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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

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Academic year: 2023

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Agronomia

Tese

Ácido abscísico e caracterização da uva ‘Niágara Rosada’ em clima temperado

Dianini Brum Frölech

Pelotas, 2022

(2)

DIANINI BRUM FRÖLECH

Ácido abscísico e caracterização da uva ‘Niágara Rosada’

em clima temperado

Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Agronomia, da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Agronomia (Área do conhecimento: Fruticultura de Clima Temperado).

Orientadora: Dra. Adriane Marinho de Assis Coorientadora: Dra. Márcia Wulff Schuch

Pelotas, 2022

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Banca Examinadora:

__________________________________________________

Profa. Dra. Adriane Marinho de Assis Universidade Federal de Pelotas

__________________________________________________

Profa. Dra. Elisane Schwartz Instituto Federal Sul-rio-grandense

__________________________________________________

Prof. Dr. Fábio Suano de Souza Unifil- Centro Universitário Filadélfia

__________________________________________________

Profa. Dra. Lilian Yakari Yamamoto

Universidade Tecnológica Federal do Paraná

__________________________________________________

Profa. Dra. Marines Batalha Moreno Kirinus Instituto Federal Sul-rio-grandense

(5)

À minha mãe, Luciane Rodrigues Brum, e a minha avó, Teresinha Rodrigues Brum.

Dedico.

(6)

Agradecimentos

Ao meu namorado, Gabriel da Fonseca Loeck, que me apoiou e ajudou na reta final da pesquisa e pela paciência enquanto eu elaborava esta tese.

À minha mãe, Luciane Rodrigues Brum, a minha irmã, Taiane Brum Frölech, e ao meu pai, Elton Frölech, que sempre me apoiaram e ajudaram em tudo que precisei.

Às minhas avós Terezinha Rodrigues Brum e Angela Holz Frölech, que sempre estiveram ao meu lado incentivando.

Ao meu avô, Silvio Frölech, que mesmo já não estando presente entre nós sei que estava olhando e torcendo por mim.

À professora Adriane Marinho de Assis, pela orientação, dedicação, confiança no meu trabalho e pela amizade.

À professora Márcia Wulff Schuch, pela coorientação, amizade e ensinamentos.

À família Bohrer, pela contribuição e por ter disponibilizado sua propriedade para a realização destas pesquisas.

Ao professor Cesar Valmor Rombaldi, por disponibilizar o espaço para elaboração das análises no Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial.

À Letícia Leal de Mello, à Bruna Andressa dos Santos Oliveira e a Marilaine Garcia de Mattos pela colaboração em diversos trabalhos e pela amizade desde o mestrado.

Ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia, pela oportunidade de realizar o doutorado.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa de estudos de doutorado.

Aos demais professores do Programa de Pós-graduação em Agronomia, aos técnicos e demais profissionais da Universidade Federal de Pelotas.

Por fim, a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho, o meu muito obrigado.

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“Escolha um trabalho que ame e terás que trabalhar o dobro, pelo simples fato de se importar”.

(Confúcio)

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Resumo

FRÖLECH, Dianini Brum. Ácido abscísico e caracterização da uva ‘Niágara Rosada’ em clima temperado. 2022. 94f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Programa de Pós-Graduação em Agronomia. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2022.

A ‘Niágara Rosada’ é a principal cultivar de uva comum plantada no Brasil para o consumo in natura; porém, são escassas as informações a respeito da produção desta cultivar na região sul do Rio Grande do Sul. Sendo assim, objetivou-se com este trabalho avaliar a fenologia, a demanda térmica, a produção e as características físico- químicas, além da evolução da maturação e aplicação de ácido abscísico (S-ABA) na uva ‘Niágara Rosada’ no munícipio de Pelotas-RS. O trabalho foi dividido em três experimentos. Neles, as videiras foram conduzidas no sistema de latada, com espaçamento 2,5 entre linhas e 1,85 m entre plantas. Na primeira etapa, foram avaliadas a fenologia, a demanda térmica e a produção dessa cultivar em Pelotas-RS, nas safras 2018/2019 e 2019/2020. A fenologia foi determinada em dias, enquanto a demanda térmica foi calculada empregando-se o somatório de graus-dia. Nas duas safras, a avaliação foi realizada da poda até os subperíodos gema-algodão, brotação, aparecimento da inflorescência, florescimento, veraison e colheita. Também foram avaliadas as características físicas e produtivas. Na segunda etapa, foi avaliado a evolução da maturação da uva e para isso, a partir do início da maturação até a colheita foram analisados o teor de sólidos solúveis (SS), o pH, a acidez titulável (AT) e razão SS/AT. O terceiro experimento teve como objetivo avaliar o efeito do S-ABA nas características físico-químicas de uvas ‘Niágara Rosada’ na mesma região. O S- ABA foi aplicado em diferentes concentrações e épocas, sendo: a) testemunha; b) S- ABA 200 mg L-1 no veraison; c) S-ABA 400 mg L-1 no veraison; d) S-ABA 200 mg L-1 no veraison + 200 mg L-1 aos 20 dias após a primeira aplicação; e) S-ABA 400 mg L-1 no veraison + 400 mg L-1 aos 20 dias após a primeira aplicação. Com relação ao primeiro capítulo, a duração do ciclo foi de um dia a mais na primeira safra avaliada, que ocorreu em 150 dias; porém, a demanda térmica foi superior na segunda safra.

Quanto às caraterísticas físicas, na primeira safra constatou-se maior número de cachos, produção por planta e produtividade, concluindo-se que a ‘Niágara Rosada’

apresenta boa adaptabilidade às condições da região. No segundo experimento, constatou-se que em ambas as safras avaliadas, a cultivar Niágara Rosada apresenta evolução de maturação compatível na região em estudo. No terceiro capítulo, a aplicação de S-ABA não influenciou as características físicas da uva; entretanto, independente da concentração, foi obtido maior teor para sólidos solúveis, relação SS/AT e antocianinas em relação à testemunha. Verificou-se maior teor de compostos fenólicos na testemunha e nas uvas em que foi realizada uma aplicação de 200 mg L-

1 no veraison. Assim, apenas uma aplicação de 200 mg L-1 de S-ABA no veraison é suficiente para melhorar os atributos na uva ‘Niágara Rosada’. Conclui-se que a cultivar ‘Niágara Rosada’ apresenta características de desenvolvimento e produção satisfatórias na região de pelotas-RS, que são potencializadas com a utilização do S- ABA.

Palavras-chave: Vitis, fenologia, graus-dia, S-ABA, produção.

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Abstract

FRÖLECH, Dianini Brum. Abscisic acid and characterization of ‘Niagara Rosada’

grapes in temperate climate. 2022. 94f. Thesis (Doctorate degree) – Program of Post-Graduation in Agronomy. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2022.

‘Niagara Rosada’ is the main common grape cultivar planted in Brazil for fresh consumption; however, information regarding the production of this cultivar in the southern region of Rio Grande do Sul is scarce. Thus, the objective of this work was to evaluate the phenology, the thermal demand, the production and the physical- chemical characteristics, besides the evolution of ripening and the application of abscisic acid (S-ABA) in the ‘Niágara Rosada’ grape in the city of Pelotas-RS. The work was divided into three experiments. The grapevines were grown in trellis system, with 2.5 spacing between rows and 1.85 m between plants. In the first stage, the phenology, thermal demand and production of this cultivar were evaluated in Pelotas- RS, in the harvests 2018/2019 and 2019/2020. The phenology was determined in days, while the thermal demand was calculated using the sum of degree days. In both harvests, the evaluation was carried out from pruning to the gem-cotton subperiods, budding, inflorescence emergence, flowering, veraison, and harvest. Physical and productive characteristics were also evaluated. In the second stage, the evolution of grape maturation was evaluated and for this, from the beginning of maturation until harvest, the soluble solids content (SS), pH, titratable acidity (TA) and SS/TA ratio were analyzed. The third experiment aimed to evaluate the effect of S-ABA on the physicochemical characteristics of ‘Niagara Rosada’ grapes in the same region. S-ABA was applied at different concentrations and times, as follows: a) control; b) S-ABA 200 mg L-1 in veraison; c) S-ABA 400 mg L-1 in veraison; d) S-ABA 200 mg L-1 in veraison + 200 mg L-1 at 20 days after the first application; e) S-ABA 400 mg L-1 in veraison + 400 mg L-1 at 20 days after the first application. Regarding the first chapter, the duration of the cycle was one day longer in the first evaluated harvest, which occurred in 150 days; however, the thermal demand was higher in the second harvest. Regarding the physical characteristics, in the first harvest there was a greater number of bunches, production per plant and productivity, concluding that ‘Niágara Rosada’ has good adaptability to the conditions of the region. In the second experiment, it was found that in both vintages evaluated, the Niagara Rosada cultivar has compatible maturation evolution in the region under study. In the third experiment, the application of S-ABA did not influence the physical characteristics of the grape; however, independent of the concentration, a higher content was obtained for soluble solids, SS/TA ratio and anthocyanins in relation to the control. There was a higher content of phenolic compounds in the control and in the grapes in which an application of 200 mg L-1 in veraison was made. Thus, only one application of 200 mg L-1 of S-ABA in veraison is sufficient to improve the attributes in the ‘Niagara Rosada’ grape. It is concluded that the ‘Niagara Rosada’ cultivar presents satisfactory development and production characteristics in the Pelotas-RS region, which are enhanced with the use of S-ABA.

Keywords: Vitis, phenology, degree-days, S-ABA, production.

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Lista de figuras

Figura 1. Partes da videira... 19 Figura 2. Planta de ‘Niágara Rosada’. Foto: Dianini Brum Frölech, Pelotas-

RS... 20 Figura 3. Cacho da uva ‘Niágara Rosada’. Foto: Dianini Brum Frölech,

Pelotas-RS... 21 Figura 4. Estádios fenológicos de desenvolvimento da videira ‘Niágara

Rosada’: Gema-algodão (A); Brotação (B); Aparecimento da inflorescência (C); Florescimento (D); Veraison (E); Colheita (F).

Foto: Dianini Brum Frölech, Pelotas-RS... 25 Figura 5. Foto aérea da propriedade localizada na localidade Rincão da

Cruz, 8° Distrito de Pelotas, RS. Fonte: GOOGLE, 2022... 36 Figura 6. Estádios fenológicos de desenvolvimento da videira ‘Niágara

Rosada’. Gema-algodão (A); Brotação (B); Aparecimento da inflorescência (C); Florescimento (D); Veraison (E); Colheita (F).

Foto: Dianini Brum Frölech, Pelotas, RS... 38 Figura 7. Precipitação pluviométrica (mm) e temperatura média do ar (oC)

registradas em estação meteorológica automática nas safras 2018/2019 e 2019/2020, em Pelotas-RS... 39 Figura 8. Duração em dias dos estádios fenológicos da uva ‘Niágara Rosada’

produzida na safra 2018/2019 (A) e 2019/2020 (B) em Pelotas-RS.

Pelotas-RS, 2022. Obs: GA: Gema Algodão; BR: Brotação; AI:

Aparecimento da Inflorescência; FL: Florescimento; VR: Veraison;

CL: Colheita... 40 Figura 9. Somatório da exigência térmica da uva ‘Niágara Rosada’ produzida

nas safras 2018/2019 e 2019/2020 em Pelotas-RS. Pelotas-RS, 2022... 44 Figura 10. Vinhedo de ‘Niágara Rosada’ na colônia Maciel, localizada em

Pelotas-RS. Foto: Dianini Brum Frölech, Pelotas-RS. ... 50 Figura 11. Início da compactação dos cachos (A) e da maturação (B). Fotos:

Dianini Brum Frölech, Pelotas-RS... 51 Figura 12. Precipitação pluviométrica (mm) e temperatura média do ar (oC)

registradas em estação meteorológica automática nas safras 2018/2019 e 2019/2020, em Pelotas-RS... 53

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Figura 13. Evolução do teor de sólidos solúveis da uva ‘Niágara Rosada’ nas safras 2018/2019 e 2019/2020 durante a maturação. Pelotas-RS, 2022... 53 Figura 14. Evolução do teor de acidez titulável da uva ‘Niágara Rosada’ nas

safras 2018/2019 e 2019/2020 durante a maturação. Pelotas-RS, 2022... 55 Figura 15. Evolução do pH da uva ‘Niágara Rosada’ nas safras 2018/2019 e

2019/2020 durante a maturação. Pelotas-RS, 2022... 57 Figura 16. Evolução da razão SS/AT da uva ‘Niágara Rosada’ nas safras

2018/2019 e 2019/2020 durante a maturação. Pelotas-RS, 2022... 58 Figura 17. Momento da aplicação de S-ABA na uva ‘Niágara Rosada’ em

Pelotas-RS... 62 Figura 18. Momento da primeira aplicação (A) e da segunda aplicação (B) de

S-ABA na uva ‘Niágara Rosada’ em Pelotas-RS... 63 Figura 19. Identificação dos tratamentos e cachos marcados (A) e colheita (B)

da uva ‘Niágara Rosada’ tratada com S-ABA em Pelotas-RS.

Fotos: Dianini Brum Frölech... 63 Figura 20. Cachos da uva ‘Niágara Rosada’ tratados com S-ABA, sendo:

Testemunha (A); S-ABA 200 mg L-1 no veraison (B); S-ABA 400 mg L-1 no veraison (C); S-ABA 200 mg L-1 no veraison + 200 mg L-1 aos 20 dias após a primeira aplicação (D); S-ABA 400 mg L-1 no veraison + 400 mg L-1 aos 20 dias após a primeira aplicação (E).

Fotos: Dianini Brum Frölech, Pelotas-RS... 68

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Datas de ocorrência das fases fenológicas da uva ‘Niágara Rosada’

produzida nas safras 2018/2019 e 2019/2020 em Pelotas-RS.

Pelotas-RS, 2022... 41 Tabela 2. Exigência térmica da uva ‘Niágara Rosada’ produzida nas safras

2018/2019 e 2019/2020 em Pelotas-RS. Pelotas-RS, 2022... 43 Tabela 3. Características físicas da uva ‘Niágara Rosada’ produzida nas

safras 2018/2019 e 2019/2020 em Pelotas-RS. Pelotas-RS, 2022.. 45 Tabela 4. Características produtivas uva ‘Niágara Rosada’ produzida nas

safras 2018/2019 e 2019/2020 em Pelotas-RS. Pelotas-RS, 2022.. 46 Tabela 5. Características físicas dos cachos e das bagas da videira ‘Niágara

Rosada’ submetida a diferentes tratamentos com S-ABA. Pelotas- RS, 2022... 66 Tabela 6. Atributos de cor das bagas da videira ‘Niágara Rosada’ submetida

a diferentes tratamentos com S-ABA. Pelotas-RS, 2022... 67 Tabela 7. Características químicas das bagas da videira ‘Niágara Rosada’

submetida a diferentes tratamentos com S-ABA. Pelotas-RS, 2022... 69 Tabela 8. Compostos Fenólicos Totais e Antocianinas Totais da casca das

bagas da videira ‘Niágara Rosada’ submetida a diferentes tratamentos com S-ABA. Pelotas-RS, 2022... 71

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ... 13

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 15

2.1 Viticultura brasileira ... 15

2.1.1 Viticultura no Rio Grande do Sul ... 16

2.2 Videira ... 17

2.3 ‘Niágara Rosada’ ... 20

2.4 Fenologia ... 22

2.4.1 Demanda térmica ... 26

2.5 Evolução da maturação ... 27

2.6 Características físico-químicas da uva ... 29

2.6.1 Compostos fenólicos ... 31

2.7 Ácido abscísico ... 32

3. CAPÍTULO 1 - FENOLOGIA, DEMANDA TÉRMICA E PRODUÇÃO DE ‘NIÁGARA ROSADA’ EM CLIMA TEMPERADO ... 35

3.1 Introdução ... 35

3.2 Material e métodos ... 36

3.3 Resultados e discussão ... 40

3.4 Conclusões ... 47

4. CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DA MATURAÇÃO DA UVA ‘NIÁGARA ROSADA’ EM PELOTAS-RS ... 49

4.1 Introdução ... 49

4.2 Material e Métodos ... 50

4.3 Resultados e Discussão ... 53

4.4 Conclusão ... 59

5. CAPÍTULO 3 – ÁCIDO ABSCÍSICO NA BAGA DA UVA ‘NIÁGARA ROSADA’ EM CLIMA TEMPERADO ... 60

5.1 Introdução ... 60

5.2 Material e Métodos ... 61

5.2.1 Localização e condições de cultivo ... 61

5.2.2 Delineamento experimental, tratamentos e avaliações ... 62

5.3 Resultados e Discussão ... 65

5.4 Conclusão ... 73

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 74

7. REFERÊNCIAS ... 76

(14)

1. INTRODUÇÃO

A produção brasileira de uvas para mesa apresenta importância econômica e social, por gerar emprego e renda, tornando-se uma atividade rentável tanto para a agricultura familiar como empresarial (SOUZA et al., 2020).

Em relação às uvas finas, a Vitis vinifera é a espécie de maior importância na produção de vinho, devido às suas características superiores de aroma e sabor (CUI et al., 2021). Porém, no Brasil também são produzidas as uvas comuns (Vitis labrusca e híbridas), muito utilizadas na indústria (CARGNIN, 2019) e para o consumo in natura (MELLO e MACHADO, 2021).

Dentre as cultivares de uvas comuns para mesa está a ‘Niágara Rosada’, resultado de uma mutação somática ocorrida na uva ‘Niágara Branca’ no município de Jundiaí-SP (VERDI, 2019). Além de ser a mais consumida no mercado in natura, recentemente a indústria também tem utilizado essa cultivar para a extração de suco (MONTEIRO et al., 2021).

Para o sucesso na produção dessa uva o conhecimento da fenologia na região em que será cultivada é essencial, pois permite verificar a duração de suas fases de desenvolvimento em determinada condição climática. Quando aliado aos dados das necessidades térmicas de cada cultivar, permite um planejamento mais seguro da implantação de cultivares específicas para cada local e em outras regiões com condições climáticas semelhantes (MARIANI, et al., 2019).

Além desses aspectos, conhecer os mecanismos da maturação das uvas possibilita a organização dos trabalhos de campo e planejamento da indústria (MANDELLI, et al., 2003). Este período da maturação é definido como o intervalo compreendido entre a troca de cor e a colheita (BLOUIN e GUIMBERTEAU, 2004).

Os métodos de acompanhamento desse período devem ser de fácil determinação e podem ser baseados em modificações bioquímicas que ocorrem durante o amadurecimento da uva (GIOVANINNI, 2009), como teor de açúcares, ácidos e valor de pH (GUERRA, 2003).

Outra atividade fundamental nas áreas de produção é a caracterização físico- química e produtiva da videira. No entanto, em alguns anos as adversidades climáticas podem fazer com que a planta não alcance índices ótimos de maturação, o que pode influenciar diretamente na cor das uvas (POMMER et al., 2003; GARDIN, 2012), entre outras características. De acordo com Cabrita et al. (2003), no que se

(15)

refere à coloração, as antocianinas são os compostos mais importantes, pois exercem grande influência no valor comercial do produto direcionado ao consumo in natura.

Visando superar os entraves no cultivo e minimizar aqueles decorrentes de situações climáticas desfavoráveis, a utilização do ácido abscísico tem sido adotada em várias regiões vitícolas do mundo (ALLEBRANDT et al., 2017; WURZ et al., 2017), apesar do custo de produção desse regulador de crescimento ser muito elevado para viabilizar o seu uso (LEÃO, 2014). Entretanto, foi desenvolvido um método de produção biológica de (S)-cis-ácido abscísico (S-ABA), tornando o método de produção economicamente viável, o que possibilitou seu uso na agricultura (SOUZA et al., 2020; OWEN et al., 2009).

Vários autores vêm investigando o efeito do ácido abscísico (S-ABA) (SHAHAB et al., 2020; KOYAMA et al., 2019; YAMAMOTO et al., 2018; NETO et al., 2017b), uma vez que aplicações exógenas desse regulador propiciam aumento na concentração de antocianinas na casca de uva (SOUZA et al., 2020), mas a maioria desses estudos foram realizados em uvas finas de mesa e em região de clima subtropical.

No caso da ‘Niágara Rosada’ produzida na região de Pelotas-RS, não foram verificadas na literatura informações sobre o efeito do S-ABA aplicado na baga de uvas e são escassas as informações a respeito de sua fenologia, evolução da maturação e caracterização físico-química e produtiva, o que evidencia a necessidade de estudos sobre o tema, visto que poderá propiciar ao agricultor e ao consumidor a obtenção de um produto de melhor qualidade.

Com base nesses aspectos, foram realizados três experimentos que serão apresentados neste trabalho em capítulos, sendo:

Capitulo 1: Fenologia, demanda térmica e produção da uva ‘Niágara Rosada’

em clima temperado.

Capítulo 2: Evolução da maturação da uva ‘Niágara Rosada’ em Pelotas-RS.

Capitulo 3: Ácido abscísico na baga da uva ‘Niágara Rosada’ em clima temperado.

(16)

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Viticultura brasileira

A introdução da videira no Brasil foi realizada por Martim Afonso de Souza, que em 1532 trouxe as primeiras mudas de Vitis vinifera L. para a capitania de São Vicente, atual Estado de São Paulo (LEÃO, 2010). A partir deste ponto e por meio de introduções posteriores, a viticultura expandiu-se para outras regiões do país com cultivares procedentes de Portugal e da Espanha (PROTAS et al., 2002).

Atualmente, a viticultura brasileira apresenta características próprias, associadas a valores históricos, ambientais e territoriais que a distingue das tradicionais regiões vitícolas do mundo, sendo que a maior parte da produção provém da agricultura familiar (MELLO, 2018). Conforme Mello e Machado (2020), no país existem distinções regionais, com particularidades no ciclo de produção, época de colheita, cultivares, tratos culturais, tipo de produto e foco de mercado.

Entre as frutíferas cultivadas em território nacional, a uva é a quarta mais produzida e a terceira em relação ao maior valor de produção (KIST et al., 2021). Em 2020 o cultivo ocupou uma área de 74 mil ha, com 1.435.596 toneladas produzidas e rendimento médio de 19.472 kg/ha (IBGE, 2020). Deste total, o principal destino é o consumo in natura, com mais de 750 mil t, seguido de 661 mil toneladas direcionadas para o processamento (MELLO e MACHADO, 2021).

No segmento de uvas para processamento, o maior volume é utilizado para a produção de suco e vinho de mesa, e o restante, para a elaboração de vinhos finos.

Por outro lado, em relação ao consumo in natura, na viticultura de clima temperado são cultivadas uvas rústicas e finas de mesa, enquanto na viticultura tropical o foco principal são uvas finas sem sementes, com a possibilidade de produzir em qualquer época do ano, com até 2,5 safras por ano (MELLO e MACHADO, 2021).

A principal uva comum destinada ao consumo in natura é a ‘Niágara Rosada’, com 10.385 t, comercializadas em 2020 com preço médio de R$ 6,21/kg, enquanto a uva fina ‘Itália’ obteve o preço médio de R$ 6,06/kg em São Paulo-SP (MELLO e MACHADO, 2021).

A produção nacional concentra-se na região Sul, que representou mais de 73%

da área total em 2020, sendo o Rio Grande do Sul o principal produtor, com cerca de 63% da área (MELLO e MACHADO, 2021).

(17)

O segundo maior Estado produtor do Brasil é Pernambuco, com aproximadamente 8,3 mil ha, seguido de São Paulo, com 8 mil ha; porém, devido a possibilidade de mais de duas safras anuais, a produção de Pernambuco pode ser mais que o dobro em relação a São Paulo (MELLO e MACHADO, 2021).

2.1.1 Viticultura no Rio Grande do Sul

Com relação ao Rio Grande do Sul, as primeiras videiras foram introduzidas em 1626 pelos padres jesuítas e o cultivo teve grande impulso a partir de 1875 com a chegada dos imigrantes italianos, que trouxeram consigo castas européias, apesar das condições climáticas do Estado não favorecerem seu cultivo (LEÃO, 2010).

No Estado, a vitivinicultura está estruturada em quatro polos de produção: a Serra Gaúcha, a Campanha, a Serra do Sudeste e a Região Central (FIORAVANÇO, 2018). De acordo com o Cadastro Vitícola do estado (MELLO e MACHADO, 2017), a viticultura está dividida em 27 microrregiões, sendo a de Caxias do Sul a de maior produção.

Em relação às cultivares produzidas no Rio Grande do Sul, a Niágara Rosada é a quinta em termos de volume de produção, ocupando uma área de 2.088 ha, o que representa quase 5% da área de vinhedos no estado com uma produção de 36 mil toneladas. Somando a ‘Niágara Rosada’, são cultivadas 138 cultivares de uva, sendo que 30 delas somam mais de 95% da área total, com as uvas ‘Isabel’ e ‘Bordô’

ocupando quase metade da área vitícola (MELLO e MACHADO, 2017).

Na região sul desse Estado, estima-se que trinta e oito famílias dedicam-se ao cultivo da videira em 46 hectares, com produtividade média de 30 a 40 toneladas por hectare no interior de Pelotas (SEIDEL, 2021b). Dessa área, 30 hectares são plantados com cultivares destinadas à elaboração de sucos e vinhos e, 16, para as de consumo in natura, como a ‘Niágara Rosada’, ‘Niágara Branca’, ‘Bordô’ e a ‘Isabel’

(SEIDEL, 2021a), sendo a viticultura uma fonte extra de renda para a maioria das famílias. Dentre as cultivares, nos últimos anos a Niágara Rosada vem sendo o símbolo da abertura da colheita da uva em Pelotas-RS, festa que ocorre anualmente.

Independente do destino da produção e o do local de cultivo, ocorreram avanços importantes no setor, tais como a adoção de novas cultivares, uso de práticas e processos mais sustentáveis, diversificação da produção, implementação das

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Indicações Geográficas e expansão em novas regiões do Brasil (MELLO, 2019).

2.2 Videira

O provável centro de origem da videira é a atual Groenlândia, onde teria surgido a primeira espécie de videira milhões de anos atrás, no Período Terciário durante a Era Cenozóica (GIOVANINNI, 2014). No final do Período Quaternário, quando iniciou a glaciação da Terra, vastas extensões ficaram cobertas sob espesso manto de gelo, forçando a dispersão da videira e extinção da espécie naquele local (ALVARENGA et al., 1998; GIOVANINNI, 2014). Os três principais centros de refúgios foram a Eurásia, Ásia e América (ALVARENGA et al., 1998).

A Eurásia é caracterizada pelo clima temperado árido, de verão quente e seco e inverno frio e úmido, sendo o centro de origem da espécie mais cultivada no mundo, a Vitis vinífera (SOUZA, 2013). Situa-se nas áreas mediterrâneas francesas e italianas, e ainda na península balcânica (ROBERTO e PEREIRA, 2001).

O centro asiático se formou ao sul do Cáspio, entre o Cáucaso, o Ararat e o Taurus, dando origem a subvariedade caucásica, uma evolução da Vitis vinífera. É considerado o berço da viticultura atual, correspondendo atualmente às áreas das repúblicas da Armênia, Azerbaijão e Geórgia (ROBERTO e PEREIRA, 2001). É o centro mais rico em espécies e variabilidade genética, devido à vasta dimensão territorial e amplitude climática, no entanto, são pouco conhecidas e raramente utilizadas (SOUZA, 2013).

Quanto ao centro de origem Americano, a riqueza de espécies é de grande importância para a produção de uvas e derivados, bem como na utilização de programas de melhoramento genético (SOUZA, 2013). Nele deu-se origem às espécies Vitis labrusca, Vitis vulpina, Vitis berlandieri, entre outras (ROBERTO e PEREIRA, 2001).

A videira pertence à divisão Magnoliophyta, classe Magnoliopsida, subclasse Rosidae, ordem Rhamnales, família Vitaceae ou Ampelidaceae (QUEIROZ-VOLTAN e PIRES, 2003).

Na família Vitaceae existem 12 gêneros, entretanto, o gênero Vitis é único que apresenta importância econômica, social e histórica, estando dentro dele todas as videiras, sejam estas silvestres ou cultivadas. Este gênero é subdividido em dois

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subgêneros, Euvitis e Muscadinia, os quais correspondem a seções de iguais nomes, estando as espécies agrupadas de acordo com sua morfologia e origem geográfica (RADMANN; BIANCHI, 2008).

Na seção Euvitis, que agrupa plantas com 38 cromossomos com gavinhas compostas ou bifurcadas, córtex esfoliável e nós com diafragma, as espécies estão dispostas em 11 séries, com um total de 63 espécies (QUEIROZ-VOLTAN e PIRES, 2003). Entre as espécies presentes neste subgênero, a Vitis labrusca L. e Vitis vinifera L., também conhecidas respectivamente, como uvas americanas e europeias, destacam-se por sua importância econômica (SOUZA, 2013).

A Vitis vinifera L. é a espécie possui maior importância econômica mundial, pois constitui a base da vitivinicultura, consideradas como castas nobres devido à qualidade dos vinhos (CAMARGO; OLIVEIRA, 2001). Em contrapartida, as uvas comuns, também chamadas de americanas e híbridas, pertencentes ao gênero Vitis e à espécie labrusca (Vitis labrusca) ou ao cruzamento desta com outras espécies (NACHTIGAL, 2011), apresentam características mais rústicas quanto à suscetibilidade a doenças e fundamentam a viticultura em regiões inaptas às castas mais nobres (SOUZA, 2013).

A videira é uma frutífera de clima temperado, possuindo algumas características como hábito caducifólio; um único surto de crescimento; necessidade de frio com temperaturas ≤ 7,2°C, para superação do estádio de repouso vegetativo;

maior resistência às baixas temperaturas e; necessidade de temperatura média anual entre 5 e 15°C para crescimento e desenvolvimento (FACHINELLO et al., 2008).

A planta é geralmente liana, como cipó ou trepadeira e possui folhas alternas (GIOVANINNI, 2014). Seus órgãos são representados pela raiz e pela parte aérea, se distinguindo em tronco e os ramos, onde se desenvolvem as gemas, folhas, gavinhas, flores e frutos (Figura 1) (QUEIROZ-VOLTAN e PIRES, 2003).

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Figura 1. Estruturas da videira (GIOVANINNI, 2014).

As raízes constituem a parte subterrânea da videira e têm como função principal fixar a planta ao solo absorvendo água e elementos minerais necessários a planta (QUEIROZ-VOLTAN e PIRES, 2003). Quando originada de semente, há uma raiz principal, pivotante, que se aprofunda no solo, ramificando-se em raízes secundárias, terciárias e assim por diante. Quando originária de uma estaca, possui diversas raízes mestras que partem de um ou mais pontos de inserção (nós), não havendo raiz principal (GIOVANINNI, 2014).

Quanto ao tronco, é o responsável pela sustentação da planta e conecta as raízes à parte aérea, tendo como função conduzir os nutrientes minerais e a água absorvida pelas raízes para as folhas e demais partes; conduzir seiva elaborada da parte aérea às raízes da videira e; armazenar reservas nutritivas (GIOVANINNI, 2014).

As gemas são formadas em cada nó dos ramos, sendo recobertas por escamas que as protegem durante o inverno. Após esse período, inicia-se a brotação, dando origem a todas as demais partes aéreas que se formam durante um ciclo de crescimento anual da videira (GIOVANINNI, 2014).

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Os ramos e brotos, formados por nós e entrenós, variam com a cultivar, estado sanitário e com o vigor da planta, e dos nós partem as folhas, gavinhas e inflorescências (GIOVANINNI, 2014).

A folha é constituída pelo pecíolo e pelo limbo e são os órgãos onde se elaboram os compostos orgânicos que serão utilizados na formação de todos os tecidos (GIOVANINNI, 2014). Apresentam variação na forma, no tamanho, na coloração e a presença ou não de pelos, oferecendo características para a identificação das espécies e cultivares (QUEIROZ-VOLTAN e PIRES, 2003).

A flor é responsável pela reprodução da planta (GIOVANINNI, 2014). Elas são dispostas em inflorescências na forma de cachos (tirsos) e completas, constituídas de cálice, corola, androceu e gineceu (QUEIROZ-VOLTAN e PIRES, 2003).

Os frutos são denominados bagas e se acham reunidos em cachos, onde as bagas apresentam forma, tamanho, cor, sabor, consistência segundo a variedade (SIMÃO, 1998). Quanto as gavinhas, são órgãos filiformes, homólogos aos cachos e possuem a função de sustentar a planta (QUEIROZ-VOLTAN e PIRES, 2003).

2.3 ‘Niágara Rosada’

A uva ‘Niágara Rosada’ (Figura 2) é o resultado de uma mutação somática ocorrida na uva ‘Niágara Branca’ (Vitis labrusca L.x Vitis vinifera L.) no município de Jundiaí, em 1933 (POMMER, 2003).

Figura 2. Plantas de ‘Niágara Rosada’. Foto: Dianini Brum Frölech, Pelotas-RS.

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Mesmo sendo originária de clima temperado (SANCHEZ-RODRIGUEZ, 2016), esta cultivar possui dificuldade de emissão e desenvolvimento das brotações após as podas de produção, quando realizadas na ocorrência de temperaturas inferiores a 10ºC (NEIS et al., 2010), o que pode provocar baixa rentabilidade à cultura (FRACARO et al., 2004; CONCEIÇÃO, 2021). Assim, os produtores devem adequar as suas podas de tal forma a evitar a brotações em períodos com maior ocorrência de temperaturas inadequadas (CONCEIÇÃO, 2021).

Por outro lado, adapta-se aos climas subtropical e tropical do Brasil, ocorrendo nessas condições o crescimento indeterminado devido a videira não hibernar em inverno ameno (SANCHEZ-RODRIGUEZ, 2016). Além disso, a ‘Niágara Rosada’

possui a vantagem da possibilidade de produção em outras épocas visando a produção em períodos mais secos do ano (CONCEIÇÃO, 2021).

Essa cultivar possui vigor médio e é muito produtiva. Seus cachos (Figura 3) são de tamanho médio, cônicos e compactos, pesando em média 200 a 300 gramas, com baixa resistência ao transporte e armazenamento. As bagas de cor rosado- avermelhada, com cerca de 5 a 6 gramas, possuem forma ovalada, sucosa e bastante pruína. Seu sabor é doce foxado, muito apreciado pelos brasileiros (MANICA;

POMMER, 2006).

Figura 3. Cacho da uva ‘Niágara Rosada’. Foto: Dianini Brum Frölech, Pelotas-RS.

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Apresenta média resistência ao míldio (Plasmopara viticola) e antracnose (Eusinoë ampelina), é sensível à podridão-da-uva-madura (Glomerella cingulata), podridão-amarga (Greeneria uvicola) e mancha-das-folhas (Mycosphaerella personata). Apresenta boa resistência à podridão cinzenta, causada por Botrytis cinerea, e ao oídio (Uncinula necator), tanto nas folhas como nos cachos. É sensível à ferrugem-da-videira (Phakopsora euvitis) e requeima-das-folhas (Alternaria alternata) (MAIA, 2012; GARRIDO e GAVA, 2014).

De acordo com Sanchez-Rodriguez et al. (2016), o sistema de condução mais utilizado para 'Niágara Rosada' é o de espaldeira, em que as plantas são conduzidas em um único plano vertical. No entanto, segundo os mesmos autores, com a utilização de porta-enxertos mais vigorosos, outros sistemas de condução vêm sendo adotados, no intuito de alcançar o equilíbrio entre o vigor da planta e a produção.

Em relação à utilização, é a uva de mesa mais consumida; porém, recentemente a indústria também tem utilizado essa cultivar para extração de suco (MONTEIRO et al., 2021), possuindo boa aceitação dos consumidores quando cortado com uma variedade tintureira (FRÖLECH et al., 2019).

Também é utilizada na produção de vinho quando ocorre produção excedente, frutas fora de padrão comercial ou em momentos de queda de preços, possuindo aroma e sabor foxados, bastante apreciados pelos consumidores, mas de coloração levemente rosada e instável, passando rapidamente para tons amarelos (BARNABÉ, 2006).

2.4 Fenologia

Fenologia refere-se à parte da botânica que estuda as diferentes fases do crescimento e desenvolvimento das plantas, tanto a vegetativa como a reprodutiva (OLIVEIRA et al., 2018). A fenologia de uma planta constitui uma ferramenta eficaz que possibilita identificar, por meio da observação dos caracteres morfológicos, o tempo fisiológico ao qual se encontram associadas às necessidades desse vegetal que, uma vez atendidas, possibilitarão seu desenvolvimento normal e, consequentemente, alcançarão os rendimentos adequados (OLIVEIRA et al., 2018).

Com relação a videira, a caracterização dos estádios fenológicos do ciclo produtivo fornece várias informações de grande utilidade para o agricultor, visto que o

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conhecimento das etapas do desenvolvimento pode contribuir com a redução considerável dos custos de produção da videira, tornando-os mais racionais (BORGES, 2019).

Segundo Murakami et al. (2002), dentre as principais vantagens do estudo da fenologia da videira estão a redução dos tratamentos fitossanitários, que passam a ser realizados de maneira mais racional de acordo com as principais pragas e doenças, dentro da fase de desenvolvimento em que a cultura se encontra; melhoria na qualidade dos frutos; economia de insumos; e colheita na entressafra brasileira.

Além desses aspectos, algumas operações na cultura da videira, como a colheita, demandam muita mão-de-obra e, dependendo do tamanho da propriedade, pode ser ainda mais concentrada.

Desse modo, a partir do conhecimento da duração das diferentes fases fenológicas essas operações poderão ser programadas em função das datas de realização das podas de frutificação, distribuindo mais uniformemente a demanda por mão-de-obra na cultura (ROBERTO et al., 2005).

Partindo do princípio que a fenologia da videira varia em função do genótipo e das condições climáticas de cada região produtora, ou em uma mesma região devido às variações estacionais do clima ao longo do ano (LEÃO e SILVA, 2003; PIRES e LIMA, 2018), estudos que visem caracterizar o comportamento das plantas levando em consideração as particularidades de cada local são importantes para o planejamento de seu cultivo (PIRES e LIMA, 2018).

Petri et al. (2021) relataram que devido à expansão da fruticultura de clima temperado para regiões de inverno ameno, onde o frio é insuficiente para satisfazer as necessidades fisiológicas da dormência, observa-se um comportamento diferenciado da videira. Assim, em condição de clima tropical, predominante no Vale do São Francisco, por exemplo, como as temperaturas médias são elevadas ao longo do ano a videira vegeta continuamente, não apresentando fase de repouso hibernal (PETRI et al., 2021; PIRES e LIMA, 2018), passando a data de poda a ser a referência para o início do ciclo fenológico da planta, que sofre a influência das condições climáticas predominantes durante aquele período (LEÃO e SILVA, 2003).

Pedro Júnior e Sentelhas (2003) afirmaram que a videira apresenta uma sucessão de ciclos vegetativos, que são intercalados por períodos de repouso e Galet (1983) subdividiu o ciclo da videira nos seguintes períodos: a) de crescimento: da

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brotação ao fim do crescimento; b) reprodutivo: da floração à maturação; c) de amadurecimento dos tecidos: da paralisação do crescimento à maturação dos ramos;

d) vegetativo: do "choro" à queda das folhas; e) de repouso: entre dois ciclos vegetativos.

Assim, após a fase de dormência das plantas, iniciam-se a brotação com o acúmulo de energia proveniente de temperaturas altas (PETRI et al., 2021). Dividindo- se a duração total do ciclo da videira, é possível avaliar o desenvolvimento considerando todas as fases de desenvolvimento, desde a brotação até o momento da colheita pelos estádios fenológicos de acordo com a classificação proposta por Baillod e Baggiolini (1993) (Figura 4):

a) Gema-algodão: quando 50% das gemas atingiram o segundo estágio de desenvolvimento da videira, ou seja, quando as escamas se romperam, aparecendo a plumagem.

b) Brotação: quando 50% das gemas atingiram o quarto estágio, ou seja, a saída das folhas.

c) Aparecimento da inflorescência: quando 50% dos ramos apresentaram inflorescência, sendo os cachos visíveis, embora rudimentares.

d) Florescimento: quando 50% das flores estavam abertas (florescimento propriamente dito com flores visíveis).

e) Veraison: quando 50% das bagas mudaram de coloração, adquirindo coloração avermelhada, iniciando o amolecimento.

f) Colheita: momento em que 100% das bagas apresentaram coloração intensa, com teor máximo de sólidos solúveis totais.

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Figura 4. Estádios fenológicos de desenvolvimento da videira ‘Niágara Rosada’: Gema-algodão (A);

Brotação (B); Aparecimento da inflorescência (C); Florescimento (D); Veraison (E); Colheita (F). Foto:

Dianini Brum Frölech, Pelotas-RS.

Como é uma frutífera de clima temperado, para que ocorra a superação da dormência das gemas, a videira requer certa quantidade de frio no inverno para que ocorra um desenvolvimento adequado (PETRI et al., 2021). De acordo com os mesmos autores, para sobreviverem ao período hibernal, elas desenvolvem um mecanismo de adaptação que passa pela aquisição da resistência ao frio e de controle do crescimento que se chama dormência. Durante este período, a planta não apresenta crescimento visível; porém, as atividades metabólicas continuam, embora com intensidade reduzida.

Outro fato a ser considerado está relacionado com a expansão da fruticultura de clima temperado para regiões de inverno ameno, onde o frio é insuficiente para

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satisfazer as necessidades fisiológicas da dormência, observando-se um comportamento diferenciado da planta (PETRI et al., 2021).

Muitas pesquisas sobre a fenologia da videira foram realizadas em diferentes cultivares e regiões (NUNES, et al., 2016; SOUZA et al., 2016; MARIANI et al., 2019;

MIELE, 2019). No caso da ‘Niágara Rosada’, alguns estudos foram realizados em diferentes regiões do país, como em Santa Rita do Araguaia–GO (MARTINS et al., 2014), Piracicaba-PR (SANCHEZ-RODRIGUEZ et al., 2016), Laranjeiras do Sul-PR (PIRES e LIMA, 2018), dentre outras.

No Rio Grande do Sul, alguns trabalhos também foram realizados, como por Anzanello et al. (2012), que analisaram a fenologia da ‘Niágara Rosada’ submetida a dois ciclos vegetativos em Eldorado do Sul. Na região sul do Estado, a fenologia foi tema de algumas pesquisas, como a de Azevedo (2010), que avaliou a fenologia das cultivares ‘Bordô’, ‘Isabel’, ‘BRS Violeta’ e ‘Niágara Rosada’. Já Borges (2019), avaliou o desenvolvimento fenológico de videira ‘Niágara Rosada’ cultivada com e sem cobertura.

2.4.1 Demanda térmica

A disponibilidade térmica tem influência direta no crescimento e no desenvolvimento das plantas (ANZANELLO e CHRISTO, 2019), sendo a temperatura do ar um dos elementos envolvidos no estudo da relação clima-vegetal, considerando- se a época de ocorrência dos subperíodos específicos de cada cultura (PRELA et al., 2006).

Uma das maneiras de relacionar o desenvolvimento de um vegetal com a temperatura média do ar é o uso do sistema de unidades térmicas (ARAÚJO et al., 2010; TOMAZETTI et al., 2015). Esta unidade térmica normalmente é expressa em graus-dia, sendo a diferença acumulada entre a temperatura média ambiente e a temperatura base (valor abaixo do qual não ocorre desenvolvimento vegetativo da planta) (PEDRO JÚNIOR e SENTELHAS, 2003; LEÃO e SILVA, 2003; MARTINS et al 2017).

Tal unidade é utilizada, principalmente na determinação de épocas de plantio e colheita dos vegetais, contribuindo para uma agricultura racional. Pode ser estimado

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através de dados termométricos, obtidos em abrigos meteorológicos (PEDRO JÚNIOR et al., 1977).

Para a videira, a temperatura base pode variar de acordo com a cultivar, espécie (PEDRO JÚNIOR e SENTELHAS, 2003), e local analisado (PEDRO JÚNIOR et al., 1993). No caso da uva ‘Niágara rosada’, a temperatura base para o ciclo (poda- colheita) é de 10oC, determinado em Jundiaí-SP por Pedro Júnior et al. (1994).

Muitos trabalhos foram realizados visando verificar as exigências térmicas de diferentes cultivares videiras em regiões distintas do país (MARTINS et al., 2017;

ANZANELLO e CHRISTO, 2019; AHMED et al., 2019; FELIPPETO et al., 2021). Para a ‘Niágara Rosada’, foram realizados estudos das exigências térmicas no Rio Grande do Sul, como em Eldorado do Sul (ANZANELLO et al., 2012), em Votuporanga-SP (TECCHIO et al., 2011), em Santa Rita do Araguaia-GO (MARTINS et al., 2014), Laranjeiras do Sul-PR (PIRES e LIMA, 2018), dentre outras regiões.

2.5 Evolução da maturação

A formação do bago ocorre com a com a fecundação dos óvulos das flores da videira (DIAS, 2006). Após a formação do bago vem a maturação da uva, que segundo Guerra (2003) e Dias (2006), compreende quatro fases: crescimento herbáceo, mudança de cor, maturação e sobrematuração.

O período herbáceo vai desde a formação do grão até a mudança de cor da película da baga (GUERRA, 2003). Este período pode durar de 45 a 65 dias, e tem como característica a baga ser verde e dura (DIAS, 2006).

Com relação à mudança de cor, a cor das bagas nas uvas tintas varia do verde ao roxo e, nas brancas, do verde ao verde-amarelado. Essa mudança vem acompanhada de mudanças físicas na baga, tornando-se inchada, adquirindo certa elasticidade e amolecimento (GUERRA, 2003).

A maturação compreende o período da mudança de cor até a colheita da uva, podendo durar de 35 a 65 dias, dependendo da cultivar e da região de cultivo (GUERRA, 2003). De acordo com o mesmo autor, neste período a uva amolece cada vez mais, devido à perda de rigidez da parede das células da película e da polpa.

Neste período ocorre um aumento dos açúcares enquanto a acidez começa a diminuir (DIAS, 2006). Além disso, a sobrematuração corresponde à fase em que a maturação

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foi excedida (DIAS, 2006), com início a partir do momento em que não há mais síntese notável de açúcares, nem decréscimo apreciável da acidez (GUERRA, 2003).

De acordo com Guerra (2003), a maturação da uva pode ser dividida em dois tipos: maturação tecnológica e maturação fisiológica. A maturação tecnológica é o período no qual as uvas apresentam as características ideais para o fim a que se destinam. Já a maturação fisiológica diz respeito às transformações fisiológicas e morfológicas que ocorrem na uva à medida que a maturação avança.

Diversos fatores podem interferir na maturação da uva, como como a genética (GIOVANINNI, 2009), as condições meteorológicas, a produtividade, o estado nutricional e fitossanitário da planta, o sistema de condução, dentre outros (MANDELLI et al., 2003; GIOVANINNI, 2009).

Quanto à produtividade, plantas com excessiva carga apresentam maturação irregular, podendo apresentar desequilíbrio na relação quantidade/qualidade (MANDELLI et al., 2003). Ademais, a superprodução pode provocar atraso na maturação ou mesmo impedir a maturação completa dos frutos (GIOVANINNI, 2009).

Com relação ao estado nutricional da planta, vinhedos com elevados teores de nitrogênio no solo aumentam o crescimento vegetativo, podendo promover o desequilíbrio entre a parte vegetativa e a produção dos frutos (MANDELLI et al., 2003).

No que diz respeito ao sistema de condução, pode afetar a maturação ao modificar a captação e a distribuição da radiação solar dentro do dossel vegetativo, sendo que quanto mais luz e mais bem distribuída, melhor a maturação da uva (GIOVANINNI, 2009). Além disso, com proximidade da colheita, as condições meteorológicas podem interferir diretamente nos dias que antecedem a sua realização (MANDELLI et al., 2003), podendo influenciar no estado sanitário da videira, diminuindo sua capacidade de maturar os frutos (GIOVANINNI, 2009).

Considerando estes fatores, a determinação do ponto desejado de colheita deve ser indicada por parâmetros de fácil determinação, baseado em modificações bioquímicas e morfológicas que ocorrem durante o amadurecimento da uva, mas ressaltando que estas não são simultâneas em todos os cachos no mesmo vinhedo (GIOVANINNI, 2009). Dentre os principais controles podemos destacar a evolução dos açúcares, da acidez, pH e relação sólidos solúveis/acidez total (SS/AT) (GIOVANINNI, 2009; GUERRA, 2003).

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Os principais açúcares presentas na uva são a glicose e a frutose (BLOUIN e GUIMBERTEAU, 2004), o acúmulo desses açúcares provêm do processo de fotossíntese realizado nos órgãos da videira e se acumulam na planta na forma de sacarose. Após a troca de cor, eles se acumulam nos vacúolos das células da polpa e a sacarose é hidrolisada em glicose e frutose (DIAS, 2006), atingindo a relação de 1/1 (GIOVANINNI, 2009).

Os principais ácidos encontrados na uva são o ácido tartárico, málico e cítrico, sendo que os dois primeiros constituem mais de 90% dos ácidos da baga (DIAS, 2006). Os ácidos tartárico e málico formam-se nas bagas verdes, e até que a uva atinja metade de seu tamanho normal há um incremento nos seus teores, diminuindo à medida que a uva amadurece (GIOVANINNI, 2009).

Os ácidos estão diretamente ligados com o pH da uva. O ácido tartárico por exemplo, é mais forte que o málico, assim, cultivares com a mesma acidez, mas possuindo maior teor de ácido tartárico tendem a ter um pH mais baixo, ou seja mais ácido (GIOVANINNI, 2009).

Quanto a relação SS/AT, o aumento dos açúcares nem sempre corresponde a mesma diminuição da acidez, pois são fenômenos independentes (GIOVANINNI, 2009). No momento da colheita é desejável que os valores dessa relação sejam iguais ou maiores a 20 (ALBUQUERQUE, 1996). No entanto, este índice deve ser estabelecido de acordo com a região, cultivar e destino da produção (GIOVANINNI, 2009)

Pesquisas envolvendo este tema vem sendo desenvolvidos, como a de Yamamoto et al. (2011) com a cultivar ‘BRS Clara’ em Uraí-PR; Cruz (2018) com a videira ‘Arra 15’ no submédio do Vale do São Francisco em Lagoa Grande-PE e Silva et al. (2018) com a ‘Niágara Rosada’ em Botucatu-SP. Além disso, no Rio Grande do Sul estes fatores foram avaliados por alguns autores, como Miele e Rizzon (2019) com a uva ‘Cabernet Sauvignon’.

2.6 Características físico-químicas da uva

Para cultivar uvas de alta qualidade os produtores estão se atentando tanto ao rendimento da videira, quanto às características sensoriais relacionadas à cor, sabor, aroma, firmeza; além das nutricionais, como teor de fibras, vitaminas, minerais,

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compostos fenólicos e atividade antioxidante das bagas das uvas (DODORICO, 2019).

Independente do direcionamento da produção, é de suma importância efetuar a caracterização físico-química das uvas, pois possibilitará a verificação da qualidade do produto, bem como se está de acordo com a legislação vigente (OLIVEIRA et al., 2010).

No caso das uvas finas destinadas à produção de vinhos tintos, rosés, brancos e espumantes, é desejável que as bagas sejam pequenas e a polpa deliquescente ou fundente, raramente trincante, com coloração intensa quando tintas, alto teor de sólidos solúveis e acidez equilibrada (MOURA et al., 2021). Por outro lado, as uvas finas de mesa devem apresentar, além de sabor agradável, cachos com bom aspecto visual, boa conservação pós-colheita, tolerância ao manuseio e transporte (MOURA et al., 2021).

Com relação às uvas comuns, que são as mais cultivadas para produção de vinhos e sucos no Brasil (MOURA et al., 2021; MELLO e MACHADO, 2021), apresentam sabor e aroma típicos acentuados, advindos do antranilato de metila e denominados foxado, termo derivado da expressão em inglês “fox grape”, em referência ao fato de atrair raposas pelo aroma, quando maduras. Além disso, sua polpa é fundente e se solta completamente da casca, permanecendo intacta (MOURA et al., 2021).

Apesar das informações disponíveis, sempre que for inserir uma nova cultivar em uma determinada região ou testar o cultivo da videira em uma região pouco conhecida, bem como sua viabilidade econômica, é necessário realizar uma análise completa de seus atributos (SILVA et al., 2021). Um das justificativas é que no processo de maturação as uvas desenvolvem sua coloração característica e a intensidade da cor depende da cultivar, das condições ambientais e do manejo (ASSIS et al., 2004).

Com base nesses aspectos, a determinação do grau de maturação adequado na ocasião da colheita é de grande importância para que o produto atinja o mercado ou a indústria em perfeitas condições (FACHINELLO et al., 1996). Normalmente, nesta avaliação do ponto ideal para a colheita são consideradas as características físicas, como a cor da baga, e as características químicas, obtidas pela determinação

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dos sólidos solúveis, da acidez titulável (ASSIS, et al., 2004), da evolução dos polifenois e da evolução aromática (GIOVANINNI, 2009).

Quanto à característica física coloração da baga, a uniformidade de cor pode influenciar no valor de mercado da uva (TECCHIO et al., 2017). Por outro lado, a massa e o tamanho dos cachos podem ser sinônimos de maior rentabilidade ao produtor, pois cachos maiores podem estar associados ao maior volume de produção e representar maior retorno financeiro. Além disso, o tamanho do cacho pode ser decisivo no mercado no momento da escolha pelo consumidor.

Com relação às características químicas, de acordo com Frölech et al. (2020), o teor de sólidos solúveis e a acidez titulável são de suma importância no mercado de uvas in natura, pois são indicadores da maturidade dos frutos, influenciando diretamente na sua qualidade e, consequentemente, no seu sabor.

Estes parâmetros físico-químicos são avaliados em uvas in natura e em seus derivados (CRUZ et al., 2018; DODORICO, 2019; FROLECH et al., 2019; FRÖLECH et al., 2020), incluindo a caracterização de compostos fenólicos (OLIVATI, 2016).

2.6.1 Compostos fenólicos

Os compostos fenólicos são substâncias amplamente distribuídas no reino vegetal. São conjuntos heterogêneos que apresentam em sua estrutura vários grupos benzênicos característicos, substituídos por grupamentos hidroxilas (HERNÁNDEZ;

GONZÁLES, 1999).

Dentre as frutas consideradas como alimentos funcionais, a uva possui destaque em relação à propriedade antioxidante, anti-inflamatória, antimicrobiana e anticarcinogênica, trazendo benefícios atrelados ao seu consumo (AIRES et al., 2021).

Os principais fenólicos presentes na uva são os flavonóides (antocianinas, flavanóis e flavonóis), os estilbenos (resveratrol), os ácidos fenólicos (derivados dos ácidos cinâmicos e benzóicos) e uma larga variedade de taninos (FRANCIS, 2000).

Tais compostos localizam-se no citoplasma, no vacúolo (principal local de acúmulo dos pigmentos) e no apoplasma do engaço, sementes e casca (CHAMPAGNOL, 1984).

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Quanto às antocianinas, são pigmentos vegetais responsáveis pela maioria das cores azul, roxa e todas as tonalidades de vermelho encontradas em flores, frutos, algumas folhas, caules e raízes de plantas (MARKAKIS, 1982). São os compostos mais importantes no que se refere à cor das uvas, onde são encontradas na película, nas três ou quatro primeiras camadas da epiderme e também na polpa das castas tintureiras (CABRITA et al., 2003).

As antocianinas identificadas no gênero Vitis são a cianidina, a delfinidina, a peonidina, a petunidina e a malvidina, sendo que a quantidade e a composição podem variar de acordo com a espécie, cultivar, grau de maturação, condições climáticas (MAZZA, 1995) e manejo da planta (ANTONACCI; LA NOTTE, 1993).

Gardin et al. (2012) descreveram que a alta incidência de chuvas e a baixa amplitude térmica durante a maturação das uvas fazem com que elas não alcancem índices ótimos de maturação, assim como temperatura e luminosidade excessivamente baixas ou elevadas também não são favoráveis (POMMER et al., 2003). Além desses fatores, outro bastante relevante é o manejo cultural do vinhedo, como exemplo, a disponibilidade de água no solo, que influencia o metabolismo, que por sua vez interfere no acúmulo de antocianinas (ANTONACCI; LA NOTTE, 1993).

Em geral, uvas com maior teor de antocianinas são mais coloridas, mas essa relação não é linear, ou seja, grandes diferenças nos teores de pigmentos podem ter pouco efeito sobre a cor da baga (LEÃO, 2014).

2.7 Ácido abscísico

Os hormônios e reguladores vegetais regulam o desenvolvimento e o crescimento das plantas. Hormônios vegetais são compostos orgânicos produzidos em uma parte da planta e transportados para outra, onde eles irão induzir respostas fisiológicas. Cinco tipos de hormônios vegetais foram identificados: auxinas, giberelinas, citocininas, etileno e ácido abscísico. Juntos, controlam o crescimento e desenvolvimento vegetal em todos os estágios de sua vida (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2001).

Neste sentindo, alguns autores vêm investigando a influência da utilização de reguladores vegetais, como o ácido giberélico, nas características físico-químicas em diferentes variedades de uvas (SILVA et al., 2019b; VITERI-DÍAZ et al., 2020);

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inclusive, na ‘Niágara Rosada’ (BOTELHO et al., 2004). Neste sentido, estudos a respeito da utilização de ácido abscísico (SOUZA et al., 2020) também tem sido desenvolvidos.

O ácido abscísico (ABA) é composto por um anel de 6 carbonos com um número variado de radicais. Pode ser produzido na folha, raiz e caule, sendo transportado no floema. O nível de ABA também é alto em sementes e frutos; porém, não está claro se ele é sintetizado por ou transportados para eles (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2001).

As principais respostas fisiológicas do ABA estão relacionadas com o fenômeno da dormência, quer seja de sementes ou de gemas. Também está relacionado com a adaptação ao estresse, controle estomático, abscisão e senescência de folhas, flores e frutas (FACHINELLO et al, 2008). Além disso, aumenta o desenvolvimento da cor na maturação das bagas, estimulando a síntese da enzima UFGT (UDP - glucose flavonóide - 3 - glucosil transferase - S), fundamental para conversão de pigmentos estáveis como as antocianinas, que confere as videiras sua cor característica (PROTONE, 2020).

O custo de produção de ABA é muito elevado para viabilizar o seu uso como regulador de crescimento. No entanto, o (S)-cis-ácido abscísico (S-ABA), que é um isômero específico da molécula de ABA, tornou o processo de produção para uso agrícola menos oneroso (OWEN et al., 2009; LEÃO, 2014).

Nesse sentido, o efeito do S-ABA em uvas tem sido investigado em diversas regiões produtoras do mundo. No Brasil, foram iniciadas em 2011 as primeiras pesquisas com esse regulador, com o intuito de melhor distribuir e intensificar a cor das uvas de mesa, sobretudo aquelas cultivadas em regiões em que a maturação das bagas ocorre sob temperaturas elevadas (SOUZA et al., 2020).

Para Tecchio et al. (2017), o uso do S-ABA é uma alternativa promissora para a viticultura, pois possibilita agregar mais valor aos frutos, uma vez que as uvas com melhor uniformidade de cor obtêm melhores valores no mercado.

Roberto et al. (2012), em experimento realizado com uva fina de mesa

‘Benitaka’ verificaram que o S-ABA não interferiu nas características físicas dos cachos, mas melhorou a cor das uvas, principalmente quando aplicado duas vezes, potencializando o valor comercial da uva de mesa. Em outro experimento com a mesma cultivar, Shahab et al. (2019) concluíram que no tratamento das bagas com S-

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ABA houve aumento significativo no teor de antocianinas, bem como no incremento da cor das bagas, mas não interferiu nos resultados referentes aos sólidos solúveis, a acidez titulável e a razão SS/AT o uso de S-ABA.

Trabalhando com uvas sem sementes, Koyama et al. (2019) constataram que a aplicação do S-ABA melhora significativamente a cor das bagas, resultando em cachos com maior aceitação do consumidor por meio de análise visual-sensorial. No entanto, independentemente da concentração ou época de aplicação, não houve alteração nas características físico-químicas das bagas ou dos cachos.

Em uvas finas para elaboração de vinhos, o S-ABA foi testado por Ramirez et al. (2019), cuja aplicação feita na troca de cor não afetou o pH, a acidez e o teor de sólidos solúveis dos frutos; nem o comprimento da raque, peso do cacho e rendimento por planta. Em contrapartida, a aplicação do regulador influenciou no aumento no teor de polifenóis, procianidinas e antocianinas nos frutos, podendo contribuir para a produção de frutos de melhor qualidade para a produção de vinhos.

Em uvas comuns, o S-ABA foi testado na cultivar Isabel por Yamamoto et al.

(2018), onde não se verificou influência nas características físicas das bagas. No entanto, os autores observaram aumento no teor de antocianinas nas bagas quando o produto foi aplicado em duas épocas, assim como nas antocianinas após a elaboração do suco.

No cultivo de ‘Niágara Rosada’ em região de clima tropical, Tecchio et al. (2017) observaram que o S-ABA propiciou melhora das características de cor, bem como na síntese e acúmulo de antocianinas totais da uva, principalmente quando aplicado duas vezes.

Com base nos resultados, é importante ressaltar que o efeito do ABA no incremento da cor pode estar relacionado ao estádio fenológico da videira, sendo fundamental determinar a fase adequada para que a aplicação do regulador vegetal seja realizada em cada cultivar (GIRIBALDI et al., 2011; YAMAMOTO, 2015). Além do estádio fenológico em que se encontra a videira, as condições climáticas e o tamanho da área a ser tratada são fatores que dificultam a aplicação somente em uma determinada fase da maturação em um curto espaço de tempo (YAMAMOTO, 2015).

Outro fator a ser levado em conta são os custos de aplicação. De acordo com Neto et al. (2021), a aplicação de ácido abscísico agrega valor ao produto final em regiões onde as uvas não conseguem atingir a coloração característica da cultivar.

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3. CAPÍTULO 1 - Fenologia, demanda térmica e produção de ‘Niágara Rosada’

em clima temperado

3.1 Introdução

A ‘Niágara Rosada’ é a principal uva comum plantada no Brasil para o consumo in natura (MELLO e MACHADO, 2020). Além de possuir excelente aceitação no mercado (MONTEIRO et al., 2021), tem a possibilidade de produção em outras épocas visando a produção em períodos mais secos do ano (CONCEIÇÃO, 2021).

Resultante de uma mutação somática ocorrida na ‘Niágara Branca’ no município de Jundiaí-SP em 1933 (POMMER et al., 2003), é muito similar à ‘Niágara Branca’ quanto ao vigor e ao tamanho e forma de cachos e bagas, além de sua cor rosada ser muito apreciada pelos consumidores (MAIA, 2012).

Considerando que o cultivo de videiras é uma atividade passível de ser praticada em diversas regiões do mundo, em razão da adaptação das espécies a vários tipos de clima e solo (TOMAZETTI et al., 2015), são necessários estudos do comportamento fenológico para a implantação de determinada cultivar em uma região onde o cultivo é recente, em função das condições edafoclimáticas locais (BORGES et al., 2017).

A caracterização fenológica identifica as diferentes fases e de desenvolvimento da planta e sua duração.com a definição dessas fases é possível definir o momento mais adequado dos manejos comumente adotados no cultivo e tentar aumentar a produtividade Souza et al. (2016). Além disso, a avaliação do comportamento da planta contribui para o desenvolvimento tecnológico e a sua expansão na região de cultivo (MARTINS et al., 2014).

Além da caracterização fenológica, a quantificação das unidades térmicas necessárias para a videira completar as diferentes fases do ciclo vegetativo deve fornecer informações ao viticultor para conhecimento antecipado das prováveis datas de colheita, indicando ainda o potencial climático das regiões para o cultivo e a produção de uva (PEDRO JÚNIOR et al., 1993), sendo que o acumulado de graus- dia pode variar em resposta ao cultivar, região, condições climáticas e práticas culturais realizadas no vinhedo (MIELE, 2019).

Em virtude das diferenças climáticas entre as localidades, o comportamento da mesma cultivar em regiões distintas pode apresentar variações. Dessa forma, para o

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planejamento do cultivo da videira é importante a realização de estudos que visam caracterizar o desenvolvimento das plantas, levando em consideração as particularidades de cada região.

Outro aspecto a ser considerado no intuito de verificar o potencial da cultivar para utilização na indústria ou consumo in natura, bem como sua viabilidade econômica em determinada região é a caracterização física e produtiva. Segundo Mello e Machado (2020), a viticultura apresenta características regionais distintas, com particularidades no ciclo de produção, época de colheita, cultivares, tipo de produto e foco de mercado.

Como são escassas as informações a respeito da produção de uvas comuns na região sul do estado do Rio Grande do Sul, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a fenologia, a demanda térmica, assim como as características físicas e produtivas da uva ‘Niágara Rosada’ produzidas no município de Pelotas-RS.

3.2 Material e métodos

O experimento foi realizado na safra 2018/2019 e 2019/2020, em vinhedo comercial de ‘Niágara Rosada’ com sete anos de idade localizado em Pelotas-RS (31°29'14.6"S e 52°32'59.7"W) (Figura 5). A classificação do clima da região, conforme W. Köppen é do tipo “Cfa” - clima temperado, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano e verões quentes (MOTA et al., 1986).

Figura 5. Foto aérea da propriedade localizada na localidade Rincão da Cruz, 8° Distrito de Pelotas- RS. Fonte: GOOGLE, 2022.

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O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com cinco repetições e cinco plantas por repetição, totalizando 25 plantas.

As videiras foram formadas com porta-enxerto ‘Paulsen 1103’, sendo as plantas conduzidas no sistema de latada, no espaçamento de 2,5 entre linhas e 1,85 m entre plantas, com uma densidade de 2.162 plantas ha-1.

Os tratos culturais foram realizados de acordo com a recomendação técnica para a cultura na região (PROTAS et al., 2003).

A poda de frutificação do tipo mista em ambos os ciclos foi realizada no dia 25 de agosto, deixando-se em média 12 varas e 6 esporões, com 6 e 2 gemas, respectivamente, totalizando 84 gemas por planta. As plantas foram marcadas previamente no momento da poda, visando a análise fenológica.

O comportamento fenológico foi avaliado semanalmente, de acordo com a duração em dias dos estádios fenológicos, segundo a classificação proposta por Baillod e Baggiolini (1993) (Figura 6):

a) Gema-algodão: quando 50% das gemas atingiram o segundo estágio de desenvolvimento da videira, ou seja, quando as escamas se romperam, aparecendo a plumagem.

b) Brotação: quando 50% das gemas atingiram o quarto estágio, ou seja, a saída das folhas.

c) Aparecimento da inflorescência: quando 50% dos ramos apresentaram inflorescência, sendo os cachos visíveis, embora rudimentares.

d) Florescimento: quando 50% das flores estavam abertas (florescimento propriamente dito com flores visíveis).

e) Veraison: quando 50% das bagas mudaram de coloração, adquirindo coloração avermelhada, iniciando o amolecimento.

f) Colheita: momento em que 100% das bagas apresentaram coloração intensa, com teor máximo de sólidos solúveis totais.

Referências

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