• Nenhum resultado encontrado

Volume 6, Número 9, Páginas Belém, Junho 2019 DEMOCRACIA E DIREITOS HUMANOS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Volume 6, Número 9, Páginas Belém, Junho 2019 DEMOCRACIA E DIREITOS HUMANOS"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

Volume 6, Número 9, Páginas 86-96 Belém, Junho 2019

Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará

ISSN: 2359-3229 86

DEMOCRACIA E DIREITOS HUMANOS

Márcio Renato Bartel

RESUMO

Este artigo discute a questão dos conceitos centrais sobre Direitos Humanos. Direitos humanos são os direitos e liberdades básicas de todos os seres humanos. Seu conceito também está ligado com a ideia de liberdade de pensamento, de expressão com responsabilidade e ética, bem como a igualdade perante a lei. A ONU proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que é respeitada mundialmente, especialmente nos países democráticos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas afirma que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade e de cidadania.

PALAVRAS-CHAVE: Democracia. Liberdades básicas. Responsabilidade.

ABSTRACT

This article discusses the issue of core concepts on Human Rights. Human rights are the basic rights and freedoms of all human beings. Its concept is also linked with the idea of freedom of thought, of expression with responsibility and ethics, as well as equality before the law. The UN proclaimed the Universal Declaration of Human Rights, which is respected worldwide, especially in democratic countries. The United Nations Universal Declaration of Human Rights states that all human beings are born free and equal in dignity and rights, endowed with reason and conscience and should act towards one another in the spirit of fraternity and citizenship.

(2)

Volume 6, Número 9, Páginas 86-96 Belém, Junho 2019

Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará

ISSN: 2359-3229 87

INTRODUÇÃO

As primeiras declarações dos Direitos Humanos datam do século 18 e, desde então, assistimos, em nível global, ao avanço no reconhecimento dos valores básicos para a vida e a dignidade humanas. Como, também, ao aprimoramento dos instrumentos legais para desenvolver sociedades justas, igualitárias e democráticas. No Brasil o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos e a Constituição de 1988 são considerados documentos muito importantes nessa questão. A Carta Magna estabelece, por exemplo, que são objetivos fundamentais da República “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” e “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Porém, entre o que está no papel e a realidade há uma grande distância. É verdade que avançamos na consolidação do Estado democrático nos últimos anos. E que hoje podemos discutir questões como os mortos e desaparecidos na época do regime militar. Ao mesmo tempo, registramos o aumento de homicídios, números indecentes de violência doméstica, violência policial, crimes homofóbicos, racismo, ações que representam um retrocesso na busca da liberdade e respeito às diferenças individuais, grupais, de coletivos. É necessário perceber que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade e de cidadania.

Democracia participativa

É necessário recuar substancialmente no tempo para visualizarmos a pólis grega, que foi a primeira experiência histórica de democracia. No desenvolvimento da civilização grega, notamos que vários estudiosos destacam o surgimento da pólis como uma das mais importantes experiências desenvolvidas em toda a Antiguidade. Em sua compreensão mais simples, a pólis corresponde às diversas Cidades-Estado que se formaram no território grego entre o final do século XII a.C e VIII a. C. Contudo, como foi possível que esse tipo de organização social e política existisse?

(3)

Volume 6, Número 9, Páginas 86-96 Belém, Junho 2019

Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará

ISSN: 2359-3229 88

A princípio, esse período ficou conhecido pela formação de pequenas unidades agrícolas e pastoris autossuficientes, nas quais todas as riquezas eram produzidas de forma coletiva. À frente desse grupo tínhamos o patriarca que determinava a organização das ações administrativas, judiciárias e religiosas a serem desempenhadas por todos que compartilhavam aquele mesmo espaço (BOBBIO, 1986).

Como os demais povos da antiguidade, os gregos começaram a construir suas cidades e a elas deram o nome de pólis. Em muitas dessas pólis, vemos que a povoação se desenvolvia em torno da acrópole. Situada no ponto mais alto da cidade, esse espaço congregava os palácios e templos de uma pólis. Porém, as cidades dessa época eram bem diferentes das nossas, pois eram unidades politicamente autônomas.

Ora a cidade na qual moramos não tem autonomia política absoluta. Nossa cidade pode criar Leis e o faz por meio do Legislativo Municipal, mas está submetida à Constituição Estadual bem como a algumas Leis Estaduais. E o nosso Estado, bem como todos os Estados brasileiros, por sua vez, estão submetidos á Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e a Leis Federais. Portanto, nos dias de hoje, o que se equipara às pólis, são os países. Os países são unidades políticas autônomas.

Sendo assim, no tempo dos gregos antigos, cada cidade era como se fosse um país de hoje, com sua Constituição e Leis próprias. Seguramente uma lei válida na cidade de Atenas poderia simplesmente não existir na cidade de Esparta ou na cidade de Delfos (GALLO, S. 1997).

A convivência entre os indivíduos, o envolvimento com os negócios relativos à administração da cidade, da pólis é o que eles chamavam de política. A palavra política é grega: ta politika, vinda de pólis. Pólis é a cidade, entendida como comunidade organizada, formada pelos cidadãos (politikos), isto é, pelos homens nascidos no solo da cidade, livres e iguais, portadores de dois direitos inquestionáveis, a isonomia que significa igualdade perante a lei e a isegoria que é o direito de expor e discutir em público opiniões sobre ações que a cidade deve ou não deve realizar.

A política significava para os gregos os negócios públicos dirigidos pelos cidadãos, como por exemplo: os costumes, as leis, o erário público, a organização e defesa da guerra, a administração dos serviços públicos como abertura de ruas, estradas,

(4)

Volume 6, Número 9, Páginas 86-96 Belém, Junho 2019

Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará

ISSN: 2359-3229 89

portos, construções de templos e fortificações, obras de irrigação. Mas, ainda, política significava a condução das atividades econômicas da cidade, como a moeda, os impostos e tributos, os tratados comerciais e etc. (CHAUI, 2002).

Os gregos criaram várias formas para administrar a cidade, dependendo de como as pessoas se envolviam com essas atividades. Quando apenas uma pessoa governava, isto é, administrava a cidade (pólis), chamavam de forma de governo ou forma de administração monárquica. A monarquia é o governo de um só. Quando era um grupo maior de pessoas que se envolviam com o governo, chamavam de aristocracia. Aristóteles dizia que a Aristocracia é o governo dos melhores, isto é, os mais sábios que sabem administrar e aplicar a justiça.

Por volta do ano 500 a. C, em Atenas, uma das principais cidades gregas, Clístenes que era um grande legislador implementou uma reforma radical, convocando todos os cidadãos para se envolverem no governo da cidade. Clístenes dividiu o território de Atenas em 30 unidades regionais e deu o nome de demos. Portanto, cada uma das unidades era um demos. Esses demos sorteavam alguns cidadãos que iriam participar dos diversos conselhos do governo da cidade, encarregados da criação e da execução das leis.

As leis eram aprovadas por todos os cidadãos que eram convocados para uma grande Assembleia, feita na Ágora, uma vez por mês. Daí deriva o termo democracia que significa governo (autoridade, poder) dos demos, e não exatamente governo do povo como normalmente se diz. Portanto, democracia é uma palavra grega que une demos +kratos, que significa autoridade, poder, governo dosdemos.

Sendo as leis e decisões aprovadas e tomadas nas assembleias, os cidadãos tinham que exercer seu poder de persuasão na apresentação de suas propostas de leis na Ágora. O resultado desses debates públicos eram decisões aprovadas pelos cidadãos e que refletiriam na vida de todos os moradores da pólis. Para fazer valer seus projetos e interesses para a cidade, o cidadão precisava dominar bem a arte da retórica e da oratória, para convencer os demais cidadãos a votarem naquilo que ele defendia. Nesse momento, quando os cidadãos tentavam convencer uns aos outros sobre determinadas coisas, estavam em pé de igualdade. A igualdade que todos tinham de falar para a pólis

(5)

Volume 6, Número 9, Páginas 86-96 Belém, Junho 2019

Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará

ISSN: 2359-3229 90

na Assembleia.

Porém, há um detalhe histórico muito importante a ser lembrado. A cidade de Atenas contava com uma população de aproximadamente 400 mil pessoas. Mas, infelizmente, nem todas eram cidadãs. Os 200 mil escravos que havia na cidade não eram considerados nem como gente. Os 100 mil estrangeiros e mais as 60 mil mulheres e crianças não tinham direitos políticos. Eram considerados cidadãos de fato e de direito apenas 40 mil indivíduos livres do sexo masculino. Portanto, eram esses 10% da população de Atenas que participavam da administração da cidade, isto é, do governo da pólis (GALLO, 1997).

Nos tempos modernos, depois que as revoluções burguesas colocaram fim ao regime feudal da idade média, a democracia retoma seu lugar, agora na história do Ocidente. É esse regime democrático que será implantado e considerado como o melhor meio de governar, em oposição ao regime monárquico que havia predominado durante praticamente toda a idade média. No entanto, nesses novos tempos já não existem escravos e a unidade política passa a ser o país, o Estado-nação e não mais a cidade-Estado, o que permite que mesmo as pessoas nascidas em outras cidades tenham direitos políticos. Como garantir então a participação de todos?

Ora, nos tempos modernos a noção de democracia como acesso de todos os cidadãos à administração do Estado-nação passa pela questão da representatividade. Em Atenas, Clístenes criou uma democracia direta ou participativa, isto é, todos os cidadãos participavam diretamente do governo da cidade-Estado. Mas na modernidade se consolida a ideia de uma democracia representativa, isto é, um sistema no qual os cidadãos elegem uma certa quantidade de pessoas que vão representar seus interesses no governo (administração) do Estado.

A ação democrática, portanto, consiste em todos os cidadãos tomarem parte do processo de construção decisória sobre tudo aquilo que terá consequência na vida da coletividade. Quem poderá dizer o que é bom para todos, se não aqueles mesmos que irão sofrer as consequências das decisões tomadas? Se não de forma direta, que seja por meio de representantes, mas deve-se manter ativo na vigilância do trabalho daqueles que foram eleitos.

(6)

Volume 6, Número 9, Páginas 86-96 Belém, Junho 2019

Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará

ISSN: 2359-3229 91

acesso aos mecanismos do poder, também possibilita o fenômeno da marginalização política. As pessoas que, desgostosas e decepcionadas, não querem ouvir falar em política, recusam-se a participar de atividades sociais que possam ter finalidade ou cunho político, afastam-se de tudo quanto lembre atividades políticas, mesmo tais pessoas, com seu isolamento e sua recusa, estão fazendo política, pois estão deixando que as coisas fiquem como estão e, portanto, que a política existente continue tal como é. A apatia social, a marginalização é, pois, uma forma passiva de fazer política.

Os marginalizados políticos se retiram do processo decisório e se afastam dos demais. Abdicam do direito de falar sobre assuntos de interesse coletivo. É a instituição do silêncio político. Eles o fazem porque acreditam que assim poderão resolver melhor seus problemas particulares. Temos, portanto, o abandono das questões públicas e a excessiva preocupação com as questões particulares (BOBBIO, 1986).

Mas estes indivíduos esquecem que viver é acima de tudo conviver, isto é, viver com os outros. Portanto, a esfera pública sempre vai existir e alguém vai se ocupar dela. Quanto menos as pessoas participarem da política mais os interesses daqueles que se ocuparam da esfera pública irão prevalecer. As decisões a serem tomadas serão baseadas nesses interesses particulares, e não visando interesses coletivos. O silencioso político aceita o que foi decidido pelos outros, sem colocar a público seu interesse. Sendo assim, assume a obediência e abdica da autodireção. Herda o status de governado e não de governante. Porém, o governo democrático não para de funcionar, de fabricar leis que irão de acordo com os interesses daqueles que participam.

A democracia representativa permite ao indivíduo se esconder atrás de si mesmo e não participar, porque assim se exime da responsabilidade pelas questões políticas. Porém, as questões públicas são responsabilidade de todos nós e, mesmo que alguns indivíduos tenham sido eleitos para cuidar delas, não basta que eles ajam, é necessário que cada um de nós, como membro dessa sociedade, faça sua parte (GALLO, 1997).

O cidadão não espera que o outro lhe dê as condições necessárias para participar, pois essas condições brotam de si mesmo. É a autodeterminação. O cidadão sabe que é preciso buscar; é preciso conquistar. E, sobretudo se organizar para que a participação seja efetiva. A organização e associação dos cidadãos, mantém viva a noção de que o ser humano convive e faz a defesa da democracia como a forma de governo que permite a efetiva participação com liberdade. Porém, deve ser uma participação ética e

(7)

Volume 6, Número 9, Páginas 86-96 Belém, Junho 2019

Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará

ISSN: 2359-3229 92

responsável.

Participação ética responsável

O fenômeno ético é um tema bastante presente na contemporaneidade. Pode-se afirmar que a ética está na moda. No entanto, para uma parte significativa dos estudiosos, a concepção do que vem a ser ética está em crise. E a crise ética traz uma sensação de vazio e de perda dos paradigmas.

Jacqueline Russ (1999, p.10-11) refere-se a esse vazio ético contemporâneo da seguinte maneira:

[...] vivemos num momento em que referências tradicionais desapareceram, em que não sabemos mais exatamente quais podem ser os fundamentos possíveis de uma teoria ética. O que é que, hoje, nos permite dizer que uma lei é justa? Nós o ignoramos. É num vazio absoluto que a ética contemporânea se cria, nesse lugar onde se apagaram as bases habituais, ontológicas, metafísicas, religiosas da ética pura ou aplicada. A crise dos fundamentos que caracteriza todo o nosso universo contemporâneo, crise visível na ciência, na filosofia ou mesmo no direito, afeta também o universo ético. Os próprios fundamentos da ética e da moral desapareceram. No momento em que as ações do homem se revelam grávidas de perigos e riscos diversos, estamos mergulhados nesse niilismo, essa

relação com o ‘nada’, da qual Nietzsche foi o profeta e o clínico sem igual. O que significa niilismo? Precisamente que todas as referências ou normas da obrigação se dissipam, que os valores superiores se depreciam. O niilismo designa o fenômeno espiritual ligado à morte de Deus e dos ideais supra-sensíveis. É nele que se origina a crise atual da ética.

(8)

Volume 6, Número 9, Páginas 86-96 Belém, Junho 2019

Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará

ISSN: 2359-3229 93

atual da ética. Porém, há um exagero na afirmação de que a ética contemporânea nasce num vazio absoluto, sem nenhum fundamento. O contexto de crise em que está o discurso ético nada mais é do que um reflexo do pensar a ética em conformidade com o mundo sensível, secular.

Os iluministas começaram esta empreitada com suas reivindicações. As ideias iluministas ganham força na concepção de kant sobre a autonomia e nas fórmulas utilitaristas de Bentham e Stuart Mill. Acontece, aqui, um declínio da fundamentação religiosa. Porém, a ética secular, também, se depara com divergências e controvérsias radicais. No mundo secular, o que dinamiza a reflexão ética é o confronto crítico de ideias diferentes e divergentes, isto é, o confronto entre pontos de vista diversos.

É necessário então ter clareza de que a contemporaneidade, depois do declínio da fundamentação religiosa, não aceita mais conviver com visões éticas monolíticas. Atualmente, repete-se muito a ideia de que os tempos atuais se caracterizam pela pluralidade, pela riqueza das diferenças, pelas particularidades, pela relatividade. Neste sentido, conclui-se que o discurso ético atual constrói suas certezas num mundo fragmentado. E, parece não haver outra maneira. Ou a reflexão ética se faz nesse contexto, ou dele se exclui com uma reflexão descontextualizada.

É bom salientar que a realidade moral se apresenta, para nós, cheia de tensões e conflitos. Os dilemas morais se apresentam inesperadamente. A realidade nos coloca em face de situações insólitas ou de circunstâncias embaraçosas. A ética, sendo reflexão e vivência da moral, convive com a crise por força das situações morais conflitivas.

É importante compreender que o mundo se transforma, amplia horizontes, projeta uma existência humana mais longa. Com as transformações, surgem novas formas de convivência. A mudança provoca impactos; exige uma redefinição dos valores; redimensiona a compreensão dos juízos éticos; questiona a possibilidade de justificar universalmente uma norma.

Ao observarmos a vivência moral na contemporaneidade, vamos perceber que há uma instabilidade provocada pela tensão entre a prática e o ideal, entre o valor e o interesse, entre a subjetividade e a objetividade. O mundo da moral vivida é atingido pela crise de quem se dispõe a viver um valor com a consciência de que é preciso caminhar na busca do ideal, da utopia, do bem maior. O mundo da moral pensada,

(9)

Volume 6, Número 9, Páginas 86-96 Belém, Junho 2019

Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará

ISSN: 2359-3229 94

também, desenvolve sua reflexão em meio ao confronto entre pontos de vista totalmente opostos. Ainda, não se encontrou uma fórmula objetiva e universal para conciliar as diferentes visões da moral.

A complexidade da realidade moral, vivida e pensada, abre espaço para a existência de inúmeras razões éticas, isto é, vários pontos de vista sobre a mesma coisa. Os pontos de vista morais são variados e opostos porque existe uma questão controvertida. Esta questão diz respeito ao problema da fundamentação absoluta ou relativa dos valores e das normas.

No pensamento de Silva (2005, p. 12):

A preocupação, genuinamente moral, que problematiza a nossa convivência, que se instala nas relações que desenvolvemos com os outros pode receber a seguinte formulação: o que avaliamos como bom éticamente vale para todos, para toda a sociedade, para toda a humanidade? Aquilo que considero bom para mim pode também ser apreciado como bom para os outros?

A questão da fundamentação moral se propõe a investigar a eticidade do agir humano. E a elevação da responsabilidade dos indivíduos é um dos índices fundamentais para o desenvolvimento moral. O enriquecimento da vida moral é sinônimo do aumento da responsabilidade pessoal. Os atos morais são aqueles nos quais podemos atribuir ao agente uma responsabilidade não só pelo que se propôs a realizar, mas, também, pelos resultados ou consequências da sua ação.

Somente admitindo-se que o agente tem certa liberdade de opção e de decisão é que se pode responsabilizá-lo por seus atos. Com isso, não basta julgar o ato segundo uma norma ou uma regra de ação, é preciso examinar as condições concretas nas quais ele se realiza para poder imputar-lhe uma responsabilidade moral. Quais são as condições necessárias e suficientes para poder imputar a alguém uma responsabilidade moral por determinado ato? Quando se pode afirmar que um indivíduo é responsável pelos seus atos ou se pode isentá-lo total ou parcialmente da sua responsabilidade?

(10)

Volume 6, Número 9, Páginas 86-96 Belém, Junho 2019

Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará

ISSN: 2359-3229 95

que, para se responsabilizar um sujeito, isto é, imputar-lhe algo, é necessário que o comportamento do sujeito possua um caráter consciente e que sua conduta seja livre.

Sendo assim, podemos responsabilizar somente o sujeito que, conscientemente, escolhe, decide e age com liberdade. Quem faz o contrário, ou seja, age sem ter nenhuma ciência de seus atos, apresenta, portanto, uma condição que o exime da responsabilidade moral.

Porém, não basta afirmar que o autor de algum ato imoral ignorava essas circunstâncias para livrá-lo da responsabilidade. É necessário acrescentar que, não só não as conhecia, mas que não podia e não tinha a obrigação de conhecê-las.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procuramos chamar a atenção para o cenário dos Direitos Humanos e o exercício da democracia com responsabilidade. Precisamos construir um projeto de sociedade que possibilite a participação dos indivíduos na produção da sua existência, como sujeitos de direitos, ativos na realidade que se constrói historicamente. Assim, além da preparação para a cidadania e para o trabalho, a função social da sociedade organizada consiste na boa convivência numa cultura de diversidade e de direitos. Nesse novo modelo de sociedade, que busca uma cidadania cada vez mais ampliada, temos que ser capazes de ser reflexivos.

Ser reflexivo implica realizar constantes autocríticas, de se tornar alguém individual e, ao mesmo tempo, que saiba viver em sociedade. Nesse sentido, somos chamados a rever nosso papel na complexa engrenagem social.

REFERÊNCIAS

BOBBIO, N. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1986.

(11)

Volume 6, Número 9, Páginas 86-96 Belém, Junho 2019

Revista de Direito da Faculdade Estácio do Pará

ISSN: 2359-3229 96

CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002.

SILVA, M.B. Parâmetros de fundamentação moral. Petrópolis: Vozes, 2005. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Brasilia: UnB, 2001.

Referências

Documentos relacionados

A Convenção não define os direitos humanos fundamentais de todos os trabalhadores migrantes, porém esta norma tem sido interpretada no alcance dos direitos humanos fundamentais

- Conversar com as crianças sobre como pode- mos fazer a felicidade das pessoas, mudando, assim suas histórias..

RODOLFO – Júlia, dizer quando eu não saberia porque acredito que sempre fui apaixonado por você?. Não tenho receio de dizer que você sempre foi a mulher da

(Uma casa vazia, as paredes com um papel de parede importado, muito clássico e caro, mostrando toda a opulência do local a anos atrás, atualmente a velhice do papel

- Se somente o município figura como devedor no título executivo judicial, não pode o ex-prefeito, que não participou do processo de conhecimento, ser parte na execução, não

para o mercado (isto é, a privatização das empresas públicas), mas também sua saída do setor de serviços públicos e, portanto, a privatização dos direitos sociais. Em

Informativos sobre a importância da utilização de máscara, álcool em gel e como lavar as mãos de forma adequada. A equipe escolar fará um trabalho de conscientização com

Tendo em vista que os jovens têm um contato muito intenso com essa temática, vale a pena trazer outras perspectivas sobre o assunto para a sala de aula, de modo que os estudantes