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A evolução histórica da ergonomia no mundo e seus pioneiros

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Academic year: 2017

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A EVOLUÇÃO

HISTÓRICA

DA ERGONOMIA NO

MUNDO E

SEUS PIONEIROS

JOSÉ CARLOS PLÁCIDO DA SILVA

(2)

A

EVOLUÇÃO

HISTÓRICA

DA

ERGONOMIA

NO

MUNDO

E

SEUS

(3)

Responsável pela publicação desta obra

João Candido Fernandes

João Roberto Gomes de Faria

(4)

JOSÉ CARLOS PLÁCIDO DA SILVA

LUIS CARLOS PASCHOARELLI

(Orgs.)

A

EVOLUÇÃO

HISTÓRICA

DA

ERGONOMIA

NO

MUNDO

E

SEUS

(5)

Editora afiliada:

CIP – Brasil. Catalogação na fonte

Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

E94

A evolução histórica da ergonomia no mundo e seus pioneiros / José Carlos Plácido da Silva, Luís Carlos Paschoarelli (orgs.). – São Paulo : Cultura Acadêmica, 2010.

il.

Inclui bibliografi a

ISBN 978-85-7983-120-1

1. Ergonomia. 2. Ergonomia – História. 3. Desenho industrial. I. Silva, José Carlos Plácido da. II. Paschoarelli, Luís Carlos.

11-0143. CDD: 620.82

CDU: 7.05

Este livro é publicado pelo Programa de Publicações Digitais da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) Cultura Acadêmica

Praça da Sé, 108

(6)

S

UMÁRIO

Apresentação 9

1 Os estudos de Leonardo da Vinci e sua ação precursora na ergonomia 11

Marcos José Alves de Lima Ana Clara Lauar

Verena Ferreira Tidei de Lima José Carlos Plácido da Silva Luis Carlos Paschoarelli

2 Contribuições científicas de Bernard Forest de Bélidor para o estudo e a organização do trabalho 17

Danilo Corrêa Silva

João Carlos Riccó Plácido da Silva Luciane do Prado Carneiro José Carlos Plácido da Silva Luis Carlos Paschoarelli

3 Patissier: fragmentos de uma contribuição à Ergonomia 27

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4 Da organização científica à Ergonomia:

a contribuição de Frederick Wisnslow Taylor 37

Bruno Montanari Razza Cristina do Carmo Lucio José Carlos Plácido da Silva Luis Carlos Paschoarelli

5 A arte do trabalho: Jules Amar 49

Silvana Aparecida Alves

Frederico Reinaldo Corrêa de Queiroz José Carlos Plácido da Silva

Luis Carlos Paschoarelli

6 A origem da Ergonomia na Europa: contribuições específicas de Inglaterra e França 55

Ana Clara Fernandes Láuar Marcos José Alves de Lima Verena Ferreira Tidei de Lima José Carlos Plácido da Silva Luis Carlos Paschoarelli

7 Desenvolvimento da Ergonomia na Rússia (ex-URSS): estudos aplicados à indústria e à aeronáutica 61

João Carlos Riccó Plácido da Silva Danilo Corrêa Silva

Luciane do Prado Carneiro José Carlos Plácido da Silva Luis Carlos Paschoarelli

8 Origem da Human Factors nos Estados Unidos da América 73

(8)

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA NO MUNDO E SEUS PIONEIROS 7

9 Ergonomia na America Latina: iniciativas, estabelecimento e consolidação 81

Carlos Eduardo Lins Onofre Ana Cláudia Scarpim Cláudio Vidrih Ferreira José Carlos Plácido da Silva Luis Carlos Paschoarelli

10 Trajetória da Ergonomia no Brasil:

aspectos expressivos da aplicação em design 91

(9)
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A

PRESENTAÇÃO

Os conceitos e aplicações da ergonomia estão em constante dis-cussão no âmbito acadêmico, caracterizando um corpus de conhe-cimento de grande expressividade para a própria ciência ergonô-mica e demais áreas tecnológicas correlatas, a saber: engenharias, design, arquitetura, entre outras.

Mas entre as demandas para ampliar as análises em torno dessa disciplina apresenta-se sua evolução histórica, a qual está completa de controvérsias e discussões.

De fato, há ainda uma grande dificuldade em relatar suas etapas históricas dentro do âmbito geográfico e a participação de seus pre-cursores nessas fases.

O propósito dessa coletânea foi o de reunir os estudos realiza-dos pelos alunos da linha de pesquisa ergonomia, associarealiza-dos ao Laboratório de Ergonomia e Interfaces (LEI), no Programa de Pós-graduação em Design da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comu-nicação da Universidade Estadual Paulista, e apresentar subsídios para ampliação da discussão e reflexão evolutiva da ergonomia.

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1

O

S

ESTUDOS

DE

L

EONARDO

DA

V

INCI

E

SUA

AÇÃO

PRECURSORA

NA

ERGONOMIA

Marcos José Alves de Lima

Ana Clara Lauar

Verena Ferreira Tidei de Lima

José Carlos Plácido da Silva

Luis Carlos Paschoarelli

Introdução

O estudo da ergonomia é fascinante e carrega consigo o poder de desvendar uma série de informações ainda pouca exploradas, entre elas destaca-se a investigação dos precursores dessa ciência, portanto estabelecer que ela seja uma ciência nova conduz a uma afirmação equivocada. No entanto, sua origem oficial é estabeleci-da quando estabeleci-da oficialização pelo engenheiro inglês Kenneth Frank Hywel Murrell da primeira sociedade de ergonomia do mundo, a Ergonomic Research Society, no ano de 1949.

O texto resgata e apresenta as contribuições que Leonardo da Vinci como um dos precursores dessa área se apresenta, atribuindo principalmente às suas práticas o caráter de ação precursora da ergonomia.

Biografia

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e não demorou em ser membro da Compagnia di San Luca dos pintores florentinos. Em suas primeiras obras independentes e mesmo nas contribuições realizadas a seu mestre Verrochio, já eram perceptíveis algumas peculiaridades que tornar-se-iam caracte-rísticas notáveis de suas obras: jogos de luz, organização espacial, perspectiva e tridimensionalidade. Tais características acompanha-ram Leonardo em suas principais obras, desde os rascunhos até as pinturas e esculturas.

Habituado no Renascimento, época em que o homem era tido como o centro do universo e a ciência constituía-se basicamente em matemática e medicina, Leonardo incorporou ao máximo o “ho-mem universal” (ou uomo universale). Visionário, curioso e ávido por saber nos mais diversos campos, como o da pintura, arquite-tura, escularquite-tura, engenharia, natureza (física e humana), anatomia e fisionomia (animal e humana), entre outros.

Por volta de 1490, fundou a “achademia vinciana”. Muitos pin-tores juntaram-se a ele nesse espaço versátil e pluridisciplinar, no qual implantou uma metodologia de ensino de arte que era baseada no redesenho de obras de mestres anteriores, no estudo formal e proporcional de corpos naturais, no desenho e, por último, no uso de cores. Munari (2008) afirma que “criatividade não significa improvisação sem método: dessa maneira só se cria confusão, e planta-se nos jovens a ilusão de que artistas devem ser livres e in-dependentes”. Essa visão aponta para uma forte característica do trabalho de Leonardo da Vinci, que era a habilidade de um agir formal e sistemático.

Viveu em diversos lugares além de Florença, Roma, Veneza e Milão. Em seus últimos anos de vida viveu na França, no castelo de Cloux, um presente dado pelo rei, onde veio a falecer em 1519.

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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA NO MUNDO E SEUS PIONEIROS 13

Atitudes precursoras

Embora Leonardo se intitulasse um homem sem estudos, Má-rias (1997) sustenta a ideia de que ele tenha sido precisamente o inventor das ciências modernas, fundamentadas num método que se basearia na experiência e na matemática.

Para Leonardo, o verdadeiro saber provinha de experiências, das observações e de invenções. Aplicou rigidamente uma meto-dologia em seus projetos, na sua arte e nos seus estudos. Os es-tudos anatômicos e fisiológicos foram certamente suas principais contribuições à ergonomia. Cada obra era dotada de uma análise criteriosa e do estudo prévio de todos os seus elementos, como luz, sombra e movimento, e o sempre presente naturalismo, em cujas obras exigiam de Leonardo uma observação rigorosa e minuciosa do homem, como, por exemplo, seus volumes, relevos e anato-mia. A observação externa dos corpos já lhe havia fornecido todo o conhecimento possível para que executasse sua arte, quando se voltou então para a dissecação e estudo da anatomia dos corpos, de tal forma era possível compreender as forças e estruturas internas que possibilitavam uma determinada aparência externa da figura humana. Alguns de seus cadernos de estudos apresentavam mais de 600 esboços sobre o tema.

Entre esses estudos, destaca-se a figura do homem vitruviano de Marcus Vitruvius Pollio, redesenhada por Leonardo da Vinci. Marcus Vitruvius Pollio (75-25 a.C.) foi o autor do único tratado de arquitetura da Antiguidade sobrevivente até os dias de hoje. Des-creveu que o ponto de partida da arquitetura para a construção de ambientes deveria ser a natureza e suas proporções perfeitas. Com-pôs uma imensa obra que visava analisar os variados elementos da arquitetura, tanto de caráter civil como militar.

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e empreendedores, pensar diferente e alterar a posição das formas, o quadrado e a circunferência, neste caso, o que viria a ser um princí-pio da ergonomia, isto é, o posto de trabalho, o ambiente, a roupa e as questões periféricas devem se adaptar ao homem, e não o homem a eles.

Leonardo combinou em um mesmo desenho o homem inserido no círculo e no quadrado, promovendo estudos acerca das dimen-sões e movimentos humanos. Atualmente, o conhecimento das formas e medidas do corpo aplicado em projetos é denominado antropometria (Boueri, 2008).

Outros arquitetos e artistas também estudaram com esmero as relações e proporções canônicas, contudo sobrepunham o círculo e o quadrilátero, alterando as divinas medidas do homem e provo-cando a distorção da figura humana neles contida.

De acordo com Martins (2008), o corpo humano é o ponto de partida para o projeto de produto. Dessa forma, os estudos minu-ciosos de Leonardo acerca da anatomia humana, principalmente seu estudo sobre “O Homem Vitruviano”, são precursores essen-ciais do estudo da antropometria e da ergonomia.

Como engenheiro inventivo e intuitivo, também é relevante destacar os fatores humanos em seus projetos, como, por exemplo, o projeto de uma catapulta gigante que era operada por um homem, um exemplo típico da descrição homem-máquina. Outro exemplo significativo é o da apresentação de uma máquina voadora em que se observa que a posição do homem obedece rigorosamente àquela assumida ainda nos dias de hoje.

Cada um de seus projetos, desenhos e rascunhos, que hoje tem valor e status de obra de arte, vinha repleto de anotações e observa-ções técnicas e minuciosas, bem como resultados esperados quando se tratava de projetos bélicos. Tanto é que em 2004 o Museu de História da Ciência, em Florença, na Itália, colocou em exibição o primeiro “automóvel” construído com base nos esboços realizados do famoso livro de anotações de Da Vinci.

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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA NO MUNDO E SEUS PIONEIROS 15

produzir efeitos especiais em eventos nobres. Mas, de acordo com os especialistas, foi o primeiro veículo autopropulsor do mundo.

O “automóvel” não é a primeira e única invenção das descober-tas verificadas nos manuscritos de Leonardo da Vinci, constatam-se ainda as máquinas voadoras, helicópteros, submarinos, tanques militares e bicicletas.

Discussão e considerações finais

O foco central da curiosidade científica de Leonardo da Vinci era o homem e o seu entorno, considerando os seus pormenores e as mais amplas relações, demonstrando claramente a preocupação central dos fatores humanos.

Em seus estudos e projetos, as máquinas e suas funções se ajus-tavam ao homem, facilitando a execução de diversas ações.

A releitura e o redesenho de “O Homem Vitruviano” realizados por ele são uma referência significativa nos estudos da antropome-tria e da ergonomia, demonstrando inclusive a importância de que os projetos levem em consideração essas relações.

Referências bibliográficas

BOUERI, J. J. Sob medida: antropometria, projeto e modelagem. In:

PI-RES, D. B. (Org.). Design de moda: olhares diversos. Barueri: Estação

das Letras e Cores Editora, 2008.

MÁRIAS, F. Leonardo da Vinci: grandes mestres da pintura clássica. Lisboa:

Editorial Estampa, 1997.

MARTINS, S. B. Ergonomia e moda: repensando a segunda pele. In: PIRES,

D. B. (Org.). Design de moda: olhares diversos. Barueri: Estação das

Letras e Cores Editora, 2008, p.319-336.

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2

C

ONTRIBUIÇÕES

CIENTÍFICAS

DE

B

ERNARD

F

OREST

DE

B

ÉLIDOR

PARA

O

ESTUDO

E

A

ORGANIZAÇÃO

DO

TRABALHO

Danilo Corrêa Silva

João Carlos Riccó Plácido da Silva

Luciane do Prado Carneiro

José Carlos Plácido da Silva

Luis Carlos Paschoarelli

Introdução

Desde a Antiguidade a forma de trabalho é motivo de estudos e de preocupações para a sociedade. A simplificação e a preparação do trabalho provavelmente foram de grande importância, sem as quais possivelmente não existiriam as grandiosas realizações dos egípcios, persas, gregos e romanos.

Possivelmente o primeiro estudo realizado sobre o assunto foi o do general e filósofo ateniense Xenofonte, por volta de 427 a 355 a.C., que preconizou a divisão do trabalho de maneira que cada operário efetuasse sempre em uma só operação, durante a fabrica-ção de coturnos da armada grega.

O estudo do trabalho continuou com Leonardo da Vinci (entre 1452 e 1519), que se destacou por suas ideias nesse campo. Suas anotações continham ideias de organização racional de trabalho, em que indicam a divisão das atividades profissionais, a mensuração do tempo e o uso de quadros visuais de ordenação e de lançamento, semelhantes aos atuais quadros de planejamento.

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exigi-das dos trabalhadores. Além disso, institui-se um salário incentivo, sendo essa talvez a primeira vez que surge a ideia de remuneração humana do trabalho.

Nesse mesmo período o médico italiano Bernardino Ramazzini escreveu sobre doenças e lesões relacionadas ao trabalho. Seus estu-dos foram publicaestu-dos por volta de 1700 em um livro denominado “De Morbis Artificum Diatriba” (Doenças ocupacionais). Porém, foi censurado ao visitar seus pacientes nos locais de trabalho a fim de identificar as causas de suas doenças. Ramazzini é considerado um dos primeiros estudiosos das causas das doenças ocupacionais.

No fim do século XVII já se observavam estudos referentes à substituição dos seres humanos por máquinas nos postos de traba-lho, principalmente em construções, para poupar a saúde e integri-dade física dos trabalhadores. É exatamente nessa ocasião que se in-cluem os estudos de Bernard Forest de Bélidor, com planejamento do trabalho e das interfaces ergonômicas na organização do trabalho.

Biografia

Bernard Forest de Bélidor nasceu na Catalunha (Espanha), se-gundo pesquisadores em 1697 ou 1698, filho de Jean-Baptiste Fo-rest de Bélidor, um oficial militar francês que estava em serviço na Espanha, e Marie Hébert. Cinco meses após seu nascimento seu pai e sua mãe faleceram, quando, então, passou aos cuidados da família da viúva de seu padrinho, outro oficial militar, chamado Fossiébourg.

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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA NO MUNDO E SEUS PIONEIROS 19

que recebiam a água por canaletas, e que ainda hoje podem ser en-contradas em algumas áreas rurais (Gillispie, 1970).

Entre suas publicações estão: Nouveau Cours de mathematiques, que compreende suas aulas de matemática aplicada à engenharia militar na escola La Fère (1725; ampliada, revisada e editada por Mauduit, 1759); La science des ingenieurs dans la conduite des tra-vaux de fortification et d’architecture civile (6 vol., 1729-1734; 2ª ed., Paris, 1749, e Hague, 1753; nova edição ilustrada e comentada por Navier, Paris, 1837). Le bombardier françois ou Nouvelle methode de jeter les bombes axec precision (1731; Amsterdã, 1734); Traite des fortifications (2 vol., 1735); e Architecture hydraulique (4 vol., ilus-trado, 1737-1753), que permanece com grande relevância.

Publicou também diversos manuais, nos quais os construtores podiam se basear para desenvolver suas edificações, incluindo aná-lises e planos de trabalho para dividir e direcionar o trabalho. Suas teorias foram aceitas por toda a Europa continental, praticamente sem questionamentos, até o final do século XVIII.

Para a área militar, realizou alguns experimentos sobre a carga de pólvora de canhões, descobrindo que poderiam ser utilizadas apenas oito libras de pólvora, ao invés das doze utilizadas até então. Revelou secretamente suas descobertas ao cardeal Fleuri, então primeiro-ministro. Fleuri, no entanto, acabou por comunicar ao mestre de artilharia, príncipe de Dombes (Dombes é uma região no sudeste da França).

O príncipe de Dombes ficou descontente ao descobrir que o achado não fora comunicado diretamente a ele, já que Bélidor era um matemático que trabalhava sob suas ordens, e o obrigou a deixar a escola de La Fère. Assim, Bélidor ficou desprovido de sustento, até que o príncipe de Conti (Conti se refere a um título aristocrático francês), que conhecia o seu mérito, o levou à Itália (Davenport, 1831).

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briga-deiro e admitido como inspetor de artilharia, condecorado como Cavaleiro da Ordem de Saint Louis e ganhou uma residência luxu-osa em Paris, onde se estabeleceu. Foi eleito um associado livre da Academia de Ciências em 1756.

Aos 62 anos, em gratidão à proteção recebida durante sua infân-cia pelo seu padrinho, Bélidor casou-se com a filha, ou possivelmen-te neta, de Fossiébourg dois anos anpossivelmen-tes de seu falecimento, em Paris, no dia 8 de setembro de 1761, aos 64 anos de idade (Gillispie, 1970).

Algumas contribuições para a engenharia civil

e mecânica

A compreensão do comportamento das estruturas foi um fator importantíssimo para o rápido desenvolvimento das engenharias no século XIX. A partir de meados do século XVIII, as estruturas passam de uma produção artesanal para serem determinadas por sua capacidade portante, calculada a partir de fundamentos cientí-ficos e de resultados de ensaios (Mattos, 2006).

Baseados na mecânica, e com o auxílio de resultados experimen-tais, Hooke (1635-1703), Bélidor (1693-1761), Bernoulli (1700-1782), Coulomb (1736-1806) e outros haviam estabelecido os fun-damentos da estática.

Posteriormente, Navier (1735-1806) ordenou esse conhecimen-to, resumindo-o e complementando-o em suas preleções na “École des Ponts et Chaussées” (1821), transformando-o em um conheci-mento prático, ou no que hoje se conhece por tecnologia (Mattos, 2006).

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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA NO MUNDO E SEUS PIONEIROS 21

O livro La science des ingenieurs dans la conduite des travaux de fortification et d’architecture civile (1729-1734), dividido em seis volumes, tratou basicamente da construção ou destruição de forti-ficações, sendo constantemente atualizado e transformando-se no breviário de várias gerações de engenheiros até ao século XIX.

O primeiro volume, chamado Théorie de La Maçonnerie, lida com o projeto de muros de contenção de solo. Consiste basicamente em um tratado sobre as propriedades mecânicas do solo e sua influ-ência na carga depositada nos muros de contenção. Poucos avanços científicos foram feitos nesse volume, sendo apresentadas tabelas de espessura e desgaste desses muros.

O segundo volume, Mécanique dês Voûtes, aborda a teoria de La Hire e é direcionado ao cálculo estrutural de forças em arcos, principalmente voltados à construção de pontes. Porém, Bélidor se afasta do questionamento acadêmico de La Hire ao determinar a massa das vassoir (pedras em forma de cunha) para obter equilíbrio estrutural (Gillispie, 1970).

Baseando-se na teoria da cunha (wedge theory) de La Hire, de-senvolveu cálculos para a determinação de arcos na construção ci-vil, incluindo a definição de quantas peças (vassoir) deveriam com-por esses arcos e a sua massa, a fim de obter equilíbrio e resistência estrutural. O modelo desenvolvido por Bélidor especifica a propor-cionalidade de massas de cada componente do arco, no entanto, as-sim como La Hire, não considera o atrito nas junções dessas peças. O terceiro volume se diferencia por uma discussão qualitativa sobre as propriedades dos materiais de construção, incluindo pe-dras, tijolos, cal, areia, gesso e argamassa. Unidades de massa são apresentadas para uma variedade de materiais, incluindo metais (ferro, latão, cobre, etc.), areia e cal, tijolos e vários tipos de madei-ra. Porém não menciona dados quantitativos, referentes às forças, por exemplo.

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bem conduzidos. Os seus testes demonstravam os achados de Ga-lileu Galilei sobre a proporcionalidade entre força e o quadrado da profundidade.

O quinto volume trata de questões arquitetônicas, como a or-dem clássica, conicidade de colunas. O sexto e último volume trata de preparações, especificações técnicas e contratos.

Outra obra de grande impacto foi Architecture hydraulique

(1737-1753), assim intitulada refletindo o contexto da época, no qual havia a proeminência de problemas envolvendo transportes, construção de embarcações, hidrovias, abastecimento de água e fontes ornamentais. Voltada para engenheiros civis envolvidos di-retamente no desenvolvimento de projetos, abordou os principais tópicos construtivos do século XVIII (Encyclopedia, 2008).

Composta de quatro volumes, essa obra descreveu tudo o que era conhecido até então sobre engenharia hidráulica, um verdadeiro clássico, em que se empregou pioneiramente o cálculo para solucio-nar problemas técnicos (Semensato et al., 2009).

Nessa obra, a bomba d’água, introduzida no ocidente no século XVII, usada em projetos hidráulicos e pelos bombeiros, foi alvo de análise geométrica e mecânica, na qual Bélidor apresentou uma ex-plicação geral de seu funcionamento. Com auxílio dessa análise foi possível especificar a forma ideal do palete para uma determinada circunstância (Chalmers, 1994).

A bomba d’água “espinha dorsal do dragão” era uma bomba usada na sociedade chinesa tradicional para irrigar os arrozais. A água era carregada em paletes, que eram levados em ângulo reto por um mecanismo de bicicleta. Havia certa variação no desenho dessa bomba, especialmente quanto à forma dos paletes, que variava de uma circunstância para outra, presumivelmente como resultado da experiência prática dos que a utilizavam (Chalmers, 1994).

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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA NO MUNDO E SEUS PIONEIROS 23

bomba da espinha dorsal do dragão usada pelos chineses poderia ser empregada para projetar bombas destinadas tanto a circunstân-cias novas como as já conhecidas (Chalmers, 1994).

A codificação e a especificação de modus faciendi realizadas por Bélidor em seus diversos manuais não impediram avanços científi-cos e tecnológicientífi-cos. Suas obras foram constantemente reimpressas por cerca de um século, e influenciaram gerações de engenheiros, como Lazare Carnot, Coulomb e Meusnier, seguidos por Coriolis, Navier, e Poncelet, todos sob a égide da então conhecida como ciên-cia das máquinas, que futuramente se desenvolveria em engenharia mecânica (Gillispie, 1970).

Algumas contribuições para a ergonomia

Segundo Laville (1976), Bélidor tentou medir a capacidade de trabalho físico nos locais de trabalho dos operários no século XVIII, indicando que uma carga muito alta de trabalho leva a uma predis-posição a doenças, e uma melhor organização das tarefas melhora o rendimento.

Os estudos de Bélidor foram voltados para as construções de pontes e muralhas, visando aumentar a eficiência dessas edifica-ções, que na época se tornavam grandiosas e necessitavam de uma construção mais veloz. Esses estudos eram realizados no local de trabalho e analisavam como o trabalhador se comportava especifi-camente no que tangia ao carregamento de cargas por longo perío-do, relacionando esforço muscular e postura, que posteriormente foram considerados irregulares.

(25)

Influência de Bélidor na formação das engenharias

no Brasil

A obra Nouveau cours de mathematiques, que contém álgebra, aritmética, geometrias plana e sólida, trigonometria e geometria prática, foi muito apreciada no início da formação dos cursos de engenharias no Brasil. Além disso, muitos de seus estudos foram utilizados em diferentes obras de fortificação do período colonial do Brasil (Cavalcanti, 2004).

A engenharia surge no Brasil no século XVIII com o Real Corpo de Engenheiros no Rio de Janeiro, quando uma grande quantidade de notáveis militares portugueses veio para o Brasil. Entre esses se destaca o então sargento-mor Alpoim, designado para administrar o ensino de engenharia militar no Rio de Janeiro (Exército Brasilei-ro, 2010).

Esse curso foi conduzido por meio da “Aula de Artilharia”, um curso de cinco anos, que no ano de 1774 passou a abranger o ensino de Arquitetura Militar, adotando como base o livro de Bélidor La science des ingénieurs dans la conduite des travaux des fortifications et des bâtiments civils (1729-1734). Daí surge a primeira escola de engenharia das Américas e terceira do mundo, em 1792 (Marocci, 2007).

Com esses acontecimentos, a influência corrente de Bélidor na Europa se instaura também no Brasil, trazida por militares por-tugueses e implantada nos primórdios da formação acadêmica e militar em engenharia no Brasil.

Discussão e considerações finais

(26)

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA NO MUNDO E SEUS PIONEIROS 25

Embora os registros sejam escassos, esses estudos continuaram e se intensificaram com a aproximação da Primeira Revolução In-dustrial (meados do século XVII), quando o ritmo e as dimensões do trabalho começaram a exigir o desenvolvimento de máquinas e dispositivos para acelerar os processos das grandes construções que eram projetadas.

Assim surgiram as contribuições dos engenheiros para auxiliar tanto nas informações estruturais como na melhor maneira de se executar trabalhos específicos que demandariam esforço e utili-zação de cargas excessivas, que provavelmente influenciariam na qualidade do trabalho e na melhor maneira de se executar um mo-vimento utilizando-se do menor esforço possível.

Destaca-se a contribuição de Bernard Forest de Bélidor, en-genheiro civil e militar do século XVIII, cujas publicações foram referência em toda a Europa, contendo desde tabelas e cálculos es-truturais até princípios de organização do trabalho, que nortearam o projeto e execução de construções durante todo o século.

Bélidor teve sua vida marcada por contribuições militares e pe-ríodos de docência nas áreas da engenharia civil e mecânica e seus ensinamentos são utilizados até os dias atuais, contribuindo assim em estudos técnicos e ergonômicos com preceitos de melhoria do trabalho.

Suas publicações se fixaram na área da engenharia civil e arqui-tetura aplicada às estruturas militares, especificamente em cons-truções de fortificações e de pontes, no intuito de definir um ritmo mais rápido para essas construções. Bélidor desenvolveu máquinas que facilitavam o carregamento de peso, balsas com bate-estacas nos rios, estudos de contenção de barragens, entre outros.

Destacam-se outras contribuições no campo de estudo da ar-quitetura hidráulica, como a bomba d’água utilizada pelos chineses e reestudada por Bélidor e a roda d’água utilizada até hoje em ca-choeiras e moinhos, estas duas utilizadas também em fortificações militares.

(27)

enge-nharia, nas quais vários de seus conceitos foram implantados nas disciplinas dos cursos de engenharia e arquitetura.

Entre esses estudos, também se verifica a preocupação com o trabalhador no intuito de não sobrecarregá-lo ou prejudicar sua saúde no posto de trabalho. Assim, um operário sem doenças ocu-pacionais poderia ser mais eficiente nas construções. Por esses es-tudos Bernard Forest de Bélidor é considerado um dos precursores da ergonomia, e, posteriormente, seus estudos foram utilizados e desenvolvidos por outros estudiosos.

Referências bibliográficas

CAVALCANTI, N. O. O Rio de Janeiro setecentista: a vida e a construção

da cidade da invasão francesa até a chegada da corte. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zarah, 2004.

CHALMERS, A. A fabricação da ciência. São Paulo: Editora Unesp: 1994.

DAVENPORT, R. A. A dictionary of biography. Londres: Thomas Tegg,

1831.

ENCYCLOPEDIA. Bélidor, Bernard Forest de. In: Complete dictionary

of scientific biography, 2008.

EXÉRCITO BRASILEIRO. Histórico resumido da CRO/1. Disponível em

http://www.cro1.eb.mil.br/pagconh.htm. Acessado em 18/3/2010.

GILLISPIE, A. Dictionary of scientific biography. Nova York: vol. 1, p.581,

1970.

LAVILLE. A ergonomia. São Paulo: EPU, 1977.

MAROCCI, Gina Veiga Pinheiro. CEFET-BA. Disponível em http:// www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe4/individuais-coautorais/ eixo02/

Gina%20Veiga%20Pinheiro%20Marocci%20-%20Texto.pdf. Acessado em 18/4/2010.

MATTOS, P. de. Fundamentos da mecânica dos sólidos e das estruturas. São

Paulo: LMC-USP, 2006.

SEMENSATO, C. B.; DE PAULA, A. J. F.; SILVA, J. C. P. da; CAR-NEIRO, L. do P.; PASCHOARELLI, L. C. Engenheiros precursores

da ergonomia e suas contribuições. In: Anais do 5º CIPED Congresso

Internacional de Pesquisa em Design, 2009.

SINATORA, A. Tribologia: um resgate histórico e o estado da arte. São

(28)

3

P

ATISSIER

:

FRAGMENTOS

DE

UMA

CONTRIBUIÇÃO

À

ERGONOMIA

Ana Cláudia Scarpim

Cláudio Vidrih Ferreira

José Carlos Plácido da Silva

Luis Carlos Paschoarelli

Introdução

Ao se analisar a origem do homem, pode-se afirmar que é prati-camente certo que o trabalho surge de suas ações ativas sobre a na-tureza. Para se alimentar, o homem primitivo foi obrigado a coletar frutos e vegetais, posteriormente abater animais e, consequente-mente, desenvolver atividades agrícolas, as quais foram impres-cindíveis à sua sobrevivência e ao seu desenvolvimento evolutivo, cognitivo e social.

O conceito trabalho foi contemplado nas Sagradas Escrituras, sendo que a Bíblia o apresenta como uma maldição ligada à fa-diga, indicando-o como um sacrifício. Nesse sentido, a primeira definição conhecida de trabalho está gravada no Gênesis 3: 17b, 19 “Disse, pois, o Senhor Deus ao homem... maldita seja a terra por tua causa; tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias da tua vida. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que fostes tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar” (Bíblia, 1997).

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De qualquer maneira, as necessidades de sobrevivência levaram o homem primitivo a evoluir e descobrir que uma pedra poderia ser afiada até ficar pontiaguda e transformar-se numa lança, machado ou outro instrumento que traria maior eficiência às suas atividades. Possivelmente, e inconscientemente, o homem pré-histórico come-çava a aplicar a ergonomia.

Também, de acordo com Rivas (2007), um dos antecedentes mais antigos do pensamento ergonômico se encontra no Código de Hamurabi, Rei da Babilônia (1700 a.C.), quando introduziu uma série de medidas de configuração laboral, entre as quais se men-cionam: planificação e controle da produção baseada na contagem da mão de obra, sequência de tarefas e tempo necessário para sua execução, associado também a um salário mínimo.

As atividades laborais trazem consequências e, portanto, as do-enças passaram a afetar o homem desde os primórdios da humani-dade. Conforme Silva (2006), na Antiguidade já eram conhecidos os problemas na coluna nos carregadores de pedra, as cólicas pelo chumbo nos mineiros e a intoxicação pelo mercúrio.

Nesse contexto, os estudos dos médicos e higienistas ganharam espaço e contribuíram para minimizar as doenças provenientes do trabalho. Entre os inúmeros abnegados e idealistas que contribu-íram para melhorar a qualidade de vida dos homens do passado, destaca-se o médico francês Philibert Patissier.

Breve histórico da medicina antiga

Desde civilizações antigas, o homem sempre buscou melhorar as ferramentas, os instrumentos e os utensílios que usa na sua vida co-tidiana. Existem exemplos de empunhaduras de foices, datadas de muitos séculos atrás, que demonstram a preocupação em adequar a forma da pega às características da mão humana, de modo a propiciar mais conforto durante sua utilização (Moraes e Montalvão, 2000).

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quando o homem pré-histórico provavelmente escolheu uma ferra-menta que melhor se adaptasse à forma e ao movimento de sua mão. Embora os homens na Antiguidade procurassem evitar, os meiros acidentes de trabalho ocorreram com a fabricação das pri-meiras ferramentas. Tanto que a patologia profissional (ocupacio-nal) foi já descrita na Bíblia e nos tempos antigos.

Um papiro de 2500 a.C. contém a descrição no Egito antigo de acidente com diagnóstico de lombalgia aguda resultante de um tra-balhador envolvido na construção de uma pirâmide.

Também, de acordo com a revista Travail (1999), há mais de 2.000 anos, os trabalhadores que construíram as pirâmides do Egi-to já sofriam de silicose. O primeiro caso documentado de câncer ocupacional remonta a 1775, quando os cientistas descobriram que a fuligem foi a causa do câncer escrotal das crianças em Londres.

Por volta de 450 a.C., Hipócrates, considerado o pai da medici-na, já havia observado que a asma era a patologia mais comum em certos profissionais, como alfaiates e pescadores. Há também refe-rências a doenças profissionais em Plínio, o Velho, e Julius Pollux.

As correlações entre as atividades laborais e as doenças perma-neceram ignoradas por um período expressivo, tendo suas primei-ras publicações ocorridas a partir do século XVI. A seguir, extraído do Scribd (2010), são indicadas algumas contribuições históricas que se estendem da Antiguidade até o século XVIII:

– Hipócrates (460-377 a.C.): médico grego, considerado o pai da medicina, em sua obra intitulada “Ares, Águas e Lugares”, descreve a patologia do chumbo ligada à extração mineira. – Platão (427-347 a.C.): relata as deformidades ósseas e

muscu-lares dos artesãos.

– Plínio (23 a.C-79 d.C.): naturalista romano, descreve o uso de máscaras de borracha, panos ou membranas para atenuar a inalação de poeiras (por iniciativa dos escravos – 1° EPI). – Lucrécio (99-55 a.C.): poeta latino, descreve os horríveis e

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prolongavam-se por 10 horas, em galerias de 1 metro de altu-ra por 0,60 metro de largualtu-ra.

– Georg Bauer ou Georgius Agrícola (1494-1555): conhecido como o pai da mineralogia, em seu livro De re metallica discu-te os aspectos relacionados à extração de minerais. Acidendiscu-tes do trabalho – Asma dos mineiros.

– Paracelso (1494-1541): médico, alquimista, físico e astrólogo, em seu livro aborda as relações entre trabalho e doença, com destaque a intoxicação pelo mercúrio.

Contribuições de Ramazzini e outros

Por volta de 1700, Bernardino Ramazzini (1633-1714), médico italiano, considerado o pai da medicina do trabalho, publicou o li-vro De morbis artificum diatriba (doenças do trabalho), no qual des-creve uma série de doenças relacionadas a cerca de cem profissões diferentes, bem como os riscos específicos decorrentes de cada uma delas, tornando-se um marco referencial no início de um período de maior aprofundamento em relação às questões ligadas às doenças ocupacionais.

Num quadro simplista, no século XVII, Ramazzini se interessa pelas consequências das condições de trabalho e descreve, através de monografias, as primeiras doenças profissionais: problemas oculares de pessoas que fabricam pequenos objetos, custos huma-nos posturais dos alfaiates, dahuma-nos à coluna vertebral relacionados à movimentação de cargas pesadas, surdez dos caldeireiros de Veneza (Martins, 2002).

Ramazzini sofreu grande discriminação de outros médicos por se dedicar, rotineiramente, a visitas aos locais de trabalho de seus pacientes a fim de identificar as causas de seus problemas e poder contribuir com o bem-estar desses operários.

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campo da toxicologia e da patologia do trabalho, abordando par-ticularmente riscos físicos como os impactos da temperatura e da umidade (Villeneuve, Coulomb e Lavoisier, século XVIII) e riscos ergonômicos como a adoção de posturas inadequadas (Villeneuve).

Para Menezes & Menezes (2008), existem também registros de estudos de biomecânica e antropometria (Leonardo da Vinci), trabalhos de higiene industrial, basicamente sobre ventilação e iluminação dos locais (Désargulires, Hales e Camus, século XVI; D’Arret, século XIX), e de medicina do trabalho, tanto num âmbi-to específico de afecções profissionais (Ramazzini e Tissot, século XVIII) como na epidemiologia (Villermé e Patissier, século XIX).

De acordo com Martins (2002), no século XVIII, Tissot se inte-ressou pela climatização dos locais de trabalho e propôs a criação de serviços nos hospitais para atender artesãos doentes.

Este último século, ainda consoante Vidal (2010), é também a origem da higiene do trabalho, destacando-se D’Arret, nas regras de higiene nas fábricas e Patissier, que é considerado o mentor do movimento para criação da inspeção do trabalho na França.

Pequena biografia de Philibert Patissier

Biograficamente, o conteúdo disponível a respeito de Philibert Patissier é muito escasso. Tanto nas bibliotecas, nas diversas plata-formas, quanto na internet, nos vários sites de busca, a quantidade de informações é muito pequena e, às vezes, conflitante, gerando dúvidas quanto ao informado.

Em alguns sítios, há indicativo de que Patissier nasceu em 1781, enquanto em outros é destacado o ano de 1791. Surpreendente-mente, consta que Philibert casou-se com Claudine Recorbet em 11 de janeiro de 1764, de cuja união nasceu Claudine Patissier, em 1767, conflitando com o ano de nascimento do próprio pai que teria ocorrido no final do século XVIII.

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destacada a história do referido castelo. A seguir, apresenta-se uma síntese da matéria publicada nesse jornal:

Ao longo dos séculos, existem três nomes diferentes para esse lugar: Aine, Ennes e Aisne, que é localizado na cidade de Aze. No início do século XVI, Aisne foi um pequeno pátio com cinco ca-sas. Gilbert Regnaud, juiz Cluny, tornou-se proprietário em 1561. Com sua morte, seu filho Jacques herdou a propriedade, mas, em seguida, vendeu o imóvel, em 1600, a Vincent Bernard, capitão Mâcon.

No século XVIII, a propriedade passou para as mãos de Phili-bert Patissier, que construiu um castelo novo no lugar do antigo, entalhando na fachada da propriedade o brasão da família.

Conta ainda a matéria histórica que na cidade de Mâcon, em 27 de julho de 1789, um bando de ladrões saqueou o castelo. Durante a Revolução, o castelo, em mau estado, tornou-se uma simples loja de caça. Proprietário, por herança, o conde Victor Murard St. Romain restaurou o castelo em torno de 1858 usando “pedreiros de Piemonte”.

No início do século XX, a propriedade foi vendida à família Testot-Ferry, então a José e Chervet Louis Vougnon. O último proprietário privado, Sokolnikoff Mendel, adquiriu o imóvel em 1939. Atualmente, o castelo restaurado é dirigido pelo “The Parc des Expositions”, do Tinailler, que o aluga para congressos, recep-ções, eventos, etc.

Contribuições de Patissier

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Nesse período, Patissier realiza as primeiras estatísticas sobre mortalidade e morbidade da população operária. Após o trabalho de Ramazzini, Patissier (1822) publicou um novo tratado sobre as doenças dos artesãos e aquelas provenientes de várias outras profissões.

Conforme Boisselier (2004), esse livro se baseia e complementa o Tratado de Ramazzini, aplicado ao estudo de tais distúrbios, re-lativo a 213 ocupações, indicando as precauções (prevenção e trata-mento) a serem tomadas nas fábricas pelos fabricantes, pelos chefes de oficinas e por todas as pessoas envolvidas em operações insalu-bres. Patissier foi além de Ramazzini, interessando-se não só pelas doenças que ocorriam naquelas ocupações estudadas, mas também em casos de acidentes do trabalho, indicando como podiam ocorrer e como evitá-los. Desse modo:

– ele fala sobre as lesões sofridas por crianças, que ficavam ex-postas a quedas frequentes, sendo vítimas de sua própria falta de cuidados, e indicava procedimentos de trabalhos que po-deriam evitar essas lesões;

– enfatiza medidas para evitar acidentes, incluindo explosões de gás, e destaca várias precauções que deviam ser tomadas, principalmente o retorno às minas de carvão, após os feriados e domingos;

– sugere medidas de proteção nos trabalhos de fábrica, com recomendação de maneiras para prevenir os efeitos dos tra-balhos que envolviam metais, e minerais com exalação de vapores.

Patissier também ressaltou ser possível orientar as crianças para uma profissão específica, em função da sua constituição física, seu temperamento e disposições legais (Boisselier, 2004).

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ideias”, faria surgir na França um movimento a favor da segurança do trabalhador cujo âmbito se estenderia para o resto do mundo.

Em 1776, consoante Boisselier (2004), Antoine François de Fourcroy havia publicado a tradução francesa da obra de Ramazzi-ni, acompanhada de notas e de um prefácio afirmando conhecer os problemas abordados pelo médico italiano quase um século antes. Ele destacou especialmente em seu prefácio as consequências ne-fastas da evolução técnico-científica descontrolada.

O Tratado de Patissier foi difundido na França, e suas ideias foram amplamente adotadas. Sua preocupação com a prevenção, especialmente no que diz respeito aos acidentes com máquinas, foi amplamente difundida, sendo compartilhada pelas mais variadas empresas da França.

Enriquecendo sua valiosa contribuição à medicina do trabalho, Patissier, em 1833, publicou em Paris outra obra, intitulada “ Ma-nuel des eaux minerales de la France”.

Vale destacar que Philibert Patissier era doutor em medicina pela Faculdade de Paris, médico-adjunto do 3º Dispensário da Ca-ridade, membro do Atheneu de Medicina de Paris e membro da Sociedade de Ciências, Artes e Belas Artes de Mâcon.

Discussão e considerações finais

Desde a Antiguidade, os homens sofrem com doenças relativas ao trabalho, também chamadas de doenças ocupacionais.

Embora a ergonomia tenha o ano de 1949 como marco histórico, é inegável que ela já era praticada e empregada desde os primórdios da humanidade.

Homens abnegados e despojados de promoção pessoal se dedi-caram a estudar as doenças ocupacionais na tentativa de minimizar o sofrimento das pessoas e de contribuir para um ambiente de tra-balho mais humano.

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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA NO MUNDO E SEUS PIONEIROS 35

significativas contribuições para o desenvolvimento da medicina e saúde pública, a serviço do bem-estar das pessoas.

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D

A

ORGANIZAÇÃO

CIENTÍFICA

À

ERGONOMIA

:

A

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AYLOR

Bruno Montanari Razza

Cristina do Carmo Lucio

José Carlos Plácido da Silva

Luis Carlos Paschoarelli

Introdução

As primeiras medidas e observações sistemáticas do trabalho foram desenvolvidas por engenheiros, organizadores do trabalho, pesquisadores e médicos, sendo que os engenheiros e organizadores o fazem numa perspectiva de aperfeiçoamento do rendimento do homem no trabalho (Laville, 1977).

Entre os organizadores do trabalho, estão Frederick Winslow Taylor e seus precursores, que analisaram o trabalho, tendo em vista definir as melhores condições de rendimento, aprimorando o desempenho do homem e baseando-se no modelo análogo ao fun-cionamento da máquina (Laville, 1977).

No fim do século XIX já se verificava uma grande competitivi-dade, com rápido crescimento de corporações e início de organiza-ções industriais que monopolizavam o mercado. Esse fato tornava cada vez mais difícil a sobrevivência no mercado de indústrias que apresentavam baixa produtividade (Cooper; Taylor, 2000).

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introduziu o conceito da Administração Científica, revolucionando o sistema produtivo do começo do século XX, formando a base sobre a qual se desenvolveu a atual Teoria Geral da Administração (Coelho; Gonzaga, 2009).

Este artigo tem por objetivo apresentar a importância e con-tribuição dessa teoria e principal obra de Taylor para o processo produtivo industrial de sua época, discutindo a sua influência sob o ponto de vista da ergonomia. Para isso, este trabalho inicia-se pela apresentação de uma breve biografia, o contexto socioeconômico contemporâneo a ele, uma apresentação da sua obra e uma análise crítica de diversos pontos de vista de suas consequências para as relações entre o homem e o trabalho.

Breve biografia de Frederick Winslow Taylor

Filho de Franklin Taylor e de Emily Annete Winslow, Frederick Winslow Taylor nasceu em 20 de março de 1856, em Germantown, Pensilvânia, EUA. Seu pai era um influente advogado formado em Princeton e sua mãe uma feminista e abolicionista. A família Taylor era um importante membro dos Quakers – fundação de cunho religioso e tradição protestante criada em 1652 pelo inglês George Fox com objetivos pacifistas e abolicionistas, gozando de certa influência na sociedade local (Coelho; Gonzaga, 2009. Rago; Moreira, 1984).

Desde cedo, Frederick foi educado por sua mãe, estudou na França e na Alemanha e viajou pela Europa. Em 1872, ele ingressa na Academia Phillips Exeter em New Hampshire com o intuito de se preparar para a universidade. Ao se formar, é aceito no curso de Direito em Harvard, porém decide seguir outra carreira (Coelho; Gonzaga, 2009).

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escritu-A EVOLUÇÃO HISTÓRICescritu-A Descritu-A ERGONOMIescritu-A NO MUNDO E SEUS PIONEIROS 39

rário, maquinista, contramestre (gerente) e finalmente engenheiro-chefe (Coelho; Gonzaga, 2009. Rago; Moreira, 1984).

Aos 27 anos, em 1883, Taylor se forma em Engenharia Mecâ-nica no Instituto de Tecnologia de New Jersey. Foi nessa época que ele desenvolveu uma série de dispositivos para o corte de metais. No ano seguinte, em 3 de maio de 1884, casa-se com Louise M. Spooner (Coelho; Gonzaga, 2009).

De 1890 a 1893, Taylor trabalha como gerente-geral e engenhei-ro-consultor na Manufacturing Investment Company, onde teve a oportunidade de que precisava para testar suas teorias. Em 1983, Taylor deixa a companhia para abrir seu próprio negócio como con-sultor independente. Em 1898, ingressa na Bethlehem Steel, onde, junto com Maunsel White e uma equipe de assistentes, desenvolve o “high speed steel”, HSS ou aço rápido, um material usado na fabri-cação de ferramentas de corte largamente utilizado até hoje. Nesse mesmo ano, Taylor reestrutura uma tarefa de carregar lingote mo-dificando a seleção, treinamento e turnos de trabalho e descanso para que o trabalhador pudesse movimentar 47,5 toneladas por dia – antes a média de carga transportada era de 12,5 toneladas. Taylor também projetou uma série de pás para transportar diferen-tes tipos de materiais (ADAMS, 1989 apud Meister, 1999), cujo estudo ele atribuiu o título de “A Ciência da Pá” ou “The Science of Shoveling”.

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Em 1901, já bastante conhecido, Taylor deixa a Bethlehem Steel devido a desavenças com outros gerentes (Meister, 1999. Coelho; Gonzaga, 2009).

No mesmo ano, Frederick e sua esposa decidem adotar três fi-lhos: Kempton, Robert e Elizabeth. Em 1903, publica seu primeiro livro sobre o que mais tarde chamaríamos de administração cien-tífica, “Shop Management” (Direção de Oficinas), no qual trata pela primeira vez de suas ideias sobre a racionalização do trabalho (Coelho; Gonzaga, 2009. Rago; Moreira, 1984).

Em 1906, publica “The Art of Cutting Metals” (A Arte de Cor-tar Metais), é eleito presidente da Associação Americana dos En-genheiros Mecânicos e recebe o título honorário de Doutor em Ci-ência pela Universidade da Pensilvânia (Coelho; Gonzaga, 2009).

Somente em 1911 é que Taylor publica sua obra mais impor-tante, revelando de vez os princípios da administração científica que se tornariam a base da Teoria Geral da Administração. Em 1915, contrai uma pneumonia e morre no dia 21 de maio (Coelho; Gonzaga, 2009).

Contexto socioeconômico precedente ao

taylorismo

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Nas indústrias, os salários eram baixos, as condições de traba-lho muito ruins e alguns incentivos poderiam ser oferecidos aos trabalhadores, em geral na forma de bônus salariais, para sugerir melhorias. Para se obter lucro com a produção era imprescindível para o industrial conseguir um bom profissional para organizar os trabalhadores (Bridger, 2009).

Havia na época um exército de trabalhadores sem qualificação e que apresentavam um rendimento baixo. Apesar dos baixos salá-rios, a relação custo-rendimento desses trabalhadores era ineficien-te, pois a baixa qualidade dos produtos e a morosidade da produção levavam o industrial a contratar um grande número de indivíduos.

Taylor percebeu que havia muito prejuízo com esse estilo de or-ganização de “incentivo e iniciativa”, pois ninguém era diretamente responsável pela produtividade da empresa, e o sistema era aberto à corrupção e à exploração dos trabalhadores, sendo rotineiros os casos de propinas aos supervisores e assédio sexual às trabalhadoras (Stagner, 1982 apud Bridger, 2009).

Muito pouco era feito até então para promover melhores formas de se realizar o trabalho ou sistemas de organização do processo produtivo e também não havia métodos de avaliação da eficiência dos procedimentos realizados diariamente nas indústrias.

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Princípios da administração científica

A administração científica, preconizada por Taylor em sua prin-cipal obra (Taylor, 1970), “Princípios da Administração Científi-ca”, fundamenta-se na aplicação de métodos científicos para admi-nistrar o trabalho, tirando o poder de controle do trabalhador sobre suas ações e escolhas e transferindo-o para o setor administrativo.

As teorias de Taylor fundamentam-se sobre algumas premissas, sendo uma delas a de que existe um meio mais rápido e eficiente para realizar cada tarefa, em que a eficiência seria máxima. Para tanto, ele analisou sistemática e obstinadamente as tarefas na in-dústria, atentando aos movimentos e o tempo necessário para sua realização, e fragmentou-as até a sua maior simplicidade. Segundo o autor, toda e qualquer tarefa, por menor que seja, é relevante e necessita ser estudada para que se projete um melhor método para sua realização.

O trabalhador passava então a realizar tarefas específicas com controle rigoroso do tempo. O treinamento era importante, pois com instruções sistemáticas e adequadas a cada função seria possí-vel fazer o funcionário produzir mais e com maior qualidade. Nesse sistema, deve haver um forte controle para verificar se o trabalho está sendo executado da maneira adequada, na sequência e no tem-po predeterminado para não haver desperdício operacional.

Outra premissa do taylorismo é a do homem econômico, que afir-ma que o único fator motivador para o trabalhador realizar o seu trabalho de maneira mais dedicada é vinculando o seu pagamento à sua produtividade, sendo estabelecidas metas a serem cumpridas. A visão de Taylor era de que por meio de pagamentos o trabalhador se sentiria estimulado a trabalhar mais, cooperando com a empresa para a obtenção de lucros, o que reverteria para o bem de todos. O trabalhador ideal era aquele que executava as tarefas da maneira planejada pela administração, sem questionar e da maneira mais eficiente possível.

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1. Princípio de planejamento: consistia na substituição de mé-todos empíricos e improvisados por procedimentos cientí-ficos, com métodos avaliados. Esse planejamento rigoroso do trabalho, baseado em estudos fundamentados, inclusive estatisticamente, propiciou à administração transformar-se em uma ciência.

2. Princípio de preparo: preparar e treinar os operários para pro-duzirem mais e melhor, de acordo com o método planejado. Incluía o treinamento do trabalhador sobre o modo ideal de realizar o trabalho e a seleção de um indivíduo ideal para cada função.

3. Princípio de controle: controlar o trabalho para se certificar de que está sendo executado de acordo com os métodos estabe-lecidos. O controle do tempo e dos movimentos era rigoroso na teoria de Taylor.

4. Princípio da execução: distribuir atribuições e responsabi-lidades para que a execução do trabalho seja disciplinada. Houve a criação do cargo de supervisor para averiguar se o método de trabalho desenvolvido estava sendo executado pelos trabalhadores.

De acordo com o próprio autor, a administração científica cons-tituía-se na melhor forma de organização e gerenciamento, e não optar pela melhor forma seria simplesmente irracional. Por essa ra-zão, as implementações posteriores ao taylorismo acabaram sendo chamadas de racionalização (Taylor, 1970; Björkman, 1996).

Análise e crítica do taylorismo

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refletindo em menores custos, maiores salários e aumento da pro-dutividade e competitividade das empresas. O custo dos produtos manufaturados ficou reduzido e, consequentemente, mais acessí-vel, inclusive àqueles que os produziam. A repetitividade e a gran-de simplicidagran-de das tarefas apresentaram algumas vantagens, como menor necessidade de trabalhadores especializados, redução de custos de treinamento, facilidade na substituição ou realocação da mão de obra, redução de ordenados, os cronogramas de produção eram mais facilmente controlados e era mais fácil prever a quanti-dade de produtos produzida (Bridger, 2009).

Sem dúvida, o taylorismo possibilitou o aumento considerável da produtividade dos trabalhadores, reduzindo custos de produção e consequentemente o preço das mercadorias, permitindo, sobre-tudo, aumentar consideravelmente os lucros e a prosperidade dos patrões, cujo benefício para o empregado, segundo Taylor, seria o aumento de seu salário habitual, sem considerar as questões huma-nas no trabalho (Lazzareschi, 2007).

É possível constatar pontos questionáveis sob muitos aspectos na obra de Taylor e grandes consequências sob os pontos de vista social, ideológico, econômico, ergonômico, entre outros. A despei-to de suas vantagens econômicas, o taylorismo também apresendespei-tou um dilema de administração: o contínuo aumento de produtividade que implicava no contínuo aumento nos pagamentos. Devido a isso, as metas de produção eram elevadas conforme o patamar de produção era atingido. Como reação, os trabalhadores reduziam sua produtividade para evitar que níveis de produção mais altos fossem estipulados (Bridger, 2009).

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Em geral, os aspectos sociais e a satisfação relacionada ao de-sempenho dessas tarefas eram ignorados (Björkman, 1996). Taylor presumia que todas as pessoas numa indústria têm o mesmo in-teresse, e que todos iriam cooperar para maximizar seus próprios lucros. “A administração científica, por outro lado, tem em seu principal fundamento a firme convicção de que os interesses dos empregados e empregadores são os mesmos” (Taylor, 1970, p.30).

Claramente, os interesses dos administradores e dos trabalha-dores não eram os mesmos. A principal meta do administrador era aumentar os lucros para os acionistas, e uma das melhores formas de se fazer isso era por reduzir o custo do trabalho (Bridger, 2009). Ainda hoje essa prática pode ser observada nas empresas que ter-ceirizam departamentos, como call centers, ou parte da produção para países emergentes, onde o custo do trabalho e a carga tributária são menores.

Segundo Arnowitz e Dykstra-Erickson (2007), Taylor projetou o layout físico da fábrica, vinculando as interações da máquina com os seres humanos em um fluxo de trabalho que garantia que um trabalhador nunca necessitaria transitar indevidamente ou desne-cessariamente na fábrica. A redução das tarefas a procedimentos repetitivos e mecânicos levava a uma total alienação do trabalhador em relação ao processo produtivo e, juntamente com a perda de autonomia do indivíduo sobre qualquer decisão em seu trabalho, contribuiu para reduzir a satisfação do trabalho. O trabalhador era visto apenas sob aspectos físicos, como fadiga, condições desfavo-ráveis de trabalho e incentivos financeiros, ignorando o contexto social. O operário era tratado por Taylor como preguiçoso, devendo estar sob controle rigoroso dos supervisores (Bridger, 2009).

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Saúde do Reino Unido introduziu um sistema de gerenciamento que apresenta muitos componentes tayloristas, incluindo a espe-cificação de qual a melhor forma de realizar uma tarefa (incluindo também o tratamento de pacientes), determinando metas para a en-trega do serviço, otimização do espaço de trabalho para dar suporte ao método e audições clínicas regulares realizadas por administra-dores para assegurar que o padrão e as metas estão sendo atingidos. Dependendo do ponto de vista, isso pode ser visto tanto como uma forma de reduzir a autonomia do corpo clínico, quanto como um meio de aperfeiçoar o atendimento aos pacientes (Bridger, 2009).

Apesar de alguns desvios em suas teorias, de um ponto de vis-ta histórico, a teoria de Taylor teve um grande impacto na forma como o trabalho é organizado no mundo, especialmente no que diz respeito ao trabalho industrializado. Segundo Björkman (1996), nenhuma outra doutrina organizacional teve tanta influência no século XX.

Também para a ergonomia, o trabalho de Taylor foi um dos marcos iniciais, pois, de acordo com Moroney (1995 apud Meister, 1999), os conceitos de projeto de tarefas, controle do tempo e estu-dos de movimentos se tornaram a base para os métoestu-dos de análise de tarefas utilizados ainda hoje.

Discussão e considerações finais

Após a morte de Taylor, os principais seguidores de seu trabalho foram Frank e Lillian Gilbreth, dando à sua teoria o nome de taylo-rismo. O casal desenvolveu métodos de analisar a forma como as tarefas eram desempenhadas, contribuindo para o conhecimento da eficiência dos movimentos, ainda parte fundamental da engenharia industrial (Bridger, 2009; Meister, 1999).

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Henry Ford. Essa nova postura transferiu o trabalho para um pa-tamar científico, criando uma cultura de que o trabalho deve ser planejado.

Fica evidente que o taylorismo não apresenta contribuições di-retas à ergonomia, mas suas teorias deram subsídios para que ou-tros estudiosos da área, analisando o trabalho sob ouou-tros aspectos, formassem corpo de conhecimento para o surgimento de novos estudos relacionados ao trabalho, introduzindo o controle de segu-rança, treinamentos e aperfeiçoamentos sobre a melhor forma de realizar a tarefa.

Além disso, quando o trabalho passa a ser estudado por méto-dos científicos, surge uma nova especialidade, que posteriormente, e até como forma de reação às condições precárias às quais os traba-lhadores eram submetidos, deu surgimento à ergonomia.

É possível, assim, finalizar dizendo que o enfoque comercial que o taylorismo empreendeu à análise do trabalho foi fundamental para suas teorias terem sido aceitas e se expandido rapidamente, com repercussão e aplicação até os dias atuais. Talvez se Taylor tivesse considerado as condições psicológicas do trabalho e vol-tado o seu enfoque ao trabalhador, e não ao trabalho, suas teorias teriam sido avançadas demais e sem aplicabilidade para o contexto da época.

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(50)

5

A

ARTE

DO

TRABALHO

: J

ULES

A

MAR

Silvana Aparecida Alves

Frederico Reinaldo Corrêa de Queiroz

José Carlos Plácido da Silva

Luis Carlos Paschoarelli

Introdução

Segundo Dul e Weerdmeester (2004, p.9), “a fisiologia pode es-timar a demanda energética do coração e dos pulmões, exigida para um esforço muscular”. Os autores comentam queno estudo da biomecânica, aplicam-se as leis físicas da mecânica ao corpo huma-no. Assim, podem-se estimar as tensões que ocorrem nos músculos e articulações durante uma postura ou um movimento”.

Os estudos de biomecânica e fisiologia contribuíram para criar um paradigma científico que perdurou desde o início do século XX até o início da sua segunda metade. Já para Menezes; Menezes (2008), esse paradigma “foi consolidado a partir de 1915, quando, na Inglaterra, foi formado um comitê destinado a estudar a saúde dos trabalhadores empregados na indústria de guerra, uma espécie de assistência técnica ao fator humano na indústria”.

A importância dos estudos de fisiologia

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desenvolvi-mento de vários métodos, técnicas e equipadesenvolvi-mentos que permitiram mensurar o desempenho físico do ser humano, entre eles destacam-se o esfigmógrafo, o cardiógrafo, o pneumógrafo (Vidal, 1994). Simultaneamente ao desenvolvimento desses equipamentos avan-çavam também no estudo teórico específico do desgaste fisiológico e de energética muscular do homem.

O médico fisiologista francês Etienne-Jules Marey (1830-1904) contribuiu desenvolvendo experimentos fotográficos a partir de 1882, para tanto utilizou uma câmera fotográfica com um obtura-dor circular com fendas que permitiam exposições com intervalos entre 5 e 10 vezes por segundo. Denominou essa técnica de crono-fotografia em placa única, na qual fotografava animais (aves, cava-los, entre outros) e o corpo humano, deslocando-se sob um fundo escuro com iluminação solar apenas sobre o corpo.

Com a técnica da cronofotografia a imagem era registrada na forma de uma repetição do corpo do animal ou humano, em di-ferentes posições e equidistantes, permitindo visualizar os mo-vimentos musculares e ósseos necessários para o deslocamento em diferentes momentos no tempo. Por desenvolver essa técnica, Etienne-Jules Marey é considerado um dos pioneiros da fotografia e da história do cinema.

Etienne-Jules Marey realizou estudos sobre a circulação de aves, cavalos e do homem, registrou estes movimentos por meio da cro-nofotografia. Desenvolveu pesquisas e criou os equipamentos para realizá-las, como, por exemplo, o miógrafo, que permite avaliar a musculatura do corpo em movimento.

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A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA NO MUNDO E SEUS PIONEIROS 51

O fisiologista Jules Amar

Biografia

Jules Amar nasceu em 1879 em Túnis, seu pai era judeu argelino naturalizado francês. Jules Amar estudou teologia em Sorbonne, no entanto abandou este estudo para dedicar-se à botânica, à bioquí-mica e à fisiologia com o mestre Chauveau. Tornou-se assistente do fisiologista Georges Weiss, na Faculdade de Medicina de Sorbonne. Ao trabalhar com Marey, Amar elaborou o banco de uma bici-cleta, equipamento criado por Marey que consistia de um mono-ciclo ergométrico equipado com respirador e ergograma e que foi utilizado por Amar juntamente com a fotografia.

Jules Amar se destaca como um dos precursores da ergonomia, sendo um pesquisador atuante na primeira metade do século XX, diretor do laboratório de investigação do trabalho industrial nas artes nacionais do DES do conservatório e Métier, em Paris, além de ser o idealizador de pesquisas realizadas em laboratório e autor do livro intitulado O motor humano, publicado em 1914, o qual aborda seu estudo científico sobre os dados físicos e fisiológicos relacionados à eficiência e ao desempenho humano nos ambientes de trabalho na indústria.

Repercussão das pesquisas de Jules Amar

Na França, no início do século XX, Jules Amar criou o primeiro laboratório de pesquisa sobre investigação do trabalho profissional,

“Conservatório Nacional de Artes e Medidas”, no qual foi diretor e onde realizou estudos dos diferentes tipos de contração muscular (dinâmica e estática) que forneceram as bases da ergonomia do trabalho físico.

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mecâ-nica ao estudo do corpo humano, entendido como uma máquina que produz energia, e seu rendimento está associado a questões fisiológicas, ambientais e psicológicas. Jules Amar também contri-buiu com pesquisas durante a Primeira Guerra Mundial ao ocupar-se da reeducação dos feridos e da concepção de próteocupar-ses.

Seu livro O motor humano foi publicado na França logo após o início da Primeira Guerra Mundial, porém, devido à eclosão da guerra, sua obra demorou a ser traduzida para o idioma inglês.

Na Argélia, Jules Amar analisou as ações da luz sobre os seres humanos. Segundo esse pesquisador, um exercício indisciplinado acompanha-se de numerosas contrações sem efeito, o que faz au-mentar a fadiga. Analisou também os problemas da fadiga causada pelos efeitos do ambiente (temperatura, ruído, iluminação).

Sobre a relação entre o homem e seu ambiente de trabalho, Amar investigou as pesquisas dos cientistas que diziam que os efeitos da alimentação, da bebida, do sono, de problemas fisiológicos, sociais e morais não influenciavam no desempenho das atividades de tra-balho. Jules Amar, ao contrário, afirmava que todos esses fatores somados aos fatores ambientais, tais como a pressão atmosférica, a poeira, a ação solar, a iluminação e os ruídos, interferem no desem-penho humano na indústria.

Em seu livro O motor humano, considerado por alguns a pri-meira obra de ergonomia, descreve os métodos de avaliação e as técnicas experimentais, fornecendo as bases fisiológicas do trabalho muscular e relacionando-as com as atividades profissionais.

Referências

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