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Balanço de Pagamentos. Economia e Finanças Públicas p/ CGDF Profs. Jetro Coutinho e Paulo Ferreira. 1 de 71

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Balanço de Pagamentos

Economia e Finanças Públicas p/ CGDF

Profs. Jetro Coutinho e Paulo Ferreira

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Sumário

SUMÁRIO ...2

BALANÇO DE PAGAMENTOS ... 4

FECHADA PARA BALANÇO?NÃO, NÃO.MELHOR SERIA ABERTA PARA BALANÇO!!! ... 4

Contabilização do BP ... 5

BALANÇO DE PAGAMENTOS SEGUNDO O BPM6 ... 10

Estrutura do BP ... 12

Saldo do BP ... 19

POLÍTICA CAMBIAL:TAXA DE CÂMBIO E TODO O RESTO ... 20

Oferta e Demanda de divisas... 23

O efeito da inflação no câmbio ... 27

O efeito do câmbio na inflação ... 29

Regimes Cambiais ... 30

QUESTÕES COMENTADAS PELOS PROFESSORES ... 36

LISTA DE QUESTÕES ... 59

GABARITO ... 68

RESUMO DIRECIONADO... 69

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Fala pessoal! Tudo bem com vocês?

Hoje, veremos como um país se relaciona com o resto do mundo. Estudaremos tanto o Balanço de Pagamentos quanto a política cambial de uma nação.

Vamos em frente que atrás vem gente.

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Balanço de Pagamentos

Fechada para Balanço? Não, não. Melhor seria aberta para Balanço!!!

Vimos aqui no curso como uma economia se comporta dependendo dos agentes econômicos que a compõem. Uma economia sem governo funciona de uma determinada maneira. Quando acrescentamos o governo na jogada, o comportamento econômico muda.

Uma mudança relevante que ocorre é quando a economia passa a ser aberta, isto é, a fazer transações com o resto do mundo. Com a abertura dos mercados mundiais causada pela globalização, cada vez mais os países comercializam seus produtos uns com os outros. O Brasil exporta minério para a China, que vende roupas e brinquedos para o Brasil. Já os EUA compram aço do Brasil e vendem medicamentos a rodo para o Brasil. Os países árabes compram a carne brasileira e exportam petróleo e combustíveis para a gente1.

Essas transações entre os países são muito numerosas, tanto em quantidade quanto em volume financeiro. Por isso, e também considerando que o comércio entre países deve ser benéfico para ambas as partes, os países procuram se inserir nessas transações internacionais, chamadas de fluxos comerciais internacionais.

Só que do ponto de vista dos economistas, é importante não só realizar essas transações, mas também registrá-las adequadamente. Isto permitirá que tenhamos uma visão melhor acerca de como funcionam essas transações.

Quando estamos falando dessas transações econômicas de um país como o resto do mundo (uma economia aberta, portanto), o instrumento utilizado para o registro é o chamado Balanço de Pagamentos (BP).

O BP serve para registrar todas as transações econômicas efetuadas entre residentes e não residentes de um país. Ou seja, ele é utilizado para registrar o total de dinheiro que entra e sai de um país em qualquer transação que este país tenha com o resto do mundo: seja uma exportação, uma importação, um investimento em um país do exterior ou uma mera prestação de serviços. Enfim, se ocorreu uma transação com o resto do mundo, o BP deve registrá-la.

Residentes x Não Residentes

O BP registra as transações econômicas de um país com o resto do mundo. Mas também pode acontecer de aparecer na prova que o BP registra as transações econômicas entre residentes e não residentes de um país.

De forma geral, entendemos que residente é aquele que mora em um lugar e não residente não mora. Hahaha

Mas, para a Economia, o conceito é um pouco diferente. É considerado “residente” aquele que tem o seu centro de interesse permanente no país. Portanto, se você for morar de forma definitiva no exterior mesmo sendo brasileiro, não

1 Sim, o tipo de petróleo que temos aqui não supre todas as necessidades brasileiras.

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será considerado residente aqui, pois o seu centro de interesse não está mais aqui no Brasil e, sim, no país do exterior onde você mora. No entanto, se você for a um país do exterior apenas como turista, você ainda é considerado residente brasileiro, pois seu cento de interesse permanente ainda está aqui.

Podem ser considerados residentes as pessoas que moram aqui, os turistas brasileiros que estão em viagem pelo mundo, os estudantes brasileiros que estão fazendo curso no exterior, mas que voltarão ao Brasil, etc.

Também são considerados residentes as empresas instaladas aqui no Brasil, mesmo que sejam filiais de empresas estrangeiras. Portanto, uma franquia do McDonald’s no Brasil é considerada residente, mesmo que o McDonald’s em si seja uma empresa americana.

Já os não residentes é o contrário. São os que tem seu centro de interesse permanente no exterior, como os turistas que vem ao Brasil apenas para visitar mesmo ou os estudantes de outros países que vem apenas passar o tempo da faculdade aqui, por exemplo.

Para que tenhamos uma base de comparação (possamos comparar as transações de um país com o resto do mundo com as transações de outro país com o resto do mundo), é necessário que os países utilizem a mesma metodologia.

Quem fornece a metodologia do Balanço de Pagamentos é o Fundo Monetário Internacional (FMI). De fato, o FMI tem ajudado diversos países a organizar as estatísticas econômicas oficiais por meio de diversos manuais lançados. Estes manuais representam diretrizes para que os diversos países do mundo tenham um mesmo sistema de estatísticas, para que possam registrar suas transações e divulgá-las ao mundo de maneira uniforme.

O FMI possui um manual específico para o Balanço de Pagamentos, chamado “Manual do Balanço de Pagamentos” (dããã), mais conhecido pela sigla em inglês BPM (Balance of Payments Manual).

Atualmente, o BPM está em sua 6ª edição (chamada de BPM6), publicada no ano de 2009. No entanto, é normal que os países demorem um pouco a adequar seu sistema de medição de transações à nova metodologia. No nosso caso aqui, somente em abril de 2015 foi que o Brasil começou a publicar os dados do BP de acordo com o BPM62.

Seja como for, o Manual do FMI serve para ajudar a estabelecer algumas convenções de como serão registradas as transações. Uma dessas convenções, por exemplo, é que o BP de um país deve estar expresso em dólares americanos (US$). Este tipo de convenção serve para permitir a comparação entre os diversos países do mundo.

Contabilização do BP

Uma das mudanças que o BPM6 trouxe em relação ao BPM5 (1993) foi uma maior integração com o Sistema de Contas Nacionais. Juntos, as Contas Nacionais e o BP formam uma verdadeira Contabilidade

2 Mas, para permitir a comparação, o BCB também publicou os BPs de anos anteriores já com base no BPM6.

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Nacional, ou seja, o registro das transações totais de um país (Contas nacionais) e os registros das transações feitas exclusivamente entre residentes e não residentes (BP).

Como a ideia é registrar as transações, o BP utiliza o mesmo esquema da contabilidade: o método das partidas dobradas, atribuindo um débito e um crédito para cada transação. Só que a forma de registro é um pouco diferente.

Se entrou dinheiro no país, teremos um Crédito.

Se saiu dinheiro do país, teremos um Débito.

Mole, mole.

Se você ainda não sabe o que é débito e crédito, veja o quadro abaixo, adaptado do curso de Contabilidade Pública do Jetro3. Se souber, pode pular até o próximo tópico!

Aqui na Economia tem um ditado que diz “There is no free lunch”. Em português, esse ditado significa que “não existe almoço de graça”.

O que esse ditado quer dizer é que sempre alguém paga por alguma coisa. Por mais que você receba um presente de graça, o seu amigo pagou por esse presente. Se uma entidade beneficente receber alguma doação, alguém pagou pelos bens doados.

Por mais que o governo distribua cestas básicas de graça para um indivíduo, a sociedade inteira está pagando por esses bens, por meio dos impostos. Da mesma forma, se uma empresa recebe incentivo fiscal do governo4, ela está deixando de pagar impostos. Portanto, o governo está deixando de arrecadar e, assim, a sociedade está deixando de receber esses impostos na forma de bens e serviços do poder público. Em outras palavras, a sociedade está sendo onerada para que a empresa pague menos impostos.

Ou seja, em tudo na Economia, alguém está pagando. Afinal, o dinheiro não surge do nada, ele apenas é transferido de uma mão para outra. Alguém sempre está arcando com os custos. Mesmo que o dinheiro não esteja saindo do seu bolso, está saindo do bolso de alguém. There is no free lunch.

A contabilidade incorpora essa lógica, pois ela afirma que enquanto os recursos têm uma origem, eles também têm uma aplicação.

Mesmo que você não tenha sido a origem do recurso, se o recurso foi aplicado, alguém foi a origem do recurso.

Pense no exemplo do presente que seu amigo te dá. Você recebeu o presente (a aplicação do recurso), mas você não foi a origem dele. A origem do recurso foi o seu amigo.

3 No contexto da aula de CASP fica melhor, mas o objetivo aqui é só fazer você entender o que é e para que serve o Débito e Crédito.

4 Vimos esse conceito na aula passada.

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Em outras palavras, there is no free lunch. Apesar de você não ter sido a origem do recurso, o seu amigo foi! Sempre alguém é a origem do recurso, mesmo que não seja você. E, como vimos na aula passada, os recursos não só têm origem, como também têm aplicações. Têm, portanto, duas dimensões: a origem e a aplicação.

Isso acontece porque a Contabilidade é uma ciência bidimensional. Já as demais ciências são unidimensionais.

Que diabos é “ciência bidimensional”?

Bom, a grande maioria das ciências são ciências que desconsideram determinados fatores para poderem analisar um só.

Eles pegam um fator que querem analisar e o isolam, desconsiderando os demais. A partir daí elas prosseguem fazendo as análises.

Por exemplo, você deve se lembrar que entre os exercícios de Física lá no ensino médio sempre tinha um que mandava desconsiderar a “resistência do ar” ou “desconsiderar a gravidade”. Eles estavam desconsiderando a resistência do ar, para verificar como se dava uma determinada relação na Fïsica.

Um outro exemplo, ainda na Física, seriam as Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP). Algumas conclusões só são válidas se houverem condições normais de temperatura e pressão. Se você mudar a temperatura ou a pressão, aquela conclusão já não é mais válida!

Da mesma forma acontece com a Economia. Sempre que a Economia vai analisar uma mudança nos preços, por exemplo, supõe-se que todas as outras variáveis não se alteraram. Ou seja, supõe-se que tudo o mais será mantido constante. O preço muda, mas o resto das variáveis, não. Portanto, isola-se o preço e desconsidera-se as demais variáveis.

Quando só o preço muda, acontece X. Mas e se o preço mudar e outra variável também mudar? Aí X não acontece mais!

Vai acontecer, sei lá, Y elevado a Z raiz quadrada de J.

Essas ciências são as chamadas “unidimensionais”, porque elas analisam uma dimensão de cada vez. A Economia, por exemplo, costuma analisar alguma coisa do ponto de vista de apenas uma dimensão: o ponto de vista do preço, da empresa, dos consumidores, etc. A sociologia analisa o ponto de vista de um determinado grupo social. E por aí vai.

A Contabilidade é diferente! Ela é uma ciência bidimensional, ou seja, uma ciência que sempre analisa o patrimônio de dois ângulos diferentes, de duas dimensões diferentes. Por isso o “bidimensional”.

Ser uma ciência bidimensional não significa ser melhor que as demais. Apenas a forma de análise é diferente. Mas eu confesso que as sacadas da Contabilidade podem ajudar muito no nosso dia-a-dia.

Vamos imaginar que um Juiz tenha decidido que você tenha direito a alguma coisa. Provavelmente, você pensaria: “Legal!

Agora eu tenho esse direito reconhecido”. E muitas decisões judiciais se limitam a apenas reconhecer o direito.

Mas a Contabilidade daria um passo mais a frente e te perguntaria: “Você tem um direito contra quem? ”

É que, pela visão da Contabilidade, se você tem um direito, alguém tem uma obrigação que deve ser cumprida para que o seu direito seja respeitado.

Ou seja, there is no free lunch. Se alguém tem um direito, alguém tem uma obrigação a realizar para que o seu direito seja respeitado. Pode ser que o Estado tenha que cumprir uma obrigação para que o seu direito seja realizado. Pode ser que outra pessoa tenha que cumprir uma obrigação para que seu direito seja exercido.

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Seja como for, se alguém tem um direito, alguém tem uma obrigação. O raciocínio inverso também é aplicável: se alguém tem uma obrigação a cumprir, alguém tem um direito. There is no free lunch.

Agora, vamos pensar em termos mais contábeis. Vamos supor que você comprou a ação de uma empresa na bolsa. Bom, você fez um investimento financeiro, esperando que o preço da ação suba. Assim, se você comprar a ação por R$ 12,00 e conseguir vendê-la por R$ 15,00, você terá lucrado R$ 3,00. Parece pouco, não é? Mas nesse exemplo, o rendimento seria de 25%! Você investiria 12 e ganharia 3. Mas e se você investisse R$ 12.000? E se fossem R$ 120.000? E se fossem R$

1.200.000? Faça as contas!5

Mas beleza. Você comprou a ação e a empresa recebeu o dinheiro. A empresa recebeu o dinheiro de você. Você, portanto, é a origem do dinheiro.

Só que a gente já sabe que there is no free lunch. A empresa não pegará seu dinheiro e guardará embaixo do colchão. Ela fará algo com esse dinheiro. Aliás é por isso que você comprou a ação: para dar a empresa mais recursos para que ela possa valer mais no futuro. Se a empresa conseguir atingir esse objetivo, todo mundo fica contente: a empresa cresce e ganha mais dinheiro, a sociedade se beneficia da geração de mais empregos, o governo recebe mais impostos da empresa e até você fica contente, porque sua ação tá valendo mais. A grande questão é o que a empresa vai fazer com o dinheiro, ou seja, qual será a aplicação do dinheiro?

É claro que não é fácil saber como a empresa gastará seu dinheiro. Por outro lado, a empresa não é besta e, portanto, é certo que gastará o dinheiro com algo que seja produtivo. Então, de forma geral, você pode ficar sossegado6.

Pois bem, da mesma forma que no âmbito jurídico uma pessoa tem um direito e outra pessoa tem uma obrigação para que este direito seja respeitado, na Contabilidade os recursos também têm origens e devem ser aplicados. O direito de uma pessoa não pode ficar solto por aí, ele deve ser respeitado. Da mesma forma, os recursos de uma entidade não ficam soltos por aí, eles devem ser aplicados.

Afinal, there is no free lunch. Sempre haverá uma origem e sempre haverá uma aplicação. Por isso, algumas questões costumam dizer que não há geração espontânea de patrimônio, ou seja, o patrimônio não surge espontaneamente:

existem sempre uma origem e uma aplicação.

Na contabilidade, os ativos representam as aplicações dos recursos e os passivos representam as origens dos recursos.

A Contabilidade tem um jeito próprio de controlar as origens e as aplicações dos recursos. Ela usa o método das partidas dobradas.

5 É, eu sei... Eu também gostaria de ganhar R$ 300.000. O negócio é ter R$ 1.200.000 pra investir. Mas ainda chego lá. Nem que seja com 55 anos. Melhor ganhar R$ 300.000 com 55 anos do que não ganhar em hora nenhuma, né, não?

6 “Ficar sossegado” aqui, não significa não fazer nada. Afinal, você precisa estar atualizado com o que acontece na empresa. Uma boa maneira de fazer isso é por meio das demonstrações contábeis que a empresa divulga. Infelizmente, não estamos num curso de Contabilidade Societária, de forma que não vamos nos aprofundar muito na análise das demonstrações financeiras das empresas.

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Você já deve saber porque o método se chama “partidas dobradas”. É que sempre temos duas dimensões para analisar: a origem e a aplicação. Geralmente, as ciências só se preocupam com uma dimensão. A Contabilidade se preocupa com duas. Como são duas dimensões, temos o dobro de dimensões. Daí o nome de “partidas dobradas”.

Agora é que o bicho pega, pois essa noção que veremos desafia o senso comum: a Contabilidade chama de Crédito as origens dos recursos e de Débito as aplicações dos recursos.

A noção que nós temos de débito e crédito é que débito é ruim e que crédito é bom. Muitas vezes, associamos o débito a uma dívida. Mas a verdade, é que essa noção que temos é pura viagem! Tem nada a ver com nada.

Para exemplificar o que quero dizer, olha só a figura abaixo de um extrato bancário que eu consegui pesquisando no Google:

Olhando a figura acima, o que que a gente pensa? Ora, crédito é bom, porque é meu dinheiro. E débito é ruim! Se eu recebo um crédito eu ganho mais dinheiro e se eu aumento meus débitos eu perco dinheiro!

O negócio é que essa lógica acima não tem nada a ver com nada!

Segundo a Contabilidade, os registros de Débito e Crédito são só formas da gente controlar as origens e as aplicações dos recursos.

Um Crédito significa a origem do recurso e um Débito a aplicação! Só isso! Não tem nada a ver essa história de

“crédito é mais e débito é menos”.

Vamos supor que a pessoa que é dona da conta corrente aí da foto tenha recebido, no dia primeiro, o seu salário de R$ 1.568,37. Esse valor é o salário da pessoa. A origem desse recurso, portanto, é o salário! Por isso que o salário dela aparece com um “C” do lado, demonstrando que se trata da origem do recurso, um crédito.

Já a pizza que ela comprou no dia 02 é a aplicação do dinheiro! Porque ela pegou a origem do recurso dela (R$

1.568,37 – o crédito) e aplicou na Loja PIZZA ONE (R$ 15 – o débito), restando um saldo a ela de R$ 1.553,37. Acho que esses R$ 15,00 deve ter sido o valor do Refrigerante.

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50 minutos depois, ela usou o saldo que ela tinha (R$ 1.553,87 - crédito) e aplicou o dinheiro novamente (R$ 128,81 - débito), agora nas pizzas. Será que o motoboy esqueceu de deixar as pizzas? Ou a galera só tinha pedido o refri?

Seja como for, pergunto: Um débito é ruim? Nem sempre. Vai depender em que você está aplicando o dinheiro. Um crédito é bom? Nem sempre, vai depender de qual é a origem do dinheiro.

Como o Passivo é a origem dos recursos e que os ativos são a aplicação dos recursos, dizemos que o Ativo tem natureza Devedora, enquanto que o Passivo tem natureza Credora.

Faz todo sentido, faz, não? Se o Ativo é a aplicação dos recursos e o débito controla a aplicação dos recursos, então o ativo tem natureza devedora!

Se o passivo é a origem dos recursos e o crédito controla a origem dos recursos, então o passivo tem natureza credora!!

Hahaha! Tudo é muito simples: não tem nada a ver com ser bom ou ruim, tem a ver com a origem e a aplicação do dinheiro.

No caso das Receitas e Despesas, é a mesma lógica. As Receitas representam origens de recursos para as companhias, pois é por meio de sua atividade comercial que ela obtém esse montante. Já as despesas também representam aplicações de recursos.

Os mecanismos de débito e crédito, portanto apontam para a origem e a aplicação dos recursos. Assim : D – Para onde foi o dinheiro?

C – De onde veio o dinheiro?

D – Para quem é?

C – Quem deu?

D – Se o recurso entrou...

C – Como vai sair?

D – Se ainda não paguei...

C – Como será a dívida?

No caso do balanço de pagamentos, é a mesma lógica: os débitos representam a aplicação dos recursos (saída de dinheiro – como importações, pagamento de serviços realizados pelo exterior, etc) e os créditos representam a origem dos recursos (entrada de dinheiro – como exportações, prestação de serviços ao exterior, etc).

Balanço de Pagamentos segundo o BPM6

Agora que já sabemos que o BP registra as transações de um país com o resto do mundo, resta saber que tipo de transações são realizadas. São basicamente seis transações: Comercialização de Bens (Exportações

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e Importações), Prestação de Serviços entre países, Pagamento/Recebimento de Rendas, Doações e transferências entre países, migração de patrimônio não financeiro e Investimentos.

A primeira e mais comum são as exportações e as importações. Neste caso, temos uma transação de bens entre países. Se o Brasil exporta carne para a Arábia Saudita, e importa fertilizante, temos o caso de transação de bens, pois o país envia um bem (carnes) e recebe dinheiro em troca (entra dinheiro, portanto). Já quando o país importa, é o contrário: recebe bens e envia o dinheiro para fora (sai dinheiro do país).

Mas pode acontecer de um residente no Brasil prestar um serviço para alguém que não é residente. É o caso, por exemplo, de pessoas que trabalham com traduções de documento via internet. Neste caso, teremos uma transação de serviço, pois o que houve foi uma prestação de serviço: um residente no Brasil prestou um serviço de tradução para um não residente (neste caso, entra dinheiro no Brasil). Pode acontecer o contrário também: um não residente prestar serviço a um residente7. Nesta última situação, sai dinheiro do Brasil.

Já o pagamento/recebimento de rendas, segue o fluxo da remuneração dos fatores de produção. Por exemplo, se um residente tem uma participação em uma empresa nos EUA que pagou dividendos, entra dinheiro no país. Já se uma empresa brasileira paga dividendos para um não residente, sai dinheiro do país.

Um outro tipo de transação bastante comum é a realizada para doações e transferências. Se alguém da sua família vai morar nos EUA para trabalhar, junta alguns dólares e manda o dinheiro para ajudar a família no Brasil, este tipo de transação é registrado aqui. Se um país precisar de ajuda humanitária e os países enviarem renda para o país necessitado (doação), também há o registro aqui nessa conta.

Já a transferência de patrimônio não financeiro ocorre quando há mudança de residência entre pessoas. Por exemplo, se o Paulo for morar no Canadá e levar o carro dele para lá, esta transferência de patrimônio é registrada aqui. Isso ocorre porque como o Paulo mudou de país ele é considerado um migrante.

Assim, a transferência de patrimônio realizada por migrantes constitui mais um tipo de transação. Um outro tipo de transferência de patrimônio não financeiro seria a cessão de marcas e patentes pelos residentes aos não residentes.

Por fim, o último tipo de transação são os investimentos. Sempre que houver investimento direto no país (a construção de uma empresa no exterior) ou investimento em carteira (em ações de uma empresa ou em um fundo de investimento8, por exemplo), eles entram aqui.

Sobre esta questão dos investimentos, vale a pena ressaltar uma diferença. Se você investir US$

10.000,00 em uma ação de empresa americana e tiver US$ 1.000,00 de dividendos, por exemplo, serão duas transações separadas, ok? A transação envolvendo os US$ 10.000,00 é uma transação de investimento,

7 Eu mesmo, Jetro, já contratei um editor de vídeo que morava nas Filipinas.

8 Fundos de Investimento pegam o dinheiro de várias pessoas (chamadas de cotistas) para investir tudo junto. É meio que uma “vaquinha” para investir. Cada pessoa pega seu dinheiro e compra cotas do fundo. O fundo terá um gestor, que cobrará uma taxa para gerir o fundo e investir o dinheiro dos cotistas, a chamada taxa de administração. Quando os fundos de investimento brasileiros investem no exterior ou quando os fundos do exterior investem no Brasil, temos o registro aqui. Só por curiosidade, mais ou menos 65% do volume negociado na Bolsa brasileira advém do exterior.

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enquanto o recebimento de dividendos (US$ 1000,00), por ser renda, é registrada como pagamento/recebimento de renda.

Bom, mas onde essas transações serão registradas?

Estrutura do BP

Cada tipo de transação do BP é contabilizado em um lugar diferente. Este lugar é denominado conta.

Se nós tivermos registrando uma exportação, ela vai para uma conta. Se for recebimento de renda, ela será registada em outra conta e assim vai. A estrutura simplificada do BP é a seguinte:

Balanço de Pagamentos (BPM6)

I. Transações Correntes Bens e Serviços Renda primária Renda secundária II. Conta capital III. Conta financeira Erros e omissões

O que nos falta agora é entender como essas contas funcionam e que tipo de transação é contabilizada nelas. Bora? Vamos, então, ver cada uma dessas contas.

Bens e Serviços: Nesta conta são registradas todas as exportações e importações (transações de bens) e os serviços realizados entre os países. Então, sempre que você importar alguma coisa da China, por exemplo, essa transação será contabilizada aqui. Além disso, se algum não residente prestar serviço para um residente ou o contrário, a transação também será registrada aqui. Se há exportações e prestação de serviços ao exterior, entra dinheiro aqui e, portanto, esta conta aumenta seu saldo. Se há importações e prestação de serviços do exterior, sai dinheiro daqui e, portanto, esta conta diminui seu saldo.

Renda Primária: Nesta conta, estarão registradas as remunerações dos fatores de produção.

Então, lucros, juros, aluguéis, dividendos, salários são todos registrados nesta conta. Se entrou renda na economia esta conta aumenta seu saldo. Se saiu renda da economia, esta conta diminui seu saldo.

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Renda Secundária: A conta de renda secundária representa a renda gerada em uma economia, mas distribuída para outra. É o caso das transferências pessoais9 e as doações feitas/recebidas de outros países. Quando as transferências e doações são recebidas, entra dinheiro e, portanto, o saldo desta conta aumenta. Quando as transferências e doações são enviadas, sai dinheiro e, portanto, o saldo desta conta diminui.

A soma dos Bens e Serviços com as Rendas primária e secundária foram as chamadas Transações Correntes, também chamada de Conta Corrente ou de Saldo em Transações Correntes. Portanto:

Conta Capital: Nesta conta são registradas as transferências de patrimônio decorrentes dos migrantes (pessoas que vão morar em outro país). Também entram aqui transferências de capital (como perdão de dívidas e etc).

Conta Financeira: Aqui são registrados os mais diversos tipos de investimento que os residentes realizam com não residentes. Investimentos em ações, em fundos, em derivativos, em moedas, etc, são todos registrados aqui.

Erros e Omissões: Algumas transações podem não ser contabilizadas por equívocos ou então porque foram feitas com valores estimados. Se ao final da contabilização algum ajuste for necessário, ele será feito nessa conta.

Bom, agora que já conhecemos as contas do BP, vamos a algumas questões:

9 Se seu filho for trabalhar nos EUA e mandar US$ 500 dólares todo mês para você, essa transferência pessoal dele entra nesta conta.

Transações Correntes

Bens e Serviços

Renda Primária

Renda

Secundária

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CESGRANRIO – PETROBRAS – 2018)

O Banco Central do Brasil registrou os seguintes indicadores relativos ao balanço de pagamentos brasileiro em 2016 (em US$ milhões correntes):

Balança comercial (bens) 45.037 Serviços - 30.447

Renda primária - 41.080 Renda secundária 2.944 Conta capital 274 Conta financeira - 16.415 Erros e omissões 6.857

De acordo com os indicadores mencionados, o saldo do balanço de pagamentos em transações correntes, em 2016, registrou

a) déficit de US$ 23.546 milhões b) déficit de US$ 32.830 milhões c) déficit de US$ 39.687 milhões d) superávit de US$ 28.896 milhões e) superávit de US$ 45.037 milhões.

RESOLUÇÃO:

Vimos que o saldo em Transações Correntes é dado pela soma dos saldos das balanças comercial e de serviços e das rendas primária e secundária.

Fazendo a conta, temos:

TC = 45.037 - 30.447 - 41.080 + 2.944 TC = -23.546

Ou seja, temos um déficit de US$ 23.546 milhões.

Resposta: A

VUNESP – MPE/SP – 2019)

Uma economia exporta $ 1 000 e importa $ 800 em bens; recebe turistas de outros países que gastam $ 100;

paga juros de $ 400 e recebe empréstimos e investimentos de $ 500. O saldo em transações correntes dessa economia é

a) superavitário em $ 400.

b) superavitário em $ 200.

c) superavitário em $ 100.

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d) deficitário em $ 100.

e) deficitário em $ 400.

RESOLUÇÃO:

Cuidado! Tem informação sobrando aqui!

Empréstimos e investimentos não afetam o saldo de transações correntes porque são registrados na outra parte do BP, na conta financeira.

Quanto aos demais valores, computamos todos, somando o que representa entrada de moeda estrangeira e deduzindo o que representa saída.

Logo:

TC = 1.000 - 800 + 100 - 400 TC = -100

Ou seja, temos um saldo de transações correntes deficitário em $100.

Resposta: D

Estrutura Detalhada do BP

Agora que já sabemos por alto como o BP funciona, vamos a um detalhamento de sua estrutura e ao aprofundamento das discussões:

Balanço de Pagamentos (BPM6)

I. Transações Correntes Bens e Serviços

Balança comercial (Bens) Exportações (X)

Importações (M)

Balança de Serviços (Serviços) Serviços de manufatura, de manutenção e reparo Transportes e Viagens

Construção

Seguros e Serviços financeiros

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Serviços de propriedade intelectual

Telecomunicação, computação e informações Aluguel de equipamento

Outros serviços de negócio

Serviços culturais, pessoais e recreativos Serviços governamentais

Renda primária Remuneração de trabalhadores

Renda de investimento (Investimento direto – Juros, Lucros e Dividendos -, Investimento em carteira, outros investimentos, ativos de reserva)

Renda secundária II. Conta capital

III. Conta financeira

Investimento direto no exterior (Participação no capital e cotas em fundos, Dívida intercompanhia) Investimento direto no país (Participação no capital e cotas em fundos, Dívida intercompanhia) Investimento em carteira – Ativos (Ações e cotas em fundos, Títulos de renda fixa)

Investimento em carteira – Passivos (Ações e cotas em fundos, Títulos de renda fixa) Derivativos - Ativos

Derivativos - Passivos

Outros investimentos – Ativos (Moedas e depósitos, Empréstimos, Créditos comerciais e adiantamentos, Demais) Outros investimentos - Passivos (Moedas e depósitos, Empréstimos, Créditos comerciais e adiantamentos, Demais) Ativos de reserva

Erros e omissões

Bom, dentro de Bens e Serviços, podemos ter uma subdivisão: a balança comercial (que vai registrar só bens) e a balança de serviços (que vai registrar só os serviços).

Na chamada Balança Comercial, são registradas exclusivamente as transações de bens, ou seja, exportações e importações.

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Há duas formas de contabilizar os bens. A primeira forma é o método Cost, Insurance and Freight10, chamado de método CIF, e a segunda forma é o método Free on Board11, também chamado de FOB. Os seguros e fretes são serviços que as companhias prestam para que a mercadoria seja transportada (frete) e que, caso haja algum problema, o comprador seja ressarcido (seguros).

No registro das exportações/importações de bens, o método CIF adiciona ao valor da transação os seguros e os fretes. Então, se a mercadoria custa US$ 2.000 e o frete custa US$100, por exemplo, o método CIF diria que o total da exportação seria de US$ 2100.

Já o método livre a bordo (FOB) é diferente. Como o nome deste método já diz a mercadoria é livre de seguros e fretes, ou seja, no método FOB os seguros e fretes NÃO são considerados na transação. Portanto, se a mercadoria custa US$ 2.000 e o frete custa US$100, o método FOB diria que o total da exportação seria de US$ 2000, pois o frete é um outro serviço e não tem nada a ver com a transação de bens em si.

O Balanço de Pagamentos contabiliza as exportações e importações pelo método FOB, ou seja, somente com os valores das mercadorias. Já os seguros e os fretes, por constituírem serviços, são contabilizados na Balança de Serviços e não na Balança Comercial.

A balança comercial, portanto, contabiliza as exportações e as importações considerando apenas o valor da mercadoria em si (sem contar fretes e seguros). Portanto, na balança comercial, utilizamos o método FOB.

Balança comercial (Bens): Exportações e Importações pelo método FOB.

Já a Balança de Serviços contabiliza as prestações de serviços que um país realiza/recebe com outros países. Serviços de transporte (fretes), de construção, de viagens (agências de turismo, por exemplo), e etc são incluídos nesta conta. Se os serviços são prestados para outros países, esta conta aumenta de saldo. Se os serviços são recebidos de outros países, esta conta diminui de saldo.

Somando a Balança Comercial (Bens) com a Balança de Serviços, chegamos à conta de Bens e Serviços (dãã, meio óbvio! hahaha).

Entrando na conta da Renda Primária, nós vemos os diversos tipos de rendas que podem ser contabilizadas, como a remuneração de trabalhadores (Salários) e as diversas rendas de investimento (lucros, dividendos, juros, rendas de investimento em carteira, etc). A Renda Primária é a Renda Líquida ao Exterior, que estudamos em Contas Nacionais. Se a Renda Primária for positiva, isto significa que mais entraram do que saíram rendas no país e que, portanto, temos Renda Líquida Recebida do Exterior (RLRE). Se a Renda Primária for negativa, isto significa que mais saíram do que entraram rendas do país e, então, temos Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE).

10 Custos, Seguros e Fretes.

11 “Livre a bordo”.

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Já a Renda Secundária, como já vimos, registra as transferências das pessoas entre países e as doações.

Mais uma vez, somando Bens e Serviços, com a conta de Renda Primária e a conta de Renda Secundária, chegamos às Transações Correntes.

O que significa o saldo em transações correntes?

Vimos que a soma de Bens e Serviços e das Renda primária e secundárias é chamada de Transações Correntes (saldo em conta corrente).

As transações correntes (TC) são transações que afetam diretamente a Renda Nacional e são consideradas as mais importantes do BP.

Se o país estiver com saldo positivo em TC, isto significa que ele está recebendo recursos para pagar dívidas com o exterior (o que reduz o endividamento do país) ou para investir no exterior, por exemplo. Diferentemente, se o país estiver com um déficit em TC (saldo negativo), isso significa que talvez ele precisa contrair empréstimos no exterior (e aumentar seu endividamento) ou contrair investimentos estrangeiros.

Uma outra forma de enxergar as TCs é por meio da poupança externa. Quando estudamos as contas nacionais, vimos que a poupança externa (Sext) é a poupança realizada pelo resto do mundo em relação ao país em questão. Existe uma relação entre TC e poupança externa, que é:

TC = - Sext

Ou seja, o saldo em transações correntes é igual à poupança externa com o sinal trocado. Isto ocorre porque se um país tem TC positiva, isto significa que saíram recursos do resto do mundo e estes recursos foram parar no país. Portanto, como saíram recursos do resto do mundo, o resto do mundo ficou com poupança negativa (Sext negativa).

Diferentemente, se as Transações Correntes forem deficitárias, isso significa que saiu dinheiro do país e que o resto do mundo absorveu esses recursos. Como o dinheiro foi parar no resto do mundo, o resto do mundo fez poupança (Sext positiva).

Ter um saldo positivo em TC significa também que o país está transferindo bens e serviços ao resto do mundo (e recebendo dinheiro por isso). Por outro lado, um saldo negativo em TC significa que o país está transferindo recursos ao resto do mundo.

Após o saldo em transações correntes (soma de Bens e Serviços, Renda Primária e Renda Secundária), vamos à Conta Capital, que registra as transferências de patrimônio de migrantes e bens não financeiros não produzidos (como a cessão de marcas e patentes).

Por fim, chegamos à Conta Financeira, que registra os diversos investimentos feitos em outros países.

Estes investimentos podem ser dos mais diversos tipos como em carteira (ações e fundos), em derivativos

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(como os contratos futuros12), em moedas (se você aqui no Brasil comprar dólar para investir, por exemplo), em ativos de reserva (como o ouro).

Além disso, podemos ter também erros e omissões.

Saldo do BP

Quando nós somamos todos os saldos das contas (Transações Correntes mais Conta Capital mais Conta financeira), chegamos ao saldo o balanço de pagamentos como um todo.

Se o saldo o BP for positivo, isto significa que temos superávit no BP e que houve entrada líquida de moeda estrangeira no país (entrou mais moeda estrangeira do que saiu).

Por outro lado, se o saldo do BP for negativo, isto significa que temos déficit no BP e que houve saída líquida de moeda estrangeira do país.

Se o saldo o BP for positivo, isto significa que temos superávit e que (em termos líquidos) entraram divisas no país. Se o saldo do BP for negativo, isto significa que temos déficit e que (em termos líquidos) saíram divisas do país.

Por fim, há uma relação interessante entre o saldo do BP e a variação das reservas internacionais.

As reservas internacionais de um país são reservas financeiras que o país tem em divisas (moeda estrangeira, mais precisamente os dólares americanos) e em mais alguns ativos, como o ouro monetário (um tipo de ouro específico para transações entre países13).

Essas reservas internacionais funcionam como se fosse uma reserva de emergência do país, só que em moeda estrangeira. Sempre que houver alguma necessidade, o país pode utilizar essas reservas para supri-las.

Como o BP é contabilizado em US$, há uma relação entre o saldo o BP e as variações das reservas internacionais. Se o saldo do BP foi de um milhão de dólares, por exemplo, significa que as entradas de dólares superaram as saídas em um milhão de dólares.

“Mas, professores! Vocês não haviam dito que as entradas de dinheiro aqui são lançadas a crédito e as saídas, a débito? Neste caso, teremos um milhão de dólares a mais em créditos? ”

Mais ou menos! Mais ou menos!

12 Contrato futuro é um contrato no qual você se compromete a comprar ou vender uma mercadoria no futuro. Por exemplo, se eu for um produtor de soja, posso combinar hoje de exportar minha produção para você com o dólar a R$ 4,00 daqui a um ano. Se daqui a um ano o dólar estiver a R$ 4,20, você não terá que me pagar mais, pois temos um contrato que diz que eu concordei em vender a produção com o dólar a R$ 4,00. No entanto, se daqui a um ano o dólar estiver R$

3,80, também não importa, pois você também concordou de comprar de mim a R$ 4,00. Contratos futuros existem para justamente “travar” o preço de uma negociação e evitar que flutuações de preços.

13 No Brasil, fica em poder do Banco Central.

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Olhe só: de fato, se o saldo do BP é de um milhão de dólares, os créditos superaram os débitos em um milhão de dólares!

Mas aí é que entram as reservas: se as entradas de dólares superaram as saídas no valor de um milhão, então nossas reservas aumentaram em 1 milhão de dólares! E como contabilizamos este aumento de reservas?

BINGO!

Este aumento de reservas é contabilizado como fazemos em qualquer ativo: debitando-o.

Ou seja, aquele US$ 1 milhão a mais em créditos no BP porque entraram mais divisas do que saíram é compensado por uma variação positiva das reservas, que é reconhecida a débito (afinal, é nosso “caixa”

aumentando).

Por isso, dizemos que o saldo do BP será igual à variação das reservas internacionais do país. Se o saldo é positivo, o país acumulou reservas. Se é negativo, perdeu reservas.

Política Cambial: Taxa de Câmbio e todo o resto

Fazer transações com o resto do mundo traz diversas vantagens para o país. Com o comércio internacional, o país pode:

 Especializar-se a produção de bens e serviços que o país consegue produzir de forma eficiente.

Nos bens/serviços que o país não produz ou que não produz de forma eficiente, ele pode simplesmente importar;

 Aumentar o número de produtos que os cidadãos têm acesso;

 Diversificar os investimentos a que seus agentes econômicos têm acesso, permitindo que eles invistam em outros países, o que diminui o risco dos investimentos;

 Ter acesso a empréstimos internacionais, permitindo que o país obtenha recursos externos para aumentar a capacidade produtiva interna (no caso brasileiro, frequentemente a uma taxa de juros mais baixa do que a daqui);

 Ampliar o grau de concorrência no mercado doméstico, de forma e evitar a formação de oligopólios e monopólios ou simplesmente diminuir seu poder.

Só que para que as transações internacionais sejam viáveis, é necessário que nós possamos comparar os preços entre os países. Como cada país tem uma moeda diferente, é necessário que nós tenhamos uma mesma base de comparação para outros produtos. Como vou saber se um livro vendido nos EUA está mais caro ou mais barato do que o mesmo livro vendido aqui se eles estiverem em moedas diferentes?

Com essa ideia em mente, foi desenvolvido o conceito de taxa de câmbio. De forma chula, a taxa de câmbio é o preço de uma moeda estrangeira em moeda nacional. Se eu quiser saber qual o preço do dólar americano (US$) em Reais (R$), basta eu descobrir qual a taxa de câmbio entre real e dólar.

Sendo mais técnico, a taxa de câmbio mostra qual é a relação de troca entre duas unidades monetárias diferentes, ou seja, qual o preço relativo entre duas moedas diferentes.

Aqui no Brasil, você já deve ter ouvido no Jornal Nacional o William Bonner anunciar que a “taxa de câmbio sofreu desvalorização e fechou a R$3,50” ou algo do tipo. Isto acontece porque, no caso brasileiro, o mais

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comum é que comparemos o real com o dólar americano. A gigantesca maioria dos debates envolve a discussão real/dólar. Claro que podemos ter a taxa de câmbio com base no Euro, na Libra, no Yen, no Yuan, no peso mexicano ou em qualquer outra moeda existente. Mas usualmente a taxa de câmbio tem como moeda de referência o dólar mesmo.

Como a taxa de câmbio mostra o preço relativo entre duas moedas diferentes, podemos sempre comparar o valor entre duas moedas. Por exemplo, se a taxa de câmbio do Brasil contra o dólar estiver a R$

3,50, isso significa que:

US$ 1,00 = R$ 3,50

Ou seja, isso significa que com 1 dólar eu “compro” R$ 3,50. Em outras palavras, posso dizer que 1 dólar equivale a R$ 3,50. Neste caso, como com 1 dólar eu compro R$ 3,50, a taxa de câmbio seria:

𝐸 = 𝑅$

𝑈𝑆$=3,50

1 = 3,50

Portanto, a taxa de câmbio é de R$ 3,50/US$ 1, ou seja, cada dólar equivale a R$ 3,50.

Pode acontecer da taxa de câmbio se desvalorizar. Quando isso acontece, isso significa que nossa moeda se desvalorizou, ou seja, precisamos de mais moeda nacional para equivaler à moeda estrangeira. Se, por exemplo, o dólar passar a custar R$ 4,00, teremos:

𝐸 = 𝑅$

𝑈𝑆$=4,00

1 = 4,00

Essa nova taxa de câmbio nos diz que, agora, cada dólar vale R$ 4,00. Isto significa que, antes, 1 dólar

“comprava” 3,50 da nossa moeda. Agora, o mesmo dólar compra mais da nossa moeda, pois compra 4,00.

Nessa situação, dizemos que o dólar valorizou/ apreciou (pois 1 dólar comprava 3,50, mas agora compra mais, compra 4,00), enquanto que o Real desvalorizou/depreciou (porque com a mesma quantidade de dólar, o americano compra mais reais). Repare, no entanto, que a taxa de câmbio aumentou (de 3,50 para 4,00). Temos então a seguinte situação:

Aumento da taxa de câmbio = desvalorização da taxa de câmbio = desvalorização/depreciação da moeda nacional = valorização/apreciação da moeda estrangeira.

Pode ocorrer o inverso, da taxa de câmbio apreciar. Vamos supor que, partindo de R$ 3,50, a taxa de câmbio chegue aos 3,00. Neste caso, 1 dólar, antes, equivalia a R$ 3,50. Agora, o mesmo dólar passa a equivaler a menos reais, a R$ 3,00.

𝐸 = 𝑅$

𝑈𝑆$=3,00

1 = 3,00

A taxa de câmbio a 3,00 nos diz que cada dólar agora equivale a 3,00. Ou seja, o dólar desvalorizou (pois, antes, equivalia a R$ 3,50 e, agora, “só” equivale a R$ 3,00). Já o real valorizou/apreciou (porque com a mesma quantidade de dólar, o americano compra menos reais). Já a taxa de câmbio reduziu. Então:

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Redução da taxa de câmbio = Valorização da taxa de câmbio = Valorização/Apreciação da moeda nacional = desvalorização/depreciação da moeda estrangeira.

Ou seja, a taxa de câmbio pode mudar, apreciando/depreciando a moeda nacional. Essa flutuação da taxa (para cima ou para baixo), impacta as exportações e as importações de um país.

Quando a taxa de câmbio está alta, isso significa que a moeda nacional está desvalorizada, o que faz com que as exportações sejam estimuladas. Se um exportador é acostumado a exportar uma certa quantidade de sua soja com o câmbio a R$ 3,50, ele irá curtir ainda mais exportar a soja quando o câmbio for R$ 4,00, já que ele recebe MAIS pela mesma quantidade de soja exportada.

Já a importação fica desestimulada, pois, se o câmbio está elevado, fica “caro” trazer produtos de outros países para cá. Talvez seja melhor consumir no mercado doméstico mesmo.

Forma semelhante ocorre com o fluxo de capitais externos, ou seja, para onde o dinheiro vai! Se a taxa de câmbio está alta, isso significa que a moeda estrangeira está mais valorizada que a nacional. Portanto, um investidor estrangeiro, por exemplo, consegue investir melhor seu dinheiro aqui no Brasil, comprar mais propriedades, abrir uma empresa, gerar empregos, etc. Entra dinheiro no Brasil, portanto, já que o país “está barato”.

Quando a taxa de câmbio está baixa é o contrário! Isso significa que a moeda nacional está apreciada, o que faz com que as importações sejam estimuladas. Quando o Brasil possuía taxa de câmbio a R$ 1,80, as pessoas importavam de tudo dos EUA. Tenho um conhecido que viu até um cara importando pneu de trator dos EUA14! Muita gente teve a oportunidade de conhecer a Disney (pois viajou com o dólar baratinho) e essas mesmas pessoas voltavam das viagens com as malas transbordando de compras.

Por outro lado, nossos exportadores são mais prejudicados, pois eles recebem menos por cada produto exportado.

Se a taxa de câmbio está baixa, isso significa que a moeda estrangeira está mais desvalorizada que a nacional. Portanto, um investidor estrangeiro, por exemplo, consegue não consegue investir com tanta facilidade seu dinheiro aqui no Brasil, pois o país “está caro”. O estrangeiro, então, pode preferir levar seu dinheiro a outro lugar.

Ou seja, dependendo de como o câmbio estiver, as exportações/importações sofrerão alterações. E já sabemos que as exportações e importações compõem a Balança Comercial de um país.

Quando a taxa de câmbio se deprecia, isso significa que ela está alta, o que faz com que tenhamos estímulo às exportações (X) e desincentivo às importações (M). Assim, teremos mais X do que M, o que nos diz que o saldo da Balança Comercial será superavitária, indicando que entraram recursos no país (pois o país está barato).

14 Sim, o pneuzão chegou lá na esteira das malas! kkkkkk

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Diferentemente, quando a taxa de câmbio se aprecia, isso significa que ela está baixa, o que faz com que tenhamos desestímulo às exportações (X) e incentivo às importações (M). Assim, teremos menos X do que M, o que nos diz que o saldo da Balança Comercial será deficitário, indicando que saíram recursos no país (país caro).

Portanto:

Depreciação da taxa de câmbio = melhora o saldo da Balança Comercial = entra mais dinheiro na economia

Apreciação da taxa de câmbio = piora o saldo da Balança Comercial = sai mais dinheiro da economia

Ok! Mas o que faz com que a taxa de câmbio se altere?

Oferta e Demanda de divisas

Divisas é um outro nome para a moeda estrangeira. E a divisa é um bem como qualquer outro na economia, ou seja, há pessoas vendendo/comprando divisas o tempo inteiro.

Quando você passar no concurso e for passar férias no Caribe15 ou nos EUA, precisará comprar divisas no mercado para levar na viagem. As empresas quando precisam abrir uma filial no exterior ou querem simplesmente alocar recursos em um fundo de outro país também precisam comprar/vender divisas.

Os governos dos países também operam no mercado cambial, pois precisam formar suas reservas internacionais e vigiar a taxa de câmbio (veremos como isso funciona mais à frente).

Ou seja, o mercado de divisas é composto de diversos agentes econômicos que ofertam e demandam divisas diariamente. Como qualquer outro bem na economia, as forças de oferta e de demanda também interagem nas divisas.

Demanda de Divisas

A demanda de divisas é a quantidade de divisas que os agentes econômicos desejam adquirir a um determinado preço (o preço da divisa é a taxa de câmbio). De forma geral, quanto maior a taxa de câmbio, menos a quantidade de divisas que o agente econômico irá querer adquirir. Portanto, há uma relação inversa entre quantidade demandada de divisas e taxa de câmbio.

15 Cancún é top!

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Há alguns fatores que afetam a demanda por divisas, esses fatores são:

Volume de importações: quando mais importação houver, mais os importadores nacionais precisarão de moeda estrangeira (pois terão que pagar as compras realizadas em outros países).

Portanto, quanto mais importações, mais aumentará a demanda de divisa;

Da saída de capitais externos: Se um investidor estrangeiro tem recursos no Brasil, ele mantém os seus investimentos em reais. Mas, se ele quiser sair do país, terá que vender seus investimentos em reais e comprar moeda estrangeira. Portanto, para sair aqui do Brasil, ele terá que comprar dólar, aumentando a demanda pela divisa.

Portanto, quanto maior for o volume de importações e a saída de capitais externos, mais demanda por divisas teremos.

Oferta de Divisas

A oferta de divisas é a quantidade de divisas que os agentes econômicos desejam vender a um determinado preço (o preço da divisa é a taxa de câmbio). De forma geral, quanto maior a taxa de câmbio, maior a quantidade de divisas que o agente econômico irá querer vender, pois quanto maior o câmbio, mais ele ganhará. Portanto, há uma relação direta entre quantidade ofertada de divisas e taxa de câmbio.

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Há alguns fatores que afetam a oferta de divisas, esses fatores são:

Volume de exportações: quando mais exportação houver, mais os exportadores nacionais precisarão de moeda nacional (pois eles pegarão a moeda estrangeira e irão querer trocar por moeda nacional. Assim, eles aumentarão a oferta da divisa). Portanto, quanto mais exportações, mais aumentará a oferta de divisa;

Da entrada de capitais externos: Se um investidor estrangeiro tem recursos no exterior, ele mantém os seus investimentos em dólar, por exemplo. Mas, se ele quiser investir aqui no Brasil, terá que vender seus investimentos em dólar e comprar moeda nacional. Portanto, para entrar aqui do Brasil, ele terá que vender dólar, aumentando a oferta da divisa, e comprar moeda nacional.

Portanto, quanto maior for o volume de exportações e a entrada de capitais externos, mais oferta de divisas teremos.

Equilíbrio no mercado cambial

Quando a oferta de divisas for igual à demanda por divisas, diremos que o mercado cambial está em equilíbrio.

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Só que, sempre que oferta ou demanda de divisas se alterar, podemos ter excesso de oferta de divisas (o que vai fazer a taxa de câmbio) ou excesso de demanda (o que vai fazer a taxa de câmbio subir).

Se, por exemplo, tivermos muita entrada de capital externo, a oferta de divisas aumentará, o que causará valorização da taxa de câmbio.

De forma diferente, se nós tivermos um aumento no volume de importações, nós teremos aumento da demanda por divisas, o que fará com que a taxa de câmbio deprecie.

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Portanto, quando houver aumento da demanda de divisas, a taxa de câmbio aumenta (deprecia). De forma diferente, quando houver aumento da oferta de divisas, a taxa de câmbio diminui (aprecia).

A interação entre oferta/demanda de divisas é o que faz o câmbio se alterar.

A demanda por divisas é afetada pelas importações e pela saída de capitais externos, enquanto a oferta de divisas é afetada pelas exportações e pela entrada de capitais externos. O equilíbrio se dará quando oferta de divisas for igual à demanda de divisas.

Aumentos na oferta de divisas causarão diminuição (valorização) da taxa de câmbio. Aumentos na demanda de divisas causarão aumento (depreciação) da taxa de câmbio.

O efeito da inflação no câmbio

A taxa de câmbio que vimos até agora é a chamada “taxa de câmbio nominal”, pois não leva em consideração o impacto da alteração de preços em seu conceito.

No entanto, como estamos comparando duas moedas diferentes, uma forma mais realista de ver as coisas é verificando como a inflação (aumento dos preços) pode impactar na taxa de câmbio. Com essa análise, que resultará na taxa real de câmbio, podemos ver o efeito que o aumento dos preços no Brasil ou nos EUA podem impactar o câmbio. Por exemplo, será que a diminuição das exportações de um país se deu por queda na quantidade de bens exportados ou porque os preços se alteraram? Para responder essa pergunta é que precisamos da taxa real de câmbio, calculada da seguinte forma:

𝐸 = 𝑒.𝑃𝐸𝑠𝑇 𝑃𝑛𝑎𝑐

Onde “E” é a taxa real de câmbio, “e” é a taxa nominal de câmbio, “PEXT” é o índice de preços estrangeiro (inflação estrangeira) e “PNAC” é o índice de preços nacional (inflação nacional).

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Supondo por exemplo que a inflação externa fosse 2%, a inflação interna fosse 4% e a taxa de câmbio nominal fosse 2, a taxa de câmbio real seria:

𝐸 = 𝑒.𝑃𝐸𝑠𝑇

𝑃𝑛𝑎𝑐 = 2.1,02

1,04= 2.0,98 = 1,96

Portanto, uma taxa de câmbio nominal de 2 corresponde a uma taxa de 1,96, quando descontamos o impacto da inflação na taxa de câmbio.

A taxa real de câmbio, por retirar os efeitos da inflação, permite que comparemos melhor a competitividade de um país, pois conseguimos ver como a a taxa de câmbio se comporta sem os preços

“inflados”.

Bom, mas o que significa essa relação de preços? Bom, se os preços internos forem menores que os preços externos, isso significa que os consumidores irão concentrar sua demanda no mercado interno (pois o mercado interno está mais barato que o externo). Com maior demanda interna, os preços sobem, o que aumentaria a inflação interna.

Se for o contrário, preços internos maiores que os preços externos, isso significa que compensa mais para um consumidor comprar o produto no exterior, que está mais barato. Quando isso acontece, o consumidor aumenta a demanda no exterior, o que faz com que o preço do produto no exterior aumente e a inflação externa aumente.

A mesma coisa em qualquer lugar do mundo: A Paridade do Poder de Compra

Existe uma hipótese na Economia chamada de “lei do preço único”. Essa hipótese afirma que qualquer bem no mundo inteiro, precisa ter apenas um único preço. Convertendo esse preço pela taxa de câmbio, chegaríamos ao preço desse mesmo bem no país em questão. Então, se um bem fosse vendido a US$ 400 dólares nos EUA e o câmbio para Reais fosse de R$ 2,00, este bem deveria custar R$ 800 no Brasil. Se estivéssemos na Europa, com o câmbio a EU$1,80, o mesmo bem vendido a US$ 400 deveria custar EU$360 na Europa. Ou seja, cada bem deveria ter um preço único, afetado apenas pela taxa de câmbio entre os países.

Baseado nessa ideia surgiu a Paridade do Poder de Compra (PPC), que nos diz que o valor de uma moeda deve ser igual em todas as partes do mundo. Esse conceito evita que haja arbitragem (por exemplo, evita que você compre dólar a R$ 3,80 no Brasil e o venda em outro país por R$ 3,90, obtendo lucro sem risco nenhum)16.

16 Isso, claro, é apenas uma hipótese teórica. Na realidade, os preços de um mesmo bem, inclusive de uma mesma divisa, variam ao redor do mundo. Uma vez eu, Jetro, fui viajar por 3 países e voltei com proporcionalmente mais divisas do que fui, pois fui comparando as taxas de câmbio entre as moedas dos 3 países e ganhando uns trocados em cada transação.

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Ou seja, em essência, o que a PPC nos diz é que a taxa de câmbio real deve ser constante, de modo a garantir o poder de compra da moeda em qualquer lugar do mundo. Matematicamente, a expressão da PPC é chamada de fórmula de Cassel. Ela funciona da seguinte forma:

𝑒´ = 𝑒.𝑃𝑁𝐴𝐶 𝑃𝐸𝑆𝑇

Onde e´= Câmbio nominal novo para manter a PPC, e=taxa nominal de câmbio antiga, PNAC é o índice de preços interno e PEST é o índice de preços estrangeiro.17

Então, supondo que a inflação doméstica seja 10% e a inflação externa seja de 2%, teríamos:

𝑒´ = 𝑒.𝑃𝑁𝐴𝐶

𝑃𝐸𝑆𝑇 = 𝑒.1,10

1,02= 1,07𝑒 𝑒´ = 1,07𝑒

Ou seja, a taxa de câmbio antiga precisa aumentar em 7% (que é a mesma coisa que multiplicar por 1,07) para que a PPC seja mantida.

O efeito do câmbio na inflação

Vimos que a taxa de câmbio real nos dá uma visão mais acurada da competitividade nacional, pois permite que expurguemos o impacto dos preços no câmbio. No entanto, pode ser que não só o câmbio seja afetado pela inflação. Pode ser que o contrário também aconteça: a inflação seja afetada pelo câmbio.

Quando há apreciação cambial, a taxa de câmbio é reduzida, de forma que as importações sejam incentivadas. Com uma importação maior, há aumento da demanda por produtos do exterior, o que pressiona a inflação externa. No entanto, como há aumento da demanda por produtos do exterior, há diminuição da demanda por produtos internos. Como menor demanda interna, os preços internos caem, o que faz com que a inflação interna diminua.

Ou seja, quando há apreciação cambial, os consumidores deixam de comprar aqui para comprar no exterior. Como eles deixam de comprar aqui, a inflação interna se reduz.

Quando há depreciação cambial, a taxa de câmbio é aumentada, de forma que as importações sejam desincentivadas. Com uma importação menor, há diminuição da demanda por produtos do exterior, o que alivia a inflação externa. No entanto, como há diminuição da demanda por produtos do exterior, há aumento da

17 Repare que esta fórmula é diferente da fórmula da taxa real de câmbio! Cuidado para não confundir.

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demanda por produtos internos. Como maior demanda interna, os preços internos sobem, o que faz com que a inflação interna aumente.

Portanto, quando há depreciação cambial, os consumidores passam a comprar aqui em vez de comprar no exterior. Como eles compram mais aqui, a inflação interna aumenta.

Apreciação cambial leva à redução da inflação interna. Depreciação cambial leva ao aumento da inflação interna.

Regimes Cambiais

Uma taxa de câmbio pode ser determinada exclusivamente pelo mercado ou pode ser que o governo queira intervir na taxa de câmbio para favorecer exportadores ou importadores, dependendo do objetivo do governo. Tal situação reflete a política cambial, ou seja, as escolhas econômicas do governo referentes ao câmbio.

Por isso, nós podemos ter diferentes regimes cambiais, ou seja, diferentes formas de como a taxa de câmbio será determinada. Os principais regimes são o regime de câmbio fixo e o regime de câmbio flutuante.

Existem também algumas mesclas entre esses dois regimes. Vamos ver cada um deles agora.

Regime de câmbio fixo

No regime de câmbio fixo, o Governo (normalmente por meio do Banco Central) determina o valor da taxa de câmbio e vai atuar no mercado cambial vendendo/comprando divisas para manter a taxa de câmbio no valor que ele determinou. Ou seja, ele vai vender/comprar divisas, para manter o câmbio fixo.

Repare, no gráfico acima, que a taxa de câmbio não muda, ela é fixa. Isto porque, se a taxa de câmbio estiver subindo, isso significa que a demanda de divisas está maior que a oferta de divisas. O Banco Central, então, entra no mercado vendendo divisas para aumentar a oferta de moeda e trazer novamente o câmbio ao valor estipulado.

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Se a taxa de câmbio estiver descendo, isso significa que a oferta de divisas está maior do que a demanda de divisas. Aí, o Banco Central tem que intervir no mercado comprando divisas. Fazendo assim, ele aumenta a demanda de divisa e eleva a taxa de câmbio até o valor que ele determinou.

Repare que para fazer com que o regime fixo dê certo, o Banco Central tem que ter uma quantidade muito grande de reservas internacionais, pois a qualquer momento ele pode precisar comprar ou vender divisas para manter o câmbio fixo.

Quando o Balanço de Pagamentos for deficitário, isso significa que as reservas internacionais do país estão diminuindo, o que pode prejudicar o Banco Central e fazê-lo não ter reservas suficientes para manter o câmbio fixo. Se o déficit no BP for persistente, essa situação pode não ser sustentável no longo prazo e o banco Central ser obrigado a quebrar o regime fixo.

Quando o BP tiver superávits consistentes, as reservas internacionais aumentarão e o Banco Central terá maior quantidade de divisas para fazer frente ao câmbio fixo. Mas, com uma quantidade grande de reservas internacionais, o Banco Central poderia, em vez de ficar guardando esse dinheiro, aumentar o bem-estar da sociedade viabilizando acréscimo no grau de consumo. Sob o regime fixo, no entanto, a utilização das reservas internacionais para aumentar o bem estar de um país fica prejudicada, o que também não é sustentável no longo prazo.

Por último, é necessário dizer que, mesmo sob regime fixo, a taxa de câmbio pode se alterar. Basta que o Banco Central escolhe um outro nível de câmbio para manter fixo. Ou seja, câmbio fixo não quer dizer câmbio permanente, quer dizer apenas que quem determina o câmbio é o Banco Central, vendendo e comprando divisas no mercado cambial.

Vantagens do regime fixo:

 Previsibilidade: Com o câmbio fixo, os agentes econômicos têm mais segurança para tomar decisões, pois sabem exatamente qual o preço (taxa de câmbio) que conseguirão exportar/importar produtos.

 Condução rígida da política econômica: Com o regime de câmbio fixo, o Banco Central precisa vender e comprar divisas para manter o câmbio fixo. Isso significa que ele terá que quando ele

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precisar comprar divisas, precisará vender moeda nacional e vice-versa. Ou seja, como o Banco Central está preocupado com as divisas, ele deixa de se preocupar com a moeda nacional, pois apenas usa a moeda nacional para comprar/vender divisas e poder manter o câmbio. Como o Banco Central não se preocupa com o nível de moeda nacional na economia, dizemos que ele abre mão da política monetária18. Ou seja, o governo possui menos discricionariedade na condução da política monetária, pois precisa ser rígido na questão do câmbio. Mais rigidez no câmbio, significa menos liberdade para o governo agir. E isso pode ser visto como positivo.

Desvantagens do regime fixo:

 Necessidade de altos níveis de reservas internacionais: para viabilizar o regime fixo

 Perda do controle da política monetária pelo governo: já que o governo prioriza o câmbio.

Regime de câmbio flutuante

No regime de câmbio flutuante, o Banco Central não intervém em nada e deixa o mercado decidir qual será a taxa de câmbio por meio da interação entre a oferta e a demanda de divisas. Ou seja, o câmbio “flutua”

ao sabor das forças de demanda/oferta.

Quando nós temos um déficit no BP, significa que temos mais demanda do que oferta de divisas. Se o câmbio for flutuante, haverá desvalorização cambial, o que fará com que o BP se equilibre automaticamente.

Se tivermos superávit do BP, com mais oferta de divisas do que demanda, haverá valorização cambial, que também fará com que o BP se equilibre automaticamente.

18 Enquanto a política cambial reflete as escolhas econômicas do governo referentes ao câmbio, a política monetária reflete as escolhas econômicas do governo referentes à moeda nacional. Estudaremos a política monetária na próxima aula.

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Como o Banco Central não precisa intervir no câmbio, ele pode priorizar outras políticas econômicas como a monetária. Sem a intervenção cambial, o próprio mercado é quem determina o câmbio enquanto o Banco Central possui mais liberdade na seara monetária.

Uma desvantagem do sistema é a alta volatilidade da taxa de câmbio, que pode afetar o país. Como a taxa de câmbio varia conforme o mercado, todas as expectativas (boas e ruins) dos agentes econômicos são descarregados na taxa, o que pode levar a flutuações bruscas da taxa de câmbio, gerando um ambiente de incertezas. Com mais incertezas, os investimentos internacionais podem ser reduzidos. Se tivermos superávit do BP, com mais oferta de divisas do que demanda, haverá valorização cambial, que também fará com que o BP se equilibre automaticamente.

Vantagens do regime flutuante:

 Equilíbrio automático do BP: Com regime flutuante, o BP está automaticamente em equilíbrio, evitando pressões sobre as reservas internacionais do país.

 Mercado cambiam menos sujeito à intervenção do governo: Com o regime flutuante, não há intervenção do governo no câmbio, o que faz com que o mercado cambial seja menos sujeito às arbitrariedades das autoridades governamentais.

Desvantagens do regime flutuante:

 Possibilidade de alta volatilidade no câmbio

 Elevação da incerteza (o que pode prejudicar investimentos internacionais no país).

Regimes intermediários

Tanto o regime fixo quanto o flutuante são extremos, pois em um a intervenção do governo é total (fixo) e no outro ela é nula (flutuante). O mais comum é que tenhamos um grau intermediário entre esses regimes.

Mesmo em estágios intermediários, podemos ter regimes que mais se aproximam do regime fixo ou do regime flutuante.

Temos duas ideias que mais se aproximam do regime fixo: o sistema de bandas cambiais e as minidesvalorizações (estas também chamadas de crawling peg – “câmbio rastejante”).

No sistema de bandas cambiais, o Banco Central estabelece bandas: uma inferior e uma superior. Dentro dessas duas bandas, o câmbio flutua livremente. Se a taxa de câmbio estiver se aproximando da banda inferior, o Banco Central entra comprando divisas no mercado, para aumentar a taxa de câmbio. Quando a taxa de câmbio for se aproximando da banda superior, o Banco Central intervém no mercado vendendo a divisa, para que a taxa de câmbio caia. Ou seja, o Bacen mantém o câmbio dentro de uma banda cambial. Dentro das bandas, o câmbio é flutuante. Perto das bandas, o sistema se aproxima do câmbio fixo.

Já no sistema de crawling peg, a preocupação do Banco Central não é com a taxa nominal, mas, sim, com a taxa real de câmbio (a taxa livre do efeito da inflação). Geralmente, quem utiliza este sistema são países com altas taxas de inflação (como era o caso do Brasil até pouco tempo atrás). Neste sistema, o governo utiliza a Paridade do Poder de Compra da moeda para manter a taxa real fixa, enquanto a taxa nominal flutua.

Referências

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