• Nenhum resultado encontrado

Resultados e discussão

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (páginas 41-48)

3. CAPÍTULO 1 - FENOLOGIA, DEMANDA TÉRMICA E PRODUÇÃO DE ‘NIÁGARA

3.3 Resultados e discussão

produtividade (t.ha-1).

Os dados das características físicas e produtivas foram submetidos à análise de variância através do teste F (p≤0,05). Constatando-se significância estatística, os dados foram comparados pelo teste t (p≤0,05).

‘Niágara Rosada’ ciclos de 150 e 165 dias da poda até a colheita. Apesar da duração próxima em dias, Azevedo (2010) e Borges (2019) avaliaram a fenologia da poda até a colheita. Assim, se considerarmos o momento da poda no presente trabalho, a duração de ciclo foi maior, com 178 dias na primeira safra e 176 dias na segunda safra.

Em relação ao período entre gema algodão até a colheita, Mariani et al. (2019) avaliando a mesma cultivar no município de Dois Vizinhos-PR, registraram, em média, 120 dias, ou seja, a duração foi menor em comparação ao observado no presente trabalho.

De acordo com Nunes et al. (2016), o desenvolvimento vegetativo e a duração do ciclo da videira são influenciados pela produção e acúmulo de carboidratos decorrentes da fotossíntese, que depende diretamente das condições climáticas.

Assim como os ciclos de produção, os subperíodos avaliados apresentaram duração similar nas duas safras. Entretanto, pode-se observar que na safra 2019/2020 o subperíodo compreendido entre gema algodão até brotação durou dois dias a mais em relação à safra anterior. Tal fato pode estar relacionado com o valor da temperatura média em setembro (Figura 7), mês da ocorrência de tal subperíodo (Tabela 1), que foi superior em aproximadamente 3°C na primeira safra.

TABELA 1 – Datas de ocorrência das fases fenológicas da uva ‘Niágara Rosada’ produzida nas safras 2018/2019 e 2019/2020 em Pelotas-RS. Pelotas-RS, 2022.

Ciclo Fenologia

GA BR AI FL VR CL

2018/2019 22/set 25/set 30/set 28/out 28/jan 19/fev

2019/2020 21/set 26/set 01/out 30/out 27/jan 17/fev

Obs: GA: Gema Algodão; BR: Brotação; AI: Aparecimento da Inflorescência; FL: Florescimento; VR:

Veraison; CL: Colheita.

Esse resultado corrobora com Barros et al. (2015) e Souza et al. (2016), para os quais a diferença no tempo de duração do ciclo pode ser explicada pelo fato de que a fenologia, em geral, é influenciada diretamente pelas condições ambientais, como a temperatura. Com relação ao subperíodo brotação até o aparecimento da inflorescência, em ambas as safras a duração foi de cinco dias, mas no subperíodo posterior a esse, ou seja, do aparecimento da inflorescência até o florescimento, em 2018/2019 a duração foi de um dia a menos em relação à safra seguinte, que foi 29 dias (Figura 8). Borges (2019) verificou do início da floração até o florescimento ciclos

entre 16 e 25 dias, durações menores que as encontradas nos ciclos verificados neste experimento.

O subperíodo com maior tempo de duração foi o do florescimento até a troca de cor, que nas safras 2018/2019 e 2019/2020 foi de 92 e 89 dias, respectivamente.

Apesar da diferença na duração de cada subperíodo nas safras, em ambas o tempo transcorrido da gema algodão até o veraison foi de 128 dias; enquanto do veraison à colheita, na safra 2018/2019 durou 22 dias, um dia a mais que na safra seguinte (Figura 8).

Borges (2019) também verificou ciclo mais longo para o subperíodo compreendido entre o florescimento até a troca de cor, com duração em dias de 90 e 88 avaliando a mesma cultivar em duas safras, em Pelotas-RS, sendo estes valores semelhantes aos verificados neste trabalho. Entretanto, o mesmo autor observou que do início da maturação até a colheita foram necessários 23 e 27 dias, respectivamente, ou seja, períodos mais longos que os relatados no presente estudo.

O conhecimento dos estádios fenológicos das videiras é de suma importância, pois fornece informações importantes para os produtores de uva, como períodos de maior demanda por mão-de-obra, controle de pragas e doenças e datas prováveis de colheita, indicando ainda o potencial climático regional para o cultivo e produção da uva (RICCE et al. 2018; AHMED et al. 2019). Assim, com relação aos resultados obtidos neste trabalho, podemos observar que embora tenha ocorrido variação na duração de alguns subperíodos, o ciclo total e a data de colheita foram semelhantes nas duas safras (Tabela 1), facilitando a previsão dos possíveis tratos culturais e da logística para a comercialização por parte do produtor.

Mariani et al. (2019) também relataram que, se as condições climáticas forem favoráveis ao amadurecimento, a data de colheita pode ser atrasada, a fim de obter uma uva de melhor qualidade.

Quanto a demanda térmica da cultivar para completar o ciclo produtivo e os subperíodos, nas duas safras avaliadas os valores foram similares (Tabela 2). Borges (2019) verificou os acúmulos de 1426,4 e 1564,6 graus-dia para a uva Niágara Rosada em Pelotas-RS da poda até a colheita nas safras 2014/2015 e 2015/2016, respectivamente. Em contrapartida, na região de Laranjeiras do Sul-PR, Pires e Lima (2018) verificaram soma térmica de 1425,40 graus-dia para a mesma cultivar.

Conforme Ricce et al. (2018), a demanda térmica da poda até a colheita para a

‘Niágara Rosada’ varia entre 1300 e 1350 graus-dia.

TABELA 2 – Exigência térmica da uva ‘Niágara Rosada’ produzida nas safras 2018/2019 e 2019/2020 em Pelotas-RS. Pelotas-RS, 2022.

Graus-dia Subperíodos

PO–GA GA–BR BR–AI AI–FL FL–VR VR– CL CT

2018/2019 148,97 18,10 34,65 168,01 819,24 205,15 1.394,12 2019/2020 128,88 25,88 35,00 189,40 817,25 223,65 1.420,06 Obs: PO: Poda; GA: Gema Algodão; BR: Brotação; AI: Aparecimento da Inflorescência; FL:

Florescimento; VR: Veraison; CL: Colheita; CT: ciclo total.

Apesar do maior ciclo da videira da poda até a colheita verificado na safra 2018/2019 (Tabela 1), a demanda térmica foi menor (Tabela 2). Isto pode ter ocorrido em decorrência das diferenças climáticas entre uma safra e a outra, principalmente nas temperaturas mínimas e máximas, que influencia diretamente no acúmulo de graus dia.

Verifica-se na Tabela 2 que em 2018/2019 houve acúmulo de 20,09 graus-dia a mais que na safra 2019/2020 entre a poda e a gema algodão. No entanto, entre o aparecimento da inflorescência e o florescimento, em 2019/2020 observou-se 21,39 graus dias a mais que a safra anterior. Analisando a duração dos subperíodos, podemos observar que da poda até a gema algodão, na primeira safra a duração foi de dois dias a mais que a segunda (Tabela 1). O mesmo ocorreu entre o aparecimento da inflorescência e o florescimento, visto que na segunda safra foi de um dia a mais, como mostrado na Figura 8.

Pode-se inferir que este aumento em ambos os subperíodos pode ter ocorrido em virtude de possível aumento da temperatura mínima, aumentando assim a temperatura média, que foi de aproximadamente 3 °C a mais no mês de setembro, onde ocorreu quase todo o período até o estádio gema algodão (Figura 7). Da mesma forma, entre o aparecimento da inflorescência e o florescimento, no mês de outubro, a temperatura média foi maior na safra 2019/2020. Este resultado está de acordo com Back et al. (2013), os quais descreveram que o aumento na temperatura mínima é responsável pelo aumento na temperatura média, e como consequência, no aumento da soma térmica.

Azevedo (2010) verificou da poda até o início da brotação acúmulo médio de 187 graus-dia para a ‘Niágara Rosada’ cultivada em Pelotas-RS. Este resultado foi superior ao obtido neste trabalho, que foi de 167,07 e 154,76 GD na primeira e

segunda safra avaliada (Tabela 2 e Figura 9).

A maior exigência térmica verificada foi entre o subperíodo florescimento até o veraison, que nas safras 2018/2019 e 2019/2020 foram de 819,24 e 817,25 GD, respectivamente (Tabela 2). Avaliando os dados de fenologia (Figura 8), verifica-se que o referido subperíodo também apresentou o maior tempo de duração em dias.

Esse resultado vai de acordo com os obtidos por Borges (2019), que também verificou maior acúmulo de graus-dia entre o florescimento e o veraison para a uva Niágara Rosada.

Na Figura 9 podemos observar o somatório da exigência térmica para cada estádio fenológico. Até o aparecimento da inflorescência a videira exigiu uma demanda térmica total maior em 2018/2019, totalizando 201,72 GD. Entretanto, a partir do florescimento, isso ocorreu na safra 2019/2020.

Figura 9. Somatório da exigência térmica da uva ‘Niágara Rosada’ produzida nas safras 2018/2019 e 2019/2020 em Pelotas-RS. Pelotas-RS, 2022.

Para as caraterísticas físicas dos cachos (Tabela 3), na safra 2018/2019 verificou-se massa de 281,52 g, valor maior em relação à safra 2019/2020, onde a massa foi de 235,26 g. Na safra 2019/2020 o aumento da precipitação no momento da floração pode ter prejudicado o florescimento e a formação do fruto, pois as chuvas intensas nesse período dificultam a polinização e o pegamento do fruto, o que poderá resultar em menor número de bagas no cacho. Tal fato pode ter influenciado no número de bagas e, consequentemente, diminuindo a massa dos cachos comparando as duas safras avaliadas.

128.88 148.97

25.88 18.10

35.00 34.65

189.4 168.01

817.25 819.24

223.65 205.15

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500

2019/2020 2018/2019

Gema Algodão Brotação Aparecimento da Inflorescência Florescimento Veraison Colheita Graus-dias

TABELA 3 – Características físicas da uva ‘Niágara Rosada’ produzida nas safras 2018/2019 e 2019/2020 em Pelotas-RS. Pelotas-RS, 2022.

Ciclo

Variáveis analisadas Massa dos

cachos (g)

Comprimento dos cachos (cm)

Massa das bagas (g)

Comprimento das bagas (mm)

Diâmetro das bagas

(mm)

2018/2019 281,52 a1/ 14,33 a 5,05 b 21,3 NS 19,9 a

2019/2020 235,26 b 13,49 b 5,35 a 20,9 18,8 b

CV (%) 26,61 14,37 13,65 5,05 5,97

1/Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste t (p≤0,05). NS: não significativo pelo teste F (p≤0,05) da análise de variância. CV (%): coeficiente de variação.

Na mesma região, Azevedo (2010) verificou massa de 184,4 g para os cachos de ‘Niágara Rosada’. Entretanto, em Piracicaba-SP, Sanchez-Rodriguez et al. (2016) trabalhando com os sistemas de condução em espaldeira e Y, verificaram 212,6 g e 196,1 g, respectivamente, valores superiores aos relatados por Azevedo (2010);

porém, inferior ao verificado no presente estudo.

No que diz respeito ao comprimento dos cachos (Tabela 3), na safra 2018/2019 esses mediram 14,33 cm, diferindo da safra 2019/2020, onde a média foi de 13,49 cm. Frölech et al. (2020) constataram na mesma região 13,7 cm para o comprimento do cacho de ‘Niágara Rosada’, valor intermediário aos obtidos neste experimento.

Como pode ser observado na Tabela 3, cachos mais compridos promoveram cachos com maior massa. Embora esses dois parâmetros possam interferir no lucro obtido pelo produtor, tendo em vista que cachos mais pesados podem representar maior retorno financeiro, é importante considerar o nicho de mercado, pois o tamanho do cacho pode ser decisivo durante a seleção do produto no mercado pelo consumido, mas conforme Guerra e Zanus (2003), para a industrialização as empresas levam em consideração outros fatores, como o teor de açúcar, acidez e maturação fenólica da uva.

Em se tratando das bagas, em 2019/2020 a massa foi de 5,35 g, diferindo estatisticamente da massa obtida na safra 2018/2019, que foi de 5,05 g. Por outro lado, não houve significância estatística quanto ao comprimento das bagas nas duas safras (Tabela 3). Segundo Maia (2002), a massa (em média) das bagas dessa cultivar é de 5 g.

No presente estudo, a alta precipitação pluviométrica durante a maturação do fruto pode ter influenciado nos valores obtidos para a massa das bagas. Nas duas safras avaliadas a troca de cor nas bagas ocorreu no final de janeiro e a maturação

se estendeu até a segunda quinzena de fevereiro, quando ocorreu a colheita. Neste período ocorreu diferença considerável na precipitação, visto que em 2018/2019 choveu 100 mm a mais em relação à safra seguinte (Figura 7).

Apesar das bagas apresentarem menor massa em 2018/2019, a maior disponibilidade de água proveniente da chuva pode ter resultado em maior absorção e, consequentemente, maior diâmetro das mesmas em 2018/2019, quando comparadas àquelas colhidas em 2020 (Tabela 3). Segundo Luciano et al. (2013), a menor disponibilidade da água no solo favorece o amadurecimento da uva e diminui o tamanho das bagas.

Com relação às características produtivas, na safra 2018/2019 obteve-se maior média para todas as variáveis analisadas, diferindo estatisticamente da safra 2019/2020 (Tabela 4).

TABELA 4 – Características produtivas uva ‘Niágara Rosada’ produzida nas safras 2018/2019 e 2019/2020 em Pelotas-RS. Pelotas-RS, 2022.

Ciclo

Variáveis analisadas Número de

cachos/planta

Produção a/

(kg.planta-1)

Produtividade b/

(t.ha-1)

2018/2019 126,15 a1/ 33,51 a 72,38 a

2019/2020 81,92 b 19,27 b 41,62 b

CV (%) 21,21 0,0 0,0

1/Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste t (p≤0,05). CV (%):

coeficiente de variação. a/: Estimativa em função do número médio de cachos por planta e da massa média dos cachos. b/: Estimativa em função da produção média por planta e do número de plantas por hectare.

Para o número de cachos por planta (Tabela 4), observou-se 126,15 cachos na safra 2018/2019 e 81,92 na safra seguinte, ou seja, 44,23 cachos a menos na segunda safra avaliada.

Com relação à produção e produtividade, em consequência do maior número de cachos por planta em 2018/2019, a produção e produtividade foram de 33,51 kg.planta-1 e 72,38 t.ha-1, respectivamente, enquanto na segunda safra avaliada verificou-se valor médio de 19,27 kg.planta-1 e 41,62 t.ha-1 respectivamente (Tabela 4). Esses dados influenciam na rentabilidade, pois a maior produtividade pode significar maior retorno financeiro ao produtor.

Na mesma região, Azevedo (2010) verificou média de 31 cachos por planta para a mesma cultivar, resultando em uma produção de 5,2 kg.planta-1 e produtividade

de 8,87 t.ha-1, valores abaixo do verificado neste experimento. Por outro lado, na região de Louveira-SP, Tecchio et al. (2019) avaliando diferentes épocas de poda relataram que a maior média foi de 13,7 cachos por planta, correspondendo a uma produção de 3,9 kg.planta-1 e produtividade de 25,6 t.ha-1. Cabe citar que a diferença entre o número de cachos por planta e a produtividade também pode estar relacionada com a densidade de plantas por hectare.

Em síntese, provavelmente a precipitação pluviométrica influenciou nos dois ciclos da videira avaliados no presente estudo; porém, em períodos distintos. Levando em conta que em 2019/2020 a maior ocorrência de chuva no florescimento pode ter afetado a frutificação e a produtividade, a safra 2018/2019 foi mais rentável ao produtor. Contudo, esta afirmação baseia-se apenas nas variáveis avaliadas, não levando em consideração o aspecto sanitário da uva, tampouco a qualidade pós-colheita.

Além da temperatura e umidade relativa do ar, que foram os fatores climáticos avaliados neste trabalho, a fisiologia da videira é influenciada por outros fatores meteorológicos, entre os quais estão o déficit de pressão de vapor, a evapotranspiração potencial, as horas de insolação e o vento (BACK et al., 2013).

Como o objetivo deste trabalho foi avaliar a fenologia, estudos mais aprofundados devem ser realizados, visando averiguar a influência direta desses fatores no desenvolvimento da videira na região. Além disso, Back et al. (2013) descreveram que além da cultivar, o solo e as técnicas de manejo aplicadas no cultivo interagem com os fatores meteorológicos e influenciam na produção e na qualidade da uva.

Com base nos resultados obtidos neste trabalho nas duas safras, a uva

‘Niágara Rosada’ apresenta boa adaptabilidade às condições da região. Apesar da produtividade verificada na primeira safra ser maior, a cultivar apresenta características físicas e produtivas satisfatórias, podendo ser uma alternativa de renda aos agricultores da região.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (páginas 41-48)

Documentos relacionados