A resolução em benefício da massa insolvente Porto, 22, de março de 2017
Sessão Inaugural do 1.º Ciclo de Formação de
Administradores Judiciais
Ordem de sequência
1. A resolução em benefício da massa insolvente 2. Resolução condicional3. Resolução incondicional
4. Exercício do direito de resolução 5. Impugnação da resolução
A resolução em benefício
da massa insolvente
- Efeitos da declaração de insolvência sobre os atos passados
- Eficácia retroativa da declaração de insolvência sobre os
poderes de disposição e de administração do insolvente
- Legitimada pelos interesses dos credores
- Temperada pelos interesses da contraparte, dos
transmissários e da segurança do crédito e do comércio jurídico
A resolução em benefício
da massa insolvente
Duas modalidades:
Art. 120.º - Princípios gerais (Resolução condicional,
segundo a doutrina)
Art. 121.º - Casos especiais (Resolução incondicional,
Resolução condicional
Pressupostos1. Natureza do ato 2. Má fé do terceiro 3. Limite temporal
1. Natureza do ato
Ato
- Ações e omissões?
- A alteração da redação do preceito (art. 120.º, n.º 1)
- A polémica na doutrina – possibilidade de resolução de um não ato,
maxime a questão dos seus efeitos.
p.ex. não exercício de um direito de anulação, não exercício do direito de preferência.
p.ex. não contestação de uma ação de reivindicação proposta contra o devedor.
p.ex. falta de protesto de uma letra, falta de reclamação de defeitos numa obra.
1. Natureza do ato
Prejudicial
- Qualquer ato que debilita qualitativa ou quantitativamente a garantia
patrimonial (conceito amplo).
- Prejudicial para os credores da insolvência.
- Exclusão dos atos pessoais (mesmo que tenham reflexos patrimoniais
indiretos).
- Aumento do passivo ou diminuição do ativo.
- Apreciado objetivamente (independentemente da consciência do
Ato prejudicial
Diminuição da garantia patrimonial
p.ex. venda de um bem por preço inferior ao valor de mercado Frustração da garantia patrimonial
p.ex. trespasse gratuito do único estabelecimento. Dificulta a satisfação dos créditos
p.ex. arrendamento de longa duração de imóveis pertencentes ao insolvente. Põe em perigo a satisfação dos créditos
p.ex. contrato de abertura de crédito em conta corrente Retarda a satisfação dos direitos dos credores
Ato prejudicial
Ónus da prova da prejudicialidade
1.º Facto constitutivo do direito potestativo de resolução – é sobre o a.i. que recai o ónus da prova
2.º Presunções de prejudicialidade
art. 120.º, n.º 3 – presunções inilidíveis
Atos elencados no art. 121.º, fora dos prazos eventualmente aí previstos – compra e venda prevista no art. 121.º, n.º 1, al. h),celebrada há mais de 1 ano e menos de 2 anos antes do início do processo de insolvência
Má fé do terceiro
Noção – art. 120.º, n.º 5
Presunção iuris tantum – art. 120.º, n.º 4:
Atos praticados ou omitidos nos dois anos anteriores ao início do
processo de insolvência em que participou ou de que aproveitou pessoa especialmente relacionada com o devedor.
• Pessoas elencadas no art. 49.º
AUJ 15/2014 – nos termos e para os efeitos dos arts. 120.º, n.º 4, e 49.º, n.ºs 1 e 2,
als. c) e d), do CIRE, presume-se que age de má fé a sociedade anónima que adquire bens a sociedade por quotas declarada insolvente, sendo de considerar o sócio-gerente desta e o seu filho, interveniente no negócio de aquisição como representante daquela, pessoas especialmente relacionadas com a insolvente
Limite temporal
2 anos
Contados regressivamente a partir do início do processo de
insolvência
art. 120.º art. 120.º/art. 4.º, n.º 2 art. 81.º
---Início do ---declaração ---processo de insolvência de insolvência
Resolução incondicional (casos especiais)
Basta o preenchimento de uma das alíneas.
Em regra o período suspeito é mais curto do que o período
previsto para a resolução condicional.
Atos gratuitos – 2 anos.
Todos os atos gratuitos, sem mais (al. b)) – atos de generosidade à custa dos interesses dos credores.
Atos onerosos em que as obrigações assumidas pelo devedor
Como se distingue um ato oneroso
de um ato gratuito?
Ato oneroso – atribuições patrimoniais para ambas as partes,
havendo um nexo de correspetividade.
P.ex. compra e venda, locação (aluguer ou arrendamento), locação financeira, abertura de crédito com emissão de cartão de crédito, trespasse de estabelecimento comercial
Se o preço não é pago, ou é pago de forma anómala (em numerário) – ato gratuito?
Ac. Rel. Lx, de 24-11-2016(ANTÓNIO SANTOS) – sim
Ato gratuito – atribuição patrimonial de uma parte a outra sem
qualquer correspetivo patrimonial
Como se distingue um ato oneroso
de um ato gratuito?
Da perspetiva do devedor ou do terceiro que com ele
contrata? A B (devedor) (credor) hipoteca C (garante insolvente)
Exercício do direito de resolução
Legitimidade ativa – pertence ao a.i.
Em exclusivo?
Podem os credores suprir a omissão do a.i.? Pode o juiz
intimar o a.i. para resolver?
Poder-dever de resolver os atos prejudiciais – art. 59.º
(responsabilidade civil), art. 56.º, n.º 1 (destituição com justa causa)
Exercício do direito de resolução
Forma
Art. 123.º - carta registada com aviso de receção
Solenidade mínima?
Vantagem em exercer o direito por via judicial (notificação
Exercício do direito de resolução
Prazo
-Duplo limite temporal:
1.º - “seis meses seguintes ao conhecimento do acto”
2.º - nunca depois de decorridos 2 anos sobre a data da declaração de insolvência
1.º limite: Conhecimento do ato ou dos pressupostos da resolução?
1. Prazo de caducidade (art. 329.º CC) – momento em que o direito puder ser legalmente exercido.
2. Dever de fundamentação
3. Complexidade do ato (diligências)
Acórdãos do STJ, de 18-10-2016 (JÚLIO GOMES), de 27-10-2016
(FONSECA RAMOS), de 27-10-2016 (PINTO DE ALMEIDA) –
Exercício do direito de resolução
1.º limite - Efetivo conhecimento dos pressupostos? Ou dever de conhecer os pressupostos?
Ac. STJ, de 27-10-2016 (PINTO DE ALMEIDA)
“o administrador não atuou com a diligência que lhe era exigível, caso em que se deve contar o prazo desde o momento em que o administrador devia ter conhecido aqueles pressupostos”
Exercício do direito de resolução
Dever de fundamentação Sentido e alcance – nem minimalista nem exaustiva
Falta de fundamentação ou insuficiência – nulidade da
declaração (Acs. Rel. Porto de 1-10-2013 (MARIA JOÃO
AREIAS), de 27-11-2012 (PINTO DOS SANTOS)).
Não é possível na ação de impugnação da resolução
aperfeiçoar essa fundamentação (“imutabilidade da causa de resolução”).
Se prazo ainda não se esgotou, possibilidade de emitir nova
Conteúdo mínimo
da declaração resolutiva
Não pode ser uma mera invocação dos pressupostos legais;
Deve ser sustentada em factos (mas não pode ser uma mera invocação
genérica de factos)
Devem ser factos concretos, por forma a que o impugnante possa estar
em condições de exercer o seu direito de impugnar a resolução (Ac.
STJ, de 17-09-2009 (MÁRIO CRUZ))
P.ex. não basta alegar a existência de uma especial relação entre o devedor e a contraparte (ela tem que ser concretizada).
P.ex. Não basta invocar a al. h) do art. 121.º, n.º 1 – é necessário demonstrar que as obrigações assumidas pelo insolvente excedem manifestamente as da contraparte.
Exercício do direito de resolução
Legitimidade passiva
Devedor insolvente
Contratos – contraparte
Terceiros a quem a resolução é oponível – transmissários
(art. 124.º)
compra e venda compra e venda
A --- B --- C
devedor contraparte transmissários
Má fé do transmissário
Ac. STJ, de 5-5-2015 (ANA PAULA BOULAROT)
I. Sendo a Autora uma terceira transmissária do bem objecto de transmissão anterior pela Insolvente, cuja resolução foi efectuada pelo Administrador da Insolvência, a oponibilidade desta em relação àquela Autora só é operante quando esteja apurada a sua má fé.
II. Estas duas situações, embora interligadas, não se constituem em vasos comunicantes entre si, porquanto a licitude e eficácia da declaração resolutiva da transmissão havida, não acarreta automaticamente a sua oponibilidade a terceiros posteriores adquirentes dos bens dela objecto, como decorre aliás do preceituado no artigo 124º, nº1 do CIRE, onde se predispõe que «A oponibilidade da resolução do acto a transmissários posteriores pressupõe a má fé destes, salvo tratando-se de sucessores a titulo universal ou se a nova transmissão tiver ocorrido a titulo gratuito.»
Oponibilidade a transmissários
compra e venda compra e venda compra e venda
A --- B --- C--- D
devedor contraparte transmissário transmissário
(boa fé) (má fé)
Boa fé de C torna inoponível a resolução aos transmissários subsequentes (D está protegido pela boa fé de C)
Oponibilidade a transmissários
compra e venda hipoteca
A --- B --- C
devedor contraparte transmissário? (124.º, 2)
Impugnação da resolução
Ação proposta contra a massa insolvente
Ação declarativa de simples apreciação negativa
Ónus da prova dos factos alegados pelo autor (pressupostos
da resolução) – Ac. Relação de Lisboa de 24-11-2016
Obrigada pelo vosso tempo!
Impugnação pauliana coletiva?
“Se os executados são declarados insolventes na pendência de
acção de impugnação pauliana movida pelo exequente, por razões de justiça material e respeito pela execução universal que a insolvência despoleta, os bens alienados objecto da acção de impugnação pauliana julgada procedente, devem, excepcionalmente, regressar ao património do devedor, para, integrando a massa insolvente responderem perante os credores da insolvência.” – Acórdão do STJ, de 11-07-2013