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RESOLUÇÃO DO CONTRATO JUSTA CAUSA TRANSFERÊNCIA

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Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 08S1630

Relator: SOUSA PEIXOTO Sessão: 08 Outubro 2008 Número: SJ200810080016304 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: REVISTA

Decisão: CONCEDIDA A REVISTA

RESOLUÇÃO DO CONTRATO JUSTA CAUSA TRANSFERÊNCIA

LOCAL DE TRABALHO

Sumário

1. Estando provado que a ré adquiriu a empresa onde os autores trabalharam e tempos depois decidiu encerrar o serviço de fabricação de vigas que aí existia e a que os autores estavam afectos e que, na sequência disso,

transferiu os autores para trabalharem na sede da ré, tem de se concluir que essa transferência de local de trabalho foi feita a título definitivo e não

meramente temporário.

2. Provando-se que cerca de dois anos e meio depois, a ré solicitou aos autores para irem realizar alguns trabalhos na sede na outra empresa, o que eles

aceitaram, e que findos esses trabalhos lhes ordenou que retomassem o trabalho na sede da empresa, temos de concluir que a recusa dos autores em retomar o trabalho na sede da empresa, com o fundamento de que o seu local de trabalho era nas instalações da outra empresa e com o fundamento de que a ré não adoptou o procedimento previsto no art.º 317.º do Código do

Trabalho, é ilícita.

3. De facto, a ordem dada pela ré não correspondia, em sede do direito

laboral, a uma transferência do local de trabalho dos autores, mas antes a uma ordem de regresso ao local de trabalho, não estando, por isso, sujeita ao

procedimento previsto no art.º 317.º do C.T..

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Texto Integral

Acordam na Secção Social do Supremo Tribunal de Justiça:

1. Relatório

AA e BB intentaram cada um a sua acção, no Tribunal do Trabalho de Vila Nova de Gaia, contra Presdouro Pré-esforçados Beira Douro, S. A., pedindo que se declarasse que a resolução do contrato de trabalho que

mantinham com a ré tinha sido por eles levada a cabo com justa causa e que a ré fosse condenada a pagar, ao primeiro autor, a quantia global de € 26.169,63 e, ao segundo, a quantia global de € 26.129,72, a título de indemnização pelos danos patrimoniais e não patrimoniais sofridos – que computaram em 45 dias de retribuição base e diuturnidade por cada ano de antiguidade – e de

retribuições em dívida, que na respectiva petição inicial devidamente discriminaram.

Em resumo, os autores alegaram que, em 1 de Agosto de 2006, resolveram com justa causa o contrato de trabalho que mantinham com a ré, pelo facto de esta os ter impedido de trabalhar a partir de 26 de Maio de 2006 e de não lhes ter pago a retribuição relativa aos meses de Junho e Julho de 2006.

A ré contestou, alegando, em resumo, que os autores é que se recusaram a ir trabalhar para o local que ela lhes tinha indicado e pediu que a indemnização que lhe é devida pelos autores, por terem resolvido o contrato sem justa causa e sem aviso prévio, fosse compensada com as importâncias de que são

credores a título da retribuição e do subsídio das férias vencidos em 1.1.2006 e dos proporcionais de férias e de subsídios de férias e Natal referentes ao ano da cessação do contrato.

Ordenada a apensação das acções e realizado o julgamento, ambas foram julgadas parcialmente procedentes, tendo a ré sido condenada a pagar ao autor AA a quantia global de € 21.622,41, sendo € 18.085,83 a título de

indemnização por danos patrimoniais e não patrimoniais e € 3.536,58 a título de retribuições referentes ao período de 26 de Maio a 31 de Julho de 2006, de férias e subsídio das férias vencidas em 1.1.2006 e de proporcionais de férias e de subsídios de férias relativos ao trabalho prestado em 2006, e ao autor BB a quantia global de € 21.382,63, sendo € 17.736,82 a título de indemnização por danos patrimoniais e não patrimoniais e € 3.645,81 a título de retribuições

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referentes ao período de 26 de Maio a 31 de Julho de 2006, de férias e subsídio de férias vencidas em 1.1.2006 e de proporcionais de férias e de subsídios de férias relativos ao trabalho prestado em 2006, tendo as

indemnizações sido fixadas em 35 dias da retribuição base e de diuturnidades por cada ano de antiguidade.

A ré recorreu, por entender que a justa causa invocada pelos autores para resolver o contrato não existia e, sem prescindir, por considerar que a indemnização devia ter sido fixada em 15 dias da retribuição base e das diuturnidades por cada ano de serviço.

Os autores também recorreram, mas subordinadamente, por discordarem do valor da indemnização que lhes foi arbitrada, a qual, segundo eles, devia

corresponder a 45 dias da retribuição base e das diuturnidade por cada ano de antiguidade.

O Tribunal da Relação do Porto, julgando improcedente o recurso da ré e parcialmente procedente o dos autores, fixou em € 20.087,56 o valor da

indemnização devida ao autor BB e em € 19.934,01 a devida ao autor para BB, fazendo-as corresponder a 40 dias da retribuição base e das diuturnidade por cada ano de antiguidade.

Mantendo o seu inconformismo, a ré interpôs recurso de revista, tendo concluído as respectivas alegações da seguinte forma:

1.ª - Da matéria de facto resulta que os AA. prestavam serviço na secção de produção de vigas da Vilaje, em Seixezelo (facto provado n.º 1 da

contestação), tendo sido transferidos para a sede da R., no início de 2003, porque a R. decidiu acabar com a produção de vigas da Vilaje, devido a defeitos resultantes de as pistas das vigas estarem desgastadas, o que

conduzia a reclamações dos clientes e decréscimo de encomendas (factos 2 e 3 da contestação); os AA. apresentavam-se ao serviço em Seixezelo e aí eram recolhidos por uma carrinha da R. que os levava para a sede, a uma distância de 10 Kms (cerca de 10-15 minutos), contando o tempo da deslocação como tempo de trabalho (factos 4 e 5 da contestação), tendo estado nesta situação até Junho de 2005 (facto 6 da contestação), altura em que lhes foram

solicitados outros serviços em Vilaje, Seixezelo, relativos a obras de reparação de um muro e de pavimentação (facto 7 da contestação); findas essas obras (e no dia 26.5.2006), a R. ordenou aos AA. que tornassem a [ir] trabalhar com os colegas para a sede da R., pondo-lhes a carrinha à disposição, e estes

recusaram esse trabalho (facto 8, 9 e 10 da contestação), vindo depois a

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resolver o contrato de trabalho com justa causa, alegando recusa de fornecer trabalho no local de trabalho e falta de pagamento dos salários;

2.ª - Não houve qualquer recusa da R. em fornecer trabalho aos AA.: Os AA. é que manifestaram expressamente a vontade de não acatar a ordem e o

trabalho ordenado, que envolvia a sua deslocação para a sede da R.; a R. quis que os AA. continuassem a prestar serviço nas instalações da sede, para onde tinham sido mudados em 2003, e os AA. recusaram--se a cumprir a ordem que lhes foi dada, não obstante o meio de deslocação posto à sua disposição;

3.ª - Tal fizeram aliás em consonância com o que já tinham afirmado

anteriormente, de forma expressa, de não mais querer trabalhar na sede da R.

(facto 57 da p.i.), o que constitui uma declaração peremptória prévia de não cumprimento;

4.ª - Os AA. tinham sido transferidos para a sede da R., no início de 2003 (factos 2, 3 e 4 da contestação), com o serviço de produção a que pertenciam, que acabou nessa altura, por decisão unilateral da R., tendo sido nessa altura que as condições de trabalho se alteraram (definitiva e não meramente

temporariamente, como incorrectamente refere o acórdão a fls. 263), não podendo pois os AA. recusar-se a cumprir três anos volvidos;

5.ª - Tanto mais que não tinham qualquer prejuízo (facto 5 da contestação);

6.ª - Também, a questão de os AA. não terem sido avisados na forma e com a antecedência devida é uma falsa argumentação: A transferência deu-se no início de 2003, quando o regime legal era o do art.° 37.° da LCT (DL n.º 49.408) e não o do art.º 317.º do Código do Trabalho, que entrou só em vigor no dia 1.12.2003;

7.ª - Seja como for, essa questão era irrelevante, não só em face das

comunicações escritas que a R. lhe fez (maxime a carta de 12.6.2006 - doc. 3 da p.i. - facto aditado pelo acórdão a fls. 257), como também porque os AA.

não queriam cumprir nem iam para a sede da R., independentemente da forma por que a ordem fosse transmitida (facto 57 da p.i.) – essa é que é a verdade e não pode ser escamoteada;

8.ª - É até duvidoso que haja, in casu, uma verdadeira transferência ou

alteração do local de trabalho, na medida em que os AA. entravam ao serviço e saíam no mesmo sítio, nas instalações de Seixezelo, tudo se passando no

âmbito da mesma empresa, entendida como unidade económica e como mera medida de gestão empresarial, maxime de recursos humanos, envolvendo a sua deslocação; porventura até sem necessidade de recorrer ou fazer apelo ao moderno conceito de empresa constante da Directiva 2001/23/CE do

Conselho, de 12 de Março, e do art.º 318°, n.º 4, do CT;

9.ª - Ora, não cumprindo a ordem, nem tomando o transporte que a R. lhes disponibilizou, nem continuando a comparecer e a trabalhar na sede da R.,

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como lhes foi determinado, verbalmente e por escrito, os AA. não tinham direito a receber a sua remuneração, encontrando-se numa situação de indisponibilidade para o trabalho e de faltas injustificadas (ac. STJ de 31.10.2000, in CJ, 2000, tomo 3, p. 278);

10.ª - A resolução do contrato, pelos AA., foi sem justa causa, o que confere o direito à R. a uma indemnização correspondente ao período de aviso prévio em falta (art.º 446.º do CT): 2 meses;

11.ª - Dada a situação e o procedimento dos AA., também não pode deixar de se considerar uma violência para a R. a fixação da indemnização em 40 dias de retribuição de base e diuturnidades, pois que sempre se teria de entrar em linha de conta com a culpa do próprio lesado, na criação e no agravamento dos danos (art.º 570.º do CC), o que levaria a fixar a indemnização no mínimo de 15 dias, se a justa causa de resolução fosse atendível.

12.ª - O acórdão recorrido fez incorrecta interpretação dos factos e, s.m.o., errada aplicação dos art.°s 315.º, 316.º, 317.º, 441.º e 443.º do CT e das demais normas jurídicas citadas nas conclusões.

O autor contra-alegou, sustentando o acerto e a confirmação da decisão recorrida e, neste Supremo Tribunal, a Ex.ma Procuradora-Geral-Adjunta também se pronunciou pela não concessão da revista, em “parecer” a que as partes não responderam.

Corridos os vistos dos juízes adjuntos, cumpre apreciar a decidir.

2. Os factos

Os factos que, sem impugnação, vêm dados como provados são os seguintes:

2.1 Referentes à acção proposta pelo autor AA (acção n.º 1202/06):

1 - O autor trabalhou para a ré como operário industrial, com a categoria de servente, prestando trabalho nas instalações da ré sitas no lugar da Feiteira, freguesia de Pedroso, deste concelho e comarca, onde antes funcionava a empresa Vilage – Vigas e Lages Pré- Esforçadas, Lda.

2 - O autor tinha sido contratado por esta empresa Vilage – Vigas e Lages Pré- Esforçadas, Lda., por contrato verbal, pelo menos desde 01/07/1980.

3 - Em Abril de 2001, a ré adquiriu a Vilage e assumiu o funcionamento da actividade comercial desta, incluindo os postos de trabalho e os trabalhadores com todos os encargos inerentes.

4 - E continuou a laborar nessas instalações sitas na Feiteira, mantendo os postos de trabalho, incluindo o do A.

5 - No dia 26 de Maio de 2006, cerca das 7 horas e 45 minutos, o autor, ao chegar ao local de trabalho deparou com o portão da entrada fechado.

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6 - Da parte de fora do portão encontravam-se o Sr. CC, encarregado das instalações e o Sr. DD, operário da ré em Albergaria.

7 - Da parte de dentro do portão encontrava-se o Sr. EE, administrador da ré.

8 - O autor, acompanhado de quatro outros colegas de trabalho FF, BB, GG e HH, dirigiu-se para o portão da entrada, para se apresentar ao trabalho e de imediato o Sr.CC e o Sr. DD barraram-lhe a entrada, impedindo-o de se

aproximar do portão.

9 - E perguntou ao autor se ia trabalhar para a Presdouro.

10 - Ao que o autor respondeu que "não".

11 - De imediato, o Sr.FF referiu a seguinte expressão: "então não entras nestas instalações".

12 - Face a esta ordem, o autor ficou impedido de entrar no local de trabalho e de prestar trabalho.

13 - Por considerarem a ordem ilegal, o autor e demais colegas solicitaram a intervenção da autoridade policial, tendo-se deslocado ao local uma patrulha da GNR do Posto dos Carvalhos de que foi elaborado o relatório de patrulha nº 146/06 de 26 de Maio.

14 - Com a intervenção policial manteve-se o referido em 13..

15 - Durante todo o dia e no horário de trabalho, o autor manteve-se junto à entrada das instalações.

16 - No dia seguinte, o autor apresentou-se novamente ao trabalho no local de trabalho, mas viu novamente a entrada ser recusada pela ré e impedido de prestar trabalho.

17 - O que continuou nos dias seguintes do mês de Maio, durante todo o mês de Junho e até ao dia 31 de Julho de 2006.

18 - Durante este período de tempo, desde 26 de Maio até 31 de Julho, o A.

apresentou--se todos os dias pontualmente à hora da entrada ao trabalho – 7 horas e 45 minutos – no local de trabalho, aí permanecendo durante o horário de trabalho até às 17 horas e 30 minutos e diariamente a ré recusou-lhe a entrada, impedindo-o de atravessar o portão da entrada e aceder às

instalações para prestar trabalho.

19 - Devido a esta actuação da ré, o autor e demais colegas apresentaram queixa-crime contra a ré nos serviços do Ministério Público de Vila Nova de Gaia e que corre termos nos autos de inquérito nº 2928/06.5TAVNG, da 3ª secção.

20 - O autor recebeu da ré uma carta a justificar a actuação do dia 26 de Maio, junta como do doc. 1, e que aqui se dá por integralmente reproduzida, na qual declarou que "no dia 26 de Maio de 2006 foi-lhe dada ordem para trabalhar nas instalações da sede da Presdouro, a 10 Km de distância por não ter trabalho na Presdouro (Seixezelo). O senhor recusou-se a cumprir a ordem e

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não entrou na carrinha que a empresa lhe disponibilizou para esse efeito."

21 - E por isso "como se recusa a prestar trabalho na Presdouro consideramos que está na situação de faltas injustificadas desde o dia 26 de Maio".

22 - Em resposta e por carta de 7 de Junho de 2006, de fls. 22, o autor comunicou à ré que é falso ter-se recusado a prestar trabalho por todos os dias se apresentar ao trabalho no local de trabalho e no horário de trabalho.

23 - Pois que o seu local de trabalho é e sempre foi nas instalações de Seixezelo.

24 - E não lhe ter sido comunicado por escrito qualquer alteração do local de trabalho, o período de duração e os motivos dessa alteração.

25 - Continuando a haver trabalho nas instalações em Seixezelo pois encontra- se a laborar normalmente com outros operários.

26 - Não aceitando, por isso, a marcação de qualquer falta ao trabalho e muito menos injustificada.

27 - Reivindicando o exercício dos direitos de manutenção do posto de

trabalho no local de trabalho e de ser tratado com respeito e urbanidade pela ré.

28 - Por carta de 12/06/2006 de fls. 23, a ré comunicou ao autor que não ordenou a alteração do local de trabalho, mas apenas a mera deslocação à sede da empresa para aí prestar serviço.

29 - E confirmou a ordem de "prestar serviço na sede da empresa porque nos faz falta aí e não tem trabalho nas instalações de Seixezelo".

30 - Sendo que "a ordem tem natureza temporária, entendendo-se como tal que não ultrapassará o período de seis meses".

31 - Por carta de 20/06/2006, de fls. 24 e 25, enviada sob registo e

recepcionada pela ré em 21/06/2006, conforme consta do aviso de recepção que junta sob doc. 5, o autor protestou dos motivos invocados pela ré,

alegando continuar a haver trabalho em Seixezelo onde se encontram outros operários e por não ter havido extinção do seu posto de trabalho.

32 - E ainda protestou da invocada natureza temporária de deslocação, face ao que havia ocorrido em Abril de 2002 quando a ré solicitou ao autor para ir ajudar a fazer um muro nas instalações da sede em Albergaria e por um período de três a quatro meses, mas que se prolongou até Julho de 2005.

33 - Deslocação que foi efectuada nesse período contra a vontade do autor.

34 - Período durante o qual o autor, para além de ajudar a fazer o muro, foi depois obrigado a fazer trabalhos de pintura, virar tubos e argolas, fazer limpezas, abrir covas, andar na lama enterrado até aos joelhos e outros trabalhos.

35 - Exercidos em manifesto esforço físico e pressão psicológica.

36 - Dando a gerência da ré ordem de trabalho de costas voltadas para o autor

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e demais operários e com um gesto de dedo apontado para o local de trabalho.

37 - Os trabalhadores da Presdouro, quando chegava o autor e os seus colegas diziam "já chegaram os escravos".

38 - Por causa dos factos, referidos nas respostas aos arts. 34°, 37°, 39° e 40°

da petição inicial, o A. temeu que a situação não fosse temporária e mostrou- se indisponível para prestar trabalho em Albergaria, reclamando trabalho no seu local de trabalho.

39 - No dia 18 de Julho de 2006, o autor reclamou da ré o pagamento do salário devido ao mês de Junho, por carta de fls. 27.

40 - A que a ré respondeu por carta de 27 de Julho de 2006, fls. 28, na qual a ré alegou que "a falta de pagamento do salário de Julho de 2006 deve-se à situação de incumprimento em que o senhor se encontra".

41 - No dia 1 de Agosto o autor decidiu resolver o contrato de trabalho celebrado com a ré, o que lhe comunicou por carta de fls. 29 e que a ré

recebeu em 03/08/2006, conforme consta do aviso de recepção junto sob doc.

9.

42 - Na qual invocou recusa em fornecer trabalho no local de trabalho com impedimento da entrada nas instalações diariamente e de forma continuada, desde o dia 26 de Maio de 2006 até ao dia 31 de Julho de 2006 e ainda falta de pagamento pontual das remunerações devidas relativas aos meses de Junho e Julho.

43 - O que considerou ser justa causa para a resolução do contrato de trabalho e com efeitos imediatos.

44 - Para tanto reclamou o pagamento, no prazo de oito dias, de todas as remunerações relativas ao tempo de trabalho não pago, férias, subsídio de férias e subsídio de Natal vencidas e respectivos proporcionais e ainda a compensação por danos patrimoniais e não patrimoniais sofridos, calculado com base em 45 dias de retribuição por cada ano completo de antiguidade e proporcionais.

45 - A que a ré respondeu por carta de 3 de Agosto de 2006, de fls. 31, na qual não reconheceu ajusta causa para a resolução do contrato alegando que foi o autor quem esteve em infracção.

46 - Por carta de 28 de Agosto de 2006, de fls. 32, o autor voltou a reclamar o pagamento dos créditos laborais vencidos por força da cessação do contrato de trabalho relativos a férias, subsídio de férias e subsídio de Natal e

respectivos proporcionais.

47 - O que a ré não pagou até à data.

48 - Pois nesse período de tempo desde 26 de Maio até 31 de Julho de 2006, havia outros operários em Seixezelo a prestar trabalho à ré.

49 - O que, de forma expressa, o autor tinha declarado à ré quando saiu de

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Albergaria e regressou a Seixezelo, afirmando ao administrador da ré e na presença dos demais colegas que "ao inferno de Albergaria nunca mais voltava".

50 - À data da resolução do contrato, o autor auferia o salário de € 525,23, diuturnidades de € 52,37 e subsídio de alimentação diário de € 2,94.

51 - O autor tem 49 anos.

52 - Com esta idade e face à situação de crise laboral que o país atravessa terá dificuldades em conseguir arranjar um novo emprego para fazer face aos

encargos da vida pessoal e familiar.

53 - É viúvo e vive exclusivamente dos rendimentos do trabalho.

54 - Durante o período em que ficou impedido de prestar trabalho e se manteve ao portão da empresa, ficou seriamente afectado na sua dignidade pessoal e profissional, sendo alvo de comentários, risos e gestos por quem passava no local, como se fosse um malandro e não quisesse trabalhar.

55 -Nem sequer tendo acesso às instalações da empresa para fazer as necessidades fisiológicas.

56 - Durante todo o dia exposto às condições climatéricas adversas, sobretudo ao sol e ao calor.

57 - Numa situação de ociosidade provocada, que nunca quis e a que nunca foi habituado.

58 - Pois desde tenra idade que trabalhou e nunca se recusou a prestar trabalho quando lhe foi solicitado.

59 - A perda do posto de trabalho provocou no autor sentimentos de revolta, frustração e inquietação quanto ao futuro.

60 - O que o abalou emocionalmente.

61 - O autor prestava serviço na secção de produção de vigas da Vilage, em Seixezelo.

62 - No início de 2003, a ré decidiu acabar com a produção de vigas da Vilage, porque apresentavam defeitos resultantes de as pistas das vigas estarem desgastadas, o que conduzia a reclamações dos clientes e decréscimo de encomendas.

63 - E centralizou a produção de vigas na sua unidade principal, sita na sede, em S. João de Ver.

64 - O autor e quatro colegas foram transferidos para a sede da ré.

65 - O autor apresentava-se ao serviço em Seixezelo e aí era recolhido por uma carrinha da ré que o levava para a sede, a uma distância de 10 Kms (cerca de 10-15 minutos), contando o tempo da deslocação como tempo de trabalho.

66 - Esteve nesta situação, até Junho de 2005.

67 - Em Junho de 2005, a ré solicitou ao autor (e aos quatro colegas) outros

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serviços em Vilage, Seixezelo, relativos a obras de reparação de um muro e de pavimentação, e aceitaram colaborar nesse trabalho.

68 - Findas essas obras, a ré ordenou ao autor que fosse trabalhar com os colegas para a sede da ré e estes recusaram esse trabalho.

69 - No dia 26/05/2006, pelas 7 horas e 45 minutos, a ré comunicou ao autor e aos colegas que tornavam a ir prestar serviço para as instalações da sede, pondo-lhes a carrinha à disposição para esse transporte.

70 - O autor e os colegas recusaram-se a cumprir a ordem e a tomar o transporte, como confessa no art. 11º.

71 - Nos dias seguintes e até final, a situação repetiu-se, com renovação da ordem e seu incumprimento e mantendo-se o autor à porta das instalações, com os seus quatro colegas.

72 - Seguiu-se, depois, a troca de correspondência documentada pelos

documentos 1 a 8 da petição inicial, que culminou com a resolução do contrato de trabalho, pelo autor, com invocação de justa causa, pela carta junta a fls.

29, baseada em dois motivos: a) Recusa em fornecer trabalho no local de trabalho com impedimento da entrada nas instalações de 26 de Maio a 31 de Julho de 2006; b) Falta de pagamento pontual das remunerações dos meses de Junho e de Julho de 2006.

73 - O serviço que subsistia em Seixezelo era de produção de blocos split, por encomenda.

2.2 Referentes à acção proposta pelo autor BB (acção n.º 1205/06):

1.O autor trabalhou para a ré como operário industrial, com a categoria de servente, prestando trabalho nas instalações da ré sitas no lugar da Feiteira, freguesia de Pedroso, deste concelho e comarca, onde antes funcionava a empresa Vilage – Vigas e Lages Pré -Esforçadas, Lda.

2. O autor tinha sido contratado por esta empresa Vilage – Vigas e Lages Pré- Esforçadas, Lda., por contrato verbal e iniciou funções em 01.01.1981.

3. Em Abril de 2001, a ré adquiriu a Vilage e assumiu o funcionamento da actividade comercial desta, incluindo os postos de trabalho e os trabalhadores com todos os encargos inerentes.

4. E continuou a laborar nessas instalações sitas na Feiteira, mantendo os postos de trabalho, incluindo o do A.

5. No dia 26 de Maio de 2006, cerca das 7 horas e 45 minutos, o autor, ao chegar ao local de trabalho deparou com o portão da entrada fechado.

6. Da parte de fora do portão encontravam-se o Sr. CC, encarregado das instalações e o Sr. DD, operário da ré em Albergaria.

7. Da parte de dentro do portão encontrava-se o Sr. EE, administrador da ré.

8. O autor, acompanhado de quatro outros colegas de trabalho FF, BB, GG e

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HH, dirigiu-se para o portão da entrada, para se apresentar ao trabalho e de imediato o Sr. FF e o Sr. DD barraram-lhe a entrada, impedindo-o de se aproximar do portão.

9. E perguntou ao autor se ia trabalhar para a Presdouro.

10. Ao que o autor respondeu que "não".

11. De imediato o Sr. FF referiu a seguinte expressão: "então não entras nestas instalações".

12. Face a esta ordem, o autor ficou impedido de entrar no local de trabalho e de prestar trabalho.

13. Por considerarem a ordem ilegal, o autor e demais colegas solicitaram a intervenção da autoridade policial, tendo-se deslocado ao local uma patrulha da GNR do Posto dos Carvalhos de que foi elaborado o relatório de patrulha nº 146/06 de 26 de Maio.

14. Com a intervenção policial manteve-se o referido na resposta ao art. 13°

da petição inicial.

15. Durante todo o dia e no horário de trabalho o autor manteve-se junto à entrada das instalações.

16. No dia seguinte, o autor apresentou-se novamente ao trabalho no local de trabalho, mas viu novamente a entrada ser recusada pela ré e impedido de prestar trabalho.

17. O que continuou nos dias seguintes do mês de Maio, durante todo o mês de Junho e até ao dia 31 de Julho de 2006.

18. Durante este período de tempo, desde 26 de Maio até 31 de Julho, o A.

apresentou-se todos os dias pontualmente à hora da entrada ao trabalho – 7 horas e 45 minutos – no local de trabalho, aí permanecendo durante o horário de trabalho até às 17 horas e 30 minutos e diariamente a ré recusou-lhe a entrada, impedindo-o de atravessar o portão da entrada e aceder às

instalações para prestar trabalho.

19. Devido a esta actuação da ré, o autor e demais colegas apresentaram queixa-crime contra a ré nos serviços do Ministério Público de Vila Nova de Gaia e que corre termos nos autos de inquérito nº 2928/06.5TAVNG, da 3ª secção.

20. O autor recebeu da ré uma carta a justificar a actuação do dia 26 de Maio, junta com doc. 1, e que aqui se dá por integralmente reproduzida, na qual declarou que “no dia 26 de Maio de 2006 foi-lhe dada ordem para trabalhar nas instalações da sede da Presdouro, a 10 Km de distância por não ter trabalho na Presdouro (Seixezelo). O senhor recusou-se a cumprir a ordem e não entrou na carrinha que a empresa lhe disponibilizou para esse efeito.”

21. E por isso "como se recusa a prestar trabalho na Presdouro consideramos que está na situação de faltas injustificadas desde o dia 26 de Maio".

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22. Em resposta e por carta de 7 de Junho de 2006, de fls. 22, o autor comunicou à ré que é falso ter-se recusado a prestar trabalho por todos os dias se apresentar ao trabalho no local de trabalho e no horário de trabalho.

23. Pois que o seu local de trabalho é e sempre foi nas instalações de Seixezelo.

24. E não lhe ter sido comunicado por escrito qualquer alteração do local de trabalho, o período de duração e os motivos dessa alteração.

25. Continuando a haver trabalho nas instalações em Seixezelo pois encontra- se a laborar normalmente com outros operários.

26. Não aceitando por isso a marcação de qualquer falta ao trabalho e muito menos injustificada.

27. Reivindicando o exercício dos direitos de manutenção do posto de trabalho no local de trabalho e de ser tratado com respeito e urbanidade pela ré.

28. Por carta de 12/06/2006 de fls. 23, a ré comunicou ao autor que não ordenou a alteração do local de trabalho, mas apenas a mera deslocação à sede da empresa para aí prestar serviço.

29. E confirmou a ordem de "prestar serviço na sede da empresa porque nos faz falta aí e não tem trabalho nas instalações de Seixezelo".

30. Sendo que "a ordem tem natureza temporária, entendendo-se como tal que não ultrapassará o período de seis meses".

31. Por carta de 20/06/2006, de fls. 24 e 25, enviada sob registo e

recepcionada pela ré em 21/06/2006, conforme consta do aviso de recepção que junta sob doc.5. o autor protestou dos motivos invocados pela ré,

alegando continuar a haver trabalho em Seixezelo onde se encontram outros operários e por não ter havido extinção do seu posto de trabalho.

32. E ainda protestou da invocada natureza temporária de deslocação, face ao que havia ocorrido em Abril de 2002 quando a ré solicitou ao autor para ir ajudar a fazer um muro nas instalações da sede em Albergaria e por um período de três a quatro meses, mas que se prolongou até Julho de 2005.

33. Deslocação que foi efectuada nesse período contra a vontade do autor.

34. Período durante o qual o autor, para além de ajudar a fazer o muro, foi depois obrigado a fazer trabalhos de pintura, virar tubos e argolas, fazer limpezas, abrir covas, andar na lama enterrado até aos joelhos e outros trabalhos.

35. Exercidos em manifesto esforço físico e pressão psicológica.

36. Dando a gerência da ré ordem de trabalho de costas voltadas para o autor e demais operários e com um gesto de dedo apontado para o local de trabalho.

37. Os trabalhadores da Presdouro, quando chegava o autor e os seus colegas diziam "já chegaram os escravos".

38. Por causa dos factos, referidos nas respostas aos arts. 34°, 37°, 39° e 40°

(13)

da petição inicial, o A. temeu que a situação não fosse temporária e mostrou- se indisponível para prestar trabalho em Albergaria, reclamando trabalho no seu local de trabalho.

39. No dia 18 de Julho de 2006, o autor reclamou da ré o pagamento do salário devido ao mês de Junho, por carta de fls. 27.

40. A que a ré respondeu por carta de 27 de Julho de 2006, fls. 28, na qual a ré alegou que "a falta de pagamento do salário de Julho de 2006 deve-se à

situação de incumprimento em que o senhor se encontra".

41. No dia 1 de Agosto o autor decidiu resolver o contrato de trabalho celebrado com a ré, o que lhe comunicou por carta de fls. 29 e que a ré

recebeu em 03/08/2006, conforme consta do aviso de recepção junto sob doc.

9.

42 Na qual invocou recusa em fornecer trabalho no local de trabalho com impedimento da entrada nas instalações diariamente e de forma continuada, desde o dia 26 de Maio de 2006 até ao dia 31 de Julho de 2006 e ainda falta de pagamento pontual das remunerações devidas relativas aos meses de Junho e Julho.

43. O que considerou ser justa causa para a resolução do contrato de trabalho e com efeitos imediatos.

44. Para tanto reclamou o pagamento, no prazo de oito dias, de todas as remunerações relativas ao tempo de trabalho não pago, férias, subsídio de férias e subsídio de Natal vencidas e respectivos proporcionais e ainda a compensação por danos patrimoniais e não patrimoniais sofridos, calculado com base em 45 dias de retribuição por cada ano completo de antiguidade e proporcionais.

45. A que a ré respondeu por carta de 3 de Agosto de 2006, de fls. 31, na qual não reconheceu a justa causa para a resolução do contrato alegando que foi o autor quem esteve em infracção.

46. Por carta de 28 de Agosto de 2006, de fls. 32, o autor voltou a reclamar o pagamento dos créditos laborais vencidos por força da cessação do contrato de trabalho relativos a férias, subsídio de férias e subsídio de natal e

respectivos proporcionais.

47. O que a ré não pagou até à data.

48. Pois nesse período de tempo, desde 26 de Maio até 31 de Julho de 2006, havia outros operários em Seixezelo a prestar trabalho à ré.

49. O que, de forma expressa, o autor tinha declarado à ré quando saiu de Albergaria e regressou a Seixezelo, afirmando ao administrador da ré e na presença dos demais colegas que "ao inferno de Albergaria nunca mais voltava".

50. À data da resolução do contrato, o autor auferia o salário de € 541,69,

(14)

diuturnidades de € 52,37 e subsídio de alimentação diário de € 2,94.

51. O autor tem 53 anos.

52. Com esta idade e face á situação de crise laboral que o país atravessa terá dificuldades em conseguir arranjar um novo emprego para fazer face aos encargos da vida pessoal e familiar.

53. É viúvo e vive exclusivamente dos rendimentos do trabalho.

54. Durante o período em que ficou impedido de prestar trabalho e se manteve ao portão da empresa, ficou seriamente afectado na sua dignidade pessoal e profissional, sendo alvo de comentários, risos e gestos por quem passava no local, como se fosse um malandro e não quisesse trabalhar.

55. Nem sequer tendo acesso às instalações da empresa para fazer as necessidades fisiológicas.

56. Durante todo o dia exposto às condições climatéricas adversas, sobretudo ao sol e ao calor.

57. Numa situação de ociosidade provocada, que nunca quis e a que nunca foi habituado.

58. Pois desde tenra idade que trabalhou e nunca se recusou a prestar trabalho quando lhe foi solicitado.

59. A perda do posto de trabalho provocou no autor sentimentos de revolta, frustração e inquietação quanto ao futuro.

60. O que o abalou emocionalmente.

61. O autor prestava serviço na secção de produção de vigas da Vilage, em Seixezelo.

62. No início de 2003, a ré decidiu acabar com a produção de vigas da Vilage, porque apresentavam defeitos resultantes de as pistas das vigas estarem desgastadas, o que conduzia a reclamações dos clientes e decréscimo de encomendas.

63. E centralizou a produção de vigas na sua unidade principal, sita na sede, em S. João de Ver.

64. O autor e quatro colegas foram transferidos para a sede da ré.

65. O autor apresentava-se ao serviço em Seixezelo e aí era recolhido por uma carrinha da ré que o levava para a sede, a uma distância de 10 Kms (cerca de 10-15 minutos), contando o tempo da deslocação como tempo de trabalho.

66. Esteve nesta situação, até Junho de 2005.

67. Em Junho de 2005, a ré solicitou ao autor (e aos quatro colegas) outros serviços em Vilage, Seixezelo, relativos a obras de reparação de um muro e de pavimentação, e aceitaram colaborar nesse trabalho.

68. Findas essas obras a ré ordenou ao autor que fosse trabalhar com os colegas para a sede da ré e estes recusaram esse trabalho.

69. No dia 26/05/2006, pelas 07 horas e 45 minutos, a ré comunicou ao autor e

(15)

aos colegas que tornavam a ir prestar serviço para as instalações da sede, pondo-lhes a carrinha à disposição para esse transporte.

70. O autor e os colegas recusaram-se a cumprir a ordem e a tomar o transporte, como confessa no art. 11º.

71. Nos dias seguintes e até final a situação repetiu-se, com renovação da ordem e seu incumprimento e mantendo-se o autor à porta das instalações, com os seus quatro colegas.

72. Seguiu-se depois a troca de correspondência documentada pelos

documentos 1 a 8 da petição inicial, que culminou com a resolução do contrato de trabalho, pelo autor, com invocação de justa causa, pela carta junta a fls.

29, baseada em dois motivos: a) Recusa em fornecer trabalho no local de trabalho com impedimento da entrada nas instalações de 26 de Maio a 31 de Julho de 2006; b) Falta de pagamento pontual das remunerações dos meses de Junho e de Julho de 2006.

73. O serviço que subsistia nem Seixezelo era de produção de blocos split, por encomenda.

2.3 Facto comum às duas acções (aditado pela Relação):

75. É do seguinte teor a carta de 2006-06-12, referenciada no ponto 28 supra de ambos os processos:

“…Não lhe foi ordenada qualquer alteração do local de trabalho, mas a mera deslocação à sede da empresa, para aí prestar serviço, como fez em ocasiões anteriores e com procedimentos idênticos, sem que tivesse suscitado qualquer problema.

Portanto, o enquadramento legal que faz da situação não é correcto e sempre seria um abuso pretender uma comunicação escrita, quando sabe

perfeitamente do que se trata.

Seja como for, e para que isso não constitua motivo para se recusar a

trabalhar na sede da empresa, fica claro que a ordem é a de prestar serviço na sede da empresa, porque nos faz falta aí e não tem trabalho nas instalações de Seixezelo

Esta ordem tem natureza temporária, entendendo-se como tal que não ultrapassará o período de 6 meses

No entanto, se se tornar uma necessidade definitiva, antes daquele prazo e oportunamente ser-lhe-á comunicada essa decisão

Disponibilizamos-lhe viatura para as deslocações, como habitualmente…”».

3. O direito

As questões suscitadas pela recorrente são as seguintes:

- Saber se os autores tinham justa causa, para resolver o contrato de trabalho

(16)

que os vinculava à ré;

- Na hipótese afirmativa, saber se a indemnização de antiguidade que lhes foi arbitrada deve ser reduzida;

- Na hipótese negativa, saber se a ré tem direito a indemnização.

3.1 Da justa causa

Ocorrendo justa causa, o trabalhador pode fazer cessar imediatamente o contrato de trabalho (art.º 441.º, n.º 1, do Código do Trabalho), devendo a declaração de resolução ser feita por escrito, com indicação dos factos que a justificam, nos 30 dias subsequentes ao conhecimento dos mesmos (art.º 442.º, n.º 1, do CT), sendo que na acção em que for apreciada a ilicitude da resolução apenas são atendíveis para a justificar os factos constantes da referida comunicação (art.º 444.º, n.º 3, do CT).

A falta culposa de pagamento pontual da retribuição e a violação culposa das garantias legais ou convencionais do trabalhador fazem parte do elenco de comportamentos que o legislador, de forma não taxativa, considera

susceptíveis de justificar a resolução imediata do contrato de trabalho por parte do trabalhador (art.º 441.º, n.º 2, alíneas b) e c), do CT) com direito a indemnização por todos os danos patrimoniais e não patrimoniais a fixar entre 15 e 45 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de antiguidade (art.º 443.º, n.º 1, do CT).

No caso em apreço, os autores resolveram o contrato que mantinham com a ré, por carta datada de 1 de Agosto de 2006, invocando como justa causa para tal o facto da ré não lhes fornecer trabalho no local de trabalho, impedindo-os, diariamente, de entrar nas instalações desde 26 de Maio até 31 de Julho de 2006, e a falta de pagamento das remunerações relativas aos meses de Junho e Julho.

Como decorre da factualidade dada como provada, os autores eram

trabalhadores da sociedade “Vilage – Vigas e Lages Pré-Esforçadas, L.da”, que tinha as suas instalações no lugar da Feiteira (ou Seixezelo), freguesia de Pedroso, concelho de Vila Nova de Gaia.

Em Abril de 2001, a ré adquiriu a “Vilage” e, por via disso, os autores

passaram a trabalhar para a ré, continuando a prestar a sua actividade nas ditas instalações. No início de 2003, a ré decidiu acabar com a produção de vigas na “Vilage” e centralizou a produção das mesmas na sua unidade principal, sita na sua sede, em S. João de Ver.

(17)

Os autores, que trabalhavam na secção de produção de vigas da “Vilage”, em Seixezelo, foram, então, transferidos para a sede da ré, juntamente com mais quatro colegas de trabalho.

A sede da ré ficava a 10 Km das instalações de Seixezelo, onde os autores eram recolhidos por uma carrinha da ré que os levava para a sede da ré, demorando a deslocação cerca de 10-15 minutos, contando o tempo da deslocação como tempo de trabalho.

Em Junho de 2005, a ré solicitou aos autores e aos outros quatro colegas a realização de serviços na “Vilage”, relativos a obras de reparação de um muro e pavimentação, o que eles aceitaram.

Findas as obras, a ré ordenou aos autores e aos colegas que fossem novamente para a sede da ré, o que eles recusaram, tendo continuado a apresentarem-se diariamente nas instalações de Seixezelo, onde a entrada lhes era vedada, situação esta que se manteve desde 26 de Maio até 31 de Julho de 2006, sendo que em 1 de Agosto de 2006 os autores resolveram o contrato de trabalho.

Como dos autos também decorre, os autores recusaram-se a cumprir a ordem que lhes foi dada pela ré, por entenderem que a mesma era ilegal, pois,

segundo eles, o seu local de trabalho era e sempre foi nas instalações de Seixezelo e a ré não lhes tinha comunicado por escrito qualquer alteração do local de trabalho, nem o período de duração e os motivos da mesma.

Por sua vez, a ré entendia que a ordem era legal e que a recusa em cumprir a aludida ordem fazia incorrer os autores em faltas injustificadas, sem direito à correspondente retribuição.

O objecto do litígio resume-se, pois, à questão de saber se a ordem dada pela ré aos autores era legítima ou não.

Nas instâncias entendeu-se que não, com o fundamento de que a ré não tinha cumprido o disposto no art.º 317.º do Código do Trabalho (CT). Mais

concretamente, na decisão da 2.ª instância entendeu-se que a transferência dos autores, no início de 2003, das instalações da “Vilage”, em Seixezelo (ou Feiteira) para a sede da ré em S. João-de-Ver (Feira), não tinha sido definitiva, razão pela qual o seu local de trabalho continuava a ser em Seixezelo.

(18)

A ré discorda daquele entendimento, alegando que a aludida transferência tinha sido definitiva e que, sendo assim, os autores estavam obrigados a cumprir a ordem que lhes foi dada em 26 de Maio de 2006.

Vejamos de que lado está a razão.

Como já foi referido, está provado que os autores eram trabalhadores da

“Vilage” cujas instalações se situavam em Feiteira (ou Seixezelo), Pedroso, Vila Nova de Gaia, onde os autores prestavam a sua actividade, na secção de produção de vigas (n.º 1 e n.º 61 dos factos). Em Abril de 2001, a ré adquiriu a

“Vilage” e assumiu o funcionamento da actividade comercial desta, incluindo os postos de trabalho e os trabalhadores, com todos os encargos inerentes (n.º 2 dos factos). No início de 2003, a ré decidiu acabar com a produção de vigas da Vilage, porque apresentavam defeitos resultantes de as pistas das vigas estarem desgastadas, o que conduzia a reclamações dos clientes e decréscimo de encomendas e centralizou a produção de vigas na sua unidade principal, sita na sede, em S. João de Ver (n.os 62 e 63 dos factos). Os autores e mais quatro colegas foram, então, transferidos para a sede da ré, onde se

mantiveram até Junho de 2005, data em que a ré lhes solicitou a realização de determinados serviços na Vilage, em Seixezelo, o que eles aceitaram (n.os 64, 66 e 67 dos factos). Findas essas obras, a ré ordenou aos autores que fossem trabalhar para a sede da ré e no dia 26 de Maio de 2006, pelas 7h45,

comunicou-lhes que tornavam a ir prestar serviço para as instalações da sede, pondo-lhes a carrinha à disposição para esse transporte (n.os 68 e 69 dos factos).

A factualidade referida evidencia que a transferência de local de trabalho dos autores, no início de 2003, das instalações da “Vilage”, em Seixezelo, Vila Nova de Gaia, para a sede da ré, em S. João-de-Ver, na Feira, foi uma

transferência de carácter definitivo e não meramente temporário. O motivo da transferência (a extinção do serviço onde prestavam a sua actividade) não deixa margem para dúvidas a tal respeito. Mas se dúvidas houvesse, elas resultariam em prejuízo dos autores, pois sobre eles recaía, nos termos do art.º 342.º, n.º 1, do C.C., o ónus de provar a justa causa que invocaram para resolver o contrato, ou que passava por provar, antes de mais, que a ordem dada pela ré, para retomarem o trabalho em S. João-de-Ver, era ilegítima, o que vale por dizer que tinham de provar que a transferência do seu local trabalho ocorrida em 2003 tinha sido meramente temporária, o que os factos provados não demonstram.

(19)

E nem se diga, como se disse no acórdão recorrido, que a carta referida nos n.os 28 e 75 da matéria de facto, faz prova de que o local de trabalho dos autores continuava a ser em Seixezelo e que a sua transferência inicial para S.

João-de-Ver não fora definitiva.

É certo que a ré, na carta que enviou aos autores, em 12 de Junho de 2006, consignou que “[n]ão lhe foi ordenada qualquer alteração do local de trabalho, mas a mera deslocação à sede da empresa, para aí prestar serviço, como fez em ocasiões anteriores e com procedimentos idênticos, sem que tivesse suscitado qualquer problema” e que “[e]sta ordem tem natureza temporária, entendendo-se como tal que não ultrapassará o período de 6 meses”. No entanto, nos termos do artigo 664.º do CPC, o tribunal não está vinculado à qualificação jurídica dos factos realizada pelas partes.

Ora, face ao carácter definitivo da transferência verificada no início de 2003, o local de trabalho dos autores passou, desde então, a ser nas instalações sitas na sede da ré, em S. João--de-Ver. Temporária foi, sem dúvida, a sua

transferência destas instalações para as instalações da “Vilage”, em Junho de 2005. A factualidade dada como provada é bem clara: os autores foram

convidados pela ré para irem fazer uns trabalhos à Vilage, o que eles aceitaram.

Chegados aqui, é fácil de concluir que a ordem dada pela ré nada tinha de ilícita ou de ilegal, pois tratava-se de uma ordem de regresso dos autores ao seu local (efectivo) de trabalho, não sendo, por isso, aplicável ao caso o procedimento previsto no art.º 317.º do C.T., o qual só é aplicável nas transferências do local efectivo de trabalho para outro local, seja a título definitivo seja a título temporário.

E sendo assim, a recusa da ré em dar trabalho aos autores nas instalações da

“Vilage” mostra-se perfeitamente lícita. Os autores é que infringiram as suas obrigações contratuais, ao recusarem-se a prestar a sua actividade no local que lhes foi indicado pela ré, incorrendo, por isso, em faltas injustificadas sem direito à correspondente retribuição, nos termos dos art.os 225.º, n.º 3 e

231.º, n.º 1, do C.T., o que vale por dizer que os autores resolveram o contrato sem justa causa.

3.2 Do montante da indemnização

A resolução do contrato de trabalho sem justa causa não confere aos autores o

(20)

direito à indemnização que lhes foi arbitrada na decisão recorrida e, sendo assim, prejudicada fica o conhecimento da questão referente ao montante da dita indemnização.

3.3 Da indemnização por falta de aviso prévio

Nos termos do art.º 446.º do C.T., “[a] resolução do contrato pelo trabalhador com invocação de justa causa, quando esta não tenha sido provada, confere ao empregador o direito a uma indemnização pelos prejuízos causados não

inferior ao montante calculado nos termos do artigo 448.º.

Por sua vez, nos termos do art.º 448.º, “[s]e o trabalhador não cumprir, total ou parcialmente, o prazo de aviso prévio estabelecido no artigo anterior, fica obrigado a pagar ao empregador uma indemnização de valor igual à

retribuição base e diuturnidades correspondentes ao período de antecedência em falta, sem prejuízo da responsabilidade civil pelos danos eventualmente causados em virtude da inobservância do prazo de aviso prévio ou emergentes da violação de obrigações assumidas em pacto de permanência”.

Não tendo os autores provado a justa causa invocada para a resolução do contrato de trabalho que os vinculava à ré e tendo a resolução sido decretada com efeitos imediatos, tem a ré direito à receber uma indemnização de cada um deles, a calcular nos termos da primeira parte do referido art.º 448.º, uma vez que a ré não alegou ter sofrido quaisquer danos em consequência da não concessão pelos autores do aviso prévio a que estavam obrigados.

Nos termos do art.º 447.º, n.º1, do C.T., os autores eram obrigados a dar um aviso prévio de 60 dias, por terem mais de dois anos de antiguidade. Estando provado que, à data da resolução do contrato, o autor BB auferia € 525,23 de retribuição base e € 52,37 de diuturnidades e que o autor BB auferia € 541,37 de retribuição base e € 52,37 de diuturnidades, a ré tem direito a receber do primeiro a quantia de € 1.155,20 e do segundo a quantia de € 1.187,48, a título de indemnização por falta de aviso prévio.

3.4 Da compensação

Na contestação, a ré pediu que a indemnização por falta de aviso prévio fosse compensada com os créditos devidos aos autores a título da retribuição e do subsídio das férias vencidas em 1.1.2006 e a título de proporcionais.

Na sentença da 1.ª instância, a ré foi condenada a pagar ao autor BB a quantia de € 3.536,58, a título da retribuição referente ao período de 26 de Maio de

(21)

2006 a 31 de Julho do mesmo, da retribuição e do subsídio das férias vencidas em 1.1.2006 e de proporcionais de férias, subsídio de férias e subsídio de Natal, e a pagar ao autor BB a quantia de € 3.645,81 a igual título.

A ré não pôs em causa o direito dos autores à retribuição e subsídio das férias vencidas em 1.1.2006 e aos proporcionais de férias, de subsídio de férias e de subsídio de Natal referentes ao trabalho prestado no ano da cessão do

contrato, ou seja, de 1 de Janeiro a 31 de Julho de 2006. Limitou-se a alegar que os autores já tinham gozado um dia de férias, facto que foi dado como não provado.

Deste modo e atento o disposto nos artigos 211.º, n.º 1 (o trabalhador tem direito a um período de férias retribuídas em cada ano civil), 213.º, n.º 1 (o período anual de férias tem a duração mínima de 22 dias úteis), 221.º, n.º 1 (cessando o contrato de trabalho, o trabalhador tem direito a receber a retribuição correspondente a um período de férias proporcional ao tempo de serviço prestado até à data da cessação, bem como ao respectivo subsídio), 255.º, n.º 1 (a retribuição do período de férias corresponde à que o

trabalhador receberia se estivesse ao serviço efectivo) e n.º 2 (além da retribuição mencionada no número anterior, o trabalhador tem direito a um subsídio de férias cujo montante compreende a retribuição base e demais prestações retributivas que sejam contrapartida do modo específico da

execução do trabalho) e 254.º, n.os 1 e 2 (o trabalhador tem direito a subsídio de Natal de valor igual a um mês de retribuição, sendo esse valor, no ano da cessação do contrato, proporcional ao tempo de serviço prestado), constata-se que o autor BB tem direito a € 577,60 (€ 525,23 + € 52.37) de retribuição das férias vencidas em 1.1.2006, a igual importância de subsídio referente às ditas férias, a € 337,00 (€ 577,60:12x7) de proporcional de férias, igual quantia de proporcional de subsídio de férias e igual quantia de proporcional de subsídio de Natal, o que perfaz a quantia global de € 2.166,20.

Por sua vez, o autor BB tem direito a receber e 592,74 (€ 541,37 + € 52,37) a título de retribuição das férias vencidas em 1.1.2006, igual quantia a título do respectivo subsídio de férias, € 346,35 de proporcional de férias, igual quantia de proporcional de subsídio de férias e igual quantia de proporcional de

subsídio de Natal, o que perfaz a quantia global de € 2.194,25.

Feita a compensação, o autor BB tem direito a receber da ré a quantia de € 1.011,00 (€ 2.166,20 - € 1.155,20) e o autor BBa a quantia de € 1.006,77 (€

2.194,25 - € 1.187,48).

(22)

4. Decisão

Nos termos expostos, decide-se julgar procedente a revista e revogar

parcialmente a revogar a decisão recorrida, ficando a ré condenada a pagar aos autores tão-somente as seguintes quantias: ao autor ... a quantia de € 1.011,00 e ao autor BB a quantia de € 1.006,77.

Custas, nas instâncias e no Supremo, a cargo dos autores e a da ré, na proporção do respectivo decaimento.

Lisboa, 08 de Outubro de 2008 Sousa Peixoto (Relator)

Sousa Grandão Pinto Hespanhol

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