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JUSTIÇA ELEITORAL 028ª ZONA ELEITORAL DE ITABUNA BA

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JUSTIÇA ELEITORAL

 028ª ZONA ELEITORAL DE ITABUNA BA

 

REGISTRO DE CANDIDATURA (11532) Nº 0600237-53.2020.6.05.0028 / 028ª ZONA ELEITORAL DE ITABUNA BA

IMPUGNANTE: PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DA BAHIA, COLIGAÇÃO ITABUNA TEM JEITO - PDT / DEM / PSC / PODE, ANA PATRICIA CARVALHO FARIAS

Advogados do(a) IMPUGNANTE: ANNA MARIA NABUCO PELTIER CAJUEIRO - BA40449, MICHEL SOARES REIS - BA1462000-A, PRISCILA DAYANE PITANGA DE MELO - BA40603

Advogados do(a) IMPUGNANTE: DIEGO SILVA GONZAGA - BA43873, MARCELO JOSE DA SILVA ARAGAO BA24441, PAULO AFONSO DE ANDRADE CARVALHO BA22873, MATEUS SANTIAGO SANTOS SILVA -BA22947, MARCONES SILVA DE ALMEIDA - BA22976

IMPUGNADO: FERNANDO GOMES OLIVEIRA

ASSISTENTE: DEIXA O HOMEM TRABALHAR 36-PTC / 33-PMN / 77-SOLIDARIEDADE / 17-PSL / 10-REPUBLICANOS, COMISSAO PROVISORIA MUNICIPAL DO PARTIDO DA MOBILIZACAO NACIONAL PMN, PSL - PARTIDO SOCIAL LIBERAL, PARTIDO TRABALHISTA CRISTAO - COMISSAO PROVISORIA

MUNICIPAL, REPUBLICANOS ITABUNA - BA - MUNICIPAL, SOLIDARIEDADE - 77 - COMISSAO PROVISORIA

Advogados do(a) IMPUGNADO: JANJORIO VASCONCELOS SIMOES PINHO - BA16651, DEBORA FERREIRA DE SOUSA - BA30734, PEDRO RICARDO MORAIS SCAVUZZI DE CARVALHO - BA34303, LEONARDO DE SOUZA REIS - BA19022, RAIMUNDO TEIXEIRA GALVAO - ES3945

Advogados do(a) ASSISTENTE: ALVARO RIBEIRO DE MEDEIROS NEVES - BA55832, EUDES VINICIUS ALVES DOS SANTOS - BA56284

SENTENÇA

    REGISTRO DE CANDIDATURA: 0600237-53.2020.6.05.0028 28ª ZONA ELEITORAL DE ITABUNA-BAHIA

REQUERENTE: FERNANDO GOMES OLIVEIRA

IMPUGNANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL; COLIGAÇÃO ITABUNA TEM JEITO - PDT / DEM / PSC /PODE; ANA PATRICIA CARVALHO FARIAS

IMPUGNADO: FERNANDO GOMES OLIVEIRA

ADVOGADO DO IMPUGNADO: RAIMUNDO TEIXEIRA GALVÃO (OAB/BA 620-A, OAB/ES- 3945)        Vistos.,

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Trata-se de pedido de registro do candidato FERNANDO GOMES OLIVEIRA, ao cargo de Prefeito, sob o nº 36, pelo PTC (Partido Trabalhista Cristão).  Foram juntados todos os documentos exigidos em lei. No prazo legal foram apresentadas três impugnações.

Tratam-se elas das  Impugnações de Registro de Candidatura pela Coligação “ITABUNA TEM JEITO” (PDT/PSC/PODE/DEM), Id de número 11141763, pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (Id 11708253), e pela também candidata a Prefeita pelo (PODEMOS) ANA PATRICIA CARVALHO FARIAS (Id número 11912827), todas elas autuadas em conjunto, por conter o mesmo pedido, qual seja, o indeferimento do registro da aludida candidatura.

Alegou o primeiro impugnante (Coligação “ITABUNA TEM JEITO” (PDT/PSC/PODE/DEM), Id de número 11141763), em suma, que o impugnado, encontra-se inelegível pelos seguintes fundamentos: a-) teve condenação por ato doloso de improbidade administrativa, que importou em lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito,  já ratificada por órgão colegiado, nos autos do processo n.º 0001729-03.2013.4.01.3311 em trâmite no Tribunal Regional Federal da 1ªRegião, incidindo a hipótese do art. 1º, inciso I, alínea “l”, da Lei Complementar n.º 64/90; b-)  teve quatro contas de convênios rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União, por decisões irrecorríveis desse órgão fiscalizador, consoante acórdãos do referido tribunal, nos processos 012.980/2016-1, 001.929/2002-9, 014.535/2016-5 e 021.450/2009-0, incorrendo no art.1º, inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar n.º 64/90; c-) teve contas de convênios rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado da Bahia, por

decisões irrecorríveis desse órgão fiscalizador, consoante acórdão do referido tribunal, no processo TCE/002800/2008, incorrendo no art. 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar n.º 64/90. Diante de tais fundamentos, requer, o indeferimento do registro da Candidatura do impugnado ou de ulterior impossibilidade de expedição de seu eventual diploma.

O segundo impugnante, MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, alegou que, encontra-se ausente uma das condições de elegibilidade do requerido, haja vista que possui seus direitos políticos suspensos por força de decisão judicial transitada em julgado nos autos do Processo n° 0002388-71.2004.8.05.0113. Segue afirmando que o aludido processo corresponde a uma Ação Civil Pública por Ato de

Improbidade Administrativa, na qual o requerido foi definitivamente condenado por incidir no art. 11 da Lei nº 8.429/1992, tendo sido imposta, dentre as sanções cabíveis, a suspensão dos seus direitos políticos pelo prazo de 03 (três) anos.

Segundo o parquet, a ausência de condição de elegibilidade decorrente da condenação transitada em julgado do requerido na suspensão dos seus direitos políticos, que perdura apenas pelo prazo fixado na sentença condenatória, não se confunde com a inelegibilidade prevista no art. 1°, inciso I, alínea “l”, da LC nº 64/1990, cujos requisitos cumulativos são bem mais restritivos para sua

configuração, não exige o trânsito em julgado, mas apenas decisão de órgão colegiado, e perdura desde a condenação ou o trânsito em julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena.

De outro lado, sabe-se também que a condenação à suspensão de direitos políticos, pelo

cometimento de ato doloso de improbidade administrativa, desperta outro tipo de impedimento à candidatura, qual, seja, a inelegibilidade prevista no art. 1º, I, alínea “I”, DA LC N.º 64/90, com redação dada pela LC n.º 135/2010, incidente sempre que a conduta importar (1) lesão ao patrimônio público e (2) enriquecimento ilícito para o agente ou terceiros,  situações presentes nas hipóteses dos artigos 9º e 10, da Lei n.º 8.429/92.

Segue alegando que essa inelegibilidade já se impõe desde a condenação por órgão judicial

colegiado (Tribunal de Justiça, Tribunal Regional Federal, etc.), portanto, antes do trânsito em julgado. Tal impedimento, como igualmente resulta da expressa disposição legal, perdura até o transcurso de 8 anos após o cumprimento da pena. Em resumo, aquele que tem condenação por ato doloso de improbidade em uma das hipóteses mencionadas na alínea “I”, fica inelegível pelo período de tempo que vai da condenação por órgão colegiado (Tribunal) até oito anos após o cumprimento da pena, equivalendo dizer que o impedimento se lhe impõe durante a tramitação de recurso (especial ou

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extraordinário), durante o cumprimento da pena e pelos oito anos subsequentes ao fim desta.  Continua afirmando que resta também inviável o deferimento do registro de candidatura do impugnado, tendo em vista que FERNANDO GOMES OLIVEIRA se enquadra na hipótese prevista no art. 1º, I, g, da Lei Complementar n.º 64/90, com redação dada pela Lei Complementar n.º 135/2010. Por fim, alega, que o candidato impugnado teve rejeitadas pelo TCU as contas referentes aos

processos 012.980/2016-1; 001.929/2002-9; 014.535/2016-5; 021.450/2009-0. Todas as condenações revelam a prática de irregularidades insanáveis que importam em ato doloso de improbidade administrativa.

Requer, assim, seja a presente ação de impugnação de candidato julgada integralmente procedente, para o fim de indeferir o registro do impugnado.

Do mesmo modo o fez a terceira impugnante, candidata a Prefeita pelo (PODEMOS) ANA PATRICIA CARVALHO FARIAS (Id número 11912827), tempestivamente, alegando em síntese: que o Impugnado, Fernando Gomes, registrou sua candidatura, mesmo estando ciente da existência de fatos jurídicos que o impedem de participar do pleito de 2020, por possuir contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União, em razão das irregularidades perpetradas no período de 1999 a 2000 e de 2005 a 2008, quando exerceu o mandato de Prefeito do Município de Itabuna.

Assegura ainda que o Impugnado Fernando Gomes Oliveira, responde perante a Vara Federal de Itabuna por ações de improbidade administrativa e criminal. 

Além disso, o Impugnado foi condenado com decisão confirmada no Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, Processo nº 0002388-71.2004.8.05.0113, por atos de improbidade administrativa, com base no art. 12, III, da Lei nº 8.429/92, ao pagamento de multa civil no triplo do valor da remuneração por ele percebida, à época, pelo cargo de Prefeito de Itabuna, acrescido de correção monetária e de juros de mora a partir da citação, em favor do Fundo de Reparação dos Interesses Difusos Lesados (Lei nº 9.008/95); suspensão dos direitos políticos pelo prazo de três anos e proibição, pelo mesmo prazo, de contratar com o Poder Público e de receber benefícios ou

incentivos fiscais ou créditos, direta ou indiretamente, inclusive por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio-majoritário.

Posto isto, requer, o indeferimento do registro de candidatura do Impugnado, Fernando Gomes Oliveira, por incidência da norma contida na alínea “g”, do inc. I, do art. 1°, da Lei Complementar n°64/90.

O impugnado foi regularmente notificado e apresentou, tempestivamente, três contestações em face das respectivas impugnações. (IDs. 14262604, 14315317 e 14322840), arguindo em síntese, que a pretensão da impugnação do parquet sem dúvida  é a antecipação da execução do acórdão

proferido na citada ação de improbidade, sem que houvesse o trânsito em julgado  junto ao juízo da 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Itabuna-Bahia, mesmo sabendo que os autos da Ação Civil de improbidade Administrativa n° 0002388712004805113, se encontram no de Justiça, portanto, se trata de usurpação de competência e antecipação de execução da sentença. Mais adiante, salienta que o impugnado interpôs agravo de Instrumento no TJ/BA tendo em conta fatos irretorquíveis, em razão da pretensão ministerial em buscar a execução antecipada do acórdão nos autos da ação de improbidade que se encontra em fase de processamento do recurso especial.

Defende que a causa de inelegibilidade relativa ao art. 1º, inc. I, “l”, da Lei Complementar nº 64/90 não incidiria igualmente no presente caso, por não haver transitado em julgado a decisão de 1ª instância que suspendeu os direitos políticos do impugnado (relativa ao feito nº. 0002388-71.2004.8.05.0113).

Alega ainda, que o fato de constar dos pareceres técnicos dos servidores do TCU e do

TCE/BA, com a opção de julgamento por irregularidade insanável, não consubstanciam o julgamento das contas, que somente pode ocorrer pelo colegiado do TCU.

Por fim, aduz que as condições de elegibilidade ao cargo de Prefeito estão presentes, sem que sobre o mesmo incida qualquer fato impeditivo ou de inelegibilidade para participar do pleito.

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 Foram as partes remetidas às alegações finais (Id 16770839), reiterando então suas anteriores manifestações e requerimentos, conforme alegações finais (19177088, 19053453, 18924409 e 18844785).

Inexistindo preliminares suscitadas, passo ao exame de mérito. Eis o sucinto relatório.

 DECIDO.

     Inicialmente, necessário um breve relato sobre a Lei Complementar nº 135/2010, conhecida como LEI DA FICHA LIMPA.

    A Lei da Ficha Limpa, é uma legislação brasileira que foi emendada à Lei das Condições de Inelegibilidade ou Lei Complementar nº. 64 de 1990, originada de um projeto de lei de iniciativa popular idealizado pelo juiz Márlon Reis entre outros juristas que reuniu cerca de 1,6 milhão de assinaturas com o objetivo de aumentar a idoneidade dos candidatos.

    A lei torna inelegível por oito anos um candidato que tiver o mandato cassado, renunciar para evitar a cassação ou for condenado por decisão de órgão colegiado, mesmo que ainda exista a possibilidade de recursos.

    O Projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados no dia 5 de maio de 2010 e também foi

aprovado no Senado Federal no dia 19 de maio de 2010 por votação unânime. Foi sancionado pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, transformando-se na Lei Complementar nº 135, de 4 de junho de 2010. Esta lei proíbe que políticos condenados em decisões colegiadas de segunda instância possam se candidatar. Em fevereiro de 2012, o Supremo Tribunal Federal(STF) considerou a lei constitucional e válida para as eleições subsequentes, realizadas no Brasil após 2010, o que representou uma vitória para a posição defendida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

    Uma década se passou desde a promulgação da Lei Complementar nº 135/2010, conhecida como Lei da Ficha Limpa, e sua influência ajudou a transformar o cenário político-eleitoral do Brasil. Tendo nascido a partir da iniciativa popular, a norma cristalizou o anseio antigo da sociedade de ver

afastados da vida pública os políticos que comprovadamente não cumpriram as normas que regem o país.

    Como dito recentemente pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barros, “É preciso atrair para a política os melhores valores da sociedade. A Lei da Ficha Limpa é um incentivo aos bons e um desincentivo aos maus administradores. Ela corresponde a uma imensa demanda da sociedade brasileira por integridade”.     Para o ministro Barroso, a Lei da Ficha Limpa serve como uma ferramenta para que os eleitores consigam escolher melhor os candidatos a quem dedicarão seus votos. Da mesma forma, a norma abre espaço no cenário político para que outras pessoas comprometidas com o bem comum se encorajem a concorrer a cargos públicos eletivos.

    Além do efeito saneador do cenário político, a Lei da Ficha Limpa também tem efeitos sobre a própria organização social. A começar pela sua origem como um Projeto de Lei de Iniciativa Popular, com mais de um milhão e seiscentas mil assinaturas, quando serviu para despertar nos cidadãos a consciência sobre o poder da mobilização. A partir do apoio à criação da norma, foi fortalecida na sociedade a noção de que é dela a responsabilidade sobre quem é eleito e pelo que é feito em seu nome durante o exercício dos mandatos.

    E não é só isso: a Lei Complementar nº 135/2010 pode ser considerada um marco da mobilização do povo brasileiro pelo fim da corrupção. Ao trazer à luz os antecedentes judiciais, políticos e administrativos daqueles que desejam se candidatar, a Lei da Ficha Limpa serve para afastar de vez dos eleitores os que se valeram de sua posição pública para atender a interesses que não são os da população que os elegeu. Com isso, a sociedade se incumbe de cobrar o cumprimento dos

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mandatos de forma transparente e honesta, fazendo com que os políticos se sintam ainda mais obrigados a trabalhar para atender aos anseios do povo que representam nas casas legislativas ou no Poder Executivo.

    

I – DA INELEGIBILIDADE DO IMPUGNADO – SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS – CONDENAÇÃO POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA- Processo n. 0002383-71.2004.8.05.0113

A Lei Complementar 135 de 2010, mais conhecida como Lei da Ficha Limpa, entre muitas inovações, dispensou a exigência do trânsito em julgado de algumas decisões judiciais que acarretavam

inelegibilidades, passando a exigir apenas uma decisão proferida por órgão colegiado, e incluiu como novel hipótese de inelegibilidade as condenações por ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito.

A dispensa do trânsito em julgado de condenações criminais ou de condenações em improbidade administrativa foi, certamente, uma das mais notáveis conquistas da lei.

É patente que o mais relevante valor inspirado na Lei da Ficha Limpa foi a moralidade. A aspiração de moralização da conduta dos aspirantes a representantes do povo, laureada pela proibição de

obtenção de registro eleitoral por pessoas cuja vida pregressa seja obscura, tem substrato

constitucional no artigo 14 § 9º da Constituição Federal, a qual expressou a necessidade de proteger a probidade administrativa e moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato.

Pois bem.

Inicialmente, convém transcrever o quanto disposto no artigo 1º, Inc. I,  alínea “l”, da Lei Complementar nº 64/1990:

"Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: (...omissis...)

l) - os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena;" (grifei)

Da análise da literalidade do disposto no art. 1º, I, “l”, da Lei Complementar nº 64/1990, observa-se que a configuração da aludida causa de inelegibilidade depende da presença dos seguintes

requisitos: (1) existência de condenação por decisão judicial transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado; (2) suspensão dos direitos políticos; (3) prática de ato doloso de

improbidade administrativa; (4) lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito.

Com efeito, a interpretação literal da alínea “l” do inciso I do art. 1º da LC n.º 64/90 pode conduzir ao entendimento equivocado de que somente haveria inelegibilidade se o ato doloso de improbidade administrativa ensejasse, simultaneamente, dano ao erário e enriquecimento ilícito.

O posicionamento acima exposto vai ao encontro do disposto no art. 14, § 9º, da Constituição Federal. Em síntese, o entendimento de que só haverá inelegibilidade quando o ato de improbidade administrativa ensejar simultaneamente dano ao erário e enriquecimento ilícito viola a diretriz constitucional de defesa da probidade administrativa e da moralidade para o exercício do mandato eletivo, ao permitir que pessoas que lesaram ou causaram prejuízo à administração pública possam disputar pleitos eleitorais.

Assim, em conclusão, merece ser prestigiada a vereda interpretativa que, alicerçada em lógica disjuntiva, considera a configuração da inelegibilidade da alínea “l”, do inciso I, do art. 1º da LC n.º 64/90, tanto a condenação por ato doloso de improbidade administrativa que gera dano ao patrimônio público como a que produz enriquecimento ilícito, em favor do agente ou de terceiro.

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Vale dizer, uma ou outra são suficientes para atrair a inelegibilidade em tela.

Esse é o entendimento do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, conforme demonstram as ementas a seguir:

Eleições 2018. Deputado Estadual. Recurso ordinário. Registro de candidatura. Inelegibilidade. Art. 1º, I, “l”, da Lei Complementar nº 64/90. Ato doloso de improbidade administrativa. Dano ao erário ou enriquecimento ilícito. Concomitância desnecessária. Interpretação finalística e sistemática da norma. O Ministério Público tem legitimidade para recorrer de decisão que defere registro de candidatura, ainda que não haja apresentado impugnação. 2. Candidato condenado por prática de ato doloso de improbidade com dano ao erário é inelegível nos termos do art. 1º, I, “l”, da LC nº 64/90. 2. A mais adequada exegese do art. 1º, I, “l”, da LC nº 64/90 em consonância com a Constituição exige decisão condenatória colegiada ou transitada em julgado pela prática de ato doloso de improbidade administrativa que gere quer dano ao erário, quer enriquecimento ilícito. 3. No caso dos autos, ainda que superada a tese de que basta o enriquecimento ilícito ou o dano ao erário, atrai a hipótese de inelegibilidade prevista no art. 1º, I, “l”, da LC nº 64/90 a existência de decisão condenatória colegiada à suspensão dos direitos políticos, pela prática de ato doloso de improbidade administrativa que gera dano ao erário e enriquecimento ilícito. Parecer pelo provimento do recurso ordinário, para reconhecer a inelegibilidade do candidato e indeferir o registro de sua candidatura. (RECURSO ORDINÁRIO Nº 0604175-29.2018.6.26.0000).

Eleições 2018. Deputado Estadual. Recurso ordinário. Registro de candidatura. Inelegibilidade. Art. 1º, I, “l”, da Lei Complementar nº 64/90. Ato doloso de improbidade administrativa. Dano ao erário ou enriquecimento ilícito do agente ou de terceiro. Inexigência de concomitância. Interpretação finalística e sistemática da norma. 1. Situação em que o prejuízo ao erário decorre da própria estrutura do esquema ilícito, considerando-se que a “máfia das ambulâncias” era provida com recursos públicos desviados em licitações fraudulentas. 2. Atrai a incidência da hipótese de

inelegibilidade prevista no art. 1º, I, “l”, da LC nº 64/90 a existência de decisão condenatória colegiada ou transitada em julgado, pela prática de ato doloso de improbidade administrativa que gera dano ao erário ou enriquecimento ilícito, ainda que a condenação tenha sido fundamentada no art. 11 da Lei nº 8.429/92. 3. Texto e norma não se confundem. Ao revés, à luz das construções da

hermenêutica normativo-estruturante, o texto legal consiste em apenas um dos variados elementos do processo interpretativo, sendo a norma jurídica o resultado da interpretação. 4. O tema em questão é capaz de influenciar diretamente as eleições vindouras. Com vistas à preservação da segurança jurídica e à integridade do Direito, urge que este Tribunal Superior Eleitoral, como órgão de cúpula da Justiça especializada, venha a manifestar-se novamente sobre tema de inegável relevância. É o cumprimento da promessa que essa egrégia Corte Superior deixou expressa no julgamento do RESpe 49-32/SP, Relatora Ministra Luciana Lóssio, publicado na sessão de 18 de outubro de 2016. 5. Naquela oportunidade, ponderou o Ministro Herman Benjamin, acompanhado pela Ministra Rosa Weber, que o art. 1º, I, l, da LC 64/90 deve ser objeto de interpretação teleológica e sistemática, levando-se em conta os valores éticos-jurídicos que fundamentam o dispositivo, e de modo algum pode ser dissociado dos arts. 14, § 9°, e 37, caput e § 4º, da CF/88. 6. Deferir candidatura de quem causa dano ao erário, mas não enriquece a si ou a terceiros, ou, ao contrário, enriquece ilicitamente, porém não causa dano ao erário, é incompatível com princípios e valores

constitucionais, desvirtuando e contaminando o próprio processo democrático 7. Não deve ser exigida a presença concomitante dos requisitos “dano ao erário” e “enriquecimento ilícito” para a incidência da causa de inelegibilidade em questão, sob pena de ofensa à diretriz constitucional da defesa da probidade administrativa e da moralidade para o exercício do mandato, encartada no art. 14, §9º, da Constituição Federal. 8. A partícula 'e' no dispositivo legal em análise não deve conduzir o intérprete aplicador à conclusão de que são requisitos conjuntivos. Uma interpretação com base teleológica e sistemática leva à conclusão de que resta configurada a inelegibilidade quando há dano

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ao patrimônio público ou enriquecimento ilícito. 9. Há que se privilegiar a interpretação finalística e sistemática. As situações configuradoras de improbidade administrativa que acarretam dano ao patrimônio público e aquelas que implicam enriquecimento ilícito se equivalem em termos de gravidade, pois ambas, de per si, são capazes de produzir a suspensão de direitos políticos. 10. É desarrazoado supor que o legislador houvesse querido superdotar uma cláusula de inelegibilidade, quando, ao contrário, há várias outras situações configuradoras de inelegibilidade que decorrem da ofensa a apenas um valor jurídico (por ex., condenação por captação ilícita de sufrágio). 11. A via interpretativa pelo critério conjuntivo fragiliza a efetividade da norma constitucional do art. 14, §9°, que outorga à lei complementar a tarefa de dispor sobre situações de inelegibilidade em prol da probidade administrativa e da moralidade para o exercício do mandato eletivo. 12. Ante dois esquemas interpretativos possíveis, há que preponderar aquele que assegure maior carga de efetividade ao comando constitucional. Considerando que tanto a improbidade que gera dano ao erário, como a que produz enriquecimento ilícito encerram um desvalor que descredencia a moralidade para o exercício de um mandato, uma ou outra são suficientes para configurar a inelegibilidade. Parecer pelo provimento do recurso ordinário. (RECURSO ORDINÁRIO Nº 0600227-74.2018.6.02.0000).

Mais adiante, para melhor aprofundamento da fundamentação, convém transcrever a seguinte jurisprudência:

“A Justiça Eleitoral pode extrair dos fundamentos do decreto condenatório os requisitos necessários para configuração da inelegibilidade, ainda que não constem de forma expressa da parte

dispositiva”. Precedentes: REspe 229-73/SP, Rel. Min. Henrique Neves, sessão de 22 11 2016, Agravo Regimental no Agravo de Instrução 1897- 69/CE, Rel. Min. Luciana Lossio DJe de 21102015, Agravo Regimental no Recurso Ordinário 1774-11/MG, Rel. Min. Luiz Fux, sessão de 11.11.2014”. (grifei). Feitas tais considerações, explicito que consta nos autos acórdão de 2019 em que o impugnado foi condenado, pelo Tribunal de Justiça baiano, nos autos da Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa n°. 0002388-71.2004.8.05.0113. 

Em virtude de tal condenação, o Impugnado utilizou diversos meios processuais para tentar

impossibilitar os efeitos da sentença; sem sucesso. Malgrado isso, a sentença restou confirmada por Acórdão exarado pelo Egrégio Tribunal de Justiça da Bahia.

Em última tentativa, o Impugnado até tentou, em sede de recurso especial, vergastar as razões do acórdão, mas sucumbiu ante a decisão derradeira, da lavra do 2º Vice Presidente do Egrégio tribunal de Justiça do Estado da Bahia, Des. Augusto de Lima Bispo, que inadmitiu “o recurso especial, ficando prejudicada a apreciação do pedido de antecipação da tutela recursal formulado“.

Daí é peremptoriamente evidente que o Impugnado sequer dispõe de liminar com efeito de suspender os efeitos do Acórdão, com o fito de asseverar minimamente a sua elegibilidade. Na referida decisão do colegiado, manteve-se integralmente a sentença de primeiro grau que entendeu pela incidência do art. 11 e 12, III da Lei nº 8.429/1992, tendo sido imposta, dentre as sanções cabíveis, a suspensão dos seus direitos políticos.

Convém esclarecer que, diversamente do quanto alegado pela defesa, cuida-se aqui de verificar não o trânsito em julgado da sentença (condição de elegibilidade), mas sim o fato de ter sido ela

proferida por órgão colegiado, bem como se houve, no caso em análise, ato doloso improbo que importasse em lesão ao patrimônio público ou enriquecimento ilícito (que geram inelegibilidade). Assim, reiterando que a exigência da condenação transitada em julgado somente é exigida enquanto condição de elegibilidade, jamais se confundindo com a inelegibilidade prevista no artigo 1º da LC 64/90 (cujos requisitos cumulativos são bem mais restritivos para sua configuração, não exigindo o trânsito em julgado mas  apenas, decisão por parte de órgão colegiado).

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Saliento que não há notícia nos autos da existência de medida judicial que suspenda os efeitos do acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça da Bahia nos autos n°. 0002388-71.2004.8.05.0113, sendo explícito, ao se perlustrar os autos, que o ato de improbidade administrativa, praticado pelo

impugnado, foi doloso e importou em dano ao erário Destaco o seguinte trecho da sentença de primeiro grau :

Ante o exposto, julgo procedente o pedido do Ministério Público para reconhecer a prática de ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da Administração Pública (art. 11, Lei nº 8.429/92) e condenar o requerido, com base no art. 12, III, da mesma lei, ao pagamento de multa civil no triplo do valor da remuneração por ele percebida, à época, pelo cargo de Prefeito de Itabuna, acrescido de correção monetária e de juros de mora a partir da citação, em favor do Fundo de Reparação dos Interesses Difusos Lesados (Lei nº 9.008/95); suspensão dos direitos políticos pelo prazo de três anos e proibição, pelo mesmo prazo, de contratar com o Poder Público e de receber benefícios ou incentivos fiscais ou créditos, direta ou indiretamente, inclusive por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio-majoritário.

Embora não tenha o dispositivo da decisão na Ação Civil Pública feito referência expressa ao art. 10 da Lei 8.429/92 – dos atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário – extrai-se, a partir da fundamentação da decisão condenatória, a configuração in concreto do dano aos cofres públicos.

Quanto à prática de atos que importam em enriquecimento ilícito, é razoável concluir que a conduta ímproba será sempre dolosa, em razão do óbice da Lei nº 8.429/1992, que não contempla a

responsabilização por tais atos sob a modalidade culposa.

Desta forma, após a análise dos autos virtuais (0002388-71.2004.8.05.0113), parece a este Magistrado que tais requisitos trazidos na Lei de Inelegibilidades encontram-se integralmente preenchidos.

Entendo que, da simples leitura do acórdão, infere-se claramente que foi mantida integralmente a parte dispositiva da decisão de 1° Grau. Vejamos a ementa do acórdão prolatado pelo órgão colegiado, vejamos: 

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. EFEITO DEVOLUTIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA SEM CONCURSO PÚBLICO PRÉVIO. NÃO

CONFIGURAÇÃO DE NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO. ART. 11 LEI Nº 8.429/92. VIOLAÇÃO DOS PRINCIPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DISPENSA DE CONCURSOA. DANO AO ERÁRIO OU LESÃO. DOLO GENÉRICO SUFICIENTE. SENTENÇA MANTIDA. Em ação civil pública, os recursos serão recebidos, em regra, apenas no efeito devolutivo, ressalvados os casos de comprovado dano irreparável à parte, em que poderá ser conferido efeito suspensivo, na forma do art. 14, da Lei n.º 7.347/85(lei de ação civil pública), o que não ocorreu na espécie. A contratação temporária de servidor, sem concurso público, para prestação de serviços de monitor de zona azul não se enquadra na definição de necessidade temporária de excepcional interesse público,

constituindo, portanto, ato de improbidade administrativa, que contraria os princípios da Administração Pública, em desconformidade com os deveres de moralidade, honestidade,

imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, na forma do art. 11 da Lei 8.429/1992. A lesão a princípios administrativos configura ato de improbidade administrativa, que prescinde a ocorrência de lesão ou dano, sendo desnecessário, ainda, à luz do art. 11 da Lei 8.429/1992, a existência de dolo específico, mas tão somente dolo genérico. Precedentes. A alegação de que a contratação e gestão pessoal incumbia ao Secretário Municipal de Administração não é suficiente para isentar o apelante da responsabilidade. Isso porque, por força o art. 66, X, parágrafo único, da lei orgânica municipal de Itabuna é indelegável o provimento e extinção de cargos, empregos e funções públicas municipais. Apelo improvido. Sentença mantida.

(9)

Resta inequívoco que o ora impugnado, mesmo após provocação recursal, fora condenado  em perda de direitos políticos, em decisão colegiada, proferida pelo Tribunal de Justiça da Bahia, que manteve na íntegra a decisão  de 1º grau, conforme ementa acima transcrita. 

Importa destacar que é absolutamente irrelevante para a caracterização da improbidade que o enriquecimento ilícito seja próprio ou de terceiros, havendo reiteradas decisões neste sentido. “Eleições 2016. Registro. Candidato a prefeito. Decisões. Instâncias ordinárias. Indeferimento. Inelegibilidades. Condenação criminal. Condenação por improbidade administrativa (alínea l). Configuração. 1. A jurisprudência pacífica do TSE é no sentido de que todas as condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade são aferidas a cada pleito, não fazendo coisa julgada a decisão que (in)defere  registro de candidatura, considerados os pleitos vindouros. 2. No caso, a justiça comum condenou o recorrente e suspendeu os seus direitos políticos, em decisão proferida por órgão colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que importou lesão ao

patrimônio público e enriquecimento ilícito, o que atrai a caracterização da inelegibilidade prevista no art. 1°, i, l, da LC 64/90 [...]. 3. A jurisprudência desta

corte superior é pacífica no sentido de que o enriquecimento ilícito ao qual se refere a alínea l do inciso i do art. 1º da LC 64/90 pode ter sido percebido em proveito próprio ou de terceiros. Precedentes [...]”

(Ac de 22.11.2016, no REspe nº 22973, rel. Min. Henrique Neves; no mesmo sentido o Ac de 12.9.2014 no RO nº 38023, rel. Min. João Otávio de Noronha, e o Ac de 22.10.2014 no RO nº 140804, rel. Min. Maria Thereza.).

Ademais, cumpre informar, a título apenas de destacar a vida pregressa do ora Impugnado, Fernando Gomes Oliveira, responde perante a Vara Federal de Itabuna por ações de improbidade administrativa e criminal, vejamos: 

Processo 0001729-03.2013.4.01.3311 – 1ª Vara Federal de Itabuna- O impugnado foi condenado nas sanções de (1) ressarcimento do dano, no valor total de R$ 12.384,00 (doze mil trezentos e oitenta e quatro reais), a ser devidamente corrigido e acrescido de juros na forma do Manual de Cálculos da Justiça Federal; (2) pagamento de multa civil no importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais), devidamente atualizado na forma do Manual de Cálculos;

Processo 0001788-88.2013.4.01.3311 - 1ª Vara – Itabuna- O impugnado foi condenado as seguintes cominações: (1) restituir ao erário a quantia de R$ 80.753,83, valor este referente ao que restou apurado, relativo às aplicações no mercado financeiro dos recursos que ficaram fora da conta do convênio e deixaram de ser aplicados enquanto não empregados em sua finalidade, até a data do efetivo ressarcimento, na forma do Manual de Cálculos; (2) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de oito anos; (3) pagamento de multa civil num importe de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), atualizado na forma do Manual de Cálculos.

E não são somente essas! O Impugnado também responde há varias ações de improbidade administrativa na Vara da Fazenda Pública da Comarca de Itabuna-Bahia, cabe aqui citar apenas algumas:

Processo n. 0502461-68.2013.8.05.0113 – o impugnado foi condenado “com base no art. 12, III, da mesma lei, ao pagamento de multa civil em dez vezes o valor da remuneração percebida por ele percebida, à época, pelo cargo de Prefeito de Itabuna, acrescido de correção monetária e de juros de mora a partir da citação, em favor do Fundo de Reparação dos Interesses Difusos Lesados (Lei nº 9.008/95); suspensão dos direitos políticos pelo prazo de quatro anos e proibição, pelo mesmo prazo, de contratar com o Poder Público e de receber benefícios ou incentivos fiscais ou créditos, direta ou indiretamente, inclusive por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio-majoritário”.

Processo n. 0503306-61.2017.8.05.0113 Processo n. 0502414-55.2017.8.05.0113

(10)

Processo n. 0300193-88.2014.8.05.0113

Processo n. 0501809-51.2013.8.05.0113 ”Ante o exposto, julgo procedente o pedido do Ministério Público para reconhecer a prática de ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da Administração Pública (art. 11, Lei nº 8.429/92) e condenar Fernando Gomes de

Oliveira, com base no art. 12, III, da mesma lei, a multa civil no valor da remuneração percebida pelo requerido, à época, pelo cargo de Prefeito de Itabuna, acrescido de correção monetária e juros de mora a partir da citação, em favor do Fundo de Reparação dos Interesses Difusos Lesados (Lei nº 9.008/95), suspensão dos direitos políticos pelo prazo de 04 anos e proibição, pelo mesmo prazo, de contratar com o Poder Público e de receber benefícios ou incentivos fiscais ou créditos, direta ou indiretamente, inclusive por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio-majoritário.

Processo n. 0506146-10.2018.8.05.0113 Processo n. 0505602-22.2018.8.05.0113 Processo n. 505846-48.2018.8.05.0113 Processo n. 0501557-38.2019.8.05.0113 

É visível, portanto, que contra o impugnado tramitam diversas ações de improbidade administrativa, o que traduz um quadro de desprezo às regras de probidade que devem pautar a conduta de

qualquer gestor da coisa pública. 

Assim, percebe-se que, quando da formalização do pedido de candidatura o pretenso candidato, ora impugnado, contava com condenação em suspensão dos direitos políticos por Órgão Colegiado (processo n. 0002388-71.2004.8.05.0113).

II – DO ATO DOLOSO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Preliminarmente, cabe ressaltar que a expressão “dolo” não precisa constar explicitamente na sentença ou acórdão condenatório por ato de improbidade administrativa.

Para que esteja configurada a inelegibilidade da alínea “l” do inciso I do art. 1º da LC nº 64/1990 basta que, na fundamentação da decisão judicial, esteja evidenciado que o ato de improbidade ensejador da condenação foi praticado de forma dolosa, sendo suficiente o genérico ou eventual. (Neste sentido: TSE – Recurso Ordinário nº 060217636/RJ – Acórdão de 18.10.2018 –Relator Min. Admar Gonzaga).

Com efeito, não se trata aqui de rediscutir o mérito da decisão judicial que ensejou a condenação por improbidade administrativa, mas apenas verificar quais foram os fundamentos fáticos e a essência do que foi decidido, a fim de fazer seu enquadramento jurídico na causa de inelegibilidade prevista na alínea “l” do inc. I do art. 1º da LC nº 64/1990.

Ressalto, mais uma vez, que o impugnado foi condenado por ação dolosa, nos termos da sentença de primeiro grau, ratificada no acórdão do tribunal baiano.

Neste ponto, contudo, parece a este Magistrado que merece melhor sorte a impugnação efetuada pelos  impugnantes.

III –  DA ALEGAÇÃO DE REJEIÇÃO DE CONTAS PELO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA BAHIA E PELO TCU - Art. 1º, inciso I, alínea “g”, da LC 64/90.

Tanto as Coligações impugnantes quanto o Ministério Público suscitaram a causa de inelegibilidade do candidato, com fulcro no artigo 1º, inciso I, alínea “g”, da LC 64/90, haja vista a rejeição de contas pelo TCE processo 002800/2008 e pelo Tribunal de Contas da União, processos  (TCU/012.980/2016-1; TCU/001.929/2002-9; TCU/014.535/2016-5.

(11)

Art. 1º São inelegíveis:  I - para qualquer cargo: 

(...) g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder

Judiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os

ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição; (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 2010).

A CR/88, por sua vez, determina que:

Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei.

§1º O controle externo da Câmara Municipal será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios, onde houver. §2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve

anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal.

Depreende-se dos textos normativos, que os Tribunais de Contas não têm competência para julgar as contas do Chefe do Poder Executivo, mas emitem parecer técnico, opinando pela aprovação ou rejeição das mesmas, funcionando como órgão auxiliar do Poder Legislativo.

In casu, compete à Câmara Municipal o julgamento da regularidade das contas prestadas pelo

Prefeito. Contudo, para alterar o entendimento explanado pelo parecer do TCU e TCE, necessária que a votação seja por um quorum de dois terços dos membros da Câmara Municipal.

Nesse sentido foi fixada tal tese em sede de repercussão geral, por meio do Tema 835, proferido em sede de RE n.º 848826 pelo STF, vejamos a ementa:

Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente), que redigirá o acórdão, fixou tese nos seguintes termos: “Para os fins do art. 1º, inciso I, alínea "g", da Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990, alterado pela Lei Complementar 135, de 4 de junho de 2010, a apreciação das contas de prefeitos, tanto as de governo quanto as de gestão, será exercida pelas Câmaras Municipais, com o auxílio dos Tribunais de Contas competentes, cujo parecer prévio somente deixará de prevalecer por decisão de 2/3 dos vereadores”, vencidos os Ministros Luiz Fux e Rosa Weber. Ausentes, justificadamente, os Ministros Cármen Lúcia e Teori Zavascki. Plenário, 17.08.2016.

Ainda que o Tribunal de Contas tenha emitido parecer no sentido de rejeição das contas, cabe ao Poder Legislativo Municipal julgar, seja para confirmar ou reformar o entendimento técnico, o que, de fato, não ocorreu.

Assim, entendo que a rejeição das contas, proferida pelo Tribunal de Contas do Estado e pelo Tribunal de Contas da União, só implicará em inelegibilidade quando for validada pelo respectivo Poder Legislativo municipal, o que ainda não ocorreu.

Interpretação diversa, smj, parece violar a norma prevista no art. 1º, I, “g”, da LC 64/90.

Dito isto, afasto a argumentação de inelegibilidade do impugnado referente ao artigo 1º, I, “g”, da LC 64/90.

IV- DA APLICABILIDADE DA LEI COMPLEMENTAR N. 135/2010 (“LEI DA FICHA LIMPA”) A FATOS ANTERIORES A SUA ENTRADA A VIGOR.

(12)

        

 Nos termos do artigo 14 § 9º da Constituição Federal, a inelegibilidade não possui natureza jurídica de pena/sanção, tratando-se, apenas, de uma condição para que um cidadão possa ocupar cargo eletivo de relevância para a sociedade. 

É de crucial sabença, que as condições de elegibilidade  devem ser aferidas no momento da

formalização do pedido de registro da candidatura, conforme disposto no artigo 11, § 10º, da Lei nº 9.504/1997.

A aplicabilidade da lei a fatos pretéritos à entrada em vigor da LC nº 135/2010 (“Lei da Ficha Limpa”) foi decidida pelo próprio STF, com efeito erga omnes e eficácia vinculante, no julgamento das ADCs nºs 29 e 30 (rel. Min. LUIZ FUX). Vejamos:

“A elegibilidade é a adequação do indivíduo ao regime jurídico – constitucional e legal complementar – do processo eleitoral, razão pela qual a aplicação da Lei Complementar nº 135/10 com a

consideração de fatos anteriores não pode ser capitulada na retroatividade vedada pelo art. 5º, XXXVI, da Constituição, mercê de incabível a invocação de direito adquirido ou de autoridade da coisa julgada (que opera sob o pálio da cláusula rebus sic stantibus) anteriormente ao pleito em oposição ao diploma legal retromencionado; subjaz a mera adequação ao sistema normativo

pretérito (expectativa de direito). (...omissis...) (STF – ADC 29, Relator: Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 16.2.2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-127 DIVULG 28.6.2012 PUBLIC 29.6.2012 RTJ VOL-00221-01 PP-00011). (Grifei).

O referido entendimento já foi, inclusive, reafirmado pelo STF no julgamento do AgR no RE n.  1028574/SC, rel. Min. EDSON FACHIN, 2ª Turma, j. 19.6.2017, DJe de 31.7.2017; e no RE-R nº 929.670/DF, red. para acórdão Min. LUIZ FUX, Plenário, j. 4.10.2017, sendo que, nesse último

precedente, assentou-se que a tese jurídica firmada na ADC nº 29/DF é aplicável inclusive na hipótese da alínea “d” do inc. I do art. 1º da LC nº 64/1990, não havendo ofensa à coisa julgada.

V- DISPOSITIVO

Isto posto, com apoio nos fatos e fundamentos jurídicos acima aduzidos, JULGO PROCEDENTES EM PARTE AS IMPUGNAÇÕES DEDUZIDAS nos presentes autos e, por conseguinte, INDEFIRO O

REQUERIMENTO DO REGISTRO DE CANDIDATURA DE FERNANDO GOMES OLIVEIRA,  para concorrer ao cargo de Prefeito no Município de Itabuna/Bahia, declarando-o INAPTO por haver incidido na causa de inelegibilidade prevista no art. 1º, inc. I, alínea “I” da Lei Complementar nº 64/90 (em decorrência da condenação pelo 2º grau do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia por ato de improbidade administrativa, nos autos de nº. (0002388-71.2004.8.05.0113), com imposição de suspensão dos seus direitos políticos. 

Em observância à norma prevista no art. 49, parágrafo único, da Resolução nº 23.455/2015-TSE, fica assegurado ao candidato, partido político ou coligação interessados substituírem o pré candidato, ora considerado inapto, devendo-se atentar para as disposições previstas nos arts. 67 e 68 do diploma normativo mencionado.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.  Dê-se ciência ao MPE e aos impugnantes. Adotem-se às demais providências de praxe. Itabuna /BA, 21 de outubro de 2020.

Antônio Carlos Rodrigues de Moraes        Juiz eleitoral 28ª Zona  

(13)

Assinado eletronicamente por: ANTONIO CARLOS RODRIGUES DE MORAES 22/10/2020 08:28:10 https://pje1g.tse.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam ID do documento: 19280045 20102208281059500000017808565 IMPRIMIR GERAR PDF

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