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Resultados e Discussão

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (páginas 54-60)

4. CAPÍTULO 2 – EVOLUÇÃO DA MATURAÇÃO DA UVA ‘NIÁGARA ROSADA’ EM

4.3 Resultados e Discussão

adaptou ao comportamento destas variáveis foi realizada de acordo com o maior valor do coeficiente de determinação (R2).

obtiveram no momento da colheita, valores de 16,7 °Brix para ‘Niágara Rosada’.

Na segunda safra, 2019/2020, verifica-se que o menor aumento no teor de sólidos solúveis ocorreu entre a segunda e a terceira análise, onde se registrou 11,3 e 11,7 °Brix, respectivamente (Figura 13). Este resultado pode estar relacionado as condições climáticas naquele momento da maturação (Figura 12), que ocorreu entre os dias 29 de janeiro e 06 de fevereiro de 2019. Neste período, como pode ser observado na Figura 12, ocorreu um elevado volume de precipitação, totalizando 104 mm na primeira safra avaliada.

Tal fato pode ter prejudicado o acúmulo dos sólidos solúveis devido ao fato de acarretar o aumento da concentração de água na baga. Além disso, deve-se levar em consideração a precipitação total do início da maturação até a colheita. Na primeira safra, o valor registrado foi de 158 mm, quase três vezes mais em comparação à segunda safra, onde observou-se o acúmulo de 57 mm (Figura 12).

Com relação ao destino da produção, se for para o consumo in natura, em ambas as safras as uvas ficaram acima dos 14 °Brix, que é o valor mínimo para a comercialização de uvas rústicas para mesa, determinado pela Instrução Normativa n° 1, de 1° de fevereiro de 2002 (BRASIL, 2002). Da mesma forma, quando o objetivo é a industrialização para a elaboração de suco ou polpa de uva, a Instrução Normativa N°14 de 08 de fevereiro de 2018 também estabelece que tais derivados da uva devem possuir o mínimo de 14 °Brix (BRASIL, 2018). Sendo assim, em ambas as safras a uva ‘Niágara Rosada’ atingiu o teor mínimo exigido para a elaboração destes subprodutos.

Caso o destino da produção da uva ‘Niágara Rosada’ seja a vinificação, a legislação não determina um teor mínimo de °Brix na colheita, mas o porcentual alcoólico do vinho de mesa deve ser, no mínimo, 8,6 % (BRASIL, 2018). Assim, convertendo o teor de sólidos solúveis verificado na primeira safra avaliada em potencial alcoólico, teríamos um vinho com 8,3 % de álcool, ficando fora dos padrões de qualidade exigidos pela legislação.

Considerando que este teor pode ser corrigido pelo processo denominado chaptalização, que é a adição de açúcar no mosto para aumentar o teor alcoólico do vinho final (GUERRA e ZANUS, 2003), sendo legalmente autorizada desde que se respeite o limite legal, as uvas obtidas no presente experimento também podem ser destinadas à vinificação. Embora seja necessário avaliar a relação custo/benefício,

em função desta prática acarretar acréscimo nos custos de produção, tanto de matéria prima, como de sacarose e de mão de obra, pode representar uma alternativa para solucionar esse fato.

Com relação à acidez titulável, houve um decréscimo progressivo para as duas safras, com melhor ajuste à regressão polinomial quadrática (Figura 14).

Dias após a poda

145 150 155 160 165 170 175 180

Acidez titulável (% ácido tartárico)

0,6 0,8 1,0 1,2 1,4

1,6 y (2018/2019) = 28,07 - 0,31x + 0,0009x² R² = 0,89

y (2019/2020) = 29,20 - 0,33x + 0,0009x² R² = 0,84

Safra 2018/2019 Safra 2019/2020

Figura 14 – Evolução do teor de acidez titulável da uva ‘Niágara Rosada’ nas safras 2018/2019 e 2019/2020 durante a maturação. Pelotas-RS, 2022.

A videira ‘Niágara Rosada’ apresentou na safra 2018/2019 AT de 1,33 no início da maturação, e, no momento da colheita, 0,65 %. Por outro lado, na segunda safra avaliada, apresentou valores superiores de AT no início da maturação e no momento da colheita, com teores médios de 1,38 e 0,76 %, respectivamente (Figura 14). Apesar dessa diferença, em ambas as safras ocorreu um decréscimo médio de 0,02 por dia.

O teor de acidez titulável verificado na primeira safra ficou abaixo dos valores médios obtidos por Silva et al. (2018) para a mesma cultivar em Botucatu-SP, que registraram entre 0,63 e 0,68% de ácido tartárico. Em contrapartida, neste experimento, o valor observado na safra 2019/2020 (Figura 14) foi superior às médias publicadas por esses autores.

Pode-se observar que durante a maturação das uvas o teor de acidez diminuí, ao contrário dos sólidos solúveis. Entretanto, Giovaninni (2009) descreve que a diminuição da acidez pode não corresponder ao aumento dos açúcares, pois são

fenômenos independentes. Para este autor, o teor de açucares está relacionado à intensidade e duração da luz solar, enquanto os ácidos estão relacionados com a temperatura e a água no solo.

Os principais ácidos da uva, o tartárico e o málico, formam-se nas bagas verdes e nas folhas e só diminuem à medida que a uva amadurece (GIOVANINNI, 2009). A diminuição da concentração dos ácidos orgânicos durante a maturação ocorre em virtude da diluição do mosto pela entrada de água na baga, transportada no xilema pela mobilização de bases que neutralizam os ácidos orgânicos e pelo processo respiratório (MANFROI et al., 2004).

Com relação à influência da água no solo, como citado por Giovaninni (2009) e Manfroi et al. (2004), tal fator pode ter resultado no menor teor de acidez na baga da uva ‘Niágara Rosada’ na primeira safra avaliada no presente estudo, pois como podemos observar na Figura 12, houve um maior teor de precipitação para a referida safra.

Quanto ao direcionamento do mercado, a legislação para uva de mesa rústica não especifica o teor de acidez (BRASIL, 2002). No entanto, para a vinificação e produção de sucos, a legislação pertinente determina valores mínimos e máximos para tais derivados (BRASIL, 2018). Assim, deve-se observar se os valores obtidos se encontram dentro dos padrões, mas é importante lembrar que tais valores podem sofrer alterações durante o processamento da uva, como observado por Frölech et al.

(2019), onde a acidez do suco elaborado com a ‘Niágara Rosada’ foi superior àquela apresentada no momento da colheita da uva.

No que concerne ao pH, para ambas as safras houve um acréscimo no teor durante a evolução da maturação para a cultivar Niágara Rosada (Figura 15).

Dias após a poda

145 150 155 160 165 170 175 180

pH

3,0 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5 3,6 3,7

y (2018/2019) = - 14,64 + 0,21x - 0,0006x² R² = 0,59

y (2019/2020) = 0,73 + 0,02x R² = 0,77

Safra 2018/2019 Safra 2019/2020

Figura 15 – Evolução do pH da uva ‘Niágara Rosada’ nas safras 2018/2019 e 2019/2020 durante a maturação. Pelotas-RS, 2022.

Para a primeira safra avaliada o melhor ajuste se deu na regressão polinomial quadrática, sendo que no início da maturação a média foi de 3,12, e, no momento da colheita, 3,24. Quanto à segunda safra, houve melhor ajuste à regressão polinomial linear para o pH, com valor obtido no início da maturação de 3,14, e no momento da colheita, de 3,62 (Figura 15). Tecchio et al. (2019) verificaram valores médios entre 3,29 e 3,33 para o pH da ‘Niágara Rosada’ em Louveira-SP.

Nas duas safras este acréscimo (Figuras 15) pode ser explicado devido ao fato do aumento do pH nas bagas estar relacionado à salinificação dos ácidos orgânicos e ao aumento do cátion potássio (MANFROI et al. 2004).

Quanto à razão SS/AT, ambas as safras apresentaram comportamento progressivo, com melhor ajuste à regressão polinomial quadrática (Figura 16).

Dias após a poda

145 150 155 160 165 170 175 180

SS/AT

6 8 10 12 14 16 18 20 22

24 y (2018/2019) = 62,76 - 1,12x + 0,005x² R² = 0,92

y (2019/2020) = - 130,24 + 1,29x - 0,002x² R² = 0,91

Safra 2018/2019 Safra 2019/2020

Figura 16 – Evolução da razão SS/AT da uva ‘Niágara Rosada’ nas safras 2018/2019 e 2019/2020 durante a maturação. Pelotas-RS, 2022.

No início da maturação o valor da relação SS/AT verificado para a ‘Niágara Rosada’ na safra 2018/2019 foi de 7,56 e no momento da colheita chegou a 22,49, ocorrendo um aumento médio de 0,55 por dia. Na safra 2019/2020 o valor verificado no início da maturação foi de 7,31 e, no momento da colheita, de 21,80, um acréscimo médio de 0,51 por dia (Figura 16). Este valor de razão SS/AT constatado foi abaixo do observado por Junior (2017), que obtiveram entre 30,22 e 41,36 para a cultivar

‘Niágara Rosada’ em São Manuel-SP.

Por se tratar de uma relação de evolução inversa entre os sólidos solúveis (SS) e a acidez titulável (AT), este índice de maturação tende a apresentar semelhança em relação à evolução do teor de SS, ou seja, com baixos teores no início da maturação e aumento progressivo até o período próximo à colheita, podendo ser uma boa opção para se determinar o ponto ideal de colheita das uvas, pois representa o equilíbrio entre o teor de açúcar e a acidez (SATO et al., 2009). No momento da colheita é desejável que os valores dessa relação sejam iguais ou maiores a 20 (ALBUQUERQUE, 1996; CHOUDHURY, 2001), e isto foi percebido nas duas safras avaliadas no presente estudo.

Giovaninni (2009) afirma que, de maneira geral, a qualidade da uva é maior nos anos em que se obtêm os maiores valores de SS/AT. Contudo, Manfroi et al. (2004)

citaram que esta relação é umas das variáveis que pode caracterizar as cultivares numa determinada região. Segundo eles, este parâmetro deve ser utilizado com cautela, pois o aumento na concentração de açúcar nem sempre corresponde à igual redução da acidez titulável. Além disso, o valor ideal pode variar de acordo com as diferentes safras (BLOUIN E PYENAUD, 2003).

Em síntese, pode-se considerar que a uva Niágara Rosada produzida na região de Pelotas-RS apresentou características químicas compatíveis com a cultivar durante a maturação, seja para a obtenção visando o consumo in natura ou de matéria-prima para o processamento em de vinho, suco ou derivados. Cabe salientar que Sato et al. (2009) mencionaram que o conhecimento de um modelo de evolução das uvas é uma importante ferramenta para os produtores conhecerem melhor as cultivares com as quais desejam trabalhar e estimar o momento ideal para a sua colheita.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (páginas 54-60)

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