PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
MELLYNE PALMEIRA MEDEIROS
DESEMPENHO TÉRMICO DE BLOCOS DE VEDAÇÃO COM O USO DE GESSO E DE RESÍDUOS POLIMÉRICOS
Orientador: Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa Co-orientador: Prof. Dr. Aluísio Braz de Melo
João Pessoa / PB
Setembro / 2016
MELLYNE PALMEIRA MEDEIROS
DESEMPENHO TÉRMICO DE BLOCOS DE VEDAÇÃO COM O USO DE GESSO E DE RESÍDUOS POLIMÉRICOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal da Paraíba, como um dos requisitos para obtenção do título de mestre.
Área de concentração: Estruturas e Materiais
Orientação: Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa
Co-orientação: Prof. Dr. Aluísio Braz de Melo
João Pessoa / PB
Setembro / 2016
Autorizo a reprodução total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a
fonte.
Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca na Documentação Universidade Federal da Paraíba
M488d Medeiros, Mellyne Palmeira.
Desempenho térmico de blocos de vedação com o uso de gesso e de resíduos poliméricos / Mellyne Palmeira Medeiros.—
João Pessoa, 2016.
115 f. : il. –
Orientador: Normando Perazzo Barbosa Co-orientador: Aluísio Braz de Melo Dissertação (Mestrado) – UFPB/CT
1. Engenharia civil. 2. Habitação popular. 3. Desempenho térmico. 4. Aproveitamento de resíduos. 5. Gesso. I. Título.
UFPB/BC CDU: 624(043)
MELLYNE PALMEIRA MEDEIROS
DESEMPENHO TÉRMICO DE BLOCOS DE VEDAÇÃO COM O USO DE GESSO E DE RESÍDUOS POLIMÉRICOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal da Paraíba, como um dos requisitos para obtenção do título de mestre.
Área de concentração: Estruturas e Materiais
Orientação: Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa
Co-orientação: Prof. Dr. Aluísio Braz de Melo
Data do exame:____________________________
Defesa de dissertação de mestrado avaliada por Banca Examinadora composta pelos seguintes professores, sob a presidência do primeiro:
_______________________________________________
Professor Dr. Normando Perazzo Barbosa - UFPB _______________________________________________
Professor Dr. Aluísio Braz de Melo - UFPB
_______________________________________________
Professora Dra. Aline Figueirêdo Nóbrega de Azerêdo – UFPB/IFPB
_______________________________________________
Professor Dr. Ulisses Targino Bezerra - IFPB
João Pessoa / PB
Setembro / 2016
Dedico este trabalho a todos que
acreditam que é possível produzir
materiais, para o setor da construção civil,
com baixo impacto ambiental.
AGRADECIMENTO
Ao Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa, pela confiança e apoio ao longo da orientação deste trabalho. Foi um grande privilégio tê-lo como professor ao longo da minha trajetória acadêmica, principalmente, pelo grande exemplo de humano e de profissional;
Ao Prof. Dr. Aluísio Braz de Melo, a quem expresso o meu sincero agradecimento e admiração, onde a orientação e o apoio foram fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho;
Ao Prof. Dr. Ulisses Targino Bezerra, pelas contribuições e pelo direcionamento da pesquisa provenientes das considerações feitas na banca de qualificação e disponibilidade em ajudar. Como também, pelo exemplo de profissional;
A Prof. Dra. Aline Azeredo, pela transmissão dos conhecimentos necessários relacionados ao desempenho de edifícios e a boa vontade em sempre ajudar;
Aos meus pais, Carminha, por ser minha maior referência; Isaac (in memorian), pelo exemplo que ficará sempre presente na minha memória. Assim como, toda a minha família, por ser minha base;
Ao meu esposo, Marcos, pelo apoio e carinho que foram essenciais para a realização desse trabalho. Como também, a toda sua família, em especial, minha sogra, Fátima, por se fazer presente na vida do meu filho nos momentos que tive que me ausentar;
Ao meu filho, Benício, por nascer e me ensinar o que é mais importante na minha vida. Minha enteada, Marina, por trazer mais alegria para nossa família;
A equipe do LABEME Delby, Claudio, Zito, Ricardo, Gato, Lila e Mizo. Em especial
a Sebastian, por sempre solucionar todos os “problemas”;
Aos professores Givanildo, Belarmino e José Gonçalves pela colaboração e presteza na ajuda para o desenvolvimento desse trabalho;
Aos colegas da salinha do LABEME por tornarem meus dias de trabalho mais fáceis, em especial, Adriano, Brunna, Fabianne, José Augusto, Gabryela, Leovegildo, Mariane, Nely, Rômulo;
A todos os amigos que ajudaram com boas conversas, em especial, a Maria Simone, pela amizade sincera;
A Jesus Charles, pelos ensinamentos e por simplificar muitas das minhas dúvidas;
A Pablo pela presteza em ajudar.
“Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende”.
Leonardo Da Vinci
RESUMO
Nos últimos anos, houve um crescimento da produção de habitação popular no Brasil. Não obstante, as baixas condições de habitabilidade e a degradação ambiental são características de grande parte destas habitações. As limitações financeiras têm sido o principal argumento que justifica essas deficiências.
Visando soluções técnicas, preocupadas no que concerne às questões ambientais e econômicas para o setor da construção civil, o uso do gesso apresenta vantagens por se tratar de um aglomerante menos agressivo ao meio ambiente.
Desta forma, este trabalho pesquisa as alterações nas propriedades físicas e mecânicas, assim como o desempenho térmico, de compósitos de matriz de gesso com adições de resíduos poliméricos, dos quais são exemplos o Etileno Acetato de Vinila (EVA) e o Poliestireno Expandido (EPS). Os compósitos de gesso e resíduos de EVA e de EPS foram utilizados na produção de blocos para alvenaria de vedação. Também utilizaram-se garrafas PET (Poli Tereftalato de Etileno) no interior dos blocos produzidos, denominado, neste trabalho, de GESSOPET. Verificou-se que os blocos de compósitos de gesso com resíduos, tanto de EVA como de EPS, apresentaram melhoria relacionadas ao desempenho térmico quando comparados com blocos sem adições de resíduos, fabricados apenas com gesso. Por fim, este trabalho visa contribuir para o desenvolvimento de tecnologias construtivas, utilizando matéria-prima com reduzido impacto ambiental e com melhor relação entre custo e benefício.
Palavras-chave: gesso, aproveitamento de resíduo, desempenho térmico,
habitação popular.
ABSTRACT
In lastest years, have been noticed the growth of social interest house in Brazil.
However, the lower housing conditions and environmental degradation are characteristics of most of the produced housing. Financial constraints have been the main argument to justify these deficiencies. Seeking technical solutions, concerned with regard to environmental and economic issues for the construction sector, the use of gypsum is advantageous because it is less aggressive caking for the environment. Thus, this study aims to verify the changes in the physical and mechanical properties, and thermal performance of composite gypsum matrix with polymeric waste additions such as Ethylene Vinyl Acetate (EVA) and Expanded Polystyrene (EPS). The composite of gypsum and waste of EVA and EPS were used in the production of blocks for masonry sealing. It was also used bottles of PET (Poly Ethylene Terephthalate) inside of the produced blocks called in this work, GESSOPET. It has been found that the gypsum composite blocks of residues, both EVA as EPS showed better related to the thermal performance when compared with block without waste additions, manufactured only with plaster.
Finally, this paper aims to contribute to the development of construction technologies using raw materials with low environmental impact and promote more economic construction.
Keywords: gypsum plaster, waste recovery, thermal behavior, social interest
house.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Protótipo desenvolvido por Santos... 30
Figura 2 - Unidade habitacional desenvolvida por Gomes ... 31
Figura 3 - Protótipo elaborado por Silva ... 32
Figura 4 – Edifício construído com blocos de concreto e garrafas PET ... 34
Figura 5 – Exemplo do encaixe horizontal do bloco construtivo de concreto e garrafas PET ... 34
Figura 6 - Casas construídas com gesso no município de Araripina ... 40
Figura 7 - Construção de habitação de padrão médio com blocos de gesso. (a) Execução da primeira fiada com blocos hidrofugados. (b) Elevação da alvenaria dos blocos. (c) Colocação da laje. (d) Habitação com dois pavimentos e cobertura em telha cerâmica. ... 41
Figura 8 - Casa com blocos de gesso utilizando coordenação modular ... 44
Figura 9 - Zoneamento bioclimático brasileiro ... 46
Figura 10 – Etapas do programa metodológico... 49
Figura 11 – Agregado de EVA. (a) Agregado como coletado. (b) Agregado triturado em moinho de facas. ... 51
Figura 12 – Agregado de EPS. (a) Agregado como coletado. (b) Agregado triturado em moinho de facas ... 51
Figura 13 – Garrafas PET coletadas ... 52
Figura 14 - Composições das misturas ... 53
Figura 15 - Ensaio de absorção de água ... 55
Figura 16 - Curvas de níveis de absorção de água para Gesso-EVA ... 56
Figura 17 - Curvas de níveis de absorção de água para Gesso-EPS ... 56
Figura 18 - Ensaio de compressão. (a) Prensa. (b) Detalhe da ruptura do corpo de prova ... 57
Figura 19 - Curvas de níveis da resistência à compressão axial do Gesso-EVA. . 58
Figura 20 - Curvas de níveis da resistência à compressão axial do Gesso-EPS. . 58
Figura 21 - Misturas trabalhadas ... 59
Figura 22 – Modelo da forma dos blocos de GESSOPET ... 61
Figura 23 - Dimensionamento das tipologias ... 62
Figura 24 - Processo de produção dos blocos. (a) Molde. (b) Bloco de GESSOPET ... 63
Figura 25 – Ensaios realizados ... 64
Figura 26 - Aparelho de Vicat ... 66
Figura 27 - Mesa de espalhamento ... 66
Figura 28 - Ensaio de absorção de água. (a) Corpos de prova simples. (b) Corpos de prova hidrofugado. ... 67
Figura 29 - Ensaio de resistência à compressão. (a) corpo de prova simples. (b) corpo de prova hidrofugado... 67
Figura 30 – Representação esquemática do ensaio de perda de massa ... 68
Figura 31 – Equipamento utilizado para a realização do ensaio de perda de massa por erosão ... 69
Figura 32 - Condutivímetro K30 ... 70
Figura 33 - Amostra para ensaio de condutividade térmica. (a) Molde metálico para
fabricação das amostras. (b) Amostra ... 71
Figura 34 – Princípio da medição da condutividade térmica ... 71
Figura 35 - Ensaio de absorção de água. (a) Pesagem do bloco. (b) Blocos submersos. ... 72
Figura 36 - Ensaio de resistência à compressão. (a) Bloco na prensa. (b) Bloco rompido. ... 72
Figura 37 - Prensa hidráulica com parede para execução de ensaio de compressão ... 74
Figura 38 – Paredes construídas com os blocos de GESSOPET RF, EVA e EPS 75 Figura 39 - Planta baixa esquemática da câmara térmica ... 76
Figura 40 - Interior de câmara térmica. (a) parede instrumentada. (b) painel radiante. ... 76
Figura 41 - Mini parede ... 77
Figura 42 - Equipamento para ensaio de choque térmico ... 78
Figura 43 - Interior do equipamento elaborado para realizar ensaio de choque térmico. (a) Quando aquecido. (b) Quando resfriado com água em temperatura ambiente... 78
Figura 44 - Curva granulométrica do gesso ... 80
Figura 45 – Curva granulométrica do EVA ... 81
Figura 46 – Curva granulométrica do EPS ... 81
Figura 47 - Tempo de início e fim de pega ... 82
Figura 48 - Ensaio de absorção de água para corpos de prova simples e hidrofugado ... 84
Figura 49 - Resistência à compressão de CP simples e hidrofugado ... 84
Figura 50 - Ensaio de absorção de água para blocos simples e hidrofugado ... 87
Figura 51 - Curva de carga x deslocamento... 89
Figura 52 - Curva de tensão x deformação ... 89
Figura 53 - Fissuração da parede ... 90
Figura 59 - Ruptura da parede ... 91
Figura 60 - Variação de temperatura média durante o ensaio de condutividade para as amostras de Gesso RF, de Gesso EVA e de Gesso EPS ... 91
Figura 56 - Temperaturas obtidas nos 10 ciclos de aquecimento e molhagem nas mini paredes ... 94
Figura 57 – Temperaturas obtidas para o primeiro ciclo de aquecimento e resfriamento das mini paredes de GESSOPET. ... 95
Figura 58 - Deslocamento horizontal da face oposta ... 96
Figura 59 - Projeto habitação popular da prefeitura municipal de João Pessoa. .. 98
Figura 60 - Projeto proposto para modulação em malha quadriculada. ... 99
Figura 61 - Ligações entre os blocos de gesso ... 100
Figura 62 - Perspectiva projeto de modulação com blocos de GESSOPET ... 101
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Características técnicas das placas de gesso ... 23
Tabela 2 - Misturas dos corpos de prova produzidos ... 54
Tabela 3 – Proporções dos traços das misturas escolhidas ... 59
Tabela 4 - Exemplos de blocos utilizando garrafas PET na moldagem ... 60
Tabela 5 - Tipologia dos blocos de GESSOPET (medidas em cm) ... 62
Tabela 6 - Peso dos blocos de GESSOPET ... 64
Tabela 7 - Características químicas obtidas por fluorescência ... 80
Tabela 8 - Ensaio de consistência das amostras simples e hidrofugado ... 83
Tabela 9 - Perda de massa e profundidade de desgaste das placas ... 85
Tabela 10- Condutividade Térmica das amostras de gesso hidrofugado em estudo e de referências da literatura ... 85
Tabela 11 - Resistência à compressão dos blocos de GESSOPET ... 87
Tabela 12 – Valores admissíveis para resistência à compressão de blocos ... 88
Tabela 13- Comparação da diferença de temperatura externa e interna das paredes de GESSOPET hidrofugado das amostras em estudo e de referências da literatura ... 92
Tabela 14 - Valores de resistência térmica, capacidade térmica, transmitância térmica, atraso e fator de calor solar para Gesso-RF, Gesso-EVA e Gesso-EPS. 93 Tabela 15 - Transmitância térmica, atraso térmico e fator de calor solar admissíveis para cada tipo de vedação externa... 93
Tabela 16- Comparação da diferença de temperatura das paredes de GESSOPET através do ensaio de choque térmico e do ensaio de condutividade ... 95
Tabela 17 - Resumo dos resultados ... 96
Tabela 18- Estimativa de custo para alvenaria de blocos de GESSOPET RF. ... 102
Tabela 19 - Tabela com o preço de alvenaria de cerâmica, de bloco de vazado de
concreto e bloco de gesso compacto. ... 103
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ABIPET Associação Brasileira da Indústria do PET ABRAPEX Associação Brasileira do Poliestireno Expandido
AESA Agência Executiva de Gestão de Águas do Estado da Paraíba
a/g Relação água/gesso
c Calor específico do material
CP Corpo de prova
CT Capacidade térmica
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral EPS Poliestireno Expandido
EVA Etileno Acetato de Vinila
FSo Fator solar
GESSOPET Bloco proposto em gesso com garrafa PET no interior IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IEMI Instituto de Estudos e Marketing Industrial ISO International Standardization Organization ITEP Instituto Tecnológico de Pernambuco
LABEME Laboratório de Ensaio de Materiais e Estruturas NBR Norma Brasileira Registrada
PET Poli-Tereftalato de etileno
PMJP Prefeitura Municipal de João Pessoa PMMA Polimetilmetacrilato
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PVA Acetato de polivinila
PVC Policloreto de polivinila
RF Referência
Rt Resistência térmica
SBR Borracha de butadieno estireno SI Sistema Internacional
SINAT Sistema Nacional de Avaliações Técnicas
SINDUSGESSO Sindicato da Indústria do Gesso do Estado de Pernambuco SVVIE Sistemas de vedações verticais internas e externas
U Transmitância térmica
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
λ Condutividade térmica
f Atraso térmico
ρ Densidade
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ... 17
1.1 OBJETIVOS ... 19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 20
2.1 GESSO ... 20
2.1.1 Gesso hidrofugado ... 23
2.2 RESÍDUOS POLIMÉRICOS ... 24
2.2.1 EVA ... 25
2.2.2 EPS ... 28
2.2.3 PET ... 33
2.3 MATERIAIS COMPÓSITOS EM MATRIZES DE GESSO ... 35
2.4 HABITAÇÃO POPULAR ... 39
2.5 SISTEMA CONSTRUTIVO MODULAR ... 42
2.6 NORMA DE DESEMPENHO DAS EDIFICAÇÕES ... 44
2.6.1 Desempenho térmico em elementos de vedação ... 45
3 PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL... 49
3.1 MATERIAIS ... 50
3.1.1 Gesso ... 50
3.1.2 EVA ... 50
3.1.3 EPS ... 51
3.1.4 PET ... 52
3.1.5 Aditivo hidrofugante ... 52
3.1.6 Água ... 52
3.2 COMPOSIÇÃO DAS MISTURAS ... 52
3.2.1 Planejamento para a escolha das composições ... 52
3.3 PROJETO E FABRICAÇÃO DOS BLOCOS DE GESSOPET ... 59
3.4 ENSAIOS REALIZADOS ... 64
3.4.1 Material ... 65
3.4.2 Pasta ... 65
3.4.3 Corpo de prova ... 67
3.4.4 Bloco ... 71
3.4.5 Parede (prisma) ... 73
4 RESULTADOS ... 80
4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS ... 80
4.1.1 Gesso ... 80
4.1.2 EVA ... 81
4.1.3 EPS ... 81
4.2 PROPRIEDADES DOS COMPÓSITOS NO ESTADO FRESCO (PASTA) 82 4.2.1 Tempo de pega... 82
4.2.2 Consistência ... 82
4.3 PROPRIEDADES DOS COMPÓSITOS NO ESTADO ENDURECIDO .... 83
4.3.1 Corpos de prova ... 83
4.3.2 Bloco ... 86
4.3.3 Parede ... 88
4.4 RESUMOS DOS RESULTADOS ... 96
4.5 PROJETO DE MODULAÇÃO ... 97
4.6 ESTIMATIVA DE CUSTO DA ALVENARIA EM BLOCOS DE GESSOPET 102 5 CONCLUSÕES ... 104
5.1 ATENDIMENTO AOS OBJETIVOS... 104
5.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ... 105
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 106
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos houve um crescimento da produção de habitação popular no Brasil. Não obstante, as baixas condições de habitabilidade e a degradação ambiental são características de grande parte das habitações produzidas. As limitações financeiras têm sido o principal argumento que justificam essas deficiências. Nesse contexto, muitas pesquisas de materiais estão sendo desenvolvidas na busca de boas soluções para aliar a habitabilidade, baixo impacto ambiental e custos na habitação popular. Um material que tem ganhado destaque é o gesso.
Visando soluções técnicas, preocupadas no que concerne às questões ambientais e econômicas para o setor da construção civil, o uso do gesso apresenta vantagens por se tratar de um aglomerante menos agressivo ao meio ambiente, comparado com o cimento e a cal, sendo utilizado devido as suas propriedades de aderência, demostrando excelente resistência ao fogo e aos isolamentos térmico e acústico.
Todavia, o pré-moldado de gesso é um material frágil, isto é, sofre ruptura sem, previamente, ter deformações plásticas significativas. Tal característica pode ser solucionada a partir da inserção de fibras na matriz do gesso, tornando o material mais dúctil. Outra desvantagem que pode ser resolvida é a solubilidade na água, portanto, não é indicado para vedação externa ou áreas molhadas e molháveis, porém, através da utilização de aditivo hidrofugante no gesso a capacidade de absorção de água é reduzida.
Entretanto, estudos relacionados à análise de matrizes de gesso para a produção de compósitos, utilizando fibras de vidro, de celulose, de bambu, de juta, de sisal, assim como, vermiculita, cortiça e resíduos industriais, tendem a melhorar as propriedades mecânicas, como o aumento da resistência à tração, à flexão e ao impacto, e também a ampliar a capacidade de absorver energia e o desempenho térmico e acústico das edificações (AGOPYAN e SANTOS, 1991; JOHN, 2000;
SAVASTANO JUNIOR et al., 1997; SAVASTANO JUNIOR, PIMENTEL, 2000; JOHN,
CINCOTTO, 2007; OLIVEIRA, 2009).
Dentre os materiais utilizados em compósitos de gesso, verifica-se o uso de resíduos poliméricos, a exemplo do Etileno Acetato de Vinila (EVA), Poliestireno Expandido (EPS), Cloreto de Polivinila (PVC), Borracha SBR, Poliésteres e Poliamidas.
Estes tem se apresentado como uma boa alternativa para melhorar as propriedades do gesso destinado às construções de interesse social, em razão do baixo custo e de serem materiais com alto potencial de uso, devido a abundância e a boa adaptação ao setor da construção civil.
Para Kanno (2009), os resíduos poliméricos procedentes de diversas indústrias podem ser aproveitados na fabricação de novos produtos, explorando as várias possibilidades que já existem, realizando assim uma interação e uma integração entre segmentos e cadeias produtivos, no sentido de aproveitamento e de reuso de materiais.
Essas vantagens dos resíduos poliméricos são decorrentes das suas propriedades específicas, visto que possuem baixa massa específica, são estáveis, inertes, não suscetíveis a fungos, podendo ser aproveitados como agregados sintéticos para elaboração de compósitos leves. Um dos seus usos mais promissores é a produção de elementos pré-fabricados com a melhoria do isolamento térmico.
Para Izquierdo (2011), é imprescindível o desenvolvimento de materiais alternativos como um novo caminho para a sustentabilidade. Neste sentido, a busca de um material que possa ser usado nessas edificações e que seja um isolante térmico tem merecido destaque em pesquisas científicas, visando um material que tenha as características de boa eficiência térmica, boa resistência e baixo custo.
Com base no exposto, este estudo visa perscrutar sobre o desempenho térmico, assim como as alterações nas propriedades físicas e mecânicas, de compósitos de matrizes de gesso com a incorporação de resíduos poliméricos, como o EVA, proveniente da indústria calçadista, e o EPS, vulgarmente conhecido como isopor, oriundos do descarte de embalagens (de eletrodomésticos, de eletrônicos e de móveis).
Os compósitos de gesso, os resíduos de EVA e os de EPS são utilizados na produção
de blocos para a alvenaria de vedação, no interior dos quais são utilizadas garrafas
PET (Poli Tereftalato de Etileno). A denominação deste bloco, neste trabalho, é
GESSOPET, um nome que alia a junção dos materiais utilizados. Visando possibilitar o
uso, tanto em sistemas de vedação verticais internas como externas, realizou-se uma análise comparativa dos compósitos com e sem a inserção de aditivo hidrofugante.
Neste trabalho também foi estudado o processo de construção racionalizada, visando apresentar uma alternativa de um projeto de modulação para habitação popular, considerando as dimensões e o formato dos blocos de GESSOPET. Para tal tarefa, utilizou-se como base a adaptação do modelo padrão para projetos de habitação popular, produzidos pela prefeitura municipal de João Pessoa – PB, nos últimos anos.
Destarte, a modulação de projetos concorre para a redução de custo com a mão de obra, do tempo de execução e, consequentemente, do custo final da obra.
Por fim, espera-se que este trabalho possa contribuir para o desenvolvimento de tecnologias construtivas, utilizando matéria-prima com reduzido impacto ambiental, bem como promover construções mais econômicas e populares.
1.1 OBJETIVOS
Este trabalho tem como objetivo geral verificar o desempenho térmico de blocos construtivos, para alvenaria de vedação (GESSOPET), produzidos com gesso e resíduos poliméricos de EVA, de EPS e de garrafas PET, tendo em vista seu uso para a produção de habitação popular.
Como objetivos específicos têm-se:
(i) Determinar a proporção mais indicada para formulação dos compósitos de gesso-EVA e gesso-EPS, a partir da caracterização das propriedades físicas e mecânicas;
(ii) Definir dimensão, peso, geometria e encaixes dos blocos GESSOPET;
(iii) Determinar as propriedades físicas e mecânicas dos blocos GESSOPET;
(iv) Comparar os resultados obtidos em relação ao desempenho térmico entre os blocos de GESSOPET-EVA, de GESSOPET-EPS e de GESSOPET-RF (sem resíduos);
(v) Avaliar o comportamento mecânico de alvenarias de vedação executadas com blocos de GESSOPET em função de cargas verticais;
(vi) Propor projeto de modulação voltado à habitação popular, utilizando os
blocos de GESSOPET.
O presente capítulo discorre, inicialmente, sobre o gesso, abordando suas características, propriedades físicas e mecânicas. Em seguida, versa sobre as características do gesso hidrofugado. Explana-se acerca dos compósitos com matrizes de gesso, principalmente, em relação à incorporação de resíduos poliméricos. Trata-se sobre políticas públicas voltadas para a construção de habitação popular, utilização de resíduos industriais na produção de materiais alternativos para construção civil, desempenho das edificações e processo de racionalização de alvenaria. Esse leque de assuntos foi definido como forma de embasar o leitor a respeito do tema.
2.1 GESSO
O gesso representa um dos insumos mais antigos utilizados na construção civil, há registros arqueológicos do uso do gesso em ruínas na Síria e na Turquia há cerca de 8.000 anos a.C. e dos egípcios na construção de pirâmides há 2.000 anos a.C.
(GOURDIN e KINGERY, 1975)
O gesso tem destaque por ser um material ligante de maior eficiência energética.
Produzido pelo aquecimento do minério gipsita em pó convertido em semi-hidrato de sulfato de cálcio, através de decomposição térmica. Durante o seu processo de fabricação, ele pode ser obtido com menos de 170°C, liberando H
2O para a atmosfera, evidenciando sua eficiência em comparação ao cimento Portland que necessita de elevadas temperaturas (aproximadamente 1.450°C) e emite CO
2em grande quantidade.
O Brasil possui uma das maiores reservas de gipsita, considerada a de melhor qualidade do mundo por apresentar alto teor de pureza, variando de 88% a 98%
(BALTAR et al.,2006).
Contudo, conforme o Mineral Commodity Summaries 2016
1, desenvolvido pelo
United States Geological Survey, a produção e o consumo per capita do Brasil são
baixos quando comparados com os da China, o maior produtor mundial, seguido pelo
Irã e a Turquia, em segundo e terceiro lugar, respectivamente. Já os Estados Unidos ocupam o quarto lugar, e em quinto lugar, a Espanha, líder europeia.
Segundo a mesma fonte, em referência aos dados do ano de 2014, verifica-se que o consumo per capita nos Estados Unidos é de 105 kg/hab./ano e representa seis vezes mais do que o consumo do Brasil, de aproximadamente 17 kg/hab./ano. Esses dados mostram que existe um potencial latente de uso do gesso a ser explorado pelo Brasil.
De acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral (BRASIL, 2014)
2, o estado de Pernambuco é o principal produtor de gipsita do Brasil, sendo responsável por 87,6% da produção nacional que gira em torno de 3,3 milhões de toneladas por ano. Destaca-se o “polo gesseiro do Araripe”, situado no extremo oeste pernambucano e formado pelos municípios de Araripina, Trindade, Ipubi, Bodocó e Ouricuri. Os demais estados produtores de gipsita são: Maranhão (9,1%), Ceará (2,5%), Amazonas (0,6%) e Pará (0,2%).
Conforme dados do Sindusgesso (2009), a produção de gesso de fundição é destinada em 61% para produção de blocos e placas, 35% para revestimento, 3% para moldes cerâmicos e 1% para outros usos.
Os gessos nacionais normatizados têm suas características químicas e propriedades físicas e mecânicas especificadas pela NBR 13.207 (ABNT, 1994) e seus métodos de ensaios determinados pelas NBR 12.127 (ABNT,1991a), NBR 12.128 (ABNT,1991b), NBR 12.129 (ABNT,1991c) e NBR 12.130 (ABNT,1991d).
Os blocos de gesso, constituídos por peças pré-moldadas em forma de paralelepípedo e sistema de encaixe macho-fêmea, são utilizados para a execução de alvenarias modulares. Para Raad e Martins (2005), a perda de material durante o
1 O Sumário do Mercado de Minerais de 2016, do Instituto de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos, que foi desenvolvido baseado nos dados de 2011 a 2015, conforme disponibilizado no link:.
http://minerals.usgs.gov/minerals/pubs/mcs/2016/mcs2016.pdf, acessado em: 11 de dezembro de 2015.
2 Produzido pelo Departamento Nacional de Produção Mineral, o Sumário Nacional 2014 tem o intuito de descrever o comportamento de mercado das principais substâncias minerais produzidas no Brasil com base na seguinte estrutura: oferta mundial, produção interna, importação, exportação, consumo interno, projetos em andamento e/ou previstos e fatores relevantes no país e no mundo em 2013. Link:
http://www.dnpm.gov.br/dnpm/sumarios/sumario-mineral-2014/view, acessado em: 11 de dezembro de 2015.