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ENEM: efeitos na constituição dos corpos e no movimento das populações

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Academic year: 2018

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ENEM: EFEITOS NA CONSTITUIÇÃO

DOS CORPOS E NO

MOVI-MENTO DAS POPUlAÇÕES

tsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(ENEM: EFFECTS IN THE CONSTITUTION

OF THE BOOIES ANO IN THE

MOVEMENT

OF THE POPULATIONSj

RESUMO

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E s s e a r t i g o a n a l i s a o s e fe i t o s d e s u b j e t i v i d a d e

p r o d u z i d o s c o m a i n t r o d u ç ã o d o E x a m e N a c i o n a l d o

E n s i n o M é d i o ( E N E M ) n o c e n á r i o n a c i o n a l , p r i n

-c i p a l m e n t e n a s p e s s o a s e m c o n d i ç ã o d e p r e s t a r o

v e s t i b u l a r . T e m s u a fu n d a m e n t a ç ã o t e ó r i c a n o s

c o n c e i t o s d e p o d e r d i s c i p l i n a r e b i o p o d e r c o n s

-r u í d o s p e l o h i s t o r i a d o r fr a n c ê s M i c h e l F o u c a u l t . A

p a r t i r d e s s e s e n t e n d i m e n t o s , h á a p o s s i b i l i d a d e d e

p e r c e b e r c o m o o d i s p o s i t i v o E N E M a t r a v e s s a

i n d i v i d u a l m e n t e a v i d a d o s p o t e n c i a i s c a n d i d a t o s a o

v e s t i b u l a r , c o m o t a m b é m , e n v o l t o n o g e r e n c i p . m e n t o

d e p o l í t i c a s p ú b l i c a s , e s s e m e c a n i s m o c r i a s i t u a ç õ e s

o n d e u m a p o p u l a ç ã o m o v i m e n t a - s e e m b u s c a d e

s o b r e v i v ê n c i a e l u g a r e s n a v i d a s o c i a l e e c o n ô m i c a

n a c i o n a l .

eywords: Subjectivity, National Exam of the _ ledium Teaching (ENEM ), ''Biopower'', discipline

ower

ABSTRACT

T h i s a r t i c l e a n a l y z e s t h e s u b j e c t i v i t y e ffe c t s

z r o d u c e d w i t h t h e i n t r o d u c t i o n o ft h e E x a m e N a c i o n a l

. : E n s i n o M é d i o ( E N E M ) i n t h e n a t i o n a l s c e n e r y ,

i a i n l y i n p e o p l e ' s c u t t i n g i n c o n d i t i o n o f e n t e r i n g i n

. :e u n i v e r s i t y t h r o u g h t h e e x a m . I t h a s i t s t h e o r e t i c a l . : u n d a t i o n i n t h e d i s c i p l i n e p o w e r a n d b i o p o w e r

e p t s b u i l t b y t h e F r e n c h h i s t o r i a n M i c h e l F o u c a u l t .

: : a r t i n g fr o m t h e s e u n d e r s t a n d i n g s , t h e r e i s t h e

- s s i b i l i t y t o n o t i c e a s t h e d e v i c e E N E M i n d i v i d u a l l y

e s t h r o u g h t h e l i fe o fp o t e n t i a l c a n d i d . a t e s t o t h e e x a m

- - v e l l a s , w r a p p e d u p i n p u b l i c p o l i t i c s m a n a g e m e n t ,

m e c h a n i s m c r e a t e s s i t u a t i o n s w h e r e a p o p u l a t i o n

estrando do Programa de pós-graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro -UERJ. Graduado em unicação Social pela Universidade Federal do Ceará e em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. UFES.

KLEBER JEAN M ATOS LOPES'

i s m o v e d i n s e a r c h o f s u r v i v a l a n d p l a c e s i n t h e n a t i o n a l

s o c i a l a n d e c o n o m i c l i fe .

Palavras chave Subjetividade, Exame Nacional do Ensino M édio (ENEM ), biopoder, poder disciplinar

D e v e o c o r r e r e m b r e v e

u m a b r i s a q u e l e v e

u m j e i t o d e c h u v a

à

ú l t i m a b r a n c a d e n e v e

A t é l á , o b s e r v e - s e

a m a i s e s t r i t a d i s c i p l i n a .

A s o m b r a m á x i m a

P o d e v i r d a l u z m í n i m a .

Paulo Leminski

INTRODUÇÃO

No dia 5 de novembro de 1997, aproxi-madamente 660 mil alunos do 20 grau de escolas públicas de nove estados brasileiros foram obrigados a prestar um exame a mais para adquirirem a graduação de ensino médio em seus currículos. A medida. imposta pelo M inistério da Educação Cv1EC). funcionaria como uma espécie de laboratório para uma outra, na época, em gestação pelos técnicos do M EC: o Exame Nacional do Ensino M édio - E:-ffi .

No dia seguinte à realização do que ficou conhecido como o "pro ão do _o grau' o ministro da

Educação, Paulo Renato Souza, declarava em frases simples e sucintas ao jornal Folba de São Paulo quais suas intenções em relação ao exame: " a p r o v a v a i p e r m i t i r d i a g n ó s t i c o p r e c i s o d o e n s i n o m é d i o " e " s e fo r m o s b e m - s u c e d i d o s , n o s p r ó x i m o s s e i s a n o s v a i h a v e r

u m e s v a z i a m e n t o d o fo r m a t o t r a d i c i o n a l d o v e s t i b u l a r " .

BA

(2)

o

tsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

experimento do M EC, nas palavras do ministro, já enunciava algumas contradições, como

um diagnóstico apenas parcial do ensino médio, já que realizado somente em nove estados, sendo obrigatório apenas aos alunos da rede pública. Isso considerando que a prova com questões de português, matemática, física, biologia e química permitisse tal afirmação. Contradições à parte, a meta traçada pelo M EC ganharia

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s t a t u s de lei, através da portaria ministerial no 438, publicada em 28 de maio de 1998, instituindo o Exame Nacional do Ensino M édio. A partir de então o exame passava a ser facultativo aos alunos que tivessem concluído ou cursando a 3a série do 2° grau, tendo como grande atrativo a possibilidade de servir como substituto ao vestibular.

Traçada a política de educação, a atingir instituições de ensino e alunos, em seus aspectos normativos, restava a vida de cada um e a de todos, enquanto uma população I ,ser encadeada de forma a

atender expectativas governamentais, o que parecia ser mais um detalhe nessa disposição que envolve políticas públicas, mercado de trabalho, formação profissional e educação, pelo menos.

A iniciativa do M EC em radiografar o ensino médio e produzir nova forma de ingresso ao ensino superior, analisada a partir do pensamento de M ichel Foucault, evidencia outros elementos produzidos em curso com o desenvolvimento e aplicação do ENEM , que nesse trabalho são tomados não apepas em seu caráter legal-institucional, mas vistos enquanto um dispositivo que se produz na relação entre acon-tecimentos e afetos em questão.

Um garoto, com idade de 17 anos, que sai de casa numa manhã de domingo para prestar um exame que radiografe o ensino médio e possibilite um passe para a universidade, certamente não carrega apenas lapiseira e esperança ao chegar ao local da prova. Nele se produzem muitas outras sensações. Sua vida não fica à margem, esperando que as respostas da prova sejam dadas. Família, amigos, emprego, condução, amores e paixões, fulgazes que sejam, correm junto ao grafite que sublinha os enunciados propostos. O sentimento de que todos são convidados para uma festa onde poucos podem entrar, mexe intensamente com o garoto. Seu estômago andara embrulhado na véspera. Um café regrado foi a saída, mas precavido, recorreu também a um digestivo recomendado por uma tia. "Roupa leve, está calor", teria ouvido da mãe ao

acordar. Viver aquele dia parecia diferente e era. No ônibus, muitos como ele comentavam dicas de professores. Ponto de chegada, desce a fila sob o olhar de um motorista que não entendia bem o que se passava. "Será que adiantaram o vestibular?", conseguiu pensar.

Nos jornais, a lista de 93 instituições de ensino superior que vão usar os resultados do Enem como mecanismo de acesso aos seus cursos, dá certa razão ao motorista desavisado. Confirma também o interesse de 315 mil pessoas que prestaram o exame em sua segunda edição, no ano de 1999. Agora já não se trata de um experimento devidamente mapeado nos gabinetes do M EC, mas de algo que percorre as casas e o comércio, gente dos mais variados segmentos sociais, algo que acontece ao nível das produções subjetivas e aqui será analisado enquanto tecnologias que produzem individualidades em seus aspectos disciplinares e afetam populações nas políticas de produção de vida.

A DISCIPLINA

E OS CORPOS

O Enem é composto de uma prova de conhe-cimentos gerais, com 63 questões objetivas e uma redação. Aparentemente um mecanismo simples de avaliação, já vivenciado inúmeras vezes por um aluno em sua vida acadêmica, antes de chegar a esse exame, em particular. O que teria então o Enem de especial, que possibilita caracterizá-Io enquanto um dispositivo que aglutina elementos múltiplos do cotidiano, relacionados a produção de saber e exercícios de poder? O que marca esse acontecimento, que produz nas pessoas muito mais que um resultado classi-ficatório a um curso superior, muito mais até que o resultado panorâmico da realidade do ensino médio em nível nacional?

A análise do Documento Básico do Enem, editado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP, 1999)2, dá pistas relevantes do que leva o ENEM a se misturar de forma tão efetiva na vida das pessoas. Campanhas publicitárias à parte, e essas não têm sido poucas nos mais variados meios de comunicação, o item A, dos Objetivos do Documento Básico do Enem é categórico em garantir a expansão do exame em cada vida em particular que pulse no território nacional: "oferecer uma referência

IA noção de população aqui utilizada é a de M ichel Foucault (1999, p. 290), entendida como uma "massa global" que é "afetada por

processos que são próprios da vida". Nesse trabalho a referencia a população é marcada pelas pessoas aptas a prestar o Enem.

2 Ver Documento Básico do Exame Nacional de Ensino M édio - ENEM . Obtido via Internet. http://www.inep.gov.br/ecn/

default.htm.1999

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para que cada cidadão possa proceder à sua auto-avaliação com vistas a escolhas futuras, tanto em relação ao mercado de trabalho quanto em relação à continuidade de estudos".

Tomado ao pé da letra, esse objetivo do Exame Nacional do Ensino M édio, estabelece mais que uma referência para escolhas futuras, pois afirma que cada um, há que perseguir um padrão virtual, o qual pode zarantir a sua sobrevivência particular. Ter o resultado

BA

e>

do Enem como parâmetro para acesso ao ensino superior e entrada no mercado de trabalho, rela-cionando-o a uma projeção que cada um deve ter de si mesmo, quanto a suas capacidades e "aptidões", constitui-se enquanto uma tecnologia de vigília permanente, onde uma auto-inquisição efetuará a operação em cada corpo que almeje a tão alardeada qualificação profissional.

Essa lógica internaliza padrões de conduta, sem a necessidade de que algo exterior exerça a função de conservação dessa tecnologia. Cabe ao indivíduo e somente a ele, a palavra final diante de um resultado de sucesso ou fracasso, no sentido de que ele é o principal responsável pelo resultado. Cabe a cada potencial candidato ao exame, a administração do seu tempo para estudo dentre as suas atividades cotidianas. Fica no ar aquele ditado de que "quem brinca no início, hora no final" e todos, individualmente, moldam suas expectativas misturando ambição com mercado de trabalho, emprego com sobrevivência, estudo com resultado estatístico. Como em qualquer processo seletivo, o ENEM antecipa aos corpos a necessidade de uma preparação adequada, onde são estabelecidos rituais de disciplina que acompanham a história de

ada candidato.

Cristiane Basílio e Silvaê, 20 anos, foi uma dos inco alunos que acertaram todas as 63 questões de conhecimentos gerais da prova na última edição do Enem, e tem sua vida marcada por opções feitas no entido de vencer etapas rumo a uma qualificação por ela projetada. Cada passo seu demonstra os efeitos

ue esse poder disciplinar tem sobre as pessoas. Já os 9 anos teve sua primeira experiência em testes de seleção, participando do "vestibulinho" do Colégio M ilitar do Rio de Janeiro, onde foi aprovada. Conta que buscou essa escola não pelo caráter gratuito, já que sua família dispunha de renda para optar dentre utros conceituados colégios particulares, mas pesou a "qualidade de ensino". Aos 16, foi a 1acolocada nos

vestibulares de Física na Universidade de Campinas nicamp) e geral na Cesgranrio. Nesse mesmo ano

1Informações obtidas do jornal Folha de São Paulo, caderno Cotidiano, edição de 16 de dezembro 1999. - Ver em Vigiar e Punir (1987) exemplo do treinamento de soldados conforme a classe a que pertenciam.

foi aprovada em M edicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense, e em Engenharia Elétrica no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que foi sua opção. Agora, usa o ENEM em busca de nova vaga na Unicamp, alegando certa decepção com o ITA e querendo estar em "um ambiente cultural mais rico".

As opções de Cristiane frente às possibilidades escolhidas para vivenciar, assim como as do garoto fictício de estômago sensível, são produzidas ao nível das particularidades. Opiniões de parentes e amigos podem até pesar, mas é o corpo que paga o preço dos exercícios cotidianos das leituras, das ansiedades, das cobranças. Funcionam quase como peças de movi-mentos prognosticados no tabuleiro do jogo vida. Políticas do eu são implementadas por uma motivação futura, no tempo presente. Formas de existir são assim produzidas incessantemente.

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

T e m o s q u e d e i x a r d e d e s c r e v e r s e m p r e o s e fe i

-t o s d e p o d e r c o m o n e g a t i v o s : E l e e x c l u i , r e

-p r i m e , r e c a l c a , c e n s u r a , a b s t r a i , m a s c a r a ,

e s c o n d e . N a v e r d a d e , o p o d e r p r o d u z ; e l e p r o

-d u z r e a l i d a d e ; p r o d u z c a m p o s d e o b j e t o s e

r i t u a i s d e v e r d a d e . O i n d i v í d u o e o c o n h e c i -m e n t o q u e d e l e s e p o d e t e r s e o r i g i n a -m n e s s a

p r o d u ç ã o . (Foucault, 1995: p.I72)

O próprio poder disciplinar, aqui em questão, é também entendido enquanto uma produção que tem sua emergência no início do século XVIII. Foucault, ao investigar esse período histórico, se depara com toda uma economia centrada no corpo, onde meca-nismos de poder estabeleciam uma normatividade, com a qual os corpos se relacionavam. A distribuição espacial de alunos nas escolas com o modelo de internato tornando-se cada vez mais frequente: o controle das atividades onde horários torna am-se mais rígidos e os gestos especializa am-se em eficiência no controle e manuseio de objetos; a introdução de técnicas no sentido de organizar procedimentos disciplinares em função do tempo e em séries evolutivas "onde os momentos se integram uns nos outros, e que se orienta para um ponto terminal e estável"." Todas essas interferências somadas ainda a recursos disciplinares outros, como a "vigilância hierárquica", a "sanção norrnalizadora", o "exame" e o "panoptisrno", são formulações históricas, segundo Foucault, que constituíram esse conceito de poder

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disciplinar, o qual permanece em nossas vidas e que aqui se faz uso para analisar implicações do ENEM na constituição de individualidades.

Ao certo, em se tratando do poder disciplinar, não se deve torná-lo como algo que defina de forma única e inequívoca a vida das pessoas. Junto a ele, outras formas de poder atuam, muitas vezes de maneira não excludente, como é o caso do biopoder, conceito também foucaultiano. Feita a ressalva, aqui então, faz-se uma delimitação na análise dos elementos instrumentais, relatados por Foucault; centrando na tecnologia exame o debate, principalmente por ser o ENEM uma forma concreta de sua atuação.

o

WVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e x a m e c o m b i n a a s t é c n i c a s d a h i e r a r q u i a q u e v i g i a e a s d a s a n ç ã o q u e n o r m a l i z a . É o

c o n t r o l e n o r m a l i z a n t e , u m a v i g i l â n c i a q u e

p e r m i t e q u a l i fi c a r , c l a s s i fi c a r e p u n i r . E s t a

-b e l e c e s o b r e o s i n d i v í d u o s u m a v i s i b i l i d a d e

a t r a v é s d a q u a l e l e s s ã o d i fe r e n c i a d o s e s a n

-c i o n a d o s . ( . . . ) o e x a m e é a l t a m e n t e r i t u a l i z a d o .

N e l e v ê e m - s e r e u n i r a c e r i m ô n i a d o p o d e r e a

fo r m a d a e x p e r i ê n c i a , a d e m o n s t r a ç ã o d a fo r

-ç a e o e s t a b e l e c i m e n t o d a v e r d a d e . N o c o r a

-ç ã o d o s p r o c e s s o s d e d i s c i p l i n a , e l e m a n i fe s t a

a s u j e i ç ã o d o s q u e s ã o p e r c e b i d o s c o m o o b

-j e t o s e a o b j e t i v a ç ã o d o s q u e s e s u j e i

-t a m " . ( F o u c a u l -t , 1995: p.l64)

A citação acima deixa a impressão que tudo o que se poderia falar sobre exame, está aí sintetizado. As seriações por resultado, as consequências que esse resultado traz, o ônus da participação ou não no exame, a categorização devidamente mapeada de cada corpo, a aceitação e negação que a prova produz, tudo de alguma forma se encadeia, se mistura para evidenciar a atuação do poder disciplinar. No ritual ENEM , todos esses desdobramentos podem ser devidamente identificados. O item A do Documento Básico, já mencionado, traz a marca de um momento exclusivo onde se procederá a verificação de capacidades com o estabelecimento de uma verdade a partir de então. Indivíduos serão objetivados e carregarão a partir dali a marca de uma colocação no ENEM , enquanto um corte no desenvolvimento que essa vida possua. O ENEM não está preocupado com a processualidade que a educação requer. Entede-a, por mais que nas suas regulamentações expresse o contrário, enquanto o momento onde os corpos mais disciplinados, mais qualificados e possuidores de saberes específicos

-5Ver Folha de São Paulo, edição de 16 de dezembro de 1999 6Ver Folha de São Paulo, edição de 29 de maio de 1999

conteúdos, alçarão um degrau rumo a uma melhor colocação na sociedade.

Aqui, ainda em relação ao item A, dos objetivos do ENEM , outra face do exame aparece: a preo-cupação em dar prosseguimento a um percentual pequeno dos jovens em condições de prestar vestibular, ao mundo do ensino superior, enquanto para a grande maioria restante o encaminhamento deve ser o mundo do trabalho técnico, menos qualificado, se o mercado os absorver.

BIOPODER E

AS

POPULAÇÕES

Ao comentar os resultados do ENEM o atual presidente da República do Brasil, Fernando Henrique Cardoso afirmou'': " N ã o c r e i o q u e j a m a i s a l g u m g o v e r n o t e n h a d a d o t a n t a a t e n ç ã o a o e n s i n o b á s i c o

c o m o o m e u g o v e r n o " . Embalado pela oportunidade criticou ferozmente seus opositores, acrescentando que a emulação produzida pelo exame " é p o s i t i v a e a a v a l i a ç ã o d a s e s c o l a s , q u e é o q u e s e fa z , é n e c e s s á r i a

p a r a q u e m e l h o r e m s e u p a d r ã o " .

O raciocínio presidencial, pelo menos da forma como foi publicado, possibilita em primeiro lugar entender que o atual governo é centralizador em suas proposições e nos resultados que essas têm. A expressão "meu governo" faz lembrar outro regime de governo, que não o democrático, definido constitucionalmente. Remete a uma forma monárquica e patriarcal de administrar, hegemônica no mundo ocidental há uns dois séculos. Forma onde funcionava o poder soberano, onde cabia à figura soberana o direito sobre a vida das pessoas, a partir da lógica em que ao exercício desse poder era facultado o direito de matar.

Passa o tempo, regimes na arte de governo são modificados, revoluções experimentadas nos mai diversos aspectos da vida e na virada do milênio, os resquícios dessa forma soberana de exercer uma vontade sobre os outros permanece. Vontade aqui verificada, em relação ao ENEM , de imprimir na sociedade um novo instrumento que regule as possibilidades de vida para uma população de pelo menos 1,5 milhões de pessoas, que no ano de 1999. concluem o ensino médio, segundo estatística do M EC6. Entendendo essa estatística enquanto uma média anual, nesses três anos onde o ENEM vem sendo implementado, são 4,5 milhões de pessoas, que mesmo sem efetivamente se inscrever para prestar o exame. de alguma forma são atingidas por ele.

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