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A regulação da proteção ambiental na Organização Mundial do Comércio-OMC

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Academic year: 2017

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A REGULAÇÃO DA PROTEÇÃO AMBIENTAL NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO - OMC

Rogério Mendes Fernandes

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A REGULAÇÃO DA PROTEÇÃO AMBIENTAL NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO - OMC

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Direito Ambiental.

Área de Concentração: Direito Internacional Econômico

Orientador: Antonio Cachapuz de Medeiros

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Fernandes, Rogério Mendes.

A regulação ambiental na Organização Mundial do Comércio - OMC / Rogério Mendes Fernandes. Brasília, 2011.

130 f.

Dissertação (Mestrado). Universidade Católica de Brasília, programa de Pós-Graduação em Direito Internacional Econômico.

Bibliografia.

Ciências Sociais, Universidade Católica de Brasília, Brasília. Bibliografia

1. Direito Internacional. Direito Ambiental. OMC – I. Medeiros, Antônio Cachapuz de. II. Pontifícia Universidade Católica de Brasília.

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Trabalho apresentado à disciplina Direito Internacional Econômico, da Universidade Católica de Brasília.

____________________________________________ (Orientador) PUC-DF

____________________________________________

____________________________________________

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Agradeço aos professores da PUC que com muita competência desempenharam seus papéis.

Agradecimentos especiais são para o Antonio Cachapuz de Medeiros, que tão solicitamente prestou-me valiosas orientações.

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Acreditar que existem apenas planetas conhecidos até hoje é tão pouco razoável quanto imaginar que o céu é povoado apenas pelos pássaros que passam diante de nossa janela.

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Esta dissertação, inserida nos parâmetros da revisão bibliográfica, buscou analisar as formas de regulação da proteção ambiental no âmbito da OMC. A OMC tem um escopo muito mais amplo que seu antecessor, GATT 1947, pois além de incorporar as diversas mudanças paulatinamente efetuadas no tratado que lhe precedeu, incluiu, ao longo da Rodada Uruguai de negociações multilaterais (1986-1994) novos temas de grande repercussão para o comércio internacional entre os países.

Dentre os diversos temas incluídos ou relacionados ao sistema multilateral de comércio, poucos assuntos são tão interessantes e atuais quanto a relação que a OMC tem com a proteção do meio ambiente e a concretização do ideal de desenvolvimento sustentável. Não há, dentre os Acordos da Rodada Uruguai, um acordo específico sobre o tema. Há alguns parâmetros que vêm sendo discutidos no âmbito da OMC, como por exemplo, a OMC não é uma agência de proteção ao meio ambiente; as regras do GATT/OMC abrangem um escopo significante para a proteção ambiental; os países em desenvolvimento devem ter um amplo acesso a mercados; a coordenação entre comércio e meio ambiente deve ser ampliada.

O Órgão de Solução de Controvérsias vem interpretando a relação das normas comerciais com as normas ambientais. Há uma tentativa no Órgão de preservar o livre comércio, mas ao mesmo tempo não ignorar o meio ambiente.

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This dissertation, inserted in the parameters of the bibliographical revision, searched to analyze the forms of regulation of the ambient protection in the scope of the OMC. The OMC has a much more ample target that its predecessor, GATT 1947, therefore beyond incorporating the diverse changes gradually effected in the treated one that it preceded to it, included, throughout the Uruguay Round of multilateral negotiations (1986-1994) new subjects of great repercussion for the international trade between the countries.

Amongst the diverse enclosed or related subjects to the multilateral system of commerce, few subjects are so interesting and current how much the relation that the OMC has with the protection of the environment and the concretion of the ideal of sustainable development. It does not have, amongst the Agreements of the Round Uruguay, a specific agreement on the subject. It has some parameters that come being argued in the scope of the OMC, as for example, the OMC is not an agency of protection to the environment; the rules of the GATT/OMC enclose a significant target for the ambient protection; the developing countries must have an ample access the markets; the coordination between commerce and environment must be extended.

The Agency of Solution of Controversies comes interpreting the relation of the commercial norms with the ambient norms. It has an attempt in the Agency to preserve the free commerce, but at the same time not to ignore the environment.

(10)
(11)

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento CDS Conferência para o Desenvolvimento Sustentável

CE Comunidade Européia

CPJI Corte Permanente de Justiça Internacional

CTE Comitê sobre Comércio e Meio Ambiente

DSU Entendimento Relativo a Normas e Procedimentos sobre

Soluções de Controvérsia

EUA Estados Unidos da América

FMI Fundo Monetário Internacional

GATT General Agreement on Tarifs and Trade

GATS General Agreement on Trade in Services

GSP Sistemas Generalizados de Preferência

MEAS Acordos Multilaterais Ambientais

MERCOSUL Mercado Comum do sul

NAFTA North American Free Trade Agreement

OIC Organização Internacional do Comércio

OIT Organização Internacional do Trabalho

OMC Organização Mundial do Comércio

ONG Organização não-governamental

ONU Organização das Nações Unidas

OSC Órgão de Solução de Controvérsias

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

SdN Pacto da Sociedade das Nações

SPS Acordo Sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e

Fitossanitárias

TBT Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio

TRIP Trade-Related Aspects on Intelectual Property Rights

TPRM Trade Policy Review Mechanism

UNCTAD Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento

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INTRODUÇÃO ... 12

1 DIREITO INTERNACIONAL AMBIENTAL E PROTEÇÃO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE: CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ... 16

1.1 O meio ambiente como direito fundamental do homem ... 17

1.2 Conferências das nações unidas sobre o meio ambiente ... 18

1.2.1 A Conferência de Estocolmo ... 19

1.2.1.1 Principais conquistas da conferência ... 21

1.2.2 A Conferência do Rio ... 22

1.2.2.1 Principais conquistas da Conferência do Rio ... 24

1.2.3 A Cúpula de Joanesburgo ... 25

1.2.3.1 Principais conquistas e críticas à Cúpula de Joanesburgo... 26

1.3 A crise ambiental sob o prisma norte-sul ... 27

2 RELAÇÕES DO COMÉRCIO GLOBAL MUNDIAL ... 31

2.1 Regras básicas do comércio internacional ... 31

2.2 Os reflexos da convenção de Bretton Woods na globalização Financeira ... 34

2.2 As rodadas do GATT E A OMC ... 37

2.2.1 A rodada de Kennedy ... 39

2.2.2 A rodada de Tóquio ... 40

2.2.3 A rodada Uruguai ... 42

2.4 A criação da organização mundial do comércio ... 44

2.3.1 Antecedentes históricos da OMC ... 47

2.3.2 A OMC e sua competência ambiental ... 51

2.3.3 A regulação da proteção ambiental na OMC ... 53

2.4 O caso dos pneus ... 57

2.5 desenvolvimento sustentável no âmbito da Organização Mundial do comércio ... 58

3 O COMÉRCIO DE BENS ... 67

3.1 Como se dá a liberalização do comércio de bens ... 67

3.1.1 Tarifas ... 68

3.1.2 Agricultura ... 68

3.1.3 Medidas sanitárias e fitossanitárias ... 69

3.1.4 Têxteis ... 70

3.2 Regras sobre o comércio de bens ... 72

3.2.1 Direitos antidumping ... 72

3.2.1 Barreiras técnicas ao comércio ... 73

3.3 Conselho sobre comércio de bens ... 74

3.4 O comércio sobre serviços ... 75

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3.7 A jurisdição internacional e o meio ambiente ... 83

3.7.1 A corte internacional de justiça e o meio ambiente ... 88

3.7.2 A responsabilidade internacional do dano ambiental ... 92

3.7.3 O tribunal da OMC: o órgão de solução de controvérsias ... 95

3.7.3.1 O entendimento sobre soluções de controvérsias ... 96

3.7.4 Regras procedimentais do memorando de entendimento sobre regras e procedimentos que regem a solução de controvérsias ... 98

3.7.5 Atividades do órgão de revisão de políticas comerciais ... 102

3.8 Primazia da liberdade de comércio sobre a proteção ambiental ... 103

3.9 O conflito entre as regras da OMC e o direito internacional do meio ambiente ... 104

3.9.1 Os tratados ambientais contrários à OMC ... 105

3.9.2 Preponderância das normas comerciais sobre as normas ambientais . 106 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 108

REFERÊNCIAS ... 111

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INTRODUÇÃO

A Organização Mundial do Comércio (OMC), existente desde 1995, tem ganhado destaque no cenário internacional e na estrutura das relações internacionais entre os estados. Tal organização foi estruturada a partir do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT 1947), celebrado entre 23 partes contratantes, cujo principal objetivo fora o de promover a diminuição progressiva de tarifas para os mais diversos produtos, em especial manufaturados.

As normas existentes nessa sede, são normas que proporcionam ou almejam proporcionar certa flexibilidade para os Membros instaurarem medidas unilaterais, dentro de sua jurisdição (isto é, normas internas) em relação tanto a produtos domésticos quanto a produtos importados, fundadas em diversas razões de política pública, entre elas a proteção do meio ambiente.

O sistema multilateral do comércio, ao contrário do sistema multilateral ambiental, conta com um vasto conjunto normativo vinculante para os seus membros e com um sistema de solução de controvérsias cujas decisões são de cumprimento obrigatório e execução praticamente imediata. Enquanto isso, as normas internacionais de proteção do meio ambiente, muitas delas de caráter jurídico não-obrigatório, além de não sistematizadas, pois que espalhadas em diversas convenções, cada uma com a sua própria secretaria, são dotadas de uma eficácia relativa, à medida que inexiste tanto um mecanismo quanto um foro unificado de solução de controvérsias ambientais, cujas decisões sejam de execução forçada, sendo mais utilizados os mecanismos de acompanhamento de implementação das obrigações impostas pelos acordos.

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Esse cenário gera uma sensação em especial, entre os ambientalistas, de que a liberalização comercial internacional tem sido realizada em detrimento da proteção do meio ambiente e de que as regras atuais de comércio seriam insuficientes para garantir o desenvolvimento sustentável, posto que havia um desequilíbrio de forças entre esses dois objetivos.

Entretanto, como ficará demonstrado, ao longo deste trabalho essa afirmativa não é plenamente justificada e merece uma análise mais aprofundada, no sentido de desmistificar a idéia frequentemente difundida que a “OMC é inimiga do meio ambiente”.

O desafio da OMC, e de seu Órgão de Solução de Controvérsias (OSC), é, portanto, oferecer uma interpretação e uma aplicação que cumpram os reais objetivos da norma (evitar a discriminação entre Membros ao mesmo tempo em que se protege o meio ambiente); e coibir seus abusos, de modo a garantir a sua credibilidade, tanto perante àqueles que defendem a liberalização do comércio quanto perante os que almejam a proteção ambiental. O ideal, na realidade, é aliar os dois objetivos e sair do extremismo.

Assim, é importante o debate acadêmico para estabelecer e definir a função da OMC na proteção do meio ambiente, dentro da sua competência de regular o comércio internacional. Tal debate dá-se sob o prisma de que a sustentabilidade não pode impedir o desenvolvimento.

A presente pesquisa, a fim de se alcançar os objetivos propostos, busca nas diversas fontes bibliográficas, a sustentação teórica para sua fundamentação. Analisando autores, cruzando entendimentos e posicionamentos, verificando a evolução histórica e posição contemporânea do tema específico, sempre visando, assim, trazer respostas às questões que envolvem o problema proposto.

Este trabalho tem como tema a proteção do meio ambiente na OMC, o que inclui a análise, em profundidade, dos instrumentos normativos e políticos oferecidos por essa instituição internacional para que o comércio e a proteção ambiental possam dar-se em conjunto, de forma a promover-se “comércio internacional sustentável”.

(16)

Dessa forma, visa-se contribuir para o debate acerca do papel da OMC no sistema de proteção internacional ambiental, ao apresentar cenários em que se conjuguem ganhos para o comércio internacional, o meio ambiente e os países em desenvolvimento, concomitantemente.

Algumas questões que vêm à mente quando o assunto é liberalização comercial e proteção do meio ambiente são: pode um estado adotar medidas unilaterais sob o pretexto de proteger o meio ambiente? Tais medidas devem ter cunho puramente doméstico ou podem também apresentar efeitos extraterritoriais? Devem tais medidas estar fundamentadas em acordos internacionais? Qual é o limite objetivo entre uma medida legítima de proteção do meio ambiente e uma que visa a (ou tem por efeito) proteger o mercado interno, isto é, tem fins protecionistas? Essas breves questões tentam apresentar as nuances do problema ora abordado, que não só tem sido analisado sob a ótica do direito, mas também da política, economia, sociologia e das relações internacionais.

A OMC (Organização Mundial do Comércio), não impõe muitas barreiras a seus membros na esfera ambiental. Existem limitações e interesses comerciais que restringem a preocupação ambiental da Organização. A circulação de bens e serviços, não possui imposições taxativas em matéria ambiental. O que se prevê é apenas a transparência nos acordos, e coerência com o órgão multilateral, que fazem parte, não fazendo restrições específicas.

Não há previsão específica, com relação a proibições no tocante ao meio ambiente, na OMC, seja em nível interno ou internacional. Até reconhece-se a proteção ambiental como condição legítima, inclusive com previsões normativas, como exemplo do Art. XX do GATT, porém, sem grande aplicabilidade.

A OMC, como órgão internacional multilateral de defesa de interesses comerciais, com competência exclusiva para lidar com assuntos comerciais, não cria obstáculos ao debate e defesa do meio ambiente, tentando sim, atrelar os dois temas em prol do desenvolvimento sustentável. Porém, na OMC, o assunto meio ambiente deve ser tratado sob a ótica comercial, já que esta é a competência desse órgão.

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para outros. Fica claro que os dois regimes internacionais encontram-se profundamente e irremediavelmente interligados.

Várias são as maneiras de abordar a questão, mas os principais enfoques são os oferecidos pela ótica (a) da proteção do meio ambiente; (b) do paradigma do livre comércio (c) da questão do desenvolvimento.

Assim, como é possível estudar como as normas ambientais internacionais protegem o meio ambiente, é o objetivo deste trabalho. Apresentar como as normas do sistema internacional de comércio, in casu as normas da Organização Mundial do Comércio funcionam e podem melhor funcionar no sentido de proteger o meio ambiente. Para isso, esse estudo foi levado a cabo sob o enfoque da inclusão plena dos países em desenvolvimento nesse sistema e, portanto, na idéia de proteção ambiental sob a ótica de desenvolvimento sustentável. É o que Pauwelyn chama de bottom up approach (abordagem de baixo para cima): verificar alguns problemas ambientais específicos e avaliar os instrumentos para resolvê-los de uma maneira oferecida pelo Direito da OMC ou consistente com ele.

Para elucidar o propósito desta pesquisa subdividiu-se em alguns itens que se completam.

O primeiro tópico enfoca a proteção ambiental internacional no âmbito do Direito Internacional Ambiental. Apresenta o meio ambiente como direito fundamental do homem. Faz, ainda, uma abordagem sobre a relevância das conferências das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, avaliando seus resultados e pontuando as suas contribuições.

No segundo capitulo são feitas considerações acerca das relações comerciais bem como as regras básicas do comércio internacional. Em rápidas pinceladas, aborda a convenção de Bretton Woods, que teve como objetivo governar as relações monetárias entre Estados. Ressalta as rodadas do GATT/OMC e, por fim, trata da OMC, sua estrutura, antecedentes históricos e dentre outros assuntos, a sua atuação na questão ambiental.

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1 DIREITO INTERNACIONAL AMBIENTAL E PROTEÇÃO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE: CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Desde os tempos remotos, o estudo da natureza bem como suas relações com as atividades humanas tem-se constituído objeto de preocupação das ciências tidas como especulativas (a cosmologia ou filosofia da natureza). No final do século XIX, passa a ser, também, objeto das ciências particulares, que incluem a geografia humana e a biologia. Pelo fato de o homem ter alterado exponencialmente as relações entre os componentes do meio ambiente, dá-se a necessidade de regulamentar as ações humanas relativas à natureza.

Ora, disciplinar a ação do homem significa definir padrões de conduta adequados à conservação da sociedade humana, e, através de mecanismos jurídicos, estabelecer proibições às condutas contrárias àqueles padrões. Em outras palavras, proteger o meio ambiente significa considerar o meio ambiente na ótica da política e do direito. Se o meio ambiente for o global, as considerações sobre ele passam a ser da pertinência da política internacional (que acaba por ser qualificado de direito internacional do meio ambiente)1.

Como se depreende, a criação de um instituto capaz de interferir na relação homem/natureza tornou-se imprescindível, dado o conflito global que se estabeleceu entre ambos.

Varella2 argumenta que o Direito Ambiental derivou de um processo de expansão do direito internacional moderno que extrapola as fronteiras e abarca os problemas comuns. Teve sua origem no final dos anos 60 e início dos anos 70, mas foi a partir dos anos 80 que teve repercussão mundial, sendo aceito pela maioria da comunidade internacional.

Dentre os fatores que contribuíram para a formação e consolidação do Direito Ambiental, conforme Varella3 vale ressaltar: o considerável aumento da população mundial, o que concorreu para a melhoria das condições sanitárias; a exploração dos recursos ambientais, em decorrência da destruição de vários ecossistemas em diversos lugares do mundo, especialmente nos países do norte. Enfim, a fragilidade

1 PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo; ALVES, Alaôr Caffé (editores). Curso Interdisciplinar de Direito

Ambiental. Barueri: Manole, 2005, p. 646.

2 VARELLA, 2004.

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da Terra, o anúncio do esgotamento de recursos naturais indispensáveis ao ser humano, alarmou o mundo, convocando a todos para uma reflexão acerca do futuro da humanidade.

Ao tratar dos recursos não-renováveis, como minerais e combustíveis fósseis, o Relatório Bundtland afirma que:

(...) o uso reduz a quantidade de que disporão as futuras gerações. Isso não quer dizer que esses recursos não devam ser usados. Mas os níveis de uso devem levar em conta a disponibilidade do recurso, de tecnologias que minimizem seu esgotamento e a probabilidade de se obterem substitutos para ele. Portanto, a terra não deve ser deteriorada além de um limite razoável de recuperação. No caso dos minerais e dos combustíveis fósseis, é preciso dosar o índice de esgotamento e dar ênfase à reciclagem e ao uso econômico, para garantir que o recurso não se esgote antes de haver bons substitutos para ele. O desenvolvimento sustentável exige que o índice de destruição dos recursos não-renováveis mantenha o máximo de opções futuras possíveis4.

Indubitável é que a proteção internacional do meio ambiente é o assunto dos dias atuais. Não obstante à acelerada globalização e ao aparecimento de novas tecnologias, os países voltam suas atenções para este tema. Destarte, o meio ambiente tornou-se a maior preocupação da comunidade internacional.

1.1 O meio ambiente como direito fundamental do homem

Nas palavras de Norberto Bobbio5, “a manifestação da única prova através da qual um sistema de valores pode ser considerado humanamente fundado e, portanto, reconhecido: e essa prova é o consenso geral acerca da sua validade”. Assim, Bobbio6 advoga que:

Direitos elencados na Declaração não são os únicos e possíveis direitos do homem: são direitos do homem histórico, tal como este se configurava na mente dos redatores da Declaração após a tragédia da Segunda Guerra Mundial, numa época que tivera início com a Revolução Francesa e desembocara na Revolução Soviética. Não é preciso muita imaginação para prever que o desenvolvimento da técnica, a

4 MACHADO Iran F. Mineração, meio ambiente e a Rio-92. Ciência Hoje. Vol. 14, n. 81, Mai/jun. Rio

de Janeiro, 1992, p. 14.

5A era dos direitos, cit., p. 25. O art. 55 da Carta da ONU determina às Nações Unidas o respeito

universal e efetivo dos direitos do homem e das liberdades fundamentais para todos. A Consagração

dos Direitos do Homem, de 1948, que foi “juridicizada” sob a forma de tratados internacionais

vinculantes na esfera do Direito Internacional.

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transformação das condições econômicas e sociais, a ampliação dos conhecimentos e a intensificação dos meios de comunicação; poderão produzir tais mudanças na organização da vida humana e das relações sociais que se criem ocasiões favoráveis para o nascimento de novos carecimentos e, portanto, para novas demandas de liberdade e de poderes.

Pelo exposto, arremata-se que os direitos humanos estão sendo constantemente aperfeiçoados, dando origem, assim, a novas necessidades. Após a Segunda Guerra Mundial, o saber jurídico se imbuiu de uma nova dimensão axiológica.

Criada em 1946, a Comissão de Direitos Humanos, elaborou a Declaração dos direitos do Homem, representando uma ordem mundial que consagra os valores fundamentais universais e indivisíveis.

Em termos mais amplos, o direito fundamental à vida prevista no art. 3º da Declaração “compreende a proteção das condições propícias à manutenção da vida”, o que engloba o meio ambiente, vez que o mesmo proporciona as condições para o viver.

Por essa razão, a tutela do meio ambiente significa a tutela do direito fundamental à vida7. E por isso deve ser incluído nas normas de proteção internacional dos direitos humanos. Disto depreende que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é universal porque se destina a todos os seres humanos em qualquer parte da Terra.

1.2 Conferências das Nações Unidas sobre o meio ambiente

O direito internacional ambiental foi construído sobre dois eixos, quais sejam: convenções específicas e convenções com objetos amplos, sem regularidade.

A partir dos anos 70, com o início da identificação do direito internacional ambiental, assistimos à expansão da formação de convenções-quadro,

7 O direito à vida é reconhecido, dentre outros documentos internacionais, pela Convenção Européia

dos Direitos Humanos, pelo Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos da ONU, pela

Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de São José da Costa Rica. A Declaração de

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cujos exemplos mais correntes são a Convenção de Estocolmo, a Convenção da Diversidade Biológica e a Convenção das Mudanças Climáticas. As convenções-quadro tratavam de vários assuntos distintos que têm relação com um núcleo central – o desenvolvimento sustentável. O objeto do desenvolvimento torna-se, assim, um elemento comum e sempre presente, sobretudo nas convenções mais recentes, nos anos 808.

Saliente-se ainda que a realização das convenções sobre meio ambiente, principalmente, na década de 80, contribuíram, sobremodo, para a formação de uma consciência global direcionada para as questões ambientais. Assim, o desenvolvimento sustentável passou a ser amplamente discutido na sociedade.

1.2.1 A Conferência de Estocolmo

Com o objetivo principal de examinar as ações, nos níveis: nacional e internacional passíveis de limitação e extirpar as barreiras ao meio ambiente, convocou-se, em 1972, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente.

A preparação e a realização da Conferência de Estocolmo deram-se em momento histórico marcado pelo forte questionamento, tanto do modelo ocidental de desenvolvimento quanto do modelo socialista. Nos anos 60, assistiu-se nos EUA à intensa luta pelos direitos civis, ao debate em torno da Guerra do Vietnã e à emergência de novos padrões de comportamento (...)9

Cumpre assinalar que a Conferência representou, por assim dizer, uma oportunidade para que os países, socialistas e capitalistas, ampliassem a discussão sobre as questões inerentes ao meio ambiente, e posicionassem favoráveis às mudanças que ora se lhes apresentavam.

Não se pode olvidar que, em 1962, publicou-se o famoso livro da bióloga Rachel Carson, intitulado Primavera silenciosa, considerado um marco na história da luta em prol do meio ambiente. Nessa obra, a autora delatou a ocorrência de sérios problemas ambientais decorrentes do modelo de desenvolvimento econômico implantado, e alertou sobre os perigos dos pesticidas e inseticidas para o ambiente.

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Seu trabalho permitiu que a comunidade internacional contemplasse a temática ambiental sob outro viés, incluindo-a, desde então, nos eventos internacionais10.

Convém ressaltar que antes mesmo da Conferência em Estocolmo, já havia suscitado um tímido debate sobre a situação catastrófica na qual se encontrava o meio ambiente. A convocação para uma conferência a nível internacional, acredita-se, tenha surgido a partir de trabalhos como estes, disseminando e despertando uma consciência global sobre o ecossistema.

A Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano foi um acontecimento que “selou a maturidade do direito internacional do meio ambiente” Nesta Conferência, foram votados:

- a Declaração de Estocolmo, (Declaração da ONU sobre o Meio Ambiente), com seu preâmbulo de sete pontos e os 26 princípios;

- um Plano de Ação para o Meio Ambiente, (conjunto de 109 recomendações, das quais as relativas à avaliação do meio ambiente mundial constituem o denominado Plano Vigia (Eartwatch);

- uma Resolução sobre aspectos financeiros e organizacionais no âmbito da ONU, dentre as quais deve destacar-se a instituição do Programa das Organizações das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente11.

Nota-se que este evento foi norteado por estratégias que definiram sua trajetória, mostrando que as decisões propiciariam um melhor acompanhamento das questões ambientais pelos países e desta forma, estimulando um engajamento de diversos setores da população em número de países cada vez maior.

Inobstante à preocupação com a degradação ambiental, os países em desenvolvimento não receberam satisfatoriamente a convocação para a conferência. Vários foram os motivos, dentre os quais vale citar o fato de que a Primeira Década do Desenvolvimento das Nações Unidas findava-se com resultados insignificantes, e assim, a Conferência era vista como simplesmente uma “tática diversionista, tendente a relegar os programas de desenvolvimento a um segundo plano”.

Mas o fator mais importante era que as questões ambientalistas tinham importância secundária para os países em desenvolvimento, onde os grandes desafios eram a pobreza e suas seqüelas, como a fome, a falta de moradia, de roupa, educação, escolas. Para eles, os direitos políticos e civis não poderiam ter prevalência sobre os direitos econômicos e sociais.12

10 ROSSIT, 2006.

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É preciso insistir também no fato de que a situação dos países em desenvolvimento era absurdamente caótica. As necessidades básicas lhes eram negadas. Os países industrializados queriam de certa forma, impor sua filosofia aos demais e isso foi definitivamente inaceitável. Tornava-se urgente oferecer condições dignas aos que lutavam tão somente pela sobrevivência.

Posta assim a questão, é de se dizer que a Assembléia Geral das Nações Unidas, considerou tais emergências e colocou em pauta (na Comissão Preparatória) itens específicos referentes aos aspectos econômicos e sociais de interesse dos países em desenvolvimento; tendo como propósito reconciliar os seus planos nacionais de desenvolvimento com uma política ambiental.

1.2.1.1 Principais conquistas da conferência

A Conferência teve um saldo positivo, vez que foram discutidos vários temas de relevância tanto para os países ricos como para os países em desenvolvimento.

Segundo Lago13, muitos autores consideram que as principais conquistas da Conferência teriam sido as seguintes:

A entrada definitiva do tema ambiental na agenda multilateral e a determinação das prioridades das futuras negociações sobre meio ambiente; a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

– PNUMA; o estímulo à criação de órgãos nacionais dedicados à questão de meio ambiente em dezenas de países que ainda não os tinham; o fortalecimento das organizações não-governamentais e a maior participação da sociedade civil nas questões ambientais.

Nesse contexto, a Conferência de Estocolmo tornou-se um divisor de águas, pois a partir daí definiu-se um novo comportamento das nações com relação aos temas emergentes. Ficou evidente que todos deveriam estar totalmente preparados para encarar as ameaças do tema

A principal virtude da Declaração adotada em Estocolmo é a de haver reconhecido que os problemas ambientais dos países em desenvolvimento eram e continuam a ser distintos dos problemas dos países industrializados. A Declaração de 1972 foi criticada na ocasião por não haver adotado normas rígidas. O que não se pode ignorar, contudo, é de que, de 1972

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para cá, exerceu decisiva influência na defesa do meio ambiente. Muitos dos 26 Princípios nela contidos foram incorporados a convenções internacionais, em inúmeras declarações e resoluções e pode-se prever que o movimento ambientalista saiu da Conferência do Rio de Janeiro fortalecido e com novas normas capazes de orientar e inspirar a comunhão internacional14.

Em síntese, a Conferência realizada em 1972, permitiu um reposicionamento por parte da Comunidade Internacional ao considerar que os problemas ambientais dos países em desenvolvimento eram particularmente diferentes dos países desenvolvidos. Destarte, chegaram-se à conclusão de que os países ricos e os países pobres tinham prioridades distintas. Então, a Declaração de Estocolmo forneceu subsídios para a implementação e sucesso de eventos posteriores.

1.2.2 A Conferência do Rio

Com a realização da Conferência de Estocolmo, houve uma consciência mundial de que as questões referentes à proteção ambiental de todo o Planeta tratavam-se não dos elementos que compõem o meio ambiente, de forma isolada ou em conjunto, mas com ênfase ao próprio homem.

Com participação de 178 governos e a presença de mais de cem chefes de Estado ou de governo, a ECO-92 foi a maior conferência já realizada pela ONU, até aquele momento histórico. Denominada, com Justiça, a Cúpula da Terra, propiciou, também, à reunião do Foro Global, reuniões informais de centenas de ONGs, paralelamente aos eventos oficiais, cujo interesse político, científico e cultural foi igualmente relevante e proporcional ao da própria reunião oficial da ONU15.

Pelo exposto, nota-se a importância do evento. O ano de 1992 foi marcado por este acontecimento. Vale ressaltar o envolvimento das ONGs nesta conferência. Silva16 argumenta que:

As organizações não-governamentais (ONGs) têm um papel importante no desenvolvimento e na divulgação dos problemas pertinentes à proteção do meio ambiente. A própria Assembléia Geral das Nações Unidas, ao

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convocar a Conferência do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, reconheceu este fato ao pedir que “as organizações não

governamentais com status consultivo junto ao Conselho Econômico e

Social contribuam para o sucesso da Conferência

A contribuição das demais ONGs não se acha excluída, pois poderão se fazer ou vir através dos respectivos países, que se acham obrigados a participar ativamente na preparação da Conferência, mediante a apresentação de relatórios nacionais em cuja elaboração deverão participar não só os órgãos do governo, mas também as organizações especializadas (...) Talvez seja na área da defesa do meio ambiente que as ONGs têm exercido o seu papel mais importante ao endossar e defender posições advogadas pela opinião pública.

Preciosa tem sido a contribuição das ONGs na luta pela preservação ambiental. Elas têm-se constituído uma ponte entre a comunidade internacional e a opinião pública. Graças à atuação das ONGs tem havido maior conscientização e interesse da população pelos temas relacionados ao meio ambiente.

Conforme a Resolução 44/228, coube à Conferência examinar o estado do meio ambiente e as mudanças decorrentes desde 1972, como a assinatura de diversas convenções tendentes à proteção do meio ambiente. Tal Resolução destacou, dentre os objetivos da Conferência, o desenvolvimento do direito ambiental internacional, e a elaboração de direitos e obrigações genéricos dos Estados, tendo como base os mais importantes documentos jurídicos a respeito. É na Declaração do Rio que estão inseridos os direitos e as obrigações.17

A Agenda 21 foi o documento mais importante adotado no decorrer da Conferência do Rio. Os pontos principais foram devidamente estudados a propósito das questões suscitadas antes e durante a Conferência do Rio. A Agenda 21 cogita de uma cooperação a nível global.

Phillipi Jr.18, assim resumiu os resultados da ECO-92:

A adoção de duas convenções multilaterais, a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, e a Convenção sobre a Diversidade Biológica; a subscrição de documentos de fixação de grandes princípios normativos, a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Agenda 21, e a Declaração de Princípios sobre as Florestas; a fixação obrigatória de temas para próximas reuniões de órgãos da ONU, na forma

de gentlemen’s agreements, como o início de negociações, já na próxima

47ª Assembléia Geral da ONU (...); a criação de um órgão de alto nível na ONU, a Comissão para o Desenvolvimento Sustentável, encarregada de submeter, após deliberação, relatórios e recomendações À Assembléia Geral da mesma, a qual terá igualmente a incumbência de acompanhar a implementação da Declaração do Rio e da Agenda 21, inclusive quanto a

17 SILVA, 2002.

(26)

questões de financiamentos e as relativas à execução das convenções internacionais sobre o meio ambiente.

Cumpre observar, preliminarmente, que ambas as convenções assinadas durante a ECO-92, adotaram procedimentos que têm constituído característica do direito internacional do meio ambiente, qual seja: a preocupação de tornar os textos normativos politicamente aceitáveis pela maioria dos Estados.

Baptista19 advoga que a Conferência do Rio constituiu um marco histórico no processo de evolução do Direito Internacional do meio ambiente, visto que serviu para mobilizar e fomentar a tomada de consciência da Terra a morada da humanidade e da interdependência dos seus recursos naturais.

1.2.2.1 Principais conquistas da Conferência do Rio

Nas palavras de Lago20, a Conferência do Rio foi um grande sucesso. Vinte anos após Estocolmo, esperava-se que o mundo estivesse preparado para incluir o meio ambiente entre os temas prioritários da agenda mundial.

Para Phillipi Jr.21, o aspecto relevante da Eco-92 foi a consagração do conceito de desenvolvimento sustentável, reafirmado nas duas Convenções adotadas durante a Conferência da ONU no Rio de Janeiro.

Nesse sentido, ressalta-se que tal como a Conferência de Estocolmo em 1972, a ECO-92 deixou sua marca indelével na evolução do direito internacional do meio ambiente. Pois doravante, o direito internacional do meio ambiente passará a consagrar o enfoque da necessidade de regulamentações que dêem mais vigor ao conceito da Justiça nas relações internacionais.

Nasser22 atesta que a maior contribuição da ECO/92 foi “resgatar o desgastado e polêmico tema do desenvolvimento econômico, adicionando-lhe o conceito de sustentabilidade, dando-lhe roupagem nova, com novas características”.

As principais resoluções da Rio-92 que possuem um caráter global de orientação institucional, foram as seguintes: Agenda 21, que trata do compromisso de todos os países participantes de elaborar um programa de atuação de

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recuperação e preservação ambiental até a virada do século. Deve conter propostas concretas de ação dos governos; Convenção da biodiversidade, um acordo assinado por todos os países presentes, em que se comprometem a manter a diversidade biológica presente nos ecossistemas naturais; e a Convenção do clima, que é um documento que propõe a redução dos fatores que comprometem a atmosfera e a dinâmica climática de todo o planeta. Foi assinado por todos os países, com ressalvas dos EUA.

Em linhas gerais, a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, constitui um conjunto de princípios normativos, que visa não somente consagrar a filosofia da proteção dos interesses das gerações, mas fixa aqueles básicos para a política ambiental, respeitando os postulados de um direito ao desenvolvimento.

1.2.3 A Cúpula de Joanesburgo

A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável foi realizada em 2002, por intermédio da Resolução 55/199 da Assembléia Geral das Nações Unidas, com o título de Revisão decenal do progresso alcançado na implementação dos resultados da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.

A cúpula de Joanesburgo foi batizada de Rio+10, e tinha como objetivo avançar nas discussões iniciadas na ECO-92, no Rio de Janeiro, há dez anos quando, pela primeira vez, os países reconheceram a necessidade de estabelecer metas para combater os efeitos causados pelo uso predatório dos recursos naturais.

(28)

mesmo a biodiversidade e a mudança climática – que têm suas

convenções, assinadas na ECO-92 – foram apreciadas com

seriedade, devido aos conflitos de interesses23.

A Cúpula de Joanesburgo foi muito diferente da Conferência do Rio, pois apresentou muitas deficiências e um clima de frustração. A erradicação da pobreza, com foco no desenvolvimento dos países não teve nenhum avanço, ou seja, não foi dada a ênfase que se esperava, o que deixou muito a desejar. As negociações realizadas em Joanesburgo refletiram as contradições entre desenvolvimento, preservação e interesses de importância central para os diferentes países.

1.2.3.1 Principais conquistas e críticas à Cúpula de Joanesburgo

A Rio + 10 em Joanesburgo foi marcada por frustrações, isto porque não se observou o avanço nas negociações. Não conseguiram estabelecer prazos nem metas, ficando no mesmo patamar da Rio-92. Na maior parte dos temas abordados, a declaração final prevê muito pouco, ficando vago demais os compromissos dos Estados. A avaliação que se tem, é de um encontro fracassado, em que os governos participantes não tiveram força suficiente e, nem vontade política para se impor à geopolítica de Washington24.

A desigualdade social e os abusos contra o meio ambiente são, sem dúvida, grandes desafios do século XXI. A “Rio + 10” tentou conscientizar

os governantes para a ameaça que ronda o nosso planeta. Em alguns campos a reunião trouxe esperanças. Entretanto, de modo geral, apenas antigos compromissos foram reafirmados, avançando muito pouco na questão do desenvolvimento sustentável25.

Não obstante às contradições decorrentes da Cúpula de Joanesburgo, há de se considerar que houve alguns avanços.

Conforme atesta Lago26, os resultados mais importantes da Cúpula de Joanesburgo foram a fixação ou reafirmação de metas para a erradicação da

23 BAPTISTA, 2005, p. 49. 24 MAIA, 2004.

25 PIMENTA, 2004, p. 82

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pobreza, água e saneamento, saúde, produtos químicos perigosos, pesca e biodiversidade e outros.

Além disso, em Joanesburgo houve o fortalecimento da participação mais efetiva e construtiva do empresariado nas discussões internacionais sobre o desenvolvimento sustentável.

Pode-se dizer que o ponto maior do encontro foi o aumento do entrosamento mundial de ONGs e movimentos.

O tema desenvolvimento sustentável continuou sendo o foco da Cúpula, sendo intensamente discutido, conforme ocorreu na Conferência do Rio.

1.3 A Crise ambiental sob o prisma Norte-Sul

A crise atual põe em evidência a tecnologia e o crescimento, que constituem dois elementos básicos da civilização moderna. Tal situação obriga a questionar um estilo de desenvolvimento internacionalizado, que se manifesta, principalmente nos processos de modernização da agricultura, de urbanização, de apropriação da base de recursos naturais e de utilização de fontes não-renováveis de energia. Este estilo tem sido determinado em grande parte pela adaptação do modelo tecnológico das empresas transnacionais, como uma tendência homogeneizadora da economia mundial.

À época da Conferência de Estocolmo, difundia-se o conceito de que o mundo estaria

entrando numa “economia do astronauta”. Durante séculos a humanidade havia se

acostumado a viver num plano virtualmente ilimitado. Quando o meio ambiente deteriorava-se a ponto de não oferecer a mesma sustentabilidade de antes, havia sempre uma nova fronteira à qual expandir as atividades econômicas. A constatação de que o fluxo das atividades humanas ocorre, na verdade, dentro de uma economia fechada, sem reservas ilimitadas de recursos ou de depósitos para absorver os seus

rejeitos, levaria necessariamente à substituição da “economia de fronteira” pela “economia de astronauta”27.

Transcorridas quase quatro décadas desde a realização da Conferência de Estocolmo, em 1972, o mundo ainda continua a lidar com a crise sócio-ambiental como se ela representasse apenas uma perturbação intempestiva; uma espécie de ruído de fundo a ser tratada de forma reativa e fragmentada sem implicar a

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transgressão da lógica profunda que condiciona a organização das sociedades contemporâneas.

A problemática ambiental surgiu nas últimas décadas do século XX como uma crise de civilização, questionando a racionalidade econômica e tecnológica dominantes. Esta crise tem sido explicada a partir de uma diversidade de perspectivas ideológicas. Por um lado, é percebida como resultado da pressão exercida pelo crescimento da população sobre os limitados recursos do planeta. Por outro, é interpretada como o efeito da acumulação de capital e da maximização da taxa de lucro a curto prazo, que induzem a padrões tecnológicos de uso e ritmos de exploração da natureza, bem como formas de consumo, que vêm esgotando as reservas de recursos naturais, degradando a fertilidade dos solos e afetando as condições de regeneração dos ecossistemas naturais.

A problemática ambiental gerou mudanças globais em sistemas socioambientais complexos que afetam as condições de sustentabilidade do planeta, propondo a necessidade de internalizar as bases ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão democrática dos recursos naturais. Estes processos estão intimamente vinculados ao conhecimento das relações sociedade-natureza: não só estão associados a novos valores, mas a princípios epistemológicos e estratégias conceituais que orientam a construção de uma racionalidade produtiva sobre bases de sustentabilidade ecológica e de eqüidade social28.

Nesta esteira, ressalta-se que as formas de aproveitamento sustentável dos recursos que podem ser adotadas no momento atual, estão determinadas pelas condições e expansão da economia de mercado.

Nas economias altamente industrializadas, os problemas de meio ambiente podem ser, em geral, associados à poluição. Suas políticas ambientais orientam-se, por isso mesmo, a evitar o agravamento da degradação. Nos países subdesenvolvidos, a crise ambiental está claramente associada ao esgotamento de sua base de recursos, e suas políticas deveriam dar prioridade à gestão racional dos recursos naturais.

Nas últimas décadas, não apenas a distância econômica entre o Norte e o Sul foi ampliada, como aumentou também a brecha ambiental e ecológica entre os dois mundos. É notório que os países do Sul encontram-se na ponta mais vulnerável desse fosso, sofrendo as conseqüências da degradação global.

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A transição para um novo estilo de desenvolvimento pressupõe estratégias bem definidas de transformação de setores produtivos essenciais para a economia e o bem-estar da sociedade. A atual crise econômica e ambiental, que a maioria dos países se encontra, pode ser atribuída a desequilíbrios resultantes de um modelo de desenvolvimento baseado em processos produtivos extensivos em recursos naturais e energia fóssil, percebidos como muito abundantes.

Segundo Loureiro29:

As causas da degradação ambiental e da crise na relação sociedade-natureza não emergem apenas de fatores conjunturais do instinto perverso da humanidade, e as conseqüências de degradação não são conseqüência apenas do uso indevido dos recursos naturais, são, sim, de um conjunto de variáveis interconexas, derivadas das categorias: capitalismo-modernidade-industrialismo-urbanização-tecnocracia. Logo, a desejada sociedade sustentável supõe a crítica às relações sociais e de produção, tanto quanto ao valor conferido à dimensão da natureza.

Nesse contexto, ficou claro que os problemas de preservação do meio ambiente são os problemas do próprio desenvolvimento, os de um desenvolvimento desigual para as sociedades humanas e nocivo para os sistemas naturais.

No dizer de Varella30, os países do Sul não tiveram uma posição favorável frente às organizações internacionais, visto que eles próprios não souberam manter sua posição.

Em um segundo vislumbre, o cenário das novas tecnologias evidencia a necessidade de um esforço interno concentrado para o desenvolvimento de tecnologias avançadas e não agressivas ao meio ambiente e de compromissos internacionais no sentido de facilitar o acesso a tecnologias desenvolvidas nos países industrializados. Corrigir danos ambientais é atuar, concomitantemente, sobre os aspectos econômicos. A correção de distorções ambientais requer, além de vontade e condições políticas, investimentos em infra-estrutura física e de cunho social. Qualquer alternativa de desenvolvimento, para que tenha durabilidade e eficácia, terá de ser ambiental e socialmente sustentável, ou seja, terá de dar prioridade às necessidades básicas das gerações atuais e futuras, bem como preservar os estoques atuais de recursos.

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Pelo exposto até aqui, foi possível detectar que a preocupação com a questão ambiental despertou em inúmeros países um interesse de mudar os paradigmas até então vigentes. Com isso, ocorre o despertar da consciência ecológica e o meio ambiente entra em cena como protagonista e ganha espaço em diversos segmentos da comunidade internacional.

Em face da necessidade de uma discussão mais profunda acerca das catástrofes ambientais ocorridas no mundo e a urgência em disseminar essa consciência global houve um grande envolvimento de pessoas, instituições governamentais e não-governamentais. Frisa-se, aqui, a importância das ONGs na consolidação de estratégias em defesa do ambiente. Houve uma grande interação entre as ONGs de países ricos e de países em desenvolvimento em função das conferências.

Ressalta-se que as Conferências de Estocolmo, do Rio e de Joanesburgo foram extremamente importantes nessa divulgação, pois colocaram o mundo a par de situações alarmantes sobre o meio ambiente. Ademais, as decisões tomadas nesses eventos são fundamentais para as nações, que devem observar e fazer cumprir suas normas, de modo a contribuir para a preservação do ecossistema para as presentes e futuras gerações.

(33)

2 RELAÇÕES DO COMÉRCIO GLOBAL MUNDIAL

Após a Segunda Guerra Mundial ocorreram inúmeras transformações no cenário da sociedade contemporânea, marcando decisivamente as relações comerciais globais, que compreendem o comércio de bens e serviços sob a égide de acirrada competitividade, dando origem ao que se convencionou denominar guerra comercial.

Assim sendo, as relações comerciais globais intensificaram-se resultando em intercâmbios de altas proporções, promovendo uma mobilidade de livre circulação de bens, sendo direcionada a mercados do mundo inteiro, sem distinção de nacionalidade, ultrapassando tempo e espaço. Enfim, esse modelo de mercado, apoiado nas novas tecnologias e informatização em rede, revolucionou as relações comerciais globais.

A consolidação das relações do comércio global implica em um conjunto de variáveis: medidas dirigidas à emergência de novo mercado – mercado mundial – existência de destacados níveis de comércio inter-regional decorrentes de acordos econômicos regionais, criando zonas de comércio livre e uniões aduaneiras – mercado regional comum – e de um sistema de ordenamento multilateral, organismo mundial dedicado ao disciplinamento

do comércio como um todo – Organização Mundial do Comércio (OMC) – a

fim de evitar que as discriminações e os protecionismos prejudiquem as atividades dos setores comerciais entre os Estados e assim também prejudiquem suas negociações em nível global31.

Indubitável é que a criação de um órgão capaz de regular as relações comerciais com todos os países do globo, já era esperada, pois doravante, a proposta seria intensificar o comércio mundial sem barreiras étnicas, econômicas, políticas ou sociais.

2.1 Regras básicas do comércio internacional

Antes de tudo, cumpre ressaltar que tem ocorrido um notável desenvolvimento dentro de um sistema de regras, definidas inicialmente por

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intermédio de tratados bilaterais e, tendo em vista o estabelecimento do GATT, em 1947, vêm sendo aprofundadas através de negociações multilaterais.

Para Thorstensen32, existem três princípios fundamentais, que construídos no âmbito do GATT visam liberalizar as trocas entre as partes contratantes, por intermédio da prática de um comércio aberto a todos.

O primeiro é que o único instrumento de proteção permitido dentro das atividades de trocas comerciais é o definido em termos de tarifas aduaneiras, e um dos objetivos do Acordo Geral é de torná-las cada vez mais reduzidas. O segundo é que uma vez estabelecida uma nova tarifa ou concedido um benefício, estes passam a ser estendidos de forma não discriminatória, isto e, de igual modo para todas as partes contratantes. O terceiro garante que uma vez dentro da fronteira de uma parte contratante, produtos importados não podem ser discriminados com relação aos produtos nacionais.

Como se vê, as regras são claras e definem muito bem a postura das partes contratantes. Nesse aspecto, não pode haver discriminação, o tratamento deve ser igual para todos, visando, com isso, a liberalização das trocas.

As regras básicas que foram estabelecidas no Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio são as seguintes (GATT, Acordo Geral de 1947)33:

- Tratamento Geral de Nação Mais Favorecida (NMF) – é a mais importante

das regras e dá caráter multilateral ao GATT, em detrimento do caráter bilateral. A regra proíbe a discriminação entre países que são partes contratantes do Acordo Geral. Fica estabelecido que toda vantagem, favor, privilégio ou imunidade afetando direitos aduaneiros ou outras taxas que são concedidos a uma parte contratante, devem ser acordados imediatamente e incondicionalmente a produtos similares comercializados com qualquer outra

parte contratante. Essa regra é conhecida como a regra de “Não Discriminação entre as Nações” (Artigo I);

- Lista das Concessões – determina a lista dos produtos e das tarifas máximas que devem ser praticadas no comércio internacional. A regra estabelece que cada parte contratante deve conceder ao comércio com outras partes tratamento não menos favorável do que o previsto nas Listas de Concessões anexadas ao Acordo. Antes da Rodada Uruguai os países desenvolvidos já haviam consolidado suas listas para a maioria dos produtos e só podiam alterá-las mediante concessões às partes interessadas. Os países em desenvolvimento haviam consolidado apenas parte de suas listas e vieram a consolidá-las amplamente apenas na Rodada Uruguai (Artigo II); - Tratamento Nacional – a regra proíbe a discriminação entre produtos nacionais e importados. Fica estabelecido que as taxas e impostos internos e legislações que afetem a venda interna, a compra, transporte e distribuição, não devem ser aplicados a produtos importados de modo a permitir a proteção dos produtos domésticos. Esta regra é conhecida como a regra de

“Não Discriminação entre Produtos” (Artigo III);

32 THORSTENSEN, 2001, p.32.

(35)

- Transparência – a regra cria a obrigatoriedade da publicação de todos os regulamentos relacionados ao comércio. Fica estabelecido que leis, regulamentos, decisões judiciais e regras administrativas tornadas efetivas por qualquer parte contratante devem ser publicados prontamente, de modo a permitir que governos e agentes de comércio externo possam deles tomar conhecimento (Artigo X);

- Eliminação das Restrições Quantitativas – a regra determina que nenhuma outra proibição ou restrição tornada efetiva através de quotas, licenças de importação e de exportação, ou outras medidas, deve ser estabelecida ou mantida sobre importações ou exportações de produtos. O artigo deixa claro que as chamadas barreiras não tarifárias são proibidas e que apenas tarifas devem ser utilizadas como elemento de proteção. Regras especiais foram estabelecidas para produtos agrícolas e têxteis (Artigo XI).

Foram elencadas as regras básicas nos parâmetros do Acordo Geral do GATT. Interessante dizer que tais quesitos tornaram-se regras de atuação dos parceiros mundiais na área do comércio internacional.

Cabe agora ressaltar as exceções que foram criadas com o fim de atender a interesses específicos das partes do Acordo, além de visar o controle do uso de instrumentos que porventura viessem a permitir a não aplicação das regras negociadas, para tanto, foram definidos os casos de exceções permitidas, são elas:34

- Exceções Gerais – nada no Acordo deve impedir a adoção de medidas para proteger a moral pública e a saúde humana, animal ou vegetal; o comércio de ouro e prata; a proteção de patentes, marcas e direitos do autor; tesouros artísticos e históricos; recursos naturais exauríveis, e garantias de bens essenciais (Artigo XX);

- Salvaguardas a Balanço de Pagamentos – qualquer parte contratante do Acordo pode restringir a quantidade ou o valor das mercadorias importadas de forma a salvaguardar sua posição financeira externa e seu balanço de pagamento. As restrições devem permanecer em vigor apenas pelo tempo necessário para resolver a crise (Art. XII). Países em desenvolvimento têm regras especiais para salvaguardar seus balanços de pagamento, e mesmo para proteger suas indústrias nascentes (Artigo XVIII);

- Salvaguardas ou Ações de Emergência sobre Importações – se um produto

está sendo importado em quantidades crescentes e sob condições que possam causar ou ameaçar causar prejuízo grave aos produtores domésticos, a parte contratante fica livre para suspender as concessões acordadas através de tarifas ou quotas, retirar, ou modificar as concessões, determinando novas tarifas e quotas. O Acordo Geral estabelece as condições para que tais medidas possam ser implantadas, em caráter temporário (Artigo XIX);

- Uniões Aduaneiras e Zonas de Livre Comércio – o Acordo não impede a formação de acordos de comércio regionais desde que: as regras preferenciais sejam estabelecidas para uma parte substancial do comércio do acordo; os direitos e outros regulamentos do acordo não sejam mais altos ou mais restritivos do que a incidência de direitos e regulamentos antes da formação do acordo entre as partes; a formação do acordo inclua um plano e

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lista dos direitos a serem aplicados; e, esteja constituído dentro de um prazo de tempo razoável (Artigo XXIV);

- Comércio e Desenvolvimento – o Acordo Geral foi modificado em 1968, para incluir toda uma parte que estabelece princípios gerais para o comércio dos países em desenvolvimento e permitir assim seu crescimento econômico,

segundo as recomendações da UNCTAD – United Nations Comissiono n

Trade and Development. É a chamada regra do Tratamento Especial e Diferenciado (Parte IV do GATT).

Disto se depreende que as exceções permitidas não afetam as partes contratantes no âmbito do comércio internacional. Com as regras e exceções, ficou evidente que os princípios foram definidos pelo Acordo Geral, porém cada parte se encarrega de elaborar as regras do comércio, assim como os meios de implementá-las dentro do seu território.

2.2 Os reflexos da convenção de Bretton Woods na globalização financeira

O objetivo dessa conferência foi elaborar as condições para a construção de uma nova ordem financeira internacional em face da destruição advinda pela crise de entre guerras e pelo conflito armado de 1939-1945, dado que o sistema econômico internacional afeta diretamente o padrão de vida das pessoas e a sua instabilidade anuncia novos conflitos.

Dinh35 observa que os Estados industrializados, sob a liderança dos Estados Unidos, entenderam primordial organizar a reconstrução da Europa para evitar a repetição dos problemas que surgiram após a Primeira Guerra Mundial. Nesse intento, preocuparam-se em restabelecer o mais rápido as regras do jogo de mercado, da concorrência nas suas relações mútuas, o que os incitou a estabelecer as organizações internacionais e a elaborar normas convencionais internacionais. Disto, criaram-se o Fundo Monetário Internacional36 (FMI) e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) ou Banco Mundial37. A intenção dos delegados foi a de criar um sistema visando ao equilíbrio e ao desenvolvimento do

35 DINH, 2003.

36 Principal órgão regulador do Sistema Monetário Internacional. Os Países-membros são os

responsáveis pela formação do fundo, através da subscrição de cotas, que é feita de acordo com a capacidade de cada país.

37 O Banco Mundial ajudou, inicialmente, a reconstruir a Europa. O trabalho de reconstrução

(37)

comércio internacional, promovendo o estancamento da concorrência monetária e, ao mesmo tempo, a cooperação monetária entre os Estados.

A idéia de uma organização internacional para gerir o comércio internacional tem suas origens nos acordos de Bretton Woods que fundaram o sistema econômico internacional, idealizado para contar com três pilares: (i) Banco Internacional para Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD, Banco Mundial), voltado para a redução da pobreza e elevação dos níveis de renda,, por meio de apoio financeiro e técnico, (ii) o Fundo Monetário Internacional, destinado a promover a estabilidade do câmbio e a cooperação monetária internacional, (iii) Organização Internacional do Comércio, cujo objetivo seria promover a liberalização do comércio internacional por meio da diminuição sistemática de tarifas aduaneiras. Todas essas instituições foram idealizadas com o intuito de evitar-se uma nova guerra mundial, por meio da cooperação interestatal e do aumento dos níveis de vida nos vários países, o que contribuiria diretamente para a manutenção da paz38.

É notório que as experiências da guerra tinham de fato entranhado na memória de todos, portanto temiam que isso ocorresse novamente. Para evitar novos conflitos, foram criados alguns institutos, cada uma com uma função, com a finalidade de mudar de uma vez por todas a situação e deixar para trás as amargas lembranças e dar um novo rumo ao cenário político e econômico que ora vigorava.

Sem dúvida, Bretton Woods significou, em um primeiro momento, o que se poderia delinear como meio-termo entre uma visão não-unilateralista do mundo, mas, paradoxalmente, a admissão dos Estados Unidos como potência econômica dominante39.

O sistema Bretton Woods foi o primeiro exemplo na história de uma ordem monetária totalmente negociada, tendo como objetivo governar as relações monetárias entre Estados. Suas bases políticas são encontradas na confluência de várias condições: as experiências comuns da Grande Depressão; a concentração de poder num pequeno número de países, e a presença de uma potência dominante capaz de assumir um papel de liderança.

A Conferência de Bretton Woods contribuiu decisivamente para o estabelecimento dos Estados Unidos como uma das maiores potências econômicas do mundo, visto que nessa conferência ficou estabelecido que o dólar passaria a ser a principal moeda de reserva mundial, abandonando-se o padrão-ouro, que até então era utilizado como parâmetro da economia mundial.

38 OLIVEIRA, 2007, p. 39.

(38)

No final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos encontravam em uma situação favorável e havia conseguido superar algumas posições tradicionais de grupos isolacionistas internos. Como nenhum outro país, naquela época, estava em condições de questionar a posição hegemônica norte-americana; o domínio mundial norte-americano cresceu ainda mais com a tendência de monopolização do capitalismo de forma bastante acelerada, surgindo, daí, os programas de privatização que se intensificaram, principalmente, na década de 1980, abrangendo muitos países em todo o mundo. O resultado disso foi a movimentação de trilhões de dólares em investimento.

Segundo o Art. XXVIII do GATT, os Membros podem decidir se engajar em rodadas de negociação visando a diminuição das tarifas de importação e a abertura dos mercados. No âmbito do GATT, foram realizadas 8 Rodadas de Negociação e sob a OMC, foi lançada a Rodada Doha, com o objetivo de ser a Rodada do Desenvolvimento, beneficiando principalmente os interesses dos países em desenvolvimento.

Assinale, ainda, que o GATT deve ser concebido como sendo uma organização internacional especial na medida em que possui duas faces distintas: por um lado, trata-se de um rol de normas procedimentais a de relações comerciais entre os Estados-Partes40. Tais atividades são de cunho jurídico, referem-se à elaboração, prática e controle de regras de direito material. Por outro lado, trata-se de um fórum de negociação comercial onde, por intermédio de instrumentos peculiares à diplomacia parlamentar, de natureza comercial, vislumbra-se aproximar posições entre os Estados-Partes. Sendo assim, esta face é de natureza essencialmente política41.

Tendo como foco a liberalização comercial, em 2001, deu-se início à nona rodada de negociações. O quadro abaixo transcrito reflete as etapas desta evolução bem como os principais temas ressaltados.

40 São considerados Estados-Partes aqueles que firmaram o Acordo Geral. Alem destes, territórios,

como, por exemplo, Hong-Kong, também integram o GATT.

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2.2 As rodadas do GATT E A OMC

Após a Segunda Guerra Mundial, muitos países demonstraram interesse em buscar uma maneira de regular as relações do comércio internacional, com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos povos, outrossim, buscar soluções para os problemas de ordem econômica que exerciam influência direta nas relações entre os governos.

Como resultado dessa manifestação, desse interesse, cria-se o FMI e o BIRD, que além de regular os aspectos financeiros e monetários, entraram em pauta os aspectos referentes às relações comerciais; daí a criação da Organização Internacional do Comércio42 (OIC), com a principal função de atuar como uma agência especializada nas relações comerciais das Nações Unidas.

A carta da OIC previa um sistema de tomada de decisões por voto paritário entre seus membros, e não proporcional à participação nas relações de trocas mercantis. Diferenciava-se, destarte, dos sistemas decisórios do FMI e do Banco Mundial, em que são observadas cotas contributivas desiguais dos participantes43.

Vale ressaltar que o FMI juntamente com o BIRD foram as duas instituições que vingaram, tomando corpo e exercendo as suas funções a partir de 1945, porém a OIC não prosseguiu, pelo desinteresse do Congresso norte-americano em ratificar o seu tratado constituinte, a Carta de Havana44. O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT 1947)45, constituía a principal instituição da OIT, passou a ser provisionalmente implementado a partir de 1947 e, por quase cinqüenta anos, funcionou como uma organização internacional de fato.

As denominadas “Rodadas do GATT” tiveram início em 1947 e tinham como a essência a busca contínua de um processo de liberalização progressiva do comércio internacional, por intermédio da redução das barreiras tarifárias e não-tarifárias. O GATT que foi inicialmente concebido para regular de forma provisória as relações

42 Os denominados países-fundadores, reunidos com outros países interessados, formaram um grupo

que formulou o projeto de criação da Organização Internacional do Comércio, tendo sido os Estados Unidos o principal país a defender a idéia de um liberalismo comercial regulamentado em bases multilaterais. SOUZA, 2006, p. 80.

43 VALÉRIO, 2009.

44 Foi realizado o foro de debates pelos países na cidade de Havana, capital de Cuba, no período

compreendido entre novembro de 1947 e março de 1948, sendo concluído com a assinatura de um documento intitulado Carta de Havana, no qual constava a criação da Organização Internacional do Comércio. SOUZA, 2006, p. 80.

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