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Movimentos articulares: Uma reflexão sobre a preparação da Performance Pianística

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Academic year: 2021

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Movimentos articulares: Uma reflexão sobre a

preparação da Performance Pianística

Prof. Ms.Jairo Tadeu Brandão Ribeiro Universidade Federal de Sergipe Prof. Ms. Marcos dos Santos Moreira Universidade Federal de Alagoas

Resumo: Os instrumentistas, e pianistas em especial, tem, necessariamente em suas realidades profissionais, que lidar com o condicionamento físico e a atividade muscular, pressupostos e condições inerentes à preparação e realização da performance. Independentemente do nível, da estrutura corpórea de cada um desses músicos executantes e do repertório trabalhado, necessário é tal condicionamento e preparo da musculatura envolvida com a atividade pianística. Tal artigo propõe uma discussão tais atividades no gênero musical Estudos, mesmo concisa, mais pertinente.

Palavras-chave: Piano, Execução musical, Cinesiologia e Biomecânica

O presente texto, bastante introdutório, considera que esta abordagem faz parte da realidade não somente dos executantes profissionais, mas também dos alunos e educadores-professores de piano. Em se tratando de técnica pianística, em especial a chamada técnica analítica, na maneira como está será tratada no presente texto, é importante que se tenha na base de tal abordagem o devido conhecimento de biomecânica e cinesiologia.

A questão da técnica pianística, abordada cientificamente e embasada na anatomofisiologia humana, somente se desenvolveu com mais evidência a partir do século XIX. Verificaremos no tópico

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que contextualiza a pedagogia do Piano , embora alguns teóricos abordem a técnica pianística considerando os importantes aspectos sociológicos, psicológicos e tantos outros. Entretanto, não está no objetivo do trabalho o detalhamento de tais aspectos ainda que eles, de alguma maneira, possam eventualmente ser citados.

Na realidade, é o aspecto da fisiologia e da motricidade que está sendo priorizado aqui. Técnica pianística pressupõe um conjunto complexo de movimentos articulares e tais movimentos, em profundidade, só poderão ser esclarecidos e bem entendidos mediante o entendimento da fisiologia

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articular das playing-units , através das quais as coordenações musculares da atividade pianística se processam.

Definindo tal análise, utilizamos tópicos de convergência através de pontos distintos; a literatura médica e a musical. A análise fica em torno do gênero musical: Os Estudos para Piano. Demonstramos assim, de forma objetiva, tais relações deste tema relevante para o desenvolvimento no ato do tocar.

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Escolhemos o gênero Estudos, apenas como uma referencia. Poderíamos focar quaisquer outros gêneros da literatura pianística relacionada a dificuldade técnica e utilização específica do movimento. É relevante ressaltar que tal abordagem inclui também peças de dificuldade técnica menor ou de qualquer nível. O Estudo como citamos é apenas um recorte e por ser mais completa em relação aos pontos citados no texto.

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Interfaces entre literaturas: a área médica, os Estudos e a pedagogia do Piano.

Os estudos pianísticos, mais precisamente o gênero Estudos, foram adaptados de acordo com a evolução do próprio instrumento. Para o compositor Liszt, “o Piano é o microcosmo da Música” (Watson: 1989, p.142) e assim sendo as preocupações e mecânicas na composição musical e na estrutura física só aumentaram no século XIX. O universo musical no qual Liszt vivia necessitava de aprimoramentos e isso não somente na execução instrumental, mas também na própria mecânica do piano. Na biografia do referido compositor, Watson, biografo inglês, cita:

Os Estudos a partir do romantismo deixaram de ser apenas uma aplicação preparatória para outros gêneros pianísticos. Incorporou-se a própria arte da interpretação deixando de ser apenas um recurso mecânico para outros estilos, mas incorporando em si mesmo a própria arte da virtuosidade.

Assim, esta herança da inquietação da perfeição na execução não se encontra apenas nos moldes dos estudos de Liszt. Percorre por uma linha, digamos genética, que se inicia nos longínquos Gradus ad Parnasum de Clementi no século XVIII aos estudos de Ligati no século XX. Citamos toda a parte que permeia este espaço como os Estudos de Czerny, Schumann, Chopin, Kalkbrener, Burgmüller, Rachmaninov, Scriabin, Godowsky, entre outros. No âmbito nacionalista, por exemplo, temos Souza Lima, Almeida Prado, Oswaldo Lacerda e Vieira Brandão. Como o Piano brasileiro está essencialmente ligado à herança destes citados compositores, dificuldades de execução em tais estudos pianísticos similares podem ser encontradas, o que naturalmente demanda um certo cuidado na análise das coordenações musculares a serem utilizadas e naturalmente no momento da performance.

Na história da própria execução instrumental, e naturalmente na pedagogia do piano, diversas obras contextualizam e evidenciam a interação entre pontos da prática instrumental e o movimento utilizado. Tais exemplos foram citados em Famous Pianists & Their Technique de Reginald R.Gerig (1974). Nesta obra, encontramos tratados e atitudes pedagógicas de muitos pedagogos importantes de

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ações cognitivas relacionadas à técnica instrumental. Ludwig Deepe (1828 – 1890) , Theodor Leschetizky (1830 – 1915) Rudolf Maria Breithaupt (1873 – 1945) e Tobias Mathay (1858 – 1945).

Quanto ao tema propriamente dito, pelo menos dois cientistas abordaram a técnica pianística considerando a anatomofisiologia: Otto Rudolf Ortmann (1899 – 1979) e Arnold Schultz (1903 – 1972):

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Ludwig Deppe é considerado por muitos pedagogos do piano com sendo o pai da técnica de peso. 4

Ortmann rezumiu: a relação de tempo entre a contração muscular e duração do golpe pode, por conseqüência, ser considerada um elemento básico de coordenação....Variações de força estão diretamente relacionadas a variações de velocidade;

aumentando-se a velocidade, aumenta-se a força. 5

A importante contribuição de Shultz para a literatura técnica está centrada em duas áreas significantes: o esclarecimento e avaliação

Com Liszt, a inovação [tecnológica do instrumento] está sempre a serviço da expressão. Técnica é refinamento. Para ele era algo a ser transcendido: a mecânica da música era secundária para a interpretação de seu conteúdo e para a transmissão desse conteúdo aos sentimentos do ouvinte. Isso não significa que não seja essencial uma técnica verdadeiramente sólida, ou que seus frutos não sejam mostrados... (WATSON: 1989, p.144)

[Ortmann] summarized: Time – relationship between muscular contraction and duration of stroke may, therefore, be considered a basic element of coordination….Force variations are directly related to speed variations; with an increase in speed there will come an speed

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Assim, a fisiologia articular, de alguma maneira já se situava na literatura pedagógica pianística de séculos anteriores.

Literatura Médica: Cinesiologia e biomecânica

Naturalmente, a técnica instrumental, atividade psicomotora, relaciona-se com a escrita musical, atividade cognitiva, que, em determinadas situações, exige do executante não somente um alto nível de conhecimento técnico-teórico, mas também uma boa preparação física e muscular, e não somente isso: é necessário também que o músico-executante utilize e desenvolva o seu conhecimento proprioceptivo, biomecânico e sinestésico.

Primeiramente, necessária se faz uma definição a cerca do que vem a ser cinesiologia. Hamill e Knutzen afirmam:

Paralelamente, biomecânica é:

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Na figura 01 acima ilustrada visualiza-se a fisiologia da mão e antebraço (parte dorsal) onde é possível visualizar alguns dos vários músculos relacionados às coordenações musculares dos movimentos da atividade pianística.

Schultz´s important contribution to the technical literature centers itself in two significant areas: the clarification and evaluation of the various movement types used in all piano playing, and a thorough - going study on the different muscular coordinations possible in

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finger technique. (Idem, 1974, p. 425).

Em primeiro lugar, cinesiologia como o estudo científico do movimento humano pode ser um termo abrangente utilizado para a descrição de qualquer forma de avaliação anatômica, fisiológica, psicológica ou mecânica do movimento. (HAMILL e KNUTZEN: 2008, p. 4)

O conteúdo da biomecânica foi extraído da mecânica, uma área da física que consiste num estudo do movimento e no efeito das forças incidentes em um objeto. Desse modo, ocorreu o surgimento da biomecânica, o estudo da aplicação da mecânica a sistemas biológicos. A análise biomecânica avalia o movimento de um organismo vivo e o efeito de determinadas forças sobre esse organismo. (idem: 2008, p.4).

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Na área musical, tais citações e ilustração, podem ser interpretadas na medida em que a técnica pianística pressupõe a utilização de um conjunto complexo de ações articulares das suas playing-units e o entendimento de tais ações é fundamental para a construção e segurança do desempenho e interpretação musical. Assim, a análise cinesiológica mediante o entendimento da natureza da ação articular na técnica pianística pode certamente acelerar o estudo, em muitos casos exaustivo, e atender melhor às demandas da escrita musical bem como otimizar os resultados tão esperados em termos dos mais diversos e ricos recursos do piano.

Fig.2

Normalmente, em suas muitas e repetidas horas de estudo, considerando-se também os momentos de execução, os instrumentistas são submetidos a uma grande carga de estresse de todo o tipo: emocional, psicológico e principalmente muscular, essa realidade os coloca susceptíveis a uma série de distúrbios como, por exemplo, as afecções músculo-esqueléticas e tendíneas, as compressões dos nervos periféricos e as distonias focais. Essa última, por se tratar de problema que tem origem no sistema nervoso central, não será considerada na abordagem do trabalho. Basicamente são comprometidas as seguintes estruturas, em se tratando de síndrome músculo-esquelética em músicos: músculo e tendão. Quanto às partes acometidas por tais desordens, estudos realizados em músicos de um modo geral e músicos de orquestra, pianistas inclusive, apontam para um maior nível de ocorrência nas seguintes partes anatômicas: ombro, coluna cervical, coluna dorsal, punhos e mãos, coluna lombar. Conclusões

No caso dos Estudos ou quaisquer exemplo de obra virtuosística, comum de se exercitar mais explicitamente uma variedade maior de movimentos articulares, diversos trechos convergem para uma análise minuciosa de interfaces entre temas que, embora distintos, se encontram principalmente nos aspectos técnicos conhecidos da área musical como, por exemplo: arpejos, escalas, notas dobradas, sextas dentre outros.

Enfim. Músicos executantes, particularmente pianistas, deveriam rever suas atividades de execução, não apenas pela interpretação artística, mas sob a ótica da saúde. Desta forma teriam mais consciência destes movimentos articulares abordados que por conseqüência, traria segurança, cognição corporal e resultados de desempenho mais satisfatórios na exposição da sua arte interpretativa pianística. Movimentos articulares na atividade pianística Análise do movimento humano: cinesiologia e biomecânica O Gênero musical

Estudos para piano

Interfaces da Música com a fisiologia

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Referências Bibliográficas:

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Referências

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