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A DECLARAÇÃO DE FILADÉLFIA E SUA IMPORTÂNCIA NA TUTELA DOS DIREITOS HUMANOS SOCIAIS NO CONTEXTO INTERNACIONAL

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Academic year: 2022

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A DECLARAÇÃO DE FILADÉLFIA E SUA IMPORTÂNCIA NA TUTELA DOS DIREITOS HUMANOS SOCIAIS NO CONTEXTO INTERNACIONAL

João Victor Maciel de Almeida Aquino1 Fabiano Diniz de Queiroz2 Ynes da Silva Félix3

Resumo

Em 1944, em meio a Segunda Guerra Mundial, foi proclamada na Filadélfia a primeira declaração a abordar direitos de ordem universal. Essa Declaração fixou os fins e objetivos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sendo considerada uma das pedras fundamentais para a formação do sistema internacional de proteção do Trabalho.

Sua principal incumbência foi orientar, ainda dentro da lógica econômica liberal, os países membros da OIT no estabelecimento de políticas que garantissem a observância dos direitos sociais e permitissem que os indivíduos se desenvolvessem de forma livre e, sobretudo, digna. No entanto, apesar dos esforços empreendidos pela OIT e pelos Estados membros, viu-se que a realidade foi se afastando dos ideais firmados e compromissados em 1944, permitindo, por exemplo, que, em 2016 no mundo, 45 milhões de pessoas estejam submetidas a um trabalho análogo à escravidão, segundo dados da ONG Walk Free Foundation. Por esse escopo, revela-se pertinente analisar os motivos pelos quais tem sido difícil alcançar a proteção efetiva dos direitos humanos sociais, considerando a influência da Declaração de Filadélfia para o atingimento desse objetivo.

Palavras-chave

1Acadêmico do curso de graduação em Direito da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS.

2Professor voluntário e mestrando do curso de graduação em Direito da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS

3Professora Doutora do curso de graduação e de mestrado em Direito da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS e orientadora do presente trabalho.

Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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DECLARAÇÃO DE FILADÉLFIA - DIREITOS HUMANOS SOCIAIS – PROTEÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHADOR

Problema de pesquisa

Qual a importância da Declaração de Filadélfia (1944) para a proteção dos direitos humanos sociais?

Objetivos

Identificar qual o papel da Declaração de Filadélfia para a proteção dos direitos humanos sociais em âmbito internacional frente aos crescentes processos de desmonte por quais esses tem passado. Procura-se, ainda, compreender os fatores que contribuem para que haja um tendência cada vez retroativa no tocante aos direitos fundamentais.

Referências teórico-metodológicas

O presente resumo possui como referências principais a Declaração de Filadélfia da OIT e a obra “O Espírito de Filadélfia: A justiça social diante do mercado total” do jurista francês, Alain Supiot. Além disso, fez uso secundário de materiais bibliográficos diversos.

Resultados alcançados

A Declaração de Filadélfia possui características significativas frente a outros textos que influenciaram o desenvolvimento do sistema internacional de proteção dos direitos humanos. Além de ser o primeiro texto a abordar direitos de ordem universal, a declaração foi responsável por promover a justiça social como pedra angular da ordem jurídica internacional. (SUPIOT, 2014). Procurou-se durante sua elaboração estabelecer um ponto de estabilidade entre a economia liberal e os direitos dos trabalhadores, com objetivo de impedir que a lógica mercadológica - que na época conservava muito do liberalismo clássico baseado no laissez-faire - se sobressaia aos direitos humanos sociais.

A declaração além de fixar os fins e objetivos da Organização Internacional do Trabalho, reafirma os princípios fundamentais que regem a organização e dirigem o desenvolvimento do trabalho. São eles: o trabalho não é uma mercadoria; a liberdade de expressão e de associação é uma condição indispensável para um progresso constante; a

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pobreza, onde quer que exista, constitui um perigo para a prosperidade de todos; e a luta contra a necessidade deve ser conduzida com uma energia inesgotável por cada nação e através de um esforço internacional contínuo e organizado pelo qual os representantes dos trabalhadores e dos empregadores, colaborando em pé de igualdade com os dos Governos, participem em discussões livres e em decisões de caráter democrático tendo em vista promover o bem comum.

Após a Segunda Guerra Mundial estabeleceu-se uma nova ordem econômica global, influenciada pela teoria keynesiana, possibilitada principalmente pelo avanço da globalização, incremento tecnológico dos meios de produção e criação de estruturas político-sociais de proteção a nível mundial. A lógica que se difundiu na época para a condução de transformações sociais era justamente a pretendida pela Declaração de Filadélfia. Os Estados convertem e concentram suas políticas públicas, embora de maneira relativa e mitigada, em busca do estar da população, estabelecendo como direção a pacificação e justiça sociais.

Em 1973 o modelo econômico capitalista do pós-guerra entrou em recessão, as altas taxas de desemprego e inflação combinadas com baixos índices de crescimento possibilitaram a ampliação da esfera de influência neoliberal. Teóricos da escola austríaca como Friedrich Hayek afirmavam que as raízes da crise se encontravam no poder excessivo do movimento operário, especialmente o sindicalismo, que havia limitado o avanço da acumulação capitalista com seu excesso de reinvindicações e parasitismo. (ANDERSEN, 1995).

No final da década de 70 se estabelece um novo paradigma, marcado por compreender o fator humano como apenas mais um dos integrantes da cadeia de produção, diminuindo- lhe drasticamente à pura prestação laboral. Ao invés de se avaliar o impacto da liberalização econômica na segurança do trabalhador, passa-se a “medir o impacto desta segurança na competitividade econômica, encarando-a não como um meio, mas como um fim, ao qual os homens devem se ‘adaptar’”4. Para Alain Supiot isso se deve ao fato de a sociedade ter atingido um estágio de “anarcopitalismo”, onde o mais importante é a maximização do capital sem entraves. Citando Karl Marx: “a condição torna-se o

4 SUPIOT, Alain. O Direito do Trabalho ao Desbarato no ‘mercado das normas’. In Questões Laborais Ano XII –nº 26, pp. 121-144, 2005.

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condicionado, o determinante torna-se o determinado, o produtor é posto como o produto de seu produto”.5

A Declaração de Filadélfia embora precipuamente defenda direitos de caráter laboral, expande seu espectro de influência aos direitos humanos sociais, já que adota uma posição universalista que procura garantir a paz, que “para ser duradoura, deve assentar sobre a justiça social”. A ideia de justiça social pode e deve ser ampliada para englobar o maior número possível de garantias e direitos, possibilitando que “todos os seres humanos de qualquer raça, crença ou sexo, têm o direito de assegurar o bem-estar material e o desenvolvimento espiritual dentro da liberdade e da dignidade, da tranquilidade econômica e com as mesmas possibilidades”.

No entanto, o autor sustenta que estamos presenciando uma inversão do espírito de Filadélfia, na qual se pretere a defesa dos mercados em detrimento da defesa dos direitos humanos sociais. Um dos exemplos identificáveis são as “reformas do Direito do Trabalho” que, travestidas de boas intenções, degradam a prática do labor. Justifica- se com um discurso de “modernização”, “renovação” e “flexibilização” a prática lesiva de redução de garantias. Sobre esse aspecto Supiot ainda destaca a ocorrência cada vez maior da law shopping, tendência característica dos países que em busca de investidores e capital estrangeiro, transformar sua legislação – especialmente a trabalhista - para tornar mais rentável o estabelecimento de empresas em seus países. A prática criou um mercado internacional de normas onde o produto são os sistemas jurídicos nacionais.

Geralmente buscam-se países em desenvolvimento e com legislações incipientes que possibilitem a maximização dos lucros, bem como a exploração facilitada de parte dos fatores de produção (terra e trabalho).

Tais processos são facilitados por uma tendência cada vez mais presente na contemporaneidade chamada desconstrução dos direitos sociais. Trata-se de fenômeno pós-moderno, que combina a valorização da individualização e a singularidade de direitos, ressalvando a desnecessidade do estabelecimento de uma ideia de justiça transcendental aos indivíduos, portanto, sob essa ótica, identifica-se desnecessária a imposição de uma regra geral e exterior que possibilite o estabelecimento de uma ideia de proteção que vá além da esfera individual. (SUPIOT, 2014). Na formação desse pensamento se reaproveitam as já superadas teses jurídicas do século XIX, onde se

5 MARX, Karl. Crítica a Filosofia do Direito de Hegel. 2. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2010.

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considerava a autonomia da vontade e a liberdade contratual como ferramentas suficientes para garantir a paridade dos sujeitos em uma relação jurídica. Aplica-se, no entanto, uma “nova roupagem” construída a partir dos restos de velhas estruturas que reorganizadas passam uma sensação de modernidade.

No campo internacional constata-se clara preleção pelo desenvolvimento da economia em detrimento ao humano. O Banco Mundial, por exemplo, por meio do projeto Doing Business, elabora uma pesquisa em que avalia a rigidez do direito laboral em cada país, contendo ferramentas para medir os índices de: a dificuldade em contratar, a rigidez do horário, a dificuldade em despedir, a rigidez do emprego e os custos de contratação e demissão. (SANTOS, 2013). Há claramente a existência da institucionalização da exploração pelos órgãos econômicos internacionais, não sendo exclusividade do Banco Mundial o desenvolvimento de políticas do gênero, que como principal efeito colateral a obliteração da justiça social.

É importante que em tempos de crise política, econômica e social como esse se reafirme aquilo que Supiot chama de “espírito de Filadélfia”, estabelecendo um contraponto às políticas de desmonte de direitos sociais por meio da valorização da dignidade da pessoa humana em consonância com o desenvolvimento econômico, bem como da solidariedade – palavra tão difundida durante o estabelecimento do sistema moderno de proteção dos direitos humanos –.

Bibliografia

ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir & GENTILI, Pablo (orgs.) Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, pp. 09-23.

SANTOS, Andreia. O Espírito de Filadélfia - análise de uma possível “inversão da inversão”. In Cabo dos Trabalhos, n. 9, 2013.

SÜSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT. LTr,1994.

SUPIOT, Alain.O Espírito de Filadélfia: A justiça social diante do mercado total.

Editora Sulina, 2014.

SUPIOT, Alain. A Legal Perspective on the economic crisis of 2008 in International Labour Review, Vol. 149, Nº2, pp. 151-162, 2010.

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Referências

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