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A criação no ciberespaço e as licenças autorais alternativas MESTRADO EM TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA E DESIGN DIGITAL

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

Thásia da Silva Oliveira Magalhães

A criação no ciberespaço e as licenças autorais alternativas

MESTRADO EM TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA

E DESIGN DIGITAL

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

Thásia da Silva Oliveira Magalhães

A criação no ciberespaço e as licenças autorais alternativas

MESTRADO EM TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA

E DESIGN DIGITAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Tecnologias da Inteligência e Design Digital, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Professora Doutora Lucia Isaltina Clemente Leão.

(3)

THÁSIA DA SILVA OLIVEIRA MAGALHÃES

A CRIAÇÃO NO CIBERESPAÇO E AS LICENÇAS AUTORAIS

ALTERNATIVAS

Aprovada em ____/____/_____.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________ Professora Doutora Lucia Isaltina Clemente Leão

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

______________________________________________________________ Professor Doutor Sérgio Amadeu da Silveira

Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero

______________________________________________________________ Professor Doutor Luís Carlos Petry

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

(4)

Dedico este trabalho:

Aos meus pais Paulo e Socorro, pela vida,

pelo exemplo de perseverança e amor.

Aos meus queridos irmãos – Eduardo,

Cyntia e Marcelo.

Aos meus lindos sobrinhos Victor Gabriel e

Luís Eduardo.

(5)

Agradecimentos

À CAPES, pela concessão da bolsa de

mestrado.

À Professora Doutora Lúcia Leão, pela

orientação segura desta pesquisa e pelo

espírito crítico distribuídos nas reuniões de

estudos.

Ao Professor Doutor Luís Carlos Petry, que

generosamente acolheu a minha pesquisa

como co-orientador, além de me apresentar

ao universo fascinante da modelagem, da

iluminação e da renderização de imagens

digitais.

A Edna Conti, que nos ensinou a usufruir

com plenitude e tranqüilidade o mestrado

acadêmico.

E por fim, aos amigos e queridos colegas de

(6)

“(...) Os maiores feitos da humanidade

foram alcançados falando, os maiores

fracassos, foram por não ter falado. Nossas

maiores esperanças podem se tornar

realidade no futuro com as tecnologias a

nossa disposição. Estamos unidos em rede

e formamos uma grande consciência global.

É uma nova ordem mundial. As

possibilidades são ilimitadas, tudo o que

temos a fazer é nos assegurar de que

continuaremos falando. (...)”

(7)

RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo levantar questões relacionadas à propriedade intelectual no ciberespaço, mapeando os diferentes pontos de vista sobre o tema. Apresenta de forma sucinta a origem do conceito de autor na história ocidental, e o atual conflito da possibilidade da existência da múltipla autoria no ciberespaço. Analisa o uso das licenças alternativas de proteção do autor e por fim a produção de bens imateriais.

A abordagem adotada é multidisciplinar, que não ignora o atual ordenamento jurídico, mas investiga as características do ciberespaço, bem como as repercussões sobre o Direito. Confronta a proteção da autoria nas mídias digitais e o conceito de bens imateriais. Os autores estudados são, entre outros: Paul Edward Geller, Lawrence Lessig, Yochai Benkler e Siva Vaidhyanathan

Destaca o conceito de software proprietário, software livre e seus desdobramentos. Considera a viabilidade das alternativas atuais de direito autoral, nomeadamente o Projeto Creative Commons, o Projeto GNU e o Projeto BSD.

(8)

ABSTRACT

This research has as objective to approach questions related to intellectual property in the cyberspace, mapping the different points of view about the theme. It presents in a succinct way the origin of the author's concept in the western history, and the current conflict of the multiple authorship existence possibility in the cyberspace. It analyses the use of alternative licenses to author's protection and finally the production of immaterial wells.

The approach adopted is multi-disciplinary, doesn't ignore the current legal order, but investigate the characteristics of the cyberspace, as well the repercussions in the law. It confronts the authorship's protection in the digital media and the concept of immaterial wells. The studied authors are, among others: Paul Edward Geller, Lawrence Lessig, Yochai Benkler e Siva Vaidhyanathan.

It highlights the concept of proprietary software, free software and its variations. It considers the viability of the copyright current alternatives, in particular the Creative Commons project, the GNU project and the BSD project.

(9)

SUMÁRIO

1. CAPITULO UM ... 11

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO...11

1.2 Introdução ao tema...12

1.2.1 Conceitos e definições prévias... 15

1.2.2 Sobre a Internet – conceito técnico e legal... 16

1.3 As três fases históricas do desenvolvimento dos direitos autorais segundo Paul Geller...19

1.4 Aspectos da Criação no Ciberespaço – As Idéias Têm Autor?...22

1.4.1 A autoria e o ciberespaço... 22

1.5 A Cultura Apropriada – A arte na internet e o problema da originalidade nas obras derivadas ou Remixadas...24

1.6 A autoria colaborativa – e a construção do conhecimento no ciberespaço...28

2. CAPÍTULO DOIS ... 33

2.1 As quatro crises da propriedade intelectual e o novo paradigma...33

2.2 O Direito moral e o direito Patrimonial...33

2.2.1 Crise conceitual, crise de negócio, crise de eficácia e crise de legitimidade... 37

3. CAPITULO TRÊS ... 41

3.1 Análise Comparativa da Propriedade Inteletual – segundo Siva Vaidhyanathan, Lawrence Lessig e Yochai Benkler...41

3.1.1 Siva Vaidhyanathan... 41

3.1.2 Lawrence Lessig... 43

3.1.3 Projeto Creative Commons... 44

(10)

4. CAPITULO QUATRO ... 50

4.1 O Software Livre e o Software proprietário...50

4.1.1 As modalidades de software: proprietário, livre, domínio público e código aberto... 50

4.2 A cultura Hacker...54

4.2.1 A Catedral e o Bazar... 55

5. CONCLUSÃO ... 57

6. BIBLIOGRAFIA ... 59

6.1 Anexo I...66

6.1.1 Licença Re: Combo v.1.0 ... 66

6.2 ANEXO II...76

6.2.1 Modelos de Licença Creative Commons... 76

6.3 ANEXO III...79

(11)

1.

CAPITULO UM

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

A propriedade intelectual, e, particularmente, a questão do direito autoral assumem papel de relevante destaque na sociedade. O acesso à informação sempre foi fator importante para o seu desenvolvimento econômico, social e cultural no decorrer da historia das sociedades. Considerando que o acesso em rede possibilita a utilização de recursos tecnológicos de criação, produção, transformação, circulação de conhecimento e culturas. Observa-se “alternativas para a criação de uma comunicação descentralizada, independente e para os lados.” (LEÃO, 2004:84).

Segundo Manuel Castells (1992:24) esse fenômeno é entendido como uma sociedade globalizada, modificada de forma acelerada por uma revolução tecnológica centrada na informação “e em meio a profundas mudanças nas relações sociais, nos sistemas políticos e nos sistemas de valores.”

As perguntas são feitas, e as respostas nem sempre são as mais apropriadas. Neste contexto, faz-se necessário elaborar um novo pensamento sobre o conceito da propriedade, que utilize as características desta sociedade, a fim de promover novas formas de acesso à informação e ao conhecimento, adequadas a atual realidade tecnológica.

(12)

1.2 INTRODUÇÃO AO TEMA

Tudo que é dito, é dito por um observador a outro observador que pode ser ele mesmo. (MATURANA, 2002: 34) 1·

A imensa disponibilidade de reprodução, recriação e difusão de bens imateriais, numa dimensão democrática nunca antes alcançada, coloca em questionamento a noção do indivíduo autor e seus fundamentos socioculturais, filosóficos e jurídicos.

A propriedade intelectual na internet e, particularmente, a questão do direito autoral assume papel de relevante destaque na chamada “sociedade do conhecimento” ou da informação. A expressão “Sociedade da Informação” teve origem na informática e nas telecomunicações, que a partir do avanço tecnológico,

permitiram a criação do termo cibercultura. Tal neologismo, criado pelo filósofo da

informação Pierre Lévycomo sendo o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais),

de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem com o crescimento do ciberespaço. Este é definido por meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores, abarcando não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. (LEVY, 1999:17).

O ciberespaço2 propicia múltiplas autorias. Todos podem ser autores,

agentes, produtores, editores, leitores, consumidores. Há vários autores, diferente de

1 Humberto Romesín Maturana é Ph.D. em Biologia (Harvard, 1958).Nasceu no Chile, estudou

Medicina (Universidade do Chile) e depois Biologia na Inglaterra e Estados Unidos. Maturana utilizou esta frase na abertura em 1969, de um congresso sobre Antropologia nos Estados Unidos, sendo ele um biólogo, no meio de antropólogos, disse ser apenas um observador interdisciplinar das novas questões sobre neurologia e cognição. Ademais, nesta pesquisa, coloco-me na mesma posição de observadora da propriedade intelectual na internet.

2 O neologismo “ciberespaço” (cyberspace) é atribuído a William Gibson, que teria cunhado em seu

(13)

várias autorias. No ciberespaço cada internauta3é potencialmente um autor. No

entanto, é importante ressaltar a diferença entre autor e autoria. Quando se fala em autoria, está se referindo a um conceito com significado jurídico, que, como veremos, pode implicar ou não em direito de cópia.

Ter o controle do produto ou da criação, fruto do intelecto humano passa a ser prioridade de muitos governos e empresas. Sendo assim, estudar o direito autoral e, mais especificamente, a propriedade intelectual como um fenômeno multidisciplinar, em que há a intersecção de características jurídicas, econômicas, políticas e principalmente tecnológicas, parece ser a maneira mais adequada ou razoável para o tema proposto.

Ademais, não cabe nesta pesquisa analisar a questão da autoria no ciberespaço apenas inserida no ordenamento jurídico brasileiro, pois, como dito anteriormente, é um fenômeno multidisciplinar, razão pelo qual se optou por utilizar as diversas vertentes do conhecimento humano.

A autoria no ciberespaço exige uma reconfiguração que proporcione novos fundamentos conceituais. Para Castells (2007:37) a internet, e, mais propriamente, a sociedade em rede, nos apresenta uma nova formação de organização social, baseada no paradigma econômico-tecnológico da informação, que se traduz não apenas em novas práticas sociais, mas em alterações da própria vivência do espaço e do tempo como parâmetros da experiência social.

Para Henrique Gandelman, especialista em direito autoral, o fenômeno não é simples. Há ainda uma carência de estudos imparciais e realistas (GANDELMAN, 1997:152). Entre as questões essenciais que se impõem no contexto descrito, destaca-se:

“Ciberespaço. Uma alucinação consensual experimentada diariamente por milhões de operadores de cada nação, uma representação gráfica dos dados abstraídos dos bancos de cada computador no sistema humano.” (GIBSON, 1993: 67).

3 Internauta é o nome comumente conhecido do usuário da internet, neologismos da palavra internet e

(14)

i. Em face da atual estrutura da internet e de toda sua potencialidade, tem ainda o direito – como o conhecemos – capacidade de atuar como foco regulador?

ii. Existe neste contexto uma intransigente disputa quanto à autoria; há como solucionar utilizando-se das ferramentas disponíveis – leis e licenças alternativas?

iii. Há como promover o equilíbrio entre as práticas sociais e a letra da lei,

visto que as leis atuais estão cada vez mais distantes da realidade social?

iv. Qual a influência da cultura hacker no atual cenário? O que está em disputa?

v. O software livre e o código aberto são exemplos viáveis? É do interesse da sociedade manter a cultura do software proprietário?

Nessas circunstâncias, nascem duas idéias que são analisadas nessa pesquisa: a do software livre e os seus desdobramentos, e as licenças alternativas de proteção à autoria.

Cesar Taurion (2004:21), estudioso das novas tecnologias, em seu livro: Software Livre: potencialidades e modelos de negócio, fala que Richard Stallman, em 1983, quando percebeu que o resultado de um trabalho acadêmico em que participara fora vendido pelo MIT, e que a partir deste fato não teria mais acesso ao código fonte do software- visto que este estava restrito aos longos contratos de licenças autorais americanos - iniciou um projeto para criar uma versão livre do sistema Unix, que até então era desenvolvido pela empresa americana AT&T, em 1969. A idéia de Stallman foi seguida de um manifesto, chamado Licença Pública

Geral, conforme a sigla em inglês “GNU”, que significa Gnu is Not Unix, ou seja,

(15)

maior de programadores em todo o mundo, o que culminou com a criação da Free

Software Foundation - Fundação Software Livre4.

A segunda idéia são as licenças alternativas de proteção ao direito do autor. Este é um documento através do qual o autor pode definir as condições e limites para a utilização de determinada obra. São analisadas as seguintes licenças:

Creative Commons5, GPL – Gnu General Public License6 e BSD - Berkeley Software

Distribution7. Todas estas propostas representam uma alternativa ao direito autoral,

que por meio da flexibilização, permitem difundir as obras culturais, tendo por base regras de conduta ditadas pelo próprio autor.

1.2.1 Conceitos e definições prévias

Considerando que esta pesquisa abrange conceitos da área jurídica, e sendo este programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital um mestrado multidisciplinar, valemo-nos de alguns conceitos e definições a fim de facilitar a leitura e compreensão. Deve-se ainda ter em consideração que, apesar de alguns conceitos estarem obsoletos, ainda são vigentes em nossa sociedade:

Autoria – a definição de autoria aplica-se a diversos tipos de produção: pintura, música, escultura, filme, fotografia, texto escrito. Para Roland Barthes8 (1998:70)

4 Software Livre é todo aquele software que concede em sua licença as liberdades de acessar o

código-fonte, usá-lo, copiá-lo, modificá-lo e distribuí-lo, aos seus usuários. A este conceito, há uma filosofia de que todos possuem direito à informação. Aliada a isto está à idéia de que o Software Livre pode ser um instrumento de concretização da inclusão digital, da dignidade, da educação, da cidadania, da redistribuição de renda, da igualdade material, dentre outros. Sobre este assunto, abordaremos detalhadamente no capítulo quatro.

5 Criação comum/ criação por pares – tradução livre 6 Licença Pública Geral - tradução livre

7 Distribuição de Software pelas regras na Universidade de Berkeley- tradução livre

8 Para Foucault temos que o nome do autor remete a várias significações e expectativas em relação

(16)

“Um texto é feito de escrituras múltiplas, oriundas de várias culturas e que entram umas com as outras em diálogo, em paródia, em contestação; mas há um lugar onde essa multiplicidade se reúne, e esse lugar não é o autor, como se disse até o presente, é o leitor: o leitor é o espaço mesmo onde se inscrevem, sem que nenhuma se perca, todas as citações de que é feita uma escritura; a unidade do texto não está em sua origem, mas no seu destino, mas esse destino não pode mais ser pessoal: o leitor é um homem sem história, sem biografia, sem psicologia; ele é apenas esse alguém que mantém reunido em um único campo todos os traços de que é constituído o escrito.”

Propriedade intelectual – é o ramo do direito que cuida dos temas relacionados aos campos tradicionais da propriedade industrial e dos direitos autorais, bem como outras propriedades que porventura podem surgir.9

Direito autoral – é o ramo do direito que cuida da proteção do autor em relação as suas obras. Trata-se da imaterialidade, principal característica da propriedade intelectual. Está presente nas produções artísticas, culturais, científicas, entre outras.

Copyright – sistema de proteção autoral existente nos Estados Unidos da América, Reino Unido e demais países do Common-law.10

Direito de autor – é o sistema adotado no Brasil, de origem francesa

Uso não autorizado – é a utilização não autorizada de uma obra com fins comerciais.

1.2.2 Sobre a Internet – conceito técnico e legal

“A internet pode ser definida como um conjunto de computadores cuja estrutura básica está em interligar seus usuários formando uma rede, ou seja, um sistema

9 O art. 2 da Convenção da OMPI, depois de apresentar um rol de sete matérias relacionadas a

propriedade intelectual, acrescenta uma cláusula que diz “e todos os outros direitos resultantes da atividade intelectual no campo industrial, científico,literário e artístico”. Trata-se de um rol que já parte do pressuposto de que os direitos serão, em algum momento, expandidos. Conteúdo disponível em <http://www.wipo.int/treaties/en/convention/trtdocs_wo029.html>. Último acesso aos 13 de maio de 2008.

10 Common law é um sistema legal oriundo da Inglaterra, tendo como característica principal a

(17)

de vários computadores conectados entre si que compartilham informações e disponibilizam serviços”. (FINKELSTEIN, 2004:35).

De maneira simplificada, temos o conceito apresentado pela Suprema Corte

americana11

“A internet é uma rede mundial12 de computadores interconectados. É uma expansão do que se iniciou em 1969 com o programa militar denominado ARPANET, o qual foi criado para permitir que computadores utilizados pelo Exército, fornecedores da área de defesa e universidades conduzindo pesquisas relacionadas à Defesa Nacional se comunicassem uns com os outros, pelos canais redundantes, mesmo que algumas parcelas da rede fossem danificadas pela guerra. Embora a ARPANET não exista mais, ela foi um exemplo para o desenvolvimento de redes civis que, ligando-se umas às outras, permitem, agora, que dezenas de milhões de pessoas se comuniquem entre si e acessem uma grande quantidade de informação por todo o mundo. A internet é o meio único e inteiramente novo da comunicação global.” 13

Para grande parte dos usuários, a Internet corresponde à somatória de correio

eletrônico14 e World Wide Web (WWW ou simplesmente Web). A WWW15 é

resultado da associação do conceito de hipertexto16 ao projeto de desenvolvimento

11 Ibidem, 38. Para maiores informações, vide o caso American Civil Liberties Union versus Janet

Reno, Civil Action no. 96-1458. Juízo Federal do Distrito Oriental da Pensilvânia.

12 “A internet foi concebida como uma rede sem um ponto de comando central único e essa

construção de comando central permite que ela continue ativa mesmo em caso de suspensão nas comunicações de alguns de seus centros” (LEÃO: 2005,22)

13 Para a academia é possível que seja redundante falar sobre a origem da internet e como funciona a

sua arquitetura, porém, pensando no cidadão médio brasileiro, é possível que desconheça estas informações, razão que me fez ponderar e acrescentar esta explicação.

14 Conhecido pela palavra inglesa “e-mail”.

15 Para uma explicação mais acadêmica tem-se que a “WWW (Word Wide Web), nascida em 1991,

corresponde à parte da Internet construída a partir de princípios do hipertexto. A WWW foi desenvolvida por Tim Berners-Lee, que trabalhava para o CERN, um laboratório de pesquisas europeu sediado na Suíça. A Web baseia-se numa interface gráfica e permite o acesso a dados diversos ( textos, músicas, sons, animações, filmes, etc.) através de um simples “clicar”no mouse” (LEÃO: 2005,23)

16 A expressão hipertexto designa, no contexto deste trabalho, o estabelecimento de conexões

(18)

de um sistema de domínio público que viabilizasse a transferência de arquivos entre computadores operando a partir de sistemas operacionais incompatíveis. Apoiada sobre a convergência de vários fatores tecnológicos, políticos, econômicos e culturais, a utilização da Web aumentou vertiginosamente em poucos anos, introduzindo para milhões de pessoas ao redor do mundo as práticas da comunicação mediada por computador, a hipermídia e o conceito de 'ciberespaço’.

(FRAGOSO: 2000) 17

No intuito de manter esta pesquisa acessível e atemporal, elencamos datas importantes da origem da Internet no Brasil e no mundo. Vale dizer que a própria criação da internet só foi possível pelo conhecimento compartilhado entre as Universidades e Institutos envolvidos na pesquisa, destaca-se:

Em 1961, Leonard Kleinrock, do MIT18 – Instituto de Tecnologia de

Massachusetts, elaborou a formulação matemática de redes de comunicação comutadas (comutação de pacotes). J.C.R Licklider, em 1962, também do MIT, efetuou pesquisa sobre o prognóstico do futuro das redes. Apenas em 1969, teve origem a Arpanet (DARPA), na Universidade de Stanford – UCLA.

O padrão TCP/IP19 foi criado em 1986, pela NSFNET - National Science

Foundation Network que ligou cinco centros de “supercomputação” (Universidade Princeton, Pittsburgh, San Diego, Urbana/Champain e Cornell).

Hipermídia é uma extensão do conceito acima visando incluir informação não necessariamente textual, tais como as representações imagéticas, animação evídeo.( FRAGOSO:2000).

17 Disponível em < http://www.comunica.unisinos.br/tics/textos/2000/2000_sf.pdf>. Último acesso aos 13 de maio de 2008.

18 Massachusetts Institute of Technology

19 “O termo genérico TCP/IP geralmente se refere a tudo que é relacionado com os protocolos TCP e

(19)

A WWW – World Wide Web surgiu em 1991. Apenas em 1993, surge a

primeira ferramenta de navegação20 no ciberespaço, chamada de Mosaic.21 No

Brasil, as conexões tiveram início com as redes acadêmicas em 1988 com a

FAPESP, e apenas em 1994, teve início a comercialização pela Embratel.22

1.3 AS TRÊS FASES HISTÓRICAS DO DESENVOLVIMENTO DOS

DIREITOS AUTORAIS SEGUNDO PAUL GELLER

Paul Edward Geller23, professor de Direito na Universidade de Stanford,

(2000:209) elenca de forma resumida os principais marcos históricos como sendo a fase que ele chama de “pré-copyrigth”, a fase do “copyright clássico” e o atual como sendo “copyright global”.

Na fase “pré-copyright”, entendida como sendo o período da história até 1710, há a predominância da cultura oral. Para ele a noção de progresso não se aplica à criatividade cultural que constitui o objeto convencionalmente citado como proteção dos direitos do autor. Só a partir de 1641 é que se começa a pensar numa rudimentar proteção, mas sob a fiscalização do Estado. Este pensamento foi fomentado com a imprensa, introduzida no século XV em uma Europa em que as elites da época medieval ainda tinham prerrogativas tradicionais.

Ainda na mesma, por volta do século XVII, os autores eram raramente eles próprios legalmente habilitados a controlar a impressão e a venda de cópias de seus manuscritos. Um fato interessante ocorreu quando uma cópia do manuscrito de Moliére, foi entregue aos editores, que protestou dizendo que: "É uma coisa

20 Esta ferramenta de navegação possuía, para a época, relativa ergonomia, o que possibilitava para

o usuário facilidades de uso e exploração do ciberespaço.” (Kamienski, Sadok: 2000)

21 Informação disponibilizada em apresentação de aula pelo Prof. Demi Getschko, em março de 2008,

no mestrado em Tecnologias da Inteligência e Design Digital – PUC- SP.

22 Empresa Brasileira de Telecomunicações S.A

(20)

estranha publicar contra a minha vontade... eu tenho a infelicidade de ter tido uma cópia entregue aos editores que surpreendentemente, tenham obtido o privilégio de publicá-la”. Com efeito, só gradualmente passaram os escritores a efetuar contratos

com as editoras.24

Na fase do “copyright clássico”, Geller destaca o Estatuto de Ana e a legislação da Revolução Francesa sobre direitos autorais, e a imprensa impulsiona a difusão dos meios criativos. Desaparecem os regimes mercantilistas e inicia-se o

conhecido como laissez-faire25, nesta fase caracterizada pelo liberalismo e pelo

Iluminismo; há modificações legais que tendem a simplificar e reconhecer o direito do autor à sua própria obra, e sendo assim começa também o direito do autor de promover ações no caso de ver sua obra publicada sem a devida e contratual autorização.

Por fim, ocorre a terceira fase, por volta do século XIX, quando os meios de comunicação e os mercados tiveram grande expansão. Navios atravessavam o Atlântico para promover a impressão nos Estados Unidos – pois não se reconhecia os direitos de autor de obras estrangeiras. Ao mesmo tempo a França já era uma das grandes editoras e buscava formas de proteger-se contra a cópia não autorizada (pirataria). Nascem nesta fase os acordos bilaterais entre os países a fim de proteger

as suas obras além do seu território de origem.26

24 “ It is critical to note the legal status of these media monopolies before considering enforcement.

Arising from the Crowns' public powers, Stationers' copyrights, printing patents, and privileges were not strictly private rights in works. Of course, authors have always sold manuscripts as hand-made products with value for the labor invested in writing them. But, through the seventeenth century, authors were rarely themselves legally empowered to control the printing and sale of copies of their manuscripts. For example, in the mid-seventeenth century, when a copy of his Précieuses Ridicules fell into the hands of publishers, Molière protested: "It's a strange thing that one publishes people against their will. . . . Nonetheless, I could not prevent it, and I have suffered the misfortune of having a copy, filched from my room, fall into the hands of booksellers, who by surprise have obtained the privilege of publishing it." Indeed, only gradually did writers' contracts with publishers begin to mix language that merely sold their manuscripts with language that alienated any entitlements of "copy.” (Tradução livre para o português)

25 A expressão "laissez-faire" (em português "não interfiram") representa um princípio defendido pelos

economistas mais liberais e que defende que o Estado deve interferir o menos possível na atividade econômica e deixar que os mecanismos de mercado funcionem livremente.

26 “During the nineteenth century, media markets expanded rapidly. English novels quickly crossed the

(21)

Tomando-se por referência o estudo de Geller, verifica-se que, com o advento da impressão, houve a promoção da cultura ao facilitar a cópia de livros; porém ao mesmo tempo possibilitou a cópia não autorizada do mesmo produto. Com a internet, a dificuldade em proteger uma autoria é considerada mais complexa, mas nem por isto impede a criação. É possível que o modelo atual de conceituar uma autoria esteja ultrapassado, ao se tentar aplicar a legislação inspirada no maquinário de Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutemberg - ou simplesmente Gutemberg - ao que acontece no ciberespaço.

A autoria, analisando-a em perspectiva, sempre esteve relacionada à noção de cultura, tendo se desenvolvido basicamente na cultura ocidental com o surgimento do liberalismo. O instituto do direito autoral configura-se como o ápice da proteção do indivíduo autor, tendo este a propriedade intelectual como valor não apenas econômico, mas passível de transmissão hereditária. Abaixo, destaca-se quadro histórico dos principais marcos da autoria:

Fases

Históricas

Período Características Proteção Autoral

Pré-copyright

Até XVII Cultura oral

predominante

Somente a partir de 1641, mas sob fiscalização do

Estado. O Autor não detinha o direito da Obra, não

tendo habilitação para controlar a impressão.

Copyright

clássico

Até XIX Cultura escrita

impulsionada pela

imprensa

Fase do Iluminismo e liberalismo. Diversos Estatutos

são criados como forma de regular a autoria.

Copyright

global

Atual Expansão dos

meios de

Origens de acordo bilaterais entre países para

proteção da autoria. A impressão possibilitou a cópia

(22)

comunicação

(ex: rádio,

televisão, telefone,

fax e Internet)

não autorizada de livros. Com a Internet, esta

proteção é considerada ainda mais complexa.

Editoras multinacionais controlam as publicações das

obras em diversos países simultaneamente.

1.4 ASPECTOS DA CRIAÇÃO NO CIBERESPAÇO – AS IDÉIAS TÊM

AUTOR?

1.4.1 A autoria e o ciberespaço

Com base em Leão (2004:9), o ciberespaço compreende: as redes de computadores (incluindo seus documentos, programas e dados); as pessoas e, finalmente, o espaço (virtual, social, informacional, cultural e comunitário.

Na história da produção intelectual, os textos, os livros, os discursos só eram nomeados quando, de alguma forma, estavam de encontro com os interesses dominantes de cada época. Sendo assim, era o autor da transgressão objeto de punição. De acordo com Santaella, em muitas culturas o discurso não era originalmente um produto, uma coisa, um bem, mas sim um ato entre o sagrado e o profano, entre o lícito e o ilícito, portanto um ato carregado de riscos. Somente no final do século XVIII é que foram criadas regras de propriedade para os textos, de direitos do autor e de reprodução, de relações entre autores e editores (SANTAELLA, 2007: 73). Tal tradição toma o conceito de autor como sendo uma unidade física, social e jurídica, sendo compreendido de forma unitária e unívoca.

Os desenvolvimentos tecnológicos e conceituais, dentro do campo das novas tecnologias, propiciam a emergência de novos modelos de comunicação nunca dante imaginados. Ainda sob a ótica de Santaella, que afirma:

(23)

contrário, a digitalização trouxe para nós tecnologias computacionais, quer dizer, dispositivos inteligentes. As novas formas de escritura da e-poesia e net-poesia, a multiplicidade de tendências na net arte, ciberarte, e bioarte não apenas implicam o diálogo em profundidade com a inteligência e vida artificiais, mas também a necessidade de se desenvolver trabalhos cooperativos e colaborativos que ligam artistas, cientistas e técnicos em um processo comum. (2007: 78).

A tecnologia, segundo Castells (2007:43), não determina a sociedade, e nem a sociedade é responsável por determinar as transformações tecnológicas, uma vez que a criatividade, as iniciativas empreendedoras, as inovações tecnológicas e suas aplicações, dependem de um complexo padrão de interação social. Para ele, o dilema do determinismo tecnológico está sem fundamentos, “dado que a tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas”.

Já com base em Foucault27 a noção de autor constitui um momento forte de

individualização na história das idéias, dos conhecimentos, das literaturas, também na história da filosofia e nas das ciências. Apresentou ainda uma síntese do que seria a função autor:

i. Trata-se de uma função “ligada ao sistema jurídico e institucional que encerra

ii. Não se exerce de maneira uniforme

iii. Não se define por atribuição espontânea

iv. Não se remete pura e simplesmente a um indivíduo real

27 Michel Foucault (1926-1984). Informação disponível no site da Biblioteca da Universidade de

(24)

Foucault, por volta da década de 70, já pensava na extinção (ou morte) do que se convencionou chamar de “autor” na cultura ocidental. Nas palavras de Santaella, “seus questionamentos quanto à autoria anteciparam a pensar os

complexos problemas que emergiram com as mídias eletrônicas.” 28

Todavia, o que é criar, senão fruto do conhecimento e experiências adquiridas pelo autor. Do ponto de vista da filosofia do direito, há o pensamento Kantiano, que já afirmava que todo o conhecimento começa com a experiência, mas não necessariamente da nossa experiência, visto ser ela um composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que a nossa própria faculdade de

conhecimento fornece a si mesma29 (KANT, 2000:53).

Com base em Kant, portanto, é possível pensar que se faz necessário a quebra de paradigma do conceito de propriedade como costuma-se utilizar. Todo conhecimento é derivado. A economia capitalista caminha para a valorização cada vez maior de bens imateriais, da disputa por conhecimentos técnicos- tendo o processamento de informações por código de computadores a sua via de acesso.

Sendo assim, o ciberespaço é o meio facilitador e dinamizador das múltiplas autorias. O uso cada vez mais recorrente de artefatos tecnológicos possibilita a produção e a circulação de conhecimento. Segundo Leão, estamos testando alternativas para a criação de uma comunicação descentralizada, independente e para os lados. (LEÃO: 2004,84). Novamente se reitera que o autor constitui um artifício institucional. Por conseqüência, o grau de importância atribuído ao autor é distinto em cada momento histórico, o que nos faz concluir, com base na análise supra exposta, que atribuir autor ou autoria a uma obra não é fator essencial para o reconhecimento de uma obra intelectual.

1.5 A CULTURA APROPRIADA – A ARTE NA INTERNET E O PROBLEMA DA

ORIGINALIDADE NAS OBRAS DERIVADAS OU REMIXADAS

28 (ibidem, 76)

29 Emanuel Kant, filósofo alemão (1724-1804) autor de vários livros, dentre estes a "Crítica da Razão

(25)

A fim de compreender a dinâmica dos problemas das obras derivadas na internet, é necessário falar do conceito cunhado por Pierre Lévy (2003:28) sobre a existência de uma inteligência no ciberespaço. Para ele, a inteligência coletiva é uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências. Com a inteligência coletiva, as pessoas interagem entre si, compartilham idéias, sons, artigos, textos, imagens, filmes, uma infinidade de possibilidades disponíveis no ciberespaço.

À vista disso, com tantas possibilidades, o conceito de originalidade, juridicamente, distancia-se fundamentalmente daquele apresentado pelos críticos de

arte. Segundo Carlos Alberto Bittar30:

Cuida-se de aferição meramente objetiva, evitando-se que a incidência do direito de autor fique atrelada a critérios puramente subjetivos; ou seja, para a incidência do sistema autoral não há análise de valores intrínsecos da obra. Dessa forma, não se pode definir o que seja original, mas apenas considerar original o que não possa ser confundido com outra criação intelectual por excesso de semelhança substancial ou formal. A originalidade é forjada e extraída da individualidade do autor, ficando certo que a obra que não trouxer esse conceito não se submete ao pálio da proteção autoral. (1999:178)

Em outras palavras, um trabalho do intelecto humano deve demonstrar a individualidade do seu criador, posto que seja resultado da sua inteligência e expressão da sua personalidade. Portanto, o conceito de originalidade não pode ser analisado como algo completamente novo. Tomando-se ainda como referência o estudo de Bittar, que alega que ”basta haver a existência de contornos próprios quanto à expressão e à composição, para que se considere detentor de direito do autor”.

Em geral tem-se que a originalidade, segundo Garzon (2006), é relativa. É justamente nessa característica surge a obra derivada – aquela obra que altera outra

30 Carlos Alberto Bittar é professor titular de Direito de Autor na Faculdade de Direito da Universidade

(26)

obra preexistente, em parte ou no todo, gerando uma nova obra. Dessa maneira, sendo a obra derivada oriunda de uma obra anterior, é necessário requerer a autorização do autor da obra a ser utilizada na nova criação. Em sendo autorizado, a obra derivada passa a ter proteção quanto a sua autoria.

Nas palavras de Santaella:

A concepção de uma obra definida como derivada, levanta questionamentos relacionados à proteção autoral. O remix31 é uma forma de colagem, justapõe diferentes técnicas de diferentes mídias. Na remixabilidade, são os softwares, as interfaces de usuários, o fluxo do design que permitem combinar múltiplos níveis de imagens com vários graus de transparência. Os programas computacionais permitem que uma composição imagética tenha centenas e mesmo milhares de camadas, cada uma das quais com seu próprio nível de transparência. (2007:268).

Para André Lemos a cibercultura trata-se de uma crescente troca de

processos e compartilhamento a partir das possibilidades das tecnologias

emergentes. É caracterizada por três regras com base na fenomenologia do social32,

quais sejam33: a liberação do pólo da emissão, o princípio de conexão em rede e a

reconfiguração de formatos midiáticos e práticas sociais34. “Por isso ela é uma

31 Na cultura do Remix, o que se entende por “recriar”, é concebido como uma nova criação humana

acerca da realidade, uma nova percepção. A reinvenção, princípio da proposta remix, provoca rupturas na ordem cultural porque requer do humano uma nova prontidão, exigindo uma busca por dispositivos que acomodem formas alternativas e visões de mundo. (TEIXEIRA: 2006).

32 Fenomenologia do Social é o estudo dos modos como as pessoas vivenciam diretamente o

cotidiano e imbuem de significado as suas atividades. Em oposição ao realismo científico, todos os fenomenólogos têm dado prioridade à descrição da experiência de vida humana cotidiana. As pesquisas fenomenológicas, em geral, não têm a intenção de produzir afirmações factuais, mas sim, reflexões filosóficas não-empíricas ou transcendentais sobre o conhecimento e percepção e sobre atividades humanas como a ciência e a cultura. Disponível em < http://www.ufpe.br/eso/revista7/social.html>. Último acesso aos 13 de junho de 2008.

33 Este trabalho não tem como objetivo, apresentar considerações acerca de pressupostos

filosóficos, razão pelo qual optou por apresentar o conceito de fenomenologia em notas, o mesmo se aplica na ausência de comentários adicionais referentes a Semiótica, que não é objeto da pesquisa apresentada.

34 André Lemos opta por adotar a fenomenologia do social, tendo por base a emissão, conexão,

(27)

cultura "remix” 35, do compartilhamento, das possibilidades de cooperação e de

combinação de informações (bits) sobre diversos formatos”.36

Para Gibson37 a nossa cultura já não se importa em utilizar a apropriação ou o

empréstimo. Tem-se uma cultura da participação, que se dá pelo uso e livre de circulação de obras. A recombinação é infinita e gera uma série de processos criativos.

Diante de tantas palavras novas e conceitos adaptados, a proposta de Lev

Manovich38 que chama de infoestética, as novas formas estéticas e culturais

emergentes específicas em uma sociedade da informação globalizada, busca

resumir e definir essa nova prática. A infoestética39 pode ser melhor compreendida

como uma resposta às novas prioridades da sociedade da informação: “dar sentido à

informação, trabalhar com ela e produzir conhecimento a partir da informação”.40

utilizar os atuais fenômenos como blogs, os podcasts, os sistemas “peer to peer”; os softwares de fonte aberta, e a arte eletrônica, como exemplos de conduta e estudos a serem pesquisados.

35 “Por remix compreendemos as possibilidades de apropriação, desvios e criação livre (que

começam com a música, com os DJ’s no hip hop e os Sound Systems) a partir de outros formatos, modalidades ou tecnologias, potencializadas pelas características das ferramentas digitais e pela

dinâmica da sociedade contemporânea.” Disponível em <www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos/remix.pdf>. Último acesso em 13 de junho de 2008.

36 Artigo escrito por André Lemos para o “Seminário Internacional sobre Diversidade Cultural: práticas

e perspectivas”. Disponível em <http://diversidadedigital.blogspot.com/2007/05/cultura-remix.html>. Último acesso aos 13 de junho de 2008.

37Artigo escrito por William Gibson para a revista Wired, disponível em

<http://www.wired.com/wired/archive/13.07/gibson_pr.html>. Último acesso aos 13 de junho de 2008.

38 Lev Manovich nasceu em Moscou, é professor e pesquisador da área de mídias digitais e design.

Atualmente é professor na Universidade da Califórnia na área de Artes Visuais, diretor do Laboratório para Análise Cultural no Instituto da Califórnia para Telecomunicações e Tecnologias da Informação e diretor do grupo de Estudos Culturais do Software.

39 “A infoestética pode se referir à experiência de se viver numa sociedade da informação através do

seu design, textura, composição, estrutura, construção, sensibilidade e outras dimensões artísticas. “Estética” quase sempre se refere à beleza e ao gosto. Mas “estética” também tem outro sentido: o de um princípio ou um conjunto de princípios; uma visão normalmente manifestada através das aparências ou estilos do comportamento.” Lev Manovich, disponível em < http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2928,1.shl> . Último acesso aos 13 de junho de 2008.

40 Artigo escrito por Lev Manovich, disponível em <

(28)

Hoje, muitos dos espaços culturais como a música, moda, design, arte, aplicações web – que são regidos por remixes, fusões, colagens, ou "mash-ups”. A palavra “apropriação” é por vezes utilizada para falar sobre estas práticas, sendo utilizada pela primeira vez para se referir a uma exposição ocorrida em Nova York no início de 1980, na qual artistas trabalharam com velhas imagens fotográficas. Porém, o termo "apropriação" nunca alcança a mesma ampla utilização como do "remixing." Na verdade, em contraste com "remix", "apropriação" nunca deixou completamente a sua arte original onde foi cunhada. O "remixing" é um termo que sugere um re-trabalho sistemático de uma fonte, o significado que "apropriação" não tem. (MANOVICH: 2007).41

1.6 A AUTORIA COLABORATIVA – E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

NO CIBERESPAÇO

No contexto deste trabalho, os termos colaboração e cooperação serão utilizados como sinônimos. Para Lubich, a colaboração é a realização de tarefas específicas pelos componentes do grupo a fim de alcançar um objetivo comum, e cooperação como a realização conjunta de tarefas específicas a fim de alcançar um objetivo (Lubich, 1995, apud Macedo, Neto, Pimentel: 2001). No ciberespaço, para que as pessoas trabalhem cooperativamente, em um mesmo local ou geograficamente distribuídas, é necessária a utilização de ferramentas ou Sistemas Cooperativos Apoiados por Computador (CSCW - Computer Supported Cooperative

Work) 42, que fornecem suporte à comunicação e à cooperação através de recursos

41 Disponível em < http://www.manovich.net/ >. Último acesso aos 13 de maio de 2008.

42 “O termo "Apoiado" refere-se tanto a um acesso bem simples, não coordenado a informações

(29)

compartilhados de trabalho. (Borges, 1995, apud Macedo, Neto, Pimentel: 2001). Como exemplo de algumas ferramentas atuais tem-se: programas de videoconferência, teleconferência, listas de discussões, correio eletrônico, editores

cooperativos.43

Em estudo publicado na Revista Brasileira de Informática e Educação (2001, Vol. 9, p.12) ficou constatado que grande parte dos ambientes computacionais possui características de comunicação assíncrona, na qual os usuários estão aptos a trabalharem em tempos distintos. Também há a comunicação síncrona, que requer a “presença” simultânea dos envolvidos. E por fim, a comunicação mista, que pode ter características das duas primeiras.

Outras características analisadas em ambientes computacionais de suporte à autoria colaborativa são, conforme estudo realizado pela revista:

“Controle de concorrência - é necessário para evitar eventuais colisões de ações num espaço compartilhado de trabalho. Este mecanismo geralmente está baseado na resolução de colisões ou na prevenção de concorrência. Num editor cooperativo, uma colisão ocorre quando dois ou mais usuários querem editar uma mesma seção de um documento ao mesmo tempo. Esta situação pode ser impedida através da proibição da mesma edição por dois ou mais usuários, ou através da implementação de um mecanismo de ordenação por tempo, definição de papéis, definição de prioridades etc.

Controle de versão - quando um usuário estiver editando um documento, é importante que os outros usuários estejam cientes de cada nova versão gerada. O controle de versão é importante para garantir a integridade de cada versão manipulada. Portanto, uma coordenação do trabalho faz-se necessária. Dois fatores são essenciais no controle de versão: a freqüência de atualizações e a quantidade de texto a ser atualizada.”

até mesmo de troca de informações”. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_cooperativo> . Último acesso aos 13 de junho de 2008.

(30)

Utilizando-se os ambientes computacionais, ferramentas e, por assim dizer, o ciberespaço, a autoria colaborativa, em quaisquer das características acima elencadas, constitui uma dinâmica, na qual os envolvidos possibilitam a ampliação do próprio conhecimento, bem como do coletivo, por meio de suas experiências e percepções. É a também chamada cultura do Copyleft, que segundo Lemos

(2004:09) se opõe ao termo Copyright44, trazendo o sentido de uma livre

transformação de obras com processos de adição e modificação criativa, mantendo a característica livre do mesmo, ou ainda, a apropriação crítica e coletiva de trabalhos.

Para Lemos, a própria cultura brasileira é um exemplo prático de apropriações criativas e acumulativas de variadas influências culturais. Em suas palavras:

“A identidade, a diversidade e a riqueza de uma cultura só se estabelecem pelo contato e não pela interdição ou o isolamento. Nossa cultura brasileira, por exemplo, tem na formação e na prática de sua identidade a vivência quotidiana de diversas apropriações criativas e acumulativas de diversas influências culturais. Nossa identidade, se é que é podemos falar no singular, só é possível pela criação autêntica a partir do uso de diversas influências de origem européia, indígena e africana. É dessa diversidade que criamos uma diferença. Nossa cultura brasileira já era uma “cultura copyleft” avant la lettre! A nossa riqueza está justamente na nossa identidade construída com influências alheias, por apropriações diversas, por mútuas e complexas interpenetrações.”(2004:12)

O projeto designado como Re: Combo45 é um coletivo de artistas que trabalha

em projetos de arte digital e música de forma descentralizada, participativa e colaborativa. É um exemplo de proposta de autoria colaborativa na internet. No site,

44 Por Copyleft, tem-se os processos de transformação de obras onde o usuário pode adicionar

informações e transformações desde que a obra continue livre para novas transformações. A essa apropriação criativa e coletiva de trabalhos chama-se de copyleft, termo surgido como uma oposição ao termo copyright ou direito de cópia.

45 O projeto Re: Combo é apoiado e está localizado no C.E.S.A.R – Centro de Estudos e Sistemas

(31)

o usuário após aceitar os termos da licença46, tem a sua disposição conteúdos

abertos e modificáveis de vídeos, sons, imagens, textos, performances, exposições.

O mesmo ocorre no projeto Nooradio47, que disponibiliza conteúdos sonoros na

internet para que o usuário altere os sons disponíveis em colaboração com os demais usuários.

Outro exemplo, é o site Coreano de mídia colaborativa chamado OhmyNews

International,48 cuja idéia central é de que "Todo cidadão é um repórter", portanto,

apto a publicar ou postar notícias no site. Este jornal disponibiliza uma versão impressa diária e uma versão na internet. Esta última tem as suas notícias realizadas a partir das contribuições colaborativas. Por se tratar de um jornal, há uma junta de editores que selecionam o conteúdo a ser disponibilizado na internet, dentre todos aqueles enviados para publicação.

Além dos exemplos acima, há a ferramenta colaborativa chamada Wikipédia,

definida, conforme informação disponível no seu próprio site49, como uma

enciclopédia cujo conteúdo é livre e regido pelos termos da licença conhecida como

GFDL (Gnu Free Documentation License50). Isto significa que tal conteúdo, em sua

plenitude, pode ser livremente copiado, alterado e redistribuído por terceiros, desde que sejam dados os devidos créditos, segundo as determinações da citada GFDL. A Wikipédia é construída continuamente por meio de um projeto alojado na internet, hospedado e financiado pela Wikimedia Foundation nos Estados Unidos da América, contém diferentes versões para variados idiomas.

A ferramenta Wikipédia utiliza um software colaborativo que permite a edição coletiva dos documentos usando um sistema que não exige que o conteúdo tenha que ser revisto, analisado ou autorizado antes da sua publicação. A idéia primordial

46Modelo de licença integral no anexo I

47 Disponível em < http://www.nooradio.com.br/>. Último acesso aos 06 de junho de 2008. 48 Disponível em < http://english.ohmynews.com>>. Último acesso aos 06 de junho de 2008.

49 Disponível em < http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:FAQ_Geral > . Último acesso aos 06 de junho

de 2008.

(32)

desta enciclopédia é de que quanto maior o número de colaboradores, maior será a qualidade das informações disponibilizadas.

Para James Surowiecki51, as melhores decisões coletivas são produtos de

desacordos e contendas, e não de consenso e compromisso, argumentando ainda que para extrair uma informação válida, é preciso reunir quatro condições: diversidade (pessoas diferentes apresentam idéias diferentes); descentralização (ninguém deve obedecer a uma figura de topo); agregação (as informações devem ser reunidas de modo eficiente) e independência (os participantes não se podem preocupar com a opinião de terceiros).

Surowiecki (2004) cita como um dos exemplos a ferramenta de busca Google, cujo algoritmo baseia-se justamente na sabedoria das multidões, dando maior peso para as páginas mais visitadas na hora da pesquisa. O algoritmo criado para efetuar

o sistema de busca, chamado de PageRank,52 considera o resultado apresentado na

pesquisa como aqueles mais relevantes, segundo acesso dos próprios usuários. (VISSE, 2007). Novamente, têm-se a autoria colaborativa como meio para obtenção da informação desejada.

51 James Surowiecki é americano, jornalista, autor do livro “A sabedoria das multidões”, que defende

que a sabedoria coletiva é mais importante/poderosa que a individual. Defende que o conhecimento disperso na sociedade constitui uma sabedoria bastante plausível.

52 O Google interpreta um link da página A para a página B como se fosse um voto de A em B. Além

(33)

2.

CAPÍTULO DOIS

2.1 AS QUATRO CRISES DA PROPRIEDADE INTELECTUAL E O NOVO

PARADIGMA

Não obstante estas análises, tanto a internet quanto a revolução tecnológica que a precedeu, nos apresentam uma idéia de propriedade como algo que não se adéqua ao conceito usual, ao modelo de negócio, e principalmente, não se apresenta como algo legítimo de se determinar, conforme as normas vigentes.

Nos Direitos Autorais, o criador de uma determinada obra tem, desde o momento da concepção, todos os direitos pessoais e materiais sobre a obra. Conseqüência disso é a ausência de requisito, como ocorre nas patentes e marcas, quando o registro é obrigatório para se determinar a autoria. Portanto a propriedade, no caso de uma obra, é conferida desde a sua criação.

2.2 O DIREITO MORAL E O DIREITO PATRIMONIAL

O Direito moral consiste em um vínculo perene que une o criador à sua obra, para a realização da defesa de sua personalidade. As características fundamentais desse direito são: a pessoalidade, a perpetuidade, a inalienabilidade, a imprescritibilidade e a impenhorabilidade.

(34)

Em seu artigo 24, a Lei de Direitos Autoral Brasileira53, enumera os direitos morais:

Art. 24. São direitos morais do autor:

I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;

II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou

anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra;

III - o de conservar a obra inédita;

IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer modificações

ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo,

como autor, em sua reputação ou honra;

53 O direito autoral brasileiro tem como fundamento:

i. Idéias - As idéias em si não são protegidas, mas sim suas formas de expressão, de qualquer modo ou maneira exteriorizadas num suporte material.

ii. Valor intrínseco - A qualidade intelectual de uma obra não constitui critério atributivo de titularidade, isto é, a proteção é dada a uma obra ou criação, independentemente de seus méritos literários, artísticos, científicos ou culturais.

iii. Originalidade - O que se protege não é a novidade contida na obra, mas tão-somente a originalidade de sua forma de expressão. Dois autores de química, por exemplo, podem chegar, em seus respectivos livros, aos mesmos resultados e conclusões. O texto de cada um deles, porém, é que está protegido contra eventuais cópias, reproduções ou quaisquer utilizações não-autorizadas.

iv. Territorialidade - A proteção dos direitos autorais é territorial, independentemente da nacionalidade original dos titulares, estendendo-se através de tratados e convenções de reciprocidade internacional. Sendo recomendável, nos contratos de cessão ou licença de uso, que se explicitem os territórios negociados.

v. Prazos - Os prazos de proteção diferem de acordo com a categoria da obra, por exemplo, livros, artes plásticas, obras cinematográficas ou audiovisuais etc.

vi. Autorizações - Sem a prévia e expressa autorização do titular, qualquer utilização de sua obra é ilegal.

vii. Limitações - São dispensáveis as prévias autorizações dos titulares, em determinadas circunstâncias.

viii. Titularidade - A simples menção de autoria, independentemente de registro, identifica sua titularidade.

ix. Independência - As diversas formas de utilização da obra intelectual são independentes entre si (livro, adaptação audiovisual ou outra), recomendando-se, pois, a expressa menção dos usos autorizados ou licenciados, nos respectivos contratos.

(35)

V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;

VI - o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de

utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem afronta à

sua reputação e imagem;

VII – o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre

legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio de processo

fotográfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memória, de forma

que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em todo caso,

será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado.

Os direitos patrimoniais são aqueles de cunho econômico derivados da exploração da obra. Para exercer esta exploração, não sendo feita pelo próprio autor, é necessária a autorização expressa deste, conforme dito anteriormente. As características do direito patrimonial são: o cunho real; o caráter de bem móvel; a alienabilidade para permitir seu ingresso no comércio jurídico, podendo ser transmitido por via contratual ou por sucessão; o lapso temporal, ou seja, sua

proteção durante determinado tempo; a penhorabilidade; a prescrição54, ou seja, a

perda da ação por inércia no lapso de tempo.

Quando se fala em propriedade intelectual55, diversos aspectos são levados

em consideração – sendo geralmente o aspecto econômico visto em detrimento ao

54 Prescrição 1. Caducidade, decadência. (Dicionário Houaiss Sinônimos e Antônimos: 2003, 531). No

direito, a prescrição é a extinção de uma ação judicial possível, em virtude da inércia de seu titular por certo lapso de tempo.

55 O termo propriedade intelectual será aqui considerado como conjunto de princípios e fundamentos

(36)

aspecto social. As normas legais, conforme tão bem analisou Geller, foram criadas até hoje visando a proteção de interesses econômicos. No entanto, com a internet, a reprodução e distribuição de conteúdos que, eventualmente, estariam protegidos por normas de direito autoral, dentro do meio digital ocorreu a ampliação da troca destes mesmos conteúdos.

No conceito econômico da escassez como o conhecemos, os bens

produzidos na cibercultura são inexauríveis – a escassez56 que existe é artificial,

fruto do atual ordenamento jurídico. Como dizer que alguém tem a propriedade de “algo”, quando esse “algo”, pode ser compartilhado, sem que seja alterado “o todo”,

sem subtraí-lo ou diminuí-lo?57 O aumento dessa escala de troca de conteúdos que

motivaram os atuais questionamentos sobre direito, proporcionam as discussões sobre o uso de licenças autorais, códigos aberto e software-livre, que será tratado mais adiante.

O professor Túlio indica o ponto nevrálgico da questão, ao demonstrar que o conceito econômico da escassez não encontra apoio numa sociedade que utiliza cada vez mais a tecnologia. Antes, a valorização de um bem estava relacionado à sua disponibilidade. Quanto menor disponibilidade, maior o seu valor. A internet quebrou o paradigma da escassez, em paralelo com os inúmeros artefatos tecnológicos disponíveis no mercado. As estruturas socioculturais e econômicas influenciam o desenvolvimento tecnológico ao mesmo tempo que sofrem seus efeitos.

Como a propriedade é caracterizada pelos direitos de usar, fruir e dispor do bem com exclusividade, o conceito de propriedade, não poderia ser aplicado às obras intelectuais, por não haver escassez na distribuição do trabalho intelectual. O valor-de-troca do trabalho intelectual estaria, portanto, condicionado à venda-casada com outros produtos e serviços (papel e impressão, por exemplo), o que na sociedade informatizada não mais se justifica. Desta forma, o

56 Escassez – 2. Falta: carência, exigüidade, insuficiência. (Dicionário Houaiss Sinônimos e

Antônimos: 2003, 284).

57 Atualmente, os suportes físicos para efetuar cópias permitem a duplicação infinita de conteúdos a

(37)

conceito de "Propriedade Intelectual" seria tão somente uma ideologia fundamentadora de um monopólio privado; opinião essa ainda não consensual por parte de estudiosos da matéria.” (VIANA: 2006,937)

Conforme Silveira (2004: 8), a tendência da economia capitalista é se tornar crescentemente baseada em informações e em bens intangíveis; a disputa pelo conhecimento das técnicas e tecnologias de armazenamento, processamento e transmissão das informações assume o centro estratégico das economias nacionais. Para Garzon, (2008) os produtos da inteligência (e da criatividade humana – bens intelectuais) são resultados de atividade essencialmente privada do homem. Quando alguns desses produtos da mente recebe proteção normativa, emerge o conceito de propriedade intelectual.

E, muito embora haja esta crise, Castells (2007:45) afirma que a habilidade ou inabilidade de a sociedade dominar a tecnologia e, em especial, aquelas tecnologias que são estrategicamente decisivas em cada período histórico, traça seu destino a ponto de ser possível dizer que, embora não determine a evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou a falta) incorpora a capacidade de transformações das sociedades.

Com base nas reflexões de Le ão (2004, 101) "a utilização não é definida pela limitação tecnológica e sim pela adequação ao uso, quanto ao local, comodidade, interatividade e praticidade”. Em outras palavras: o uso produz a compreensão.

2.2.1 CRISE CONCEITUAL, CRISE DE NEGÓCIO, CRISE DE EFICÁCIA E

CRISE DE LEGITIMIDADE

A crise pela qual passa a propriedade intelectual pode ser dividida em quatro tipos, segundo estudo do advogado Pedro Nicolete (2007)

(38)

entre as diversas concepções de autor, mercado cultural, obra, consumidor, distribuidor, e quando todos estes se encontram na esfera do ciberespaço, ou do uso de ferramentas tecnológicas, conceituá-los, segundo as normas vigentes nos parece inadequado.

2.2.1.1 CONCEITUAL

A propriedade intelectual é o ramo do direito que cuida de temas relacionados aos campos tradicionais da propriedade industrial e dos direitos autorais, bem como

outras “propriedades sui generis” que repentinamente podem surgir58. Portanto,

quando os autores buscam conceituar a propriedade intelectual, já é necessário recorrer a outros conceitos, que não este, conforme apresentado. Para Lipsyc

(1993:12) apesar da doutrina59 congregar a propriedade industrial e direitos autorais

sob o rótulo da propriedade intelectual, este se refere a um espectro muito mais amplo. Conforme explica Stallman, em seu artigo “Did You Say “Intellectual Property”? It's a Seductive Mirage” de maneira bem descontraída:

Que pensar em unir no mesmo ambiente os direitos do autor, das patentes e das marcas – que são entidades separadas e distintas, reguladas por leis próprias, junto com a propriedade intelectual, é algo que gera uma expressão confusa, promovido por empresas que vão se beneficiar desta confusão. Segundo o professor Mark Lemley,da Universidade de Direito de Stanford, o uso generalizado desta terminologia “propriedade intelectual”começou com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual em 1967, entidade ligada a Organização das Nações Unidas.

Stallman finaliza com equilíbrio o seu artigo ao dizer que estas questões deveriam ser consideradas separadamente, mas em sua totalidade, só assim será possível pensá-las corretamente.

58 O art.2 da Convenção da OMPI, depois de apresentar um rol de sete matérias relacionadas à

propriedade intelectual, acrescenta uma cláusula que diz “e todos outros direitos resultantes da atividade intelectual no campo industrial, científico, literário e artístico. Conteúdo disponível aos 18 de maio em <HTTP://www.wipo.int/treaties/en/convention/trtdoes_wo029.html>

59 Utilizo a palavra doutrina, pode ser definida como um conjunto de princípios que servem de base a

(39)

2.2.1.2 Modelo de Negócio

Por modelo de negócio, compreende-se como sendo o conjunto de práticas adotadas por uma determinada empresa pública ou privada. Um modelo de negócio teria as seguintes funções: promover um valor destinado ao consumidor, identificar a que mercado esta inserido o seu público, especificar mecanismos para gerar receita e por fim, criar estratégias para competir no mercado a que se propõem.

Mesmo quando a indústria consegue aplicar todas estas premissas ou funções, há dificuldade em propor ao público consumidor um valor, que para os

primeiros, seria o razoável.60 O modelo de negócio tradicional não supre mais as

funções acima descritas, quando dependem da exclusividade e proteção da propriedade intelectual. A arquitetura da internet propicia a distribuição e a reprodução de informação diferente da economia industrial. Nesse sentido, como será posteriormente analisado, observasse uma transição entre a economia industrial para uma economia em rede.

2.2.1.3 Eficácia

Com o advento do compartilhamento de arquivos, da internet e de outras tecnologias voltadas à produção e manipulação de informação, o rol de direitos supostamente violados aumentou, e coloca em prova a ineficácia de todo o aparato legal que supõem necessário para a proteção do direito autoral. Para Lessig (2007), esta crise demonstra que algumas normas simplesmente não são respeitadas, e que a resposta legal não deveria ser o reforço de antigas normas, mas sim, partir para alternativas de regulação.

2.2.1.4 Legitimidade

A crise da eficácia conduz no presente panorama a crise da legitimidade. Como pensar em algo praticado por um número imenso de usuários da internet ao

60 Neste aspecto, vale dizer que o consumidor passa a questionar os valores cobrados por esta

(40)

redor do mundo, como sendo algo errado? A crise da legitimidade está em conflito com o que o usuário médio considera como propriedade protegida de direitos. Esta crise é observada tanto no plano nacional como internacional.

Em reação a esta situação, surge em 1998 nos Estados Unidos a Digital Millenium Copyright Act ou DMCA, conforme Lemos, um texto normativo com o objetivo de modificar o regime de proteção à propriedade intelectual, mais especificamente os direitos autorais, no sentido de combater a facilidade de cópia, de circulação e, conseqüentemente, de violação de direitos autorais, trazida pela conjugação da tecnologia digital com a Internet. As disposições do DMCA ampliaram de forma significativa os tradicionais limites do direito autoral, tais como forjados no século XIX. Como exemplo dessa ampliação, o DMCA criminalizou quaisquer iniciativas que tivessem por objetivo violar mecanismos técnicos de proteção à propriedade intelectual, isto é, bens intelectuais, na forma digital porventura implementado. (LEMOS, 2005:32).

Dita de outra forma, esta mesma lei tem em seu bojo a proteção da criação intelectual como bem jurídico capaz de produzir riquezas advindas de sua exploração comercial por meios diversos, utilizando-se dos mecanismos legais que lhe permitem autorizar a utilização de sua obra por terceiros, além de reprimir toda e qualquer utilização ocorrida sem a necessária autorização. Segundo a citada lei, o objeto da proteção jurídica recai sobre a obra de criação intelectual e não sobre o autor da criação, que é apenas sujeito desse direito.

Referências

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