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Processo

726/15.4T8PTM.E1.S1

Data do documento 1 de julho de 2021

Relator Rosa Tching SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Interpretação de sentença > Fundamentação de direito > Causa de pedir > Pedido > Nulidade de acórdão > Excesso de pronúncia > Condenação em objeto diverso do pedido

SUMÁRIO

I. A falta de indicação, na sentença, dos fundamentos jurídicos em que o julgador se alicerçou para proferir a decisão, não exonera o Tribunal ad quem do dever de interpretar a sentença recorrida para que daí retirar o sentido que se lhe quis emprestar e, dessa forma, garantir-lhe eficácia.

II. Sendo a sentença um ato jurídico formal, regulamentado pela lei de processo e implicando uma objetivação da composição dos interesses nela contida, a sua interpretação deve ser feita de acordo com os critérios estabelecidos nos artigos 236º, nº 1 e 238º, nº 1, ambos do Código Civil, ou seja, tem de ser interpretada com o sentido que um declaratário normal, colocado na situação do real declaratário, possa deduzir do conteúdo nela expresso, não podendo valer com um sentido que não tenha no documento que a corporiza um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso.

III. Para alcançarmos o verdadeiro sentido de uma sentença, a sua interpretação não pode assentar exclusivamente no teor literal da respetiva parte decisória, impondo-se também considerar e analisar todos os antecedentes lógicos, que a suportam e a pressupõem, dada a sua íntima interdependência bem como outras circunstâncias, mesmo posteriores à respetiva elaboração.

IV. O pedido, a causa de pedir e os fundamentos de facto e de direito da sentença são importantes meios auxiliares da sua interpretação, na medida em que permitem retirar uma conclusão sobre o sentido que se lhe quis emprestar.

V. Na interpretação da sentença deve ainda atentar-se na regra de que «o acto jurídico se presume regular» e partir-se do princípio de que a mesma visou um resultado razoável e não impossível ou que conduziria ao esvaziamento de um direito.

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VI. A circunstância de o Tribunal da Relação ter explicitado o sentido a dar ao segmento decisório da sentença de 1ª Instância não faz enfermar o acórdão recorrido das nulidades previstas nas alíneas d) e e) do nº 1 do artigo 615º, do Código de Processo Civil, por excesso de pronúncia e/ou condenação em objeto diverso do pedido, nem constitui decisão surpresa, atentatória do princípio do contraditório, consagrado no art. 3º, nº 3 do mesmo código e no art. 20º, nºs 1 e 4 da Constituição da República Portuguesa, pois estamos perante uma mera atividade interpretativa da sentença.

TEXTO INTEGRAL

ACORDAM NO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

2ª SECÇÃO CÍVEL

***

I. Relatório

1. AA, residente na …., …, ..., intentou a presente ação declarativa comum contra BB, residente na …..,

…..; CC, residente na ….., ……, ….., …..; e Viver no Éden – Compra e Venda de Imóveis, S.A., com sede na .

…., pedindo:

a) Seja declarado nulo o contrato de compra e venda do imóvel celebrado entre os RR., constante da escritura celebrada no dia 31 de julho de 2012.

b) Seja declarado nulo o contrato de compra e venda dos bens móveis entre a 1ª Ré e a 3ª Ré.

c) Em consequência, que o bem imóvel identificado reverta para o património da 1ª Ré e do 2º Réu.

d) Seja ordenado o cancelamento de qualquer registo efetuado com base na referida escritura.

e) Ser declarado ineficaz em relação ao A. o aludido contrato de compra e venda e ainda,

f) Seja reconhecido ao A. o direito de se fazer pagar, através daquele imóvel, do montante dos seus créditos constantes nas ações em curso.

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g) Serem ainda os Réus condenados ao pagamento de todas as despesas incorridas, nomeadamente custas e patrocínio jurídico.

Alegou, para tanto e em síntese, ser titular de um crédito sobre os dois primeiros réus, no valor de € 90.000,00, referente ao valor dobrado pelo incumprimento de um contrato promessa, e que estes réus, ao procederem à venda de metade do prédio à 3.ª Ré, único bem deles passível de responder pelo crédito que o A. exige, quiseram unicamente deixar de ser proprietários de quaisquer bens que pudessem satisfazer o mencionado crédito do autor, sendo do conhecimento de todos os réus que, aquando da celebração do negócio impugnado, corria termos uma ação contra os dois primeiros em que o autor pedia fosse decretada a resolução definitiva do referido contrato-promessa com a consequente restituição em dobro do sinal a eles entregue.

2. A Ré “Viver no Éden” contestou, impugnando os facos alegados pelo autor e concluindo pela improcedência da ação.

3. A 1.ª Ré, BB, também contestou, impugnando a factualidade alegada pelo Autor e imputando ao autor o incumprimento do contrato promessa.

4. Contestou igualmente o Réu CC, impugnando a versão dos factos dada pelo autor e alegando que a fração autónoma em causa tem valor de mercado não superior a €75.000,00 e que sobre ela impende uma hipoteca a favor do Banco Comercial Português, S.A., cujo valor em dívida, à data da instauração da ação executiva por este credor hipotecário, era de 73.315,20 euros, pelo que a presente ação é inútil.

5. Proferido despacho saneador, nele foi julgada inepta a petição inicial quanto aos pedidos a), b) e c), este último no que respeita ao “cancelamento de qualquer registo efetuado com base na (…) escritura (de compra e venda do imóvel)” e, em consequência, foram os réus absolvidos da instância, nesta parte.

Após levantamento da suspensão da instância decretada com fundamento na pendência de ação prejudicial, procedeu-se à identificação do objeto do litígio e à enunciação dos temas da prova.

6. Entretanto, a Ré BB foi declarada insolvente.

7. Realizado o julgamento, foi proferida sentença que julgou a ação procedente e declarou ineficaz em relação ao autor o contrato de compra e venda efetuado entre os réus, relativamente a metade indivisa do prédio, e reconheceu ao autor o direito de se pagar, através da metade indivisa daquele imóvel, do montante do crédito.

8. Inconformada com esta decisão, dela apelou a 3.ª Ré Viver no Éden – Compra e Venda de Imóveis, S.A., para o Tribunal da Relação ..., que, por acórdão proferido em, 11.02.2021, julgou improcedente a apelação,

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mantendo a sentença recorrida, mas procedendo à sua retificação, em consequência da apontada nulidade, dos pontos 1) e 2) nos seguintes termos:

1) Declarar ineficaz em relação ao autor o contrato de compra e venda efetuado entre os réus, relativamente ao imóvel.

2. Reconhecer ao autor o direito de se pagar, através o imóvel, o montante do crédito.

9. Inconformada, de novo, com esta decisão a Ré Viver no Éden – Compra e Venda de Imóveis, S.A., dela interpôs recurso de revista para o Supremo Tribunal de Justiça, terminando as suas alegações com as seguintes conclusões que se transcrevem:

«1. Não pretende a recorrente, nas conclusões que se seguem, reduzir o objeto do presente recurso.

2. Vem o presente recurso interposto do acórdão do Tribunal a quo que declarou ineficaz em relação ao autor o contrato de compra e venda efetuado entre os réus, relativamente ao imóvel e reconheceu ao autor o direito de se pagar, através do imóvel, do montante do crédito.

3. Salvo o devido respeito, a recorrente não pode deixar de discordar deste raciocínio.

4. O tribunal a quo extravasa os seus poderes de apreciação e alteração da decisão, ao pronunciar-se para além do objeto.

5. O Tribunal não se pronuncia sobre o “thema decidendum”, pelo contrário, refere que “retifica” uma decisão, alterando completamente o seu objeto quando não foram apresentadas contra-alegações, como tal não poderia o tribunal a quo se pronunciar sobre objeto diverso daquele que foi alegado.

6. As alegações apresentadas recorriam sobre o direito do autor de se pagar em metade indivisa do prédio, contudo o tribunal entendeu alterar unilateralmente a quantidade do objeto ao condenar em valor incerto e não referindo qual o prédio, contribuindo ainda mais para a ininteligibilidade da sentença.

7. O acórdão de que se recorre padece de nulidade pelo facto de o tribunal para o qual se apelou ter extravasado os poderes que se lhe impunham, não tendo respeitado e aplicado de forma consentânea o direito processual.

8. Resulta, por esta razão, que esta questão de direito apenas é suscitada neste momento pela sua incorreta aplicação por parte do tribunal apelado, não tendo a recorrente oportunidade de se pronunciar anteriormente.

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9. A Relação recusou-se debruçar sobre a matéria de facto, apenas fez cópia da fundamentação do tribunal da 1.ª instância.

10. O tribunal a quo decidiu, desta forma, não escrutinar matéria alguma, apenas “retificar”. Ora, não andou bem o tribunal ao extravasar a matéria das alegações, aproveitando para tentar corrigir de forma grosseira o que estava mal, mas fê-lo de um ponto de vista errado, parcial e investindo-se em maiores poderes do que aqueles de que dispõe.

11. O Venerando Tribunal já teve a oportunidade de se pronunciar sobre tal matéria: “Inexistindo divergência de entendimentos quer quanto à fundamentação, quer quanto à decisão perfilhada nas duas instâncias, comprova-se uma situação de “dupla conforme” que é impeditiva da admissibilidade de revista normal”. O que não sucede no presente caso, as fundamentações e decisões são distintas, porquanto o tribunal a quo modifica a decisão recorrida e, para tal, utiliza nova fundamentação baseada na defesa do direito de propriedade da recorrente.

12. Neste caso inexistindo dupla conforme.

13. A sentença proferida em sede de 1.ª Instância decidiu declarar ineficaz em relação ao autor o contrato de compra e venda efetuado entre os réus, relativamente a metade indivisa do prédio e reconhecer ao autor o direito de se pagar, através da metade indivisa daquele imóvel, do montante do crédito.

14. A Mm.ª Juíza do tribunal da 1.ª instância, requerida a retificar a sentença disse que a mesma “não padece de qualquer lapso que possa/deva ser rectificado, pelo que se indefere o requerido – artigo 614º, a contrario, do Código de Processo Civil.”

15. Ora, a aqui Recorrente apresentou recurso de apelação para o Tribunal a quo onde pediu que fosse revogada a sentença proferida em 1.ª instância e substituída por outra que a absolvesse dos pedidos.

16. O Autor, notificado, não apresentou contra-alegações. Assim, de acordo com o preceituado nos artigos 635.º, n.º 4 e 639.º, n.º 1 do CPC, é pelas conclusões do recorrente que se define o objeto e se delimita o âmbito do recurso, sem prejuízo das questões de que o Tribunal “ad quem” possa ou deva conhecer oficiosamente, apenas estando adstrito à apreciação das questões suscitadas que sejam relevantes para conhecimento do objeto do recurso.

17. O Acórdão de que se interpõe o presente recurso, julgou “a apelação improcedente, mantendo a sentença recorrida, mas procedendo à sua retificação, em consequência da apontada nulidade, declarando ineficaz em relação ao autor o contrato de compra e venda efetuado entre os réus, relativamente ao imóvel e reconhecendo ao autor o direito de se pagar, através do imóvel, o montante do crédito.

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18. Ora, conforme resulta do supra exposto, o Tribunal ora recorrido não suscitou qualquer questão oficiosamente, entendendo estar capacitado a conhecer do objeto do recurso, estando o acórdão que proferiu em contradição com outras decisões dos Tribunais Superiores quanto à mesma questão fundamental de Direito.

19. Deste modo, do seu teor resulta a improcedência da apelação num entendimento baseado no facto de a sentença estar enfermada de um lapso de escrita, e, como tal, deveria ser retificada e reconhecer o direito do autor de se pagar, através do imóvel, do montante do crédito. Ora o teor do acórdão não tem relação com o âmbito das conclusões da apelação, nem com a delimitação do objeto, pelo que não poderia o acórdão ter extravasado o mesmo, ao condenar em valor superior ao que a sentença referia.

20. Este Venerando Tribunal já se pronunciou sobre a temática defendendo que, ao abrigo do disposto no artigo 637.º, n.º 2 do CPC que, “O objecto do recurso é delimitado pelas conclusões do Recorrente, não podendo este Tribunal conhecer de matérias nelas não incluídas, a não ser que sejam de conhecimento oficioso, conforme prevenido no direito adjectivo civil - artºs. 635º, n.º 4, e 639º n.º 1, ex vi, art.º 679º, todos do Código de Processo Civil.” (…) A nulidade do acórdão quando o Tribunal condene em objecto diverso do pedido colhe o seu fundamento no princípio do dispositivo que atribui às partes, a iniciativa e o impulso processual, e no princípio do contraditório, segundo o qual o Tribunal não pode resolver o conflito de interesses, que a demanda pressupõe, sem que a resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja chamada para se opor”.

21. Mais referindo que “A decisão que ultrapassa o pedido formulado, sem modificação objectiva da instância, passando a abranger matéria distinta, está eivada de nulidade prevista na consignada alínea e) do art.º 615º do Código de Processo Civil, pois, o acórdão não pode conhecer de objecto diverso do pedido, o que significa que o Tribunal não pode conhecer, em regra, senão das questões suscitadas pelas partes, não podendo ultrapassar, nem em quantidade, nem em qualidade, os limites constantes do pedido, sendo que não havendo coincidência entre o decidido e o pedido, estar-se-á face a uma extra petição, vício que produz nulidade do aresto.”

22. Assim, quanto à mesma questão fundamental de direito relativa à delimitação do âmbito do recurso e, em consequência, dos limites da condenação previstos nos artigos 615.º, n.º 1 als. d) e e), 635.º, n.º 4, 639.º, n.º 1 e 666.º, n.º 1 do CPC, o Acórdão ora recorrido encontra-se em contradição com o teor do Acórdão supra mencionado.

23. A convicção do tribunal da 1.ª instância foi formada com a mesma matéria de facto com que o tribunal a quo se fundamentou – leia-se reproduziu por copy paste. Como tal, sendo a mesma matéria de facto, não poderia considerar o tribunal apelado que a decisão padecia “apenas” de um lapso de escrita.

24. O objeto do recurso radicava pois, como não poderia deixar de ser, na matéria constante da sentença

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acima mencionada e que motivou este mesmo recurso que consistia em analisar, exclusivamente, o direito do autor se pagar em metade indivisa do prédio.

25. O Douto Acórdão ora recorrido não se pronuncia sobre o thema decidendum, antes referindo, de forma estranha, que o objeto do recurso consiste na “alteração da matéria de facto que não se verificou” e refere que “improcede a apelação, salvo quanto à retificação da sentença em consequência da apontada nulidade” remetendo-nos para o princípio da coerência lógica da sentença, pois que entre os fundamentos e a decisão não pode haver contradição lógica. Não está em causa o erro de julgamento, quer quanto aos factos, quer quanto ao direito aplicável, mas antes a estrutura lógica da sentença.

26. O tribunal recorrido teria que fazer respeitar, no âmbito da sua atuação, as conclusões formuladas pela recorrente. Mas não foi isso que aconteceu, porque amplia o objeto da decisão recorrida onde ninguém alegou (nem tão-pouco contra-alegou) nesse sentido.

27. Quanto aos erros materiais, entendendo-se como tais os erros de escrita ou de cálculo ou quaisquer inexatidões devidas a outra omissão ou lapso manifesto, a sua retificação pode ter lugar a requerimento de qualquer das partes ou por iniciativa do juiz e a todo o tempo no caso de nenhuma das partes recorrer da decisão – art.º 614.º, do C.P.C.

28. Mas o juiz de primeira instância disse que era aquilo que queria dizer, não padecendo a sentença proferida de nenhuma inexatidão ou lapso de escrita.

29. Como ensina Alberto dos Reis o erro material “respeita à expressão da vontade do julgador e deve, consequentemente, incidir ou reflectir-se numa conclusão não consentida pelas premissas. A este erro opõem-se os erros ou inexactidões que se verifiquem no processo interno de formação do juízo expresso da decisão, devendo distinguir-se o erro material do erro de julgamento: o primeiro verifica-se quando o juiz escreveu coisa diversa do que queria escrever, quando o teor da decisão não coincide com o que o juiz tinha em mente exarar, quando, em suma, a vontade declarada diverge da vontade real; o segundo verifica-se quando o juiz disse o que queria dizer, mas decidiu mal, decidiu contra a lei expressa ou contra os factos apurados. Neste último caso, está errado o julgamento e ainda que o juiz logo se convença de que errou, não pode socorrer-se do art. 667.º para emendar o erro”. Para o autor seria necessário que do próprio conteúdo da decisão ou dos termos que a precederam se possa depreender, de forma clara, que se escreveu “manifestamente coisa diferente do que se queria escrever: se assim não for, a aplicação do art.

667.º é ilegal, pois importa evitar que, à sombra da mencionada disposição, o juiz se permita emendar erro de julgamento, espécie diversa do erro material”.

30. A reforma da sentença, relativamente a erros de julgamento, conforme o Código do Processo Civil só se poderá operar em casos muito restritos.

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31. Ora, na apelação, a Recorrente nunca pediu que a sentença fosse alterada para a condenação na totalidade, pelo contrário, debateu a questão da divisibilidade e da nulidade do acórdão. Mas também não pediu a retificação da sentença.

32. Leia-se o artigo 614.º CPC: “2 - Em caso de recurso, a retificação só pode ter lugar antes de ele subir, podendo as partes alegar perante o tribunal superior o que entendam de seu direito no tocante à retificação.” Mas não foi o que o tribunal entendeu, a retificação foi recusada pelo tribunal da primeira instância antes de o recurso subir.

33. Isto é, o tribunal que se deteve em toda a matéria de facto, depois disso, formou a sua convicção (ainda que de forma errada) e decidiu – mais do que uma vez – que era aquela a decisão que queria proferir, não havendo lugar a qualquer retificação!

34. Mais resultou do acórdão do tribunal a quo que o recurso de apelação “se fundava na alteração da decisão do tribunal recorrido sobre a matéria de facto, o que não se verificou, conduzindo à improcedência do recurso, por ausência de factualidade que suporte o peticionado pela recorrente”.

35. Ora, inexistindo qualquer alteração sobre a matéria de facto, tendo o tribunal copiado as formulações escritas da convicção do tribunal da 1.ª instância, resulta que não terá existido razão para que esse tribunal fundamentasse uma nova decisão, distinta da anterior.

36. Portanto, não poderiam retificar a sentença, tal como o referem. Não retificaram a sentença, porque não se tratou de um lapso de escrita, tratou-se sim de um erro material que o tribunal para o qual se recorreu não podia suprir oficiosamente - não está no seu poder.

37. O Tribunal a quo não formulou qualquer convicção, apenas adotou a tese da 1.ª instância, pelo que não existiria razão para que, depois de todo o percurso descrito no acórdão, se chegasse a tal decisão.

38. O tribunal considerou no acórdão que existiu obscuridade da sentença, mas tal como escreve Remédio Marques: “exprime a existência de uma plurissignificação ou de uma polissemia de sentidos (dois ou mais) de algum trecho, seja da sua parte decisória, seja dos respetivos fundamentos”.

39. A sentença é nula, mas propôs-se a suprir essa nulidade - sem o poder fazer…

40. O Tribunal a quo foi chamado a revogar a sentença e a substituí-la por outra que absolvesse a apelante do pedido. A 3.ª Ré foi a única que apresentou apelação, mais nenhuma parte no processo apresentou.

41. Porquanto, seria ao autor ou qualquer uma das partes que não concordando com a formulação ou conteúdo do recurso apresentado, ao abrigo do princípio da tutela jurisdicional que caberia pronunciar-se,

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não oficiosamente (artigo 3.º, n.º 1 CPC).

42. Antunes Varela defende que o pedido do autor, conformando o objeto do processo, condiciona o conteúdo da decisão de mérito com que o tribunal lhe responderá. E, para este autor, o juiz deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação", não podendo "ocupar-se senão das questões suscitadas pelas partes" (artigo 660º, nº 2), sendo nula a sentença que, não observando os limites impostos pelo nº 1 do artigo 661º, condene "em quantidade superior ou em objecto diverso do que se pedir".

43. Quando o Tribunal condene em objeto diverso do pedido (n.º 1 e) do art.º 615.º do Código de Processo Civil), o acórdão é nulo. Neste entendimento, o nosso direito adjetivo civil determina que o Tribunal está impedido de condenar em objeto diverso do que for pedido (art.º 609.º, n.º 1 do Código de Processo Civil), pelo que, o Tribunal não só, não pode conhecer, por regra, senão das questões que lhe tenham sido apresentadas pelas partes, como também não pode proferir decisão que ultrapasse os limites do pedido formulado, nomeadamente, no que respeita ao seu próprio objeto, sob pena de o aresto a proferir ficar afetado de nulidade.

44. Não poder condenar em objeto diverso do que se pediu, significa não poder modificar a qualidade do pedido - não pode, pois, ultrapassar-se, nem em quantidade, nem em qualidade, os limites constantes do pedido formulado pelas partes.

45. Neste sentido, as decisões do tribunal são limitadas pelos pedidos das partes, o juiz não pode deles extravasar, não podendo o acórdão pronunciar-se sobre mais do que o que foi pedido ou sobre coisa diversa daquela que foi pedida. Por respeito ao princípio dispositivo, a decisão tem de conter-se, em substância e quantidade, dentro do pedido formulado.

46. A nulidade do acórdão quando o Tribunal condene em objeto diverso do pedido colhe o seu fundamento no princípio do dispositivo que atribui às partes, a iniciativa e o impulso processual, e no princípio do contraditório, segundo o qual o Tribunal não pode resolver o conflito de interesses, que a demanda pressupõe, sem que a resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja chamada para se opor.

47. Uma decisão, tal como a que recorrida, ultrapassa o pedido formulado, sem modificação objetiva da instância, passando a abranger matéria distinta, estando, portanto, eivada de nulidade prevista na consignada alínea e) do art.º 615.º do Código de Processo Civil, pois, o acórdão não pode conhecer de objeto diverso do pedido. Isto levará a que, em regra, o Tribunal não possa conhecer senão das questões suscitadas pelas partes, não podendo ultrapassar em qualidade e quantidade os limites constantes do pedido deduzidos pelas partes em sede de alegações, sendo que não havendo coincidência entre o decidido e o pedido, estar-se-á face a uma extra petição, vício que produz nulidade do aresto. O vício da nulidade do acórdão, nos termos enunciados, encerra um desvalor que excede o erro de julgamento, por

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isso, inutiliza o julgado na parte afetada.

48. Tendo em conta a finalidade da impugnação, os recursos ordinários podem ser configurados como um meio de apreciação e de julgamento da ação por um tribunal superior ou como meio de controlo da decisão recorrida.

49. O tribunal de recurso não pode ser chamado a pronunciar-se sobre matéria que não foi alegada pelas partes na instância recorrida ou sobre pedidos que não hajam sido formulados.

50. Os recursos são meios de impugnação de decisões judiciais – e não meios de julgamento de questões novas. A afirmação de que os recursos visam modificar as decisões recorridas e não criar decisões sobre matéria nova constitui jurisprudência firme. Cfr., v.g., Acs. STJ de 14.05.93, CJ STJ, 93, II, pág. 62, e da RL de 02.11.95, CJ, 95, V, pág. 98.

51. Finalmente, o Douto Acórdão ao modificar unilateralmente a Sentença recorrida e o objeto do próprio recurso viola, evidentemente, o princípio do contraditório previsto no artigo 3.º, n.º 3 do CPC e é inconstitucional pois pretere de forma clara o direito ao processo equitativo consagrado no artigo 20.º, n.º s 1 e 4 da Constituição da República Portuguesa.

52. Com efeito, o Tribunal da Relação de Lisboa pronunciou-se sobre esta matéria dispondo que o artigo 20.º, n.º 4, da Constituição da República Portuguesa e o artigo 6.º, n.º 1, da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, prescrevem que qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja julgada equitativamente.

53. Pelo que se entende ser do conhecimento oficioso a violação do direito a um julgamento equitativo e a sua eventual reparação.

54. O Próprio Venerando Tribunal, teve a oportunidade de se pronunciar, prevendo que “O princípio do processo equitativo, na dimensão de “justo processo” (“fair trial”; “due process”), é integrado por vários elementos, um dos quais se afirma na confiança dos interessados nas decisões de conformação ou orientação processual; os interessados não podem sofrer limitação ou exclusão de posições ou direitos processuais em que legitimamente confiaram, nem podem ser surpreendidos por consequências processuais desfavoráveis com as quais razoavelmente não poderiam contar: é o princípio da confiança na boa ordenação processual determinada pelo juiz.”

55. Em apreciação do foro constitucional, prescreveu-se que o “princípio da proibição da indefesa, que é materializada não só no direito a impugnar uma decisão como também na possibilidade de ver apresentada a argumentação antes de uma decisão judicial ser tomada, como o Tribunal Constitucional vem sublinhando: «Este princípio, decorrente do reconhecimento do direito geral ao contraditório inerente

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ao direito a um processo justo implicado no direito fundamental de acesso à justiça, consagrado no artigo 20.º da Constituição, afirma uma proibição da limitação intolerável do direito de defesa perante o tribunal»

(Acórdão n.º 251/2017 e, no mesmo sentido, Acórdãos n.os 778/2014 e 193/2016). Isto é, liga-se à «regra fundamental da proibição da indefesa, de sorte que nenhuma decisão pode ser tomada pelo tribunal sem que previamente tenha sido dada a efetiva possibilidade ao sujeito demandado de a discutir, contestar e valorar» (Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 17 de novembro de 2015, proc. 801/14.2TBPBL- C.C1.S1).””

56. Nesse sentido, o princípio que supra trazemos à colação, opor-se-á à adoção de uma decisão com fundamentos sobre os quais as partes não tenham oportunidade de se pronunciar.

57. Nestes termos, impõe-se constitucionalmente a aplicação de um due process of law, que, no quadro da margem de conformação conferida ao legislador, respeitará «a efetividade do direito de defesa por aplicação das garantias do contraditório e da igualdade de armas, e de um direito de participação ativa no processo».

58. Um processo equitativo requer obrigatoriamente a efetividade do direito de defesa no processo, bem como a aplicação firme dos princípios do contraditório e da igualdade de armas. Portanto, cada uma das partes tem que lhe ver conferido o direito de exercer uma influência efetiva no desenvolvimento do processo, de modo a “apresentar as razões de facto e de direito que sustentam a sua posição antes de o tribunal decidir questão que lhes digam respeito”, bem como “deduzir as suas razões, oferecer as suas provas, controlar as provas do adversário e tomar posição sobre o resultado de umas e outras”.

59. Face ao exposto, parece bem evidente a nulidade do Douto Acórdão ora recorrido, por manifesta e flagrante violação do disposto nos artigos 3.º, n.º 3, 615.º, n.º 1 als. c), d) e e), 635.º, n.º 4, 639.º, n.º 1 e 666.º, n.º 1 do CPC e 20.º, n.ºs 1 e 4 da Constituição da República Portuguesa.

60. E não é o que acontece, pelo contrário: a decisão de primeira instância condenava a pagar-se na metade indivisa e o acórdão reconhece o direito do autor de se pagar, através do imóvel, do montante do crédito.

61. Portanto, o acórdão reconhece o direito do autor de se pagar através de um “imóvel” e do “montante do crédito”, não dizendo qual é o imóvel, ao contrário da decisão da 1.ª instância, nem referindo qual é o montante do crédito, contribuindo para a ininteligibilidade da decisão.

62. Mas também foi para além das suas competências ao reconhecer o direito ao autor em se pagar, através do imóvel, pois decide algo que não lhe foi colocado nem naquele montante nem naqueles termos.

O tribunal a quo conseguiu proferir acórdão com maior grau de ininteligibilidade do que a sentença. Ao não definir valor e dizer que se reconhece “o direito do autor de se pagar, através do imóvel, do montante do

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crédito” coloca em forma abstrata a aplicação da decisão.

63. Neste sentido, o tribunal a quo está em clara violação com o princípio do dispositivo e o princípio da tutela jurisdicional efetiva.

64. Neste sentido, os poderes do tribunal foram largamente ultrapassados, tendo contribuído para uma maior obscuridade.

65. O tribunal a quo decidiu não se debater sobre as conclusões de matéria de facto produzidas, tendo feito cópia da fundamentação do tribunal de 1.ª instância. Neste sentido, decidiu não se debruçar sobre tal matéria.

66. Não se vislumbra que o tribunal a quo pudesse considerar que “sempre ficou demonstrada a intenção da vendedora (1.ª ré) e compradora (3.ª ré) de impedir a satisfação do crédito do autor.”

67. Aliás, o tribunal não se deteve com nenhuma das formulações que foram objeto do recurso, pelo contrário!!!

68. O tribunal nem se deu ao trabalho de reexaminar a matéria de facto dada como provada e não provada e aferir da sua consequente alteração, sem reanalisar verdadeiramente a mesma – como lhe é incumbido.

Foi perentório que os depoimentos em que o tribunal de 1.ª instância se baseou não mereciam mérito, pelo facto de as testemunhas terem interesse na causa, uma pelo facto de ter uma relação conflituosa com a 1.ª Ré, outra por ter sido expulsa do local onde passava férias gratuitamente.

69. Mas, mesmo que não quisesse analisar os depoimentos, o tribunal não poderia desconhecer que a ação que reconheceu o crédito do A. é a ação de Processo n.º 257/12……, Juízo Central de …., Juízo Central Cível de …., Juiz …., conforme consta do ponto 26 dos factos assentes na sentença, onde o A. pedia a devolução do sinal em dobro. Sucede que, esta ação apenas teve sentença em 1.ª instância no ano de 2017 e transitou em julgado em 2018, portanto, só a partir desta data é que o crédito do A. existe, já que a ação atrás referida foi contestada pelos 1.ºs RR..

70. Acresce ainda que a aqui apelante não era parte no processo atrás referido, pelo que o desconheceu até à data da celebração da escritura de compra e venda. Todavia, naquela data, a ação a que se vem fazendo referência ainda estava no seu início, pelo que nenhum crédito existia a favor do A..

71. É, assim, materialmente impossível que a agora apelante, em 2012, data da celebração da escritura de compra e venda do imóvel que aqui se discute, tivesse conhecimento de um facto inexistente, todavia, ainda assim, o tribunal não analisou verdadeiramente a inexistência de má fé.

(13)

72. O acórdão recorrido viola, entre outras, as disposições dos artigos 610.º, 612.º, 613.º e 616.º e do Código Civil e 3.º, n.º 3, 542.º, 607.º, 609.º, 614.º, 615.º, n.º 1, als. c), d) e e), 635.º, n.º 4, 639.º, n.º 1, 640.º, 662.º e 666.º, n.º 1 do CPC e 20.º, n.ºs 1 e 4 da Constituição da República Portuguesa ».

Termos em que requer seja revogado o acórdão recorrido e a sua substituição por outro que absolva a aqui recorrente dos pedidos.

10. O autor não respondeu.

11. Após os vistos, cumpre apreciar e decidir.

***

II. Delimitação do objeto do recurso

Como é sabido, o objeto do recurso determina-se pelas conclusões da alegação dos recorrentes, nos termos dos artigos 635.º, n.º 3 a 5, 639.º, n.º 1, do C. P. Civil, só se devendo tomar conhecimento das questões que tenham sido suscitadas nas alegações e levadas às conclusões, a não ser que ocorra questão de apreciação oficiosa[1].

Assim, a esta luz, as questões a decidir consistem em saber se:

1ª- o acórdão recorrida enferma das nulidades previstas nas alíneas e), d) e c) do art. 615º, do CPC;

2ª- o acórdão recorrido viola o princípio do contraditório estabelecido no art. 3º, nº 3, do CPC e o princípio do direito ao processo equitativo consagrado no art. 20º, nºs 1 e 4, da Constituição da República Portuguesa.

***

IV. Fundamentação

3.1. Fundamentação de facto

Factos provados

1. O autor e a primeira ré são irmãos (artigo 1º da PI).

2. Em 2002, a primeira e o segundo réus, na altura casados, declaram adquirir aos pais do autor e da

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primeira ré, com recurso a crédito bancário junto do Banco Comercial Português, S.A., uma fração designada pela letra “….”, destinada a habitação, composta de r/c esquerdo, apartamento número …., com logradouro, do prédio urbano sito na …. ou ….., da freguesia e concelho ….., descrito na Conservatória do Registo Predial sob o número ….81. e inscrito na matriz predial sob o artigo ….62, com o valor matricial de

€ 69.510,00 (artigos 2º, 3º da PI e 2º, parte final, 11º da Contestação do segundo réu).

3. O autor compareceu na escritura e deu o seu assentimento (artigo 3º da PI).

4. Em novembro de 2003, o A. celebrou com 1ª Ré e o 2º Réu (na altura casados, e atualmente divorciados) um contrato-promessa de compra e venda, pelo qual prometeram vender-lhe a fração autónoma melhor descrita supra, assim que o A. conseguisse obter crédito bancário que lhe permitisse adquiri-lo (artigo 4º da PI).

5. No contrato-promessa acima referido, a 1ª Ré e o 2º Réu, comprometeram-se a aceitar como forma de início de pagamento e a título de sinal, que o A. fosse pagando as mensalidades do crédito bancário referido em 2) até que este reunisse as condições económicas necessárias para celebrar a escritura definitiva em seu nome, tal como consta nas clausulas 1ª, 2ª, 3ª e 5ª do contrato-promessa (artigo 5º da PI).

6. As partes contratantes acordaram que se obrigariam a celebrar a escritura de compra e venda, a favor do autor, logo que as prestações, havidas como sinal/reforço de sinal, estivessem pagas, no termo do vencimento de todas ou por antecipação (artigos 7º, 8º e 9º, todos da PI).

7. A primeira e o segundo réu divorciaram-se em 09.04.2003, tendo o segundo réu continuado a acompanhar os termos do negócio (artigos 11º da PI e 10º da Contestação do segundo réu).

8. Em 2007, após várias tentativas frustradas do autor em agendar e celebrar a escritura definitiva, foi promovida a primeira Notificação Judicial Avulsa endereçada à 1ª Ré, correspondente ao processo nº 3684/07… que correu termos no Tribunal Judicial …, na qual o A. exigia o cumprimento do estipulado no contrato-promessa e celebração da escritura definitiva (artigos 11º e 13º da PI).

9. Após a realização da Notificação Judicial Avulsa, foram agendadas, pelo menos, por três vezes, escrituras definitivas (artigo 14º da PI).

10. A primeira ré não compareceu (artigo 14º da PI).

11. Em janeiro de 2009 e janeiro de 2010 foram enviadas cartas registadas à primeira ré, comunicando as datas das escrituras (artigo 15º da PI).

(15)

12. As interpelações efetuadas pelo autor foram ignoradas, pelo que enviou nova Notificação Judicial Avulsa, que deu entrada no Tribunal …, no dia 26.11.2009 e que foi pessoalmente entregue à primeira ré (artigo 16º da PI).

13. A primeira ré nunca compareceu nas datas agendadas para a realização da escritura definitiva (artigo 17º da PI).

14. O autor tentou, novamente, alertar a primeira ré no sentido de comunicar que o negócio definitivo não se havia realizado por sua culpa, mas que estava em condições de comparecer no dia 29.01.2010, na Conservatória do Registo Predial .…. (artigo 18º da PI).

15. A primeira ré ignorou a comunicação do autor e não compareceu, razão pela qual o contrato definitivo não se realizou (artigo 19º da PI).

16. Entre 2003 e novembro de 2011, o autor depositou, todos os meses, a título de sinal, na conta da primeira ré, a prestação a entregar ao Banco mutuante (artigos 20º, 21º e 35º da PI e 34º da Contestação da primeira ré).

17. O autor teve conhecimento que se encontrava eminente a celebração de um contrato de compra e venda entre os primeiros réus e um outro comprador (artigo 23º da PI).

18. Esse comprador comunicou ao autor que tinha intenções de comprar o imóvel, não obstante soubesse da situação entre os irmãos (artigo 23º da PI).

19. O imóvel objeto do contrato-promessa era o único bem que integrava o património da primeira ré (artigo 24º da PI).

20. O autor instaurou procedimento cautelar de arresto – processo n.º 171/12….., ….ª Vara de Competência Mista do Tribunal Judicial ..., com o valor de € 90.000,00 – tendo a mesmo sido decretado em 20.06.2012, e, em consequência, arrestado o imóvel identificado em 2. (artigos 25º e 26º da PI e 15º da Contestação da terceira ré).

21. Os primeiros réus enviaram carta ao autor, datada de 11.07.2012, comunicando-lhe que, através daquela, resolviam o contrato-promessa (artigo 30º da Contestação do segundo réu).

22. Por escritura pública de compra e venda, realizada no dia 31.07.2012, os primeiros réus declararam vender à terceira ré o prédio identificado em 2., pelo preço de € 75.000,00, que os primeiros réus declararam receber (artigos 27º e primeiro 28º da PI e 33º da Contestação do terceiro réu).

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23. A aquisição a favor da terceira ré encontra-se registada pela AP……, de 06.08.2012 (primeiro artigo 29º da PI).

24. A primeira ré celebrou com a terceira ré um contrato-promessa de venda de bens móveis, que se encontravam no imóvel identificado em 2., nomeadamente, móveis, equipamentos e eletrodomésticos da sala, cozinha, quartos, halls de entrada e quintal, tendo recebido a quantia de € 7.500,00 (segundo artigo 29º e artigo 30º da PI).

25. Aquando da venda da fração, a primeira ré sabia que o autor detinha sobre si um crédito (artigo 31º da PI).

26. À data da propositura da presente ação, encontrava-se em curso a ação principal, a qual foi julgada procedente e já transitou em julgado, da qual dependia o procedimento cautelar de arresto – processo n.º 257/12…, Juízo Central Cível …, Juiz ….., Tribunal Judicial da Comarca … – no qual o autor pedia a declaração da resolução do contrato-promessa por incumprimento dos primeiros réus e a devolução do sinal em dobro, no valor de € 90.000,00 (artigo 32º da PI).

27. A primeira ré não possui outro bem, para além do imóvel identificado em 2., que permita o pagamento da quantia de € 90.000,00 ao autor (artigo 40º da PI).

28. Os réus sabiam da existência do crédito e quiseram celebrar o contrato de compra e venda, de modo a impossibilitar que o autor pudesse vir a ser pago de tal montante (artigo 41º da PI).

29. À data da escritura de compra e venda, os dois primeiros réus tinham sido notificados do procedimento cautelar de arresto e da respetiva ação principal e tinham sido interpelados extrajudicialmente para o cumprimento do contrato-promessa outorgado (artigo 42º da PI).

30. Aquando da celebração do contrato de compra e venda, os primeiros réus sabiam que pendia contra eles ação declarativa de condenação, com os pedidos acima indicados (artigo 43º da PI).

31. Os primeiros réus, ainda assim, venderam o imóvel à terceira ré, que também sabia que sobre o imóvel recaiam dois arrestos registados, um deles para garantia do crédito do autor de € 90.000,00 e que o bem que adquiria era o único que respondia pelo crédito do autor (artigo 44º da PI).

Factos não provados:

– os alegados nos artigos 5º a 7º, 10º, 13º, 15º a 17º, 22º, 23º, 25º, 27º, 31º a 33º, 39º, 40º, todos da Contestação da primeira ré e 2º (primeira parte), 12º a segundo 15º, 18º, 21º, 22º, 24º a 29º, 31º, 32º, 39º, da Contestação do segundo réu e 3º, 5º, 10º, 11º, 13º, 16º, a 19º, 22º a 24º.

(17)

*

Breve nota sobre a alegação levada a efeito nos restantes artigos:

a. Conclusivos/Direito – artigos 22º, 28º, 34º, 36º, 37º, 39º, 45º, 47º a 50º, todos da Petição Inicial, 8º, 9º, 11º, 14º a primeiro 15º, 18º a 21º, 24º, 26º, 28º, 35º a 38º da Contestação da primeira ré, 1º, 6º a 8º, 19º, 20º, 34º a 36º, 44º a 46º, da Contestação do segundo réu, 6º, 14º, 25º da Contestação da terceira ré.

b. Impugnação directa/confissão/aceitação de confissão/irrelevantes – todos os demais.

***

3.2. Fundamentação de direito

Conforme já se deixou dito, o objeto do recurso interposto pela autora prende-se com as questões de saber se o acórdão recorrida enferma das nulidades previstas nas alíneas e), d) e c) do art. 615º, do CPC e se o acórdão recorrido viola o princípio do contraditório estabelecido no art. 3º, nº 3, do CPC e o princípio do direito ao processo equitativo consagrado no art. 20º, nºs 1 e 4, da Constituição da República Portuguesa.

3.2.1. Nulidades do acórdão recorrido.

Nesta matéria, começa a recorrente por sustentar que, ao proceder à retificação do dispositivo decisório da sentença recorrida, o Tribunal da Relação extravasou os seus poderes de apreciação e alteração da decisão, pronunciou-se sobre questão de que não podia conhecer e ultrapassou o objeto da apelação por ela interposta, delimitado pelas suas alegações de recurso, enfermando, por isso, o acórdão recorrido das nulidades previstas nas alíneas d) e e) do nº1, do art. 615º, do CPC.

Vejamos, então, se lhe assiste razão, tendo, para tanto, em conta resultar dos elementos constantes dos autos que:

1º- Pelo Tribunal de 1ª Instância foi, em 21.11.2019, proferida sentença que, considerando verificados os pressupostos da impugnação pauliana estabelecidos no art. 610º, do C. Civil, julgou procedente a presente ação e, em consequência, decidiu:

«1. Declarar ineficaz em relação ao autor o contrato de compra e venda efectuado entre os réus, relativamente a metade indivisa do prédio.

2. Reconhecer ao autor o direito de se pagar, através da metade indivisa daquele imóvel, do montante do

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crédito».

2º- Notificada desta sentença e considerando “ter havido um lapso de escrita quando aí se refere “metade indivisa”, veio a Massa Insolvente da ré, BB, nos termos do art. 614º, do CPC, requerer a retificação desse erro, na sequência do que, em 27.01.2020, foi proferido despacho com o seguinte teor:

«A sentença não padece de qualquer erro que possa/deva ser retificado, pelo que se indefere – art. 614º, a contrario, do Código de Processo Civil».

3º- Inconformada com a sentença proferida em 21.11.2019, dela apelou a 3.ª Ré Viver no Éden – Compra e Venda de Imóveis, S.A.

Impugnou a decisão sobre a matéria de facto, defendendo que a factualidade constante do ponto 28 dos factos provados devia ser considerada não provada e que deviam ser dados como provados os factos seguintes:

«- a R. desconheceu a existência do arresto até à data da celebração da escritura de compra e venda …”

- “o legal representante da R. apelante apenas celebrou a escritura de compra e venda, porque a 1.ª R.

garantiu que o assunto com o seu irmão, estava resolvido;

- “à data da celebração do negócio com os promitentes vendedores do imóvel em questão (24.01.2012), não tinha a R. conhecimento da existência de qualquer litígio entre o A. e os 1.ºs RR”»,

E argumentando que, em face da pretendida alteração da decisão sobre a matéria de facto, não se verificavam todos os pressupostos estabelecidos no art. 610º, do C. Civil, concluiu pela improcedência da ação, sustentando, na 19ª conclusão das suas alegações de recurso, que «A divisibilidade prevista na sentença – que não se encontra fundamentada – só pode ter sido um mero lapso de escrita que torna inexecutável a mesma e que não poderá manter-se».

4º- Pelo Tribunal da Relação ... foi, em 11.02.2021, proferido acórdão que julgou improcedente a pretendida alteração da decisão sobre a matéria de facto e, considerando não ter a recorrente demonstrado, como lhe competia, os factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito invocado pelo Autor, julgou improcedente a apelação.

Todavia, reconhecendo, em face do teor da conclusão 19º das alegações de recurso, ser «por demais evidente que a decisão, tal como está, não é exequível» e considerando não se tratar «de qualquer erro ou lapso de escrita, tanto assim que a senhora Juíza assim não entendeu, o que significa que quis dizer o que escreveu», mas, antes, «de nulidade da sentença decorrente da contradição entre os fundamentos e a

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decisão, prevista na alínea c) do nº 1 do art. 615º do C. P. Civil», decidiu proceder, em consequência da apontada nulidade, à retificação dos pontos 1) e 2) da sentença recorrida nos seguintes termos:

«1) Declarar ineficaz em relação ao autor o contrato de compra e venda efetuado entre os réus, relativamente ao imóvel.

2. Reconhecer ao autor o direito de se pagar, através do imóvel, o montante do crédito».

Que dizer?

Desde logo, que estamos de acordo com o entendimento seguido pelo Tribunal da Relação no sentido de que a referência feita na parte decisória da sentença proferida pelo Tribunal de 1ª Instância a “metade indivisa”, não configura um mero “erro material”, suscetível de retificação, nos termos do disposto no art.

614º, do CPC, mas já não subscrevemos a afirmação feita pelo mesmo tribunal de que a circunstância da sentença de 1ª instância ter declarado «ineficaz em relação ao autor o contrato de compra e venda efectuado entre os réus, relativamente a metade indivisa do prédio» e ter reconhecido ao «autor o direito de se pagar, através da metade indivisa daquele imóvel, do montante do crédito», faz enfermar aquela decisão da nulidade prevista na alínea c) do nº 1 do artigo 615º, do Código de Processo Civil, por estar em contradição com os fundamentos, tanto mais que o conhecimento oficioso desta nulidade estava vedado ao Tribunal da Relação, posto que, conforme resulta do disposto nos arts. 615º, nº 4 e 617º, nº 1 e nº 6, do CPC, as nulidades previstas nas als. b) a e) do nº 1 do citado art. 615º, carecem de ser arguidas pela parte nela interessada.

E se é certo não conter a sentença proferida pelo tribunal qualquer indicação das razões jurídicas em que o julgador se alicerçou para fazer referência, no segmento decisório, a «metade indivisa do prédio», seguro é também que esta ausência de motivação legal, não exonera o Tribunal ad quem do dever de interpretar a sentença recorrida para que daí se possa retirar uma conclusão sobre o sentido que se lhe quis emprestar e, dessa forma, garantir-lhe eficácia.

De facto, há que ter em conta, tal como se afirma no Acórdão do STJ, de 05.11.2009 (processo nº 4800/05.TBAMD-A.S1)[2] que «a sentença proferida em processo judicial constitui um verdadeiro acto jurídico, a que se aplicam as regras reguladoras dos negócios jurídicos (art. 295º do C. Civil) (…)».

Vale isto por dizer que, sendo a sentença um ato jurídico formal, regulamentado pela lei de processo e implicando uma objetivação da composição dos interesses nela contida, a sua interpretação deve ser feita de acordo com os critérios estabelecidos nos arts. 236º, nº 1 e 238º, nº 1, ambos do C. Civil, ou seja, tem de ser interpretada com o sentido que um declaratário normal, colocado na situação do real declaratário, possa deduzir do conteúdo nela expresso, não podendo valer com um sentido que não tenha no documento que a corporiza um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso.

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E isto sem esquecer, como destacou o Acórdão do STJ, de 03.02.2011 (processo nº 190-A/1999.E1.S1)[3], que a decisão judicial não traduz uma declaração pessoal de vontade do julgador, correspondendo, antes, ao resultado de uma operação intelectual que consiste no apuramento de uma situação de facto e na aplicação do direito objetivo a essa situação, pelo que, importa ter em consideração, não só que o declarante se encontra investido na função de aplicador da lei e, por isso, obrigado a interpretar, em conformidade com as regras estabelecidas no art. 9º C. Civil, como também a correlação lógica e teleológica entre a pretensão em apreciação, os fundamentos de facto e de direito em que assenta o dispositivo decisório e este, tudo à luz da sua estrita conexão, desenvolvimento e interdependência.

Mas, para além de tudo isto, importa salientar que, para alcançarmos o verdadeiro sentido de uma sentença, a sua interpretação não pode assentar exclusivamente no teor literal da respetiva parte decisória, impondo-se também considerar e analisar todos os antecedentes lógicos, que a suportam e a pressupõem, dada a sua íntima interdependência[4] bem como outras circunstâncias, mesmo posteriores à respetiva elaboração, que, na medida em que permitem retirar uma conclusão sobre o sentido que se lhe quis emprestar, funcionam como importantes meios auxiliares de interpretação[5].

E segundo Castro Mendes[6], nesta tarefa interpretativa deve ainda atentar-se na regra importantíssima segundo a qual «o acto jurídico se presume regular: e como factor da regularidade (em certa medida até da validade) da sentença é a adequação da sentença ao pedido e à causa de pedir, e a adequação da sentença aos seus próprios fundamentos, daqui resulta que pedido, causa de pedir e fundamentos são importantes elementos de interpretação da sentença. Se se pode levantar dúvidas sobre se a sentença reconhece ao autor a propriedade ou só o usufruto de certa coisa, e se o pedido se referia à propriedade, deve evidentemente presumir-se que a sentença igualmente se lhe refere, pois doutro modo seria nula (…)».

Neste mesmo sentido, sublinha Remédio Marques[7] que um dos elementos que mais relevam para a identificação do juízo objetivado na decisão judicial, é o «determinado pelo princípio do pedido (espécie do princípio do dispositivo), no sentido em que deve existir uma necessária correspondência entre o pedido do autor (ou do réu reconvinte) e a pronúncia ínsita na decisão judicial. O tribunal não pode decidir sobre objeto diferente do pedido ou omitir a resolução de questões que lhe foram pedidas pelo autor.

O iter genético do objeto do juízo decisório para que se procura um sentido e alcance não pode realizar-se senão por meio de uma comparação entre, por um lado, a decisão judicial e, por outro, o(s) pedido(s) do autor (ou do réu reconvinte). O objeto do juízo decisório está intimamente conexionado com o objeto do processo, em particular com o(s) pedido(s). Enquanto este último é o termo inicial da formação do juízo, a decisão judicial daquele é o termo final», frisando que «Não se trata aqui de operar uma sobreposição extrínseca destes dois atos processuais (pedido constante da petição inicial versus decisão judicial), mas de reconhecer que estes dois extremos (e atos processuais) exibem uma relação em que um não tem

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sentido sem o outro e que essa relação é constituída por todos os demais atos e operações que conduzem a pretensão processualizada do autor à decisão do magistrado judicial».

Ora, transpondo todas estas considerações para a especificidade do caso dos autos, diremos, desde logo, não haver dúvidas, ante a análise da petição inicial e do despacho saneador na parte em julgou inepta a petição inicial relativamente aos demais pedidos deduzidos, que o pedido formulado pelo autor foi no sentido de:

i ) ser declarado ineficaz em relação a si o contrato de compra e venda titulado pela escritura pública celebrada no dia 31 de julho de 2012 e através da qual os réus BB e CC venderam à ré “Viver no Éden” a fração designada pela letra “….”, destinada a habitação, sita na ….. ou ……, da freguesia e concelho ….., descrita na Conservatória do Registo Predial sob o número ….. e inscrita na matriz predial sob o artigo …..;

ii) e de ser reconhecido ao autor o direito de se fazer pagar, através daquele imóvel, do montante do seu crédito.

Como fundamentos destes pedidos, alegou o autor ter celebrado, em novembro de 2003, com os réus BB e CC, na altura casados um com o outro, um contrato promessa de compra e venda, mediante o qual aqueles prometeram vender-lhe a referida fração e que, por sentença transitada em julgado, este contrato foi declarado resolvido por incumprimento destes mesmos réus, com a consequente condenação na devolução ao autor do sinal em dobro, no valor de € 90.000,00.

Mais alegou que, aquando da celebração deste contrato os réus BB e CC eram casados um com o outro, mas que atualmente estão divorciados (cfr. artigo 4 da petição inicial), sendo o bem em causa o único que respondia pelo crédito do autor (cfr. artigo 44 da petição inicial).

Ora, se é certo ter a sentença proferida pelo Tribunal de 1ª Instância, julgado a presente ação procedente e decidido - «1. Declarar ineficaz em relação ao autor o contrato de compra e venda efectuado entre os réus, relativamente a metade indivisa do prédio. 2. Reconhecer ao autor o direito de se pagar, através da metade indivisa daquele imóvel, do montante do crédito» - , sem adiantar qualquer fundamento para a referência feita à “metade indivisa do prédio”, a verdade é que, interpretando o teor deste segmento decisório em conjugação com o pedido deduzido pelo autor e com a causa de pedir por ele invocada, julgamos que o sentido a dar a esta expressão só pode ser o da mesma reportar-se à metade indivisa a que cada um dos referidos réus tem direito sobre a dita fração, que faz parte do seu património comum, na medida em que em novembro de 2003, data da celebração do contrato promessa de compra e venda com o autor, os réus BB e CC já estavam divorciados desde 09.04.2003, pois de outra forma não faria qualquer sentido a referência feita à “metade indivisa do prédio”.

É, pois, este elemento teleológico e funcional que permite interpretar corretamente o segmento decisório

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da sentença da 1ª instância, sendo certo que, tal como já se deixou dito, ao interpretar uma decisão judicial sempre se deverá partir do princípio de que a mesma visou um resultado razoável e não impossível ou que conduziria ao esvaziamento de um direito[8].

E sendo assim, como é de facto, o que se retira da atuação do Tribunal da Relação ao proceder à retificação da sentença recorrida, no sentido de: «1) Declarar ineficaz em relação ao autor o contrato de compra e venda efetuado entre os réus, relativamente ao imóvel.

2. Reconhecer ao autor o direito de se pagar, através o imóvel, o montante do crédito» é que a mesma mais não fez do que explicitar o sentido a dar ao segmento decisório da sentença de 1ª instância, o que, em nosso entender não constitui, manifestamente, condenação em quantidade inferior superior nem em objeto diverso do pedido.

Diremos até que, no caso dos autos, era essa a atuação que se impunha ao Tribunal da Relação, quer em nome do interesse público da boa administração da justiça, quer por força do princípio do dispositivo, consagrado no art. 5º, nº 3 do CPC e que permite ao juiz a convolação para o decretamento do efeito jurídico ou forma de tutela jurisdicional efetivamente adequado à situação litigiosa[9].

Não se vislumbra, assim, por tudo isto, que o acórdão recorrido, ao explicitar o sentido a dar ao segmento decisório da sentença de 1ª instância, padeça das nulidades previstas no art. 615º, nº 1, als. d) e e) do CPC.

E muito menos se vê que a mesma constitua decisão surpresa e seja atentatória do princípio do contraditório, consagrado no art. 3º, nº 3 do CPC e decorrente do direito de acesso aos tribunais, previsto no art. 20º, nºs 1 e 4 da CRP, que garante às partes a participação num momento constitutivo da decisão da causa[10], na medida em que uma tal atuação insere-se no âmbito de uma mera atividade interpretativa da sentença.

De resto sempre se dirá que, no caso dos autos, foi a própria recorrente a sustentar, na 19ª conclusão das suas alegações de recurso de apelação, que «A divisibilidade prevista na sentença – que se não encontra fundamentada – só pode ter sido um mero lapso de escrita que torna inexecutável a mesma e que não poderá manter-se», pelo que nenhum dever impendia sobre o Tribunal da Relação voltar a ouvi-la sobre essa matéria, não integrando, por isso, o acórdão recorrido decisão-surpresa nem violação dos demais princípios e normas constitucionais invocadas.

Termos em que improcedem todas as razões invocadas pela recorrente

***

(23)

IV – Decisão

Pelo exposto, acordam os Juízes deste Supremo Tribunal em negar revista e em confirmar o acórdão recorrido, exceto no que respeita à nulidade prevista na alínea c) do nº 1, do artigo 615º, do Código de Processo Civil e imputada à sentença da 1ª instância, mantendo-se, ainda que por outra via, a interpretação dada a esta decisão pela Relação.

Custas da revista a cargo da recorrente.

Notifique.

***

Nos termos do art. 15º-A do DL nº 10-A, de 13-3, aditado pelo DL nº 20/20, de 1-5, declaro que o presente acórdão tem o voto de conformidade da Exmª. Senhora Conselheira Catarina Serra e do Exmº Senhor Conselheiro João Cura Mariano que compõem este coletivo.

***

Supremo Tribunal de Justiça, 1 de julho de 2021

Maria Rosa Oliveira Tching (relatora)

Catarina Serra

João Cura Mariano

______

[1] Vide Acórdãos do STJ de 21-10-93 e de 12-1-95, in CJ. STJ, Ano I, tomo 3, pág. 84 e Ano III, tomo 1, pág.

19, respetivamente.

[2] Acessível in www. dgsi/stj.pt.

[3] Citando os Acórdãos do STJ, de 05.11.1998 (processo nº 98B712), acessível in www.dgsi/stj.pt e de 28.01.1997, in CJ, Ano V, tomo I, pág. 83.

[4] Neste sentido, Castanheira Neves, in RLJ, 110.º, pp. 289-305, e Pinto Furtado, citando Betti, in O Direito, Anos 106.º-119.º, pág. 46.

[5] Neste sentido, VAZ SERRA, in RLJ, 110.º, pág. 42; Paula Costa e Silva, in “ Acto e Processo”; págs. 64 e 65; “Estevão Mallet, in “ Ensaio sobre a interpretação das Decisões Judiciais”, Editora LTr, São Paulo, 2009, págs. 41, 64,65. Na jurisprudência, cfr, ainda, entre outros, Acórdãos do STJ, de 08.06.2010 ( processo nº

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