram-seatéquepontonormas antidiscriminação que existem atualmente nas sociedades ocidentais podem produzir mudanças de representações entre grupos que se sentem ameaçados pela presença de imigrantes.Discutiramcomonormasantidiscriminaçãosão cadavezmaisaceitasedesejáveissocialmenteequeuma
dasconseqüênciasdissoéoaparecimentodeumracismo dissimulado (Pettigrew & Meertens, 1995; Deschamps & Lemaine, 2004). Assim, estar de acordo com normas do grupo,ousentir-seemdesacordocomasmesmas,podeser umavariávelimportanteparaexplicaraexibiçãoounãode respostasracistas.Poroutrolado,ainfluênciadasnormas antidiscriminaçãoparecediminuiremsituaçõesemqueos grupossesentemameaçadosporoutro.Asameaçaspodem serdenaturezaeconômica(competiçãoportrabalho,desem-prego,aquisiçãodebens,segurança)ousimbólica(conflito devalores,religião,ameaçasidentitárias).
ConsideraçõesFinais
Osestudosqueevidenciamumazonamudadasrepre-sentaçõessociaisdefrontam-secomumantigoproblemadas investigaçõesemPsicologia:atéquepontooqueaspessoas respondemnosquestionárioscorrespondemaoquerealmente pensam? As experiências realizadas sobre a zona muda, dentrodateoriaderepresentaçãosocial,mostramapresença detransformaçõesnasrepresentaçõesobtidasporquestio-nários(escalasdeavaliaçãodeitens,testesdecentralidade doselementosdarepresentação)emsituaçõesquesevariam duascondições:paraquemossujeitosfalamnosquestionário –descontextualizaçãonormativa–eapartirdequemfala,se porsiouporoutros–situaçãodesubstituição.
Estastransformaçõesouadaptaçõesdasrepresentações quandoosujeitofalaporoutro,oufalaparaoutros,podem serexplicadascomoprojeçõesderepresentaçõesverdadeiras navozdeoutro,comosugeremosestudosdeAbric(2003), Guimelli e Deschamps (2000), Deschamps e Guimelli (2004) e outros. Podem, no entanto, também, representar “transparências de representações”, nas quais os sujeitos apenasrevelamoconhecimentoquetêmdasrepresentações deoutrosgrupos,talcomoexplicamFlamenteRouquette (2004).Podemaindasugerirofenômenodeinfluênciasocial, talcomosugeridoporMugnyecols.(2001),noqualmudan-çasderepresentaçãopodemocorreremfunçãodediferentes relaçõesqueestabelecemcomumafontedeinfluência,seja estaumaautoridade,umamaioria,umanormaintragrupo, umaminoria.
Em todas essas possibilidades, a presença das normas sociaiséatuante.Sejaporprojeção,portransparência,por adequaçãoaumafontedeinfluência,emtodasassituações derepresentaçõesdeumgrupoporoutrosepodeinferira presençadenormasqueparecemorientarquaisrepresenta-çõesseriamasmaisadequadas,desejáveisemcadasituação e que podem produzir modificações, mesmo centrais, nas representações.Assim,ofenômenodazonamudaabreum campodeinvestigaçãosobrerepresentaçãosocialenormas sociaisqueprecisacontinuaraserexplorado.
eobservaçõesdepráticas,talcomoaquelaspropostaspor Jodelet(2003).
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