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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Terceira Câmara Cível 5ª Av. do CAB, nº Centro - CEP: Salvador/BA RELATÓRIO

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RELATÓRIO

Classe : Apelação n.º 0124633-95.2005.8.05.0001 Foro de Origem : Salvador

Órgão : Terceira Câmara Cível

Relator(a) : Lisbete M. Teixeira Almeida Cézar Santos Apelante : Valdira Barbosa de Oliveira

Apelante : Rita Cilene Barbosa de Oliveira

Advogado : Ligia Gomes de Matos (OAB: 12409/BA) Apelado : Heloisa Moreira Queiroz

Advogado : Jorge de Souza Santa Rosa (OAB: 8155/BA) Assunto : União Estável ou Concubinato

Cuida-se de Recurso de Apelação Cível interposto contra sentença prolatada nos autos da Ação de União Estável post mortem, proposta por Heloisa Moreira Queiroz, em face de Valdira Barbosa de Oliveira, Rita Cilene Barbosa de Oliveira, únicas sucessoras do falecido Sr. Edvaldo Gomes de Oliveira, no Juízo da 9a Vara de Família desta Comarca.

A ação tem por finalidade o reconhecimento da união estável para fins previdenciários.

Adota-se, como próprio, o relatório da sentença impugnada, de fls. 153/157, acrescentando que a douta a quo, julgou procedente a ação, para reconhecer a existência da união estável entre a Autora e o já falecido Edvaldo Gomes de Oliveira, desde o ano de 2003 até o seu falecimento.

Irresignadas apelaram as Rés, com razões de fls. 160/169, sob a alegação de que, em verdade, a apelada manteve um caso amoroso furtivo, fazendo o papel da amante, caracterizando-se como uma verdadeira traição do falecido, já que jamais se separou de sua verdadeira família. Nesse sentido, sustentam que a farta documentação acostada aos autos demonstram a existência não só do casamento como da longa convivência marital; que a apelada sequer tinha conta bancária conjunta, nem era sua dependente em qualquer cartão de crédito ou coisa que o valha.

Repudia a prova testemunhal, para, a final requerer a reforma da sentença especialmente por esbarrar no art. 1521, VI, do CC, pois restou configurado o impedimento do falecido contrair nova e concomitante família.

A Apelada apresentou as contra-razões às fls. 172/176.

Os autos subiram à Superior Instância onde foram distribuídos à Terceira Câmara Cível, cabendo-me a função de relator.

(2)

É o relatório, que submeto à apreciação do eminente Des. Revisor.

Salvador, 07 de novembro de 2012.

DRA. LISBETE M. T. ALMEIDA CEZAR SANTOS RELATORA

(3)

ACÓRDÃO

Classe : Apelação n.º 0124633-95.2005.8.05.0001 Foro de Origem : Salvador

Órgão : Terceira Câmara Cível

Relator(a) : Lisbete M. Teixeira Almeida Cézar Santos Apelante : Valdira Barbosa de Oliveira

Apelante : Rita Cilene Barbosa de Oliveira

Advogado : Ligia Gomes de Matos (OAB: 12409/BA) Apelado : Heloisa Moreira Queiroz

Advogado : Jorge de Souza Santa Rosa (OAB: 8155/BA) Assunto : União Estável ou Concubinato

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL, PARA FINS UNICAMENTE PREVIDENCIÁRIOS– PROVA DA EXISTÊNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL. RELACIONAMENTO PARALELO AO CASAMENTO. UNIÃO ESTÁVEL PUTATIVA. RECONHECIMENTO. APELO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

A união estável assemelha-se a um casamento de fato e indica uma comunhão de vida e de interesses, reclamando não apenas publicidade e estabilidade, mas, sobretudo, um nítido caráter familiar, evidenciado pela affectio maritalis. Se o relacionamento paralelo ao casamento perdurou até o falecimento do varão e se assemelhou, em tudo, a um casamento de fato, com coabitação, comunhão de vida e de interesses, e resta induvidosa a affectio maritalis, é possível reconhecer a união estável putativa, pois ficou demonstrado que a autora não sabia do relacionamento do varão com a esposa, de quem supunha que ele estivesse separado há muitos anos.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0124633-95.2005.8.05.0001, desta Comarca, em que figura como Apelantes Valdira Barbosa de Oliveira e outra e, como Apelada, Heloísa Moreira Queiroz.

Acordam os Desembargadores componentes da Turma Julgadora da Terceira Câmara Cível, do Tribunal de Justiça da Bahia, por votação unânime, em negar provimento ao apelo, pelas seguintes razões:

Consoante exposto no relatório cuida-se de Recurso de Apelação Cível interposto contra sentença prolatada nos autos da Ação de União Estável.

As apelantes pretendem a modificação da sentença sob a alegação de que a Apelada nada provou derredor da união estável.

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Ao exame dos autos, verifica-se que a sentença não carece de reparos porquanto atendeu, em todos os seus aspectos, aos ditames da legislação que rege a matéria.

Tratando-se de união estável, devidamente comprovada nos autos, impõe-se o seu reconhecimento, conforme procedeu a douta a quo no comando sentencial, posto que baseada nas provas produzidas no processo e que apontam para o fato de que realmente existiu a união estável entre a Apelada e o falecido Sr. Edvaldo Gomes de Oliveira, restando demonstrado inequivocamente que a convivência era pública, contínua e duradoura, em que pese tenha também verificado "...através dos documentos juntados aos autos, das alegações das requeridas e dos depoimentos tomados em audiência, conclui-se que o de cujus não separou-se de fato da Sra. Valdira Barbosa de Oliveira".

Com efeito, a autora logrou comprovar, de forma segura, que o relacionamento entretido com o de cujus teve a conformação de uma entidade familiar, ficando claro que houve um relacionamento amoroso sério e prolongado, mas paralelo ao casamento que ele mantinha com sua esposa, e que permaneceu hígido até o óbito.

È fato incontroverso que a monogamia constitui princípio que informa o direito matrimonial, não se podendo reconhecer a constituição de uma união estável quando a pessoa for casada e mantiver vida conjugal com a esposa. Ou seja, o relacionamento adulterino não pode constituir união estável, pois afronta o princípio da monogamia, configurando mero concubinato.

Assim, o ordenamento jurídico não admite a constituição de famílias paralelas, isto é, não se reconhece uma união estável quando um dos conviventes for casado com outra pessoa, nos termos do que dispõe o art. 1.723, §1º, do CCB, mas se admite a possibilidade de forma putativa, quando presente a boa-fé e o desconhecimento da relação familiar entretida por um dos conviventes, como é o caso dos autos.

Por outro lado, por serem as uniões estáveis fatos da vida, com múltiplas peculiaridades, as relações não observam necessariamente um modelo paradigmático. Cada relação é única. Por essa razão cuida-se de examinar os sinais externos, isto é, a projeção do relacionamento no contexto social, que é a convivência pública, contínua e duradoura, estabelecida com o objetivo de constituição de uma família.

Por esse motivo é que o fato da coabitação, evidenciada pela moradia comum, sob o mesmo teto, constitui fortíssimo indicativo da união estável. E, ao revés, o fato do casal não residir sob o mesmo teto constitui também evidente indicativo de que o casal não pretende constituir uma família. Ou seja, se o casal não estabelece o ninho, a sede da família, a base material do casamento, tudo indica que inexiste a intenção de constituir um núcleo familiar.

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No caso em exame, porém, é imperioso o reconhecimento de uma união estável putativa, pois, embora a relação entretida pela autora com o de cujus fosse paralela ao casamento dele com outra mulher, é também inequívoco que ela ignorava que o varão ainda mantivesse vida conjugal com a esposa, e, além disso, ela tinha também todas as razões para acreditar que ele já estivesse separado dela. Ou seja, nada nos autos afasta a convicção de que a autora procedeu de boa-fé durante o relacionamento entretido com o de cujus.

Friso, pois, que a testemunha arrolada pela requerente reconheceu que a Autora e o Sr. Edvaldo viviam como um casal.

Nesse passo, o exame da prova coligida conduz à convicção de que houve bem mais do que uma mera relação extraconjugal entre a autora e o falecido. A prova testemunhal, aliada aos demais documentos acostados aos autos, demonstra à saciedade a existência do relacionamento amoroso narrado na inicial, demonstrando também a notoriedade e a publicidade desta união havida entre Heloisa Moreira Queiroz e Edvaldo Gomes de Oliveira que só não logrou maior duração em virtude do falecimento do varão.

Embora as provas coligidas demonstrem que o falecido mantivesse incólume o seu casamento, essa relação matrimonial era mantida de forma paralela à relação por ele entretida com a autora, sendo inequívoco que nenhuma das partes tinha conhecimento uma da outra, pois é isso o que mostra, de forma cristalina, a prova testemunhal. Houve, portanto, uma união estável putativa.

Por fim, lembro que sendo a união estável uma relação informal e livre, constituindo um fato social, a sua relevância está na sua solidez, na notoriedade e publicidade da relação, da qual se torna possível presumir o animus do casal de constituir um núcleo familiar. E, no caso dos autos, a prova coligida indica que havia clara comunhão de vida e de interesses do casal.

Assim, como o relacionamento do casal perdurou até o falecimento do varão, e sem o conhecimento por parte da autora de que este mantinha o casamento, sem dúvida alguma se assemelhou a um casamento de fato, sendo induvidosa a affectio maritalis. Em razão disso, imperioso é o reconhecimento da relação entretida pela autora e o falecido como sendo uma união estável.

Como nos ensina Maria Berenice Dias, in Manual de Direito das Familias, 6ª ed, Rt, p. 177, sobre a matéria aqui enfocada que "no minimo, em se tratando de união estável que afronta aos impedimentos legais, há que se invocar o mesmo principio (da boa-fé) e reconhecer a existência de uma união estável putativa. Estando um ou ambos os conviventes de boa-fé, é mister atribuir efeitos à união, tal como ocorre no casamento putativo".

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Diante do exposto, nega-se provimento ao recurso, mantendo a sentença inalterada em todos os seus aspectos por seus próprios e jurídicos fundamentos.

Salvador,

PRESIDENTE

RELATOR

PROCURADOR DE JUSTIÇA

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