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O nãoidêntico sob a coerção do idêntico e a incongruência entre o conceito e a realidade na dialética negativa de Theodor Adorno

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(1)

o

MLKJIHGFEDCBA

N Ã O -ID ÊN TIC O

SO B A C O ER Ç Ã O D O ID ÊN TIC O E A

IN C O N G R U ÊN C IA EN TR E O C O N C EITO E A R EA LID A D E N A

D IA LÉTIC A N EG A TIVA D E TH EO D O R A D O R N O

NON-IDENT/CAL /N ENFORCEMENT OF SAME AND THE

INCONSISTENCY BETWEEN rHE CONCEPr ANO REAl/rY

/N

DCBA

N E G A T I V E

D/ALECT/CS OF THEODOR ADORNO

H i l d e m a r L u i z R e c h

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Doutor em Ciências Sociais pelo IFCH da UNICAMP e pela Universidade

de Manchester, Inglaterra; professor no Departamento de Fundamentos da Educação e no Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira, FACED-UFC; integra a linha de pesquisa Filosofia e Sociologia da Educação; é

cola-borador no Programa PROCAD/CAPES do eixo Filosofia da Diferença; é

52

colaborador no Laboratório de Trabalho e Qualificação Profissional do eixo

Economia Política, Sociabilidade e Educação; e é integrante do eixo Filoso-fia Política, Memória e Cultura.

R esum o

Adorno desmascara o modelo auto-referente de identificação do cogito

cartesiano e propõe uma correção dos registros de conceituação, sem, con-tudo, abrir mão da mediação do conceito. Contra a assimilação alienante aos padrões de identificação sistêmica, Adorno propõe uma subjetividade de vigilância sistemática. A sua "dialética negativa" apresenta um procedi-mento que se apóia sobre um paradoxo inerente. Para o autor existe um abismo insuperável entre sujeito e objeto, entre conceito e realidade, o qual a razão crítica, contudo, deve procurar transpor por sua conta e risco pela mediação crítica do conceito. O cerne da "dialética negativa" se constitui na base da auto-reflexão desse equívoco com seus diversos significados. Palavras-chave: dialética negativa, constelação de conceitos, não-idêntico e consciência crítico-reflexiva.

(2)

BCH-PE

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l

Abstract

Adorno unmasksthe "Cartesiancogito", which characterizes a self-conceming

model of identification, and proposes a correction of the register of

conceptualization, without to abandon the mediation of concept The author conceives a systematic vigilant subjectivity against the alienated assimilation to the systemic identification patterns. His "negative dialectics" outlines a procedure based in one internal paradoxoAccording the author, there is one insuperable abyss between subject and object, concept and reality, which the critica I reason needs, however, search to cross, but not without risks, maki ng use of a critical mediation of concept. The core of "negative dialectics" is the auto-reflection of this equivocal, with their diverse meanings.

Key-words: negative dialectics, concepts constellation, no-identity, and

critical reflexive consciousness.

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---- - - ~ _ . _ ~ ~

-53

(3)

E d u c a ç ã o e m D e b a te · F o rta le z a · v . I, n O 6 1 , a n o 3 3 - 2 0 1 1 p .5 2 0

Iild e m a r L u iz R e c h

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Da

mesma forma como Adorno se posiciona criticamente em

re-lação à consciência identificante - que subjuga e adapta

pragmaticamen-te o sujeito ao objeto e restringe a atividade do pensamento e da razão à

busca de identificação com o mundo das relações sociais reificadas - ele

também se posiciona contra as idéias de negatividade absoluta e do

não-idêntico

substancializado,

posições estas consideradas

por ele

anti-dialéticas. Desse modo, ele por vezes postula a própria identidade e a

idéia de totalidade em oposição ao não-idêntico, como aquilo que

efeti-vamente se impõe de modo sistemático no mundo real (TIBURI, 1995).

Adorno se empenha pela recuperação da dialética, como crítica à

metafísica da identidade e como contraposição

à

razão instrumental

-tecnicista e calculista - que está a serviço da lógica da dominação e da

exploração, até os limites ou mesmo além dos limites, da natureza e dos

homens.

MLKJIHGFEDCBA

A dorno e a via negativa da dialética

5 4

A via negativa da dialética é para Adorno o caminho mais

adequa-do para a razão crítica abrir caminhos para a emancipação e a liberdade

humanas. No cerne da lógica da razão iluminista e instrumental, o pensar

se constitui na identificação via projeção do eu, sem o devido lugar para

as mediações.

Na

contramão

da

subjetividade

autoritária

e

"unidimensional"

de matriz cartesiana, Adorno investe na dialética

nega-tiva, de modo que a sua idéia de conceito é direcionada ao não-idêntico

e a sua idéia de subjetividade

se constitui dialeticamente,

envolvendo

mobilidade,

contradição interna e criticidade, tendo como referência

in-dispensável o conceito de não-identidade.

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-

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o

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n ã o -id ê n tic o s o b o c o e rç ã o d o - • e o re o lid a e

Contra a assimilação alienante aos padrões de identificação do

sis-tema, Adorno propõe uma subjetividade de vigilância si emá ica, A

"dialética negativa" de Adorno apresenta um procedimento i emático

que se apóia sobre um paradoxo inerente. A propósito, observa

Qui

oph

Türke (2004:48):

o

verdadeiro procedimento sistemático persegue a dinâmica da

causa em q u e s tã o . Por isso, ele não chega a um sistema encerrado

em si mesmo, enquanto qualquer sistema é forçado, num certo

ponto a desistir desta dedicação sistemática à causa para ter con-dições de aprisioná-Ia em suas gavetas conceituais. O sistema tem

que interromper o curso sistemático para encaixar a causa,

en-quanto a causa, perseguida conforme suas próprias necessidades,

nunca se encaixam no sistema. Tal paradoxo é que domina a

DCBA

D i a / é t i c a n e g a t i v a inteira".

A subjetividade e o intelecto humano não conseguem expressar as

coisas do mundo real de modo inequívoco, a ponto de torná-Ias unívocas,

fixas e identificadas de uma vez para sempre. As coisas - os objetos natu-

5 5

rais e culturais - impõem perspectivas em movimento ao intelecto o que

lhe permite somente expressar as coisas como elas lhe aparecem em

de-terminado instante em suas circunstâncias contextuais. Desse modo, o

intelecto, de certo modo, está sempre sujeito ao equívoco em seu

movi-mento de conhecimovi-mento. Ao mudar a perspectiva das coisas a aparência

muda também e os conceitos não conseguem jamais estabelecer uma

congruência plena e integral com a realidade que pretendem explicar.

Assim, o cerne da "dialética negativa" de Adorno se constitui na base da

auto-reflexão do equívoco com seus diversos significados.

Segundo Türcke (2004:50-51):

"Há equívocos meramente subjetivos, que resultam da falta de pre-cisão conceitual, os quais são passíveis de correção. Há, no

entan-to, também equívocos que não se eliminam nem com o máximo

de argúcia: equívocos objetivos, que se devem à incongruência

principal entre intelecto e causas. A dialética consiste em

desdobrá-los de modo racional, evitando cair em suas armadilhas (. ..).

Dialética negativa não é senão lembrar e enfrentar a insuficiência do conceito".

(5)

E d u c a ç õ o e m D e b a te ' F o rta le z a ' v . 1 , n O 6 1 , a n o 3 3 - 2 0 1 1 p . 5 2 o 6 6 H ild e m o r lu iz R e c h

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A negatividade dialética de Adorno se exprime ao modo de um

tema com múltiplas variações, sendo que o próprio tema, segundo Türcke

( 2 0 0 4 ) , não existe sem as variações, só podendo manifestar-se mediante

elas. Porém, a seqüência ou o entrelaçamento das variações não obedece

a uma lógica estrita ou pré-concebida, ou seja, a:; variações não resultam

umas das outras de modo logicamente necessário, não formam elos de

uma cadeia lógica, que ou chega a um fim ou volta ao início. Formam

antes o que Adorno, em outro contexto, chamou de "constelação". Desse

modo, é inadequado conduzir esta dinâmica pelos conceitos de

funda-mento e de conseqüência, visto que o próprio tema questiona a validade

incondicional dos termos.

A identidade do tema não é o fundamento porque a identidade não

pode constituir um todo genérico e abstrato que exclua ou que absorva de

uma vez por todas as aquisições contingentes. Ou seja, o progresso imanente

ao todo e as conexões que compõem a totalidade ficam sempre

confronta-das com o contingente, o não-idêntico, a antítese e a diferença, que não

são assimiláveis de modo integral e definitivo em uma síntese do todo.

A propósito, como destaca Türcke ( 2 0 0 4 : 5 1 ) :

5 6

A passagem de uma 'variação' a outra nunca é coercitiva, 'nem

inexorável' e não carece de momentos saltitantes, tampouco é me-ramente arbitrária (...). Contudo, as variações apontam uma para as outras, fazendo com que o conjunto delas forma uma estrutura de explicação recíproca. Assim, a explicação 'relacional' das vari-ações e a do tema éa mesma coisa (...). Só que o centro, ou seja, o tema, não se abre senão mediante as variações que apontam para ele, ou seja, não há acesso imediato.

Ao aplicar a

"dialética

negativa", em sua obra a "Dialética do

Escla-recimento", Adorno e Horkheimer observam que somente um pensar, que

capta sua própria insuficiência e relativa inadequação em relação ao real,

é capaz de enfrentar processualmente e de modo insistente e permanente

o pensamento mítico. O iluminismo apresentou-se totalitário ao ser

apri-sionado pela razão instrumental. O núcleo duro do pensar iluminista

abra-çou a violência contra a natureza interna e externa. O que os homens

querem aprender da natureza, no espectro do pensamento cientificista e

tecnicista moderno, é como manipulá-Ia para dominar completamente

sobre ela e sobre os homens, mas o que resulta na perda de sentido para

(6)

r-o

mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

n õ o -id ê n tic o so b o c o e rç ã o d o id ê n tic o e o in c o n g ru ê n c ia e n tre o c o n c e ito e o re o lid a d e n o d ia lé lic o n e g a tiv o d e T h e o d o r A d o rn o

mula e a busca da causa pela regra e pela probabilidade. A "dialética

negativa" representa uma crítica a este tipo de pensamento sistêmico

fe-chado e movido pela razão instrumental.

A "dialética negativa", mais do que isto, pretende ir além do

concei-to, através do próprio conceito. Intenta colocar em evidência o

parado-xal, o descontínuo, o não-idêntico, o descompasso e a inadequação entre

o conceito e o real. Destaca a descontinuidade entre a metodologia do

pensar e a realidade concreta. A sua orientação é anti-sistêmica e implica

uma crítica

à

idéia de fundamentação. Com os meios de uma lógica de

uma lógica dedutiva, a "dialética negativa" se propõe a rechaçar a

absolutização do princípio de unidade e a onipotência suprema do

con-ceito. Sua intenção é, ao contrário, colocar em foco o que existe fora do

embuste de tal unidade arrogante. Em outras palavras, a tarefa da " d ia lé tic a

negativa" é a de quebrar a força prepotente do sujeito e de desmascarar o

engano de uma subjetividade constitutiva.

De 'acordo com Adorno (apud, Olgária de Matos, 2005:p.82-83):

"O próprio nome dialética de início significa, simplesmente, que

os objetos são mais que seu conceito, que contradizem a norma

57

tradicional da 'adequatio'( ...).É índice do que há de falso na

iden-tidade, na adequação do concebido com o conceito (.. .). Pensar

quer dizer identificar (...).A contradição é o não-idêntico sob o as-pecto da identidade;o primado do princípio de contradição no in-terior da dialética mede o heterogêneo pela idéia de identidade (...). Contradição é não-identidade sob o conjuro da lei que afeta também o não-idêntico (...).

O que há de doloroso é a dor elevada a conceito, pela pobreza

deste mundo (...). A dialética está a serviço da reconciliação (...). A

utopia do conhecimento seria penetrar com conceitos o que não é

conceitual sem acomodar este àqueles. Dialética é a ontologia da situação falsa; uma situação justa não necessitaria dela e teria tão pouco de sistema quanto de contradição (...). A desmitologização do conceito é o antídoto da filosofia( ...)".

Por outro lado, para Adorno parece que haverá que se começar

pelo conceito e não pelo simples dado, visto que o ente não existe

imedi-atamente, senão apenas mediante o conceito. Porém, os traços racionais

do conceito entrecruzam-se com seus traços arcaicos e irracionalistas.

Assim, a intuição nos diz que restos do pensamento e o ideal cognitivo

estático se atravessam em meio a uma consciência dinamizada.

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-lild e m a r L u iz R e c h

o

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

conceito, segundo Adorno, tem uma exigência imanente de

in-variabilidade,

que é a que cria a ordem frente

à

mobilidade e a fluidez de

seu conteúdo. Esta mobilidade e fluidez são negadas pela forma do

con-ceito, que neste sentido é marcado pela falsidade. Antes de todo

conteú-do, o conceito em si torna-se independente de sua própria forma frente

aos conteúdos, ou seja, de imediato, afirma o princípio

de identidade.

Algo que é postulado simplesmente por sua utilidade para pensar é

toma-do por uma realidade em si, firme e constante. O pensamento identificante

objetiva por meio da identidade lógica do conceito. A dialética,

enquan-to subjetiva, tende a pensar que a forma do pensamenenquan-to já não converte

seus objetos vistos como imutáveis e sempre iguais a si mesmos; a

expe-riência contradiz tal imobilismo. A consciência individual

como

anteci-pação abstrata da unidade tem que fundamentar, como já argumentava

Kant, toda a classe de identidade. A consciência cria unidade, por mais

irreal e inapreensível que lhe resulte sua própria origem e seu passado.

Nessa irreal idade o eu recordado, que antes fomos e que potencialmente

volta a identificar-se conosco, se constitui de uma só vez um outro, um

estranho, e deve ser pensado como distância. Tal ambivalência

e

incon-gruência e ao mesmo tempo entrelaçamento entre identidade e diferença

é, portanto, imanente à própria problemática lógica da identidade (A este

respeito ver: Adorno, 1975, pp.156-57).

Tentando escapar da submissão da linguagem a um modelo prévio

de pensamento, o estilo de Adorno aferra-se à presença concreta da

cons-telação das palavras, a qual todavia não se satisfaz com a forma da

sen-tença. "Esta, como unidade, nivela a multiplicidade

que se encontra nas

palavras" (Adorno, 1973, p.l 02).

Não há, porém, nenhum poder mágico ou autônomo da palavra ou

da escrita, pois para o autor uma constelação de conceitos só possibilita o

conhecimento

do objeto enquanto instala uma via de aporte ao processo

sócio-econômico,

cultural e histórico nele acumulado:

" 0 o b je to a b r e - s e a u m a in s is tê n c ia m o n a d a ló g ic a q u e é a c o n s c i-ê n c ia d a c o n s te la ç ã o , n a q u a l e le s e e n c o n tr a : a p o s s ib ilid a d e d e u m m e r g u lh o n o in te r n o n e c e s s ita d a q u ilo q u e é e x te r n o . M a s , ta l u n iv e r s a lid a d e , im a n e n te d o s in g u la r , éo b je tiv a a p e n a s c o m o h is -tó r ia s e d im e n ta d a " ( A d o r n o , a p u d M u s s e , s d .) .

O pensamento somente está municiado daquilo que é não

particu-lar, ou seja, da universalidade dos conceitos - por conseguinte, de meios

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d ê n tito so b o c o e rç ã o d o id ê n tic o e o in c o n g ru ê n c io e n tre o c o n c e ito

e o re o lid a d e n o d io lé tic o n e g a tiv o d e T h e o d o r A d o rn o

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

que são por definição macrológicos - para efetivar-se como micrologia,

em outras palavras, para conhecer o singular e o individual. Além

dis-so/(...) a imersão no singular tem como momento imprescindível a

ne-cessidade de 'ir além do objeto', condição de possibilidade da exigência

de superar o pensamento identificante" (Musse, s.d.).

Portanto, Adorno procura remover a ilusão de uma subjetividade

auto-suficiente e constitutiva da realidade e do conhecimento e mostrar o

equívoco e o embuste presentes em seu correlato decorrente que é a idéia

de uma filosofia da identidade. Depois de liberta desta ilusão, a dinâmica

conceitual não se projeta mais a partir de um princípio fundador e não

apresenta mais a pretensão arrogante de abarcar a totalidade do finito e

inteireza da experiência.

O filósofo recusa-se a instaurar um novo sistema paradigmático de

conhecimento e opta por um método e um modo de pensamento que

tem como referência não sedimentar o paradoxo, o não idêntico e a

negatividade e que se desenvolve por meio de uma tessitura de conexões

sistematicamente articuladas, porém avessas a uma sedimentação e a um

engavetamento sistêmico.

A propósito, o próprio conceito adorniano de 'especulativo' denota

59

resistência e negatividade crítica ao estabelecido:

Em tal resistência sobrevive o momento especulativo: como aqui-lo que não deixa que sua lei seja prescrita peaqui-los fatos dados, trans-cendendo-os mesmo em contato mais estreito com os objetos e na

recusa de uma transcendência sacrossanta. É onde o pensamento

está para além daquilo ao qual, resistindo, ele se prende, que se encontra a sua liberdade (Adorno, apud Musse, s.d.).

O entendimento de que o imediato é marcado pelo equívoco e de

que o factual é fonte de erros, nutre a crítica de Adorno ao positivismo.

Por outro lado, a sua crítica também se orienta contra os esquemas

idea-listas que se apóiam em princípios apriorísticos e estáticos, concebendo

de forma harmoniosa e unitária a relação entre o lógico (e o conceitual) e

o histórico, o teórico e o empírico. Desse modo, Adorno também recusa

a filosofia idealista visto que 1 /(. .. ) esta se atém exclusivamente

à

imanência

de construções lógicas, identificando, em chave falsa, teoria e unidade

formal, universal e particular" (Musse, s.d.).

Porém, mesmo depois de refutar o idealismo, a teoria não pode

prescindir da especulação. Por isso, para melhor desenvolvê-Ia

(9)

E d u c a ç õ o e m D e b a te ' F o rta le z a ' v . 1 , n O 6 1 , a n o 3 3 - 2 0 1 1 p .

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52a 6 6 H ild e m a r L u iz R e c h

vém concebê-Ia em um sentido mais amplo que aquele que possuía

em Hegel:

Este teria, segundo Adorno, positivado o especulativo ao

vinculá-1 0 com o terceiro momento da dialética, o racional positivado, privando-o daquilo que mais interessa, a negatividade, o potencial crítico. Avessos a uma possível unificação sistemática, tensos,

rete-sados em uma relação de descontinuidade mediada pela conexão

entre o universal e o particular em sua concreção histórica, os

momentos especulativo e concreto não se inscrevem num mesmo

continuum. Tampouco são momentos estanques, já que estão

inter-relacionados: o pensamento especulativo necessita, em sua

imanência, do corretivo do objeto, do confronto com o teor coisal;

a filosofia concreta, por sua vez, não pode prescindir da

negatividade do pensamento e mesmo do desdobramento do

especulativo (Musse, s.d.).

A preocupação de Adorno com o processo social, cultural e

históri-co acumu lado no tempo e no espaço e, por outro lado, com a rejeição do

MLKJIHGFEDCBA

6 0

apriorismo lógico, ontológico e conceitual, não acarreta o abandono ou

a desaparição do sistemático. Ao contrário:

As intersecções e incongruências históricas que se dão entre os

conceitos não podem ser atribuídas simplesmente à história e ao

processo social, como se fossem algo não conceitual que nada

tivesse que ver, como se sói dizer, com o sistemático, portanto, com as questões em torno da verdade. As mudanças históricas da filosofia, e esta é pelo menos uma mediação essencial entre o as-pecto por assim dizer histórico e o asas-pecto por assim dizer objeti-vo, procedem antes em larga medida de questões objetivas ou sis-temáticas (Adorno, apud Musse, s.d.).

A síntese na "dialética

n e g a tiv a

11

de A D O R N O

De acordo com Christoph Türcke, as acusações estereotipadas mais

usuais em relação

à

"Dialética Negativa" de Adorno é a suposição de que

ela não apresenta nenhuma ancoragem sintetizante.

Entretanto, Adorno apresenta o entendimento de que a síntese deve

(10)

on ã o -id ê n tic o s o b a c o e rç ã o d o id ê n tic o e o in c o n g ru ê n á a e o e a re a lid a d e n a d ia lé tic a n e g a tiv a d eTheodor

a p o te o tic a m e n te p a r a d is ía c a e c o m o u m v e to r c o n d e n s a d o r d e s u p r e m a

c r is ta liz a ç ã o e d e a p r is io n a m e n to d a r e a lid a d e a c o n c e p ç õ e s e p r o je to s

p a r a lis a n te s d e d o m in a ç ã o e d e p o d e r , e n ã o e n q u a n to a to m e n ta l e a titu

-d e s in g u la r - O u s e ja , p a r a A d o r n o , a s ín te s e é in e v itá v e l e n e c e s s á r ia . P a r a

e le , a b s te r - s e d a s ín te s e f u n c io n a tã o p o u c o q u a n to a b s te r - s e d a a lim e n ta

-ç ã o .

C o m o d e s ta c a T ü r c k e ( 2 0 0 4 :5 7 - 5 8 ) :

" N ã o h á id e n tif ic a ç ã o c o n c e itu a l s e n ã o p o r s ín te s e d e in ú m e r a s m iu d e z a s s e n s o r ia is a u m s ó c o n c e ito , e n ã o h á s o c ie d a d e s e n ã o p o r s ín te s e d e s e r e s h u m a n o s e s e u s tr a b a lh o s , f u n ç õ e s , p o d e r e s ,

in s titu iç õ e s , e te .

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A s ín te s e é c o n d iç ã o d e p o s s ib ilid a d e , ta n to d e q u a lq u e r c o n h e c im e n to , q u a n to d e q u a lq u e r e s tr u tu r a s o c ia l" .

N o e n ta n to , d e n tr o d o p r is m a d a " O ia lé tic a N e g a tiv a " , p o r in te r m é

-d io d o s c o n c e ito s id e n tif ic a d o r e s e ju íz o s s in te tiz a d o r e s d e v e m ta m b é m

s e r d e te c ta d o s o s d e f e ito s d a id e n tif ic a ç ã o e d a s ín te s e . O u s e ja , a s ín te s e

d e v e s e r v is ta c o m v ig ila n te a titu d e c r ític a , já q u e e la s e m p r e , d e f o r m a

in e x o r á v e l, tr a z e m b u tid a ta n to a to s d e v io lê n c ia , c o n s tr a n g im e n to ,

MLKJIHGFEDCBA

61

s u b s u n ç ã o e d o m in a ç ã o , c o m o p r á tic a s d e d e s f ig u r a ç ã o m u tila d o r a . A

u m s ó te m p o a s ín te s e é in d is p e n s á v e l e p r o m is s o r a , e ta m b é m in a d e q u a

-d a e r e -d u c io n is ta e , p o r is s o , c o n tr a d itó r ia e p a r a d o x a l.

A c o n s c iê n c ia c r ític a , e m b o r a d e s p r o p o r c io n a l e q u a s e im p o te n te

e m r e la ç ã o

à

s ín te s e , r e p r e s e n ta u m a to ilu r n in a d o r , v is to q u e c o n s e g u e s e c o n tr a p o r à s ín te s e c o m o s p r ó p r io s m e io s d e la . O s d e f e ito s e o s e q u ív o c o s

d a id e n tif ic a ç ã o e d a s ín te s e s ã o c a p ta d o s p o r in te r m é d io d o s p r ó p r io s c o n

-c e ito s id e n tif ic a d o r e s e d o s ju íz o s s in te tiz a d o r e s , s u b m e tid o s a u m a c r itic a

in te r n a r e v e la d o r a d o p a r a d o x o e d a s c a r ê n c ia s a e le s in e r e n te s .

C o m o e s c r e v e T ü r c k e ( 2 0 0 4 :5 8 ) , a r e s p e ito d a v is ã o d o c o n c e ito d e

s ín te s e d e A d o r n o , e m s u a o b r a " d ia lé tic a N e g a tiv a " :

'liAs ín te s e ' c a p ta a s c o is a s , m a s n ã o lh e f a z ju s tiç a , e n c a ix a n d o - a s e m v e z d e p r o n u n c ia r s u a ín d o le , d e te n d o - a s e m v e z d e a b r ir - I h e s s u a ín d o le , d e te n d o - a s e m v e z d e a b r ir - I h e s o s e n tid o . O e s p a r tilh o d a s ín te s e n ã o é a v o z d a c o is a e s p a r tilh a d a n e m s e u p o r ta - v o z . É s e u s u c e d â n e o . O m a is e s p a n to s o , p o r é m , é o f a to d e a c o n s c iê n -c ia h u m a n a te r c o n d iç õ e s d e p e r c e b e r is s o . A in s u f ic iê n c ia d a s ín te s e n ã o f ic a im p e r m e á v e l a u m a v ir a d a m e n ta l, q u e p o d e s e r c h a -m a d a d e o -m ila g r e d a r e f le x ã o .( . ..) .

(11)

62

mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Iíld e m o r lu iz R e c h

Identificação e síntese formam a condição de possibilidade de tal virada e, ao mesmo tempo, seu objeto. Claro que a própria

trans-formação não escapa do equívoco, mas lhe dá a luz da

autoconsciência: a única possibilidade de movimentar-se nele de modo racional".

Enquanto que na dialética hegeliana, por sua virtuosidade, a

sínte-se é sacralizada, justificada e legitimada a qualquer custo, como motor

divinizado

da dialética, Adorno se ocupa em desmistificá-Ia, apontando

as suas insuperáveis contradições e a sua configuração

inelutavelmente

tendente ao reducionismo

e a formas de cristalização

paralisante e de

violência mutiladora em relação ao real. Enfim, Adorno se ocupa com a

superação dialética da síntese, "(...), desvelando-a enquanto fato humano

demasiado humano, que pode e deve ser excedido pela virada crítica da

consciência humana contra si mesma" (Türcke, 2004, p.59).

Os conceitos de síntese, de totalidade, de sociedade, de progresso

e de história apresentam, segundo Adorno, uma afinidade

reciprocamen-te reveladora dentro de uma dereciprocamen-terminada consreciprocamen-telação conceitual.

A'ontologização

ou a subtancialização dos conceitos de totalidade

e de síntese prefiguram e expressam uma forma de má consciência

e

representam um modo de alienação expressiva do intelecto. A idéia da

existência de leis teleológicas imanentes à história, envolvendo

uma

su-cessão depurativa de sínteses evolutivas direcionadas a uma

reconcilia-ção apoteótica e absoluta entre o real e o racional para o fim da história,

não passa para Adorno de pura e doce ilusão. Para Adorno, da mesma

forma como para Walter Benjamin, a história se desenvolve em

fragmen-tos, sendo que este processo de decomposição não oferece nenhuma

ga-rantia para uma identidade entre razão e realidade.

A história se desenvolve, de modo saltitante, sinuoso, imprevisível

e às vezes surpreendente, nos próprios interstícios entre sujeito e

objeto-homem e natureza -, sendo que entre os conceitos e as coisas existem

descontinuidades, fissuras, inadequações, descompassos e

incongruênci-as insuperáveis. Desse modo, a história se desenvolve onde não pode

haver saber definitivo e onde a consciência é órfã da garantia teleológica

de um desenlace histórico previsível.

A idéia de um processo histórico, lógica e ontologicamente

pré-concebido,

tem por base a mesma razão instrumental que orienta e se

traduz na política, no mercado, na ciência e na técnica no mundo

moder-no. A sua matriz é o princípio de identidade.

(12)

o

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n ã o -id ê n tic o so b a c o e rç ã o d o · · . e · illa x l!)l1 li!a á a e a re a lid a d e o d ia-]Ié t'· ima e g m ita

o c o n c e ito A d o rn o

Para Adorno, o movimento da história é apenas o espetáculo

nega-tivo de uma mudança, em que não existe a certeza para um caminho

ascendente, mas em que o espírito da crítica pode fazer valer seu impulso

de superação e reconciliação, mesmo que não de forma definiti a, no

desmascaramento de todos os estados falsos e de má consciência e o

desvelamento dos resíduos de barbárie instalados na ambiência social e

material objetiva.

De acordo com este prisma, é necessário romper com a noção de

história como um "continuum", onde o bom termo é uma garantia

imanente. Não existe nenhuma reta horizontal ou vertical que conduza a

humanidade da barbárie

à

civilização.

Dentro desta mesma perspectiva crítica, as idéias da linearidade do

progresso técnico-científico e de uma racionalidade calculista e positivista,

voltadas para a dominação e a manipulação exaustiva da natureza e dos

homens, devem ser criticadas com os próprios meios da razão, de modo

que este procedimento ilumine a razão para uma abertura em direção de

processos de interação reconciliadora com a natureza e entre os homens

- embora isto não possa ser instaurado de modo definitivo - e também

reconstitua importantes facetas recalcadas da razão, tais como a sensibi-

6 3

lidade e a criatividade artística.

C o n sid e ra ç õ e s

fin a is

e c o m p le m e n ta re s

so b re

a s n o ç õ e s d e c o n c e ito ,

lin g u a g e m

e re a lid a d e

o b je tiv a e m A d o rn o

Na continuidade do presente texto são em seguida arroladas mais

reflexões sobre o conceito, a linguagem e a realidade objetiva em

Ador-no.

A propósito, cabe observar que o fluxo da linguagem envolve uma

constelação de conceitos que se revelam por um processo de explicação

recíproca. Somente desse modo "a coisa", o algo objetivo em questão

-mediante tal dinâmica conceitual concatenada e entrelaçada - é cercado

e, desse modo, é explicado. De modo que, para Adorno, a explicação

excede o ato da identificação, não podendo ser encaixada de forma

defi-nitiva numa gaveta conceitual.

Além disso, o processo de explicação não constrói uma relação

hierárquica entre sujeito, predicado e objeto, mas cria reciprocidade

en-tre o conjunto dos componentes lingüísticos, que se inserem e se

(13)

E d u c a ç ã o e m D e b a te · F o rta le z a · v . 1 , n O 6 1 , a n o 3 3 - 2 0 1 1 p .

xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

52a6 6 H ild e m a r lu iz R e c h

m e n ta m d e n tr o d e c o n s te la ç õ e s d e c o n c e ito s , s e n te n ç a s , ju íz o s , r a c io c

í-n io s e c o í-n c lu s õ e s , tr a ta d o s d e m o d o í-n a r r a tiv o o u a r g u m e í-n ta tiv o . O u s e ja ,

s o m e n te q u a n d o a s v a r ia ç õ e s c o n c e itu a is c o n s e g u e m s e r e m e te r u m a s à s

o u tr a s e e x p lic a r - s e r e c ip r o c a m e n te , 'o a lg o ' o u 'a c o is a ' e m f o c o , p o d e

s e r c e r c a d a e e x p lic a d a , e m b o r a n ã o d e m o d o d e f in itiv o , d e m o d o q u e o

p r o c e s s o d e e x p lic a ç ã o u ltr a p a s s a o a to id e n tif ic a n te .

C h r is to p h T ü r c k e ( 2 0 0 4 :5 2 - 5 3 ) f a z a s e g u in te p o n d e r a ç ã o a e s te

r e s p e ito :

64

" O p r o c e s s o d e e x p lic a ç ã o a s s u m e , d e s ta r te , a c o n o ta ç ã o d e a b e r -tu r a , o u a té d e r e v e la ç ã o d a c o is a e m q u e s tã o , s ó q u e ta l r e v e la ç ã o n ã o a c o n te c e im e d ia ta m e n te , m a s s o m e n te m e d ia n te c o n c e ito s , e m q u e c a d a u m s e a p ó ia n o o u tr o e to d o s a p o n ta m p a r a a c o is a c e r c a d a . A s s im , e m v e z d e e n c a ix á - I a , o o b je tiv o é f a z ê - I a s a ir d a c a ix a d e id e n tid a d e , r e tir á - I a d o p r o c e s s o u s u a l d e id e n tif ic a ç ã o . E s te p r o c e s s o d e a b e r tu r a r e c íp r o c a , e n tr e o c o n c e ito , a c o n s te la -ç ã o e 'a c o is a ' c e r c a d a , é v is a d o p e lo te r m o a d o r n ia n o d e 'a f in id a -d e '. N u n c a a a f in i-d a -d e c h e g a à i-d e n ti-d a -d e ; c o n s is te a n te s , e m e le -m e n to s d if e r e n te s ( ir r e d u tív e is ) , e m q u e u m c a r e c e d o o u tr o e s e d e v e a o o u tr o . A e x p lic a ç ã o q u e e le s s e p r e s ta m é c o m u n ic a ç ã o m ú tu a d e s o c o r r o e c a r ê n c ia , e a c o n s te la ç ã o c o n c e itu a l, q u e é c o m u n ic a tiv a n e s te s e n tid o , in c ita , p o r a s s im d iz e r , o o b je to c e r c a -d o p a r a e le s e m a n if e s ta r e m s u a c a r ê n c ia " .

O s c o n c e ito s f in a is , to d a v e z q u e s ã o s u b s ta n c ia liz a d o s o u

o n to lo g iz a d o s , o u s e ja , to d a v e z q u e p r e te n d e m a b s o r v e r a p le n itu d e d o

e n te , s o f r e m o a ç o ite d a a b s tr a ç ã o e d o e s v a z ia m e n to . D a m e s m a f o r m a

ta m b é m é e q u iv o c a d a a id é ia d e q u e tu d o q u e o s h o m e n s e x p r im e m já s e

e n c o n tr a n a s f o r m a s ló g ic a s d a lin g u a g e m . " T a l 'f a ls a ' m o d é s tia 'd e d e te r

-m in a d a s f ílo s o f ia s d a lin g u a g e -m ' n ã o d e s is te d e to m a r a ló g ic a o u a lin

-g u a -g e m p e lo p r im e ir o e ú ltim o - n ã o d o m u n d o , é v e r d a d e , m a s , s im , d a

p r ó p r ia o c u p a ç ã o , ig n o r a n d o o 'in e v itá v e l' e in c u r á v e l e n v o lv im e n to

m e ta ló g ic o d a ló g ic a , m e ta lin g ü ís tic o d a lin g u a g e m , q u e im p e d e , d e s a

í-d a , a s u b s tâ n c ia d a ló g ic a e d a lin g u a g e m e m s i m e s m a s " ( T ü r c k e , 2 0 0 4 ,

p .5 3 ) .

P a r a A d o r n o , a c o n tr a d iç ã o e n tr e m u n d o e p e n s a m e n to é a b is m a l

d o p o n to d e v is ta s o c ia l, ló g ic o e o n to ló g ic o . D e a c o r d o c o m e le , o to d o

te o r ic a m e n te c o n c e b id o a p r e s e n ta u m la s tr o d e f a ls id a d e p o r q u e n ã o

(14)

o

mlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

n ã o -id ê n tic o so b o c o e rç ã o d o id ê n tic o e a in c o n g ru ê n c ia e n tre o c o n c e ito e o re a lid a d e n o d ia lé tic a n e g a tiv o d e T h e o d o r A d o rn o

o

pensamento e o procedimento teórico-conceitual e filosófico

devem se exprimir de modo prudente, humilde e cauteloso, pois somente

assim conseguem reunir as possibilidades de pacientemente perscrutar e

aguardar

IIL .. )

que, um dia, a lembrança do que foi perdido venha a

despertá-Ias e os transforme em ensinamento", (Adorno, 1992, p.70).

Por outro lado, para Adorno, o processo de redimensionamento da

consciência crítica e de alargamento da tessitura de emancipação e de

autonomia individual e social, só podem ser projetadas e encaminhadas

pela mediação da atividade conceitual. A propósito, para o autor, o

pró-prio pensar já é em si, antes de qualquer conteúdo particular, negação e

resistência contra aquilo que lhe é impingido.

Contudo, a realidade inteira e todas as formas de conceituação

per-manecem em um estado contraditório porque carentes de um estado

ple-no de reconciliação. Todas as formas de carência, dor e incompletude

representam formas elementares de contradição, insuperáveis no sentido

absoluto. Nesta mesma direção, as pulsões com seus conflitos, o

sofri-mento, as ações de resistência e de luta representam contradições básicas

bem antes de penetrar a contradição conceitual.

O pensamento humano vive sob uma ambivalência e um equívoco

65

insuperáveis, pois ao explicar a realidade material mediante conceitos,

exprime também a ruptura intransponível entre matéria e pensamento, o

que impede a sua congruência. Em todos os atos pensantes se revela uma

contradição intrínseca, ou seja, se manifesta e reproduz uma ruptura e

uma fissura que interminavelmente faz parte da natureza do intelecto.

A própria auto-reflexão crítica do intelecto contém um impulso

con-traditório, que coincide, no entanto, com seu impulso reconciliador, o que,

por sua vez, contradiz a contradição do "estado falso", enquanto

movimen-to de busca processual de um alargamento da consciência crítica e de

am-pliação da ambiência de emancipação e de liberdade humanas.

MLKJIHGFEDCBA

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6 6

E n v ia d o p a ro p u b lic a ç ã o : 0 3 .1 0 .2 0 1 0

A c e ito p a ro p u b lic a ç ã o : 2 5 .0 1 .2 0 1 1

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