• Nenhum resultado encontrado

Funções do Governo. Economia p/ SEFAZ-BA Profs. Jetro Coutinho e Paulo Ferreira. 1 de 86

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Funções do Governo. Economia p/ SEFAZ-BA Profs. Jetro Coutinho e Paulo Ferreira. 1 de 86"

Copied!
86
0
0

Texto

(1)

Funções do Governo

Economia p/ SEFAZ-BA

Profs. Jetro Coutinho e Paulo Ferreira

(2)

Sumário

SUMÁRIO ...2

APRESENTAÇÃO ... 3

COMO ESTE CURSO ESTÁ ORGANIZADO ... 6

FUNÇÕES ECONÔMICAS GOVERNAMENTAIS ... 7

DOIS NOMES PARA A MESMA COISA ... 7

FUNÇÕES DO GOVERNO ... 7

FALHAS DE MERCADO ... 8

Falhas na Competição ... 12

Assimetria de Informação ... 13

Externalidades ... 19

Bens Públicos ... 24

Mercados Incompletos ... 29

Ocorrência de Desemprego e Inflação ... 30

FUNÇÃO ALOCATIVA ... 31

FUNÇÃO DISTRIBUTIVA ... 31

FUNÇÃO ESTABILIZADORA ... 32

A INTERCAMBIALIDADE ENTRE AS FUNÇÕES DO GOVERNO ... 33

PAPÉIS DO ESTADO ... 33

QUESTÕES COMENTADAS PELOS PROFESSORES ... 36

LISTA DE QUESTÕES... 67

GABARITO ... 83

RESUMO DIRECIONADO ...84

(3)

Apresentação

Fala aê, povo! Tudo beleza com vocês?

Aqui quem vos fala (ou escreve, sei lá! hahaha) é Jetro Coutinho, Auditor Federal de Controle Externo do Tribunal de Contas da União, aprovado aos 22 anos de idade, e um fanático pela matéria que estudaremos aqui no curso: a Economia.

Além de ser Auditor do TCU e Prof. de Economia e Finanças Públicas, também costumo ser bacharel em Administração pela Universidade de Brasília, pós-graduado em Direito Financeiro e Tributário e pós-graduado em Direito Administrativo. Como concurseiro lascado que eu era, estudava que nem um maluco e, com muito esforço, consegui a minha primeira aprovação como Técnico do Banco Central no concurso de 2009. Depois de muito estudo e de 2 anos e meio trabalhando no BACEN, eu fui aprovado em dois concursos “só o ouro”: Analista de Finanças e Controle da Secretaria do Tesouro Nacional – Área Econômico-Financeira (2013) e no concurso para o qual eu nasci: Auditor do TCU. Aí, acabou que eu nem assumi no Tesouro Nacional, porque eu queria mesmo era ir para o TCU. E assim, com a 13ª colocação em um dos concursos mais concorridos e disputados em todo o Brasil (tem mais de 20 matérias o edital da bagaça!), eu tomei posse no TCU, aos 22 anos de idade.

Adicionalmente, também dou aulas de Contabilidade Pública, aguardando oportunidades para ministrar essa matéria.

Agora, passo a palavra para o meu brother, Professor Paulo Ferreira.

Olá, tudo bem? Me chamo Paulo Ferreira. Seja muito bem-vindo ao Direção Concursos. Junto do Jetro, sou responsável pelas disciplinas de Economia e Finanças Públicas aqui no site.

Sou economista pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (2013), bacharel em ciências contábeis pela faculdade CNEC (2018) e especialista em Finanças Públicas também pela UFRGS (2017). Desde setembro de 2017, ocupo o cargo de Auditor do Estado, da Contadoria e Auditoria do Estado – CAGE-RS.

Antes disso ocupei por dois anos o cargo de Economista na Prefeitura de Gravataí/RS, minha cidade natal.

Entre 2013 e 2014, também fui aprovado dentro do número de vagas previstas no edital nos concursos para economista do IPERGS, do IRGA e da Secretaria da Saúde, todos na Administração Estadual. Em 2015, passei a comentar questões para o site TEC Concursos, onde tenho mais de 5.000 questões comentadas, sendo mais de 4.000 de Economia e Finanças Públicas.

É com muito entusiasmo que passo a transferir a você essa experiência adquirida nos últimos anos. Estou certo de que aliar toda esta bagagem em resolução de questões à incrível didática do Jetro fará com que você tenha o melhor curso de Economia do mercado

(4)

Opa, Jetro na área novamente!

Agora que a gente já se conhece, vamos falar da tal da Economia. Meu primeiro contato com Economia foi na faculdade, numa matéria chamada “Introdução à Economia”, mais conhecida como “INTECO” ou, na minha opinião, “o diabo na terra”. Cara, como eu odiei aquela matéria! Kkkkkk

Acredito que esse “ódio” inicial se deu porque, em princípio, a matéria de Economia é um pouco contra intuitiva. Ou seja, algumas coisas só fazem sentido depois de muito estudo. E, como eu não entendia muita coisa, não gostava da matéria. Óbvio, né? É bem difícil você gostar de alguma coisa na qual não é bom...

Só que eu acabei curtindo, e curto até hoje, a parte mais financeira da Administração (investimentos, trading, etc). E aí, para quem gostava desses assuntos, era fundamental que eu conhecesse a fundo a Economia.

Bom, depois de deixar o mimimi e a experiência ruim com a matéria de lado, resolvi sentar a bunda na cadeira e estudar. Depois de um tempinho, a ficha caiu! Eu finalmente comecei não só a entender os conceitos, mas a aplicá-los na vida! E, finalmente, comecei a entender o William Bonner no Jornal Nacional, quando ele falava que o PIB do Brasil cresceu x% e a Balança Comercial teve superávit.

Gostei tanto da matéria que acabei sendo aprovado para o Tesouro Nacional justamente na área de...

ECONOMIA! Uashuahuashau

Portanto, em nossa matéria, quero te pedir o seguinte: tente aprender não só para a prova, mas para a vida! E tente enxergar como os conceitos econômicos funcionam no seu dia-a-dia.

É uma matéria super apaixonante e com certeza você vai gostar muito!

Mas também preciso mandar a real. O primeiro contato com Economia nem sempre é o melhor possível.

Isso acontece porque Economia não é que nem Direito Constitucional ou Direito Administrativo, matérias mais simples, as quais você estuda, vai para as questões e acerta um monte delas.

Em Economia, o aprendizado é um pouco mais lento, mais gradual, e você vai precisar de mais maturidade nos estudos para conseguir ter um bom desempenho. Ou seja, controle as expectativas, os resultados com certeza virão, mas vai demorar um pouco mais do que você está acostumado, ok?

O lado bom é que você está aqui conosco, Jetro Coutinho e Paulo Ferreira, os melhores professores de Economia do Brasil (Auto-estima não é problema pra gente, fala aí! kkkkk). Mas falando sério, toda a nossa experiência em preparação para concursos e os milhares de alunos aprovados pelo país nos permitem desmistificar essa complicação toda e mastigar os conceitos para você.

Por isso é que ajudamos concurseiros de todo o Brasil que tem dificuldade na matéria ou que simplesmente precisam de um material que explique as coisas de uma forma diferente, sabe? Sem aquele blá- blá-bla e toda aquela linguagem formal que dá sono pra caramba.

Mas por melhores professores que sejamos (e sempre nos esforçamos muito para melhorar), não conseguiremos fazer você aprender Economia sozinhos. Afinal, precisamos muito do seu comprometimento e dedicação.

Costumamos dizer que 50% é nossa responsabilidade e 50% é sua. Prometemos que daremos 148,67%

dos nossos 50%. E você? Está disposto a se dedicar no mesmo montante? Do que você está disposto a abrir mão para conquistar o seu sonho?

(5)

Infelizmente, passar em concurso não é para todo mundo, mas APENAS para aqueles que se dedicam e se comprometem a só parar quando chegarem lá.

Se você faz parte deste segundo grupo de pessoas, seja muito bem vindo(a) ao Direção Concursos, um lugar que torna os sonhos dos concurseiros em realidade.

Quanto ao curso, garantimos que este material não será mais um cursinho, será a sua maior chance de aprovação. Prometemos que, além de estudarmos bastante e nos dedicarmos aos concursos, também brincaremos e nos divertiremos muito (isto é, se você achar graça das nossas piadas! A esposa do Jetro sempre diz que elas não têm graça nenhuma, mas eu acho que ela gosta, sim. Afinal, ela topou casar com ele, haha!). E quem sabe podemos até virar bons amigos.

Neste material você terá:

Você nunca estudou Economia para concursos? Não tem problema, este curso também te atende. Nós veremos toda a teoria que você precisa e resolveremos centenas de exercícios para que você possa praticar bastante cada aspecto estudado. Nossa recomendação, nestes casos, é que você comece assistindo as videoaulas, para em seguida enfrentar as aulas em PDF. E fique à vontade para nos procurar no fórum de dúvidas sempre que for necessário.

Caso você queira tirar alguma dúvida antes de adquirir o curso ou conhecer mais o nosso trabalho, basta entrar em contato conosco pelas redes sociais:

Curso completo em VÍDEO

teoria e exercícios resolvidos sobre TODOS os pontos do edital

Curso completo escrito (PDF)

teoria e MAIS exercícios resolvidos sobre TODOS os pontos do edital

Fórum de dúvidas

para você sanar suas dúvidas DIRETAMENTE conosco sempre que precisar

(6)

Como este curso está organizado

Neste curso nós veremos EXATAMENTE o que a banca FGV exige no edital da SEFAZ BA para Agente de Tributos – Administração e Finanças.

Concurso SEFAZ-BA – cargo Agente de Tributos/Administração e Finanças – banca FGV Disciplina: Economia

ECONOMIA: Noções de Economia do Setor Público: Equilíbrio competitivo e eficiência econômica; O conceito de otimalidade de Pareto. Noções sobre teoremas de bem-estar. Incidência de impostos e subsídios. Bens públicos.

Externalidades. Tópicos de Economia Brasileira: Desenvolvimento brasileiro no pós-guerra: plano de metas, A crise da dívida externa e o processo inflacionário na década de 1980. Planos de estabilização, incluindo o Plano Real. Estabilização monetária. Economia brasileira pós-estabilização: expansão das políticas sociais e do mercado interno. A crise internacional de 2008.

Para cobrir o edital integralmente, o nosso curso está organizado da seguinte forma:

Simbora começar o curso?

Número da aula

Data de

disponibilização Nome da Aula Assunto da aula

00 07/03 Funções de

Governo

Noções de Economia do Setor Público: Equilíbrio competitivo e eficiência econômica; O conceito de otimalidade de Pareto.

Bens públicos. Externalidades.

07/03 Teste de Direção Teste de Direção

01 09/03 Tributação Incidência de impostos e subsídios

09/03 Teste de Direção Teste de Direção

02 11/03 Equilíbrio Geral Noções sobre teoremas de bem-estar.

11/03 Teste de Direção Teste de Direção

03 15/03 Economia Brasileira – I

Tópicos de Economia Brasileira: Desenvolvimento brasileiro no pós-guerra: plano de metas, A crise da dívida externa e o

processo inflacionário na década de 1980.

04 15/03 Economia Brasileira – Parte II

Planos de estabilização, incluindo o Plano Real. Estabilização monetária. Economia brasileira pós-estabilização: expansão

das políticas sociais e do mercado interno. A crise internacional de 2008.

(7)

Funções Econômicas Governamentais

Dois nomes para a mesma coisa

Sim, eu sei que você está estudando para ser servidor. E uma outra coisa que eu também sei, é que você, em alguma vez na sua vida, já se irritou com o Governo. Já teve um retrabalho imenso para suprir alguma burocracia. Se irritou com as filas, com os cartórios, com a demora para emitir uma simples certidão ou algo do tipo. Todos já passamos por isso.

E é nosso dever, como servidores, lutar para que essa realidade mude.

Mesmo assim, a gigantesca maioria das pessoas vive, APESAR do governo. Ou seja, o governo é necessário. Necessário para regular o funcionamento de uma sociedade. Até agora, não inventaram nada melhor.

Como parte dos objetivos do Governo na sociedade, pode estar a intervenção do Estado na economia.

Alguns países são considerados mais intervencionistas (como a China e a Rússia) e outros menos intervencionistas (como Singapura e Coréia do Sul), mas todos os Estados intervêm em suas economias.

O ramo da Economia que estuda as razões pelas quais o governo intervém e COMO intervém é chamado de “Finanças Públicas”. Este ramo da Economia vai também verificar como funcionam os aspectos econômicos do setor público.

Entre esses aspectos econômicos, podemos citar a arrecadação governamental (os impostos governamentais afetam a economia), os gastos governamentais (como o governo gasta seu dinheiro e, de que forma) e a gestão dos recursos públicos (onde o governo investe, se esse investimento teve bons retornos, a qualidade dos serviços públicos, etc). Justamente por avaliar esses aspectos econômicos, é que as Finanças Públicas também recebem o nome de Economia do Setor Público. Assim, Finanças Públicas ou Economia do Setor Público, tanto faz. Os dois nomes se referem ao mesmo campo de estudo da ciência econômica.

Funções do Governo

Dentro dessa seara de estudar as razões pelas quais o Estado deve intervir na economia, o maior economista foi Richard Musgrave, professor da Universidade de Michigan e de Harvard. Em 1959, Musgrave escreveu um livro denominado “A Teoria das Finanças Públicas”, que ficou muito famoso em todo o mundo.

Depois da popularidade de seu livro, seus artigos mais antigos também começaram a ser estudados.

Um em especial foi publicado em 1939 e tem como nome: "Troca Voluntária e Teoria da Economia Pública". Neste artigo, Musgrave afirma que todo governo possui pelo menos três ramos (branches): o ramo alocativo, o distributivo e o estabilizador. Aqui no Brasil, porém, os três ramos de Musgrave são mais conhecidos como Funções Econômicas do Governo ou Funções do Governo, por causa da tradução dos livros técnicos: Função Alocativa, Distributiva e Estabilizadora.

Um outro economista bastante relevante nessa área é Joseph Stiglitz, que recebeu o prêmio Nobel em 2001. Sobre a divisão das funções econômicas criadas por Musgrave, Stiglitz afirma que a ciência econômica reconhece que essas funções (alocativa, distributiva e estabilizadora) não são separadas, mas, sim, interligadas.

De forma que não podemos considerá-las separadamente.

(8)

No entanto, para fins didáticos, o estudo das funções pode ser feito de forma separada. E o próprio Stiglitz reconhece que a divisão feita por Musgrave é um modo conveniente de enxergar as atividades governamentais.

Vamos, então, estudar as três funções governamentais propostas por Musgrave: as funções alocativa, distributiva e estabilizadora. Antes, porém, vamos dar uma passadinha nas falhas de mercado.

Falhas de Mercado

Imagine que você está entrando em um supermercado para fazer compras. Há milhares de produtos diferentes à sua disposição. No entanto, você não compra tudo o que está disponível no mercado. Você faz escolhas.

Você, sei lá, prioriza a compra de arroz, feijão e carne e deixa de comprar massas e biscoitos (bolacha não existe). Ou faz justamente o contrário! Prioriza a compra de massas e biscoitos e deixa arroz, feijão e carne pra lá.

Da mesma forma, sua casa ou apartamento não estica, tem um espaço limitado. Se você comprar coisas demais, vai ter que escolher algumas para doar, jogar fora, fazer um garage sale ou mesmo vender na OLX de forma a liberar espaço.

E o que dizer do salário? Com certeza não dá para comprar tudo o que queremos com ele1. Hoje, você tem algumas coisas que gostaria de comprar, mas não as compra, pois, dado o salário, precisa priorizar outras coisas.

Quando você passar no concurso dos seus sonhos, não ache que você vai conseguir comprar tudo o que precisa. Você vai querer mais e mais coisas, algumas delas bem mais caras do que você está acostumado agora.

E, portanto, seu salário vai continuar sendo insuficiente para atender às suas demandas.2

Esses exemplos ilustram o problema fundamental da Economia. O problema que diz que você não pode ter tudo o que quer. Dizendo a mesma coisa de forma diferente, podemos dizer que as necessidades humanas são infinitas ou ilimitadas. Isto porque o ser humano nunca está satisfeito com o que possui e sempre deseja mais coisas. Está sempre querendo uma casa bonita em algum lugar, trocar de carro, viajar mais, etc.

Se por um lado as necessidades humanas são ilimitadas, os recursos que a sociedade tem para fabricar bens e serviços para suprir essas necessidades são limitados. Ou seja, da mesma forma que você, consumidor, não consegue comprar tudo o que deseja, o empresário que oferece os produtos para você também não consegue vender para você tudo o que ele quer. Afinal, ele também tem limitações! Ele tem um restaurante que gostaria de vender 500 refeições por dia, mas a cozinha dele só permite que ele forneça 250. O vendedor

1 Aliás, temos certeza que essa é uma das razões pelas quais você está estudando para concurso: aumentar a sua renda!

2 Eu, Jetro, lembro de quando eu era adolescente e namorava com Ana (minha atual esposa). Íamos ao cinema com 10 reais. Era 2 reais para a passagem de ida do ônibus, 2 reais para a passagem de volta e 4,50 para a meia entrada no cinema.

O dia que sobrava um dinheiro a mais para comprar uma casquinha no McDonald’s era o paraíso! Hoje, a gente vai no cinema e se não gastar 100 reais na pipoca com manteiga do cinema lá, não valeu a pena. Vai entender!

(9)

gostaria de vender 50 carros por mês, mas ele só tem estoque de 30. Uma firma de advogados gostaria de atuar em 1000 processos, mas com a equipe atual eles só conseguem dar conta de 700.

Ou seja, infelizmente, a sociedade não tem todos os recursos que precisa para atender às necessidades humanas. A quantidade de trabalhadores, máquinas e equipamentos utilizados para fornecer bens e serviços para as pessoas não é suficiente para a atender às necessidades.

Temos, portanto, um problema! Enquanto as necessidades são ilimitadas, os recursos são limitados.

Isso significa, então, que há escassez, ou seja, não conseguimos produzir tudo o que necessitamos. E, se não conseguimos produzir tudo o que necessitamos, vamos precisar escolher o que vamos produzir.

Da mesma forma, um consumidor não consegue comprar tudo o que necessita, pois há escassez. E, se há escassez, ele vai ter que priorizar o que vai comprar.

A Economia é a ciência que tenta dar uma resposta para esse problema. Ela vai estudar qual seria o melhor jeito de satisfazer a mais necessidades humanas com os recursos limitados que temos. Ou seja, ela é uma ciência que estuda como utilizar os recursos escassos para atender às necessidades humanas ilimitadas.

Ela vai nos dar parâmetros e critérios para que priorizemos determinadas coisas e deixemos outras de lado. Ela vai nos dar direções para que usemos os recursos escassos com eficiência e racionalidade, pois, se os recursos são limitados, não podemos desperdiçá-los, certo? A Economia vai nos ajudar a atender o máximo de necessidades possíveis, considerando as limitações na produção que temos. Em resumo, ela vai nos ajudar a atacar da melhor forma possível o problema da escassez.

Precisamos te falar, no entanto, que escassez é diferente de pobreza. Pobreza significa a falta daquilo que é estritamente necessário para sobreviver. Ou seja, ser pobre é ser carente de bens e serviços essenciais. Já a escassez significa ter mais desejos do que formas de satisfazê-los.

Quaisquer sociedades, mesmo as mais ricas, enfrentam o problema da escassez. Eles também não conseguem atender a todas as suas necessidades, pois tem desejos ilimitados que não conseguem ser atendidos pelos bens e serviços disponíveis. Portanto, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

Pobreza é diferente de escassez, ok?

Escassez: Situação que retrata necessidades ilimitadas, mas recursos limitados.

Justamente por termos escassez é que a Economia se preocupa com o bem-estar dos indivíduos. É que, se não podemos ter tudo que desejamos, precisamos garantir que os recursos limitados que temos sejam usados com o máximo de eficiência, para que possamos produzir a maior quantidade de bens e serviços possíveis e, assim, satisfazer ao maior número de necessidades possíveis.

Ou seja, quanto mais nós satisfazemos necessidades humanas por meio dos bens e serviços, maior o bem-estar social em que estaremos. No entanto, para fazer isso, é necessário que nós utilizemos nossos recursos limitados com eficiência.

Para que a eficiência aconteça é necessário que os recursos produtivos sejam utilizados da melhor forma possível, ou seja, que eles sejam alocados de forma a gerar o máximo de produção possível. Para

(10)

produzir, nós necessitamos de fatores de produção. Podemos citar como fatores de produção: a terra, o capital (máquinas e equipamentos utilizados no processo produtivo) e o trabalho.

A forma de alocar esses fatores de produção pode determinar a eficiência produtiva, pois se o país decidir produzir roupas e alimentos, terá que alocar seus fatores de produção para produzir roupas e alimentos.

E aí, ao produzir roupas e alimentos, o país deixa de produzir outras coisas, já que os recursos são escassos. Ou seja, a forma como nós alocamos os fatores de produção pode significar mais ou menos eficiência.

Os mercados nada mais são que formas de alocar os diversos recursos produtivos e promover transações econômicas. Um tipo de mercado, especificamente, é conhecido na literatura econômica por ser eficiente: este mercado é o de concorrência perfeita.

O mercado de concorrência perfeita apresenta um número infinito tanto de ofertantes quando de demandantes (ou seja, há muita gente querendo vender e comprar o produto). O produto é homogêneo (eles são bem similares e, portanto, tanto faz comprar da empresa Y ou da empresa X). Além disso, há perfeita transparência de informações entre ofertantes e demandantes. Exemplo mais próximo: Mercado de Commodities (produtos que funcionam como matéria prima, como café, soja, etc).

Como o nome diz, na concorrência perfeita, a competição entre as empresas é perfeita. Com as condições da concorrência perfeita, as firmas efetivamente concorrem entre si. Isso faz com que o preço caia e a qualidade do produto melhore, beneficiando o consumidor.

Essas condições (número infinito de ofertantes e demandantes, produto homogêneo e transparência perfeita de informações) fazem com que o mercado de concorrência perfeita seja considerado eficiente economicamente. Em outras palavras, podemos dizer que o mercado de concorrência perfeita atinge a eficiência no sentido de Pareto3.

Indo direto ao ponto, uma situação será eficiente (no sentido de pareto) quando não for possível melhorar a situação de nenhum agente sem piorar a de outro. Ou seja, se houver uma outra situação onde pelo menos um agente possa estar em melhor situação, não estamos sendo eficientes.

Resumindo: Se pode melhorar, não é eficiente. Agora, se chegarmos a uma situação na qual não é possível melhorar, aí, estamos em uma situação eficiente no sentido de Pareto. Minha irmã costuma falar que: “se melhorar, piora”. Ou seja, se estivermos em uma situação em que mudarmos alguma coisa e a situação piorar, aí a situação anterior será pareto-eficiente!

Eu, Jetro, gosto muito de comida alemã, mas minha esposa não gosta. Por outro lado, ela gosta muito de açaí e eu não gosto.

Imagine que eu e minha esposa somos os únicos participantes de uma economia que produza 5 porções de comida alemã e 5 porções de açaí. Eu vou atingir o máximo de satisfação quando eu comer o máximo de

3 Vilfredo Pareto foi um economista italiano que desenvolveu estudos sobre a eficiência econômica. Em homenagem aos seus estudos, o estado de eficiência econômica recebeu o nome de “eficiência no sentido de Pareto”.

(11)

comida alemã possível (as 5 porções) e não comer nenhuma de açaí (o). Já a minha esposa é o contrário. Ela vai atingir o máximo de satisfação quando comer 0 porções de comida alemã e as 5 do açaí.

Ou seja, como eu como as 5 porções de comida alemã e ela come as 5 do açaí, estamos numa situação eficiente de pareto, pois já estamos no máximo de satisfação de cada um de nós.

Se dessa situação eficiente (5 porções de comida alemã para mim e 5 açaís para ela), eu abrir mão de 1 porção de comida alemã para ela, eu fico com apenas 4. Ou seja, fiquei em situação pior. Como piorou, a situação anterior, 5 porções de comida alemã para mim e 5 açaís para ela, é eficiente.

Se nós estivéssemos em uma situação na qual eu tivesse 3 porções de comida alemã e ela 4 açaís, isto não seria eficiente. Como a economia produz 5 e 5, nós poderíamos aumentar a satisfação dos dois ao mesmo tempo. Basta que eu consumisse mais comida alemã e ela consumisse mais açaís. A situação 3 e 4, portanto, não é eficiente.

Uma terceira situação poderia ocorrer. Imagine que ela está consumindo 5 açaís, mas eu estou consumindo 4 comidas alemãs. Ela está plenamente satisfeita, mas eu ainda não. Como a Economia produz 5 porções de comida alemã e eu só estou consumindo 4, é possível melhorar a minha situação, sem piorar a dela.

Basta dar a outra porção de comida alemã para mim. Portanto, a situação 4 e 5 não é pareto-eficiente.

Ou seja, na segunda e terceira situações, é possível melhorar o bem estar de pelo menos um de nós sem piorar o de outro, o que nos diz que ainda não estamos sendo eficientes no sentido de Pareto. Já na primeira situação (5 comidas alemãs para mim e 5 açaís para ela), qualquer alteração piorará ou a minha situação ou a dela. Por isso, 5 comidas alemãs para o Jetro e 5 açaís para a esposa dele é uma situação eficiente no sentido de Pareto (é o ponto ótimo, o chamado ótimo de Pareto).

Portanto, teremos eficiência no sentido de Pareto quando for impossível melhorar a situação de um sem piorar a de outro.

O mercado de concorrência perfeita dadas as suas condições (número infinito de ofertantes e demandantes, produto homogêneo e transparência perfeita de informações) permite que seja sempre atingido o ótimo de Pareto.

No entanto, essas condições do mercado de concorrência perfeita são condições ideais, teóricas, difíceis de serem verificadas na prática. O mais comum é que não tenhamos tantos ofertantes ou que não haja transparência de informações, por exemplo.

Seja como for, quando houver uma situação que impeça que o mercado atinja o ótimo de Pareto, essa situação será uma falha de mercado. Ou seja, sempre que um mercado não for eficiente no sentido de Pareto é porque estamos diante de uma falha de mercado que impede a eficiência de ser atingida.

(12)

Seja porque o mercado não se interessa em oferecer um bem, porque há assimetria nas informações, porque o mercado não quer assumir os riscos, as falhas de mercado impedem o mercado de atingir a eficiência econômica4.

Vamos, então, dar uma olhada nas falhas de mercado. Veremos: falhas na competição, assimetria de informação, externalidades, bens públicos, mercados incompletos e existência de desemprego e inflação.

Falhas na Competição

A existência de um número infinito de produtores e consumidores é um pressuposto da concorrência perfeita, mas que é muito difícil de ser encontrada na realidade. O mais comum é que tenhamos monopólios e oligopólios.

No caso do monopólio, temos apenas 1 ofertante (mono = 1). Ou seja, ou você comprar o produto desse cara ou não compra de ninguém. É o caso da Petrobrás (monopólio do setor de óleo e gás) e da B3 (nossa bolsa de valores. Aqui no Brasil, só temos uma).

Já o oligopólio ocorre quando temos poucos ofertantes, geralmente 4 ou 5 (oligo = poucos). No caso dos oligopólios, um número pequeno de firmas domina toda a produção e oferta do mercado. Aqui no Brasil, há oligopólios no setor de telecomunicações (apenas 4 empresas) e no setor de aviação (também poucas empresas).

O fato de termos monopólios e oligopólios no mercado representam falhas à competição. Isso porque, na presença de monopólios e oligopólios, temos apenas um ou poucos ofertantes. Nessas situações, não há competição (monopólio) ou há uma competição imperfeita (oligopólios). Seja como for, a consequência de termos falhas na competição é que teremos preços maiores e quantidades ofertadas menores que na concorrência perfeita.

É fácil entendermos o porquê. Se você fosse o único da sua região a vender um determinado produto, iria vendê-lo mais caro ou mais barato? Ora, se só tem você vendendo, você poderia cobrar um preço altíssimo!

Agora, se entrassem muitos concorrentes no mercado, aí o jeito é baixar o preço (fazer promoção) para atrair os clientes.

Assim, os monopólios e nos oligopólios representam falhas na competição, pois é fácil uma ou poucas empresas dominarem o mercado. Quando isso acontece, dizemos que essas firmas possuem poder de mercado. É que, como essas firmas dominam o mercado, elas possuem poder de influenciar o preço: o poder de mercado.

Para essa situação, o governo deve intervir no mercado para evitar que o poder de mercado das firmas seja muito grande. O governo pode fazer estimulando a competição entre as empresas, por exemplo.

4 Existem também as “falhas de governo”. Mas como estamos estudando para sermos servidores públicos, a gente só olha para as falhas dos outros: as falhas de mercado! sauhsausahusahusa

(13)

Uma situação, porém, é muito peculiar e deve ser ressaltada: o caso do monopólio natural. Assim como as empresas de distribuição de energia elétrica e de saneamento no seu estado, temos apenas uma empresa de metrô por cidade. São várias linhas, mas apenas uma empresa opera. Porque acontece isso?

Nesses 3 setores, a produção de bens apresenta economias de escala para níveis de produção. Economias de escala é a situação na qual nós aumentamos a produção e o custo diminui. Este é o caso das empresas que têm altos custos fixos e baixos custos marginais.

Vamos pensar no metrô. Para que o metrô esteja em operação, são necessários GIGANTESCOS custos fixos. Custos para cavar no subterrâneo, retirar a terra, colocar a iluminação, os trilhos, comprar os trens, construir as plataformas, etc. Os custos são enormes e a gente nem transportou nenhum passageiro ainda.

Ou seja, antes do metrô entrar em operação, são necessários imensos custos fixos. Só que, depois que esses custos das instalações já foram realizados, os custos marginais são baixos. Depois que o metrô já está construído, o custo marginal de levar 1 passageiro a mais é muito baixo (quase 0). Uma vez instalado o metrô, o custo de levar 50.000 passageiros ou levar 80.000 é o mesmo. Custo fixo alto, custo marginal baixo.

Com a distribuição de energia elétrica, é a mesma coisa. Altos custos fixos para instalar os postes, a rede, o cabeamento todo. Mas, depois que essa estrutura toda já está instalada, tanto faz levar energia elétrica para 10.000 ou para 20.000 casas, pois o custo marginal é muito baixo. O pesado mesmo é arcar com os altos custos fixos incorridos para a infraestrutura.

Quando temos essas características, estamos diante de um monopólio natural. Neste caso, é melhor ter apenas 1 empresa produzindo mesmo (transportando passageiros ou distribuindo energia elétrica, por exemplo). Isto porque se apenas 1 empresa fizer isso, ela conseguirá produzir a um custo menor.

Geralmente, as empresas sob monopólio natural prestam esse serviço mediante regime de concessão ou permissão (que você estuda lá no Direito Administrativo) e são reguladas pelo governo.

Mesmo assim, o fato de termos apenas uma empresa prestando o serviço faz com que nós estejamos na presença de uma falha de mercado (pois o monopolista natural também tem poder de mercado, já que não há competição).

Assim, para o caso do monopólio natural, o governo pode intervir para que o monopolista natural tenha um menor poder de mercado. Uma outra opção, é o governo assumir diretamente a produção do mercado caracterizado por ser um monopólio natural.

No monopólio natural, temos economias de escala, altos custos fixos e baixos custos marginais (próximos de 0).

Assimetria de Informação

Um outro pressuposto da concorrência perfeita é que existe perfeita transparência de informações. Na vida real, no entanto, não é bem assim: há assimetria de informações, isto é, uma das partes (comprador ou vendedor) tem mais informações sobre o produto que a outra parte.

(14)

Meu nome é Jetro Coutinho. E “Coutinho” tem uma certa ascendência portuguesa. Imagine, portanto, que meu ancestral, seu Manoel, quer abrir uma padaria. Pergunto: Quem toma conta da padaria do seu Manoel? Resposta: o próprio seu Manoel.

Agora, vamos supor que a padaria do seu Manoel dê muito certo e ele queira abri uma segunda padaria.

Pergunto: Quem que ele vai chamar para tomar conta da segunda padaria? Provavelmente sua esposa.

Uma terceira padaria seria comandada por um de seus filhos e uma quarta padaria seria comandada por outro filho. Na quinta, é hora de a gente chamar o cunhado, que não é mais família! Kkkkkkkkk

Mas, concorda comigo que, se o negócio der muito certo, vai chegar uma hora que o seu Manoel não vai ter mais parentes nem familiares para tocar o negócio? Vai chegar uma hora que ele vai ter que contratar alguém no mercado para gerenciar uma de suas padarias. Neste momento, um outro problema começa a se formar.

Para abrir a sua 10ª padaria, o seu Manoel contrata o José, executivo do mercado. Só que, como é a 10ª padaria, provavelmente não estamos mais no mesmo bairro e talvez nem na mesma cidade. Se estivermos em um país territorialmente pequeno, como Portugal, talvez já estejamos em outro país.

O fato é que, ao longo do tempo, o José começa a conhecer mais do negócio de padarias do que o seu Manoel. Como essa 10ª padaria já está em outra localidade, com o passar do tempo, o José começa a conhecer o gosto local dos consumidores, os melhores fornecedores, começa a conhecer quais são as épocas de melhor e pior venda, os tipos de pães que mais saem, etc. Ou seja, José passa a conhecer muito do negócio do seu Manoel.

Por outro lado, o seu Manoel não tem nem ideia dessas coisas... Neste momento, temos instalada uma assimetria de informações. Isso porque o José, que é contratado, passa a conhecer mais da padaria do que o dono do Negócio, o seu Manoel. Nessa situação, José pode começar a tomar algumas atitudes em benefício próprio e não em benefício do seu Manoel. José pode, por exemplo, começar a usar ingredientes mais baratos no pão, o que aumenta o lucro da padaria de José, mas faz com que os pães percam qualidade e a marca do seu Manoel saia prejudicada.

José tem seu interesse próprio (de aumentar o lucro da padaria), mas Manoel tem outro interesse (o de manter a qualidade e reputação de sua marca). Quando esses interesses entram em rota de colisão, nós temos o chamado conflito de interesses. E este conflito só ocorre porque há assimetria de informações.

Mas o que faríamos? O seu Manoel tem uma rede de padarias para cuidar, não dá para ficar de olho no José o tempo inteiro. Como garantir que José vai atuar no interesse do seu Manoel?

Uma das respostas a essa problemática é a auditoria (chamar um terceiro, independente, para verificar se a atuação de José está de acordo com o que o seu Manoel espera).

Bom, mas como estamos tratando de falhas de mercado, deixemos a auditoria para lá. Essa situação que descrevemos para vocês é a chamada Teoria da agência (ou Problema de Agência).

A teoria da agência vai dizer que o dono do negócio (chamado de Principal. No caso do exemplo é o seu Manoel) vai delegar a gestão do seu negócio para um contratado (chamado de agente). A questão é que o Principal tem seus interesses e o Agente tem seus próprios interesses. Ao longo do tempo, como a ação do agente é não observável (isto é, o principal não consegue ficar de olho no agente o tempo inteiro: seu Manoel

(15)

não consegue viver apenas para fiscalizar José). Pode haver um conflito de interesses, causado pela assimetria de informação, já que o agente passa a conhecer mais do negócio do que o principal.

Olhe só a figura abaixo:

A Teoria de Agência é muito famosa e é objeto de estudos de vários artigos científicos. Isso porque a teoria da agência perpassa todas as relações humanas (você votou em um deputado, portanto, você é o principal. Como você garante que ele, agente, está agindo no seu interesse e não no dele próprio? Outro exemplo: você contratou um advogado para te defender em um processo. Como você garante que ele, agente, está agindo no seu interesse e não no dele próprio? Tudo isso envolve a teoria de agência).

O ponto principal aqui é que a assimetria de informação é a base da teoria da agência. Essa assimetria de informações causa diversos problemas nas relações pessoais (e também nos mercados).

Podemos dividir os problemas de assimetria de informação em três: Seleção Adversa, Perigo Moral (Moral Hazard) e Comportamento de Manada (Herding Behavior).

Seleção Adversa

Imagine que um concurseiro acabou de passar em um concurso. Depois de algum tempo, ele deseja comprar um carro e, por algum motivo, resolve comprar um carro usado. Nosso ex-concurseiro, então, vai até uma loja de carros usados, vê um carro que o interessa e resolve falar com um vendedor. O que o vendedor vai dizer? É óbvio que ele vai dizer que o carro que o ex-concurseiro está de olho é muito bom, que nunca foi batido, que era carro de madame, que as revisões foram todas feitas em dia, que as peças ainda são as originais e etc.

Mas eu pergunto: Quem tem as informações sobre o REAL estado do carro: nosso amigo recém aprovado ou o vendedor? É claro que é o vendedor. Ou seja, antes mesmo do ex-concurseiro pisar na loja, já existe um problema: o vendedor sabe mais sobre o carro a ser negociado do que o concurseiro. Em outras palavras, existe assimetria de informações.

(16)

Pensando do ponto de vista do vendedor, ele vai dizer que todos os carros (os bons e os maus) são ótimos, quando na verdade, nem todos realmente são bons carros. Se o vendedor vender um carro ruim ao preço de um carro ruim, ele não lucra muito. Se o vendedor vender um carro bom ao preço de um carro bom, ele também não lucra muito. Agora, se o vendedor conseguir um carro ruim ao preço de um carro bom, aí sim ele irá lucrar para caramba!

Pensando ainda do ponto de vista do vendedor, compensa mais vender carros bons ou carros ruins? Do ponto de vista do vendedor, compensa mais vender APENAS carros ruins, pois, se ele conseguir vender esses carros pelo preço que cobraria em um carro bom, ele irá maximizar seu próprio lucro. Essa é a seleção adversa:

apenas carros ruins (adversos) serão selecionados para as transações.

A ideia é que, como o vendedor possui uma assimetria de informação em relação ao nosso ex- concurseiro (ele sabe os carros bons e os ruins e você não sabe), ele irá tentar vender apenas carros ruins pelo preço de um carro bom. Como o vendedor seleciona apenas carros ruins, temos a seleção adversa: o ex- concurseiro sempre estará levando um carro ruim para casa, independentemente do preço que pagou.

A seleção adversa só existe porque há uma assimetria de informação entre o concurseiro e o vendedor5, esse exemplo do mercado de carros usados é clássico! Repare que, neste exemplo, antes do ex-concurseiro acertar a compra com o vendedor, já existe assimetria de informação (ele já sabe mais do que você sobre o carro). Por isso, dizemos que a seleção adversa é um problema pré-contratual.

Um outro exemplo bastante citado pela literatura econômica é o mercado de crédito, isto é, das instituições financeiras que emprestam recursos. Um banco empresta dinheiro e espera receber esse dinheiro, com juros, no futuro. Do ponto de vista do banco, ele preferiria só emprestar dinheiro aos bons pagadores, pois aí o banco não teria problema e poderia até baixar a taxa de juros e cobrar mais barato pelo empréstimo, já que terá segurança que receberá o dinheiro.

O problema é que existem os maus pagadores. E, antes de fechar o contrato, o banco não sabe se a pessoa em questão será um bom ou mau pagador. Como o banco não sabe (existe uma assimetria de informação), ele cobra mais caro de todo mundo (tanto do bom quanto do mau pagador), pois, fazendo assim, o banco se protege. Como o banco cobra mais caro de todo mundo, ele faz com que os bons pagadores fiquem afugentados do mercado (pois se recusam a pagar tão caro por um empréstimo) e apenas os maus pagadores se sujeitam a essa situação. Daí a seleção adversa no mercado de crédito.

Repare que antes de fechar o contrato de empréstimo, já existe assimetria de informação (o banco não sabe se está diante de um bom ou mau pagador). Estamos diante de um problema de seleção adversa.

Um último exemplo. Uma empresa quer atrair investidores para o seu negócio. O investidor não quer investir numa empresa ruim das pernas, pois quer que seu investimento traga retorno no futuro. Mas quem sabe mais da situação financeira da empresa: a própria empresa ou o investidor? Com certeza é a própria

5 Para tentar mitigar esse problema, você pode chamar um mecânico para ir junto com você avaliar o carro usado. Mas aí teremos um problema de agência: quem garante que o mecânico está agindo no seu interesse e não no dele próprio?

(17)

empresa. Daí a seleção adversa, pois estamos diante de um problema pré-contratual (antes de fecharem o negócio pelo investimento, o investidor já possui menos informação acerca da empresa).

A seleção adversa é um problema pré-contratual. Exemplos: Mercado de Carros Usados, Mercado de Crédito.

No problema de seleção adversa, o Governo pode obrigar as partes que detêm mais informação a publicá-las. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) obriga todas as empresas de capital aberto a publicarem suas demonstrações contábeis, para que os investidores possam tomar pé da situação financeira da empresa.

No caso do mercado de crédito, o governo pode criar um cadastro de bons pagadores. Assim, sempre que o banco estiver diante de um cliente que esteja no referido cadastro, o banco saberá que está diante de um bom pagador e pode baixar a taxa do empréstimo para esse cliente. De forma semelhante, se a pessoa não estiver no cadastro, o banco já sabe que se trata de um mau pagador e pode aumentar a taxa do empréstimo.

Perigo Moral (Moral Hazard)

Ciente de que o mercado de carros usados é um exemplo de seleção adversa, nosso amigo ex- concurseiro desiste de comprar o carro usado e vai comprar um carro 0 km. Depois de comprar o carro, vai até a uma seguradora para contratar um seguro.

Lá na seguradora, o ex-concurseiro tem que responder várias perguntas: quanto tempo ele tem de carteira, se ele tem garagem em casa e no trabalho, se já se envolveu em acidentes anteriores e etc.

Com base nessas informações, a seguradora calcula quanto ficará o seguro. Nosso ex-concurseiro, então, assina o contrato de seguro e vai para casa, pega a esposa, e vão jantar num lugar bacana. Na volta, ele para o carro dentro da garagem.

Um mês depois, o ex-concurseiro chega em casa, de carro, só para pegar um documento e já sair. No entanto, recebe uma mensagem dizendo que o documento pode ser entregue amanhã. Ele, então, prefere ficar em casa e ir ver um filme. Quando o filme acaba, já é tarde da noite. Ele lembra que o carro está fora da garagem, mas pensa: “ah, o carro tem seguro. Vou direto pra cama”. E aí, a partir daí, isso virou um hábito e o carro sempre “dorme” fora da garagem...

O que nós acabamos de descrever é nada mais, nada menos que o risco moral (também chamado de Moral Hazard). Diferentemente da seleção adversa, que é um problema pré-contratual, o risco moral é um problema pós-contratual. Ou seja, é um problema de assimetria de informação que ocorre depois que a transação econômica já foi fechada.

Neste nosso exemplo, o ex-concurseiro se comprometeu com a seguradora que o carro dormiria na garagem, mas, depois de ter o carro segurado, ele alterou seu comportamento e passou a se comportar de forma diferente: deixando o carro de fora da garagem.

Certamente, como com o carro fora da garagem aumenta o risco de acontecer alguma coisa, a seguradora iria aumentar o valor do seguro caso soubesse que o seu cliente estaria sendo negligente. No entanto, como a ação do cliente é não observável (isto é, a seguradora não consegue ter a garantia que o cliente

(18)

vai se comportar da mesma forma que ele declarou que faria), há uma assimetria de informação, causada pela mudança no comportamento do cliente. Esse é o problema do Moral Hazard: um problema de assimetria de informação pós-contratual.

Para evitar que o cliente seja muito displicente demais só porque tem um seguro, as seguradoras começaram a cobrar franquias, pois assim, em caso de acontecer alguma coisa com o carro (os denominados

“sinistros”), o cliente também arca com uma parte do prejuízo.

Além do mercado de seguros, o mercado de trabalho também apresenta altas possibilidades de risco moral. Isso porque, após a contratação de um empregado por parte de uma empresa, este empregado pode fazer “corpo mole” no trabalho, o que caracteriza o risco moral. Para mitigar esse risco, as empresas podem oferecer altos salários ou instituir salários de eficiência. No primeiro caso (altos salários), a idéia é que se o empregado ganhar um bom salário, fizer corpo mole e for demitido, ele irá sentir muita falta do salário (é melhor ficar sem um salário de R$ 2.000,00 do que ficar sem um salário de R$ 10.000,00). No segundo caso (salário de eficiência), a empresa estipula uma parte do salário vinculada ao desempenho do empregado, fazendo com que ele não fique acomodado.

O risco moral (Moral Hazard) é um problema pós-contratual. Exemplos: Mercado de Seguros, Mercado de Trabalho.

Comportamento de Manada (Herding Behavior)

Imagine que você seja um acionista de uma grande empresa e você pagou cerca de R$ 20,00 por cada ação dessa empresa. Você se prepara para comprar mais ações e, de repente, você percebe que o preço da ação está subindo muito rápido! O preço está em 21, 22, 23 por ação e não para de subir. Você, então, pensa que a sua empresa fez alguma grande descoberta e que, por isso, os investidores estão mais empolgados com ela, o que fez o preço subir.

Você não quer ficar para trás e quer participar da festa. Querendo agir rápido para não perder a oportunidade, você faz compras de 50.000 ações a 27 reais cada uma. Um pouco depois que você compra, o preço desacelera. E, para seu desespero, começa a cair. O preço da ação cai para 26, 25, 24, 22, 21. Você pensa que 20 reais é o piso, pois era o preço antes dessa zona toda acontecer. Mas aí, você percebe que o preço da ação continua caindo: 20, 19, 18, 17 e para nos R$ 16,00. Você vai pra casa, chocado, não querendo nem calcular o tamanho do prejú que acabou de tomar.

O que acabamos de descrever é o comportamento de manada (Herding Behavior). O comportamento de manada ocorre quando as pessoas seguem um determinado comportamento sem saber exatamente o porquê.

Neste nosso exemplo, o investidor simplesmente assumiu (sem base alguma) que a empresa tinha feito uma grande descoberta. Ao ver o preço da ação subindo, ele supôs que isso estaria acontecendo por causa da descoberta, mas ele não foi checar para ver se essa informação era verdadeira. Ao comprar a ação simplesmente porque todo mundo tava comprando também, nosso investidor seguiu a manada. É o típico

“maria-vai-com-as-outras”.

(19)

Ao que parece, o que aconteceu pode ter sido apenas a ação de um grande fundo de investimento que começou a comprar ações, atraindo mais compradores, para o preço da ação subir. Mas aí, quando o preço da ação chegou em um nível adequado, o fundo simplesmente começou a vender, que era sua intenção desde o início. Quem seguiu a manada, ficou com o prejú.

Nessa situação, a assimetria de informações entre o grande fundo de investimento e os demais investidores prejudica o fluxo de informações, o que faz com que o comportamento de manada seja mais um problema informacional (problema de assimetria de informações).

Comportamento de Manada (Herding Behavior): Pessoas seguem um determinado comportamento sem saber o exatamente o porquê.

Até agora, vimos falhas de mercado que representam algum mal funcionamento do mercado. Mas e se o sistema de mercado via mecanismo de preços não puder nem oferecer os bens de forma satisfatória? Ou seja, se o sistema de mercado simplesmente não for a melhor forma de oferecer determinados tipos de bens?

Vamos, então, estudar duas falhas de mercado que demonstram exatamente essa situação: as externalidades e a existência de bens públicos.

Externalidades

Ocorre a presença de externalidades quando a ação de indivíduo (pode ser na produção ou no consumo) gera custos ou benefícios que não estão precificadas. Dizemos, neste caso, que a produção ou o consumo de algo gerou custos ou benefícios externos.

Se a ação de um indivíduo ou de uma empresa gerar custos externos, temos uma externalidade negativa. Mas se ela gerar benefícios externos, temos uma externalidade positiva.

Um exemplo clássico de externalidade negativa – e que as bancas cobram muito! – é a poluição. Imagine que uma fábrica à margem de um lago despeja seus efluentes nesta água, onde vários pescadores da região atuam. Quanto mais esta fábrica poluir o lago, maior será o dano que causa aos pescadores, mas este dano não compõe o custo da fábrica, de forma que ela não leva em conta o quanto polui o lago. Ou seja, a ação da fábrica tem um impacto externo, sobre terceiros: os pescadores do lado.

Note, neste caso, que a fábrica tem os seus custos privados do seu processo produtivo natural, para ela produzir o seu produto, mas ela gera também um custo externo (um custo para os pescadores). Mas quando ela decide o quanto produz, ela não leva em conta este custo externo que a poluição impõe aos pescadores.

Como este custo externo da fábrica não é levado em consideração, ela produz uma quantidade gigantesca de produtos, o que acaba por poluir ainda mais o lago.

Por isso, a presença de externalidades negativas gera ineficiência no resultado de mercado. Ao decidir o quanto produzir, a empresa considera os custos e benefícios privados (somente os custos e benefícios dela mesma). Mas como há um custo externo, o custo para os pescadores, acaba que o custo social é superior ao benefício social. Ou seja, o prejuízo para a população que decorre da produção é muito maior do que o que a sociedade ganha pela produção da empresa.

(20)

Ou seja, uma ação privada, da empresa, acaba por impactar toda a sociedade. Mas quando a empresa vai decidir o quanto vai produzir, ela só pensa nela mesma (custo privado) e nào na sociedade (custo social). Aí, como a empresa não leva em conta o custo social gerado, ela acaba produzindo mais do que o que seria aceito socialmente. Ou seja, a produção se dá em nível superior ao nível socialmente ótimo.

Custo Social (Cs) = Custo Privado (Cp) + Custo Externo (Ce)

Benefício Social (Bs) = Benefício Privado (Bp) + Benefício Externo (Be)

Lembre simplesmente por que essa ineficiência ocorre: a ação da fábrica não é considerada nos preços de mercado! Isso porque é meio difícil quantificar o quanto que a ação da empresa impacta nos pescadores. Os custos privados são mensuráveis (a empresa consegue medir o quanto que custa produzir e por quanto ela vende cada produto), mas o custo social, o impacto da empresa nos pescadores, não é facilmente mensurável e, portanto, escapa ao mecanismo de preços. Essa é a essência do conceito da falha de mercado chamada externalidade.

Mas tem uma coisa muito interessante aqui. Também existem externalidades positivas. Neste caso, uma ação gera um BENEFÍCIO a terceiros!

“Ah, professores! Mas então isso não é uma falha de mercado; é uma coisa boa!”

Não mesmo! É uma falha tanto quanto uma externalidade negativa.

Ocorrem externalidades positivas quando, por exemplo, uma pessoa cultiva um jardim num condomínio, onde residem vários condôminos. Repare que esta ação gera um benefício aos vizinhos, mas tal benefício externo não é levado em conta na decisão de cultivo. Ou seja, quem cultiva o faz para por algum motivo altruísta, pois, para cultivar, a pessoa terá que um custo: terá que abrir mão do seu tempo, comprar ferramentas, comprar as flores do jardim, etc. Só que ele arca com esse custo SOZINHO. Mesmo assim, os custos que este agente incorre para cultivar o jardim acabam beneficiando todos os outros vizinhos, mesmo sem que estes tenham arcado com os custos da cultivação. Quem planta o jardim, o faz para obter um benefício privado (talvez a pessoa goste muito de jardim), mas sua ação beneficia toda a sociedade, o que faz com que o beneficio social seja maior que o privado.

Outro exemplo de externalidades positivas é a vacinação. Ao decidir tomar uma vacina que protege de uma doença contagiosa, esta minha ação protege a mim, claro, mas também reduz o risco de eu transmitir essa doença às pessoas no trabalho, no metrô, na vizinhança, etc. Mas isso talvez não seja levado em conta na minha decisão, afinal, o custo de pagar pela vacina é apenas meu, certo?

Portanto, quando há externalidades positivas, a ação gera um benefício externo que faz com que o benefício social supere o benefício privado. No entanto, é difícil acharmos pessoas dispostas a arcarem com os custos sozinhas, em benefício das outras pessoas, razão pela qual a ação que gera externalidades positivas é realizada em nível inferior ao socialmente ótimo.

Ou seja, enquanto as externalidades negativas existem em nível superior ao socialmente ótimo, as externalidades positivas existem em um nível inferior ao socialmente. Daí, segue que as externalidades positivas devem ser incentivadas (pois existem em um nível inferior ao socialmente ótimo e, por isso, devem crescer) e externalidades negativas devem ser combatidas (pois existem em um nível superior ao socialmente

(21)

ótimo e, por isso, devem diminuir). Dizemos, portanto, que tanto as externalidades positivas quanto as negativas são ineficientes (a positiva porque é abaixo do necessário e a negativa porque é acima do necessário).

Externalidades Negativas geram um custo social superior ao custo privado, fazendo com que o mercado produza uma quantidade SUPERIOR à quantidade socialmente ótima.

Externalidades Positivas geram um benefício social superior ao benefício privado, fazendo com que o mercado produza uma quantidade INFERIOR à quantidade socialmente ótima

As externalidades se fazem muito presentes quando temos um recurso comum, aquela situação em que o bem é de todos. E nós sabemos, muitas vezes ser de todos significa ser de ninguém. A teoria microeconômica chama esta situação de “Tragédia dos Comuns”.

Voltemos ao nosso exemplo do lago com os pescadores da região, mas esqueçamos um pouco da questão da fábrica que o polui. Vamos ficar apenas com os pescadores atuando numa água bem limpinha mesmo.

Cada pescador tem o custo de seu equipamento, de seu tempo ali despendido para pescar o máximo de peixes que puder, certo? Portanto, os custos privados do pescador parecem claros: o caniço, a linha, a isca, o anzol e, claro, o tempo da pescaria. Sem uso de rede, tá bem? É pescador “raiz” mesmo! Kkkkk

Pois bem: é razoável supormos que este pescador vai tentar garantir o máximo de peixes que puder, afinal o lago também é dele e não faz sentido deixar peixes para os demais. Os outros também farão o mesmo.

Quando o pescador está otimizando seu lucro, no entanto, ele está gerando um custo externo, já que a capacidade do lago está diminuindo e, dado que os incentivos de cada um os levarão a atuar tentando pegar o máximo de peixes,, rapidinho este lago já não terá peixes.

Note que não faz sentido que um pescador se preocupe em poupar na pescaria, já que os outros não farão isso. Por isso, quando o recurso é de propriedade comum (qualquer pessoa tem livre acesso), não raras as vezes aparecerá o problema da Tragédia dos Comuns, quando os indivíduos, perseguindo seu próprio interesse, esgotam o recurso.

É o que acontece com quase tudo que é “de propriedade pública”. Como o que é público é de todo mundo, essas coisas, na verdade, “não são de ninguém”. E, por isso, o que é público fica sempre mal cuidado.

Imagine um hospital particular. Este hospital tem um dono. E o dono, justamente por ser o proprietário do hospital, cuida bem dele: escolhe bem os funcionários, realiza as manutenções, contrata as pessoas para limpar o lugar e, se precisar, até ele mesmo mete a mão na massa. Agora, pense num hospital público. Quem é o dono do hospital? Em tese, todos os cidadãos. Mas qual desse cidadãos realizaria as manutenções em prol do hospital? Qual desses cidadãos ajudaria a limpar o hospital caso necessário? Muito poucos seriam voluntários a fazê-lo. No entanto, se qualquer um desses cidadãos se tornasse dono de um hospital particular, sua postura mudaria, pois, afinal agora ele é dono.

O que a tragédia dos comuns diz é exatamente isso. Quando não temos direitos de propriedade bem definidos (quando não sabemos quem é o dono), aquilo que é de uso comum, uso público, se deteriora. Essa é a razão pela qual uma pessoa joga um chiclete no chão do metrô, mas não o faz no seu próprio carro.

(22)

Mas não pense que os economistas ficaram para trás e não deram um jeito nisso. Há formas de atenuar o problema das externalidades! E uma delas é exatamente acabar com esta história de propriedade comum.

Vamos vê-las!

O Teorema de Coase e os Direitos de Propriedade

Ronald Coase foi um economista britânico que ganhou o prêmio Nobel de 1991 exatamente por seu trabalho em cima das questões relativas a externalidades e direitos de propriedade. Seu trabalho nesta área foi tão relevante para a nossa ciência que uma das formas de se resolver o problema da externalidade leva o seu nome: Teorema de Coase!

O Teorema nos diz que se não houver custos de transação, a simples definição dos direitos de propriedade leva o mercado a um resultado eficiente. Ou seja, se os direitos de propriedade forem bem definidos e não houver custos de transação, a livre negociação entre as partes levará a um resultado socialmente ótimo.

Teorema de Coase: quando as partes envolvidas puderem negociar sem custo, visando ao benefício mútuo, o resultado será eficiente, independentemente de como estejam alocados os direitos de propriedade.

Voltando à questão da empresa que polui o lago usado pelos pescadores. A poluição do lago pela fábrica gerava uma produção acima daquela socialmente ótima por gerar um custo aos pescadores não internalizado pela fábrica.

Vamos aplicar o Teorema de Coase. Assumindo que não há custos de transação, ou seja, que a fábrica e os pescadores têm total conhecimento dos custos envolvidos, da poluição e de todo o resto, vamos definir os direitos de propriedade. Segundo o Teorema, isso resolve o problema.

Se ficar definido que o lago é dos pescadores, então a fábrica não poderá despejar efluentes nele sem a concordância dos pescadores. E para obter esta concordância, terá que remunerá-los (terá que pagar os pescadores). Então, se ela terá que remunerá-los de acordo com o que polui, a fábrica será levada a diminuir a poluição, investindo em um filtro e/ou pagando o tratamento da água. Já podemos notar que a poluição diminui, já que, agora, a fábrica possuirá um custo sempre que poluir (custo privado).

Por outro lado, o equilíbrio também será socialmente eficiente se for definido que o direito de propriedade é da fábrica, desde que não haja custos de transação, claro. Por mais que possa parecer estranho, ao se estabelecer que o lago é da empresa, esta terá o direito de poluí-lo (vamos simplificar as questões ambientais aqui).

Pois bem, neste caso, os pescadores terão interesse em bancar o uso do filtro no processo produtivo da empresa ou mesmo pagar o tratamento da água limpa, pois, se não o fizerem, não haverá mais peixes no lago e eles ficarão sem trabalho. Neste caso, é melhor os pescadores se juntarem e bancarem o filtro para a empresa.

Como a fábrica será reembolsada do custo que incorrerá no controle da poluição, não haverá problemas para ela. O importante é notar que a poluição diminui e a interação entre os envolvidos levará a um

(23)

equilíbrio social ótimo. Isso só é possível porque definimos quem é o “dono” do rio. Se forem os pescadores, a firma terá que pagar os pescadores para poluir o rio e, por isso, se poluir, terá um custo ( e este custo desincentiva a poluição). Se o “dono” for a empresa, os próprios pescadores se reunirão para bancar o filtro e diminuir a poluição (neste caso, a poluição também diminui por causa do filtro comprado pelos pescadores).

Mas agora suponha que é impossível definir de quem é o lago, ou mesmo suponha que haja inúmeras empresas poluidoras e um número muito grande de pescadores e outros usuários da água. Neste caso, você concorda que fica bem difícil do pessoal se entender e ajustar indenizações e custos para lá e para cá?

Organizar o tanto de pescadores e de empresas poluidoras, conciliar os milhares de interesses envolvidos e chegar a um consenso do que todos considerariam justo é uma tarefa hercúlea. Nesta situação, as partes não conseguem negociar livremente, pois, como há muitos atores envolvidos, temos altos custos de transação. Custos de transação nada mais são que os custos para negociar e garantir o cumprimento do que foi combinado na negociação (cumprimento do contrato).

No caso de termos inúmeras empresas poluidoras e um número muito grande de pescadores, o Teorema de Coase está afastado simplesmente porque há pesados custos de transação envolvidos. Estes custos é impossível as partes consigam negociar livremente.

Quando não temos custos de transação, segundo o Teorema de Coase bastaria distribuirmos o direito de propriedade (definir quem é o responsável). Quando temos custos de transação, aí o Teorema de Coase não se aplica e, neste caso, precisamos partir para uma intervenção governamental mais forte. A teoria microeconômica trabalha principalmente com duas ideias neste caso: a taxação da produção poluidora ou as licenças negociáveis para poluir.

Taxa sobre emissão de poluentes

A taxa sobre a emissão de poluentes é também conhecida (e muito cobrada pelas bancas) como Imposto de Pigou, ou mesmo tributo de Pigou. O nome se deve ao economista britânico, Arthur Cecil Pigou que foi o pioneiro no estudo microeconômico da poluição.

Pigou argumenta que é possível corrigir externalidades negativas, diminuindo o custo social (o prejuízo à sociedade) e aumentando o custo privado (de quem polui, por exemplo). A ideia de Pigou era impor ao poluidor um tributo a mais por poluir. Ou seja, se o cara poluir, ele paga o tributo.

Com a imposição deste imposto por poluição, a empresa teria um incentivo para poluir menos, pois, caso poluísse menos, conseguiria deixar de pagar o tributo. Com menor poluição, a sociedade inteira seria beneficiada. A ideia de Pigou tem como base a demanda e a oferta.

Com o aumento de custos causado pela imposição de tributo, a oferta do poluidor seria diminuída, o que faria com que sua quantidade ofertada (sua produção) diminuísse, com menor oferta, menor poluição, o que viabilizaria o bem-estar da sociedade. Para Pigou, o Estado seria o agente mais eficaz para combater as externalidades, por meio da imposição tributária.

Essa ideia de Pigou ficou conhecida como “Pollute’s Pays Principle”, ou seja, Princípio do Poluidor Pagador (PPP). Este princípio estabelece que, por meio da cobrança de impostos, deveria haver a incorporação dos efeitos involuntários (externalidades) ao custo da empresa. Em outras palavras, ao determinar que o poluidor pague, o custo social (de toda a sociedade) é internalidade na empresa (pois a empresa paga um

(24)

tributo por poluir e causar o custo social externo. Como este tributo “dói no bolso”, temos uma internalização de custo para a empresa).

Uma das críticas a esse modelo, porém, é que a empresa pode repassar estes custos ao consumidor e continuar poluindo. Neste caso, é possível que o imposto adicional não surta o efeito desejado.

Por outro lado, não estranhe se você encontrar na prova o termo “subsídio de Pigou”. É simplesmente o que se poderia aplicar no caso de externalidades positivas. Enquanto o imposto de Pigou é algo que a empresa paga e o Estado recebe, o subsídio de Pigou é o contrário: o Estado paga e a empresa recebe. O Estado poderia instituir um subsídio de Pigou para incentivar externalidades positivas, por exemplo.

O subsídio nada mais é do que um tributo negativo. É o governo pagando para que alguém produza algo. Se a ideia do imposto de Pigou é fazer a empresa incorporar o custo que gera a terceiros, o subsídio de Pigou é fazer a empresa incorporar o benefício que gera a terceiros. É raro que a banca cobre subsídio em vez de cobrar imposto de Pigou, mas estejamos preparados.

Padrões de Emissão e Licenças Negociáveis

Uma outra forma de combater o problema da externalidade negativa causada por uma produção poluidora é simplesmente o governo estabelecer um padrão de emissão de poluentes. Neste caso, o governo vai estabelecer um limite para a poluição e, caso a empresa ultrapasse o limite estabelecido, pode sofrer multas e outras penalidades.

Derivando deste modelo, temos as licenças negociáveis, ou as permissões transferíveis para emissões.

Neste caso, o governo concede a cada empresa uma permissão para emitir determinada quantidade de poluentes.

A diferença das licenças negociáveis para os padrões de emissão é que as empresas podem negociar entre si este “direito a poluir”. Assim, uma empresa que consiga reduzir bastante a sua poluição de forma pouco custosa pode vender seu direito a poluir para uma empresa que não consiga reduzir a poluição que gera de forma sem incorrer em custos muito pesados.

Por exemplo, se uma empresa estiver autorizada a emitir 10.000m3 de Gás carbônico, mas só emitir 8.000, pode vender os 2.000 restantes para outra empresa. Esta é uma características das licenças negociáveis.

Bens Públicos

Imagine que você vá com 2 amigos ao McDonald`s comer hambúrguer. Para ter acesso ao hambúrgueres, vocês precisarão pagar por eles. Se vocês não pagarem por eles, você não comem. Quem não pagar pelo hambúrguer, está, portanto, excluído do consumo desse bem.

Essa é a característica da exclusividade: só quem paga pelo hambúrguer tem acesso a ele. Quem não paga, está excluído do consumo.

Mas não para por aí.

Após fazer o pedido, você esperam e os 4 hambúrgueres são colocados à disposição de vocês.

Se alguém comer 1 dos hambúrgueres, isso significa que haverá menos hambúrgueres para os outros comerem. Quando esse 1 hambúrguer for comido, isso prejudicará o consumo dos outros hambúrgueres pelos seus amigos, que agora terão menos hambúrgueres disponíveis para consumirem.

Referências

Documentos relacionados

Mas repare também que cada uma age num sentido sobre o preço. Desta forma, o movimento para o novo preço de equilíbrio dependerá da magnitude de cada deslocamento e até mesmo

As falhas de mercado representam situações nas quais o mercado privado não consegue atingir a eficiência econômica sozinho. Por isso, elas compõem justificativa

a) A elasticidade-preço da demanda é mais importante do que a elasticidade-preço da oferta na determinação do rateio da cunha fiscal, pois a reação do consumidor a um preço maior

Não é exclusivamente. O próprio comportamento das pessoas pode expandir os meios de pagamento. Basta que aumentem o percentual de seus recursos que mantêm como depósitos à vista,

As flutuações e a composição dos fluxos internacionais de capitais impactam muito nas diretrizes ou escolhas de política econômica em uma economia aberta. Se há

Note que o produto interno bruto pode ser identificado como o gasto total com bens e serviços realizado na economia.. Pois bem: necessariamente este gasto remunera pessoas,

Educação e saúde não são bens públicos exatamente porque são excludentes. É perfeitamente possível impedir um aluno que não pagou por isso de assistir uma aula ou ingressar numa

As falhas de mercado representam situações nas quais o mercado privado não consegue atingir a eficiência econômica sozinho. Por isso, elas compõem justificativa