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Padrão de produção e consumo global no século XXI: reflexões à luz do paradigma da sustentabilidade

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADA

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA GRADUAÇÃO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

ELENILSON MATHEUS OLIVEIRA DA SILVA

PADRÃO DE PRODUÇÃO E CONSUMO GLOBAL NO SÉCULO XXI: REFLEXÕES À LUZ DO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE

Natal/RN 2019

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PADRÃO DE PRODUÇÃO E CONSUMO GLOBAL NO SÉCULO XXI: REFLEXÕES À LUZ DO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE

Elenilson Matheus Oliveira da Silva

Monografia apresentada ao Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, exigida para obtenção do título de bacharel em Ciências Econômicas.

Orientadora: Profa. Dra. Luziene Dantas Macedo.

Natal/RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas – SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Silva, Elenilson Matheus Oliveira da.

Padrão de produção e consumo global no século XXI: reflexões à luz do paradigma da sustentabilidade / Elenilson Matheus Oliveira da Silva. -

2019. 82f.: il.

Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas,

Departamento de Economia, Natal, RN, 2019. Orientadora: Profa. Dra. Luziene Dantas Macedo.

1. Economia - Monografia. 2. Padrão de produção - Monografia. 3. Matérias primas - Consumo - Monografia. 4. Desenvolvimento sustentável -

Monografia. I. Macedo, Luziene Dantas. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/CCSA CDU 338.32

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ELENILSON MATHEUS OLIVEIRA DA SILVA

PADRÃO DE PRODUÇÃO E CONSUMO GLOBAL NO SÉCULO XXI: REFLEXÕES À LUZ DO PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE

Monografia apresentada ao Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, exigida para obtenção do título de bacharel em Ciências Econômicas.

Orientadora: Profa. Dra. Luziene Dantas Macedo.

Aprovada em:

____________________________ Profa. Dra. Luziene Dantas Macedo

Orientador – DEPEC/UFRN

____________________________ Prof. Dr. João Matos Filho Examinador – DEPEC/UFRN

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família, aos meus irmãos, e especialmente, aos meus pais Rute Régis de Oliveira da Silva e Marcos Antônio da Silva, que me guiam e são as minhas fontes de inspiração. A minha orientadora Professora Dra. Luziene Dantas de Macedo, que me guiou rumo ao objetivo, sempre tentando me manter no foco para realização do presente trabalho. Aos amigos que conquistei tanto na jornada do curso como em outros momentos relacionados à trajetória dos estudos do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Por último, mas não menos importante, quero agradecer a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) pelo ensino superior de excelência o qual tive a oportunidade de cursar, destacando a importância desta universidade na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

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“É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada”. William Shakespeare

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SILVA, Elenilson Matheus Oliveira. PADRÃO DE CONSUMO GLOBAL NO

SÉCULO XXI E SUA RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL.

RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise sobre o padrão de produção e consumo contemporâneo e sua relação com o meio ambiente, por meio do uso dos recursos naturais no ciclo produtivo, desde o consumo das matérias-primas até o processo final de produção e distribuição dos bens e serviços dos bens. Refletindo-se com base na literatura abordada e nos relatórios das principais organizações mundiais como a Organização das Nações Unidas (ONU), percebe-se a incompatibilidade entre o atual padrão de produção e consumo e a capacidade ecossistêmica do planeta em garantir para as sociedades futuras os recursos naturais necessários à sobrevivência humana. A partir desta constatação, o trabalho procura refletir acerca da possibilidade de se pensar um novo modelo de desenvolvimento, cujo cerne das propostas esteja em consonância com as ideias do chamado desenvolvimento sustentável, em que pese a possibilidade de se alcançar um padrão de produção e consumo capaz de suprir as necessidades presentes sem prejudicar as gerações futuras. Nesse contexto, deve-se atrelar a ideia de desenvolvimento à sustentabilidade do sistema capitalista, procurando enfrentar os problemas oriundos da Revolução Industrial, especialmente o consumo desenfreado e irresponsável causado pelas necessidades criadas e sustentadas pela compulsão do Ter bens e serviços, mesmo que não sejam essenciais, mas que revelam um modelo de hábito de consumo que é prejudicial ao meio ambiente por impactar o acúmulo dos resíduos sólidos, desmatamento e aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera.

Palavras – chave: Padrão de produção e Consumo. Desenvolvimento Sustentável. Século

XXI.

ABSTRACT

This paper presents an analysis of the contemporary pattern of production and consumption and its relationship with the environment through the use of natural resources in the production cycle, from the consumption of raw materials to the final process of production and distribution of goods and services. goods services. Reflecting on the literature and reports of major world organizations such as the United Nations (UN), we see the incompatibility between the current pattern of production and consumption and the ecosystem capacity of the planet to ensure for future societies. the natural resources needed for human survival. From this finding, the paper seeks to reflect on the possibility of thinking a new development model, whose core of the proposals is in line with the ideas of the so-called sustainable development, in spite of the possibility of reaching a production and consumption standard. able to meet present needs without harming future generations. In this context, the idea of development must be linked to the sustainability of the capitalist system, trying to address the problems arising from the Industrial Revolution, especially the unbridled and irresponsible consumption caused by the needs created and sustained by the compulsion to have goods and services, even if they are not. essential, but reveal a

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model of consumption that is harmful to the environment by impacting the accumulation of solid waste, deforestation and increase of greenhouse gases in the atmosphere.

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LISTA DE ABREVIATURAS E/OU SIGLAS

PNUMA – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE PNUD – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO UNIDO – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL

OMC – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE ONGS – ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA MEC – MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

IDEC – INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR JPOI – PLANO DE IMPLEMENTAÇÃO DE JOHANESBURGO

UNDESA – DEPARTAMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA ASSUNTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS

CPDS – COMISSÃO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DA AGENDA 21 NACIONAL

EPE – EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA

CNUMAD – CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

CNPL – CENTROS NACIONAIS DE PRODUÇÃO LIMPA FGV – FACULDADE GETÚLIO VARGAS

INBS – INSTITUTO BRASILEIRO DE SUSTENTABILIDADE

ODS – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS). PCS – PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEIS

CSD – COMISSÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS NAÇÕES UNIDAS

DTIE – DIVISÃO DE TECNOLOGIA, INDÚSTRIA E ECONOMIA DAS NAÇÕES UNIDAS

JPOI – PLANO DE IMPLEMENTAÇÃO DE JOHANESBURGO ODM – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

OECD – ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

ODC – ORGANIZAÇÕES DE DEFESA AOS CONSUMIDORES WWF – WORLD WIDE FUND FOR NATURE

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADROS

Quadro 1 - As ações prioritárias da Agenda 21 Brasileira...30 Quadro 2 - Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para a Agenda 2030...44 Quadro 3 - Metas relacionadas à produção e consumo responsáveis (ODS 12)...49 Quadro 4 - Prioridades e Macrometas do Plano de Produção e Consumo Sustentável Brasileiro...59 Quadro 5 - Brasil - Linha do tempo sobre consumo sustentável...65

FIGURAS

Figura 1 - Proporção da população brasileira residindo em municípios com Agenda 21 Local e com Fórum da Agenda 21 Local – Brasil – 2002/2012...33 Figura 2 - Mapa global da Pegada Ecológica do Consumo...72 Figura 3 - Pegada Ecológica Global Crescente ...74 Figura 4 - A Pegada Ecológica per capita (gha) em países de renda alta, média e baixa (dados e classificação do Banco Mundial), entre 1961 e 2010...75

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SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO...14

2 – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A AGENDA 2015: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DAS PERSPECTIVAS HISTÓRICA E TEÓRICA...19

2.1 – O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA BREVE DISCUSSÃO ATÉ A RIO +20...19

2.1.1– A Agenda 21 e as suas principais características e fundamentações...23

2.1.1.1 - Mudanças dos Padrões de Consumo: Uma Interpretação a partir da Agenda ...25

2.1.1.2 - A Agenda 21 Brasileira e as ações prioritárias...29

2.1.2– Consumo e Sustentabilidade...33

2.1.3 RIO + 10: uma breve discussão ...36

2.2 – CONFERÊNCIA RIO+20: O FUTURO QUE QUEREMOS...39

2.3 – DISSEMINAÇÕES DA AGENDA 2030 E OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) ...43

2.3.1– ODS 12 – Consumo e Produção Responsáveis...44

3 – PADRÃO DE PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEIS...54

3.1 - EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEIS (PCS)...54

3.2– PROCESSO DE MARRAKESH E OS 10YFP...57

4 - PADRÃO DE CONSUMO GLOBAL NO CONTEXTO DAS DISCUSSÕES DO MUNDO CONTEMPORÂNEO: NOVO PARADIGMA DE CONSUMO LIGADO À SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL...61

4.1 - CONSUMIDOR COMO ATOR DE MUDANÇA DO FLUXO DE CONSUMO MATERIAL...61

4.2– PRESSÕES DO CONSUMO...65

4.2.1 - Publicações nacionais sobre padrões de consumo e produção sustentáveis (PCS) ...65

4.2.1.1 - Instituto AKATU...66

4.2.1.2 - Pesquisa sustentabilidade: aqui e agora...67

4.2.1.3 - O que o brasileiro pensa do meio ambiente e do consumo sustentável...68

4.2.1.4 - Manual de educação para o consumo Sustentável...69

4.2.1.5 - Consumismo Infantil...70

4.3 – PEGADA ECOLÓGICA...70

4.3.1 – Pegada Ecológica Brasileira...71

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...77

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1 - INTRODUÇÃO

É notório o cenário global das inovações tecnológicas e o seu caráter de rápida mudança e crescimento de novas alternativas produtivas, produtividade e tecnologia como fomentadoras do processo de crescimento econômico, ou de desenvolvimento socioeconômico. Nesse contexto, a mudança do padrão de produção e consumo da sociedade perpassa como uma consequência natural dessas inovações que buscam abrir as possibilidades de mudança do padrão de vida material, asseverando o superconsumo de uma camada da população, que é detentora de uma parcela significativa da renda social.

Por outro lado, as inovações tecnológicas, ao mesmo tempo em que abriram caminho para o progresso econômico das sociedades contemporâneas, também trouxeram um traço contraditório ligado às assimetrias regionais, globais, sociais, que, no contexto do mundo moderno, se traduz em subconsumo para uma grande maioria da população mundial que não tem acesso a trabalho e renda, nos quais constituem condições essenciais para sua inserção no mercado de bens e serviços.

O consumo mundial tem apresentado um dramático crescimento que se choca com a capacidade de sobrevivência do planeta, em razão de vários fatores que estão impedindo a completa renovação do seu ciclo de vida, especialmente a degradação ambiental, o acúmulo de lixo, poluição, desmatamento, queimadas, mudanças climáticas, etc.

Pretende-se abordar aqui os conceitos fundamentais que envolvem a temática sobre desenvolvimento sustentável como pré-requisito necessário para refletir acerca dos desafios da sustentabilidade para atender às necessidades presentes e futuras de produção e consumo do mundo moderno.

Com isso, procurar-se-á abordar uma perspectiva histórica da literatura, do engajamento civil e político com o objetivo de analisar o tema do desenvolvimento sustentável, caracterizando o estágio em que se encontra, bem como os desafios para se alcançar um novo paradigma de consumo voltado à sustentabilidade.

Entretanto, há um consenso sobre os desafios da sustentabilidade: integrar economia, ambiente, sociedade e as questões institucionais, considerar as consequências das ações do presente no futuro, conscientização e envolvimento da sociedade.

Em 2015, durante a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, as Nações Unidas definiram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como parte de uma

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15 nova agenda para se o desenvolvimento global das nações. Naquele momento discutiu-se na Asdiscutiu-sembleia Geral da ONU quais discutiu-seriam as metas-chave capazes de acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e assegurar que as populações consigam viver num mundo mais justo e mais humano.

Com a rápida e crescente expansão das atividades produtivas graças ao advento tecnológico nunca antes visto, desde então, incrementos técnicos como inovações tecnológicas, escala, cadeias globais de valor, dentre outros aperfeiçoamentos, aumentam constantemente a capacidade da produção de bens e serviços, além disso, a globalização acarretou o surgimento de maiores conglomerados produtivos muito bem estruturados em setores de marketing e publicidade a ponto de fomentar necessidades e atributos de consumo com base fundamental para se ter um bom padrão de vida, criando, assim, uma sociedade cada vez mais consumista, e consequentemente, mais depredadora da natureza por meio do mau uso dos recursos naturais.

Sendo assim, constata-se a dualidade de alternativas, pois, de um lado, tem-se o incessante avanço do progresso tecnológico, que, se renovando cada vez mais velozmente, acaba rompendo paradigmas, cujo resultado desemboca na oferta incessante de novos de bens de consumo mais sofisticados e tecnologicamente avançados; por outro lado, esse modelo de desenvolvimento centrado na produção e no consumo de bens e serviços encontra limites na capacidade física finita dos recursos naturais, impossibilitando a necessidade de assegurar padrões de vida futuros compatíveis com o tipo de sociedade contemporânea, baseada no consumismo desenfreado.

Em meio a crescente diversidade da oferta de bens e serviços à disposição da sociedade, faz-se necessário questionar no seguinte sentido: os recursos naturais darão conta do padrão de consumo global atual? Este questionamento surge para análise no presente trabalho a partir da reflexão sobre o padrão atual de consumo global e sua relação com a capacidade finita do planeta de atender as demandas da sociedade de produção de consumo nos termos do padrão de desenvolvimento da sociedade norte-americana, que, com o enigmático conceito do “american dream”, se propaga estilos de vida material que vão desde a moda, alimentos, cultura, indústria cinematográfica, marca, beleza, etc., levando assim a ideia do acesso às mercadorias como sinônimo de bem-estar individual e de qualidade do padrão de vida.

Nesse contexto, a abordagem que surge nos leva a refletir até que ponto seria o acesso a esses bens e serviços materiais sinônimo de qualidade de padrão de vida, que

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16 garanta de igual modo acesso às oportunidades de moradia, saúde e educação e melhores perspectivas de vida. Claro está que a ideia nos leva a discutir o tipo de sociedade que queremos, ou o tipo de desenvolvimento socioeconômico e ambiental que almejamos. A partir desta reflexão, pode-se chegar a aventar que, dependendo do tipo de desenvolvimento que uma determinada sociedade consiga alcançar, a disponibilidade de acesso aos bens materiais disponíveis não garante uma mudança qualitativa no padrão de vida da sociedade e nem tampouco uma relação harmônica com o meio físico natural, necessitando que se tomem medidas específicas com o intuito de garantir o estabelecimento de uma sociedade mais humana, justa e sustentável do ponto de vista ambiental e do acesso aos bens necessários à sobrevivência de todo ser humano que habita o planeta terra, independentemente de sua região, raça, cor, religião, ideologias, etc.

Portanto, para substanciar tal adesão ao tipo de discussão que se pretendeu realizar neste trabalho, optou-se por se basear nas contribuições acadêmicas de autores que incorporam a temática abordada à luz da reflexão sobre a necessidade de se pensar um novo tipo de desenvolvimento para a sociedade do século XXI, que privilegie a redução da desigualdade social, a erradicação da pobreza, a paz universal, o enfrentamento das mudanças climáticas e o respeito ao meio ambiente. Assim, optou-se por revisitar autores como Eli Veiga, Fátima Portilho, Ignacy Sachs, Ortigoza e Cortez, Fritjof Capra, Celso Furtado, para os quais a necessidade de se enfrentar a problemática contemporânea reside em pensar uma nova ideia de sociedade, cujos indivíduos sejam mais conscientes da necessidade de que devemos cuidar da natureza, poluir menos, reciclar mais, consumir os bens e serviços de forma a não depredar o meio físico natural, pois cuidar do ecossistema natural é acima de tudo um ato de defesa da vida.

Com isso, o presente trabalho demonstra sua relevância, e adota como foco principal de análise o aprofundamento da necessidade de se pensar o atual padrão global de produção e consumo, deixando claro que a reversão do estilo de vida atual perpassa pela busca por maior igualdade social, preservação dos recursos naturais, resiliência, igualdade de gênero, empoderamento das mulheres, erradicação da fome, entre outros objetivos e ações que configuram a ideia de desenvolvimento sustentável.

A pesquisa busca se aprofundar na discussão sobre o padrão de consumo e produção sustentáveis por meio do acesso ao debate realizado nas conferencias das Nações Unidas, onde se busca aprimorar a compreensão acerca da necessidade de se implantar um padrão de consumo e produção mais sustentável, como o que foi

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17 estipulado na Agenda 21 e, mais recentemente, nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), e, por fim, a ideia é observar a formulação das alternativas propostas, com base na literatura elencada, de modo a constatar a clara relevância do assunto tanto do ponto de vista teórico como na formulação dos conceitos que visem o alcance do progresso econômico das sociedades contemporâneas com desenvolvimento, ou seja, com melhoria da qualidade de vida da população.

Logo, a pesquisa visa como objetivo geral analisar o padrão de consumo global do mundo atual e sua relação com o desenvolvimento sustentável.

Especificamente, pretende-se:

 Revisar a abordagem teórica sobre o desenvolvimento sustentável, que possa substanciar a discussão acerca do padrão de consumo global e suas implicações sobre o meio ambiente;

 Analisar os objetivos e metas das ações propositivas dos relatórios e planos de ações das instituições mundiais que estejam discutindo a necessidade de se implantar um padrão de consumo mais sustentável;  Apresentar e discutir os resultados sobre a viabilidade do padrão de

consumo global no contexto das discussões do mundo contemporâneo que apontam para a formação de um novo paradigma de consumo ligado à sustentabilidade ambiental.

Metodologicamente, adotou-se neste trabalho uma pesquisa do tipo documental e exploratória com o objetivo de tentar discutir a problemática em questão, no qual envolve a relação padrão de consumo global e desenvolvimento sustentável.

Para a revisão de literatura, procurou-se entender a evolução dos conceitos que norteiam as noções iniciais de desenvolvimento sustentável, bem como seus movimentos político-institucionais. Além disso, faz-se necessário buscar na base de dados do Portal de Periódicos Capes as palavras-chave que envolvem a temática em questão: environmental sustainability, economic sustainability, social sustainability,

sustainable development, cleaner production and sustainable development, para nortear

ideias que colaborem com o tema em questão.

O procedimento adotado consistiu na coleta de dados secundários, bem como no conhecimento teórico-histórico adquirido sobre a temática que envolve a discussão sobre o desenvolvimento sustentável no contexto das ações e movimentos que aconteceram ao longo do tempo visando o aprofundamento do tema e sua conexão com

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18 a ideia de uma sociedade que esteja ligada ao ecossistema natural e a preservação do planeta.

Já o suporte teórico-metodológico constituiu de uma abordagem qualitativa, onde as discussões nas esferas ambientais, econômicas e sociais, crescimento e limites, uso de recursos naturais, padrões de consumo e paradigma tecnológico, revelaram ser uma abordagem adequada no processo de geração de conhecimento relacionado à temática sobre padrão de produção e consumo global no contexto do desenvolvimento sustentável.

O Trabalho de Conclusão de Curso está estruturado em três capítulos, além da introdução e das considerações finais. No primeiro capítulo, análise destaca a realização de importantes Conferencias das Nações Unidas, tratando, assim, das perspectivas

histórica e teórica do surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável e os

avanços conceituais até chegar aos importantes marcos históricos nos quais contribuíram para o aprofundamento da sustentabilidade como a RIO-92, Agenda 21 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

No segundo capítulo, discutem-se exclusivamente algumas ideias que embasam o tema do presente trabalho. Com isso, o capitulo visa refletir sobre o padrão de produção e consumo contemporâneo, bem como sobre a real necessidade, com base na literatura mostrada, de reformular os ciclos produtivos e o perfil de consumo dos indivíduos na direção de um estilo de vida mais sustentável e conectado com a necessidade de se preservar o meio ambiente por meio da introdução de um modelo de produção e consumo sustentáveis (PCS).

Por fim, o terceiro capítulo discorre sobre o atual padrão de produção e consumo global, as inciativas mundiais e nacionais de combate ao desperdício, poluição, consumo supérfluo e externalidades negativas nos ciclos produtivos, bem como sobre as novas alternativas de se pensar uma nova estratégia de conscientização do consumidor e do exercício da cidadania. Este capítulo apresenta também importantes indicadores que versam sobre a mensuração do padrão de produção e consumo, destacando a Pegada Ecológica.

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19

2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A AGENDA 2015: UMA

DISCUSSÃO A PARTIR DAS PERSPECTIVAS HISTÓRICA E TEÓRICA

Compreendendo a real necessidade de se pensar um novo tipo de desenvolvimento, o capitulo abordará as principais atividades iniciais voltadas à reflexão sobre o uso dos recursos naturais finitos no processo produtivo, destacando as importantes conferencias das Nações Unidas, ocorridas a partir de 1972, nos quais inauguraram um novo cenário mundial de reflexão sobre a necessidade de se incorporar nos modelos econômicos de crescimento e desenvolvimento, o ecossistema natural, a partir da compreensão acerca da finitude dos recursos naturais no planeta.

Sendo assim, o capítulo discorrerá sobre as importantes evoluções conceituais de um novo modelo de desenvolvimento que congregue a preservação dos recursos naturais com a erradicação da pobreza e redução das desigualdades socioeconômicas existentes.

2.1 – O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA BREVE DISCUSSÃO ATÉ A RIO + 20.

Discutir o tema desenvolvimento sustentável e suas vertentes, sobretudo por meio da reflexão sobre o padrão de consumo, do uso eficiente dos recursos naturais e da mudança climática, envolvem uma complexa relação entre conceitos que partem do pressuposto de gerir os recursos naturais e de desenvolvimento sustentável, que assegure à população níveis de renda e preservação ambiental futura, possuindo extrema importância na atual conjuntura mundial e brasileira.

A sustentabilidade foi definida a partir de um longo processo histórico, contínuo e evolutivo, com a tomada de consciência sobre os problemas ambientais, surgindo várias abordagens diferentes para a formação do seu conceito. O termo sustentabilidade é muito discutido, existindo uma variedade de pesquisas sobre o assunto. Sem uma definição única, há um conjunto de pesquisas e estudos que consideram os termos sustentabilidade e desenvolvimento sustentáveis como sinônimos e há outro conjunto que não.

O que fez surgir o conceito foi o debate na década de 1960, especial o norte-americano sobre crescimento econômico versus proteção ambiental, em razão tanto da expansão como do perigo do uso de armas nucleares (VEIGA, 2008).

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20 Embora existam diferentes abordagens acerca da sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, mas que englobam áreas em comum como produção mais limpa, controle da poluição, ecoeficiência1, gestão ambiental, responsabilidade social, ecologia industrial, economia verde, reuso, consumo sustentável, resíduos zero (GLAVIC; LUKMAN, 2007).

O conceito de desenvolvimento sustentável foi reconhecido internacionalmente em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo-Suécia, quando foi lançado um relatório intitulado “Os Limites do Crescimento”. Pela primeira vez na história mundial um documento conseguiu trazer para o primeiro plano da discussão a questão ambiental, chamando a atenção para os limites que o crescimento econômico desordenado estava impondo ao meio físico natural a partir das decisões antrópicas que ensejava a busca do lucro econômico e da satisfação das necessidades individuais. Com isso, o relatório assinalava:

Que se continuassem, a longo prazo, as mesmas taxas de crescimento demográfico, industrialização e utilização de recursos naturais, inevitáveis efeitos catastróficos ocorreriam em meados do próximo século – fome, escassez de recursos naturais, altos níveis de poluição –, com a redução da produção industrial e de alimentos, e culminariam com uma incontrolável mortandade da população (FGV ONLINE, 2019, p. 1).

Esse processo de crescimento econômico é resultado do caráter predatório próprio do desenvolvimento que o homem moderno escolheu como parte do seu processo civilizatório baseado no uso intensivo dos recursos naturais, como se sobre eles exercesse seu poder de forma ad infinitum. Segundo Furtado (1996), em “O Mito do Desenvolvimento Econômico”, trata-se de um processo de crescimento econômico engendrado pela Revolução Industrial, cuja evidência transparece na forma como a criação de valor repercute nos processos irreversíveis de degradação do mundo físico, provocando “elevação da temperatura média de certas áreas do planeta cujas consequências a mais longo prazo dificilmente poderiam ser exageradas” (FURTADO, 1996, p. 13-14).

Porém, passaram-se 20 anos para que o termo desenvolvimento sustentável surgisse. Em 1983, foi instituída a Comissão Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (World Commission on Environment and Development), conhecida como Comissão Brundtland, incumbida de investigar as preocupações

1

O princípio da ecoeficiência está fundado no axioma neoclássico de que o progresso tecnológico sempre será capaz de dar respostas às dificuldades de maximizar lucros encontrados pela produção capitalista ao longo da sua trajetória. (DINÂMICA AMBIENTAL, 2017).

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21 levantadas nas décadas anteriores acerca dos graves e negativos impactos das atividades humanas sobre o planeta, e como os padrões de crescimento e desenvolvimento poderiam se tornar insustentáveis caso os limites dos recursos naturais não fossem respeitados. O resultado desta investigação foi o Relatório "Nosso Futuro Comum", publicado em abril de 1987, que produziu um relatório-base para a definição da noção sobre desenvolvimento sustentável e dos princípios que lhe dão fundamento, difundindo assim o conceito de desenvolvimento sustentável, no qual passou a figurar-se sistematicamente nas discussões internacionais, servindo como eixo orientador central de pesquisas realizadas por organizações públicas e privadas.

O documento ficou conhecido como Relatório Brundtland, em referência à Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra norueguesa e médica que chefiou a referida comissão na ONU. Este relatório formalizou o conceito de desenvolvimento sustentável e o tornou conhecido do público como sendo “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades“ (FGV, 1991, p. 46).

Com isso, o relatório de Brundtland elencou uma série de medidas que devem ser tomadas para promover o desenvolvimento sustentável, dentre as quais destacam-se: preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis; aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas; controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades; atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia); uso de novos materiais na construção; reciclagem de materiais reaproveitáveis; consumo racional de água e de alimentos; redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na produção de alimentos (INBS, 2019).

A definição citada passou a ser reconhecida em praticamente todos os documentos oficiais da ONU e suas agências, como a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e em documentos oficiais de entidades intergovernamentais, como OMC (Organização Mundial do Comércio), e Banco Mundial, bem como em leis nacionais e subnacionais, documentos de empresas e ONGs (Organizações não Governamentais), popularizando-se entre estudiosos, acadêmicos, pesquisadores, empresas, público em geral.

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22 Durante a preparação para a Conferência Rio-92, tornou-se mais evidente a contribuição desigual dos diferentes estilos de vida e padrões de consumo que contribuem para o estabelecimento dos problemas ambientais globais, enquanto fazemos uso das riquezas produzidas de uma forma socialmente desigual e injusta. Nesse momento, tornava-se mais claro a necessidade de se deslocar a preocupação do aumento da produtividade presente no desenvolvimento do processo produtivo para a esfera do consumo como reflexo do processo de obsolescência programada instituído pelo sistema capitalista.

Logo após, em junho de 1992, na cidade do Rio de Janeiro, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também chamada de Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra2, que reuniu 172 países, 108 chefes de Estado e representantes de 1.400 ONGs, enquanto membros de 7.000 ONGs e parte da população do Rio de Janeiro e de outras cidades do Brasil e outras partes do mundo se reuniram no Fórum Global, no Aterro do Flamengo (RIO+20, 2012).

Além de consolidar o conceito de desenvolvimento sustentável, apresentado em 1987 no Relatório Nosso Futuro Comum, buscando minimizar/atenuar o conflito entre desenvolvimento e proteção ambiental, a Rio-92 estabeleceu a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a Convenção sobre Diversidade Biológica, a Declaração de Princípios sobre Florestas, a Declaração do Rio sobe Meio Ambiente e Desenvolvimento e a Agenda 21, representando assim um ponto de mudança de direção na discussão global sobre desenvolvimento sustentável (RIO+20, 2012)3.

Dentre estes desdobramentos, a Agenda 21 constitui um documento assinado por 179 países, podendo ser definido como um:

[...] processo de participação em que a sociedade, os governos, os setores econômicos e sociais sentam-se à mesa para diagnosticar os problemas, entender os conflitos envolvidos e pactuar formas de resolvê-los, de modo a construir o que tem sido chamado de sustentabilidade ampliada e progressiva. (MMA, 2012, p.5).

Pode-se dizer que esta agenda criou um plano de ação detalhado que pudesse conciliar crescimento econômico e desenvolvimento sustentável cujas bases se sustentariam a partir da integração de ações ambientais, objetivando “proteger a

2 A Carta da Terra foi lançada em 1994 como sendo uma iniciativa da sociedade civil internacional, contendo valores fundamentais e princípios úteis para a construção de uma sociedade justa, sustentável e pacífica no século XXI.

3

Além do mais, a Rio-92 obteve outros desdobramentos, como a criação, em 1995, do Painel Intergovernamental sobre Florestas, e, em 1997, o Fórum Intergovernamental sobre Florestas, culminando com a criação do Fórum sobre Florestas das Nações Unidas (UNFF), em 2000. (RIO+20, 2012).

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23 atmosfera; combater o desmatamento, a perda de solo e a desertificação; prevenir a poluição da água e do ar; deter a destruição das populações de peixes e promover uma gestão segura dos resíduos tóxicos” (NAÇÕES UNIDAS, 2019).

Entretanto, esta agenda foi mais além e buscou incluir:

A pobreza e a dívida externa dos países em desenvolvimento; padrões insustentáveis de produção e consumo; pressões demográficas e a estrutura da economia internacional. O programa de ação também recomendou meios de fortalecer o papel desempenhado pelos grandes grupos – mulheres, organizações sindicais, agricultores, crianças e jovens, povos indígenas, comunidade científica, autoridades locais, empresas, indústrias e ONGs – para alcançar o desenvolvimento sustentável (NAÇÕES UNIDAS, 2019, [grifo nosso]).

Para dar prosseguimento as ações que os objetivos da Agenda 21 contemplavam, criou-se, nesse mesmo ano, em 1992, a Commission on Sustainable Development (CSD), em português, Comissão para o Desenvolvimento Sustentável, cujas responsabilidades incluem, entre outras, o de fornecer orientação política para acompanhar o Plano de Implementação de Johanesburgo (JPOI) nos níveis global, nacional, regional e internacional, reafirmando, contudo, que a CSD é o fórum de alto nível para o desenvolvimento sustentável dentro do sistema das Nações Unidas (UN DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, 2019).

2.1.1 – A Agenda 21 e as suas principais características e fundamentações

Através da Agenda 21, documento elaborado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, foi possível discutir acerca dos problemas prioritários, bem como sobre os recursos e meios para enfrentar a questão do padrão de produção de consumo atual que tem por base um modelo de desenvolvimento econômico que degrada o meio ambiente em razão dos pilares básicos do processo de produção dos bens e serviços vigentes a partir do início do século XX, notadamente a partir da Segunda Revolução Industrial, quais sejam: o aumento da produtividade e do consumismo desenfreado.

O relatório Sustainable Production & Consumption: Making the Conection, da divisão de Tecnologia, Indústria e Economia (no original em inglês, DTIE) do PNUMA (2004), demonstra que a problemática em torno dos padrões atuais de consumo representa duas características contraditórias – o excesso de consumo e o subconsumo. Como característica do excesso de consumo, o referido documento mostra que as despesas com o consumo global têm crescido em uma faixa de 3% ao ano desde 1970.

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24 Assim, de 1973 a 1998, tais despesas dobraram em termos reais, alcançando US$24 trilhões, onde parte desse crescimento do consumo mundial foi essencial para o desenvolvimento humano por meio do acesso à comida, moradia, água limpa, etc. No entanto, o documento realça também que muito desse gasto foi direcionado mais para satisfazer as “vontades” do que suprir as “necessidades” (“wants” more than “needs”). Sendo assim, constata-se que as desigualdades de consumo se acentuam com o passar dos anos, de modo que a presença do subconsumo ainda se faz presente em muitas regiões e populações. (PNUMA, 2004, p.8, tradução do autor).

Ainda com base no relatório citado, estimou-se que uma pessoa comum na América do Norte consome quase 20 vezes mais que uma pessoa na Índia ou na China e 60 a 70 vezes mais que uma pessoa em Bangladesh. A distribuição do consumo é também desigual dentro dos países. Por exemplo, no México, quase todos do quintil mais rico – e quase nenhum do quintil mais pobre – têm acesso a saneamento básico. Com isso, de 1973 a 1998, o consumo de uma dona de casa africana média decresceu 20%. (PNUMA, 2004, p.8, tradução do autor). Portanto, observa-se a necessidade de promoção de padrões de consumo mais sustentáveis, sob o risco de se aumentar ainda mais o fosso entre as populações, países e regiões em termos do acesso aos bens e serviços essenciais à vida e os que são considerados supérfluos.

A esse respeito, a Agenda 21, constituída por 40 capítulos, cujas seções lidam com (MMA, 2019): I – Dimensões sociais e Econômicas; II – Conservação e Gestão dos Recursos para o Desenvolvimento; III Fortalecimento do Papel dos Grupos Principais; IV e Meio de Implementação, a Agenda 21 se propõe integrar ações conjuntas, onde as diversas instituições e a sociedade civil possam tratar as questões que visem a mudança do processo de desenvolvimento econômico em favor de uma melhor relação sociedade e natureza, mercado e sustentabilidade socioambiental.

Dessa forma, no capítulo 4 do referido documento, que trata das mudanças dos padrões de consumo, foram elencadas as seguintes áreas de programas, nos quais devem embasar o plano de ação da Agenda 21 para o enfrentamento da questão relacionada ao modelo de produção e consumo do mundo contemporâneo: “(a) Exame dos padrões

insustentáveis de produção e consumo; (b) Desenvolvimento de políticas e estratégias nacionais de estímulo a mudanças nos padrões insustentáveis de consumo” (MMA. CAPÍTULO 4, 2019, grifo nosso).

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25

2.1.1.1 - Mudanças dos Padrões de Consumo: Uma Interpretação a partir da Agenda

Considerando o capítulo quatro da Agenda 21, no qual trata exclusivamente da necessidade de mudança dos padrões de consumo para alcançar o desenvolvimento sustentável, em consonância com o compromisso firmado entre os países e instituições intergovernamentais, bem como as áreas de programas citadas anteriormente, nos quais nortearão as ações integradoras do processo de mudança do padrão de produção e consumo global, significando assim um guia para a elaboração e reflexão acerca da temática em questão, discute-se neste tópico quais as bases para ação referentes às duas áreas já citadas.

No tocante à primeira área - Exame dos padrões insustentáveis de produção e

consumo - observa-se, segundo as informações extraídas do MMA (2019), onze tópicos

que lidam com as questões acima destacadas, nos permitindo refletir acerca da problemática do padrão global de consumo, considerado insustentável em razão da relação que se estabelece entre a pobreza e a degradação do meio ambiente pari passu ao modelo de vida vigente nos países industrializados, cujo cerne é o consumismo desenfreado e o esbanjamento do gasto bens e serviços para além das necessidades básicas de sobrevivência.

Sendo assim, em relação à primeira área de atuação do exame dos padrões

insustentáveis de produção e consumo, a Agenda 21 demonstra nos tópicos seguintes,

dos 4.3 ao 4.6, as denominadas “Bases para Ação”, nas quais possuem como foco o de observar as diferenças de padrões de produção e consumo entre as populações e países. Inicialmente, no tópico 4.3, a Agenda 21 demonstra a importância de se observar a relação convergente entre a pobreza e a degradação do meio ambiente, e como a situação de pobreza da população causa pressões ambientais. Em seguida, nos tópicos seguintes 4.4 e 4.5, a Agenda 21 continua destacando a necessidade de se observar os atuais desequilíbrios nos padrões mundiais de produção e consumo, incorporando a busca pelo uso eficiente dos recursos naturais e redução da poluição. Assim, o documento mostra que:

[...] Embora em determinadas partes do mundo os padrões de consumo sejam muito altos, as necessidades básicas do consumidor de um amplo segmento da humanidade não estão sendo atendidas. Isso se traduz em demanda excessiva e estilos de vida insustentáveis nos segmentos mais ricos, que exercem imensas pressões sobre o meio ambiente. Enquanto isso os segmentos mais pobres não têm condições de ser atendidos em suas necessidades de alimentação, saúde, moradia e educação. (PNUMA, 1992, tópico 4.5).

(24)

26 Portanto, com base na Agenda 21, se faz presente a necessidade de enfrentar tanto o consumo excessivo como o subconsumo com o objetivo de modificar o padrão de produção e consumo rumo a um caminho mais sustentável, ao mesmo tempo em que seja possível erradicar a pobreza e o uso ineficiente dos recursos naturais, sendo estes “[...] uma estratégia multifacetada centrada na demanda, no atendimento das necessidades básicas dos pobres e na redução do desperdício e do uso de recursos finitos no processo de produção”. (PNUMA, 1992, tópico 4.5).

No tópico 4.6, ainda acerca dos problemas relativos ao consumo, a Agenda 21 aborda a necessidade de aumentar o nível de conhecimento sobre o papel do consumo na dinâmica demográfica, isto é, como o atual padrão de consumo crescente e desigual contribui para a mudança do ecossistema do planeta por meio do uso dos recursos naturais, ressaltando a importância de se incorporar nas análises, os “objetivos econômicos que levem plenamente em conta o valor dos recursos naturais” (PNUMA. 1992, tópico 4.6).

Observando as bases para ação dos quatro tópicos descritos acima, a Agenda 21 define dois objetivos, ainda com base no exame dos padrões insustentáveis de

produção e consumo. São eles (a) Promover padrões de consumo e produção que reduzam as pressões ambientais e atendam às necessidades básicas da humanidade

e (b) Desenvolver uma melhor compreensão do papel do consumo e da forma de

programar padrões de consumo mais sustentáveis. Para implementação e

gerenciamento desses objetivos, a Agenda 21 mostra a importância de orientar os países a concentrarem seus esforços para tratar a questão do consumo e dos estilos de vida no contexto do meio ambiente e desenvolvimento por meio da “Adoção de uma abordagem internacional para obter padrões de consumo sustentáveis”. (PNUMA, 1992, tópico 4.7).

Com base na adoção dessa abordagem de se pensar um novo cenário de desenvolvimento com base na mudança nos estilos de vida e consumo, a Agenda 21 descreve no tópico 4.8 que todos os países devem se empenhar cooperativamente na promoção e padrões sustentáveis de consumo, notadamente os países desenvolvidos, objetivando a implantação de um processo de desenvolvimento capaz de garantir um padrão de vida adequado a todos os indivíduos, especialmente os mais vulneráveis no contexto da condição de pobreza em que se encontram. Para tanto, a Agenda deixa claro no tópico 4.8 que se faz necessário a cooperação tecnológica e outras formas de

(25)

27 assistências por parte dos países industrializados em favor de uma mudança no padrão de produção e consumo global, sendo imprescindível a realização de pesquisas e ações que possam colocar o perfil do consumo global como uma das medidas a serem adotadas no plano internacional.

No tópico 4.10, a Agenda 21 formaliza mais objetivamente a necessidade de se entender as relações entre produção e consumo, meio ambiente, inovação tecnológica, crescimento econômico e desenvolvimento, examinar o impacto dos estilos de vida no mundo contemporâneo, bem como os padrões equilibrados de consumo capazes de serem suportados pelo planeta terra a longo prazo, tendo em vista a urgência de envidar esforços para que as economias do mundo industrializado possam crescer e prosperar com base na implantação de um processo de produção e consumo mais sustentável. Com isso, deve-se atentar para o desenvolvimento de novos conceitos de crescimento econômico sustentável e de prosperidade, tendo como parâmetro as ideias que embasam a discussão sobre o desenvolvimento sustentável.

A segunda área do programa - Desenvolvimento de políticas e estratégias nacionais visando estimular as necessárias mudanças nos padrões insustentáveis de consumo – destaca, com base no tópico 4.15, a clareza com que a Agenda 21 demonstra com relação à necessidade de se pensar novos padrões de produção e consumo, que estejam em consonância com a sustentabilidade ambiental. A esse respeito o documento destaca que:

[...] Em muitos casos, isso irá exigir uma reorientação dos atuais padrões de produção e consumo, desenvolvidos pelas sociedades industriais e por sua vez imitados em boa parte do mundo. (PNUMA, 1992, seções 4.15).

No tópico 4.16, a Agenda 21 realça a necessidade da sociedade civil, como indústrias, governos, famílias e indivíduos, de se envolver na mudança rumo a uma sociedade mais justa socialmente e ambientalmente. Com isso, no tópico 4.17, a referida Agenda descreve as atribuições governamentais com vistas à concretização de objetivos que visem mudanças significativas nos padrões de produção e consumo do mundo contemporâneo, tais como desenvolver uma estrutura política interna que seja capaz de aumentar a eficiência dos processos produtivos e de consumo de forma a garantir a sustentabilidade desses processos do ponto de vista socioambiental; de igual modo, esta atribuição deve se associar a formação de um arranjo institucional que estimule a transferência tecnológica de atividades produtivas mais sustentáveis dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, buscando assim maior eficiência do

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28 uso de energia, recursos naturais e consumo de matérias-primas, como descritos nos tópicos 4.18 e 4.19.

Ainda sobre o papel das instituições governamentais, a Agenda 21 descreve no tópico 4.26 a importância da promoção da conscientização da sociedade sobre a mudança dos padrões de produção e consumo por meio, por exemplo, da educação ambiental4. Para tanto, a agenda 21 demonstra que uma parceria atuante o com o setor privado é importante para formação do consumidor consciente. Isso porque:

Os Governos e as organizações do setor privado devem promover a adoção de atitudes mais positivas em relação ao consumo sustentável por meio da educação, de programas de esclarecimento do público e outros meios, como publicidade positiva de produtos e serviços que utilizem tecnologias ambientalmente saudáveis ou estímulo a padrões sustentáveis de produção e consumo. (PNUMA, 1992, seções 4.26).

Em adição, a Agenda 21 demonstra ainda algumas das iniciativas importantes para a consolidação do consumidor consciente. Entre elas, destacam-se nos tópicos 4.21 e 4.22, a necessidade de estimular o apoio governamental no processo de expansão das informações nos produtos, como a ecorrotulagem, poluição, reciclagem e comportamentos mais sustentáveis de consumo, bem como destacar as informações para o consumidor sobre as consequências positivas de se incluir “em seu poder de escolha a variável ambiental, dando preferência a produtos e serviços que não agridem o meio ambiente, tanto na produção quanto na distribuição, no consumo e no descarte final” (MMA/MEC/IDEC, 2005 Apud ORTIGOZA E CORTEZ, 2009, p. 56).

Por fim, a Agenda 21 revela nos tópicos 4.24 e 4.25, a necessidade do desenvolvimento de uma política de preços ambientalmente saudável, que vise o estimulo financeiro tanto do consumidor como do produtor, com o objetivo de fomentar o crescimento da oferta de produtos mais sustentáveis e da mudança de comportamento do consumidor por meio da implantação de políticas de estímulo tais como subsídios e restituições para o consumo de produtos e serviços que minimizem a externalidade negativa imposta ao meio físico natural, bem como a incidência de impostos e encargos sobre produtos e serviços que impactam a sustentabilidade ambiental local e do planeta.

4

A educação deve ser compreendida como eixo integrador que favorece a necessária mudança cultural. Ela deverá ser o elemento de articulação das dimensões técnicas, políticas, teóricas, simbólicas e afetivas que fazem parte da trajetória humana no planeta (ORTIGOZA E CORTEZ, 2009, p. 52).

(27)

29

2.1.1.2 - A Agenda 21 Brasileira e as ações prioritárias

No Brasil, a Agenda 21 constitui um instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável do país, sendo coordenada pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 (CPDS) e construída a partir das diretrizes da Agenda 21 Global. Ela foi entregue em 2002 (MMA, 2019).

A partir da Conferência da RIO-92, cada país se comprometeu definir sua própria agenda nacional com base na Agenda 21, a partir da definição das metas e objetivos que tenham por base o desenvolvimento sustentável. No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) criou em 1997 a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional (CPDS). Inicialmente, a comissão definiu seis áreas temáticas para criação da Agenda 21 Brasileira. São elas: agricultura sustentável, cidades sustentáveis, infraestrutura e integração regional, gestão dos recursos naturais, redução das desigualdades sociais e ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável. Em 2000, a referida comissão entregou o documento Agenda 21

Brasileira: Bases para discussão, iniciando assim a promoção de debates estaduais e

regionais entre as entidades governamentais e a sociedade civil, constituindo-se num marco para a elaboração das metas da Agenda 21 Brasileira em todos os Estados brasileiros e o Distrito federal, menos no Estado do Amapá. (MMA, 2002, p.6).

Dez anos após a Conferência de 1992, com a contribuição de especialistas, consultas estaduais e regionais, iniciativas da sociedade civil e do governo federal, as bases e os objetivos para a implementação da Agenda 21 Brasileira foram implementadas. O Relatório intitulado de Agenda 21 Brasileira: Ações prioritárias, de 2002, deixa claro que o objetivo da agenda brasileira é a “[...] busca do equilíbrio entre crescimento econômico, equidade social e preservação ambiental” (MMA, 2002, p. 4).

A interação entre as diversas entidades da sociedade civil na realização da Agenda 21 do país é destacada pela CDPS como sendo um importante diferencial, pois a “A Agenda 21 Brasileira se apresenta como uma alternativa de futuro possível e desejável definida por ampla parcela dos atores sociais brasileiros envolvidos em seu processo de construção”. (MMA, 2002, p. 32).

Porém, o documento enfatiza que o papel do Estado é de extrema importância no processo de coordenação e implementação na realização das ações da Agenda 21 Nacional, dentre as quais destacam-se as iniciativas que visem refletir sobre a necessidade de se implantar um novo modelo de desenvolvimento na sociedade

(28)

30 contemporânea, remodelar os padrões de consumo, garantir melhor distribuição de renda, erradicar a pobreza e implementar a sustentabilidade ambiental como base para a garantia da vida no planeta. (MMA, 2002, p. 29).

Sendo assim, a Agenda 21 Brasileira formalizou as ações prioritárias de atuação distribuídas em 21 objetivos a serem alcançados. São eles

Objetivo 1 Produção e consumo sustentáveis contra a cultura do desperdício

Objetivo 2 Eco eficiência e responsabilidade social das empresas

Objetivo 3 Retomada do planejamento estratégico, infraestrutura e integração regional Objetivo 4 Energia renovável e a biomassa

Objetivo 5 Informação e conhecimento para o desenvolvimento sustentável Objetivo 6 Educação permanente para o trabalho e a vida

Objetivo 7 Promover a saúde e evitar a doença, democratizando o SUS Objetivo 8 Inclusão social e distribuição de renda

Objetivo 9 Universalizar o saneamento ambiental protegendo o ambiente e a saúde Objetivo 10 Gestão do espaço urbano e a autoridade metropolitana

Objetivo 11 Desenvolvimento sustentável do Brasil rural Objetivo 12 Promoção da agricultura sustentável

Objetivo 13 Promover a Agenda 21 Local e o desenvolvimento integrado e sustentável Objetivo 14 Implantar o transporte de massa e a mobilidade sustentável

Objetivo 15 Preservar a quantidade e melhorar a qualidade da água nas bacias hidrográficas Objetivo 16 Política florestal, controle do desmatamento e corredores de biodiversidade Objetivo 17 Governança e ética para a promoção da sustentabilidade

Objetivo 18 Modernização do Estado: gestão ambiental e instrumentos econômicos

Objetivo 19 Relações internacionais e governança global para o desenvolvimento sustentável Objetivo 20 Cultura cívica e novas identidades na sociedade da comunicação

Objetivo 21 Pedagogia da sustentabilidade: ética e solidariedade Quadro 1 - As ações prioritárias da Agenda 21 Brasileira.

Fonte: Elaboração própria a partir do MMA, 2002.

A partir da definição dos 21 objetivos da Agenda 21 Brasileira, o documento mostrou os meios de implementação, mecanismos institucionais e instrumentos, restrições e condicionalidades, dentre as quais destacam-se os desafios econômico-financeiros, especialmente a definição do custo financeiro das políticas, programas e projetos da Agenda 21 Brasileira, os desafios político-institucionais, notadamente a centralidade do poder de decisão no Governo Federal e a necessidade de uma estratégia

(29)

31 bem definida nos três poderes com vistas à execução do projeto de curto prazo e longo prazo. (MMA, 2002, p.82).

Para início da implementação da Agenda 21 Brasileira, o relatório Agenda 21

Brasileira: ações prioritárias, elenca dois avanços importantes, que estão na base das

Conferências das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizadas em 1992, no Rio de Janeiro, e 2002, em Johanesburgo 2002, quis sejam: o envolvimento do empresariado e os avanços da consciência socioambiental da sociedade, especialmente com relação à ideia sobre consumo sustentável como sendo uma das preocupações dos consumidores. (MMA, 2002, p. 108).

No documento citado, demonstram-se ainda as ações institucionais consideradas imprescindíveis para a melhoria do aperfeiçoamento técnico e a implantação de um novo paradigma de sustentabilidade, tais como o investimento em ciência e tecnologia e o controle do desmatamento. (MMA. 2002, p. 109).

Em adição, a Agenda 21 brasileira ressalta a importância da formação de um pacto social entre os três setores de governo, o ministério público, as empresas e os indivíduos em favor de uma nova cidadania que priorize a justiça social e a qualidade de vida dos indivíduos no momento atual e para as gerações futuras. (MMA, 2002, p. 115).

Estabelecida as metas e objetivos para a implementação da Agenda 21 brasileira, ampliou-se os estudos para a realização de debates em busca da maior regionalização da referida agenda, constituindo assim a chamada Agenda 21 Local. Desse modo, “uma das grandes conquistas da última década foi o avanço na concepção do desenvolvimento que passou a ser visto de forma descentralizada e participativa, focalizada de maneira original no poder local”. (MMA, 2002, p. 59).

Em relação à implementação da referida agenda, observa-se no capítulo 28 as iniciativas de elaboração da Agenda 21 Local, em como o papel da sociedade e das esferas de governo no processo (MMA, 2004, P. 19).

Além disso, como descrito anteriormente no Quadro 1, o objetivo 13 da Agenda 21 Brasileira consiste em programar a Agenda 21 Local nos municípios, visando promover um desenvolvimento integrado e sustentável. Sendo assim, a partir de 2002, com a execução da referida agenda, dá-se início a elaboração da Agenda 21 nos três níveis de Governo - Federal, Estadual e Municipal. Contudo, destaca-se que para melhor adequação das regionalidades de cada território, a importância do planejamento e execução da Agenda 21 Local junto às comunidades locais de cada região, “[...] as

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32 estratégias de sustentabilidade mais eficientes são as concebidas localmente e que contam com o apoio da população”. (MMA, 2004, P. 19).

Nesse contexto, a Agenda 21 Local é definida como:

Um instrumento de planejamento, um processo multissetorial de construção e implementação de estratégias de desenvolvimento sustentável local, que integra as dimensões sociais, econômicas, político-institucionais, culturais e ambientais da sustentabilidade. (MMA, 2004, P. 19).

Com base na Revista Agenda 21 - Brasil Sustentável, constata-se que o desdobramento da implementação da Agenda 21 Brasileira é a disseminação da Agenda 21 Local nos mais diversos municípios, por meio da criação dos Fóruns de Agenda 21 Local, reconhecendo assim a importância no nível local da concretização de políticas públicas sustentáveis. (MMA, 2004, P. 19).

Sobre a importância dos Fóruns da Agenda 21 Local, destaca-se que:

É fundamental que os processos em curso e a serem iniciados vençam a resistência e se constituam em Fóruns de Agenda 21 permanentes, ativos e participativos que possam preparar, implantar, acompanhar e avaliar os planos de desenvolvimento sustentável das localidades. (MMA, 2004, P. 19) Sendo assim, considerando a importância do acompanhamento e avaliação dos planos de desenvolvimento sustentável nas localidades, bem como a implementação das metas advindas a priori da Agenda 21 Global e da Agenda 21 Brasileira, o IBGE realizou algumas adequações necessárias às regionalidades do país, de cada região e município para medir em seu relatório intitulado Indicadores de Desenvolvimento

Sustentável: Brasil 2015, a quantidade de municípios brasileiros onde a Agenda 21

Local estaria sendo implementada desde o início da execução da Agenda 21 no país, em 2002, até os dados mais atuais, que datam de 2012.

(31)

33 Figura 1 - Proporção da população brasileira residindo em municípios com Agenda 21 Local e com Fórum da Agenda 21 Local – Brasil – 2002/2012

Fonte: IBGE, 2005 e 2012

Pelos dados da Figura 1, observa-se uma queda em 2012 com relação ao percentual de municípios com Agenda 21 Local, porém, em se tratando dos fóruns de atuação da Agenda 21 Local, o percentual alcançou cerca de 30% dos municípios brasileiros.

Vale a pena destacar que a institucionalização do processo é chamada de Fórum da Agenda 21 Local, por ter sido criado pelo Poder Executivo ou Legislativo municipal. (IBGE, 2015, p. 61). Assim, ainda existe um longo percurso a ser alcançado, haja vista a convergência dos referidos relatórios citados anteriormente, sintetizando que a atuação local é de extrema importância para a consolidação das metas e objetivos da Agenda 21 Brasileira.

2.1.2 - Consumo e Sustentabilidade

Seguindo a perspectiva das reflexões do consumo pós-Rio-92, Portilho (2005) retrata a emergência internacional do discurso político sobre consumo e meio ambiente, demonstrando como o aumento populacional impactou o nível de produção e como esse aumento na oferta de bens e serviços resultou no aumento do consumo, muitas vezes de natureza supérflua.

Com base no impacto da produção incidindo no impacto ao consumo, a referida autora constata a preocupação da ONU, no relatório elaborado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) - Nosso Futuro Comum

(32)

34 – em demostrar como o conceito de Desenvolvimento Sustentável surgiu a partir da necessidade de promover o crescimento econômico, distribuição de renda, proteção ambiental e eliminação da pobreza. (PORTILHO, 2005, p. 49).

A autora mostra como, a partir da década de 1970, o debate se intensificou em demonstrar a inter-relação entre sustentabilidade e consumo. Porém, destaca que o relatório Nosso Futuro Comum evidenciou o entusiasmo e a confiança para com o progresso técnico e tecnológico, no sentido de que este, aliado a um cenário de expansão econômica, pudesse trazer as melhorias necessárias aos países subdesenvolvidos. Sendo assim, o aumento do consumo e a circulação dos produtos seria uma condição sine qua non para a obtenção do almejado desenvolvimento sustentável, não indo muito além disso, deixando de refletir acerca das questões como os limites da expansão dos estilos de vida e consumo das nações avançadas e o conflito ético entre as desigualdades territoriais. (PORTILHO, 2005).

Contudo, a autora citada mostra que esse conceito dúbio foi rapidamente incorporado pelo pensamento ambientalista internacional, tornando a ideia de desenvolvimento sustentável como sendo um importante estilo de gestão empresarial, visando o crescimento econômico como eliminador da pobreza e os avanços tecnológicos como geradores de externalidades positivas. (PORTILHO, 2005).

Portanto, segundo Portilho (2005), a discussão sobre a preservação do meio natural tinha começado a ser realizada, porém, não para sanar os problemas de desigualdades e distribuição.

Entretanto, esta hegemonia discursiva muda a partir da década de 1990, onde o debate se intensificou em demonstrar a inter-relação entre sustentabilidade e consumo, principalmente com a realização da RIO-92 e a elaboração da Agenda 21, onde se fez presente a cooperação dos países em desenvolvimento e diversas entidades globais, como as ONGS, objetivando contribuir para a reflexão acerca da participação dos países desenvolvidos e seus estilos de vida. (PORTILHO, 2005).

A autora citada busca captar em sua hipótese de trabalho que:

As propostas de consumo sustentável restritas à esfera individual são limitadas, limitantes e desagregadoras. As ações de caráter coletivo podem ampliar as possibilidades de ambientalização e politização das relações de consumo, contribuindo para a construção da sustentabilidade e para a participação na esfera pública (PORTILHO, 2005, p. 36).

Logo, a discussão contribuiu para a elaboração e o desenvolvimento de uma abordagem sociológica sobre consumo, bem como para destacar a importância do

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35 consumidor como ator social na mudança dos padrões de consumo. Aqui, a reflexão sobre os hábitos de consumo e estilo de vida são considerados a causa dos problemas ambientais da contemporaneidade, justificando, assim, a relevância da temática abordada, pela importância que o consumo exerce na agenda de discussão das ciências sociais.

Conforme Portilho (2005) demonstra, a conferência 'Rio-92' consegue trazer a discussão sobre os padrões de consumo e meio ambiente para a sociedade como nunca antes vista, através da repercussão na mídia, emergindo o tema do consumo excessivo e desigual como central na sociedade contemporânea.

Seguindo a perspectiva das reflexões do consumo pós-Rio-92, Portilho (2005) no capítulo quatro apresenta uma revisão bibliográfica sobre a discussão acerca do que se considera como sendo as “promessas e armadilhas das propostas do consumo verde”, e os “limites e possibilidades das estratégias de consumo sustentável”.

Com a maior notoriedade de importância levou-se ao maior interesse para ações politicas a questão da preservação dos recursos naturais, ao longo da década, onde uma série de iniciativas governamentais e organizações da sociedade civil foram realizadas para superar os desafios dos impactos ambientais, agora associados diretamente ao padrão de consumo da sociedade contemporânea, mudando, assim, da esfera privada do consumidor para a esfera pública do cidadão.

A autora destaca ainda algumas dessas iniciativas referentes à reflexão e o estudo para promoção dos padrões de consumo, como a que ocorreu em 1995 com a realização do “Oslo Ministerial Roundtable on Sustainable Production and

Consumption”, com o objetivo de estabelecer medidas voltadas para o comportamento

de indivíduos, empresas, instituições governamentais e internacionais, como o engajamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) através da promoção de pesquisas sobre a mudança dos padrões de consumo e a formação das Organizações de Defesa aos Consumidores (ODC) para atuação de campanhas com foco no consumo mais consciente.

No Brasil, em cooperação com a Noruega, realizou-se o workshop Produção e

Consumo Sustentáveis: padrões e políticas, em 1996, e, em 1998, o Interregional Expert Group Meeting on Consumers Protection and Sustainability para ampliação

das propostas na defesa dos consumidores. No lado da produção, o Factor 10 Club, realizado em 1994 na França, reuniu especialistas do meio ambiente para debater a importância na melhoria da produtividade, visando uma produção mais sustentável.

Referências

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