JOSÉ ROBERTO P. de SOUZA2, EDIVALDO D. VELINI3e DANIEL A. S. MARCONDES3
RESUMO
Um experimento foi realizado com cevada
(Hor deum vulg are L.) em condições de campo ,
com o objetivo de aval iar , durante um período de est iag em (82 ° e 89° dia apó s a emergê nci a da cevada), o microclima formado pela cultura mant id a na pres en ça ou au sê nc ia de pl an ta s daninhas desde o início do ciclo. Foram avaliados o te or de ág ua do so lo, um id ad e re la ti va , temperatura, tensão de vapor d'água, déficit de sa tu ra çã o de va po r d'ág ua , po te nc ia l ág ua e te or de ág ua do ar no s pe rí od os da s 8: 30 às 9:00, 11:30 às 12:00, 14:30 às 15:00 e 17:30 às 18:00 horas a 0,0m, 0,10m, 0,20m, 0,30m, 0,40m, 0,50m, 0,60m e 0,70m de altura na entrelinha
da cultura. A presença das plantas dani nhas na cultura durante o período de estiagem contribuiu para reduzir as perdas de água do solo para a atm osf era . Nos trê s pri mei ros per íod os do dia e na s ár ea s mais pr óx im as do so lo , a cu lt ura man ti da no mat o apresen tou men ores val ore s de tem per atura e défici t de sat uração de vapor d'á gua do ar, e os mai ore s val ore s de umidad e relativa, tensão de vapor d'água, potencial água e teor de água do ar, que proporcionar am redução do consumo de água do solo.
Palavras chave:Hordeum vulgare,planta
daninha, água, temperatura.
ABSTRACT
Effects of the weeds on water consumption and the microclimate in a field of barley
Th e ob je ct iv e of th is re se ar ch wa s to ev al ua te th e ef fe ct s of th e we ed s on wa te r cons umption and the micr ocli mate in a fiel d of
barley (Hordeum vulgare L.), during a drought
period. It were evaluated the soil water contents, re la ti ve hu mi di ty , te mper at ur e, wate r va por tensi on, wat er vap or sat u rat ion def icit, wat er pot ent ial , wat er con ten t in the air at dif fer ent times (8:30 to 9:00, 11:30 to 12:00, 14:30 to 15:00 and 17:30 to 17:00) and heights (0.0; 0.10; 0.20; 0.30; 0.40; 0.50; 0.60 and 0.70m). The weeds, at high pop ula tio n den sit ies incre ased the wat er content in the air, the water vapor tension, the
water pot ent ial and the relative humid it y and decreased the temper ature, the saturation deficit and the air move ment in the plots. The high est water contents in the soil were observed in highly infested areas, showing that, in this condition, the weeds increased the amount of water available to the crop. In plots with median and low population dens ities of weed s the water cont ents in weed y and weed free plots were similar. In plots with low weed populations higher amounts of water were available to the crop in hand weeded plots.
Ke y wo rd s: Ho rd eu m vu lg ar e, weed ,
water, temperature.
1 Recebido para publicaçãoem 18/02/97 na formarevisada em 16/10/97.
INTRODUÇÃO
A hab ili dad e da pla nta par a obt er luz, águ a e nu tr ie nt es pa ra o se u cr es ci me nt o freqüentemente determina o sucesso da cultura no
ambiente (Saghiret al., 1968). A competição entre
plantas começa quando um ou mais recursos do meio (luz, água e nutrientes) são insuficientes para
ambas. Morishita et a1. (1991) afirma que a
disponibilidade de água do solo, freqüentemente, é o recurso que mais limita o crescimento de plantas em ár ea s ag rí co la s. Do is me ca ni sm os qu e determinam o potencial de crescimento da planta, quando os recursos hídricos são limitados, são a extensão do sistema radicular e a eficiência de uso
da água (Saghiret al.,1968). Os estudos de Peters
(1968) sobre o crescimento das raízes de cevada,
tri go (Tr iti cum aes tiv um L.) e aveia selvagem
( A v e n a f a l u a L . ) d e m o n s t r a r a m q u e o
desenvolvimento da raiz de cevada sofreu uma menor redução do que trigo e aveia selvagem com alta infestação de planta s daninh as. Akey & M o r r i s o n ( 1 9 8 4 ) v e r i f i c a r a m q u e o
desenvolvimento de Avena falua é mais sensível
ao estresse hídrico após o estádio de quatro folhas.
No entanto, são poucos os trabalhos que procuraram determinar a importância relativa da competição pelos vários fatores de crescimento na competiçã o do efeito total das plantas daninhas sobre as plantas cultivadas.
Embora muitos autores atribuam grande importância à competição por água dentro do complexo de interferências cultura-comunidade infestante, Domingues (1981) e Velini (1983)
observaram maio r disponibilidade hídrica para
cultura do arroz, quando esta se encontra, desde o in íc io de se u ci cl o, na pr es en ça da s pl an ta s daninhas.
Na ún ic a re fe rê nc ia en co nt ra da pa ra
transpiração das plantas da cultura nos estádios de cr es ci ment o ve ge tati vo , embo rr ac ha ment o e en ch im en to do s gr ão s nã o fo i al te ra da pe la
presença de plantas deAvena faluaL.
No presente trabalho, avaliou-se as
características referentes ao microclima da cultura de cevad a na prese nça e aus ênc ia das plant as daninhas. Avaliou -se, também, a disponibilidade de água no solo nestas duas condições.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado num solo cl as si fi ca do co mo Te rr a Ro xa Es tr ut ur ad a d i s t r ó f i c a , t e x t u r a a r g i l o s a n a F a z e n d a Experimental Lageado, da Faculdade de Ciências Agro nô mi ca s (F CA ), Univ er si da de Es ta du al Paulista, Botucatu, SP.
O preparo constou de uma aração e duas g r a d a g e n s , s e n d o a ú l t i m a r e a l i z a d a imed iata ment e antes da semeadur a. Aplicou -se 1000 kg/ha de calcário dolomítico e 600 kg/ha da fórmula 4-14-8 conforme a análise do solo e a demanda da cultura. Não se realizou adubação de
cobertura. As operações de sulcamento, adubação
e semeadura foram realizadas mecanicamente. Foi empregada a variedade PFC 7802.
Cada parcela experimental foi constituída de 13 linhas de semeadura espaçadas de 0,17m e 4,30 m de c o mp r i men t o. Co mo ár e a út i l , con sid ero u-se os 3,9 0m cen tra is das 11 lin has internas de cada parcela. A densida de de plantas de cevada da área experimental foi de 300 plantas por metro quadrado.
A cult ura de cevada foi mantida dura nte todo o se u ci cl o de de se nv ol vi me nt o na pr es en ça e aus ênc ia das pla nta s dan inh as. O con tro le das plantas daninhas foi realizada através de capinas repetidas, se necessário, a cada 10 dias
blocos ao acaso com cinco repetições. Os dados foram submetidos a análise de variância e a comp aração entre médias foi pelo teste de t ao nível de 10% probabilidade.
A determina ção do teor de água do solo foi realizada no estádio de antese da cultura nas áreas com e sem a presença das plantas daninhas. As coletas de solo foram feitas por tradagem de
0,00 a 0,10m de profundidade a partir das 10:00
horas no 82° e 89° dia após a eme rgê ncia da cultura. O teor de água do solo foi calculado por gra vimetr ia, sec and o as amostr as a 105 °C até atingir peso constante. A profundidade de coleta das amostras foi determinada após análise da distribuição do sistema radicular da cultura, verificando-se que a quase totalidade das raízes encontrava-se nos 0,10m superficiais de solo.
A av al ia çã o do mi cr oc li ma da ár ea experimenta l foi determinada atravé s de análise dos da dos de umid ade relati va, te mperatura, tensão de vapo r d'água, déficit de saturação de vapor d'água, potencial água e o teor de água do ar das áreas com e sem a presença das plantas da ni nh as . Os va lo re s de um id ad e re la ti va e temperatura do ar foram realizadas a 0,0m, 0,10m, 0,20m, 0,30m, 0,40m, 0,50m, 0,60m e 0,70m de alt ura da ent rel inha da cul tur a. Ess as lei turas f o r a m o b t i d a s c o m o a p a r e l h o p o r t á t i l ULTRAKUST, modelo Hygrohil 5670 no 75°, 82° e 89° dia após a emergência das plantas de cevada e em quatro horários do dia: 8:30 às 9:00 horas, 11:30 às 12:00 horas, 14:30 às 15:00 horas e 17:30 às 18:00 horas. Essas duas datas foram escolhidas e m f u n ç ã o d a o c o r r ê n c i a d e 9 0 m m d e precipitação nos 15 dias anteriores à primeira avaliação. A seguir ocorreu uma estiagem que prolongou-se por 19 dias.
Os val ores de tensão de vap or d'á gua , déficit de saturação de vapor d'água, potencial
águ a e teo r de águ a do ar for am det erminado s
através das expressões apresentadas a partir dos
val ore s de umidad e rel ati va e tem per atu ras de b u l b o s e co e ú mi d o. F o r a m s e gu i d os o s pr oc ed im en to s de cá lc ul os ap re se nt ad os po r Tubelis & Sacramento (1980) e Reichardt (1985).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A dis tri bui çã o das pla nta s dan inh as na área experimental foi bastante irregular, fazendo
com que as porcentagens de cobertura do solo nas
cinco repetições variassem de 5 a 100%.
Nas Figur as 1 e 2 são apr ese ntados os valores de teor de água do solo na camada de 0,00
a 0,10m de profundidade no 820 e 890 dia após a
emergência das plantas das parcelas mantidas na presença ou ausência das plantas daninhas.
Durante o período de 740 ao 940 dia após
a emer gência da cultura ocorreu uma esti agem,
que provocou efeitos diferenciados nas plantas da cultura em função da prese nça ou ausência e do nível de infestação das plantas daninhas.
No bloco com baixa infestação de plantas daninhas (Bloco A), os maiores teores de água no
solo foram observados nas parcelas mantidas no
limpo. Provavelmente, tal comportamento
deveu-se à rup tura dos can ais capilares do sol o, em função das capinas , diminuindo assim, as perdas de água na superfície do solo na condição limpo.
No caso dos blocos com altas infestações de plantas daninhas (Blocos D e E), verificou-se maio r te or de ág ua no so lo da s pa rc el as se m con tro le da comuni dade inf est ante. Em blocos
com infestação média (30 a 40%), observou-se,
tam bém, um comportamento intermedi ário em
FIGURA 1.Valores médios de teor de água do solo na cultura de cevada desenvolvida na ausência ou presença das plantas daninhas no 82° dia após a emergência da cultura e a diferentes níveis de infestação.
FIGURA 2.Valores médios de teor de água do solo na cultura de cevada desenvolvida na ausência ou presença das plantas daninhas no 89° dia após a emergência da cultura e a diferentes níveis de infestação.
Do mi ngu es (19 81 ) e Vel ini (19 83 ) tr ab al ha nd o co m a cu lt ur a do ar ro z em ár ea co m al ta inf es taç ão de pl an ta s da ni nh as , ob servar am ma io re s te or es de ág ua no so lo de pa r ce las se m co m con tr ol e de pl ant as
daninhas. Por outro lado, Tanji et al. (1987)
verificar am aumento na efici ência de utilização d a á g u a d o s o l o p e l a s p l a n t a s d e t r i g o quando re ali za do o co nt r ol e da s plantas daninhas.
Nas Tabelas 1 e 2 são apresentados os resultados das avaliações de alguns parâmetros relacionados ao microclima da cultura mantida na presença ou ausência da comunidade infestante. Temperatura, umidade relativa, tensão de vapor d'ág ua, défi cit de satura ção de vapor d'ág ua, po te nc ia l ág ua e te or de ág ua do ar sã o os
parâmetros avaliados no 820 e 890 dia após a
A presença ou ausência do mato, altura e o período do dia em que se realizou a leitura,
influenciaram significativamente os valores das
características avaliadas.
Conforme verifica-se na Tabelas 1 e 2, os mai ores valores de temper aturas e os menores valores de umidade relativa foram detectados na cu lt ur a mant id a na au sê nc ia da co muni da de infestante durante os três primeiros horários.
Comportamento inverso foi observado para a
tem peratu ra no quarto períod o, sug eri ndo uma maior facilidade para a renovação do ar no interior d a s p a r c e l a s n o l i m p o . T a i s r e s u l t a d o s apresentam-se coerentes com os obtidos por Do mi ng ue s (1 98 1) qu e, tr ab al ha nd o co m a cultura do arroz, constatou uma umidade relativa maior quand o a cultu ra foi manti da na presença das plantas daninhas. Ainda segundo o autor, a comunid ade infestante dificultou a renovação do ar no interior da cultura, tornando o ambiente mais
úmido.
A um ida de re lat iva é um índ ic e de umidade variável com a quan tida de de vapor e co m a te mp er at ur a at mo sf ér ic a lo ca l, só se pres tand o para a comparaç ão entre umidade de dois ambientes, caso estes se encontrarem a uma mesma temperatura. Já a tensão de vapor d'água atmos fera, dando uma idéia mai s pre cisas da u m i d ade a mbi e nt al , i ndepent e ment e da temperatura.
Verificou-se que os maiores valores de tensão de vapor d'água ocorreram na presença da comunidade infestante e, dentro desta condição, os maio res valo res foram detectados nas meno res alturas e nas horas mais quentes do dia (Tabelas 1 e 2). Velini (1983), trabalhando com a cultura de
arroz de sequeiro, verificou temperaturas menores
qua ndo a cul tur a foi man tida na pre sença das plant as dan inh as e, con seque nte men te, mai or umidade relativa. Entretanto, segundo o autor as
tensões de vapor d'água foram menores nas áreas sem capina.
A cul t ur a de ce va da condu zi da na ausência das plantas daninhas apresentou maior défi cit de sa turação de vapor d'água e meno r potencial água (Tabelas 1 e 2). Os menores déficit de saturação de vapor e os maiores potenciais ocorreram mais próximos do solo e nas horas mais frescas do dia. Possivelmente, a dificuldade de renovação da massa de ar nesta posição, além da maior proximidade do solo, um dos pontos de produção de vapor d'água, foram os responsáveis pela redução déficit de saturação.
Ve ri fi ca - se na s Ta be la s 1 e 2 qu e as con diç ões li mpo e mat o apr ese nta ram val ore s muito próximos quanto ao teor de água no ar, em to da s as al tu ra s e pe rí od os de av al ia çã o. Na mai ori a das sit uaç ões , os val ore s de pot enc ial água da condição limpo foram sempre inferiores à da co nd içã o ma to em fun çã o da s ma ior es te mpe raturas nesta cond ição, ju stif icando os maiores teores de água no solo nas parcelas sem controle de plantas daninhas e elevada infestação com as mesmas. Os resultados sugerem ainda que os maiores potenciais água na condição mato ocorreram devido às menores temperaturas e, principalmente, à renovação mais lenta do ar das parcelas sem controle das plantas daninhas.
inf est açã o, os mai ore s teo res de águ a no sol o foram encontrados nas parcelas constantemente capi nadas , pos s i ve l m ent e e m f unção do rompimento da continuidade capilar na superfície do solo.
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