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A crise do ensino juridico de graduação no Brasil contemporaneo : indo alem do senso comum

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H o r á c i o W a n d e r 1 ei R o d r igues

TESE APRES E N T A D A AO CURSO DE P O S - G R A D U A Ç R O EM D I REITO DA U N I V E R S I D A D E FEDERAL DE SANTA CATARINA

P A R A A O B T ENÇRO DO TITULO DE DOUTOR EM DIREITO

Orientadora: Prof§ Dr§ Olga Maria Boschi de Aguiar C o — o r i e n t a d o r : P r o f . D r . E d mundo Lima de Arruda Jr.

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U N I V E R S I D A D E F E D E R A L DE S ANTA C A T A R I N A C E N T R O DE C I Ê N C I A S J U R Í D I C A S

C U R S O DE P O S - G R A D U A Ç A O EM DIREITO

A T E S E A C R I S E DO ENSINO J U R Í D I C O DE GRADU A Ç A O NO B R A S I L CONTEMPORÂNEO: INDO ALEM DO SENSO COMUM e l a b o r a d a por H O R A C I O WANDERLEI R O D R IGUES

e a p r ovada por todos os membros da Banca Examinadora, foi j u l g a d a a d e quada para a obtenção do titulo de DOUTOR EM DIREITO.

F l o r i a n ó p o l i s (SC), 31 de a gosto de 1992

B A N C A E X AMINADORA

D ri Olga Maria Boschi de Aguiar - UFSC

Dr . E d m undo Lima de Arruda Júnior - UFSC

D r . R e i n a l d o Matias Fleuri - UFSC

Dr. R o b e r t o A r mando Ramos de Aguiar - UnB

Dr. Roberto Kant de Lima - UFF

P r o f e s s o r a orientadora:

Coorde n a d o r do curso

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R E S U M O

A tese busca compreender a crise do ensino jurídico b r a s i leir o a t. uai , d iale t i c a m e n te, e m s u a t o t a 1 i d a d e e d e v .1 r . A o mesmo tempo procura oferecer alg u m a s sol u ç õ e s possíveis para os problemas apresentados em seus vários n í v e i s .

A análise compreende p r in c i p a l m e n t e a crise estrutural, que se d e sdobra em s (a) p o l í t i c o - i d e o l ó g i c a (liberalismo); e

(b ) e p i s t e m o l ó g i c a (inclui a crise do posi t i v i s m o e seu d i scurso e a questão metódica). Engloba a l e m dessa a crise o p e r a c i o n a l , dividida em: (a) curricular; (b) d idâti co— pedagógi ca ; e ( c ) a d ministrativa. E também a. crise funcional, que se refere: (a) à inadequação da formação de seus e gressos ao mercado de trabalho; e (b) aos problemas .de

identidade e legitimidade dos o p e r a d o r e s jurídicos.

Para efetivar esse estudo, o trabalhei foi e s t r u t ur a d o em ' nove cajDitulos. a saber: I - (D e ) formação j u r í d i c a para que ( m) ?

(Da crise do mercado de trabalho ás crises de identidade e legitimidade!; II — A reforma que nunca a c o n t e c e u (questões legais o curriculares) ; III - A reprod u ç ã o da (xis) formação simbólica ( qLi.es tíjes d i d á t i c o - p e d a q ó g i c a s e a d m i n i s t r a t i v a s j fV

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- E n s i n o j u r í d i c o pars que(m)7 (A crise do paradigma po 1 i ti c g — i^eo ^ CD V ~ 0 dire i t o errado que se conhece e

e n 5 ina ( A crise do paradigma e p i s t e m o 1ó g i c o ); VI - Dire i t o com que ditf, e i*-°^ ^ C r itica do Direito e seus pressupostos); VII - p Qr que d i r e i t o alternativo? (A i n suficiência da crítica j u r í d i c a tradicional); VIII - E possível conhecer dire i t o o d i r e i t o ? (A q u e s t ã o do método); IX - O disc u r s o do ensino e o ensi no do d i s c u r s o (As crises da ed u c a ç ã o jurídica e as p o s s i b i l i d a d e s de s u p e r a ç ã o ) .

Os r e s u l t a d o s da pesquisa levam à c o n c lusão de que a crise é* múltipla, e n v o l v e n d o elementos internos e externos. Portanto, há soluções, d i f e re n c i a d a s para cada nível de problema apresentado. O Dire i t o Alternativo, a n a lisado a partir do què se tem c a r a c t e r i z a d o como crítica do Direito, é priv i l e gi a d o como p o s s i b i l i d a d e de novo paradigma e p i s t e m o l ó q i c o e p o 1i t i c o - i d e o 1ó g i c o , tendo em vista ente n d e r - s e que o nível e strutural de v e ser priorizado na busca de soluções.

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A B S T R A C T

A thesis tries to understand the dialectical crisis behind the Teaching of Lae in Con temporary Brazil in its totality as well as the ones to come. At the same time it was our purp o s e to offer pos s i b l e solutions to the p roblems in their several s c o p e s „

The a n a l y s i s mainly englobed -the structural crisis, which them was s u b d i v i d e d into: (a) ideo l o g i c a l - p o l i t i c a l (liberal);

(b) e p i s t e m o l o g i c a 1 (which includes a crisis within Positivism, its d i s course as well as the q u estion of the methodology). Besiiies the a n a l y s i s still includes an operational crisis s ubdivided into: (a) curricular, (b) d i d a t i c o - p a e d a g o g i c a l , (c) a d m i n i s t r a t i v e . T here is still a Functional crisis that is related to; (a) inadequate formation of s tudents who are to carry the functions, (b) problems of identity as well as legitimacy on the part of Law O p e r at o r ' s Personnel.

To make this study effective, we o r g a nized the work, .into '1 '■

nine 'chapters : I -- Dealing with juridical !. d e ) formation to whq(m)? (From the labor market crisis to the identity and

. . . . . _

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(Legal and curri c u l a r q u e s t i o n s ) ; III - The rep r o d u c t i o n of symbol ic ( cle ) formation . ( D i d a t i c o - a d m i n i s t r a t i v o - p a e d a g o g i c a l questions); IV - Te a c h i n g s of Laws to w h o ( m ) ? (The .crisis of the p o l i t i c a l - i d e o l o g i c a l paradigm); V - The wrong d o i n g s of the Laws that we know and which are taught. (The crisis within the e p i s t e m o l o g i c paradigm); VI - J ur i s d i c t i o n with which L a w s ? (The c r i t icism made to the laws' as well as their assumptions); VII - Why to create a l t e r n a t i v e Laws? (The incapacity of the

s

traditional critics to deal with those laws); VIII - Is it possible to "understand well the Laws? (The q uestion i n v o l v i n g the method); IX - The d i s c ourse involving the teaching as well as the teaching of the discourse. (The crisis in Juridical Education and the p o ssibilities of overco m i n g them).

The results of the research took us to conclude that the crisis is of m u l t i p l e sides, involving internal and external e 1eme n t s . Ne v ert h e 1e ss, we f i n d t he poss i b i 1ity to c r e a t e d i f f e r e n t i a te d s o l u tions for the d i f f e r e n t levels of the problem presented. The a l t e r n at i v e Law ana l y s e d from the p o ints

(

of v i e w ■that was characterised as the c r i ticism of Law, and which was priviledged with the new e p i s t e m o l o g i c p a r adigms as we 11 as poli t i c a l- i d e o l o g i c a l trying t.a u n d e r s t a n d that the structural level must be placed as a first p

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CPGD/UFSC, 1992. 397 p. (Thèse de doctorat).

R E S U M E

La thèse cherche'à comprendre, d 'une man i è r e dialectique, la crise de l'enseignement j u r i d i q u e au . Brésil à l'heure actuelle, dans son intégralité et son devenir. Elle veut é g a l e m e n t montrer qu e l q u e s s o l utions possibles aux p r o b l è m e s p r é s e n t é s dans de d i f f é r e n t s niveaux.

L ' a n alyse comprend sur t ou t la crise s t r u c t u r a l e qui se divise en s (a) crise pol i t ic o - i d é o l o g i q u e ( 1 ibêral isme-) et ( b) crise é p i s t é m o l o q i q u e (qui inclut la crise du p o s i t i v i s m e et de son d i scours et la question méthodique). Elle e n g l o b e en plus la crise opérationnel le que este d i v i s é e en: (a) le p roblème le 1'o r g a nisation des disci p l i n e s des cours; (b) la crise di d a c t i q u e et pédagogique; (c) la crise a d m i n i s t r a t i v a . II faut c o n s i. q e r e r a u s s i I a c r i s e to n c 11 o nnel le , q u i s e r appo r t e : ( a ) à 1 i n a qe u ci t i o ri c!e 1 î ormation des é t u d i a n t s qui ont c o m p l é t é

1 es ç;ours au m a r ché C* LA trava il; (b ) •au x \j r o b 1 è iiit? s de l'identité?

et ôa a légitim i té d e B r-w ir idr> K~i ateurs j u r i.diques.

Pour effect u e r Ci-? t.te étL * C j £? 1 £E’ tirav ail a été divisé en neuf C i i a p j . très, à s a v o i r s XT ! "i" O iroi a tion (ou d é f o r m a t i o n)

(8)

11

juridique; Pourquoi et pour qui? (De la crise du marc h é du travail à celles d'identité et de légitimité); II - La réforme que n'a jamais eu lieu. (Des q u e s t i o n s légales et sur l ' o r ganisation des cours); III - La r e p r o duction de la formation (ou déformation) symbolique. (Les q u e s t i o n s d i d a c t i q u e s et pédagogiques et aussi adm i ni s t r a t i v e s ) ; IV L ' e n s e i g n e m e n t juridique, pourquoi et pour qui? (La crise du paradigme politico-idéologique); V — Le faux droit que l'on connaît et enseigne. (La crise du p a r a digme é p i s t é m o 1o g i q u e ); VI - Le D r o i t avec quel droit? (La critique au Droit et à ses

présupposés); VII - P o urquoi le d r o i t a l t e r n a t i f ? ( L 'insuffisance de la critique j u r i d i q u e traditionnelle); VIII - Est-il possible, de bien co n n aî t r e le d r oit? (Le p r oblème de

la méthode); IX - Le d i s c o u r s de 1'e n s e i g n e m e n t et 1'e n s e i g n e m e n t ' du discours. (Les crises de 1 'éducation j u r i d i q u e et 1es possibilitês de 1es s u r p a s s e r ).

Les ré s u 3. t a t s de 1 a r e c h e r c h e d ê m ontrent que la c r ise e? s t mu l t i p l e et qu'elle comporte des é l é m e n t s in t e r n e s et externes.

1 1 y a p w. r' c o n s é q u e n t ci e s s o 1 u t i o r *rs dit te !■ e i i t e* s à c h a q u e n i v e a u d'un p roblème présenté,, Le D r o i t alternatif,, analysé comme étant la c r i t i q u e au D ra i t , est p r i v i 1é g i é pa r 1 a p o s s i b i 1ité d'être un nouveau p a ra digme é p i s t é m o 1ogique et politico-idéologique. Il faut c o m p r e n d r e qu'on doit ac c o r d e r au niveau structural une priorité dans la r e c h e r c h e des solutions,.

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L e m b r o - m e de meu tempo de acadêmico. Aula, aula e aula. Depois, o bar.

C o l e g a s diversos, de d i v e r s o s cursas. C o l e g a s cultos. Cult u r a geral.

□ a m biente a g r a d á v e l .

Aprendi muito, muito mesmo.

C o n h e c i m e n t o s que jamais imaginava: em u í t t banco, em uma cadeira, de um bar. D e s o p i l a ç ã o total;

c o n h e c i m e n t o pelo prazer de conhecer. O s e n t i m e nt o de se estar à vontade. T e n s ã o . .., nenhuma.

Nada de medos, nada de reprimendas. Em uma mesa de bar se viajava o mundo, r e s o l vi a - s e os problemas do Brasil; em um banco, em uma mesa de bar.

Do futebol è literatura, a p r e n d i a — se. A p r e n d i a - s e sem dificuldades.

Em umá mesa.de bar nos sentimos è vontade. Dei x a m o s a mente vagar. Fugimos do comum. Uma mesa de bar: assim pretendo minha sala D e ixar alunos á vontade,

e x t e r e o r i z a r suas idéias mais íntimas. Deixar f l u i r o gosto péla não imposição de de normas c a s t r a d o r a s ; do temor.

Exigir conhecimento sim; impor terror nunca A sala de aula deve ser local de p r a z e r , não de receios.

Em uma mesa de bar se aprende muito mais do que em uma tradicional sala de aula.

de aula.

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A G R A D E Ç O :

A CAPES o- auxílio p r o p o r c i o n a d o para a e f e t i v a ç ã o desta pesquisa.

A UNISC a ajuda e a o p o r t u n i d a d e concedidas para a r ealização do doutorado.

Aos colegas de D e p a r t a m e n t o na UFSC, professores Mari Id a Linhares, Moacir Motta e V a l d e m i r o B o r i n i , pelo apoio e comp r e e n sã o nos momentos em que tiveram que segurar a "barra" por mim.

Aos professores A u r é l i o Wander Bastos, J o ã o B a ptista Villela, J o a q u i m Falcão e José E d u a r d o Faria pela ajuda prestrada através dos d i á l o g o s que m antivemos ou dos textos enviadas.

Ao professor César Pasolo pelas suqestòes apr e se n t a d a s na defesa do projeto de tese, m u itas i n c o r poradas no d e s e n v o l v i m e n t o da pesquisa.

Aos professores R e i n a l d o F l e u r i , Roberto Aguiar e Roberto Kant de Lima por terem ace i ta d o participar da banca de defesa de tese.

Aos meus orientadores, professores Olga Maria Boschi de Aguiar e Edmu n d o Lima de Arruda J r .,

pela disponibilidade, presteza, amizade,

confiança e competência que dedicaram à o r i e n t a ç ã o e revisão de meu trabalho.

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A todos os estudantes dos cursos jurídicos brasileiros, vitimas da (d e )formação que lhes é imposta nos bancos es.colares. Neles reside s única p o s si b i l i d a d e concreta de superação da atual crise do ensino do Direito.

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SUMARIO

A B R E V I A T U R A S E S I G L A S U T I L I Z A D A S ... ... ... . . . 1 b

I N T R O D U Ç R C ... ... . ... 18

G L O S S Á R I O B A S I C O DE C O N C E I TO S O P E R A CIONAIS U T I L I Z A D O S ... 38

1 - ( DE ) FO-RMAÇPíO JURÍDICA PARA QUE ( M ) ? (DA CRISE DO MERCADO DE TRABALHO AS. C RISES DE IDENTIDADE E L E G I T I M I D A D E ) . ... 58 1 . A l g u n s v í c i o s d a (de)foriTiaçSo p r o f i s s i o n a l e a crise do mer c a d o de t r a b a l h o ... ... 59 2. O E s t a d o e o m e r c ad o de t r a b a l h o ... . 69 3. A dvocacia: a tentação m o n o p o l i s t a ... . ... 72 4. A a d v o c a c i a e suas c r i s e s ... 78 .5. 0 P o d e r J u d i c i á r i o é as crises de identidade e l e g i t i m i d a d e . . . ... ... ... . 84 II - A R E F O R M A QUE N U N C A ACONTECEU (QUESTÕES L E G A I S E C U R R I C U L A R E S } . . . ... ... 88

1. C c u r r í c u l o na evoluçaot?) histórica dos cursos j u r í d i c o s ... ... ... . 88

2. R e s o l u ç ã o 3/72 do CFE e currículo minimo. ... 93

3. A l g u m a s o b s e r v a ç õ e s críticas aos currículos j u r í d i c a s ...'... 100

4. Currículo: uma proposta aberta e v i á v e l ... 105

(13)

III - A R E P R O D U Ç R O DA (D E ) FORMAÇRO SIMBÓLICA

(QUESTÕES D I DAT ICO-PEDAGOGICAS E ADMINISTRATIVAS)... 115

1. A m e t o d o l o g i a de e n s i n o ... ... .. .. 115

2. O código comentado e o raciocínio jurídico. ... . 119

3. 0 p r a x i s m o ... ... ... ... .121

4. A s i t u aç ã o doa corpos docente e discente..."... 127

5. Os programas dè ensino e manuais e o tripé e n s i n o , pesquisa e extensão... ... . 137

IV • - ENSIN O JU R Í D I C O PARA Q U E (M )? (A C RISE DO P A R A DIGMA POLITI C O - I D E O L O G I C O )... . . 139

1. A crise do modelo econômico capitalista .•*.... .. 140

2. A c n s e de legitimação do c a p i t a l i s m o . ... 145

3. A se m i ó t i c a da m a n i p u 1 a ç ã o ... . 152

4 . 0 e n s i n o j u rídico è e sempre foi. fonte da p o l í t i c a . . . ... ... . 1 & 1 5. O s onho não a c a b o u . . . ... ... 170

V - O D I R E I T O E R RADO QUE SE CONHECE E ENSINA (A CRISE DO P A R A DIGMA EPISTEMOLOGICO) .. ... . ... 177

1. A' matriz j usnatural ists . . . ... 177

2. A matriz p o s i t i v i s t a ... ... 179

3. As con s e q ü ê n c i a s do positivismo no âmbi t o do ensino j u r í d i c o ... 1S2 4. A i n suficiência dos j u s n a t u r a 1ismos e p o s i t i v i s m o s ... ... 188

5. A l q um a s tentativas de su p e r a ç ã o do j u s n a t u r a l i s m o e do positivismo no p e n s a m e n t o jurídico b r a s i l e i r o ... ... 194

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VI - D I R E I T O COM Q U E ' D I R E IT O ?

(A C R I T I C A DO DIREITO E SEUS P R E S S U P O S T O S ) . . ... 204 1. A nec e s s i d a d e de um novo p a r a d i g m a ... 204 2. A c o n st r u ç ã o de uma teoria critica do Direito.... 206 3. A l g u n s m o v i m e n t o s críticos c o n t e m p o r â n e o s ... 215 3.1. Asso c i a t i o n Cr i t i q u e du Droit. ... 215 3.2. Nova Escola J u rídica B r a s i l e i r a . ... 217 3.3. A s s o c i a ç ã o L a t i n o - A m e r i c a n a de

Meto do l o g i a do Ensi n o do D i r e i t o ... 220 3.4. Uso A lt e r n a t i v o do D i r e i t o ... 223

VII - POR QUE DIREITO A L T E R N A T I V O ?

(A I N S U F I C I Ê N C I A DA CRIT I C A J U R Í D I C A TRADICIONAL)... 227 1. Do "Uso A l t e r n a t iv o do Direito" ao

"Direito Alternativo" . . . ... ... ... 227 2. Da "Crítica do Direito" ao

" Direito A l t e r n a t i v o " ... 248

VIII - E P O S S Í V E L CONH E C E R DIR E IT O O D I R EI T O ?

(A Q U E S T Ã O DO M E TODO ) . . . . ... ... 256 1. A impo r tâ n c i a do método e a i n v i a b i l i z a ç ã o da r e f o r m a ... ... 257 2. I n t e r d i s e i p 1 inaridade e d i a l é t i c a ... 265 3. H e r m e n ê u t i c a e s e m i o l o g i a ... 270 IX - O D I S C U R S O DO ENSINO E 0 E N S I N O DO D I SCURSO (AS C R I S E S DA E D UCAÇRO J U R Í D I C A E AS P O S S I B I L I D A D E S DE S U P E R A Ç R O ) . . ... ... ... 278 1. A crise funcional: 1.1. e n s e do merc a d o de t r a b a l h o .... ... 285 1.2., crisé de i dentidade e legitimidade

• dos operad o r e s j u r í d i c o s ... ... . 286 2. A crise operacional:

2.1. crise c u r r i c u l a r ... ... 279 2.2. crise d idá t i co-pedagóq i c a ... ... 282 2.3. crise a d m i n i s t r a t i v a ... ... . . 282 3. A crise e s t r u t u r a l : 3.1.' crise do paradigma p o l í t i c o - i d e o l ó q i c o ... 289 3.2. crise do paradigma e p i s t e m o l ó q i c o ... . . 292 4. E n s i n o jurídico e Dir e i t o A l t e r n a t i v o . . . ... 305 14

(15)

CONCLUSOES. . . ... ... ... 311

E V E N T O S C I T A D O S . . . ... .... ___ ...'... 318

B I B L I O G R A F I A ... ... . . ... . ... . . ... 319

ANEXOS:

P r o p o s t a de R e g u l a m e n t o para os estágios jurídicos... 354 Lei n° 5 . 8 4 2 / 7 2 ... "... 367 P arecer nE! 225/73 do G F E .... ... ... . . . . 3 6 8 R e s o l u ç ã o n2 15/73 do C F E . . .... ... ... . 378 Lei n° 5 . 9 6 0 / 7 3 . . . ... 380 D e s t a q u e s de P a r e c e r e s do CFÈ sobre os e s t á g i o s . . . .... . 381 P r o v i m e n t o nO 74/92 do Conselho Federal da O A B .... ... 395

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A B R E V I A T U R A S E S I G L A S U T I L I Z A D A S

A L M E D - A s s o c i a ç ã o L a t i n o - A m e r i c a n a de M e t o d o l o g i a do E n s i n o do D i r e i t o

CFE — C o n s e l h o Federal de E d ucação

CLT - C o n s o l i d a ç ã o das Leis do T rabalho

CN B B - C o n f e r ê n c i a Nacional dos Bispos do Brasil CPC - C ó d i g o d e .P r o c e s s o Civil

CPGD - C u r s o de P ó s - G ra d u a ç ã o em Direi t o CPP — C ó d i g o de P r ocesso Penal

DIEE SE - D e p a r t a m e n t o Intersindica 1 de E s t a t í s t i c a e E s t u d o s S ó c i o - E c o n ô m i cos

EC E D - E n c o n t r o Catar i n e n s e dos E s t u d a n t e s de Direito ENED - E n c o n t r o Nacional dos E s t u d a n t e s de Direito Et al. — e o u t r o s (ABNT — NBR 6023, ago. 1989)

FAO - O r g a n i z a ç ã o das N a ções Unid a s para a A l i m e n t a ç ã o e a A g r i c u l t u r a (O A A )

F° - Filho

IBGE - Instituto Brasi l e i r o de G e o g r a f i a e Estatística IES - I n s t i t u i ç ão de Ensino Superior

Jr. - J únior

L.ICC — Lei de Introdução ao Códiqo Civil

M E C , - M i n i s t é r i o da Edu c a ç ã o e C u l tu r a (hoje M i n i s t é r i o da Educação)

NAIR — Nova Escola. Jur í d i c a Brasi l e i r a OAB - O r d e m dos Advogados do Brasil

(17)

PIB — P r o d u t o Interno Bruto

PN A D — P e s q u i s a Nacional por Amostra de D o m i c i l i o (do IBGE) PUC - P o n t i f i c e Universidade Católica

STF - S u p r e m o Tribunal Federal

UF C E - U n i v e r s i d a d e Federal do Ceará

UFSC - U n i v e r s i d a d e Federal de Santa C a t a r i n a (Florianópolis)

U N I C E F — F u n d o da. Nações Unidas para a Infância UNIJUI - U n i v e r s i d a d e de Ijuí (RS)

U N I S C — U n i v e r s i d a d e de Santa Cruz do Sul (RS)

U N I S U L - U n i v e r s i d a d e do Sul de Santa Cat a r i na (Tubarão) USP - U n i v e r s i d a d e de São Paulo

(18)

INTRODUÇPSO

A c r i a ç ã o dos cursos j u r ídicos nc Brasil, em 1827, foi uma o p ç ã o pol í t i c a e tinha duas funções básicas: (a.) s i s t e m a t i z a r a i d e o l o g i a po l í t i c o - j u r í d i c a do liberalismo, com a f inalidade de pro m o v e r a ' i n t e g r a ç ã o .ideológica do estado nacional p r o j e t a d o pelas elites; e (b) a formação da burocracia en c a r r e g a d a de o p e r a c i b n a l i z a r esta ideologia, para a gestão do e s t a d o

m a l .. < 3 >

No perí o d o imperial o e n s i n e do Direito (currículos, programas, professores e compêndios) se caracterizou por: ser t o t a l m e n t e . controlado pelo governo central; ser o j u.snatural isrno a doutrina dominante até o período em que foram i n t r o d u z i d o s no Brasil e e v o l u c i o n isrno e o positivismo? haver, em nível de metodologia de ensino, . a. limitação às a u l a s - c o n f e rê n c i a , no estilo de Coimbra; terem sido e f e t u a d a s ria e d u c a ç ã o jurídica uma série de reformas, que n u n c a a l c a n ç a r a m os seus objetivos; serem os cursos o local de '— Giiiuf i jl *— ít4. tf 1 i lír = ecorii_5mi \_a . i—ii ii_ie eb to.b ! oriTiãvaiii os seus

i ! n o ; p ljr ns o a c o m p a n h a r e m a s m u □ a n y a s que o c o r r i a u i n a

,1> Para Serçio Adorno a segunda dessa funções era, na época, preponderante: “Desde cedo, os cursos jurídicos nasceras ditados suito sais pela preocupação oe se constituir usa siite política coesa, disciplinada, devota-às razSes do Estado, que se pusesse à frente dos negócios públicos e pudesse, poucc a pouco, substituir a tradicional burocracia herdada da administração joanina, do que pela preocupação ess foraar juristas que produzisses a ideologia jurídico-politica do Estado Nacional etergente.” !i?B8:235-èi

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e s t r u t u r a social

Na R e p ú b l i c a Velha as principais a l t e r à ç& e s que s u r g i r a m na e n s i n o da Direito f a r a m : a criação de novos currículos, p r o c u r a n d o dar maior p r o f i s s i o n a l i z a ç ão aos . seus e g r e s s o s . C o n t i n u a r a m eles, no entanto, sendo rigidos e não t r o u x e r a m n e n h u m a a l t e r a ç ã o estrutural nos cursos jurídicos: a i n f l u ê n c i a d e c i s i v a do posit i v i s m o na c o n cepção de Dire i t o e seu e n s m o ; a p o s s i b i l i d a d e da criação das faculdades livres, e l e v a n d o r a z o a v e l m e n t e o seu número e gerando, d essa forma, m a i o r e s p o s s i b i l i d a d e s de acesso da classe média; o inicio d a s d i s c u s s õ e s s o b r e a quest'à'o da. metodqloqia de ensino (no e n t a n t o a aula c o n f e r ê n c i a continuou sendo, regra geral', a opção d i d á t i c o - p e d a g ó g i c a adotada). Também continuou havendo uma desvinclilaçâa entre a instância educacional e a r e a l i d a d e s o c i a l .

No peri o d o de 1.930 a 1.972 muito pouca coisa mudou em nivel q u a l i t a t i v o no ensino jurídico; não houve no v a m e n t e m u d a n ç a s estruturais. 0 que acorreu foi u.ma proliferação muito gran d e de faculd a d e s de Direito por todo o pais, am p l i a n d o o aces s o a elas por parte da classe média. As. reformas ef e t u a d a s bus c a r a m n o v a m e n t e dar um caráter mais p r ofissionalizante ao curso e m a n t i v e r a m a rigidez t u r r i c u l a r . C o m e ç o u — se a pensar, p r i n c i p a l m e n t e com San Tiago Dantas, . t3a> a crise da e d u c a ç ã o

^

...-(2) Sobre a obra ds San Tiago Dantas, principaleer.te no que se refere ao ensino jurídico, ver, de Edsundo Lisa de Arruda Jr., o livro "Introduçto ao idealisee-jurídico (uas-releitura de San Tiaoo Dantas}*. Tasbés cs trabalhos de Alberto Venâncio FS (1974) e joaquis Falcão .{1977;.

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j u r í d i c a como u m a s p e cto d a c. r i s e d o Direi to e da sua c u 11 u r a , e 'a criticar o ensina, me r a m e n t e legalista, defendendo, como. meta p e d a g ó g i c a , o d e s e n v o l v i m e n t o do r a c io c í n i o jurídico. No e n t a n t o continuou prevalecendo na prática a a u l a - c onferência. A q u a l i d a d e permaneceu, em geral, de b a i x o . nível' e o c o n t e ú d o d e s v i n c u l a d o da realidade social.

E m . 1955, na aula inaugural da F a c u l d a d e Nacional de Direita, no Ria dê Janeira, S a n . T i a g o Dantas salie nt a v a que o. p r oblema da e d ucação j urídica pad i-a ser a n a l isado de duas formas: (a) como uma pr oj e ç ã o do problema. geral do e n s i n o s u p e r i o r e de todo o sistema e d u c a c i o n a l ; e (b) ou como um a s p e c t o da, própria cultura j u r í d i c a . A n a l i s a n d o ele a crise da. s o c i e d a d e 'brasileira, naquele período, rei a c i o n a v a - a â- u n i v e r s i d a d e , n o s . s e g u i n t e s termos:

"E certo que na perda 'do poder c r i a d o r '.da sociedade, a U n i v e r s i d a d e tem a confessar g r an d e s culpai s. Se há problemas novos sem solução técnica adequada; se há p r o blemas antigos, a n t e r i o r m e n t e resolvidos, cujas sol u ç õ e s se tornaram o b s o letas sem serem o p o r t u n a m e n t e s u b s t i t u í d a s ; se apare c e r a m novas técnicas, que o nosso meio- n ã o a p r e n d e u e assimilou, em gran d e parte isso se deve ao alhea m e nt o e à b u r o c ra t i z a ç â o est-éri 1 das n o s sa s escolas, que passaram a ser meros centros de t r ansmissão de c o nhecimentos tradicionais, d e s e r t a n d o o debate dos problemas vivos, o exame das q u e s t õ e s p e r manentes ou mo men tâneas. de que dep e n d e a expansão, e mesmo a e x i s t ê n c i a da comunidade. (...) Dai n e c e s s i t a r m o s hoje. em todo o Ocidente, de uma revisão da Universidade, para a r e c u p e r a ç ã o plena-de seu paoel e l a b o ra d o r dos novos i n s t r u m en t o s de cultura, que a vida social reclama. (...) Essa recu p e r aç ã o é também essencial e inadiável no campo da e ducação jurídica, 11

(1979:52-3-)

. Para - ele o D i r e i t o , como técnica de controle social, e s t a v a em processo crescente de perda de c r e d i b í 1 i d a d e .

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forma de controle social, e um e n s i n o que tivesse como 'meta básica o desenvolvimento, o t r e i n a m e n t o e o efetivo d e s e mp e n h o do r a c i o c í n i o jurídico:

"Esse m o v i m e n t o tem de lançar raízes numa revisão da ed u c a ç ã o j u r í d i c a e ê, portanto, como programa de ação, u.m a p e l o à reforma do ensino do D ireito nas nossas e s c a l a s e universidades.

Ü ponto de onde, a meu ver, devemos partir, nesse exame do e n s i n o qu.e hoje praticamos, é a d e f i n i ç ã o do pró p r i o o b j e t i v o da e d ucação jurídica. Quem percorre os p r o g r a m a s de ensino das nossas escolas, e s o b r e t u d o quem ouve as aulas que nelas se proferem, sob a forma e l e g a n t e e indiferente da velha a u l a — douta coimbrã, vê. que o o b j e t i v o atual do ensina jurídico ê prop o r c i o n a r aos e s t u d a n t e s o conhecimento d escri t i v a e sistemático; das i n s t i tuições e normas jurídicas. P o d e r í a m o s dizer que o curso jurídico é, sem exagero, um curso de institutos jurídicos, apr e s e n t a d o s sob a forma e x p o s i t i v a . de tratado

teórico— prà tico . 11 (1979:54)

P a s s a r a m — se qu.ase 40 anos dessa aula inaugural de San T i a g o Dantas. No entanto, no m u n d o do Direito, quase nada mudou. A des c r i ç ã o por ele e f e t u a d a no que se refere aos curso j u r í d i c o s na década de 50 a p l i c a - s e p e r f e i t a m e n t e ao que se vé a i n d a hoje na grande maioria das suas salas de aula.

Em 1972, atra v és da R e s o l uç ã o n9 3 do C o n s e l h o Federal de E d u c a ç ã o (C F E ), i n t r o d uziu-se no país um novo currículo mínimo para os cursos de Direita, que v i g o r a até hoje. Este contém em seu bojo uma certa flexibi l i d a d e v i s a n d o a sua a d a p tação ás f e a l i d a d e s regionais e ao merc a d o de trabalho. Esta reforma curricular, no entanto, não trouxe os r esultados esperados, muito, pouco mudando o ensino jur í d i c o brasileiro que continua d e s v i n c u l a d o da realidade social. Hoje v i v e — se a era da

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tecnologia e da informática, mas o c o n h e c i m e nt o e o ensino do Direito c o n t i n u a m na era da dogmática. Uma análise yína is apro fu n d a d a do atual ensino demonstra: ■'

(a) C a r a c ter i za-se por seu. trad i ciona 1 ismo e c o n s e r v a d o r i s m o . E ele, regra geral, dogmático, marcado pelo ensino c o di f i c a d o e formalizado, fruto do legalismo e do e x e g e t i s m o .

(b) Isso se deve pr i n c i p a l m e n t e à influ ê n c i a do positivismo' na cultura e no pensa m e n t o ju r í dicos brasileiros. Este leva à adoção do método lógico-formal como o ad e q u a d o para a apreensão da realidade, reduzindo a ciência do Dir e i t o ad c onhecimento do direito positivo e, conseqüentemente, o ensino jurídico, ao seu ensino.

(c) Como e d u c a ç ã o conservadora e tradicional d e s c o n h e c e as reais n e c e s s i d a d e s sociais pois se restringe á a n á l i s e da legalidade e da validade das normas, esquec e n d o t otalmente as quest&es de sua eficácia e legitimidade.

(d) Essa postura leva a uma s u p e r v a l o r i z a ç á o da prática, através do j u di c i a l i s m o e do praxismo. Enf a t i z a o s a b e r - f az e r em d etrimento do por que fazer de tal forma.

(e) A m e t o d o l o g i a d i d á t i c o - p e d a g ó g i c a p r e p o n d e r a n t e m e n t e adotada c o ntinua sendo a aula-conferéncia. Esta tem hoje como .padrão a aula expos i t i v a sob a forma de código comentado. C método de a b o r d a g e m utilizado^- ê p r i n cipalmente o dedutiva, a parecendo em alguns momentos o indutivo.

(f) Os curríc u l o s são, regra geral, u n i d i s c i p l inares - no sentido de que se voltam p r e p o n d erantemente para as m a t é r i a s

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anos e ê n o r m a l m e n t e fixo ou pouco flexível , a l é m de, a p e n a s e x c e p c i o n a l m e n t e a p r e s e n t a r h a b i l i t a ç õ e s especificas.

(g) Ü perfil do aluno padrão é o de um e s t u d a n t e acomodado. M u itas vezes sua escolha pelo Direita nâo è consciente., mas sim por falta de outra opção ou em função da atividade profissional do pai (advogado, juiz ou promotor). Regra geral não freqüenta b i b l i o t ec a s ou efetiva . trabalhos de pesquisa.. Seu o b j e t i v a é o diploma, sendo que muitos p r o c ur a m no curso uma f o r m a ç ã o geral que lhes permita o d e s e m p e n h o de atividades soci a i s variadas - o mer c a d o de trabalho

p a r a j u r i d i c o .

(h) 0 corpo d o c e n te é em grande parte mal preparado, possuindo a m a i o r i a dos seus integrantes apen a s a gr a d u a ç ã o e exercendo o m a g i s t é r i o ou como forma, de obter o status - que repercute na sua real profissão, de advogado, juiz ou pro m o t o r - ou de c o m p l ementar a renda. Por isso muitos de seus m e m b r o s nráo vivem a. r e a l idade a c a d é m i c a e nâo se d e d i c a m à pesquisa, restringindo-se. a reproduzir em sala de aula as v e l h a s lições do tempo de estudantes, somadas à prática na outra a t i v i d a d e profissional que desenvolvem.

(i) O mercado de trabalho jur í d i c o está s e m i — s a t u r a d o , d e s viando os eg r e s s o s dos cursos de Direito para o mer c a d o p a r a j u r i d i c o , a que t#m a c e s s o d e v i d o ao caráter pr e te n s a m e n t e

■t

g e neralista do ensi n o que lhes foi ministrado. A maior parte dos bacharéis formados acaba trabalhando para o Estado., em serviços t é c n i c o - b u r o c r â t i c o s .

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(j) A sua e s t r u t u r a a xi o l ó g i c a é formada por um p a r adigma ideológico que tem por base as crenças e v a l o r e s cultunais, políticos, e c o n ó m i c o s e j u r í di c o s v i n c u l ad o s ao liberalismo. Este é repr o d u z i d o por um p a r a digma e p i s t e m o l ó g i c o positivista, com algumas n u a n c e s j u snaturalistas, no qual a n o r m a é o o bjeta privilegiada da c o n h e c i m e n t o jurídico. G m é t o d o u t i l i z a d o . é o lógico-farmai e exis t e a c rença na n eu t r a l i d a d e (ou pelo menos objetividade) do s u j e i to cognascente.

Os o b j e t i v o s o r i g i n á r i o s para as quais os cursos j u r í d i c o s foram criados no país a inda se encontram presentes, mesmo que s ob-novas colorações. Dessa forma pode-se dizer que hoje eles

cumprem três funções básicas:

(a) A s i s t e m a t i z a ç ã o e divul ga ç ã o da i d e o logia dominante, através da formação e reprodução da senso comum teórico dos juristas, e x e r c e n d o o papel de apar e l h o i d e o ló g i c o e

funcionando como uma forma de violência simbólica.

(b) A formação de t écnicos em Direito para t ra b a l h a r e m coma pro f i s s i o n a is liberais, empre g a d o s na inicia t i v a -privada ou burocratas e t e c n o c r a t a s estatais.

(c) A c o n s t i t u i ç ã o de um singular e x é r c i t o a c a d é m i c o de reserva. 13:5

Com base nesse resumo pode-se aprese n t a r o s e g u i n t e q u a d r o (Rodrigues, 1 9 9 1 a : 146) como represe n t a t i vo do atual e n s i no

<3> Especificasente sobre a constituição do exército acadêsico de reserva na ârea jurídica è fundasental a leitura do livro "Advogado e aercado de trabalho', de Edsundo Lisa de Arruda Jr,

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Q U A D R O : o ensino (urtdlco no contexto de crise contemporsne*

SO C IED A D E B R A S ILE IR A

c o n t e m p o r â n e a

EM C R IS E SOCIEDADE

INTERNACIONAL CONTEMPORANEA EM CRISE

< <

Sg

8 dogmática juríd ica (formada peio p o sitivism o . com algumas nuences ju s n siu re lista s) método: iôglco-formal neutralidade do 'su jeito coçnoscente

e norma como ob/efo ás clôncle juríd ica

crenças e valores cu ltu rais, poJ/ííco s, éCO nôm icoB e ju ríd ico s vinculados ao liberalism o

lib eralism o p olítico (dem ocracia como estado de D ireito }

lib eralism o econôrr ieo íliv r e In icia tiv a <* capitellsm ò)

liberalism o jurídico (D ireito-com o to^me ri«- controle so cial « reaUzaçêo da ju s tiça )

programes estanoues cu rrícu lo fix o ou pouco fie x iv e l

basicamente formado por d iscip lin a s à o q m éticB S regra geral, nfto apresenta hab ilitações e sp e cifica s duração média de 5 anos base ie aal; Resolução 03/72 do CFE

método de abortíagem preponderante: dedutivo metodologia didático- pedagógica: regra geral, e auia expositive e o código comentado

corpo docente: regre gera!, borista esem preparacèo pare o e x e rc c io do m agistério

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D e ntro d e s s e quadro, cujos s i n t o m a s não são favoráveis, uma outra r e a l i d a d e toma corpo: o e n s i n o jurídico continua a ocupar um dos primeiras lugares d e n t r e os cursas superiores oferecidos, s endo também um dos mais procurados nos vestibulares.

Um ponto em comum parece e x i s t i r nos pronunciamentos que a ele se referem: está em crise e n ã o s a tisfaz pelo menos a alguns dos g r upos envol v i d o s e i n t e r e s s a d o s na questão. Ao lado d isso o pr e s t í g i o do bacharel em Di rei to está bastante desgastado, parecendo estar ele d e s p r e p a r a d o para lidar com um mundo em t r a n s f o r ma ç ã o e nele ass u m i r o seu lugar.

0 lugar do jurista hâ cria ç ã o do D i r e i t o e como op e r a d o r do sistema legal tem sido o c u p a d o cada vez mais por economistas, a d m i ni s t r a d o r e s e t e c n o c r a t a s em geral,, tendo as suas tarefas sido reduzidas a a t i v i d a d e s e funções est r i t a me n t e técnicas. N o t a - s e um d e s p r e p a r o g e n e r a l i z a d o dos egressos dos cursos jurídicos, quer seja com relação à sua preparação científica (seu embas a m e n t o teórico), quer seja com relação à sua p r e p a r a ç ã o mais e s p e c i f i c a m e n t e profissional (sua formação d o g mática e t é c n i c a ) .

No ent a n to o ensino do D i r ei t o continua, na área pedagógica, a d o ta n d o b a s icamente a m e s m a m e t o d o l o g i a da época de sua criação: a a u l a - c o n f e r é n c i a . Regra geral seus professores (em grande parte f' p r o f i s s i o na i s competentes como advogados, juizes ou promotores) n ã o possuem nenhuma preparação d i d à t i c o - p e d a g ó g i c a e se restringem em sala de aula a e xpor o ponto do dia e a comentar os artigos dos códigos, a d otando um

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ou mais l i v ro s - t e x t o s que serão cobrados dos alunos nas v e r i f i c a ç ò e s .

Persiste a. idéia de que bastam professores, alunos, códigos - em a l g u n s casos um ou mais 1 ivr o s - t ex t o s - e uma sala de aula. As a t i v i d a d e s de pesquisa e e x t e n s ão e a análise critica do f enômeno jur í d i c a são geral m e n t e inexistentes.

No quadra social brasi l e i r o uma série de fenómenos vem contribuindo para a crise desse ensino. Entre eles as m u d a n ç a s pelas quais tem passado o pais nos últimos anos e que têm levada a uma intensa . pr o d u ç ã o legislativa. Ao lado disso a a mpliação da q u a n t i d a d e de cursos e de vagas nas facul d a d e s e universidades, o que elevou gran d e m en t e o n úmero de alunos e, conseqüentemente, dos profiss i o n a i s que ingressam a n u a l m e n t e no mercada.de trabalho. Também a constante muta ç ã o e x i s t e nt e na realidade social nacional, que cada dia exige do advogado uma visão mais, ampla, e não apenas legalista, para que ele possa, participar a t i v a m e n t e no processo social global, d e ixando de ser um mero técnico e x c l u s i v a m e n t e ligado às a t i v i d a d e s forenses. M o d i f i c a r a m - s e as e xigências com relação à prática profissional do jurista, mas os cursos de Direito n-ão a companharam essa evolução.

A o lado disso ^ vivemos, na era da ciber n é t i c a e da informática. Novas formas 1ds .controle social, cada vez mais complexas, têm surgido: a ciência e a tecnologia s ão hoje as suas formas mais efetivas. 0 Direito serve agora muito mais como instrumento ret ó r i c o de legitimação, visando enc o b r i r as contradições „existentes na sociedade. 0 m undo está. ingre s s a n d o

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Ruma-se para o c o ntrole social global da humanidade. No e n t a n t o o ensino j u r í d i c o continua inerte, e s t a c i o n a d o no tempo, nâo tendo, regra geral, sup e r a d o o século XVIII, ainda repr o d u zi n d o a idéia de que a simp l e s p o s i t i v a ç â o dos ideais do liberalismo E; suficiente para gerar a democracia. *•

G ensino e a ciência do Direito e. por que nSo dizer, a instância jur í d i c a como um todo, e n c o n t r a m - s e em crise. Mas tal fato. não deve e n ão pode ser a t r i buído e x c l u s i v a m e n t e a elementos internos à s u a própria estrutura.

0 mundo contemp o r â n eo passa por uma séria tensão pol í t i c o — e c o n ô m i c o — s o c i a l , acom p a n h a d a de uma crise de legitimação do capitalismo. Essa no caso dos países do terceiro mundo — entre os quais o Brasil — traz uma série de consequências c om p l e m e n t a r e s para as 'várias instâncias formadoras de suas estruturas, inclusive (ou em especial) a jurídica. A u t i l iz a ç ã o do Direito como um dos i n s t r u m e n t o s de construção da legitimação n e c e s s á r i a â s o b r e v i v ê n c i a do sist e m a reforça a sua própria crise enquanto , el e m e n to i ntegrante do todo.

De certa forma pode-se dizer que o Direito, e n q u a n t o norma, é o instrumento de m e diação das de c i s õ e s políticas (a i n s t i t u c i o n al i z a ç ã o da von t a d e política se e f e t i v a através do jurídico). Aparece também, en q u a n t o instância simbólica, como um dos elementos que dentro de uma sociedade plural e complexa sbusca omitir e e ncobrir as diferenças sociais, econômicas, políticas e culturais existentes. Du seja, é ele ut i l i z a d o para legitimar, através de norm a s positivas e pr oc e d i m e n t o s formais, embasados retoric a m en t e na igualdade e na liberdade, a

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exist ê n c i a de uma s o c iedade que na re a l i d a d e apre s e n t a - s e desigual e autoritária, bem como para, a t r a v é s das normas p r o g r a m á t i c a s e dos dir e i t o s humanos, criar a e xp e c t a t i v a da const r u ç ã o de uma s o c i edade justa e democrática.

Essa te n t a t i va de util.iiaçSo da in s t â n c i a juridica como um dos m e c a n i s m o s de solu ç ã o da crise apenas a. amplia, reforçando os problemas do próprio Direito. Isso o c o r r e devido à sua insufic i ê n c i a como instr u m en t o capaz de s o lucioná-la, somado ao fato de que a sua d e s v i n c u l a ç ã o em relação à realidade social e às suas p r áticas produz como con s e q ü ê n c ia uma. crise de legitimação do próprio sistema jur í d i c o e do paradigma 1iberal-legal que lhe dá s u s t e n t a ç ã o ideol ó g i ca e retórica.

Nas a crise ê também o p r e núncio do novo. Nela _ „há ' a am p l i a ç ã o da crítica, da contestação, da busca. de- s o luções urgentes e renovadoras. Crise s i g n ifica e s s e n c i a l m e n t e n e c e s s i d a d e de mudanças, que n ão se r e d u z e m à in s t â n c i a juridica, pois não ê possível resolvê-la isoladamente.

O ensi n o jurídico, fazendo parte do mundo do Direito,

reflete tanto a crise deste como a do sistema

s ó c i o - p o l í t i c o - e c o n ü m i c o em sua totalidade. A sua e s tr u t u r a e as várias funções por ele des e m p e n h a d a s começam também a ser questionadas.

A a n á l is e dessa situação, bem-como a busca de s o l u ç õ e s efetivas, em nível do ensino, é fundamental . 0 Direito d esemp e n h a nas socie d a d e s mcjdernas um papel essencial nos niveis- s i m b ó l i c o e m a t e r i a l . E n c o n t r a r r e s postas que v i a b i l i z e m a s u p e r a ç ã o .da sua crise e do seu ensino . ê resgatar a sua .função social .

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□ mom e n t o atual da e d ucação jur i di c a exige um urgente repensar de suas diretrizes. A q u a l i d a d e do conh e c i m e nt o

(r e )produzido n ã o satisfaz a muitos setores da sociedade, tendo em vista que se enc o n t r a t otalmente d e f a s a d o em relação à realidade social e científica contemporâneas. Ao mesmo tempo ela despeja a n u a l m e n t e nessa mesma s o c i e d a d e um n ú m e r o cada vez maior de p r o f i s s i o n a i s que se dep a r a m com a c o n ç r e t u d e de uma profissão cu.jos e s p a ç o s se e n c o n t r a m semi s a t u r a d o s ou para a qual não e s t ã o p r e p a r a d o s devido a um ensi n o d e s a t u a 11zado no tempo e no e s p a ç o ■ Para completar esse q u a o r o os cursos de Direito, pelas mais variadas - razões, c o n t i n u am sendo a expectativa a i n d a muito elevada de grande parte da população brasileira, que vê neles uma po s s i b i l i d a de de a s c e n s ã o s o c i a l . Isso se comprova pelo número crescente de estudantes- que os procuram, ü q u a d r o é critico, as so l u ç ò e s pr o p o s t a s nem tanto.

Partindo do diagn ó s t i c o exposto, que é tido como um a priori, o o b j e t o de análise da presente tese é o e n s i n o juridica b r a s i l e i r o atual, em nivel de graduação, 1* ) analisado em si mesmo (legislação, currículo, m e t o d o l o g i a de ensino.

,4) Reconhece-se a existência de peculiaridades especificas no âmbito do ensino jurídico brasileiro. Ká a divisSo entre-instituições públicas e privadas. Entre as priseiras tss-se pelo eenos quatro situações diferenciadas: (a) instituições federais -de grande porte (regra geral situadas nas principais capitais do país); {b) instituições federais de pequeno porte (situadas, geralsente, es cidades do interior e es algusas capitais do norte, nordeste e centro-oeste); {c} a USP (instituição estadual); e (d) outras instituições estaduais. No que se refere âs segundas há, no sínisc, três realidades diferenciadas: (a! as grandes universidades pertencentes a congregações religiosas, tipo PUCs; (b) as faculdades cosunitárias, existentes principalaente no sul tíc país (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná); e (c) as espresas educacionais particulares, situadas principalsents no eixo SSo Paulo-Rio de Janeiro. E claro que cada usa dessas espécies de instituições tei suas especificidades, no entanto., neste trabalho, vai-se buscar usa análise global, que prioriza a questSo epistesológica. E esta apresenta, es regra, us ebsbo paradigsa nas diversas situações

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corpos d o c e n t e e discente, etc.), bem como sua crise estrutural (pol í tico— i d e o l ó g i c a e epistemológic-a) e sua - -indefinição funcional frente à sit u a ç ã o do mer c a d o de t rabalho e às 'novas e xigências da s o c i e d a d e com relação á instância jurídica.

As p r o f i s s õ e s ju r í d i ca s no Brasil atual, em especial a- a d v ocacia e a magistratura, aprese n t a m uma crise de d ef i n i ç ã o sobre os seus papéis sociais (crise de identidade) somada â uma crise de legitimidade, tendo em vista a d e s c r e n ç a da população nos ser vi ç o s j u d i c i á r i o s e legais. A p e squisa buscará identif x car liam bem as relações exist e n t es entre f ui- iTiaçáo patrocinada pelos cursos de Direito e essa situação.

Ne n t i d o os problemas que se buscou responder foram prioritariamentes

(a) o que o e n s i n o j u rídico tem a ver com o mercado de trabalho e as crises de identidade e legitimidade dos o p e r a d o r e s j ur í d i cos

(b) são as m u d a nç a s curriculares e didát.ico-pedagógicas sufi c i e n t es para r esolverem a crise?

(c) como se coloca a crise no ensino j u r í d i c o em nível do seu paradigma p o l í t i c o — ideológico?

(d) como se coloca a crise no ensino j u r í d i c o em nível do seu paradigma e p i s t e m o l ó g i c o ?

(e) pode o D i r e i t o A l t e r n a t i v o ser c o n s i d e r a d o um novo paradigma p o l í t i c o - i d e o l ó g i c o .e e p i s t e m o l ó g i c o capaz de trazer opções à crise?

A pesquisa buscou demon s t r a r certas h i p ó t e s e s básicas de trabalho, tidas como pontos de partida, e que foram:

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(a.) o ensino jur í d i c o está totalmente d e f a s a d o em relação ás mod e r n a s n e c e s s i d a d e s do m e r c a d o de trabalha, formando um profissional superado, e semi inútil para d e s e m p e n h a r os papéis q ue a s o c i edade hoje exige dos juristas. As crises de i dentidade e legitimidade dos o p e r a d o r e s j u r í d i c o s são d e c o r r ê n c i a da (d e )formação sofrida por todos a q u e l e s que

in g ressam num curso de Dir e i t o e lá fazem seus estudos.

- (b) as m u danças c u r r i c u l a r e s e d i d á t i c o - p e d a g òg i c a s são, i s o l a d a m e n t e , in s u f i c ie n t e s para resolver os p r o b lemas e s t r u t u r a i s a pr e s e n t a d o s pelo ensino jurídico. Em outras palavras: sua crise é múl t i p l a e e s t r u t u r a l , não podendo ser s u p e r a d a apenas com a 1teraçõwS o p e r a c i o n a i s .

(c) a crise do ensino j u r í d i c o é também política. Isso d e c o r re do fato de o seu paradigma p o l í t i c o - i d e o l ó g i c o (1i be r a l — l e g a l ) estar em crise, advinda esta dos p róprios p r o blemas de l e g itimação do sistema capitalista contemporâneo.

(d) a crise do ensino jur í d i c o está f o r t e m e n te ligada á crise do seu- paradigma e p i s t e m o l ó g i c o (positivismo) que não con s e g u e responder a d e q u a d a m e n t e aos anseios e buscas d a q u e l e s que procuram no Direito a r e s o lução de seus conflitos.

(e) o Dir e i t o A l t e r n a t i v o traz novas p o s s i b i l i d a d e s para a l g u m a s questões que vem s endo colocadas h o d i e r n a m e n t e na e d u c a ç ã o jurídica. A a c ei tação de seus p r e s s u p o s t o s p o l í t i c o - i d e o l ò g i c o s e e p i s t e m o 1ó g i cos levaria à uma r e v o lução na ensi n o do Direita.

iV-'. *

Nesse sentida o ob j e t i v o geral da pesquisa f o i ' d e l i m i t a r a importância, os pre s s u p os t a s e os o b j etivos da e d u c a ç ã o

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brasileiros. A partir disso b u s cou-se o f e r e c er algumas a l t e r n a t i v a s que v i a b i l i z e m a s u p e r a ç ã o da sua crise a t u a l . Para ati n g i r essa meta e f e t u o u - s e as s e g u i n t e s a n álises e s p e c í f i c a s em relação ao ensino j u r í d i c o de graduação:

(a) da sua v i n c u l aç â o à p r o b l e m á t i c a das crises do mercado * e trabalho e de identidade e legi t i m id a d e dos operadores

urídicos;

(b) da sua atual legislação no Brasil, b u scando verificar as p o s s i b i l i d a d e s de mudança que podem ser e f e tuadas im e d i a t a m e n t e em nível curricular e estrutural;

(c) das q u e s t õ e s colocadas em nível d i d á t i c o - p e d a g ó g i c o • e a d m i n i s t r a t i v o e suas p o s sibilidades e f e t i v a s de me l h o r a r a qualidade de e n s i n o - a p r e n d i z a g e m ;

(d) da crise do seu paradigma p o l i t i c o — ideológico; (e) da crise do seu paradigma e p i s t e m o 1ó g i c o ; (f) da i m portância da crítica do Direito;

(g) da po s s i b il i d a d e do direito a l t e r n a t i v o como novo paradigma p o l i t i c o - i d e o l ó g i c o e e p i s t e m o l ó g i c o para o D i r e i t a e seu ensina;

(h) da i m p ortância da semiologia e da her me n ê u t i c a e da di a lética e da interdisc i pl i n a r i d a d e como instrumentos cognitivos de s u p e ra ç ã o da crise e de e f e t i v a ç ã o de um ensino mais próximo da realidade social e das n e c e s s i d a d e s atuais do p a í s .

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sua totalidade e devir. Também procurou utilizar, em m omentos específicos, o instrumental semiológico, tendo por base o pres su p o s t o de que sendo o Direito uma forma dê d i s c u r s o sobre o mundo, todas as suas m a n i f e s t a ç õ es sâo tamb ém leituras da realidade, podendo ser analis a d a s s e m i o 1o g i c a m e n t e .

0 trabalho é monográfico, no sentido de buscar a profundar o mais possível um tema especifico: a crise do e n sino jurídica de g r a d u a ç ã o no Brasil contemporânea. As técnicas de pesquisa u t i l i z a d a s foram a p a rticipativa e a biblioq r á f i c a

i n t e r d i s c i p l i n a r . A pesquisa participativa vem sendo féita d e s d e 1987 a t r a v é s da participação em vários eventos, em todo o pais, relativos a esse tema e do contato direto com os problemas do e n sino jurídico, viven c i a d o s d esde 1983 através do e x e r c í c i o do m a g i s té r i o e de cargas a d m i n i s t r a t i v o s . em i n s t ituições p ú blicas e privadas de ensina do Rio Brande do Sul e bcinta Lât a r i n a -.

Com relação aos dados e m p í ricos utilizados, esses foram buscadas em levantamentos j é. efetuados por o u t r o s pes q u i s a d o r es ou instituições. Ou seja, se trabalhou com dados de segunda m ã o.

A pesquisa b i bliográfica privilegiou as publicações e f e t i v a d a s a partir de 1972, ^no de edição da ú l t i m a R e s o l u ç ão do CFE que trata e s p e c i f i c a me n t e do ensino da Direito, não excluindo, entretanto, alguns trabalhas anteriores, vistas como i m p ortantes para a a b o r d a g e m do tema. D e n t r o desse período

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p r o curou-se levantar todos os livros e s c ri t o s s obre o assunto (saliente— se serem eles em n ú m e r o bas t a n t e reduzido). Com r elação aos artigos p r i o ri z o u - s e os textos public a d o s nas Revistas do C o n s e l h o Federal da OAB, Seqüência, Informação L e g i s l a t i v a e Con tradogmáticas'. Também n ú m er o s e s p e ciais de outras re v i st a s d e d icados e x c l u s i v a m e n t e á t e mática do ensino jurídica e as teses p ublicadas nos Anais das C o n f e r ê n c i a s N a c ionais da OAB. Alguns trabalhas e s t r a n g e i r a s , sabre a situação do ensino ju r í d i c o em o u tros países, foram inic i a l m e nt e levantados, mas o p t o u - s e por não utilizá-los.

Segue esta introdução um g l o s sário dos principais conceitos ope r a c i o n a i s utilizadas. A sua listagem será d e s d o b r a d a em dais momentos. O primeira é destinado' às c ategorias fundamentais, vistas como pre s s u p o s t o s teóricos, e que são mar c a d a m e n t e p r e s c r i t i v a s . Ou seja, s ã o elas que dão o d i r e c i o n a m e n t o ideológico da tese. Inclui os conceitos de: a p arelho ideológico, crise, (d e )f o r m a ç ã o , d i r e i t o alternativo, educação, ideologia, paradigma e v i o lência simbólica. 0 seg u n d o é c o mposto pelas categorias complementares, qu.e tem coma o b j e t i v o principal facilitar a leitura e a compr e e n s ã o da tese. Incluí uma série de conceitos, alguns d e l e s de índole p r e p o n d e r a n te m e n t e técnica, que n e c e ss i t a m ser e x p l i c i t a d o s coma forma de permitir o própria e n t e n d i m e n t o l e xicográfico da texto. Os termos constante^ dessa relação, sempre que empreg a d o s com s i g nificado d i f e r e n c i a d o d a q u e l e que ali consta, terão seu sentida contextuai expresso no próprio corpo do trabalho.

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E import a n t e salientar, outro s s i m , n ã o ser este texto da tesp original em sua integridade. P e l o contrário, muito do que aqui se e n c o n t r a è resultado de t r a b a l h o s de pesquisa e f e t u a d o s nos últimos dez anos. A p r e o c u p a ç ã o do autor com a q u e s t ã o do

e n s i n o jur í d i c o data de 1983. Desde 19S6 vem ele pesquisando e

produzindo trabalhas sabre o tema, m u i t o s dos quais publicados. Não seria passível, é evidente, n e g a r essa produção anterior.

Finalmente, o conteúdo desta tese é um objeto construído. Aliás todo a b jeto de c o n h e c i m e n t o é, em maior ou menor grau, construído. A l é m disso não è ele um texto que busque ser n e utro e d e s c o m p r o m e t i d o . Pelo contrário, ê um texto a s s u m i d a m e n t e c o m p r o m e t i d o . C o m p r o m e t i d o com a h i s t ó r i a pessoal e académica e com as opções do seu autor, quer se j a na escolha dos textos e autores selecionados, p r iorizados e trabalhados, quer seja nas posições p o l í t i c o - i d e o l ó g i c a s assumidas. N ão se pode negar a própria história em nome da n e u t r a l i d a d e c ientífica em que não se acredita. Esta tem se pr e s t a d a sempre para a c o bertar a dominação e a exploração.

Não se tem a intenção de trazer aqui v e rdades prontas e acabadas nem uma receita infalível para o problema do e n s i n a jurídico no Brasil. A ciência ê um processa de produção de conhecimentos no qual a cada passo d e p a r a - s e com novos fatos. Querer produzir c o nhecimentos científicas, no sentido de quer e r produzir ver d a d e s i nquestionáveis e imutáveis, é até hoje o grande erro da ciência jurídica. N ã o se quer repeti-lo aqui.

Também n ão se quer reduzir este trabalho a aná l i s e s e .proposições m e r a m e nt e reformistas,. En t e n d e - s e que é h e c e s s á r i o

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bem mais do que isso. E n ecessário abalar as e s t r u t u r a s mesmas do 'sistema vigente. E neces s á r i o fazer uma revolução, implodir o velho para que possa surgir o novo.

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G L O S S Á R I O B A S ICO DE C O N C E I T O S •O P E R A C I O N A I S U T I L I Z A D O S

Neste espaço, como já d e f i n i da na introdução, serão listadas os principais conceitos o p e r a c i o n a i s utiliz a d a s na redação da tese. A sua ex p o s i ç ã o será d e s d o b r a d a em dois momentos: (a) um primeiro, d e s t i n a d a às categ o r i a s que informam alguns pressupostos teóricos básicos e que são m a r c a d am e n t e prescritivas, ideológicas? e (b) um segundo, d e s tinado ás categorias ope r a c i o n a i s p r o p r i a m e n t e ditas, que o b j e t i va m p rimordialmente facilitar a leitura e c o m pr e e n s ã o do texto.

1. C a t e g o r i a s fundamentais:

A pa r e l h o ideológicos é uma instituição, que pelas suas e s p e c i f icidades, funciona como uma agência de reprodução da ideologia dominante, podendo ser ela pública ou privada. "0 que distingue os AIE do Ap a r e lh o (repressivo) de Estada, ê a diferença fundamental seguinte: o Ap a r e l ho r e p r e s s i v o de E s t a d o 'funciona pela violência', enq u a n t o os Ap a r e l h a s Ideológicas de -Estado funcionam 'pela i d e o j o g i a '." "E por intermédio da ideologia dominante que ê a s s e g ur a d a a 'harmonia' (por v e z e s precária) entre o aparelho r e p r e s s i vo de E s tada e os A p a r e l ho s Ideológicos de Estado, e entre os d i f e r e n t e s A p a r e l h a s

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Ideológicos de Estado." (Althusser, 1980:46, 56) Dessa forma o aparelha i d e o l ó gi c o funciona como forma de manute n ç ã o do "status qu.o" no momento em que p r opicia a (de) formação s imbólica d a q u e l e s que recebem a t r a v é s dele a sua (i n )f o r m a ç ã o . 0 aparelho educa c i o n a l sempre foi visto, na s o c iedade moderna, como uma de suas principais ex pre^:=>ões, ao lado da família. Hoje se sabe que os meios de c o m u n i c a ç ã o tem um papel mais importante. No entanto continua o sist e m a educacional exercendo, peio menos parcialmente, esse papel. No caso específico do ensi n o jurídico, é ele um a p a r e l h o privilegiado, tendo em vista que é nele que são formados os operadores que detêm g r ande parte do poder e s t a t a l , nas mais d i versas atividades (a d m i n i s tr a t i v a - através da burocracia -,

legislativa e j u r i s d i c i o n a l ) , . além de ser local de s i s t e m a t i z a ç ã o da juridicidade e de d e f i nição do que é Direito

(a educação ju r í d i c a è fonte do Direito e da política).

Crise: c o nsiste no fato de que o velho está morto ou morrendo e o no v o ainda não pode nascer, sendo que nesse interregno s u r g e uma grande variedade de si n t o m a s mórbidos. (Gramsci, 1985) Nela há uma situação singular de condensação de contradições. (Paulantzas, 1977) E transitória, contextuai e relacional (portanto não isolada) e está ligada a uma perspectiva de ruptura; é o prenúncio de uma quebra da ordem. (Aguiar, 1991b) Nesse sentido possui um aspecto construtiva: é

a crise que gera a possibilidade do novo. No âmbito do ensino

jurídico ela apresenta diversos níveis: (a) estrutural, que engloba as crises dos paradigmas p o l í t i co-ideológico e

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4 0

e p i s t e m o l ó g i c o ; (b) operacional, que abra n g e as crises acadêmica (curricular e d i d á t i c o - p e d a q ó g i c a ) e administrativa; e (c) funcional, que atinge p a r c ia l m e n t e as crises do m e r c a d o de trabalho e de identidade (decorre da d i s s o c i a ç ã o e n tr e a imagem projetada e a prática concreta das at i v i d a d e s jurídicas e da indefinição sabre o papel social que cabe aos juristas) e de legitimidade (oriunda do con f l i t o entre os valores proferidos pelo direito e a q u e l e s reivindicados pela s o c i e d a d e )»

(D e )formação: decorre da posse de um c o n h e cimento abstrato, marcado pelo individualismo, pela d e s c o n t e u t u a 1ização histórica, pela con f u s ã o entre lei e Direito, por uma concepção de sujeito de Direito desatualizada, entre outros e qu í v o c o s oriundos do ensino jurídico vigente. A (d e )f o r m a ç ã o , em sentido negativo, é vista como a formação equivocada, que não permite aos operadores jurídicos cumprirem a função social do Direito: como uma má q u a l i f i c a ç ã o p r o f i s s i o n a 1, que n'à'o permite àque l e s que a detém, o desemp e n h o das a t i v i d a d e s j u r í d i c a s de uma forma consciente, crítica e comprometida com a construção de uma sociedade justa e democrática. Ao m esmo tempo a (de)formação é também formação no sentido positivo, tendo em vista que ela auxilia na r eprodução e manutenção de uma série de valo r e s p o l í t i c o - i d e o 1ó g i c o s , n e c essários para a sustentação do sistema po l ítico-econômico vigente e d^ atual estrutura, de classes; também no sentido de que ela prepara um d e te r m i n a d o tipo de profissional que é útil ao Estado (ou a quem o controla) e à constituição do exército a c a d émico de reserva.

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D i reita alternativo: mo v i mento critica teóri c o - p r á t i c o cia Direito que se d e s d o b r a em duas frentes de luta: (a) em nível da instituído a busca da c o n c r e t i z a ç ã o dos direitos con q u i s t a d o s (positivismo de combate) e da releitura do orde na m e n t o j u r í d i c o em Tavor dos m e n o s f avore c i d o s e m a r g i n a l i z a d o s (uso a l t e r n a t i v a do Direito); e (b) em n .1 v-r.. do instituinte a luta pelo r e c o n h e c i m e n t o dos d i r e i t o s emergentes da própria s o c i e d a d e (direito insurgente, acha d o na rua, a l t e r n a t i v o e s t r i t o senso), do p l u r a l i s m o jurídico, quer seja através da sua posit i v a ç à o ou de sua a p l i c a ç ã o direta pelo

judiciário. ■

Educação: "1) a ed u c a ç ã o sempre e x p r e s s a uma doutrina pedagógica, a qual implícita ou e x p l i c i t a m e n t e se baseia em uma filosofia de vida, concepção de homem e s o c i e d a d e [ideologia]; 2) numa r e a l i d a d e social concreta, o processo educacional se dá através cie ins t i t u i ç õ e s espe c í f i c a s i \ v£s r r r * í i (família, igreja, escala [incluí os cursos jurídicos], comunidade) que se tornam porta-vozes de uma d e t e r m in a d a doutrina, pedagógica." (Freitag, 1984:15) A e d u c a ç ã o é, nesse sentido, um m e c a n i s m o de reforço das relações sac i a i s e de dominação. No e n t a n t o n ão se pode vê-la apenas como apa r e lh o ideológica; é ela também uma

I

instância utilizável no processo de libertação e

conscientização, embora não se possa pensar uma revolução através dela. Em razão disso o „'sistema educacional é um espaço importante na e s t r a t é g i a de uma guerra de p o s i ç õ e s . 0 sistema educacional (ou instância e d u c a c i o n a l ) é visto como o conjunto de instrumentos e instituições (farmais e n ã o - f o r m a i s ) através

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