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AS COOPERATIVAS DE MÃO-DE-OBRA E OS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO

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A S COOPERATIVAS DE M Ã O - D E - O B R A E O S TRIBUNAIS REGIONAIS D O T R A B A L H O

DENIS MARACO! GIMENEZ JOSÉ DARI KREiN MAGDA B. BIAVASCHI*’1

d e i x a m - s e c o n s u m i r e m n o m e d a integração q u e desintegra

a raiz d o ser e d o viver.

(Carlos Drummond de Andrade, Entre Noel e os índios) 1. A P R E S E N T A Ç A O

O presente artigo decorre d as pesquisas realizadas n o Centro de Estudos Sindicais e d e E c o n o m i a do Trabalho (CESIT), d o Instituto de E c o ­ n o m i a d a U N I C A M P sobre as tendências das relações d e trabalho nos anos recentes, realizadas, e m particular, n o âmbito d o Projeto Desenvolvimento Tecnológico, Atividades Econômicas e Mercado de Trabalho nos Espaços Regionais Brasileiros, e m parceria c o m o D epartamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconómicos — D I E E S E (,).

O t e m a central deste artigo diz respeito, especificamente, às c o o p e ­ rativas d e mão-de-obra. Trata-se d e u m a análise d e decisões d a s T u r m a s dos Tribunais d a 4 a, 6 a, 9 a e 1 5 a Regiões e m a ções ajuizadas por traba­

lhadores q u e b u s c a m o reconhecimento d a relação de e m p r e g o c o m as to­

m a d o r a s ou c o m as cooperativas que contratam seus serviços. Diante d e u m a m p l a coleta d e d a d o s para o período 1997-2001, seguiu-se a sistematiza­

ç ã o das informações. E m meio a u m grande n ú m e r o d e acórdãos e x a m i n a ­ dos, foram selecionados, para u m a análise mais detida, aqueles envolven- (') Doutorandos d o P r o g r a m a d e Pós -Grad uaçã o e m E c o n o m i a Aplicada, sob a área d e c o n ­ centração E c o n o m i a Social e d o Trabalho, d o Instituto d e E c o n o m i a d a U N I C A M P . Respecliva- meníe, pesquisadores d o Centro d e Estudos Sindicais e d e E c o n o m i a d o Trabalho — C E S I T e Juíza d o Trabalho.

(1) O projeto contou c o m financiamento d o C N P q . A preocupação central desta linha d e pesquisa é investigar o processo d e desregulamentaçSo e precarização d o trabalho ocorridos nos anos recentes.

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d o casos paradigmáticos das tendências decisórias e m c ad a Tribunal. A esses dados, este artigo agrega à anáiise outros, obtidos junto aos Tribu­

nais selecionados, q u e permitem u m a melhor refiexão sobre o pape! da Justiça do Trabalho n o sentido d e viabilizar ou inibir o processo atual de proliferação das cooperativas d e mão-de-obra.

O artigo divide-se e m cinco partes. Primeiro, b usca traçar u m a c a ­ racterização gerai do problema, considerando as especificidades d a s o ­ ciedade brasileira, c o m ênfase nas m u d a n ç a s estruturais nela ocorridas e n o c a m p o das relações d e trabalho, c o m reflexos sobre a Justiça d o Tra­

balho. A seguir, debruça-se sobre o t e m a geral das cooperativas, c o m breve enfoque do debate no período recente, englobando a s questões do desenvolvimento e c o n ô m i c o brasileiro e dos problemas gerais q u e per­

p a s s a m a Justiça do Trabalho. N a seqüência, desloca seu olhar para o processo d e constituição do sujeito trabalhador brasileiro e, ainda, para as propostas d e alteração íegislativa e m andamento, colocando questões sobre a s cooperativas de mão-de-obra e a fraude a direitos. Depois, b u s ­ c a n d o delinear os pressupostos centrais q u e m o v e m as tendências das decisões a partir d o e x a m e d e acórdãos dos Tribunais selecionados, diri­

ge seu olhar, sobretudo, a o s d a s T u r m a s do T R T d a 4 a Região e m período específico, s e m deixar de focalizar as tendências dos d e m a i s Regionais, b u s c a n d o u m padrão decisório.

Por fim, e m s ua s considerações finais, além d e abordar a importân­

cia e o papel d a Justiça d o Trabalho e m suas decisões e m processos e n ­ volvendo “cooperativados", voita-se para as cooperativas e m gerai e, mais específicamente, para as d e mão-de-obra, englobando aspectos conclusi­

vos sobre seu papel, buscando refletir sobre e m q u e m e d i d a contribuem para o desenvolvimento econô mi co e para a redução d o d e s e m p r e g o no país, tendo c o m o objetivo a constituição d e u m a sociedade mais igual e q u e a todos p ossa integrar.

2. O D E B A T E S O B R E A S C O O P E R A T I V A S D E M A O - D E - O B R A O f e n ô m e n o d a globalização (neo) liberal acelera a unificação desi­

gual do m u n d o s o b a égide do capital financeiro: u m m o v i m e n t o q u e

"globaliza” o poder dos Estados nacionais heg em ôn ic os e das corporações financeiras, c o m crescente a u m e n t o das desigualdades e m nível interna­

cional e n o âmbito dos países. O s países q u e a d e r e m à globalização c o m esses contornos apresentam perversos índices d e d e s e m p r e g o e d e con­

centração de renda, m e r c a d o d e trabalho c o m altíssimas taxas de rotativi­

d a d e d e mão-de-obra e expressivo a u m e n t o dos trabalhadores informais.

N u m cenário dessa ordem, e m que o Estado parece perder sua capacidade d e atender as d e m a n d a s sociais, as organizações d o s trabalhadores fragilizam-se, c o m perda de direitos conquistados. N a dinâmica d a crise, tendências autoritárias r e c e b e m impulso importante. N a s entranhas d e u m capitalismo desregulado, interesses de grupos privados, e m competição desenfreada, apo de ra m- se d o Estado, suprimindo sua independência for-

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mal e m relação à sociedade civil121. A democracia fica a m e a ç a d a . É n u m cenário d essa o r d e m q u e se procura abordar o t e m a das cooperativas, o qual n ã o p o d e ser tratado d e forma descontextualizada.

2.1. O cenário brasileiro: a m p l i a n d o diferenças

S e g u n d o d a d o s do ¡BGE, o Brasil é u m país de 169 milhões de brasi­

leiros. Destes, a maioria são pobres; muitos são miseráveis. A renda fami­

liar per capita dos 1 0 % mais ricos é, e m 1999, mais d e 5 0 vezes superior àquela dos 1 0 % mais pobres. C o m u m PIB d e U S 557 bilhões e m 1999, o Brasil paga, anualmente, e m serviços d a divida externa, 2 1 % deste. D o O r ç a m e n t o anual, a pe na s 1,5 % é destinado ao Poder Judiciário, d a d o que é insignificante se c o m p a r a d o c o m o gasto c o m serviços d a dívida. Isso n u m m o m e n t o e m que, diante d a crescente lesão a direitos, o Judiciário é c ad a vez mais acionado pelos cidadãos. À s portas d a Justiça d o Trabalho b a t e m milhares de trabalhadores, grande parte desempregados. S e g u n d o d a d o s d o B N D P J — B a n c o Nacional d e D a d o s d o Poder Judiciário para a Justiça d o Trabalho (http://www. stf. gov. br/bndpj), e m 1 99 0 são ajuizadas 1.233.410 ações; e m 1995, 1.823.437; e m 1999, 1.876.874. D e 1 99 0 para 1999, o a u m e n t o é d e 5 2 % . Já aos Tribunais do Trabalho c h e g a m , e m 1990, 145.646 ações; e m 1995, 363.576; e, e m 2000, 418.378. O crescimento de 1 99 0 para 2 0 0 0 é d e 1 8 7 % . A tabela a seguir revela a discrepancia entre o q u e é destinado à amortização d a divida e ao Poder Judiciário.

Tabela 1. D e s p e s a s Públicas e m A m o r t i z a ç ã o d a Dívida e P o d e r Judiciário durante o P l ano Real

(1995-2000) Amortiza­

ção da Dí­

vida Pública (RSmi)

Gastos com Poder Judiciário

(RSmi)

Total das Despesas

Públicas (RSmi)

Amortiza­

ção/

Total (em %)

Judiciário/

Total (em %)

Amortiza­

ção/

Judiciário

1995 95.503 3.691 242.957 39,31 1,52 25,9

1996 116.287 4.400 289.226 40,21 1,52 26,4

1997 147.039 6.028 391.067 37,60 1,54 24,4

199S 218.973 7.169 495.791 44,17 1,45 30,5

1999 296.423 7.470 588.535 50,37 1,27 39,7

2000 344.861 9.314 616.382 55,95 1,51 37,0

Fonte: Ministério do Planejamento

A o n d a d e liberalização q u e c hega ao país nos a no s 9 0 — a partir da a de sã o a o ideário do C o n s e n s o d e Washington — intensifica-se no s eg un do (2) Cl. Belluzzo, Luiz Gonzaga. “Fascismo", Folha de S ã o Pauto. 3 jun.2001, pág. B-2. Belluzo invoca Kar! Polanyi que, a o estudar o avanço d o lascísmo nos anos 2 0 e 30, conclui que não se tratava d e patologia ou conspiração irracional d e classes o u grupos, m a s d e forças gestadas no interior d o capitalismo desregulado.

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período F H C . M ed id as c o m o redução de barreiras a o livre comércio, viabi­

lização d o livre fluxo d e investimentos, privatizações, desregulamentação dos m e r c a d o s financeiro e d o trabalho e d e setores c o m o energia, trans­

porte e telecomunicações, são adotadas, no pressuposto d e q u e a inter­

v en çã o d o Estado deve estar limitada às “brechas’’ d o mercado. “Políticas d e ajustamento" e “reformas estruturais” voitam-se, basicamente, à redu­

ção d o déficit público e à abertura a o setor privado d e caminhos que, até então, e r a m trilhados a pe na s pelo setor público.

N o s c o m pr om is so s assumidos e m acordos c o m o FMI, a lé m das re­

formas constitucionais131 e suas leis complementares, está o d a aceleração das privatizações, incluídos Bancos, sistemas geração e distribuição de energia elétrica, c o m o ênfase à aprovação d e n o r m a s q u e permitam a pri­

vatização d a á g u a e das redes d e esgoto {www.brasil.gov.br). D o acordo assinado e m 3 d e agosto de 2001, c o m vigência até d e z e m b r o d e 2002, resultará a liberação d e U S S 13,8 bilhões, s o m a d o s aos U S $ 1,2 bilhão do anterior, condicionada, porém, ao cumprimento d e m e t a s e d e c o m p r o ­ missos pré-acertados. Entre estes, o a u m e n t o d o superávit do setor públi­

c o e m 2001 e 2002. N o primeiro ajuste, o superávit acertado era d e R $ 36 bilhões; n o atual, d e R S 40,2 bilhões (de 3 % para 3 , 2 5 % d o PIB). Para 2002, a m e t a fiscal, antes d e R S 35,2 bilhões, é prevista para R S 45,7 bi­

lhões. D o início d e 1 99 9 até junho d e 2001, gerou-se R S 100 bilhões de superávit fiscal. A c a s o cumprido o acordo, o superávit n o s e g u n d o governo F H C será d e R $ 155 bilhões. Enquanto isso, a dívida líquida d o setor públi­

co, d e R S 385,9 bilhões e m d e z e m b r o d e 1 99 8 (43,3% do PIB), s o m a , e m junho d e 2001, R S 619,4 bilhões, o u seja, 5 1 , 3 % d o PIB, projetando-se, c o m o acordo, u m a dívida d e R S 7 5 0 bilhões e m setembro d e 2 0 0 2 (53,2%

do PIB). E s s a dívida, n o início d o primeiro período F H C , era d e R $ 152 bilhões, 3 0 , 4 % d o PIB.

C o m u m m od el o d e ajuste fiscal d e superávits primários o c u p a n d o o primeiro plano na agenda, cortes d e direitos, d e benefícios sociais, de ener­

gia elétrica atingem os cidadãos. E m 1999, 2000, 2001 as Leis d e Diretri­

zes Orçamentárias já continham a obrigação d e produzir superávits. C o m a Lei d e Responsabilidade Fiscal (Lei C o m p l e m e n t a r n. 101, d e 2000), m etas fiscais duríssimas p a s s a m a condicionar a a çã o pública. N o limite, é crimi­

nalizada a gestão pública q u e n ã o as cumpre. M a s o resultado primário, no entanto, não t e m sido repassado às necessidades sociais d e saúde, e d u ­ cação, segurança, justiça, previdência, transporte, m ei o ambiente, traba­

lho etc., s e n d o destinado a o p a g a m e n t o da dívida (ANFIP, 2001).

A Lei d e Diretrizes Orçamentárias (LDO), q u e define a s linhas bási­

cas para o a n o d e 2002, insere-se n esse m o d e l o d e ajuste. E n c a m i n h a d a visando a gerar R S 31 bilhões de saldo das receitas e m relação às d e s p e ­ sas para abater os juros d a dívida, sua tramitação n o Parlamento sofre resistência d a s oposições. Estas p r o p õ e m redução d o resultado primário d e R S 31 bilhões para R S 6 bilhões, c o m a diferença d e R $ 2 5 bilhões destinada a o reajuste d o salário mínimo, servidores públicos, c o m b a t e à (3) S ã o as reformas Administrativa, d a Previdência {já aprovadas) e a do Judiciário (em andamento).

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s ec a e investimentos n o setor energético. O governo, a o a rg u m e n t o de q u e haveria fuga d e capitais estrangeiros, pressiona os deputados d a base governista para aprovarem o projeto. E o b t é m êxito. Depois, n ov o acordo c o m o F M I amplia as metas, tudo n u m m o m e n t o e m q u e séria crise ener­

gética a m e a ç a a população c o m racionamento, multas e a p a g õ e s (4>. A p e ­ sar disso, a o n d a d e privatização s e g u e s eu curso. O Projeto d e Lei n.

4.147/01, q u e privatlza os serviços d e á g u a e esgoto — c o m p r o m i s s o incluído n o M e m o r a n d o d e Política E c o n ô m i c a e n c a m i n h a d o a o F M I — é m e t a d o governo'51.

A pe sa r d o ajuste fiscal e das reformas subordinadas às diretrizes do FMI, n a sua grande maioria aprovadas, ampliam-se o desemprego, o traba­

lho informai, a concentração d e renda, a faita d e moradia, a miséria, a vio­

lência n o c a m p o e nas cidades. O d e s e m p r e g o e a informalidade p r o v o c a m q u e d a n a contribuição à Previdência Social. Q u e d a essa q u e v e m s e n d o u s a d a c o m o justificativa para que, n a reforma, s uprimam-se benefícios e reduzam-se direitos e serviços à sociedade, atingindo os q u e mais n eces­

sitam. U m a verdadeira desordem(S> acirra as inseguranças n o m u n d o do trabaiho. E m d a d o s d o I 8 G E d e 1999, 5 8 % da população insere-se no m e r ­ c ad o de forma precária. Hoje, os d a d o s são ainda mais assustadores. A s taxas de d e s e m p r e g o nas regiões geográficas brasileiras são, n o mínimo, o dobro das apuradas no final dos anos 80. S e g u n d o dados do I B G E (PME), o d e s e m p r e g o pulou d e 1,8 milhão (3%) para 7,6 milhões (9,6%) d e pessoas.

Já pelos d a d o s d o Dieese/Seade, o índice saltou d e 8,9, e m 1 98 9 para 17,8 e m out./2001. D o s 13,6 milhões q u e ingressaram n o m e r c a d o de tra­

balho n ad a m e n o s d o q u e 5,1 milhões sobraram {Pochmann, 2001 ). O acrés­

cimo dos postos d e trabalho não assalariados provoca mais precarização, gerando mais insegurança.

O crescimento da insegurança está, t a m b é m , relacionado c o m as ini­

ciativas políticas d o Poder Executivo Federal d e introduzir u m a série de med id as q u e contribuem para desregulamentar direitos e flexibilizar as re­

lações d e trabalho, tais c o m o o fim da política salarial, a reforma previden- ciária, a participação nos lucros d e resultados, o b a n c o de horas, o contra­

to por prazo determinado, o trabaiho aos domingos, as comissões prévias d e conciliação, o afrouxamento do sistema de fiscalização etc. Portanto, o governo F H C sinaliza u m a redefinição d o papel d o Estado nas relações de trabalho, c o m o está expresso e m sua proposta d e alteração d o artigo 618 d a CLT, b us ca nd o fazer prevalecer o negociado sobre o legislado, n u m con­

texto extremamente desfavorável aos trabalhadores e às suas organizações.'651 456 (4) U m a análise sobre a crise d e energia p o d e ser lida no sile (www. ilumina.org.br) sob o título:

"Crise d e energia — mosaico d e equívocos".

(5) Deputados oposicionista tentaram obstruir a votação d a L D O , e m regime d e urgência. E m entrevista coletiva, exp usera m os riscos d a perda d a titularidade dos municípios, acaso aprovado o P U n. 4.147/01. q u e privatiza o abastecimento d e á g u a e d e esgoto n o pats,

(6) Cí. Maitoso, Jorge. "A d e s o r d e m d o trabalho", S ã o Paulo: Scritta, 1995; e “E m p r e g o e concor­

rência desregutada". In Oliveira, Carlos Eduardo Basbosa; Maitoso, Jorge (Org.) “Crise d o Traba­

lho n o Brasil: modernidade o u volta a o passado?", S ã o Paulo: Scritta, 1996.

(6a) O projeto d e lei que alterava o art. 618 d a C L T (oi retirado pelo governo Lula d o Senado.

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N e s s e cenário, a natureza das reivindicações dos trabalhadores des­

loca-se para a m a n u t e n ç ã o dos postos de trabalho e para a preservação d e direitos vigentes, evidenciando u m a clara tendência defensiva n o c a m ­ p o d a negociação coletiva. Alguns acordos coletivos p a s s a m a conter cláu­

sulas lesivas a direitos171. S e g u n d o o Dieese, a partir de 1995, h á q u e d a progressiva do n ú m e r o d e categorias profissionais que, e m suas negocia­

ções coletivas, t ê m assegurada a recomposição d o poder aquisitivo dos salários. D e acordo c o m o seu a c o m p a n h a m e n t o , e m 1 99 5 praticamente todas as categorias conseguiram reajuste salarial equivalentes à evolução dos índices d o custo de vida a c u mu la do s no período de vigência tío regra­

cíenlo normativo anterior. J á e m 1996, 4 0 % das categorias n ã o o b t ê m s e ­ quer a reposição da inflação passada; percentual esse que, e m 1997, cres­

ce para 4 5 % , caindo, e m 1998, para 3 2 % (S|. E m 1999, n o entanto, volta a aumentar o n ú m e r o das que n ã o c o n s e g u e m recompor o poder d e c o m p r a dos salários, ficando e m torno d e 5 0 % 78(9) 10. E m 2000, h á p e q u e n a recupera­

ção salarial. Portanto, s e g u n d o o Dieese, a pó s o Plano Real, as catego­

rias t ê m enfrentado dificuldade de manter ou elevar o p oder de c o m p r a d o s salários e m suas negociações. A i é m disso, o valor d o salário fixo é rebaixado {Dieese, 1999:13). O desrespeito a o s direitos amplia o n ú m e r o das a ç õ e s ajuizadas, abarrotando, ainda mais, o já sobrecarregado Judi­

ciário do Trabalho.

É n e s s e contexto q u e o t e m a d a s cooperativas adquire importância, adquirindo terreno fértil para s u a expansão. E x p a n s ã o e ss a q u e v e m s e n ­ d o analisada d e forma distinta por especialistas e m m e r c a d o d e traba­

lho1'01. A seguir, s e procurará definir o q u e são cooperativas, fazendo-se u m a distinção entre as diversas formas existentes para, depois, refletir sobre o s e u significado n o Brasil do ponto d e vista d o e m p r e g o e dos direitos conquistados.

2.2. A s cooperativas: a s p e c t o s importantes

Cooperativismo é u m ato d e solidariedade. N ã o é solução mágica para o problema d o desemprego. C o o p e r a ç ã o remele à colaboração, ao trabalho e m c o m u m . O cooperativismo é informado por certos princípios, entre eles: a união para a busca d e objetivos comuns; a idéia d e e m a n c i p a ­ ção; iniciativa própria; eliminação d o lucro; m u d a n ç a social; continuação. A cooperativa, portanto, baseia-se e m valores d e ajuda mútua, solidarieda­

de, democracia, participação e igualdade, diferenciando-se por ser u m a associação d e pessoas. A s cooperativas de trabaibo constituem força i m ­ portante na Europa, e m países c o m o E s p a n h a e Itália {ex.: M o d r a g o n Coope- (7) Por exemplo, a q u e permite renúncia à estabilidade d a gestante, o q u e tem provocado ajuiza- m en to d e ações coletivas e m que sindicatos d e trabalhadores p e d e m a nuliticaçâo das cláusulas, por abusivas.

(8) A p ou ca expressividade d a inllaçâo contribuiu para aumentar a proporção d e categorias que conseguiram garantira recomposição dos saiários n o período (Dieese, 1939).

(9) S e g u n d o o Dieese, 1999 toi o pior anos das negociações coletivas, nos a n o s recentes.

(10) Ver Fernandes, Fátima; Rolli, Cláudia. "Cooperativas disfarçam crise d o emprego". JornaI Folha de S ã o Paulo, 7 abr. 2002, pág, B-1 (Dinheiro).

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rative Corporation, u m dos mais importantes grupos cooperativos n a E s p a ­ nha, originado n o Pais Basco). T od a e qualquer discussão sobre as c o o p e ­ rativas d e trabalho exige, inicialmente, se faça u m a distinção entre as di­

versas formas existentes: o u seja, u m e x a m e das tipologias1" 1:

a) cooperativas d e p r o d u ç ã o coletiva, mais c o m u n s d a Iugoslávia.

N o Brasil, surgiram, d e h á pouco, as Cooperativas d e Produção A g r o p e ­ cuária — C PAs, originárias dos processos d e assentamento pelo M S T ;

b) o r g an iz aç õe s comunitárias d e trabalho, c o m o o s Kibutz, e m Israel;

c) cooperativas d e trabalho, q u e dispõem d e capital, equipamentos e instalações industriais próprias, produzindo e m suas instalações bens e ser­

viços, s e m d e p e n d e r d e u m t o m a d o r específico. Reiacionam-se c o m o m e r c a d o para vender bens ou serviços produzidos: as mercadorias. E n q u a ­ dram-se aqui as cooperativas de produção agrícola, Industrial e artesanal;

d) cooperativas d e profissionais liberais, a utônomos, c o m o as U N I M E D s d o Brasil ou as U N I O D O N T O S ;

e) cooperativas d e mão-de-obra, q u e o p e r a m nas Instalações de outras e m p r e s a s q u e s e constituem as tomadoras de serviços. N ã o se rela­

c i o n a m n o mercado, pois n ã o p r o d u z e m b en s e serviços próprios, s e n ã o q u e d es lo ca m a força d e trabalho d e seus “cooperatlvados" para os t o m a ­ dores, beneficiários diretos de seus serviços. Ex.: cooperativas de catadores e de reciclagem d e lixo, d e jardineiros, d e safristas etc. É sobre esse tipo q u e residem os maiores problemas. T ê m , n a realidade, operado c o m o in­

termediadoras d e mão-de-obra. S e g u n d o matéria veicuiada pelo Jornal Folha de S ã o Paulo, o Ministério d o Trabalho, conquanto considere o c o o p e ­ rativismo u m a saída, afirma q u e pretende intensificar a fiscalização no s e n ­ tido d e evitar a "escamoteação d a quebra dos direitos trabalhistas”, por­

quanto há e m p r e s a s q u e se titulam cooperativas d e mão-de-obra m a s que, n a realidade, s ã o prestadoras d e serviços q u e fornecem trabalhadores para certo tipo d e produção, o q u e n ã o se s u b s u m e no ideário d o cooperativis­

mo, s e n d o terceirização d e serviços, ao arrepio d e Lei n. 5.764/71, que regulamenta as cooperativas1'21.

A promulgação d a Lei n. 8.949, d e 12 de d e z e m b r o d e 1994, q u e introduz o parágrafo único ao artigo 4 4 2 d a CLT, v e m c a u s a n d o perplexida­

des no melo sindical e entre operadores jurídicos a o afirmar n ã o existir vínculo de e m p r e g o entre as cooperativas e seus associados, e entre estes c o m os tomadores dos serviços e das sociedades cooperativas. E s s a reda­

ç ã o t e m propiciado fraudes a direitos dos trabalhadores. N a área rural, al­

g un s “especialistas" p a s s a r a m a afirmar que, a partir d essa alteração, os e m p re ga do re s rurais estariam livres dos “problemas e riscos até então exis­

tentes". Sindicatos e Federações Patronais d a área rural, notadamente e m 1112 (11) C(. Tipologia apresentada por Perlus, Vergílio. "As cooperativas d e trabalho: alternativas de trabalho e renda", fíevlsla LTr, vol. 60, n. 3, m ar ço d e 1996, págs. 339-346.

(12) Organização p o d e burlar direitos trabalhistas. Folha d e S ã o Paulo. 2 0 out. 99, pág. 2-1 (Dinheiro).

(8)

S ã o Paulo, c o m b as e nessas interpretações, p a s s a r a m a “recomendar" a constituição de Cooperativas de Trabalhadores Rurais, n o Intuito d e reduzir as d e m a n d a s trabalhistas e o custo d o trabalho1'31,

A Confederação dos Trabalhadores na Agricultura — C O N T A G e a C o m i s s ã o Pastoral d a Terra — CPT, t ê m feito duras críticas a o novo dispo­

sitivo da CLT, por ampliar a cisão entre trabalhadores e acirrar a exclusão social, reivindicando sua revogação (há projetos d e lei nesse sentido, c o m o s e verá e m outro item). N o m el o urbano, sindicatos, federações e centrais sindicais, tanto a C U T c o m o a Força Sindical, c ad a u m a c o m suas especi­

ficidades e visões d e m un do , o lham c o m preocupação o problema d a frau­

de. Mais atualmente, sindicatos, a rmando-se contra o d e s e m p r e g o e cien­

tes d e q u e cooperativas d e mão-de-obra estão s e n d o constituídas c o m o verdadeiras "coopergatos”, t ê m organizado departamentos para orientar s eu s associados q u e b u s c a m esse tipo d e organização1’41.

M a s o q u e se questiona é se as cooperativas — aqui consideradas as cooperativas de mão-de-obra, não de produção — p o d e m ser u m a alterna­

tiva para fazer frente à anomia, à inação d o Estado que, n a crise, perde, empiricamente, sua capacidade reguladora. Mais especificamente, se são u m a alternativa para o problema do d e s e m p r e g o e se, d e antemão, impor­

t a m fraude a direitos dos trabalhadores. Q ua nt o à fraude, ainda, se a orga­

nização dos cooperativados e m sindicatos próprios poderia coibi-la. Q u e s ­ tões q u e este artigo busca enfrentar.

2.3. A e x p a n s ã o d a s cooperativas d e m ã o - d e - o b r a n o Brasil É expressiva a expansão das cooperativas no Brasil, especialmente as d e trabalho, operando c o m o Intermediadoras d e mão-de-obra. Apesar d a precariedade d e d a d o s sobre essa expansão, sua proliferação nos anos recentes é visívef. Evidências empíricas indicam n ão estarem concentra­

das s o m e n t e e m setores m e n o s dinâmicos d a economia, c o m o as 'cooper­

gatos’ d o setor agrícola e d e vestuário, alastrando-se e m setores q u e ofe­

r e c e m mão-de-obra qualificada, c o m o centros de processamento de d ados d e bancos, serviços d e engenharia etc. A pe sa r d a diversidade das c h a m a ­ das experiências d e cooperativismo e s e m d esmerecer o mérito destas, deve-se considerar o papel dessas cooperativas n o processo d e desestru- turação d a s relações d e e m p r e g o formais e do n ã o acesso a o s direitos decorrentes d o contrato de emprego.

S e g u n d o a O C B — Organização d o Cooperativismo no Brasil, o n ú ­ m e r o de cooperativas d e mão-de-obra cresceu d e forma fantástica nos anos 90. S o m e n t e entre 1 99 8 e 2001, o n ú m e r o de cooperativas cadastradas e m seus registros saltou d e 1.334 para 2.391, conforme tabela abaixo. Outra evidência d o referido crescimento está nas organizações próprias, vincula- 1314 (13) Ibiüem.

(14) J á a Federação das Cooperativas de Trabalho d o R S — Regional d e Ijul — F E T R A B A I H O , por exemplo, e m reunião d e 9 d e agosto d e 1995, decidiu pela m a n utenç ão d o dispositivo d a C L T e pela atuação política e m lavor d o q u e e n t e n d e m tenha sido u m a conquista para o segmento cooperativo.

(9)

330 REVISTA D O T R T D A 15a R E G I Ã O — N. 23 — S E T E M B R O , 2003

das à O O B , criadas n o s e g m e n t o d as cooperativas d e trabalho, c o m o a C O O T R A B A L H O e entidades estaduais, c o m o a Fetrabalho-SP etc.|IS|. É o setor d e cooperativas q u e mais cresce no Brasil, s e g u n d o a O C B .

A o m e s m o tempo, ampliam-se as denúncias d e cooperativas frau­

dulentas. O Ministério Público d o Trabalho, importante ator social, tem b u s c a d o coibir as 'coopergatos'. C o n q u a n t o se reconheça q u e a inclusão d o parágrafo único d o artigo 4 4 2 da C L T tenha propiciado a constituição d e cooperativas fraudulentas s o b o e s c u d o d a lei, s u a expansão, n o e n ­ tanto, n ã o p o d e ser atribuida unicamente a esse fato. Inúmeros outros fatos, cuja análise e sc ap a aos propósitos deste artigo, a incentivam. A p r o pa ga çã o é evidente, c o m o se p o d e observar das informações contidas n a tabela a seguir, c o m implicações para o m e r c a d o e para a s relações d e trabalho n o país.

Tabeia 2. N ú m e r o d e Cooperativas, C o o p e r a d o s e E m p r e g a d o s , por S e g m e n t o

{Base: 31 d e d e z e m b r o d e 1 9 9 8 e 2001)

Segmentos

Número de Cooperativas

Número de Cooperados

Número de Empregados

1996 2001 1998 2001 1998 2001

Agropecuário 1.408 1.587 1.028.378 822.294 107.086 108.273

Consumo 193 189 1.412.664 1.467.386 8.017 7.676

Crédito 890 1038 825.911 1.059.369 5.800 20.680

Educacional 193 278 65.818 73.258 2.330 2.720

Infra-estrutura 187 187 523.179 576.299 5.161 5.431

Especial — escolar 4 7 1.964 2.064 6 6

Habitacional 202 297 46.216 69.668 1.226 1.375

Mineração 15 37 4.027 48.481 24 34

Produção 91 147 4.372 9.892 35 348

Saúde 585 863 288.929 327.191 15.443 21.426

Trabalho 1.334 2.391 227.467 322.735 5.057 7.443

Total 5.102 7.021 4.428.925 4.779.147 150.185 175.412 Fonte: OCB/DETEC/Banco de Dados, http://www.ocesp.org.br/jnoticias.htm

E s s a realidade t e m importado reflexos n o n ú m e r o e no conteúdo das a ções ajuizadas perante a Justiça d o Trabalho, c o m o se verá depois. Ainda q u e n ã o se p ossa atribuir a pe na s à alteração legislativa o f e n ô m e n o da e xp an sã o das cooperativas, especialmente as d e mão-de-obra, n ã o se p od e deixar d e reconhecer q u e a aprovação d a Lei n. 8.949/94 incentivou os trabalhadores a se organizarem para a prestação d e serviços e execução de trabalhos e m geral. E ss a lei introduz, no artigo 4 4 2 da CLT, u m parágra- 15 (15) A organização das cooperaiivas d e trabalho p o d e ser encontrada no sita d a O C B (www.

ocb.org.br).

(10)

ío único. Este, afirma inexistir vínculo d e e m p r e g o entre associados e a cooperativa e, ainda, entre a cooperativa e o tomador dos serviços. Esse dispositivo reproduz a regra d o artigo 9 0 d a Lei n. 5.764/71, q u e define a Política Nacional de Cooperativismo e institui o regime jurídico das socie­

d a d e s cooperativas, e q u e estabelece: Qualquer que seja o tipo de coope­

rativa, não existe vinculo empregaticio entre ela e seus associados. N o entanto, a inclusão n a C L T propiciou a ampliação d a fraude, c o m escudo n a lei. Muitos trabalhadores perderam o status formal de empregados, pas­

s a n d o a “sócios” d e cooperativas. C o m o “sócios”, n ão t ê m suas carteiras d e trabalho registradas, não lhes s endo assegurados básicos direitos c omo:

férias, 13® salário, d es ca ns o sem an ai remunerado, FGTS, previdência s o ­ cial. Por outro iado, deixam de pertencer à categoria profissional original.

C o m a supressão d esse vínculo social básico, vantagens decorrentes de negociações coletivas ou sentenças normativas não mais lhes são alcan­

çadas. C o m esse deslocamento, além d a perda d a condição d e sujeito e m p r e g a d o e dos direitos decorrentes, no limite é a própria organização dos trabalhadores q u e se fragiliza.

A pe sa r d essa alteração ter sido b a s e a d a e m proposta q u e buscava responder a u m a d e m a n d a dos setores populares q u e v in ha m desenvol­

v e n d o experiências de organização d e cooperativas, especialmente no meio rural, teve c o m o 'efeito colateral' uma verdadeira avalanche d e Iniciativas empresariais d e criação de cooperativas ‘fantasmas’1’8'.

Para as e m p r e s a s tomadoras dos serviços dos “cooperativados”, a alteração representa uma possibilidade d e contratar trabalhadores, de cuja mão-de-obra necessitam, via interposta pessoa jurídica (a cooperativa), s e m o custo dos encargos sociais. Para as cooperativas, q u e a t u a m c o m o loca­

doras de mão-de-obra, u m m ei o de obter lucro c o m a “locação” q u e inter- m ed ia m, Para os trabalhadores, por u m lado, a continuidade d a prestação dos serviços, mas, por outro, a supressão d e direitos assegurados. N e s s e sentido, apesar d e n ã o ter sido d e iniciativa d o Executivo, essa lei t e m c o n ­ tribuído para flexibilizar o m e r c a d o de trabalho e reduzir o custo d a força d e trabalho. E m termos objetivos, t e m importado desregulamentação d e direi­

tos assegurados n a lei e nas negociações coletivas.

Por certo, numa sociedade q u e s e fragmenta, s ã o importantes as ini­

ciativas q u e b u s q u e m reconstruir os rompidos laços d e solidariedade. N o (I6)"0acfos oficiais indicam a existência d e 1.ZOO cooperativas oficiais, que reúnem cerca d e 400 mil cooperativados. Entretanto, o governo estima q u e d e v e m atuar n o pais quase 1.000 organiza­

ções fantasmas que não recolhem encargos trabalhistas, prática q u e ocorre, principalmente, no setor d e conservação e limpeza, vigilância, hospitais e n o campo. D e acordo c o m as estatísticas d o Instituto d e Cooperativismo e Associativismo — ICA, o n ú m e r o d e cooperativas, até 1995, era d e 3.784 c o m 3,5 milhões d e cooperativados e m todo o Brasil. C o n forme denuncia AtmirPazzia- nolto, ex-Presidente doT ST, à é po ca Ministro Corregedor Geral d a Justiça d o Trabalho: S e g u n d o inbrmaçôes recentes, e m u m a única organização afuaníe n o Estado de S ã o Paulo encontram-se cadastrados cerca de ISO mil trabalhadores, todos eles supostamente cooperados, postos â dis­

posição de organismos públicos e de empresas privadas para atividades urbanas e rurais, ao desabrigo das mais elementares garantias da lei. S ã o pessoas que trabalham e m colheitas, vigi­

lância e conservação, indústria, comércio, escritórios e até c o m o servidores públicos [Pazzinanotto, Almir."Q tim d o emprego", Boletim do Diap, janeiro d e 1998).

(11)

332 REVISTA D O T R T D A 155 R E G I Ã O — N. 23 — S E T E M B R O , 2003

entanto, estas não se p o d e m sobrepor à a çã o d o Estado n a construção de políticas públicas e e m planejamentos q u e t e n h a m por objetivo o b e m co ­ m u m e, por pressuposto, o crescimento econômico, a retomada d o pleno emprego, a distribuição de rendas e, sobretudo, a construção de u m a s o ­ ciedade mais igual. S ã o considerações importantes q u a n d o s e indaga s o ­ bre o papei q u e p o d e m d e s e m p e n h a r as cooperativas, específicamente as d e mão-de-obra, diante da grave crise d e e m p r e g o no país. N ã o estariam elas contribuindo para ampliar as inseguranças no m u n d o d o trabalho”7', colaborando, ainda, c o m o processo de desconstituição d o sujeito traba­

lhador brasileiro, tardíamente constituído?

3. D E S E N V O L V I M E N T O E C O N O M J C O B R A S I L E I R O E A S C O O P E R A T I V A S D E M A O - D E - O B R A

O Direito do Trabalho, c o m o os d em ai s r a m o s d o Direito, é produto das relações sociais. S u a fonte material localiza-se e m profundos conflitos de classe, c omo, por exemplo, as insurreições proletárias d e Paris, e m 1848;

as lutas sociais n a Espanha, impulsionando o Código Civil Espanhol de 1889; a Revolução Mexicana, d e 1910; e a Revolução Russa, d e 1917, m o v im en to s q u e d e s p e d a ç a r a m o princípio d a igualdade formal c o m o fun­

d a m e n t o d a o r d e m jurídica.

N o Brasil, o reconhecimento d o trabaihador c o m o sujeito de direitos se d á tardiamente. S e g u n d o Wandellii's>, ao ser construída a n ação brasi­

leira tratava-se, entre escravos e “h o m e n s iivres" nacionais, de inventar u m sujeito até então inexistente; o trabalhador livre brasileiro, elemento fun­

damental para a constituição de outro q u e estava por ser inventado: o p o v o brasileiro. Estratégias foram desenvolvidas e m torno d e imigração e da substituição do trabalho escravo n o Brasil d o século XIX. N a perspectiva já tardia d e ser abolida a escravidão, clamava-se por u m a "boa lei d e locação d e serviços” q u e “enquadrasse" n ã o s ó o s estrangeiros, c o m o , sobretudo, os nacionais, libertos e ingênuos, a o n d a de negros e expropriados, vicio­

sos e vadios q u e tanto a m e a ç a v a m as elites”9'.

D a locação de serviços, n o Código Civil, a o status d e sujeito d e direi­

tos assegurados e m regramento próprio, muitos os p a n o s para as m an ga s.

N u m processo difícil e lento, foi s e n d o m o l d a d o esse trabalhador brasileiro, c o m direitos que, n ã o s e m lutas e tensões, são Consolidados; b e m mais tarde, verticalizados pela Constituição de 1988. Nasce, n o Brasii, o Direito d o Trabalho, informado por princípios próprios. Estes, sua razão de ser. U m Direito que, r o m p e n d o c o m a iógica d a igualdade d a s partes, parte d o pres- 171819 (17) Cf. Maltoso, Jorge. “A d e s o r d e m d o trabalho", op. cit. Matloso, analisando as inseguranças no m u n d o d o trabalho, aponta para u m conjunto crescente delas: a) insegurança d o emprego; b) da renda; o) n a contratação; e d) na representação do trabalho, c o m redução dos niveis d e sindicali- zação e das práticas d e conflito.

(18) Cf. Wandelli, Leonardo We/ra.“A invenção do trabalhador livre n o Brasii", Curitiba, 2001, semi­

nário para programa d e mestrado e m Oirerto, U F P R — Universidade federai d o Paraná, s. ed.

(19) Ibitíem.

(12)

suposto da desigualdade. E que, através d a proteção jurídica, b usca c o m ­ pensar a desigualdade econô mi ca desfavorável a o trabalhador, n u m a ten­

tativa de mitigar o desequilíbrio inerente à relação de e m p r e g o presente n u m sociedade capitalista. Para dar efetividade aos direitos assegurados aos trabalhadores e às suas organizações coletivas, nasce a Justiça do Trabalho dentro do arcabouço institucional criado no Governo Vargas. Seu f un damento último: garantir a regulação pública do trabalho.

D a CLT, e m 1943, até a Constituição de 1988, são incorporados ao ord en am en to jurídico brasileiro direitos assegurados peias d en o m i n a d a s

“n aç õe s civilizadas”. Depois d a Constituição d e 1988, muitas m u d a n ç a s o co rr em 120’. O s ventos liberais q u e s o p r a m forte a partir dos a no s 9 0 e, c o m mais eficácia, no último governo F H C , trazem d e volta idéias velhas, c o m roupa ge ns novas. R e f o r m a s liberalizantes, desregulamentação, flexibili­

z a ç ã o d e direitos fazem parte da a g e n d a oficial. A possibilidade d a "reden­

ção" d o trabalhador “livre e liberto” é transportada para o mercado. N o iní­

cio d o século XXI, trata-se d e (des) inventar aquele sujeito que, inexistente n o final d o século XIX, buscava-se construir: o trabalhador livre brasileiro, elemento fundamenta! para a constituição d o cidadão brasileiro'21’. N e s s e processo, a Justiça do Trabalho v e m perdendo eficácia'22’. A C L T é forte­

m e n t e a me a ç a d a ' 231.

C o m o pífio d e s e m p e n h o d a e co no mi a brasileira nas últimas duas décadas, reforça-se a tese d a necessidade das reformas liberais n o m u n d o cio trabalho. O d e s e m p e n h o d o m e r c a d o d e trabalho nacional nos anos 90, m a r c a d o pela e n o r m e redução d e sua capacidade d e absorção d e mão-de- obra, é ponto nevrálgico d a elevação dos níveis d e d e s e m p r e g o e d a infor­

malidade n o país. D e s d e a recessão d o período 1990-1992, dos efeitos iniciais d a abertura d a e co no mi a e do processo d e reestruturação por parte d a s empresas, o nível d e emprego, particularmente n a indústria, apresenta q u e d a acentuada. A o contrário d o q u e muitos imaginavam, essa q u e d a não foi c o m p e n s a d a pelo setor terciário, responsável pela geração da maioria dos postos d e trabalho a o longo d a década. O processo d e recuperação dos níveis d e atividade econômica, registrado nos m e a d o s da década, n ã o se traduziu c o m a m e s m a intensidade na recuperação d o nível d e emprego.

Este continuou a apresentar grandes oscilações, c o m tendência de q u e d a ao longo do período.

E ss a circunstância a ca bo u por agravar a situação no m e r c a d o d e tra­

balho. S o m a d a s a essas constatações quantitativas, referentes a o baixo d in a m i s m o d a e c o n o m i a brasileira na geração d e novos postos d e trabalho (20} Ver, Kr&in, José Dsri. “A relorma Irabalhisla d e F H C e sua efetividade”, CESIT, S ã o Paulo,

2 0 0 2, s.ed.

(21) N u m a referência a Wandeili, antes citado.

(22) Contratos Temporários, alteração d o prazo prescricional para o rural, modificação d a regra d o seu artigo 467, Com issõe s Prévias d e Conciliação, definição d e não salário para parcela que salário é, perda d e 10 minutos diários n o salário (contagem das horas extras), terceirizações, entre outras.

(23) Refere-se â proposta d o executiva que aftera o artigo 6 1 8 d a CLT, estabelecendo a suprema­

cia d o negociado sobre o legislado.

(13)

334 REVISTA D O T R T D A 15* R E G I Ã O — N. 23 — S E T E M B R O , 2003

e a consequente elevação do desemprego, a experiência brasileira dos anos 9 0 indica m u d a n ç a s qualitativas no m e r c a d o d e trabalho. Veja-se a tabela a seguir:

Tabela 3. Distribuição d o s o c u p a d o s entre 1 9 8 8 e 1999 dez. 1 98 8 {%) j un . 1 9 9 9 (%)

Assalariado c o m carteira 59,5 44,7

Assalariado s e m carteira 18,4 26,9

C onta própria 17,7 23,5

E m p r e g a d o r e s 4,4 4,9

Fonte: I B G E / P N A D , 2001

Por u m lado, a redução do e m p r e g o formal é m arca do período recente, conforme tabela acima. Por outro, o crescimento d a participação dos e m ­ pregos s e m registro formal e dos o cu pa do s por conta própria, na c o m p o s i ­ ç ã o d a o c u pa çã o total, são, t a m b é m , m a r c a s profundas d o processo de precarização das relações d e trabaibo, c o m reílexos importantes sobre a renda do trabalho e no acesso aos direitos sociais fundamentais por parte dos trabalhadores. N a realidade, a ausência d e crescimento econômico, conju ga da a u m processo de abertura comercial abrupta e d e reestrutu­

ração industrial, importou mais desemprego, q u e d a n a qualidade das o c u p a ­ ções geradas e crescentes dificuldades do m e r c a d o d e trabalho absorver o s jovens trabalhadores recém-chegados e as p es so as q u e c o m p õ e m a força d e trabalho nacional.

N e s s e cenário desolador, o cooperativismo — na sua essência, u m ato d e solidariedade b a s e a d o nos valores d a ajuda mútua, responsabilida­

de, democracia, igualdade — p assa a ser sugerido c o m o u m a alternativa.

E a s cooperativas, conquanto n ã o sejam soiução m ág ic a para o problema d o d e s e m p r e g o e d a s deformidades históricas d o m e r c a d o d e trabalho bra­

sileiro, p a s s a m a concorrer, n a prática, c o m as e m p r e s a s “terceirizadas”1241.

Fraudes e Ilegalidades, no entanto, v ê m s endo denunciadas. H á casos e m q u e as próprias e m p r e s a s beneficiárias dos serviços d e s p e d e m seus e m ­ pregados, mantendo-os, porém, c o m o "cooperados". D e s s a forma, p a s s a m a contar c o m mão-de-obra mais barata.'251

N o plano jurídico, h á controvérsias quanto à e xe ge se d o parágrafo único do artigo 4 4 2 d a CLT. G r a n d e parte dos acórdãos examinados, q u a n ­ d o evidenciada simulação q u e encobre e figura d o rea! empregador, afas­

t a m os d ados formais, reconhecendo a condição d e e m p r e g a d o s dos “coope- rativados" e a relação d e e m p r e g o destes c o m as tomadoras dos serviços. 2425 (24) Cl. "Cooperativa tira espaço d e terceirizadas", Jornal Folha de S ã o Paulo, 7 abr. 2002, pág. B- 4 (Dinheiro).

(25) Cl. M a n e i o Mauad, a d v ogado trabalhista. In "Falsas cooperativas fazem intermediação ilegal d e mão-de-obra", Folha de S ã o Paulo. 7 abr. 2002, pág. B-3 (Dinheiro).

(14)

responsabilizando, solidária ou subsidiariamente, as cooperativas contra­

tantes. Ou, então, r e c o n h e c e m a relação d e e m p r e g o diretamente c o m as cooperativas, responsabilizando a s tomadoras dos serviços. Outros, e m b e m m e n o r número, independentemente da natureza dos serviços presta­

dos, n e g a m a relação d e e m p r e g o e m face d o parágrafo único d o artigo 4 4 2 d a CLT, c o m o se verá n o item seguinte.

N o plano legislativo, a visível deturpação dos objetivos d a lei motivou a apresentação, pelo deputado Aloysio N u n e s Ferreira, do Projeto d e Lei

— P L n. 2.226/96, n ú m e r o na C â m a r a dos Deputados — propondo a revo­

g a ç ã o do parágrafo único d o artigo 4 4 2 da CLT. E ss e projeto, aprovado na C â m a r a dos Deputados, tramita n o S e n a d o Federal — P L n. 31/97 — , es­

tando d e s d e 12 m a r ç o de 2 0 0 2 na C o m i s s ã o d e Assuntos Econômicos. O parecer d o S e n a d o r J oñas Pinheiro, n a C o m i s s ã o d e Assuntos Sociais, ressalta q u e a liberalidade na legislação t e m encorajado a proliferação de cooperativas de fachada, avaliando que:

Conhecidas como ‘gato-cooperativas’, são instituídas sem o cumprimento dos pré-requisitos básicos definidos na legislação coope­

rativista, num processo distorcido e condenável, pois muitas delas visam burlar a legislação trabalhista e previdenciária e a se valerem das isenções tributárias atualmente concedidas às cooperativas.

E ss e e sp aç o n a lei, acrescenta, tem provocado desgastes n a i ma­

g e m d o m ov i m e n t o cooperativista brasileiro, c o m prejuízos à União, à Pre­

vidência Social e aos Estados e Municípios pela evasão d e arrecadação, mas, especialmente, t e m prejudicado os trabalhadores, afirmando ele que os princípios e condições de vinculação de trabalho d e v e m ser inseridos n a legislação q u e dispõe sobre a Política Nacional d e Cooperativismo:

E m muitos casos, as cooperativas de fachada são utilizadas, na prática, para substituir antigos empregos e relações empregatícias dos trabalhadores por outras mais precárias, privando os empre­

gados das mais elementares garantias trabalhistas, bem como o se­

tor, de poder gerar novos postos de trabalho.

E conclui que, d essa forma, se estará criando condições para que os trabalhadores possam se valer das cooperativas de trabalho e ter neías uma importante opção de trabalho e renda, com regras claras e definidas.12®

J á o Projeto d e Lei d e autoria do deputado José Carlos Coutinho, do P F L — P L n. 63.690 — , lido n a C â m a r a dos Deputados e m 2 0 d e m a r ç o de 2002, propõe seja modificado o parágrafo único do artigo 4 4 2 d a C L T para ser caracterizada c o m o de e m p r e g o a relação q u e se estabelece q ua nd o d a prestação de serviços às cooperativas. S e u s pressupostos são, portan­

to, distintos dos q u e informam o Projeto de Lei antes referido, contrapondo- 26

(26) Jornal do Diap, jan. 1998.

(15)

336 REVISTA D O T R T D A 15* R E G I Ã O — N. 23 — S E T E M B R O , 2003

se, ainda, às tendências das decisões dos Tribunais d o Trabalho q u e afir­

m a m a existência da reíação de e m p r e g o q u a n d o desvirtuados os princí­

pios do cooperativismo e evidenciada a simulação que, n o Direito do Traba­

lho, é instrumento d a fraude.

É forte a pressão d e alguns s eg m e n t o s sociais visando a que, n a via legislativa, operem-se alterações, cientes d e que, a lé m d e disfarçarem a crise d o emprego, falsas cooperativas d e mão-de-obra v ê m s e n d o criadas c o m o Intuito de fraudar direitos e reduzir os custos do trabalho.1271 Preocu­

p a d o c o m a proliferação dessas cooperativas, o Sindicato Nacional das Cooperativas do Trabalho apresentou a o Ministério Público d o Trabalho proposta para coibir suas atividades, sugerindo, Inclusive, a criação de agência reguladora para fiscalizar as cooperativas n o r a m o d o trabalho.

C o m a m e s m a preocupação, a O C B — Organização das Cooperativas Bra­

sileiras, elaborou sugestões para u m Projeto d e Lei q u e regulamente as cooperativas d e trabalho*281.

R e t o m a n d o - s e as questões lançadas no item 2.2, indaga-se e m q u e m e d i d a as cooperativas — especificamente as d e mão-de-obra — p o d e m significar alternativa real para o problema d o desemprego, n u m cenário d e anomia, e m q u e o Estado, empiricamente, parece perder s u a capaci­

d a d e reguladora. E, quanto à fraude a direitos dos trabalhadores, indaga-se se a organização dos cooperativados e m sindicatos próprios n ã o poderia coibi-la.

N o Brasil, surge a U N I S O L Cooperativas (União e Solidariedade), criada pelos metalúrgicos d a região do A B C , n a G r a n d e S ã o Paulo, reu­

nindo cooperativas d e trabalhadores e m indústrias d o país. L a n ç a d a e m n o v e m b r o d e 2001, congrega 4 0 0 trabalhadores d e d e z cooperativas do A B C e t e m por objetivo: organizar, representar e estimular o surgimento d e n ovas iniciativas b a s e a d a s n o princípio d a e c o n o m i a solidária, c o m o forma de enfrentar o des em pr eg o* 291. Trata-se de alternativa válida, consl- derando-se q u e são os próprios sindicatos profissionais q u e constituem entidades a eles vinculadas, s e m q u e o vínculo social básico seja (des) constituído. E s s e é u m pressuposto para q u e se p o s s a olhar d e forma positiva a questão.

N o entanto, s e a organização dos trabalhadores e m cooperativas de mão-de-obra visa à intermediação e, n o limite, à redução dos custos do trabalho, o intuito fraudatório fala por si só. N e s s e sentido, a criação de sindicatos próprios desloca o problema. S e n d o a simulação, n o Direito do Trabalho, instrumento d a fraude, s ã o nulos os atos praticados e m fraude a direitos assegurados (artigo 9fi da CLT). Assim, a lé m de estranha a sindica- lização própria de cooperativados, essas cooperativas n ã o teriam força para coibir ou impedir a fraude, na m ed id a e m q u e esta estaria localizada no 272829 (27) Fernandes, Fátima; Rotli, Cláudia. "Cooperalivas disfarçam crise d o emprego", Jornal Folha üa S S o Paulo, 7 abr. 2002, pág. B-1 (Dinheiro).

(28) ‘Legalistas' q u e r e m banir o s 'lora-da-Iei", Jornal Folha de S ã o Paulo, 7 abr. 2 0 0 2 (Dinheiro).

(29) Moreira, Marcelo. “Região d o A B C g an ha cooperativa", Folha de S ã o Pauto, 2 0 out. 99, págs.

2-1 (Dinheiro).

(16)

nascedouro d a própria relação de trabalho, s endo dela constituinte. A res­

posta é, portanto, negativa. Por outro lado, o afastamento d o suposto “coope- rativado" d e sua categoria profissional originai provoca rompimento d o vín­

culo social básico, n u m processo q u e acirra a cisão e fragiliza a organiza­

ç ã o coletiva dos trabalhadores. O u seja, além d e n ã o representarem alter­

nativa eficaz a o desemprego, afirmam a precarização, ampliando a s inse­

guranças d o m u n d o do trabalho. E os vínculos q u e se estabelecem, ainda q u e formalmente vistam r o u p a g e m outra, são d e emprego.

A s cooperativas d e mão-de-obra p o d e m até significar u m a solução precarizada para a lg um as pessoas individualmente, c o m substituição do e m p r e g o por u m a atividade s e m vínculo formal. M a s d o ponto d e vista m a ­ croeconômico, n ã o são u m a alternativa. N ã o é possível resolver o proble­

m a d o e m p r e g o através de cooperativas de mão-de-obra, pois a criação d e oportunidades d e trabalho está vinculada a o d e s e m p e n h o d a e c o n o m i a (investimento, c o n s u m o e gasto público) e à s opções políticas d e alocação d a s pessoas. Por outro lado, o desenvolvimento econô mi co n ã o decorre da criação das cooperativas de mão-de-obra e, muito menos, d a flexibilização das relações d e trabaiho, c o m o v e m demonstrando a experiência brasileira dos últimos anos. A solução está n o c a m p o d a política: a) d e privilegiar u m m o d e l o d e desenvolvimento q u e possibilite o crescimento e co nômico;

b) d e redistribuir o s g a n h o s d e produtividade, reduzindo a jornada d e tra­

balho e/ou ampliando o m e r c a d o d e c o n s u m o c o m u m a distribuição mais equitativa d a renda.

N e s s e sentido, a s tendências das decisões dos Tribunais, concluindo pela condição d e e m p r e g a d o dos supostos ‘'cooperativados” q u a n d o evi­

denciada fraude, p a r e c e m trilhar o cam in ho da afirmação d o sujeito traba­

lhador, c o m respeito aos seus direitos positivados na legislação vigente no país. S obre isso, v e r s a m o s a seguir.

4. A S T E N D Ê N C I A S D A S D E C I S Õ E S D E T R I B U N A I S R E G I O N A I S D O T R A B A L H O

S e o cooperado tem chefe, está subordinado a alguém, entrega seu produto e é remunerado, de que forma isso o diferencia do em­

pregado por excelência?(Marcelo Mauad, a d v o g a d o trabalhista)*30' A e x p a n s ã o d as cooperativas, analisada n o item 2.3, t e m reflexos expressivos na Justiça d o Trabalho quanto ao n ú m e r o e ao conteúdo das a ções ajuizadas. Muitos trabalhadores b a t e m às suas portas b u s ca nd o ver reconhecida a condição de empregados. D a s decisões proferidas pelas di­

versas T u r m a s dos Tribunais selecionados, observa-se u m a clara tendên­

cia: o reconhecimento d a condição d e e m p r e g a d o d o “cooperativado” ou

"cooperado" q u a n d o evidenciadas a simulação e a fraude a direitos. N e s s e sentido, constatada a figura do trabalhador por conta alheia, s e n d o allena- (30) Folha de S ã o Pauto, 7 abr. 2002, pág. 8-3.

Referências

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