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Estado e Mercado imobiliário na formação e consolidação dos vetores de adensamento e expansão urbana em Aracaju, Sergipe, Brasil

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Academic year: 2021

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Sarah Lucia Alves França

Departamento de Arquitetura e Urbanismo - Universidade Federal de Sergipe

sarahfranca@ig.com.br

Estado e Mercado imobiliário na formação e consolidação dos vetores de

adensamento e expansão urbana em Aracaju, Sergipe, Brasil

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8º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁV EL (PLURIS 2018)

Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

ESTADO E MERCADO IMOBILIÁRIO NA FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS VETORES DO ADENSAMENTO E EXPANSÃO URBANA EM ARACAJU,

SERGIPE, BRASIL S. L. A. França

RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo analisar a produção habitacional oriunda atuação do mercado imobiliário e do Estado em Aracaju-SE, Brasil, comparando vetores de adensamento e expansão urbana nos períodos antes e depois da promulgação do Plano Diretor em 2000. O estudo refere-se a produção urbana capitalista é resultado de processos privados e/ou públicos provenientes da atuação dos agentes modeladores do espaço e suas formas variadas de apropriação da terra, em função de regras de valorização. Aracaju apresentou um dinamismo na produção do espaço urbano para reprodução do capital, de forma mais intensa, a partir de 2000, mediante apoio do Estado, através de legislações permissivas, financiamentos em intervenções, como sistema viário e infraestrutura, e construção de conjuntos habitacionais. Para o desenvolvimento deste, foi realizado um levantamento bibliográfico, coleta de dados nos órgãos públicos, referentes aos empreendimentos imobiliários licenciados e as intervenções do Estado, organizados em tabelas e cartografia.

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem como objetivo analisar a produção habitacional oriunda atuação do mercado imobiliário e do Estado em Aracaju-SE, Brasil, comparando vetores de adensamento e expansão urbana nos períodos antes e depois da promulgação do Plano Diretor em 2000. Além disso, verifica como a ação pactuada do Estado privilegia e/ou induz a inserção dos empreendimentos habitacionais pelo mercado privado, criando uma cidade desigual, com segregação de ricos e de pobres, além da oferta de infraestrutura diferenciada.

A capital do Estado de Sergipe apresentou um dinamismo na produção do espaço urbano de forma mais intensa, a partir de 2000 (após promulgação do Plano Diretor), mediante apoio do Estado, através de legislações urbanísticas, financiamentos em intervenções e incentivo ao crédito imobiliário pelo Governo Federal. Nesse período, verificou-se um expressivo aumento do número de licenciamentos de empreendimentos imobiliários, somados ao fortalecimento de grandes construtoras, resultando na busca por novas “áreas de consumo”, que ocasionou o adensamento de bairros urbanizados, ou criação de novas áreas em bairros distantes, gerando novas configurações sócioespaciais. Isso significou para os mais pobres, dificuldade de acesso aos serviços de infraestrutura, como transporte, saneamento e drenagem, além dos equipamentos de saúde, educação e lazer. Somado a isso, as menores oportunidades de emprego e renda e o aumento da violência acarretaram

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sérios entraves no acesso à cidade justa e igualitária, acentuando a formação de uma periferia sem qualidade de vida, produzida pelo mercado informal de moradia.

Por outro lado, a autossegregação se fortaleceu, especialmente em espaços cada vez mais fechados e dotados de segurança, como os condomínios residenciais e shoppings centers, se distanciando do caos, da violência e da pobreza. Essa s ituação marcou uma cidade heterogênea, com apropriação diferenciada de áreas através da inserção das três tipologias imobiliárias (condomínios horizontais e verticais, loteamentos fechados) e dos conjuntos habitacionais, entremeados nos vazios, causando descontinuidade na malha, que oneram a implantação de infraestrutura e a oferta de serviços pelo Estado.

A apropriação diferenciada de áreas através da inserção das três tipologias imobiliárias (condomínios horizontais e verticais, loteamentos fechados) e dos conjuntos habitacionais ocorreu de forma a atender externalidades, como estoque da terra, valor fundiário e o fator localização com as condições ambientais, regulação urbanística e infraestrutura.

Em Aracaju, operam vários agentes imobiliários responsáveis pela produção, ocupação e comercialização do espaço urbano, alterando as formas de uso do solo em detrimento dos seus interesses. Além disso, o Estado acumula funções, quando provém moradia social, constrói avenidas, reformula eixos viários e regula menta o espaço através da legislação que restringe ou permite a ocupação em zonas. Essas intervenções também contribuíram na expansão e adensamento de bairros e na formação de novos vetores de crescimento. Para o desenvolvimento deste estudo, oriundo de uma pesquisa de doutoramento, foi realizado um levantamento bibliográfico sobre a temática abordada, ampla coleta de dados nos órgãos públicos, referentes aos empreendimentos imobiliários licenciados e as intervenções do Estado, especialmente legislação e implantação de equipamentos públicos e sistema viário. Esses dados foram organizados sob a forma de tabelas, que quantificaram o volume e características da ocupação, além da produção de cartografia, que permitiu espacializar a dinâmica do adensamento e e xpansão urbana em Aracaju.

2 ESTADO E MERCADO NA PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO URBANO DE ARACAJU ANTES DO PLANO DIRETOR DE 2000

Estado e mercado definiram vetores de expansão e adensamento urbanos no período estudado. Quanto ao Estado, no que concerne à estruturação espacial, quatro elementos mereceram realce: a) conjuntos habitacionais construídos; b) existência dos vazios urbanos; c) legislação urbanística; e d) intervenções viárias, como construção de vias e melhoria dos sistemas de transporte intra urbano e intermunicipal. Todos esses elementos foram resultados do planejamento e gestão municipal e estadual, além do incentivo da esfera federal, sobretudo, quanto ao financiamento de moradia.

O primeiro elemento se refere à produção habitacional de responsabilidade do Estado. No período em análise, os 69 conjuntos habitacionais ofertaram 28.628 moradias, o que corresponde a 58,51% do total. Entretanto, a quantidade de empreendimentos lançados pelo setor privado foi superior ao número do setor público, porém, com produtos de menor porte, principalmente os condomínios verticais, que totalizam 20.300 unidades. Assim, 346 empreendimentos foram aprovados e implantados pelos dois agentes, somando cerca de 49 mil novas moradias, inseridas em diferentes bairros (Tabela 1).

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Tabela 1 Empreendimentos e Unidades Habitacionais por Tipologia e Agente em Aracaju, 1962 – 2002

Empree ndi mentos % Uni dades Habitacionais %

Es tado (1968-2002)

Conjuntos Habitacionais 69 19,94 28.628 58,51

Mercado Imobiliário (1962-1999)

Condomínio Ver tical 250 72,25 18.400 37,61

Condomínio Horizontal 14 4,05 680 1,39

Lote amento Fechado 13 3,76 1.220 2,49

Total 272 80,06 20.300 41,49

Total Agentes 346 100 48.928 100

A concentração espacial de cada agente é fortemente visível. Os empreendimentos construídos pelo mercado, especialmente os verticais, foram agrupados a partir da área central até o bairro Farolândia, apropriando-se da paisagem natural e dos investimentos públicos. A proximidade com a faixa litorânea e a ocupação no entorno dos shoppings elitizaram os bairros Grageru, Jardins e 13 de Julho, além da inserção dos produtos imobiliários à oeste, nos bairros Pereira Lobo e Luzia, até o Ponto Novo (Fig. 1).

Contraditoriamente, é possível notar a apropriação periférica pelo Estado, através da inserção de conjuntos habitacionais financiados pelo Banco Nacional de Habitação – BNH, como uma estratégia segregadora de afastar os “pobres” para “fora” da cidade. Esse age nte atuou especialmente na zona norte e sul consecutivamente em maior proporção nos bairros Bugio e José Conrado de Araújo, e no bairro Farolândia e no antigo povoado Terra Dura (atual bairro Santa Maria) e, distantes da malha central, já próximo aos limites entre a capital e os municípios de São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro.

Ao analisar a produção do espaço capitalista de Aracaju nesse período, testemunhou-se a localização das diferentes tipologias, associadas a uma série de intervenções urbanas, como a construção de equipamentos coletivos e/ou abertura de sistema viário, responsáveis por modelar o tecido urbano e, também, por direcionar a expansão para alguns bairros.

Na zona leste, observou-se a força do setor, que concentrou nessa área a ma ior parte dos condomínios verticais, principalmente nos bairros 13 de Julho, São José, Grageru, Jardins, Luzia e Salgado Filho. Do total produzido, em Aracaju, esse vetor recebeu 34,25% da produção dos dois agentes, sendo 83,69% destas sob responsabilidade das construtoras, por ser uma área com grandes qualidades ambientais que lhes oferece vantagens de localização, contribuindo na formação do preço dos imóveis, pelo crescente valor da terra. Na zona oeste, grande parte da produção habitacional foi feita pelo Estado, em direção aos limites entre Aracaju e Nossa Senhora do Socorro, sendo apenas 19,50% de responsabilidade do mercado. Algumas intervenções viárias auxiliaram para verticalização, via mercado imobiliário. A construção e melhoria da Av. Gonçalo Ro llemberg Leite (conhecida por Nova Saneamento) até a Av. Augusto Franco, no final dos anos 1970, resultou na verticalização descentralizada ao oeste em direção ao bairro Ponto Novo, cujos imóveis apresentaram menor valor de venda (DINIZ, 2003). Logo após, novos empreendimentos foram inaugurados ao longo da Av. Nova Saneamento, nos bairros Suíça e Luzia (zona leste), atendendo àqueles que buscavam imóveis mais baratos.

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O vetor norte é marcado pela atuação do Estado e o reduzido interesse do setor privado. Nesse encontram-se 8,68% das unidades habitacionais, sendo que, destas, 91,71% estão agrupadas nos 15 conjuntos habitacionais produzidos pelo Estado, especialmente pela COHAB, nos bairros Bugio, Cidade Nova, 18 do Forte e Santos Dumont. Nesse vetor, o mercado pouco atuou, apenas apresentando 4 empreendimentos nos bairros Santos Dumont e 18 do Forte, direcionados para uma população de renda mais inferior.

Na zona sul, a implantação de condomínios horizontais e loteamentos fechados, caracterizados pela segregação socioespacial, se constituem, em mansões para veraneio e finais de semana. Sua implantação demanda glebas ou lotes com área maior e localização privilegiada com a presença de amenidades naturais, distanciando-os para fora da malha consolidada, e criando novos vetores de expansão, como a ZEU.

A formação dos vetores de expansão está relacionada com a abertura de eixos viários, permitindo a ocupação, como foi o caso das pontes e das vias que abriram frentes para a atuação do mercado imobiliário da zona sul. Além disso, a implantação de equipamentos privados, como os dois shoppings, também se constitui em importante elemento para a atração de empreendimentos e de valorização de áreas antes não interessadas pelo capital.

3 ESTADO E MERCADO NA PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO URBANO DE ARACAJU DEPOIS DO PLANO DIRETOR DE 2000

No período de 2000 a 2014, verificou-se o licenciamento de 519 empreendimentos fechados, sendo mais de 80% de responsabilidade do mercado, resultando em uma oferta de mais de 62 mil moradias. Observa-se que a construção de condomínios verticais corresponde a 64% do total dos empreendimentos licenciados (Tabela 2 e Fig. 2).

Tabela 2 Empreendimentos e Unidades Habitacionais por Agente e Tipologia em Aracaju, 2000 – 2014

Empree ndi mentos % Uni dades

Habi taci onais %

Es tado Projetos Habitacionais 06 1,15 6.704 10,70 PAR 39 7,51 6.850 10,95 PMCM V 49 9,44 9.986 15,95 Total 94 18,11 23.540 37,60 Mercado Imobiliário Condomínio Vertica l 334 64,35 33.832 54,06 Condomínio Horizontal 65 12,52 2.783 4,44

Lotea mento Fechado 26 5,00 2.432 3,88

Total 425 81,87 39.047 62,39

Total Ger al 519 100 62.587 100

É nítida a segregação espacial dos empreendimentos construídos pelo mercado e pelo Estado. A seleção das áreas pela iniciativa privada tem relação com a concentração prévia de população de maior renda e maior disponibilidade de infraestrutura, comércio e serviços, como ocorre nas zonas leste e sul, até o bairro Aeroporto. No caso dos bairros ao longo da faixa litorânea e às margens dos Rios Sergipe e Poxim (13 de Julho, Jardins, Coroa do Meio e Atalaia), o mercado se apropriou, em função do potencial paisagístico, trazendo empreendimentos destinados aos moradores de renda mais alta (Fig. 2).

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A construção de torres intramuros nas áreas mais valorizadas permitiu enormes ganhos ao setor imobiliário, por possibilitar maior lucratividade em função do maior número de unidades habitacionais em um terreno. Essa fragmentação fundiária, proporcionada a partir do condomínio, tornou-se elemento fundamental no avanço das relações capitalistas. Em contrapartida, o setor imobiliário pouco se interessou por atuar na zona norte, assinalados por uma ocupação mais popular, com assentamentos precários. Isso reduziu interesses de investimentos, embora haja uma participação do setor privado nos Programa de Arrendamento Residencial e o Programa Minha Casa Minha Vida.

Por sua vez, a atuação do Estado ocorreu na periferia dos bairros apropriados pelo mercado, concentrando-se na porção norte, acima das avenidas Coelho Campos e São Paulo, como divisor desta zona. Além dessa, duas outras áreas apresentaram empreendimentos habitacionais construídos com a participação da Prefeitura, com recursos federais, por construtoras locais, a exemplo do Jabotiana, situado ao oeste, e, ao sul, na porção norte da Zona de Expansão Urbana, os empreendimentos do PAR e do PMCMV estão entremeados pelos condomínios horizontais e loteamentos fechados (Fig. 2).

Os empreendimentos destinados às classes de renda mais elevada e de tipologia verticalizada se concentram na porção leste, sobretudo entre os bairros 13 de Julho, Atalaia, ao sul e atingindo o Jabotiana, ao oeste. Nas áreas mais próximas ao Centro, os imóveis têm valor elevado, resultando numa verticalização que multiplica a quantidade de solo. Esses condomínios estão próximos uns aos outros, e à medida que vão se afastando, apresentam dimensões menores nos apartamentos, destinados aos grupos de renda média, especialmente aqueles promovidos pelos PAR e o recente PMCMV.

Ainda em relação à verticalização, é evidente a apropriação de áreas heterogêneas, como 13 de Julho/Jardins/Grageru, Luzia/Ponto Novo/Suiça e Jabotiana. Dos 175 empreendimentos construídos na zona leste-oeste, 65 estão nos bairros Luzia, Ponto Novo e Jabotiana apontando novos vetores de adensamento e de expansão urbana. Importante destacar que estes últimos foram marcados pela modificação da paisagem horizontal imperada pelas residências, trocadas pelas torres de edifícios implantados em locais como a Alameda das Árvores, no Luzia ou no Ponto Novo, na Avenida Rio de Janeiro. Além disso, as diferentes características da localização, a diversidade de incorporadores resultou em variações nas tipologias, na qualidade dos materiais, no tamanho e nos atributos internos: área útil, área dos cômodos, número de quartos e de banheiros.

4 NOVOS VETORES DE ADENSAMENTO E EXPANSÃO URBANA OU FORTALECIMENTO DE ANTIGOS EM ARACAJU-SE?

Para comprovar o direcionamento da expansão urbana foram selecionados bairros que mais receberam empreendimentos e unidades habitacionais, permitindo examinar aspectos como localização privilegiada, quantidade de vazios, legislação urbanística e proximidade à amenidades naturais. A apuração desses dados gerou uma classificação dos dez bairros de maior investimento do mercado e do Estado, demonstrando a direção e caracterização dos vetores de adensamento e de expansão urbana, em termos quantitativos (Tabela 2).

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Tabela 2 Vetores de adensamento e expansão urbana em Aracaju, 1962 – 2014

Ti po 1962-1999 2000-2014

Vetores Bairro Bairro

Adensame nto Grageru Grageru Jardins Jardins 13 de Julho 13 de Julho Farolândia Farolândia Atalaia Atalaia

Coroa do Meio Coroa do Meio

Lu zia Lu zia

São José Inácio Barbosa

Centro -

Suíça -

Expansão

Jabotiana Jabotiana

Zona de Expansão Zona de Expansão

Santa Maria Santa Maria

São Conrado 17 de Março

Ponto Novo Porto D´Antas

Bugio -

Entre 1962 e 1999, os vetores de expansão se direcionaram para bairros com infraestrutura precária, onde estão a maioria das grandes glebas, como Jabotiana, ZEU, Santa Maria e São Conrado. No período seguinte foi constatada a formação de novos vetores de expansão (como o bairro 17 de Março, criado em 201) e o fortalecimento de alguns existentes até 2000 como os três primeiros citados, em direção aos principais eixos viários.

No caso dos vetores que se formaram ao norte, partindo do bairro Industrial, no sentido dos bairros Porto D´Antas, Lamarão e Bugio é relevante recordar a proximidade com o limite de Nossa Senhora do Socorro, além da presença de fortes ligações viárias entre a capital e este município, nos arredores dos principais conjuntos habitacionais do Estado (Fig). Esses bairros são de desinteresse do setor imobiliário por abrigarem grupos de renda mais baixa, em assentamentos precários e irregulares. Assim, desde a primeira metade do século XX, a provisão de moradia para esse grupo econômico pelo Estado se deu fora do tecido consolidado, em bairros como Porto D´Antas, Lamarão, Olaria, Soledade, justificados pelo valor reduzido, produzindo habitações mais baratas, embora com maior ônus no que diz respeito à implantação de infraestrutura e custos de vida. Aí, notou-se uma redução dos investimentos em urbanização, mas com atuação governamental referente à impla ntação de projetos habitacionais da Prefeitura e Estado, além do PAR e o PMCMV.

Contraditoriamente, a intensificação da produção habitacional em bairros já verticalizados, como 13 de Julho, Jardins, Grageru, consolidados como local de moradia de famílias de maiores rendimentos, com condomínios de 1 ou 2 blocos, cuja apropriação se constitui um relevante mecanismo de apropriação do capital, adensando escassos vazios e valorizando imóveis, sobretudo no entorno do shopping Jardins, nos novos loteamentos Garcia e Jardim Europa. Atrelado à isso, a chegada de empreendimentos econômicos como boutiques, lojas de franquias nacionais, escolas, hospital, centro médico, supermercado e restaurantes auxiliou na formação de uma nova centralidade, direcionada à clientela de luxo.

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Nessa proximidade, o bairro Luzia, caracterizado antes, pela presença de conjuntos habitacionais subsidiados pelo BNH, hoje aponta duas novas áreas de atuação do mercado imobiliário, com a inserção de condomínios verticais. A primeira corresponde à Alameda das Árvores, uma avenida construída sob responsabilidade de apenas uma construtora, com seus prédios verticais às suas margens, enquanto a segunda, nas proximidades da avenida Adélia Franco, foi ocupada com vários empreendimentos verticais de grande porte (até 12 blocos), o que faz este bairro despontar no quesito quantidade de unidades habitacionais. Dois outros bairros foram alvo da intervenção da iniciativa privada associada ao Estado. O primeiro, Inácio Barbosa, recebeu equipamentos públicos e privados, atrelados à construção do Complexo Viário, alterando tipologias habitacionais (unifamiliares para multifamiliares), e o uso comercial e de serviços, permitindo a chegada de novos agentes e usuários. Já bairro Farolândia, desponta em função da presença de novos condomínios verticais atraídos pela Universidade Tiradentes, como polo gerador de demanda por moradia para classe de renda média. Em outras imediações do bairro, diferentes tipologias habitacionais são inseridas como o condomínio horizontal mais luxuoso, ou empreendimentos do PAR e do PMCMV, na franja do conjunto Augusto Franco.

Novos vetores de expansão também foram apontados em áreas pouco exploradas até 2000, como os bairros Atalaia, Coroa do Meio e Luzia. Esses dois primeiros foram isentos de ocupação vertical, em detrimento da legislação federal, referente ao cone do Farol Marítimo, até o final da década de 90. Posteriormente, a paisagem do bairro Atalaia se transformou, de horizontal para vertical especialmente na porção sul, aproveitando fatores como proximidade da praia e facilidade de acesso ao Centro.

Ainda relacionado às áreas antes inexploradas pela incorporação imobiliária predomina a orientação ao oeste para o bairro Jabotiana, próximo aos limites entre Aracaju e São Cristóvão. A produção habitacional nesse bairro se caracteriza de forma fragmentada, através de empreendimentos dos PAR e PMCMV, em sua maioria, condomínios verticais construídos pelo capital e Estado, ocorrendo intercaladamente ou mesmo avançando sobre áreas de preservação ambiental. Entretanto, as intervenções de ligação viária com os outros bairros proporcionaram a rápida ocupação, embora sem infraestrutura e com condições ambientais frágeis, acirrando problemas, como as enchentes no período de chuvas.

De forma semelhante, ao sul, o fortalecimento dos vetores traçados, nas duas últimas décadas do século XX, despontou na ZEU como uma forte tendência para apropriação do capital, com inúmeros loteamento s fechados e condomínios horizontais para veraneio, localizados ao longo das Rodovias dos Náufragos e Inácio Barbosa. Isso está associado às intervenções viárias executadas pela Prefeitura e pelo Governo Estadual, com o propósito de facilitar o acesso não só daqueles que ali residem, mas aos que usufruem das praias. Assim, a segregação e fragmentação do espaço ganharam maior força a partir de 2000, especialmente na porção norte, com a implantação dos conjuntos habitacionais do PAR e do PMCMV, baseadas na permissividade das normas do Plano Diretor, e nas intervenções urbanísticas realizadas pelo Estado, como abertura de vias (OBA e Amarela), a construção das orlas de Aruana e Mosqueiro valorizaram a área.

O alto valor da terra em áreas urbanizadas é consid erado um fator de dificuldade para escolha por ocupar bairros centrais, a depender do produto imobiliário a ser trabalhado. Essa questão auxilia na compreensão da escolha da localidade para construção de empreendimentos que demandam mais área, como os conjuntos habitacionais construídos

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pelo Estado, direcionados para uma classe popular, fato este que possibilitou nesta localidade, a construção do complexo habitacional pela Prefeitura Municipal (cerca de 2500 moradias), hoje denominado bairro 17 de Março.

Por outro lado, também foram inseridos condomínios horizontais e loteamentos fechados, atendendo famílias de renda mais elevada que buscam segunda residência para veraneio e finais de semana, caracterizados pela segregação e homogeneização social. De fato, a implantação desses produtos, demanda localização privilegiada com a presença de amenidades naturais, o que somado à ausência de glebas, reduz a sua oferta em áreas mais centrais, distanciando-os para fora da malha urbana consolidada. A fragmentação e dispersão do espaço, face à deficiência de infraestrutura e serviços públicos, acirrando sérios entraves ambientais, como também ocorre no bairro Jabotiana, deve ser objeto de urgente análise nos processos de planejamento urbano na gestão municipal.

Contudo, ficou evidenciada a continuidade da apropriação de áreas pelo mercado imobiliário e pelo Estado, fortalecida pelas intervenções urbanísticas, e que ainda têm direcionado a expansão não só para as margens do tecido consolidado, como para fora dos limites municipais. Por outro lado, fica claro que surgem novas áreas em expansão, em direção à espaços sem oferta de saneamento básico, fragmentando o tecido urbano e acirrando conflitos socioambientais, para abrir frentes de atuação do capital privado.

5 ALGUMAS REFLEXÕES

A partir do exposto, ficou evidente que esses dois agentes se envolveram na produção do espaço capitalista de Aracaju, e se sobrepuseram a favor da formação e consolidação dos vetores de adensamento e expansão urbana. Desse jogo de interesses dos diversos agentes resultou um novo tipo de urbanização, marcada, a partir de 2000, sobretudo pela extensão e descontinuidade do tecido urbano, proporcionando caráter complexo às novas formas segregadas, extrapolando limites administrativos, principalmente no que diz respeito aos hábitos de consumo e às práticas socioespaciais da população.

A combinação entre multiplicidade de agentes e diferenciação de renda e de ciclo dos compradores tornou o mercado particularmente segmentado, social e espacialmente. De um modo geral, as pesquisas convergiram na certificação de que a produção habitacional formal foi predominante assumida pelos incorporadores imobiliários (construtoras, proprietários fundiários, corretoras), proporcionada para as classes média-alta e alta. Esse mercado é restrito, especulativo e excludente, sendo, na maioria das vezes, sob a forma de incorporação residencial através de condomínios fechados.

Por esse motivo, a urbanização dispersa permitida, através de uma legislação fragmentada que não reflete as reais potencialidades da cidade, trouxe sérios transtornos à população. Verifica-se a necessidade de um Plano Diretor efetivo, com diretrizes efetivas para um zoneamento diferenciado, elaborado em função do potencial construtivo, infraestr utura e sistema viário. A fragmentação das normas propiciou a explosão de empreendimentos fechados para os vetores norte, oeste e extremo sul, que correspondem às áreas carentes de infraestrutura. Outro resultado foi o acirramento das problemáticas apresentadas em áreas adensadas e verticalizadas, à leste e sul de Aracaju.

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Aracaju. Lei no42 de 06 de outubro de 2000. . Aracaju, SE. 06 de outubro de 2000.

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Referências

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